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Culturas de participação de jovens: o caso das regiões fronteiriças em Portugal

Authors:
  • Faculty of Psychology and Education Sciences of the University of Porto

Abstract

This article seeks to portray the cultures of participation of young people in secondary education and residing in border regions in mainland Portugal. These regions are, in general, marked by economic, social and cultural inequalities which translate into fewer opportunities of educational supply, employment and spaces for participation. From a sociology of youth perspective, data from a questionnaire applied to 3968 young people in 38 municipalities is analysed with the aim of mapping youth participation and discussing proposals for other forms of participation to which they have less access. The results point to some differences between sexes and social class, revealing that they get involved more in sporting activities and less in activities of political and civic participation. We conclude that the contexts analysed here have a lesser diversity of supply of spaces for participation, which translates into a lower involvement of young people. This work points to the pertinence of equating participation models centred on young people and led by them. This work contributes to an analysis of the spectrum of youth participation in less studied contexts, such as rural and border regions
Sofia Marques da Silva, Nicolas Martins da Silva & Sara Pinheiro
Sociologias, Porto Alegre, ano 24, n. 60, mai-ago 2022, p. 268-301.
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Culturas de participação de jovens: o caso
das regiões fronteiriças em Portugal
Nicolas Martins da Silva*
Sara Pinheiro*
Sofia Marques da Silva*
Resumo
Este artigo busca fazer o retrato de culturas de participação de jovens do ensino
secundário e residentes em regiões de fronteira em Portugal continental. Essas
regiões são, em geral, marcadas por desigualdades económicas, sociais e culturais
que se traduzem em menores oportunidades de oferta educativa, emprego e
espaços de participação. A partir de uma perspetiva da sociologia da juventude,
analisam-se dados de um questionário aplicado a 3968 jovens de 38 municípios
com o objetivo de mapear a participação jovem e discutir propostas para outras
formas de participação às quais têm menos acesso. Os resultados apontam para
algumas diferenças entre sexos e de classe social, revelando que se envolvem
mais em atividades desportivas e menos em atividades de participação política e
cívica. Conclui-se que os contextos aqui em análise têm uma menor diversidade
de oferta de espaços de participação, que se traduz num menor envolvimento de
jovens. Este trabalho aponta para a pertinência de se equacionarem modelos de
participação centrados em jovens e por eles e elas protagonizados. Contribui-se,
com este trabalho, para uma análise do espectro da participação jovem em contextos
menos estudados como os rurais e de regiões fronteiriças.
Palavras-chave: juventude, participação, regiões de fronteira, regiões rurais,
culturas juvenis.
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ARTIGOS
Texto em português europeu.
* Universidade do Porto, Porto, Portugal.
http://doi.org/10.1590/18070337-112385
Culturas de participação de jovens: o caso das regiões fronteiriças em Portugal
Sociologias, Porto Alegre, ano 24, n. 60, mai-ago 2022, p. 268-301.
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Cultures of youth participation:
the case of border regions in Portugal
Abstract
This article seeks to portray the cultures of participation of young people in secondary
education and residing in border regions in mainland Portugal. These regions are, in
general, marked by economic, social and cultural inequalities which translate into
fewer opportunities of educational supply, employment and spaces for participation.
From a sociology of youth perspective, data from a questionnaire applied to 3968
young people in 38 municipalities is analysed with the aim of mapping youth
participation and discussing proposals for other forms of participation to which
they have less access. The results point to some differences between sexes and
social class, revealing that they get involved more in sporting activities and less in
activities of political and civic participation. We conclude that the contexts analysed
here have a lesser diversity of supply of spaces for participation, which translates
into a lower involvement of young people. This work points to the pertinence of
equating participation models centred on young people and led by them. This work
contributes to an analysis of the spectrum of youth participation in less studied
contexts, such as rural and border regions.
Keywords: youth, participation, border regions, rural regions, youth cultures.
Introdução
A
participação de jovens tem sofrido inúmeras transformações nas
duas últimas décadas com a emergência de novos contextos,
nomeadamente digitais, e de modos mais informais de envolvimento
em torno de causas sociais (Trivelli; Morel, 2020). Contudo, se, a par
de uma aparente diminuição da participação e do envolvimento juvenil
em formas mais tradicionais de participação, como as associações locais
ou os partidos políticos, temos assistido a novas formas de envolvimento
jovem em torno de causas, também esses movimentos são mais visíveis
em contextos urbanos. Os contextos rurais e de interior parecem estar
aparentemente mais arredados dessas novas dinâmicas de participação, ou
a sociologia da juventude tem também estudado menos esses/as jovens e
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suas experiências. Estudar os interesses juvenis nessa matéria é fundamental
para formas de atuação mais contextualizadas. Este artigo busca explicar
formas de participação de jovens que estão a crescer em regiões fronteiriças
predominantemente rurais e suas propostas em torno de um envolvimento
comunitário, cívico e político mais significativo.
O conceito de identidade juvenil fronteiriça não é fechado em si
mesmo, isto é, as próprias regiões de fronteira são heterogéneas na sua
relação com regiões vizinhas transfronteiriças ou com o restante território. No
entanto, é importante destacar que a relação com o espaço imprime algumas
especificidades no modo como jovens experienciam as culturas juvenis
globais, ou como tomam decisões sobre os seus percursos educacionais
ou profissionais. Este artigo, a partir da discussão em torno das questões da
participação, procura realçar algumas das especificidades das experiências
de jovens a morar nesses contextos, nomeadamente, o modo como lidam
com as oportunidades disponíveis.
A literatura tem apontado para a relevância do estudo das juventudes em
regiões fronteiriças que, no caso português, em grande parte estão localizadas
no interior e rurais (Tiza, 2010), estendem-se a norte, a nordeste, centro-
este e sudeste de Portugal continental e são compostas por 38 municípios.
Em geral, as regiões fronteiriças de Portugal continental com Espanha têm
menos desenvolvimento económico, menos oportunidades em termos de
emprego, de educação, de cultura e de participação, como resultado de
distâncias estruturais e históricas do centro de poder (Heggen, 2000; Bæck,
2016). Como outros contextos mais periféricos, os contextos fronteiriços,
principalmente interiores rurais, lidam com desafios específicos relacionados
com o despovoamento e o isolamento, com impacto sobre os recursos
comunitários disponíveis (Lind; Stjernstrom, 2015). Essa situação leva à fuga
de jovens para outros contextos (Theodori; Theodori, 2015), nomeadamente
urbanos e do litoral, acentuando ainda mais a fragilidade dessas regiões.
Os dados do Pordata (2019) são claros ao demonstrar o despovoamento
das regiões e o envelhecimento populacional com foco nessas regiões,
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que são aquelas com menor densidade populacional.1 Em relação à taxa
de envelhecimento, a proporção em Portugal é de 161,3 idosos por 100
jovens. Dos 38 municípios fronteiriços, quatro possuem níveis superiores a
600 idosos por 100 jovens e em 27 municípios há taxas que variam entre
200 e 500 idosos por 100 jovens habitantes (Pordata, 2019). Outros dados
mostram que dez dos 38 municípios de fronteira não têm, em sua oferta
educativa, ensino secundário2 (Pordata, 2019), que se insere na escolaridade
obrigatória no contexto português (Portugal, 2009). Essa situação obriga a
que jovens tenham que se mudar ou passar a residir em outro município
para acederem à escolaridade obrigatória.
É nesse contexto que este artigo busca situar formas de participação
e envolvimento dos jovens nas regiões fronteiriças de Portugal continental,
sinalizando contextos, dinâmicas e oportunidades, bem como suas propostas
em termos de participação e maior envolvimento local. Nas últimas duas
décadas, estudos que buscam tornar conhecidas realidades de participação
e envolvimento de jovens rurais chamam a atenção para a valorização dos
aspetos locais e para a necessidade de maior atenção às formas de vida
e modelos de participação na comunidade, nem sempre visíveis (Portela;
Gerry, 2002; Silva, 2014).
As orientações internacionais, nomeadamente a Youth Strategy 2030
e a Estratégia Europeia para a Juventude 2017-2028, apontam as zonas
rurais como contextos a serem desenvolvidos, estimulados e preservados
enquanto espaços de produção cultural e de participação (União Europeia,
2018). Constitui um dos objetivos centrais daquela Estratégia “impulsionar
a juventude rural”, criando-se “condições que permitam aos jovens
desenvolver as suas potencialidades nas áreas rurais” (p. c456/14). Como
metas a serem alcançadas, destacamos a necessidade de medidas para
garantir que os jovens tenham um papel de liderança nos processos de
participação descentralizados, “a fim de apoiar a sua inclusão e beneficiar
1 A maioria dos municípios fronteiriços – mais especificamente, 20 municípios – tem valores
recorde de três a 20 indivíduos por km2, sendo a média nacional de 114,5 (Pordata, 2019).
2 O ensino secundário, em Portugal, corresponde ao ensino médio, no Brasil.
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as comunidades locais” (p. c456/14). Além disso, considera-se urgente o
envolvimento de jovens de meios rurais em processos de tomada de decisão.
Reconhecendo o papel dos jovens no desenvolvimento da sociedade
(União Europeia, 2018), os processos de participação e cidadania jovem
na construção de uma sociedade mais democrática e justa ganharam
centralidade (Hoskins, 2006; Ross, 2012), destacando-se a importância
do desenvolvimento de experiências de participação para a socialização
e engajamento cívico e político dos/as jovens (Barros; Mitozo, 2021).
Essa importância dada ao desenvolvimento de estratégias de participação
de jovens tem sido visível em diferentes documentos que compartilham
entre si o foco nas questões de participação política e cívica para o maior
empoderamento juvenil (União Europeia, 2018), a partir da tradução de
políticas nacionais e regionais em estratégias que promovam oportunidades
de maior envolvimento. Em Portugal, o Plano Nacional para a Juventude
2018-2021 (2018) encontra-se, como política integrada, alinhado com os
documentos anteriormente mencionados, ou seja, torna fundamental a
criação de espaços e suporte à participação juvenil. Naquele documento,
pode encontrar-se como prioridade a promoção de “práticas de governança
multinível, inclusivas, participadas e participativas, com vista ao reforço
institucional das políticas de juventude” (Resolução de Conselho de
Ministros, 2018, p. 4444-18). Especificidades relacionadas à juventude
em ambientes rurais e de interior têm vindo a ser mencionadas em algumas
das medidas, ou seja, nas questões de empregabilidade e atratividade do
mundo rural, no reconhecimento do papel da juventude na inversão de
situações de depopulação. O envolvimento dos jovens, particularmente
nas atividades cívicas e de participação, é enquadrado no contexto escolar
(criação de clubes, desporto) que, nessas regiões fronteiriças, rurais e
interiores, tem um papel central de socialização e promoção da inclusão.
Não sendo uma política da juventude, o Plano Nacional da Coesão Territorial
de 2016 inclui preocupações específicas com a juventude e a redução de
assimetrias aqui referidas.
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Levando em conta as especificidades dos contextos que nos ocupam
neste texto, adotamos um conceito de culturas de participação integral que
inclua dimensões do envolvimento dos jovens em diferentes atividades
relevantes para si mesmos, relacionadas com o lazer, como atividades
desportivas, além do envolvimento em atividades cívicas e/ou de participação
política, pelo papel que estas desempenham na vida social dos jovens nessas
regiões e por serem entendidas como instrumento para o desenvolvimento
pessoal e social de jovens (Anderson-Butcher, 2019). Nesse quadro, entende-
se por participação o envolvimento consciente, voluntário de jovens (Van
Deth, 2014) em atividades que contribuam para o seu desenvolvimento
pessoal, social e cultural, atentando também naquilo que são as suas
propostas situadas em culturas de participação jovem contextualizadas.
Este artigo, subordinado ao tema participação juvenil em regiões
de fronteira, e tendo como pergunta de partida “em que atividades de
participação e de lazer se envolvem os jovens das regiões fronteiriças?”,
tem como objetivo mapear formas de participação juvenil nesses contextos,
procurando entender obstáculos e estímulos à participação, bem como
aspirações juvenis em torno da sua participação e envolvimento em
atividades de lazer e de participação. Procuramos, também, analisar o
modo como o ano de escolaridade, o sexo e a escolaridade dos pais e
mães influencia o modo como os jovens participam. Para responder a
esses objetivos, recorremos ao inquérito por questionário como técnica
de recolha de dados. Relativamente à análise dos dados, recorremos à
análise estatística das questões de resposta fechada e à análise de conteúdo,
contagem por frequência, das questões de resposta aberta.
O artigo estrutura-se da seguinte forma: numa primeira parte, balizamos
o quadro teórico em torno das questões de participação e envolvimento de
jovens e sua tradução em culturas juvenis; em seguida, são apresentadas as
opções metodológicas de suporte a este artigo; em um terceiro momento,
os resultados da análise dos dados são apresentados e discutidos, divididos
em cinco partes: resultados globais relativos ao envolvimento e participação
juvenil nessas regiões; resultados atentando no ano de escolaridade dos
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jovens; análise tendo em atenção o sexo dos respondentes; resultados tendo
em conta a escolaridade parental e, por último, propostas e perspetivas de
jovens para os seus contextos; finalmente, as considerações finais fornecem
uma visão geral dos principais resultados.
Especificidades dos contextos:
jovens, culturas juvenis e regiões fronteiriças
Uma análise das culturas de participação da juventude nas regiões
fronteiriças implica uma reflexão teórica que articule perspetivas em torno
do conceito de juventude com as implicações que as regiões fronteiriças,
rurais e interiores apresentam. É consensual na literatura compreender a
juventude como uma categoria socialmente construída (Furlong; Woodman,
2015) compreendendo diversidade e heterogeneidade (Pais, 1993; Silva,
2011, 2014; Gadea et al., 2017) na construção de biografias juvenis e
traços de vida (Pais, 2003).
Uma perspetiva intersecional (Crenshaw, 1989) parece-nos pertinente
ao analisar a juventude fronteiriça, interior e rural, prestando atenção a
diferentes fatores que influenciam os seus percursos educacionais, escolhas
e transições para a idade adulta (Walther, 2006) e que, nesses contextos,
são frequentemente organizados em torno de decisões sobre deixar ou
permanecer em seus contextos (Castro, 2013). Nossa preocupação em situar
a vida juvenil da fronteira se estende à análise de interesses e oportunidades
de participação, na medida em que essas são reguladas por dimensões
sociais e espaciais (Metzger et al., 2020; Shildrick; Macdonald, 2006).
Especificamente, Machado Pais, ao discutir a construção socio-histórica
do conceito de juventude, chama a atenção para a sua pluralidade (Pais,
1990), aspeto relevante para analisar culturas de participação (Menezes et
al., 2012). Como alertam Gadea e colegas (2017, p. 264):
Múltiplos mundos sociais desenham múltiplas experiências sobre o ser
jovem. Daí que a singularização das experiências de vida dos jovens remete
à especificidade de contextos e às múltiplas oportunidades e estratégias
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elaboradas para o melhor convívio social, chamando a atenção para os processos
de mudança nas sociabilidades e nas formas que essas começam a adquirir.
A literatura tem apontado para a necessidade de promover uma
sociologia da juventude que também dê conta das culturas juvenis rurais;
que, sem essencializá-las, as considere em sua especificidade, mas também
em diálogo com culturas globais e mais urbanas (Yndigegn, 2003; Farrugia,
2014; Silva et al., 2021). De facto, reconhece-se que os sujeitos utilizam um
conjunto de representações derivadas de seus contextos sociais, culturais
e geográficos (Wiborg, 2004; Sampaio; Silva, 2022). Estudos anteriores
mostraram como o património imaterial e o património cultural local, bem
como a natureza podem desempenhar um papel essencial na conexão
que os jovens desenvolvem com os seus contextos (Dax et al., 2002; Silva,
2013, 2014). Por outro lado, a par dessas especificidades, vamos encontrar
aspetos que marcam as suas vidas de forma distinta a outros contextos
mais urbanos, nomeadamente relacionados com questões de mobilidade
e de acesso a oportunidades educativas e de emprego, que levam jovens a
considerar sair das suas regiões já de si deprimidas em termos populacionais
(Theodori; Theodori, 2015; Bæck, 2016).
Os contextos rurais, comparados com os urbanos, caracterizam-se
por um número menor de adultos envolvidos civicamente, politicamente
e na comunidade, o que influencia a construção de figuras de referência
participativa nesses contextos (Metzger et al., 2020). Por outro lado, a
baixa densidade populacional parece ser um fator inibidor da participação
cívica dos jovens (Pritzker; Metzger, 2011), pois há menos contatos devido
às distâncias geográficas (Metzger et al., 2020). Além disso, os autores têm
apontado que, nos contextos rurais, as organizações/associações locais e
desportivas são de grande importância para os jovens e para a manutenção
da vitalidade da comunidade (Portela; Gerry, 2002; Carmo; Santos, 2011;
Ludden, 2011).
O estudo das culturas de participação da juventude nas regiões
fronteiriças não pode desconsiderar as desigualdades que caracterizam esses
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territórios, nem a importância do lugar na construção dos seus percursos
(Dax et al., 2002; Farrugia, 2014). Assim, propõe-se uma análise situada,
considerando as possibilidades /os espaços para uma participação juvenil
(Dayrell et al., 2010) e prestando atenção às desigualdades, mas também
às potencialidades desses contextos.
Participação e envolvimento juvenis
Pancer, Rose-Krasnor e Loiselle (2002) consideram o engajamento
como meio de participação juvenil que compreende três componentes: a
componente comportamental (o ato de participar), a componente afetiva
(o gosto em participar) e a componente cognitiva (o conhecimento sobre
a atividade na qual se participa). Essa abordagem teórica vai ao encontro
da definição proposta pelo Centre of Excellence for Youth Engagement,3
no Canadá, destacando-se investigadores como Jeanne Nakamura e S.
Mark Pancer, que consideram que o envolvimento juvenil está presente
em diversas atividades, nomeadamente no desporto, cultura, política e
participação cívica e social.
A participação dos jovens tem sido considerada um motor fundamental
para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, pacífica e democrática
(Checkoway, 2011), assumindo um envolvimento ativo de jovens e sua
influência nos processos de participação. Isso significa que a influência nos
processos de tomada de decisão (Checkoway; Guttierrez, 2006) contribui
para o seu desenvolvimento pessoal, permitindo-lhes exercer seus direitos
como cidadãos e contribuir para uma sociedade mais democrática (Levine;
Youniss, 2009; Flanagan; Levine, 2010; Checkoway, 2011).
No que diz respeito à participação cívica, esta pressupõe o envolvimento
em atividades cujo objetivo é influenciar civicamente a sociedade e contextos
fora do círculo mais próximo (Ekman; Amnå, 2012), ou seja, em atividades
que têm como objetivo contribuir para o bem comum. No mesmo sentido,
Zukin e colegas consideram a participação cívica como atividade focada no
3 Integrado na Queen’s University.
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bem-estar público, na ajuda a outras pessoas e na resolução de problemas
sociais, materializada, por exemplo, em atividades de voluntariado e
movimentos associativos (Zukin et al., 2006; Ekman; Amnå, 2012).
A participação política pressupõe influência intencional nas estruturas
de governação, inclusive por meio de votação (decisão) e participação
na implementação de políticas (Brady et al., 1995). Para Van Deth
(2014), a participação política surge como um conceito que engloba
o envolvimento em atividades voluntárias relacionadas com o Estado,
política e governação, com o objetivo de resolver problemas locais ou
sistémicos. Em relação à participação política, a literatura tem observado
uma aparente falta de interesse entre os jovens na política em suas
manifestações mais tradicionais – como o voto e a participação em
partidos políticos (Ribeiro; Neves; Menezes, 2016).
Explicações relacionadas à diminuição do capital social proposta por
Robert Putnam (2000) ou relacionadas a uma sociedade mais individualista
(Furlong; Cartmel, 1997) estão mobilizados para tentar explicar essa
diminuição do interesse dos jovens em formas mais clássicas de participação
política (Putnam, 2000). No entanto, também foi mencionado que existe um
conceito estrito de participação política (O’Toole, 2003) que esconde outras
formas mais fluidas de envolvimento e participação juvenil (Beck, 2001;
Teorell et al., 2007) ou, ainda, de formas mais autónomas de envolvimento
e participação política e social (Cornwall, 2009). Daí a importância de
considerar diferentes contextos em que ocorrem as experiências de
participação dos jovens em sua pluralidade e que por eles são influenciados
(Ekman; Amnå, 2012; Menezes et al., 2012).
Breve retrato da participação jovem em Portugal
Estudos realizados no contexto português nas últimas décadas têm
demonstrado que são as atividades/organizações desportivas, culturais
e de lazer que atraem com maior expressividade os jovens portugueses
(Magalhães; Moral, 2008; Lobo et al., 2015). O estudo de Magalhães e Moral
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indicou a baixa participação dos jovens portugueses. As duas investigações
citadas apresentam uma visão mais pessimista da participação dos jovens,
destacando o desinteresse pela participação política. O estudo de Lobo,
Ferreira e Rowland (2015) relata que 57,3% dos jovens entrevistados,
entre 15 e 24 anos, afirmaram desinteresse, mas que esse também pode
indicar menos envolvimento em formas tradicionais de participação e
ativismo. Essa perceção sobre uma baixa participação de jovens naquelas
formas vai ao encontro das atitudes dos portugueses em relação ao sistema
político apontadas nos estudos de Freire, Lobo e Magalhães (2004) e de
Cabral (2004), que concluíram existir um escasso envolvimento político
dos portugueses, motivado por alguma desconfiança em relação à política.
No mesmo sentido, aponta-se o estudo de Pedro Ferreira (2008), que vem
destacar a limitada expressão do associativismo na sociedade portuguesa
em detrimento da atividade em associações desportivas, em que os jovens
afirmam envolver-se mais. Ainda, o estudo de Magalhães e Moral (2008)
apontou uma maior tendência de participação de jovens relacionada a
associações religiosas, de lazer e desportivas.
Mais recentemente, em 2017, a União Europeia, por meio de uma
pesquisa, procurou entender como jovens, em diferentes países, se envolvem
em organizações de diversos tipos, como associações voluntárias, de lazer,
desportivas e/ou culturais. O relatório resultante dessa pesquisa, que
respondida por jovens europeus entre 15 e 30 anos, apresenta algumas
conclusões que enriquecem a construção dos retratos da participação juvenil.
Os resultados apontam para um aumento, em relação a dezembro de 2014,
de 4% dos jovens europeus que afirmam estar envolvidos em atividades de
pelo menos uma organização nos últimos 12 meses, correspondendo a um
percentual de 53% dos jovens pesquisados. Em Portugal, entre os diferentes
tipos de atividades em que os jovens afirmaram envolver-se, destacam-
se as atividades em organizações desportivas (28%), o envolvimento em
organizações juvenis (20%), organizações culturais (15%). Além dessas, 9%
disseram estar envolvidos em uma organização política e 5% em organizações
focadas em ação climática (Comissão Europeia, 2018). As conclusões desse
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relatório também apontam para um aumento do envolvimento de jovens
nos diferentes tipos de atividades mencionadas acima, com exceção das
atividades desportivas com maior percentual, em comparação com os
resultados do relatório anterior, de 2014. Os documentos que resultaram de
investigações em torno das questões da participação de jovens de Portugal
continental não levantam o véu sobre as regiões fronteiriças, nosso foco
de análise. No entanto, esse retrato não deixa, em nosso entender, de ser
importante para compreendermos possíveis especificidades ou alinhamento,
nessas regiões, com os resultados gerais da população jovem.
Os contextos empíricos deste estudo, com um espectro menor de
oportunidades de participação, nomeadamente cívica e política, levam-nos
a enfatizar a relevância de, adicionalmente a contextos mais tradicionais de
participação, proporem-se novas formas e contextos em que os jovens se
envolvam e que valorizam. Para além disso, as atividades que são propostas
ou organizadas por adultos podem ser, para já, a única forma de os jovens
se envolverem em atividades significativas para o seu desenvolvimento
nesses contextos.
Metodologia
Este artigo baseia-se na contribuição de dados empíricos resultantes
da aplicação de uma pesquisa de questionário intitulada: “Inquérito à
população escolar: jovens, educação e regiões de fronteira”, desenvolvida
no âmbito do projeto de investigação GROW.UP: Crescer em Regiões
de Fronteira em Portugal: Jovens, Percursos Educativos e Agendas. Este
questionário foi administrado a 3968 jovens estudantes (do 9º ao 12º ano)4
de 38 agrupamentos de escola situados nos 38 municípios que compõem
a fronteira de Portugal continental com Espanha (ver tabela 1).
Para a administração dos inquéritos por questionário foi selecionada
uma escola com ensino secundário por cada município. Nos casos em
4 Abrangendo o correspondente ao último ano do ensino fundamental e o ensino
médio no Brasil.
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que não havia escolas com ensino secundário, foi selecionada uma escola
com ensino básico até o 9º ano. Em 29 dos municípios, os questionários
foram aplicados na única escola existente no município. Após contacto
com as direções das escolas e consentimento informado de encarregados
de educação e jovens, os questionários foram administrados a turmas do
ensino básico (9ºano) e do ensino secundário (entre o 10º e o 12º ano
em turmas de cursos científico-humanísticos e de ensino profissional),
sendo que, na maioria dos casos, foram aplicados à totalidade das turmas
da escola, pelo que a amostra é representativa dos/as jovens que se
encontravam a frequentar esses anos letivos. Os dados foram tratados
recorrendo ao programa estatístico IBM SPSS Statistics v25. De acordo
com os dados do Censos de 2021, ressalta-se uma quebra populacional
em todos os municípios de fronteira de Portugal continental com Espanha,
com percentagens que variam entre -1.7% em Vila Real de Santo António
(região do Algarve) e -21.8% em Barrancos (região do Alentejo) (INE, 2021).
Os dados quantitativos foram selecionados a partir do questionário
que resultou da análise das respostas a uma pergunta de múltipla escolha
em que cada jovem apontou as atividades das quais participou (pelo menos
uma vez por semana): (i) grupos ligados a partidos políticos; (ii) órgãos
políticos locais (assembleias municipais, conselhos municipais de juventude);
(iii) movimentos de defesa dos animais e/ou proteção da natureza; (iv)
associações com grupos juvenis regionais, nacionais e internacionais; (v)
atividades cívicas ou culturais na Espanha; (vi) eventos culturais na região;
(vii) atividades de voluntariado; (viii) atividades desportivas e (ix) movimentos
cívicos e outras iniciativas cívicas online.
Realizou-se uma análise estatística descritiva, com frequências (n) e
percentagens (%). Sempre que os/as jovens assinalaram participar, considerou-
se a resposta como “sim”, sempre que não assinalaram, considerou-se como
“não”. Assim, após análise de valores em falta, assinalámos uma taxa muito baixa
de perguntas não respondidas por item (entre 4 a 26 respostas omissas por item
– ver tabela 1). Não foi necessário realizar qualquer procedimento para as tratar.
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Além desses dados, foi mobilizada uma questão aberta do questionário
em que os jovens indicaram as experiências de participação e/ou lazer em
que gostariam de estar envolvidos, mas às quais não têm acesso (questão
2.5: Indica outras experiências de participação, lazer, em que gostasses de te
envolver, mas às quais não tens acesso). As respostas dadas a esta pergunta
aberta foram organizadas em diferentes categorias, através da análise de
conteúdo, contagem por frequência, tendo-se procedido à contagem de
respostas. As respetivas categorias foram organizadas de acordo com as
sugestões dos jovens sobre as principais atividades de participação e/ou
lazer, tendo sido nossa opção organizá-las em função das regiões, para
compreender quais as maiores necessidades dos jovens a nível regional.
Tabela 1. Caracterização demográfica dos participantes.
N = 3968
n %
Idade
13-15 anos 1744 44
16-18 anos 2075 52.4
> 18 anos 144 3.6
Omissos 5
Sexo
feminino 2141 54
masculino 1824 46
Omissos 3
Ano de
escolaridade
1315 33.2
10º 1107 28
11º 816 20.6
12º 722 18.2
Omissos 8
Sofia Marques da Silva, Nicolas Martins da Silva & Sara Pinheiro
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Curso
Científico-
humanístico 2430 61.9
Profissional 198 5
NA (estudantes
do 9º ano) 1314 33.3
Omissos 26
Resultados e discussão
A análise dos resultados e sua discussão dividem-se em cinco etapas
específicas: na primeira, analisaremos os resultados globais dos questionários
tendo em conta as atividades nas quais os jovens afirmam participar; na
segunda etapa, afunilamos a nossa análise, atentando no ano de escolaridade
desses jovens; na terceira, discutimos os resultados tendo em conta o sexo
dos/as respondentes; na quarta, analisamos os dados tendo em consideração
a escolaridade parental; por último, analisamos as propostas dos/as jovens
de atividades de participação, triangulando esses dados com suas respostas
no que concerne ao tipo de atividades nas quais afirmam participar. Por se
tratar de uma amostra composta por jovens, reconhecemos que poderão
existir comportamentos de resistência geracional relativos aos padrões
institucionais das práticas políticas e estilos de participação desenvolvidas
por adultos. Contudo, os nossos dados e a nossa abordagem não nos
permitem explorar essa dimensão.
Distribuição da participação juvenil em regiões fronteiriças:
resultados globais
A análise dos resultados globais sobre o envolvimento e participação
jovem indicam (ver Figura 1) que 64.8% (n=2567) dos jovens inquiridos
participam em atividades desportivas – resultados que se alinham com a
tendência a nível nacional e europeia já aqui referida (Magalhães; Moral,
2008; Lobo et al., 2015; Comissão Europeia, 2018). Esses resultados
revelam uma concentração dos jovens numa única tipologia de atividade
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Sociologias, Porto Alegre, ano 24, n. 60, mai-ago 2022, p. 268-301.
283
e que pode ser a que existe de modo mais organizado nas suas regiões.
Esses estudos têm apontado para uma importância do desporto e dos
equipamentos desportivos em ambientes rurais, possibilitando uma maior
vitalidade entre jovens e contextos.
Com uma distância significativa relativamente às atividades desportivas,
mas ocupando o segundo lugar nas indicações dos jovens, está o seu
envolvimento em eventos culturais da região com 23.2% (n=920), o que
corrobora a visão de que eventos culturais têm um grande impacto na
vitalidade dessas regiões e na promoção do envolvimento desses jovens
(Portela; Gerry, 2002). O estudo que citamos vem mesmo referir que
essas atividades se destacam, pois promovem um vínculo ao lugar, sendo
que o lugar assume uma grande importância nesses mesmos contextos, o
que parece potenciar o envolvimento emocional de jovens em torno das
tradições locais e formas de cultura local (Portela; Gerry, 2002).
Figura 1. Percentagem de jovens que indicam participar em cada atividade elencada no
questionário
Sofia Marques da Silva, Nicolas Martins da Silva & Sara Pinheiro
Sociologias, Porto Alegre, ano 24, n. 60, mai-ago 2022, p. 268-301.
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Fonte: Dados da pesquisa.
Em terceiro e quarto lugares surgem, respetivamente, as atividades
de voluntariado, com 15.7% (n=623), e a participação em associações e
grupos juvenis 12.4%. Apesar de ser relevante salvaguardar que, pela sua
natureza, as atividades desportivas e eventos culturais podem mobilizar
um maior número de jovens, não deixa de ser significativo refletir que as
atividades apontadas com menor expressividade incluem aquelas ligadas
a órgãos políticos locais, como Assembleias Municipais e/ou Conselhos
Municipais de Juventude, que representam as formas mais tradicionais de
participação política. Poderão ter uma menor oportunidade de participar, já
que alguns desses órgãos se concentram nas cidades e vilas, o que exigiria
mobilidade, e também porque a própria estrutura e dinâmica é distinta já
que mais esporádica e, por isso, menos apontada pelos jovens à questão
por nós realizada.
Focando a análise nas atividades de participação cívica – nomeadamente,
associações e grupos juvenis regionais, nacionais, internacionais; movimentos
de defesa dos animais e/ou proteção da natureza; atividades de voluntariado
e movimentos cívicos e outras iniciativas cívicas online –, os resultados
apontam para uma relativa participação em atividades de voluntariado
(conforme apresentado acima), destacando-se, por um lado, o envolvimento
menos expressivo dos jovens em movimentos de defesa dos animais e/
ou proteção da natureza (7,8%). Por outro lado, o percentual de jovens
que afirmam participar em movimentos de participação cívica online
(6,6%) indica um menor envolvimento em formas menos tradicionais de
participação cívica (Norris, 2002), embora essas possibilitem “novas formas
de mobilização e participação cívica aos cidadãos” (Portela, 2016, p.22).
Mesmo que esses valores possam ser pouco expressivos quando comparados
com outro tipo de envolvimento jovem naquelas regiões, dão conta da
diversidade de contextos e interesses juvenis.
As atividades de participação relacionadas com grupos ligados a
partidos políticos e/ou assembleias municipais, ou conselhos municipais da
Culturas de participação de jovens: o caso das regiões fronteiriças em Portugal
Sociologias, Porto Alegre, ano 24, n. 60, mai-ago 2022, p. 268-301.
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juventude apresentam resultados abaixo dos 4% (ver gráfico 1), o que está
em consonância com o estudo desenvolvido por Magalhães e Moral (2008)
e por Lobo, Ferreira e Rowland (2015), que apontam para envolvimentos
residuais em atividades políticas como a pertença a partidos políticos. Os
resultados dos questionários parecem ir ao encontro da ideia de um declínio
da participação política convencional entre jovens e que pode indicar uma
visão mais cética em torno da política (Ribeiro et al., 2016; Wattenberg,
2016). Poderá ser relevante analisar se essa tendência de afastamento da
política na sua vertente mais tradicional e formal poderá ser explicada
pelo facto de as suas opiniões juvenis poderem, frequentemente, não estar
representadas na tomada de decisões (Dahl et al., 2018).
As questões de participação são entendidas como uma forma de
desenvolver a cidadania ativa em jovens (Hoskins, 2006; Ross, 2012),
em diferentes níveis, como local, nacional e europeu, entendendo esses
diferentes níveis como necessários para a construção de uma cidadania
efetiva. Portanto, o maior envolvimento dos jovens em atividades políticas
é um desafio atual, tanto numa escala europeia quanto no nível dos órgãos
e associações políticas nacionais e locais, nas diferentes áreas em que os
jovens podem desenvolver suas atividades de participação.
Culturas de participação e ano de escolaridade
Iniciando pela análise das atividades que se enquadram na participação
cívica, nomeadamente a participação por parte dos jovens em associações
e grupos juvenis regionais, nacionais e internacionais; em movimentos de
defesa dos animais e/ou proteção da natureza; em atividades de voluntariado
e também em movimentos cívicos e outras iniciativas cívicas online, verifica-se
que 1681 jovens afirmam participar nesse tipo de atividade pelo menos uma
vez por semana (ver tabela 2). O número mais elevado de jovens que afirma
participar se encontra no 9º ano de escolaridade (n=525); de seguida são os
jovens do 10º ano (n=475) quem mais participa em atividades cívicas; no
Sofia Marques da Silva, Nicolas Martins da Silva & Sara Pinheiro
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286
11º ano de escolaridade os jovens participam em menor número (n=338),
subindo ligeiramente no 12º ano de escolaridade (n=343).
Considerando o número total de respondentes ao nosso inquérito
por questionário (N=3968), compreende-se que o número de jovens que
afirmam exercer atividades de participação política, nomeadamente, grupos
ligados a partidos políticos e órgãos políticos locais, como assembleias
municipais ou conselhos municipais da juventude, perfaz um total de 259
jovens (n=259). Percebe-se, assim, que as gerações jovens apresentam uma
tendência muito baixa de participação política, assumindo-se um ligeiro
aumento em jovens que se encontravam a frequentar o 11º ano (n=73),
entre 24.3% e 33.6% nas duas atividades de participação política, face a
um total de n=53, 23.7% e 15.9% nas respetivas atividades de participação
política, para a frequência dos jovens no 9º ano de escolaridade. Esses
dados vêm corroborar a ideia da “curva crescente” (Magalhães; Moral,
2008), em que a um aumento de idade se associa uma maior tendência
de participação política. Essa ideia parece apoiada pela perceção de que as
pessoas jovens não encontram na política respostas aos seus desejos mais
imediatos, o que também é consistente com um crescente amadurecimento
dos e das jovens para um “sujeito político”, desenvolvendo assim seus
interesses para uma visão de mundo mais ampla.
Tabela 2. Frequências e percentagens de participação dos jovens por ano de escolaridade
Tipo de participação 9º ano/% 10º ano/% 11º ano/% 12º ano/%
Participação Cívica
Associações e grupos juvenis
regionais, nacionais, internacionais 130/26.6 145/29.7 106/21.7 108/22.1
Movimentos de defesa dos animais
e/ou proteção da natureza 125/40.5 79/25.6 60/19.4 45/14.6
Atividades de voluntariado 188/ 30.2 177/ 28.5 124/ 19.9 133/ 21.4
Movimentos cívicos e outras
iniciativas cívicas online 82/ 31.4 74/ 28.4 48/ 18.4 57/ 21.8
Total 525 475 338 343 1681
Culturas de participação de jovens: o caso das regiões fronteiriças em Portugal
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Participação Política
Grupos ligados a partidos políticos 36/ 23.7 39/ 25.7 37/ 24.3 40/ 26.3
Órgãos políticos locais (Assembleias
Municipais Conselhos Municipais
da Juventude)
17/ 15.9 22/ 20.6 36/ 33.6 32/ 29.9
Total 53 61 73 72 259
Atividades Desportivas 919/ 35.8 734/ 28.6 498/ 19.4 413/ 16.1 2564
Fonte: Dados da pesquisa.
A participação em atividades desportivas é a que apresenta números
mais elevados, observando-se que um grande número de jovens (2564)
participa, pelo menos uma vez por semana, em atividades dessa natureza.
Desses, 35.8% encontram-se no 9º ano escolar; seguindo-se 28.6% que
estão no 10º ano; 19.4%, no 11º ano; e 16.1% no 12º ano. Analisando-se os
diferentes anos escolares, verifica-se que, apesar de existir um decréscimo,
de acordo com o avançar da escolaridade, os resultados apresentam-se
constantes, o que parece demonstrar uma unanimidade de participação
em torno desse tipo de atividade, corroborando outros estudos, como o
relatório produzido pela Comissão Europeia (2018), que demonstra uma
maior expressão de envolvimento em organizações desportivas por parte
dos jovens (Comissão Europeia, 2018).
O maior número de jovens participantes em atividades desportivas
pode explicar-se pelo facto de essas atividades estarem mais presentes nos
seus quotidianos e nas suas regiões, quer pelo interesse desses jovens na sua
prática, quer pelo facto de esses municípios/regiões desenvolverem uma
maior oferta de atividades desportivas. Portela e Gerry (2002) afirmam que
as organizações desportivas se constituem como um meio atrativo para os
jovens participarem na comunidade local.
Culturas de participação e sexo
Sofia Marques da Silva, Nicolas Martins da Silva & Sara Pinheiro
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Quando desagregados os dados, tendo em consideração o sexo,
verificamos que as jovens do sexo feminino apresentam valores de participação
mais elevados em todas as atividades, com exceção da participação em
grupos ligados a partidos políticos e atividades desportivas. Contudo, a
diferença entre raparigas e rapazes nessas duas tipologias de envolvimento é
reduzida (as raparigas participam em 2.9% nas atividades ligadas a partidos
políticos face a 4.9% dos rapazes e nas atividades desportivas participam em
55.7% face a 75.5% dos rapazes que indicam participar). As jovens do sexo
feminino apresentam valores mais elevados em atividades de voluntariado
(19.1% face a 11.7% dos rapazes) e percentagens mais elevadas 13.9%
em associações ou grupos juvenis, face a 10.6% dos rapazes que afirma
participar nessas mesmas atividades (ver tabela 3).
Tabela 3. Atividades em que jovens do sexo feminino e masculino afirmam participar
Sexo
Feminino
%
Masculino
% n
Participação Cívica
Associações e grupos juvenis regionais, nacionais,
internacionais 297 13.9% 193 10.6% 490
Movimentos de defesa dos animais e/ou proteção
da natureza 178 8.3% 130 7.1% 308
Atividades de voluntariado 409 19.1 214 11.7 623
Movimentos cívicos e outras iniciativas cívicas online
133 6.2% 129 7.1% 262
Participação Política
Grupos ligados a partidos políticos 62 2.9% 89 4.9% 151
Órgãos políticos locais (Assembleias Municipais;
Conselhos Municipais da Juventude) 57 2.7% 50 2.7% 107
Atividades Desportivas 1192 55.7% 1375 75.5% 2567
Fonte: Dados da pesquisa.
Culturas de participação de jovens: o caso das regiões fronteiriças em Portugal
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Focando a atenção nos resultados obtidos no que diz respeito à
participação política entre jovens do sexo feminino e jovens do sexo
masculino, esses resultados estão alinhados com diversos estudos que afirmam
que os rapazes se envolvem mais facilmente em formas institucionalizadas de
participação política e que envolvam contacto com políticos, pertencer a um
partido político (Pfanzelt; Spies, 2019) ou participar em discussões políticas
(Marien et al., 2010), enquanto as jovens se envolvem mais facilmente em
atividades políticas mais informais, embora as diferenças tendam a diminuir
(Ribeiro et al., 2014), o que pode justificar esses resultados. Relativamente
à participação em atividades desportivas, diferentes estudos corroboram os
resultados apresentados, destacando que os rapazes se envolvem mais em
atividades desportivas do que as raparigas (Messner, 2009). Esses resultados
poderão ser motivados pelo facto de existir um maior número de ofertas
de atividades desportivas para rapazes do que para raparigas ou, ainda,
uma visão estereotipada do género, que leva a um menor investimento
das famílias e da comunidade em atividades desportivas para raparigas em
comparação com as ofertas para os rapazes.
Em suma, tal como temos vindo a discutir, compreende-se que raparigas
e rapazes participam maioritariamente em atividades desportivas seguindo-se
as atividades de participação cívica, com percentagens mais significativas.
Culturas de participação e escolaridade parental
A socialização e o habitus familiares (Segalen, 1999; Singly, 2011)
podem ter influência no modo como os jovens organizam as suas formas
de participação e se envolvem mais ou menos na sua comunidade. Quando
analisamos os dados em termos da escolaridade do pai e da mãe (ver tabela
4), verificamos que a participação dos jovens em atividades de natureza
cívica aumenta de acordo com o grau de escolaridade da mãe e do pai,
apresentando taxas de participação mais elevadas quando ambos têm o
ensino secundário. A escolaridade da mãe com ensino secundário parece
estar relacionada com uma maior adesão a atividades em “associações e
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Sociologias, Porto Alegre, ano 24, n. 60, mai-ago 2022, p. 268-301.
290
grupos juvenis regionais, nacionais e internacionais”, o mesmo acontecendo
com o envolvimento em atividades de “voluntariado”.
No que respeita às atividades de participação política, esta
também aumenta consoante as habilitações académicas de mães e pais,
nomeadamente, jovens com mães e pais com o ensino secundário participam
em maior percentagem (44.7% e 29.2% respetivamente) quer nos grupos
ligados a partidos políticos, quer nos órgãos políticos locais; seguem-se,
com 29.8% e 25%, respetivamente, jovens que participam e que têm mães
e pais com ensino superior.
Os resultados, assim, parecem indicar uma relação entre a escolaridade
de pais e mães e a participação dos jovens nas diferentes atividades, sendo
importante considerar o perfil sociodemográfico dos jovens que participaram
neste estudo. Com efeito, dos 3968 jovens que responderam ao inquérito
por questionário, 21.8% das mães e 14% dos pais têm ensino superior,
sendo de destacar que 33.2% das mães e 23.6% dos pais possuem o ensino
secundário. Cabe referir que, nesta questão, porque de escolha múltipla,
os jovens puderam selecionar mais do que uma opção como atividade
na qual participavam pelo menos uma vez por semana, pelo que existem
jovens que participam em mais do que uma atividade.
Tabela 4. Participação dos jovens por atividade e escolaridade da mãe e do pai
Escolaridade
Ensino Básico
(Até ao 6º Ano)
Ensino Básico
(Até ao 9º Ano)
Ensino
Secundário
Ensino
Superior
Mães Pais Mães Pais Mães Pais Mães Pais
Participação Cívica
Associações e grupos
juvenis regionais, nacionais,
internacionais (n)/%
55/
11.9% 115/
25.7% 96/
20.8% 105/
23.5% 188/
40.8% 148/
33.1% 122/
26.5% 79/
17.7%
Movimentos de defesa dos
animais e/ou proteção da
natureza (n)/%
49/
17.9% 69/
25.9% 53/
19.3% 67/
25.2% 104/
38% 90/
33.8% 68/
24.8% 40/
15%
Atividades de
voluntariado (n)/% 81/
14.2% 141/
25.8% 121/
21.2% 147/
26.9% 223/
39% 163/
29.9% 147/
25.7% 95/
17.4%
Culturas de participação de jovens: o caso das regiões fronteiriças em Portugal
Sociologias, Porto Alegre, ano 24, n. 60, mai-ago 2022, p. 268-301.
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Movimentos cívicos e
outras iniciativas cívicas
online (n)/%
43/
17.8% 61/
26.4% 54/
22.3% 61/
26.4% 87/
36% 65/
28.1% 58/
24% 44/
19%
Participação Política
Grupos ligados a partidos
políticos (n)/% 7/
14.9% 10/
20.8% 5/
10.6% 12/
25% 21/
44.7% 14/
29.2% 14/
29.8% 12/
25%
Órgãos políticos locais
(n)/% 7/
14.9% 10/
20.8% 5/
10.6% 12/
25% 21/
44.7% 14/
29.2% 14/
29.8% 12/
25%
Atividades desportivas
(n)% 369/
15.9% 632/
28.4% 501/
21.6% 578/
26% 843/
36.3% 637/
28.7% 608/
26.2% 375/
16.9%
Fonte: Dados da pesquisa.
No que diz respeito à participação política, estudos indicam um
“possível efeito da escolarização dos pais na socialização política do
indivíduo”, ou seja, jovens com pais e mães mais escolarizados apresentam
“percentagens acima da média de identificação partidária” (Lobo et al.,
2015, p. 63). Assim, os resultados que obtivemos do envolvimento jovem
em atividades de participação cívica e política podem dever-se também
em parte pela baixa escolaridade de uma grande parte dos pais e mães
dos jovens que constituem a nossa amostra.
Por fim, nas atividades desportivas, parecem existir diferentes níveis de
envolvimento nas atividades pelos jovens quando é analisada a escolaridade
das mães e pais. Note-se que, de uma forma geral, os jovens que mais
praticam atividades desportivas têm pais e mães com um nível de escolaridade
superior. No entanto, é nos pais e mães com escolaridade até ao ensino
secundário que a taxa de jovens a praticar atividades desportivas é mais
elevada, e que por sua vez decresce quando comparada ao ensino superior.
Propostas e perspetivas de jovens
sobre oportunidades de participação
Quando questionados em que atividades gostariam de se envolver e
participar e que não têm disponíveis nas suas regiões, os jovens destacam
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algumas, como desportos radicais, atividades de participação cívica ou,
ainda, atividades de cariz cultural, como cinema ou grupos de teatro. Foram
agrupadas as respostas dos jovens por categorias. O quadro 1 apresenta as
categorias mais preenchidas por região.
Analisando a zona Norte, entende-se que os jovens sugerem atividades
de participação cívica, como os movimentos de voluntariado e defesa
animal e também partidos políticos, atividades de organizações políticas e
atividades desportivas e culturais. Na região Centro de Portugal, os jovens
também apontam para atividades de voluntariado e movimentos de defesa
dos animais, como atividades de participação cívica, indicando igualmente
atividades desportivas e culturais. A região Sul do país não foge a esse cenário.
Quadro 1. Perceção dos jovens sobre experiências de participação e lazer
Região Principais atividades de participação/lazer sugeridas pelos jovens
Norte
Desportos radicais
Cinema
Torneios de videojogos
Eventos culturais (concertos variados)
Organizações políticas (partidos políticos)
Participação cívica (voluntariado, movimentos de defesa dos animais etc.)
Centros comerciais
Centro
Cinema
Desporto
Participação cívica (voluntariado, movimentos de defesa dos animais etc.)
Grupos de teatro
Artes marciais
Alentejo
Desportos radicais
Participação cívica (voluntariado, movimentos de defesa dos animais etc.)
Centros comerciais
Atividades políticas
Desportos femininos
Aulas de dança
Algarve
Desportos radicais
Centros comerciais
Participação cívica (voluntariado; movimentos de defesa dos animais etc.)
Cinema
Eventos culturais (concertos variados)
Fonte: Dados da pesquisa.
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Em todas as regiões, os jovens expressam interesses comuns, distribuídos
no envolvimento em atividades fora do contexto escolar, sejam elas
de participação cívica e política, mais institucionalizadas, ou de lazer.
Triangulando esses dados com as respostas mencionadas acima, mais
precisamente os resultados gerais do mapeamento de formas de participação
juvenil nesses contextos, verifica-se uma baixa participação cívica e política
que os resultados parecem apontar (ver Figura 1), paralelamente a uma
forte aspiração desses jovens de se envolverem em atividades desse tipo
(ver Quadro 1). Tudo isso parece apontar para uma menor diversidade de
espaços que estimulem o envolvimento cívico e político desses jovens.
Aliás, os dados do Pordata (2019) vêm demonstrar que, nessas regiões,
existe um menor número de infraestruturas e de oferta de atividades de
cariz cultural, cívico e político, o que pode influenciar o modo como esses
jovens se envolvem e no tipo de atividades em que participam na sociedade.
Com efeito, os resultados triangulados demonstram que existem
necessidades de lazer e de participação expressas pelos jovens, que são
menos escutadas, como é o caso particular das atividades de participação
cívica ou, ainda, de atividades de participação política. Para além disso,
a expressividade de jovens que, em todas as regiões, destacam o cinema
como atividade de lazer da qual gostariam de usufruir vem reforçar não
só as desigualdades que caracterizam esses contextos (Pordata, 2019), mas
também um modo menos centrado nas aspirações juvenis de implementação
de atividades e na criação de ofertas, sugerindo, assim, a relevância da
implementação de modelos de participação centrados nas aspirações dos
jovens e envolvendo-os nessas dinâmicas.
Considerações finais
Seguindo uma tendência nacional, nas regiões fronteiriças, o
envolvimento dos jovens em atividades de participação cívica e política é
baixo quando comparado com outras atividades em que se envolvem, como
o desporto. Essa situação pode ser explicada pelo que temos apontado,
utilizando diferentes contribuições, referente ao envolvimento dos jovens
Sofia Marques da Silva, Nicolas Martins da Silva & Sara Pinheiro
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em formas menos tradicionais de participação política e cívica e pelo facto
de que, nesses contextos, há também menos oportunidades e espaços e
até mesmo socialização para o envolvimento nessas formas de participação
cívica e política. Esses seriam aspetos a serem explorados no futuro.
O envolvimento em atividades desportivas, que neste estudo apresentaram
as percentagens mais elevadas quando comparadas com outras atividades,
parece desempenhar um papel importante na ocupação dos tempos de
juventude e, possivelmente, contribuir para o seu desenvolvimento pessoal
e social (Anderson-Butcher, 2019; Opstoel et al., 2020), sendo uma forma
de envolvimento associada ao bem-estar individual e ao prazer associado à
sua prática. Por outro lado, também é importante referir que, ao incluir uma
dimensão inter-relacional, a participação desportiva pode levar a uma maior
consciência cívica e uma maior participação cívica (Anderson-Butcher, 2019).
Dado o contexto deste estudo, as atividades em que os jovens se
envolvem podem constituir práticas que estimulem as suas conexões com
as respetivas comunidades. Elas podem ter, pela natureza dos contextos, até
mesmo um papel mais significativo no desenvolvimento da juventude e suas
experiências quando comparadas com o impacto que atividades semelhantes
podem ter sobre os jovens de origens urbanas (Ludden, 2011; Ferris et al.,
2013). Nesse sentido, em estudos futuros será relevante tentar entender
melhor, com casos de escolas de contextos urbanos ou semiurbanos.
Acreditamos que, neste artigo, se contribui para uma reflexão em
torno das culturas de participação juvenil em contextos ainda pouco
explorados, como são os rurais e de fronteira, chamando a atenção para
a particularidade desses contextos e o modo como essa pode influenciar
as formas de participação dos jovens. Por exemplo, a proximidade com o
local e a valorização das culturas locais pelos jovens (Portela; Gerry, 2002),
o que pode influenciar o modo como eles se envolvem, nomeadamente
em eventos culturais da região. Mais ainda, urge ressaltar que as propostas
que os jovens enunciam para os seus contextos, entre as quais algumas
de atividades de participação cívica, trazem para a reflexão um possível
questionamento sobre a apatia de jovens na participação em atividades
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Sociologias, Porto Alegre, ano 24, n. 60, mai-ago 2022, p. 268-301.
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desse tipo. Nesse sentido, para reflexão futura e mais aprofundada, poderia
ser pertinente analisar o modo como esses jovens aspiram a atividades,
numa análise paralela às ofertas existentes no seu contexto, possibilitando
perceber fundamentadamente as culturas de participação, numa perspetiva
que atente não só naquilo em que os jovens participam, mas também
procurando perceber o modo como as ofertas e as ausências constituem
oportunidades ou barreiras, respetivamente, para a participação juvenil.
Nicolas Martins da Silva é doutorando em Ciências da Educação no Centro de Investigação
e de Intervenção Educativa, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da
Universidade do Porto (CIIE-FPCEUP), Porto, Portugal.
Sara Pinheiro é Doutora em Ciências da Educação pela Universidade do Porto e
pesquisadora assistente no Centro de Investigação e de Intervenção Educativas, Faculdade
de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (CIIE-FPCEUP), Porto,
Portugal.
Sofia Marques da Silva é Doutora em Ciências da Educação, professora associada
da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação e membro efetivo do Centro de
Investigação e de Intervenção Educativas (CIIE-FPCEUP) da Universidade do Porto, Porto,
Portugal.
sofiamsilva@fpce.up.pt
Financiamento
Bolsa de doutoramento: Este trabalho foi apoiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia
(FCT) e pelo Fundo Social Europeu, no âmbito do Programa Operacional de Capital Humano
(POCH) de Portugal 2020, especificamente ao abrigo das Bolsas de Doutoramento FCT
(referência: SFRH/BD/143733/2019).
Projeto de investigação: GROW.UP, Grow Up in Border Regions in Continental Portugal: Jovens,
Percursos Educativos e Agendas. Financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
(FEDER), através do Programa Operacional Regional do Norte (NORTE 2020) de Portugal 2020,
e Fundação Ciência e Tecnologia, IP (FCT) (referência: PTDC/CED-EDG/29943/2017).
Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer aos jovens, escolas e municípios que pacientemente nos
ajudaram com esta investigação.
Sofia Marques da Silva, Nicolas Martins da Silva & Sara Pinheiro
Sociologias, Porto Alegre, ano 24, n. 60, mai-ago 2022, p. 268-301.
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Recebido: 24 mar. 2021
Aceito: 16 jun. 2022
... That is, it understands youth as fundamental for social development at European, regional, national and local levels (EU, 2018). Regarding the Portuguese context, the participation of young people in developing their communities is not so evident (da Silva et al., 2022), despite the fact that the Second National Plan for Youth [Plano Nacional para a Juventude II] (2022) highlights the importance of promoting and recognising 'active citizenship and the civic participation of young people as active agents of sustainable development' (Council of Ministers Resolution no. 77/2022, p. 15). ...
... Young people growing up in border regions have fewer real opportunities, seem less interested in being involved in more traditional forms of participation, and are eager to be involved in communitybased projects . Cultures of youth participation in border regions appear in line with national-level results, with low civic and political involvement (da Silva et al., 2022). However, young people in border regions also identify constraints to their participation related to a lack of opportunities due to a scarcity of infrastructures (Pordata, Base de dados de Portugal Contemporâneo,2022b) and the lack of interest of political actors in listening to their aspirations . ...
... Definitions range from those aligned with more formal forms of political participation, such as voting and engagement in political parties (Putnam, 2000), through to more fluid forms of civic engagement (Norris, 2002). In parallel, the detachment of young people from more traditional forms of civic and political involvement, such as voting or participating in political activities or organisations, has been internationally (Farthing, 2010;Furlong & Cartmel, 2007) and nationally recognised (Costa et al., 2022;da Silva et al., 2022), which sometimes leads to discourses perceiving young people as disengaged (Manning, 2013). ...
Article
Full-text available
This article explains how participatory approaches can promote civic engagement among young people, resulting from their active involvement in the research process, namely identifying their communities' priorities and problems. Five project‐building sessions were held with young people from five contexts located in the border regions of mainland Portugal. The data supporting this article were collected during sessions dedicated to identifying and exploring community‐based problems and priorities and designing projects to address those local challenges. The results show the importance of contextualising young people's experiences and priorities, here related to their own community and its well‐being and development. It is here that using participatory methodologies can create opportunities for young people to participate in processes of community change.
... Em ambos os estudos se enfatiza a necessidade de compreensão do papel das famílias de classe média na disponibilização às suas crianças de atividades de enriquecimento educativo e cultural, quer como estratégia de socialização nas lógicas competitivas do mercado de trabalho, quer como indução precoce de "disposições legítimas" (Vicent & Ball, 2007) para a manutenção da sua posição na estrutura social. Há que ter em conta, também, que estas atividades não se encontram distribuídas de igual forma pelo território e implicam, cada vez mais, custos que apenas as famílias socialmente mais favorecidas podem suportar (Adler & Adler, 1994;King, 1982;Silva et al., 2022;Vicent & Ball, 2007). Além disso, algumas destas atividades tendem a ser vistas em concorrência com o percurso escolar, sujeitando os jovens a uma escolha sobre a modalidade que devem priorizar, enquanto outras -como é o caso das explicações e dos cursos de línguas -são entendidas em "prolongamento" e como propiciadoras da "excelência escolar" (Palhares, 2019). ...
... Quando nos centramos no subconjunto dos jovens que participam nestas atividades, apesar de as desigualdades não serem tão marcantes como relativamente aos percursos escolares, o que o estudo permitiu observar é uma tendência de acumulação das vantagens por parte dos jovens das classes sociais favorecidas. Ou seja, tal como já haviam observado Silva et al. (2022) no contexto específico dos territórios de fronteira, são os jovens com origens sociais privilegiadas quem mais participa em organizações da comunidade e em atividades extracurriculares nas próprias escolas, o que tende, também, a contribuir para uma acumulação de competências e capitais, os quais poderão facilitar, posteriormente, a sua integração académica, social e profissional. De igual modo, uma investigação recente desenvolvida sobre os alunos com elevados desempenhos no ensino secundário revela que os percursos de excelência estão fortemente associados às classes sociais mais favorecidas e à participação em múltiplas atividades fora e dentro da escola (Torres & Palhares, 2017). ...
Article
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O presente artigo discute até que ponto as origens sociais são condicionantes dos percursos escolares e de participação social dos jovens, no Portugal contemporâneo. Para isso, num primeiro momento, procede a um levantamento de diferentes filões de pesquisa que, a nível nacional e internacional, têm abordado esta questão. Explicitam-se os protocolos metodológicos e, em seguida, apresenta-se e discute-se um conjunto de dados obtidos a partir de um inquérito aplicado pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência a uma amostra nacional dos estudantes no 10.º ano de escolaridade (n= 241.341). Os resultados apontam para percursos escolares e, em menor escala, indicam, também, taxas de participação social ainda bastante marcados por desigualdades familiares, num padrão de sucessivas (des)vantagens que se vão acumulando ao longo das trajetórias infantis e juvenis.
... It is already well-documented that social and economic factors impact young people's participation (Furlong & Cartmel, 2012;Metzger et al., 2020). Higher levels of parental education are associated with greater civic and political participation development among young people (Metzger et al., 2020;N. Silva, Pinheiro, & S. Silva, 2022), and school experiences have been linked to the development of democratic knowledge (Pontes, Henn, & Griffiths, 2017). Considering that rural border regions in Portugal have lower attainment rates in higher education institutions and higher shares of NEET (Not in Education, Employment or Training) in comparison to urban settings (Simões ...
... are more involved in civic and community engagement and social movements (Gaby, 2017;Stefani et al., 2021). (Table 2), suggest that asymmetries in participation opportunities, particularly low agreement with the notion of having opportunities to participate in decision-making processes, may contribute to low participation among youth (Massey, 1994;N. Silva, Pinheiro, & S. Silva, 2022). Feeling excluded from decisions that affect their lives in some way may cause these young people to disengage from activities they perceive as unrepresentative of them and far removed from their reality (Farthing, 2010). ...
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Highlights: Young people are involved in diverse types of participation, being engaged, disengaged or unpolitical. Young people perceive opportunities to organise initiatives but not to participate in local decisions. Constraints on participation and responses to promote it were identified. Context-specific barriers were mentioned by young people and policymakers. Municipalities and schools are priority contexts for fostering youth participation. Purpose: This article aims to assess constraints on and facilitators of youth participation in rural border regions. Knowledge about regional participation of young people is useful for developing territorialised policies. Methodology: Using a mixed method approach designed in line with theories of civic and political participation and youth studies, we analysed responses from young people to a questionnaire (n = 3968) and interviews with policymakers (n = 36) and young people (n = 20). Findings: Young people are involved in diverse types of civic and political participation and perceive more opportunities to organise initiatives than to participate in local decision-making. Constraints on participation relate to the distance between politics, governance institutions and young people, weak strategies of municipalities, lack of youth organisations and mobility. Facilitators of participation include supporting youth-led activities or involving young people in local decisions. Research implications: the study contributes to understanding youth participation in rural regions.
... Estes dados sugerem que as escolas em contextos mais vulneráveis tendem a aderir menos à iniciativa -possivelmente em resultado de múltiplas instabilidades que continuam a observar-se nestes territórios (Abrantes, 2022) -mas, quando o fazem, a participação dos/as seus/suas estudantes supera até as médias nacionais, talvez por uma maior valorização dos recursos escolares ante a escassez de recursos familiares e comunitários. Seria interessante uma exploração territorial mais fina, capaz de questionar condições sociais e geográficas, tais como as das escolas rurais e "de fronteira", assim como uma análise do perfil dos/as estudantes participantes, no sentido de identificar padrões étnicos, de classe e de género (Silva et al., 2022). ...
... Acresce que num número também elevado de escolas apenas existe uma proposta, o que pode também ter efeitos empobrecedores na formação dos/as alunos/as. Esta situação é tão mais preocupante, num contexto em que o desenvolvimento educativo se baseia em programas nacionais a que as escolas decidem aderir (ou não), caso se confirme um "efeito Mateus", segundo o qual algumas escolas revelam capacidade e disponibilidade para incorporar um grande volume de projetos, acumulando os recursos que estes possibilitam, enquanto outras -frequentemente em contextos sociais mais vulneráveis ou em regiões periféricas -apresentam menor capacidade de mobilizar projetos e ofertas educativas(Silva et al., 2022) e podem mesmo afundar-se em círculos (depressivos) de privação e instabilidade, não conseguindo fixar o corpo docente e discente, o que, por seu lado, dificulta a mobilização ...
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O presente artigo enquadra e discute, num primeiro momento, o Orçamento Participativo das Escolas, um programa público levado a cabo em Portugal desde 2017, à luz dos estudos que têm vindo a acompanhar a aplicação desta metodologia, a nível internacional, assim como de investigação educacional de fundo sobre a relação entre Escola Pública e Democracia. Num segundo momento, o artigo apresenta alguns dos resultados da 5.ª edição desta iniciativa (2021), constatando-se que, mesmo num período de pandemia, o programa envolveu centenas de escolas, nas quais os estudantes elaboraram propostas de melhoria e participaram nas votações. Observa-se um maior impacto nas regiões Norte e Centro, bem como no 3.º ciclo do ensino básico. Analisam-se as propostas dos estudantes, constatando-se um predomínio das orientadas para o bem-estar e as sociabilidades, mas com uma expressão relevante das que visam um reforço das atividades físicas e desportivas, o apetrechamento digital, a sustentabilidade ambiental ou a inovação educativa. Argumenta-se que este programa, desde que enquadrado no projeto educativo e práticas pedagógicas, tem potencial para promover a vida democrática, mas a sua concretização desarticulada e distorcida pode conduzir a um engodo democrático e a um aumento das desigualdades. Conclui-se com pistas para a investigação e intervenção.
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This article examines how mobility is incorporated into the lives of young people growing up in rural border regions of continental Portugal. It also explores how municipalities are dealing with the contemporary imperative of mobility and its consequences. Young people from these regions are affected by decisions to leave to continue studying in higher education, or to find a job. Combined, these lead to an outward migration trend and thus loss of human capital. This paper is based on a multi-method research project carried out in the border regions and involves young people and other stakeholders from 38 municipalities. The data were selected from a questionnaire completed by young people (9th–12th grade; n = 3968), 38 semi-structured interviews with local policymakers, 50 biographical interviews, and 5 focus groups with young people. Results indicate that although most young people aspire to further education and do not fear leaving their region, they nonetheless tend to integrate the necessity to be mobile into their biographies. Hence, they do not associate it with displacement or as being tantamount to abandoning their region, and to which some of them want to return. We consider that in parallel with learning to leave local sentiments, policies, and actions are emerging towards coalescing a trend of learning to stay and returning. We propose an interpretation of this tendency as indicative of new understandings around these peripheral territories and which are shaped by young people’s experience of reconciling a sense of belonging to place and any associated mobilities.
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RESUMO O artigo tem por objetivo analisar como os partidos ecológicos são vistos pelos jovens no Brasil e, consequentemente, qual o perfil dos eleitores dessas legendas. Para tanto, realiza um estudo exploratório a partir da aplicação de um questionário a 710 informantes. Para analisar os dados, o aporte teórico utiliza contribuições da sociologia político-ambiental e da sociologia da juventude. Dentre os resultados obtidos a partir do cruzamento de variáveis, pode-se constatar que conhecer o partido e suas propostas, estar em faixa etária jovem mais avançada, assim como ter maior nível de escolaridade e renda familiar se associam positivamente ao voto de jovens nos partidos ecológicos. Conclui também que os vínculos sociais continuam relevantes para a construção social da reputação política dos partidos, uma vez que os jovens tomam conhecimento das propostas das agremiações (sobretudo, PV e REDE) por meio de seu círculo de amigos.
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This review provides an overview of the existing literature on school-aged children’s and youth’s (i.e. 6- to 18-year-olds) personal and social development within the context of physical education and sports. A total of 4359 non-duplicate articles were retrieved from six databases. After the title, abstract and full text screening, 88 articles met the inclusion criteria and were included for further analysis. Articles had to be published in a peer-reviewed journal between 1 January 2008 and 6 December 2017. The 88 studies used several study designs, methods and instruments to investigate a variety of concepts related to personal and social development. Concepts were grouped into the following 11 themes: work ethic; control and management; goal-setting; decision-making; problem-solving; responsibility; leadership; cooperation; meeting people and making friends; communication; and prosocial behaviour. The main findings for each of the 11 themes are reported, and limitations and implications are provided to guide researchers and practitioners in their future work.
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Resumo O artigo tem por objetivos introduzir algumas reflexões acerca do significado contemporâneo do termo juventude, bem como realizar ponderações importantes em torno ao binômio juventude-violência. Quer-se, igualmente, apresentar alguns dados relevantes para compreender a situação de vulnerabilidade concreta de jovens que residem em certos bairros da cidade de Porto Alegre, na medida em que permitem deduzir as fortes relações entre violência, educação e família. Por último, o interesse recai em realizar uma breve crítica dos três principais paradigmas sobre políticas para jovens (em torno ao trabalho, à educação e ao esporte) que classicamente se têm implementado. No contexto dessas reflexões, sugere-se considerar de importância o desenvolvimento de uma “cultura digital” e seu coadjuvante “capital social” para a eventual formulação de uma “nova” política para jovens que vivem em situação de vulnerabilidade social em contextos urbanos.
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This paper focuses on participation in decision-making processes and how rural youth could benefit from its use in development projects and initiatives. General literature and relevant international experiences related to participation mechanisms aimed at youth show that participation boosts interventions linked to improvements of young people’s livelihoods and developmental opportunities. However, participation mechanisms are less explored (and used) in rural settings: we know little of the effectivity of rural participation, even less so for youth, in developing countries. Based on the review of 54 documented cases about participation of rural youth in developing countries, we conclude that participation mechanisms towards rural youth can produce substantial results to enhance the development and social inclusion opportunities through three channels. First, collecting rural youth´s opinions around issues relevant to them through platforms that are sensible to the challenges they face to participate. Second, capitalising rural youth and their organisations, improving their financial assets but also working in character skills and intergenerational partnerships that let them break the status quo. Third, articulating youth with new institutions, organisations, and territories through new links supported by diversification of the urban-rural continuum and new information technologies.
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Sport is viewed as a setting with potential to offer social benefits to youth participants and alleviate broader social problems. Such promise requires intentionality of sport program philosophy, design, and execution. When designed with intentionality, youth sport can bring about positive change for individual youth and societies. This paper overviews the broad literature base, exploring 2 approaches to the promotion of social development through youth sport. One explores social- and/or life-skill development through sport for individual participants, whereas the other examines the role of sport in addressing broader social problems. Evidence-based strategies for fostering social development through youth sport are synthesized, providing guidance to coaches, administrators, youth workers, and others engaged in youth sport design, and exemplar programs that use youth sport as a vehicle for social development are presented. Limitations in youth sport research are summarized, and a call is made for more intentionally designed youth sport to promote social development.
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In this article, we consider the gender gap in political participation by analyzing recent survey data about German adolescents. Differentiating between institutional, non-institutional, and expressive participation, we show that, even in Germany where there is strong gender equality, type-specific gender differences persist. Testing for resource, socialization, and attitudinal explanations, in multivariate regression analyses, we identify socialization in civic forms of participation together with the lower confidence of women in their personal and political skills as major drivers for the sexual differences in political engagement, especially so for institutionalized forms of participation.
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Political participation is one of the most studied aspects of the contemporary development of western democracies (Ekman & Amnå, 2012; van Deth, 2014). A recent trend focuses the lack of political participation among younger generations (e.g., Henn, Weinstein & Forrest, 2005; Kimberlee, 2002). At the same time, the last decades have also witnessed a growth in the share of young European Union (EU) citizens who express alienation, and distrust toward social and political institutions at the national as well as the European level (Dalton, 1998; Henn et al., 2005; Mierina, 2014). By studying young people across different countries of the EU, the current study aims to examine if youths’ political passivity is better explained by political apathy or alienation. Our analyses are based on a comparative survey data collected by the Catch-EyoU project comprising approximately 4,454 late adolescents assembled from eight member countries of the EU. Results from logistic regressions predicting non-voting from apathy and alienation support the idea that political passivity is best understood as the result of political apathy. Moreover, it seems that the underlying separator of apathetic and alienated youths is cognitive awareness of political life. These results are discussed in relation to potentially built-in paradoxes of apathy present in efficient and well-functional welfare-state democracies.