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REVISTA
AMOR MUNDI
MEMÓRIAS SOBRE AS ÁGUAS DO RIO COTINGUIBA EM
LARANJEIRAS/SE: USOS, HISTÓRIAS E PERCEPÇÕES
MEMORIES ABOUT THE WATERS OF THE COTINGUIBA RIVER IN LARANJEIRAS/SE:
USES, STORIES AND PERCEPTIONS
Mayra Ferreira Barreto
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, Brasil. E-mail: mayra.barreto@outlook.com
DOI: https://doi.org/10.46550/amormundi.v3i1.156
Recebido em: 04.07.2022
Aceito em: 17.08.2022
Resumo: Este artigo tem por finalidade resgatar as memórias sobre questões ambientais que
marcam o Rio Cotinguiba. Neste sentindo, a principal motivação para realizá-la foi o desejo
de conhecer os usos e histórias vivenciadas por mulheres pescadoras da Mussuca com o rio,
além de compreender as suas percepções sobre a relação entre rio e ambiente. O trabalho
tem como objetivo: registrar a memória e a história dessas mulheres sobre o Rio Cotinguiba;
compreender como eram as suas experiências vivenciadas em relação ao rio; entender como
elas percebem as mudanças, em que o rio passou ao longo dos anos e possibilitar a criação de
valores de pertencimento e identidade sobre o rio. Com os relatos obtidos na pesquisa, espera-
se reforçar, para a comunidade de Laranjeiras, a relação de identidade e pertencimento do seu
lugar, entendendo a importância de conhecer as memórias ambientais, as dinâmicas do rio e as
transformações sofridas, ao longo do tempo, assim como refletir sobre a poluição do rio, tema de
fundamental relevância nos dias de hoje.
Palavras-chave: Memórias Ambientais. Rio Contiguiba. Laranjeiras/SE. Mulheres Pescadoras.
Mussuca.
Abstract: is article aims to rescue memories about environmental issues that mark the
Cotinguiba River. In this sense, the main motivation for carrying it out was the desire to know
the uses and stories experienced by fisherwomen from Mussuca with the river, in addition
to understanding their perceptions about the relationship between river and environment.
e work aims to: record the memory and history of these women on the Cotinguiba River;
understand what their experiences were in relation to the river; understand how they perceive
the changes that the river has gone through over the years and enable the creation of values of
belonging and identity about the river. With the reports obtained in the research, it is expected
to reinforce for the community of Laranjeiras the relationship of identity and belonging of their
place, understanding the importance of knowing the environmental memories, the dynamics of
the river and the transformations suffered, over time, as well as how to reflect on river pollution,
a topic of fundamental relevance today.
Keywords: Environmental Memories. Contiguiba River. Orange trees/SE. Fisher Women.
Mussuca.
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DOI: https://doi.org/10.46550/amormundi.v3i1.156
1 Introdução
Este artigo tem por finalidade resgatar as memórias sobre questões ambientais que
marcam o Rio Cotinguiba. Neste sentindo, a principal motivação para realizá-la foi
o desejo de conhecer os usos e histórias vivenciadas por mulheres pescadoras da Mussuca com
o rio, além de compreender as suas percepções sobre a relação entre rio e ambiente. O trabalho
tem como objetivo: registrar a memória e a história dessas mulheres sobre o Rio Cotinguiba;
compreender como eram as suas experiências vivenciadas em relação ao rio; entender como elas
percebem as mudanças, em que o rio passou ao longo dos anos e possibilitar a criação de valores
de pertencimento e identidade sobre o rio.
Diante do exposto, a pesquisa parte dos seguintes questionamentos: Quais as práticas
sociais que as pescadoras do povoado Mussuca vivenciaram com o Rio Cotinguiba? Quais as
mudanças essas práticas sofreram? Para compreender as memórias ambientais é fundamental
a reflexão e a comparação com a literatura já presente, a exemplo dos estudos de Bittencourt
(2008), a qual reafirma que a memória é a base da identidade e por meio dela chega-se a história
local. Dessa forma, “as memórias precisam ser evocadas e recuperadas, assim como merecem
ser confrontadas” (BITTENCOURT, 2008, p. 170). Conforme a fala da autora, por meio das
memórias seja a individual, seja coletiva é possível fazer relações com o passado, dialogar com a
realidade local e entender as transformações do meio ambiente.
As memórias possibilitam entender como ocorrem às mudanças de paisagem e de espaço
na cidade ao longo do tempo, elas são os registros das experiências e vivências dos grupos sociais,
permitindo o diálogo entre passado e presente e principalmente a escuta do outro. O ato de
rememorar permite aos indivíduos o sentimento de identidade, trazendo a tona o esquecido. A
memória, segundo Pollak (1992), “é um elemento constituinte do sentimento de identidade,
tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente
importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em
sua reconstrução de si” (POLLAK, 1992, p. 05).
Assim sendo, através da memória podemos agir e transformar o presente. Consoante
Mesquita (2017) “a memória é combativa ao esquecimento (...) e pela rememoração se
reconhece e recobra sua identidade. Portanto, nutrir-se da fonte da memória pode significar a
imortalidade ou a preservação da vida” (MESQUITA, 2017, p. 30). Outro autor utilizado para a
discussão sobre a memória é Hallwachs (1990, p.51). Segundo o pesquisador “os grupos sociais
determinam o que será lembrado, porque rememoram aquilo que é significante para o grupo”.
Para o autor, “a memória é seletiva, construída pela representação individual do passado, apoiada
nas percepções produzidas pela memória do grupo” (HALLWACHS 1990, apud, MESQUITA,
2017, p. 30 e 31).
Em conformidade com Mesquita a vida é (re)significada pela experiência de alguém que
traz a sua história em relação a uma história mais ampla. O compromisso da memória é com
a ação, pois atravessa, vence obstáculos, emerge, irrompe (MESQUITA, 2017, p. 39 e 40). Já
para Ricardo Oriá (2004, p. 139), a “memória dos habitantes faz com que eles percebam, na
fisionomia da cidade, sua própria história de vida, suas experiências sociais e lutas cotidianas”.
Nesse contexto, para o autor, a memória esclarece sobre o vínculo entre a sucessão de gerações
e o tempo histórico que as acompanham; conforme Oriá, sem a memória a população urbana
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não tem condições de compreender a história de sua cidade e a sua origem. Para o autor, “sem
a memória temos a estranha sensação de que somos “estrangeiros” em nossa própria casa, e sem
ela, não encontraremos mais os ícones, símbolos e lembranças que nos unem à cidade e, assim,
nos sentiremos deslocados e confusos” (ORIÁ, 2004, p. 139).
Para Ecléa Bosi (1995) as pessoas de mais idade carregam em si, mais fortemente, tanto a
possibilidade de evocar quanto o mecanismo da memória. Para Bosi a lembrança é a sobrevivência
e conservação do passado, a memória aparece como força subjetiva ao mesmo tempo profunda
e ativa, latente e penetrante, oculta e invasora (BOSI, 1995, p. 09). Em concordância com a
autora, “lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as
‘experiências’ do passado” (BOSI, 1995, p. 55). Para Bosi a função social dos “velhos” é lembrar.
As pessoas mais idosas têm muitas experiências, tem vivido muito tempo e está carregado de
lembranças retém um contexto social bem definido, diferente do homem adulto que tem suas
atenções mais voltadas para o presente. Para a autora, o “velho”, “busca a confirmação do que se
passou com seus conterrâneos, em testemunhos escritos ou orais, investiga, pesquisa, confronta
esse tesouro de que é guardião” (BOSI, 1995, p. 09). Para as autoras Barros & Barros (2014),
“o ato de recordar, possibilitou aos entrevistados refletir sobre suas identidades e trajetórias,
haja vista que as narrativas não trouxeram apenas lembranças de acontecimentos, reelaboraram
e reconstruíram significados para suas vidas à luz do tempo presente” (BARROS & BARROS
2014, p.339).
Dessa maneira, com a pesquisa espera-se que os moradores de Laranjeiras venham (re)
conhecer e rememorar as história vivenciadas em sua cidade, refletindo sobre seu entorno e as
relações entre a sua comunidade e o Rio Cotinguiba. Diante dos fatos supracitados, infere-se que
isso é uma maneira de possibilitarmos que a população possa refletir sobre a importância do rio
para suas vidas, da conservação e preservação desse recurso natural.
2 Metodologia
Para a execução da proposta didática descrita no trabalho, foram consultados: livros,
artigos, normas, dissertações e teses. Os endereços eletrônicos utilizados foram o site de busca
Google e sua plataforma acadêmica e o Repositório Institucional da Universidade Federal
de Sergipe (RI/UFS). A pesquisa, nesses sites, foi orientada pelas expressões “memórias”,
“patrimônio”, “Rio Cotinguiba”, “Mussuca”, “Quilombo” o que resultou em trinta aparições de
trabalho. Após as leituras e fichamentos dos textos, foi elaborado um questionário com (12) doze
perguntas abertas, para direcionar aos entrevistados a falarem sobre suas memórias, histórias,
usos, práticas e experiências com o Rio Cotinguiba.
Ao todo foram entrevistadas sete mulheres na faixa etária dos 74 aos 50 anos de idade.
Os relatos orais foram realizados no dia 19 (dezenove) de novembro de 2021, nas residências das
moradoras, no período da tarde e foram captadas por meio da gravação audiovisual. A transcrição
consistiu em converter diálogos captados por recurso audiovisual para o texto escrito, etapa de
grande importância para a elaboração da parte escrita da pesquisa. As narradoras/colaboradoras
receberam uma carta convite e assinaram um termo de cessão autorizando publicar, em formato
gravado e escrito, suas memórias. Com as entrevistas podem-se conhecer as memórias e histórias
sobre o Rio Cotinguiba, compreender como eram as experiências das moradoras com o rio,
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quais as mudanças sofridas no Cotinguiba ao longo do tempo, e de que forma as alterações
ocorridas influenciam nas vivências que as moradoras têm com o rio. Desta forma, esta pesquisa
visa contribuir para a diminuição da lacuna gerada pela escassez de estudos sobre a temática e
soma-se as demais propostas já realizadas como contribuição às memórias ambientais no Brasil
e em Sergipe.
3 Laranjeiras: importância histórica, cultural e ambiental
A cidade de Laranjeiras fica localizada no Estado de Sergipe, e possui uma área territorial
de 162,273 Km², segundo dados do IBGE (2020). O município encontra-se aproximadamente
23 km de distância de Aracaju, capital do Estado, e integra a região metropolitana de Sergipe.
A população estimada, para o ano de 2020, é de 30.080 pessoas, sendo que a maior parte da
população reside na zona urbana (IBGE, 2021). Laranjeiras tem grande importância histórica,
cultural e ambiental para o estado de Sergipe. Considerada por muitas pessoas como “Museu
a céu aberto”, a cidade resguarda tradições seculares, principalmente do período colonial e do
auge dos engenhos em Sergipe. Por conseguinte, se andamos pela cidade, logo percebemos vários
prédios históricos de arquitetura barroca, podemos destacar igrejas, casarios, fachadas, teatros,
museus e ruas.
Além da herança colonial portuguesa, podemos destacar na cidade um rico patrimônio
material de religiosidade africana, citamos o Terreiro “Filhos de Obá”, fundado por escravos de
origem Nagô, tombado no ano de 1988, pelo Governo de Sergipe e a Casa de Ti Herculano da
segunda metade do século XIX. A Casa foi “o segundo espaço em que se organizaram os cultos
coletivos de matriz africana em Laranjeiras (...) seu proprietário, Herculano Barbosa, era um
africano liberto, que dirigiu o culto nagô de Laranjeiras até sua morte, em 1907” (IPHAN, 2014,
p.01). Até hoje, o patrimônio permanece como referencial para a tradição nagô em Laranjeiras.
No que diz respeito à importância cultural encontramos na cidade vários movimentos
populares, literários e intelectuais. O título de “Atenas Sergipana” que lhe é atribuído decorre
da “efervescência cultural da elite local na segunda metade do século passado (...). Mas não é
apenas a tradição culta que é exaltada, mas também, a tradição popular” (DANTAS, 1982, p.
172). Encontramos em Laranjeiras não somente heranças coloniais portuguesas, mas também os
costumes da comunidade negra e indígena que fizeram parte da história e cultura no munícipio.
Sendo assim, diversas expressões populares compõem o rico patrimônio imaterial do povo
laranjeirense: Chegança, Reisado, Guerreiro, Samba de Coco, Samba de Pareia, Cacumbi,
Taieira, Lambe Sujo e Caboclinhos e o São Gonçalo. Laranjeiras é palco também do Encontro
Artístico e Cultural, que ocorre anualmente no mês de janeiro. O evento iniciou no ano de
1976, e desde esse período vem reunindo diversas apresentações locais, artistas locais e nacionais,
intelectuais, pesquisadores, pessoas que moram próximas ao município e turistas, que vem
conhecer e prestigiar a cultura de Sergipe.
Além de possuir ricos patrimônios culturais materiais e imateriais, a cidade possui belas
paisagens urbanas e naturais, temos como exemplo o Rio Cotinguiba. O citado rio faz parte do
Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico de Laranjeiras, sendo incluído na paisagem
urbana da cidade, em consonância com a portaria emitida pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, no ano de 2019. A área que compõe o Conjunto Arquitetônico,
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Urbanístico e Paisagístico de Laranjeiras abrange o porto, o mercado e o largo da feira, contendo
casarios, praças, edificações religiosas, morros e o Vale do Cotinguiba (IPHAN, 2019).
Esses locais relevam elementos de épocas históricas diferentes, principalmente na ocupação
da costa do Nordeste, durante a expansão da cultura da cana-de-açúcar nos séculos XVIII e XIX,
além de representar características únicas, já que encontramos harmonia entre as edificações
urbanísticas com elementos naturais (IPHAN, 2019). O Cotinguiba é um rio permanente que
nasce no município de Areia Branca e desagua em Nossa Senhora do Socorro junto ao Rio
Sergipe, o rio fica localizado na região central urbana da cidade. Com 51 km de extensão, banha
terras de quatro municípios economicamente importantes no estado de Sergipe, que são eles:
Areia Branca, Riachuelo, Laranjeiras e Nossa Senhora do Socorro. Destes municípios que são
banhados pelo Rio Cotinguiba, segundo os estudos de Santos (2012) “Laranjeiras concentra
maior parte da área (45,81%), seguido de Nossa Senhora do Socorro com 26,15%, que juntos
representam 71,96% da área total da sub-bacia” (SANTOS, 2012, p.10).
O rio possui uma rica diversidade vegetal e animal, possibilita a muitos moradores de
Laranjeiras o sustento da sua família, além de ter sido muito importante para o povoamento e
desenvolvimento econômico de Laranjeiras. No início da povoação da cidade, por volta dos anos
de 1600, muitos colonos se fixaram às margens do Rio Cotinguiba o que influenciou as primeiras
construções no local. No Vale do Cotinguiba foi construído um pequeno porto, que ao longo
do tempo ocasionou intensa movimentação de pessoas e mercadorias, passando a ser parada
obrigatória para o comércio de produtos e de escravos, assim também como, posteriormente,
foram criados centros urbanos e comerciais.
A Bacia do Cotinguiba teve ainda uma grande importância econômica em Sergipe,
principalmente, entre os nos séculos XVIII e XIX. Segundo Santos (2012), esse fato foi possível
“graças à fertilidade dos solos, clima adequado e à possibilidade de transporte da produção
açucareira através da bacia hidrográfica do rio Sergipe onde dava acesso ao oceano atlântico por
onde era escoada toda a produção de açúcar para a Europa” (SANTOS, 2012, p. 15). Desse jeito,
podemos notar que nos anos de 1808, a cidade já era um grande centro econômico de Sergipe.
Segundo Dantas (1982):
Laranjeiras constituiu-se, durante o século XIX, num dos mais importantes
núcleos urbanos da Província de Sergipe. Sua riqueza vinha, sobretudo, do açúcar
produzido nos engenhos espalhados pelo vale do Cotinguiba, em razão do que se
concentrou na zona uma expressiva população negra, nela incluindo-se o maior
percentual de africanos existentes na Província no final do século (DANTAS,
1982, p. 170)
Além da cana-de-açúcar; coco, gado e escravos eram comercializados nas feiras localizadas
próximas ao Rio Cotinguiba. Segundo Dantas (1982):
[...] as intensas trocas comerciais em Laranjeiras transformou numa cidade em
que a diversificação das categorias profissionais atestava uma diferenciação social,
que se refletia na vida cultural da cidade através dos gabinetes de leitura, liceus,
aulas de francês, clubes; teatros e jornais que veiculavam as grandes questões
econômicas, sociais e políticas da segunda metade do século (DANTAS, 1982,
p. 170).
Nos dias atuais o Rio Cotinguiba ainda tem grande importância econômica para os
moradores de Laranjeiras. Por intermédio do rio é possível extrair várias substâncias minerais
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que são utilizadas na construção civil, como o granito, areia, argila e cerâmica. Na produção
agrícola, o rio possibilita a diversidade de plantações de cana-de-açúcar, de coco, mandioca,
milho, laranja. Sendo a cidade, ainda hoje, um dos maiores produtores destinados ao cultivo da
cana.
As águas do Cotinguiba permitem a criação de espécies de animais bovinas e suínas,
além da sobrevivência de comunidades de pescadores que se fixam na beira do rio para a pesca
e a coleta de mariscos. O rio também é importante por ser o habit de muitas espécies de peixes,
anfíbios, répteis e aves, além da importância econômica e ambiental, o Cotinguiba é lugar de
manifestações populares, as quais se pode destacar a festa católica, Bom Jesus dos Navegantes, e
o combate final da festa popular Lambe-sujo e Caboclinho. De acordo com Leão (2011):
O primeiro evento é uma festa itinerante e de caráter religioso de Bom Jesus dos
Navegantes, realizada geralmente entre os meses de fevereiro e março, variando
o dia conforme as condições do Rio Cotinguiba para o uso de embarcações. A
procissão é realizada uma vez ao ano, quando os fiéis e curiosos percorrem o
trajeto que parte do Alto do Bom Jesus, onde se localiza a Igreja de Bom Jesus dos
Navegantes, desce a colina, passa por pelas ruas do centro histórico e vai parar na
borda do rio, no atual Largo do Quaresma. Chegando à beira do rio, a procissão e
parte dos seus seguidores entram em pequenas embarcações e seguem navegando
pelo rio abaixo em direção ao Rio Sergipe, que deságua no Oceano Atlântico.
A depender da maré, chegando a um ponto do Rio Sergipe, a procissão fluvial
retorna em direção a Laranjeiras e aporta no Largo do Quaresma, concluindo a
homenagem ao padroeiro da igreja. O segundo evento (...) é a festa popular de
cunho profano “Lambe-sujo x Caboclinho”, dois grupos folclóricos unidos em
um folguedo que se baseia no episódio histórico da destruição dos quilombos
[em que] tradicionalmente ocorre o combate, “a parte final e ponto alto da
dramatização”, entre lambe-sujos e caboclinhos (LEÃO, 2011, p. 77 e 78).
Como foi explanado na fala da autora, o “local cercado de folhas” que se encontra próxima
ao Rio Cotinguiba, é onde ocorre o combate final (uma das partes mais importantes da festa)
entre o rei negro e o rei dos caboclos, resultando na derrota dos negros. Dito isto, percebemos
que as águas do rio são usadas para diversos fins pela população de Laranjeiras: a mineração,
a agricultura, a criação de animais, pesca, turismo, manifestações religiosas e populares. Mas
infelizmente o que notamos ao longo dos anos é uma poluição gradativa do rio. Segundo Santana
Filho et. (2005):
[...] a degradação do Rio Cotinguiba é derivada de problemas inerentes à caça e a
pesca predatória, a enchentes, a ausência e/ou deficiência da educação ambiental,
a exploração de areia e argila nos leitos dos rios, as queimadas, ao desperdício
de água, às práticas agrícolas inadequadas, ao uso intensivo de agrotóxicos, a
má qualidade da água e a irregularidade no seu abastecimento, na poluição e
contaminação, assoreamento, acidificação, salinização e eutrofização dos recursos
hídricos, aos desmatamentos, à ausência e/ou deficiência do sistema de esgoto e,
por fim, às lixeiras a céu aberto (Mendonça Filho, apud SANTANA FILHO et.
2005, p. 13423).
A maior parte da população de Laranjeiras é urbana, o que contribui para a para os
lançamentos de muitos dejetos que poluem o leito do rio, causando problemas de saúde para
quem vive dele. Dentre os principais fatores de poluição urbana no município estão à poluição
industrial, à pesca predatória, às obras de engenharia para a construção de estradas e ferrovias, o
descarte de lixo de forma inadequada, o desmatamento para os cultivos agrícolas, as pastagens e
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o crescimento populacional.
Fazendo uma análise do Rio Cotinguiba, Santana Filho et (2005), identificou que a
qualidade da água está comprometida. Segundo os autores “o índice de coliformes fecais
tem aumentado principalmente quando o rio drena a sede municipal de Laranjeiras, onde os
esgotos domésticos são lançados no canal fluvial sem nenhuma forma de tratamento sanitário”
(SANTANA FILHO et. 2005, p. 13433). Desse jeito, a poluição do Rio Cotinguiba causa
empobrecimento dos solos, redução dos peixes, redução do volume das águas, alteração dos
ecossistemas aquáticos, principalmente ao lançamento de esgoto, agrotóxicos e resíduos sólidos,
assim como a destruição da fauna e flora.
Outro fator que contribui para a degradação do Rio Cotinguiba é a falta de valorização
e identidade da população com o rio, apontada por Santos (2015). “Laranjeiras se formou em
torno do Rio Cotinguiba, mas não desenvolveu pelo rio uma relação geralmente comum em
populações tradicionais que vivem essa proximidade com o bem natural” (SANTOS, 2015,
p.98). Conforme a autora,
[...] o que se vê na relação da população laranjeirense no tocante a seus bens
ambientais naturais é que não existe cautela no modo como lidar com o meio
ambiente. Entende-se também que as ações dos poderes públicos tem mais haver
com um embelezamento visando o potencial turístico do lugar do que uma
preocupação realmente efetiva em recuperar de fato os bens naturais daquele
lugar (SANTOS, 2015, p. 99).
Vale ressaltar a importância da sociedade na preservação, conservação e a proteção do
patrimônio ambiental. De acordo com Zanirato (2010):
[...] muitos brasileiros não reconhecem o patrimônio cultural existente em seu
próprio país, sobretudo quando se fala em um patrimônio natural. Esse patrimônio
se refere aos ecossistemas, biomas, conjunto de paisagens, de plantas, de animais,
recursos genéticos, da água que perfazem uma herança comum recebida dos
nossos ancestrais (...). Conservá-lo é uma forma de garantir o testemunho e
referencial, não apenas de seu valor arquitetônico e histórico, mas dos valores
culturais, simbólicos, de sua representatividade técnica e social (ZANIRATO,
2010, p. 137 e 138).
Assim sendo, é preciso que a população tenha reconhecimento do pertencimento e de
identidade coletiva daquele patrimônio natural para, assim, conservá-lo e protegê-lo. A população
deve reconhecer a importância do seu patrimônio, respeitar e valorizar o meio ambiente, como
legado universal para as gerações futuras.
4 Breves considerações sobre a Mussuca/Laranjeiras-SE
A Mussuca é considerada uma das comunidades quilombolas existente no estado de
Sergipe. Essa comunidade rural teve seu território reconhecido no ano de 2006, pela Fundação
Palmares, incluindo a comunidade no Programa Brasil Quilombola. A Mussuca fica às margens
da BR 101, e está localizada a cerca de 4 (quatro) km da sede do município de Laranjeiras, o
território é influenciado diretamente pelo Rio Cotinguiba. Segundo Santos (2013):
A Mussuca dispõe de duas escolas públicas, uma estadual e a outra municipal,
possui rede telefônica e rede elétrica posto de saúde, cemitério, quadra de esporte,
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academia, água potável sem tratamento, ruas pavimentadas, campo de futebol,
igrejas evangélicas e uma católica, associações comunitárias, e de pescadores, entre
outras. Telecentro-digital, centros de umbandas, uma creche que não funciona e
comércios locais (SANTOS, 2013, p. 06).
A economia da comunidade está baseada na pesca, na agricultura, na extração de minérios
e em setores públicos. A pesca é uma das principais atividades econômicas da comunidade,
ela pode ser realizada por redes e embarcações, outra fonte de renda, é a retirada de mariscos
(sururu, camarões e ostras). Essas atividades são responsáveis pelo sustento de muitas famílias
da comunidade quilombola. A coleta de mariscos é realizada principalmente pelas mulheres,
que têm a maré como uma importante fonte de renda para sua família e filhos. De acordo com
Santos (2019) “mais de 50% das pessoas garantem a sua subsistência a partir da atividade de
pesca, mostrando a importância da atividade no campo e da necessidade de garantir o controle
do território pela comunidade” (SANTOS, 2019, p. 98).
Vale destacar que o protagonismo das mulheres na comunidade Mussuca, pois elas são,
na maioria dos casos, as principais responsáveis pela subsistência da sua família, participam da
organização política do povoado, além de serem guardiãs da cultura quilombola, ou seja, elas
exercerem importantes papéis políticos, econômicos, sociais e culturais. Segundo Miranda &
Rodrigues (2020), as mulheres quilombolas “é uma artista da vida porque em meio a todos os
sacrifícios e sofrimentos da vida dura de trabalho que vive faz de seu cotidiano uma escola de
onde acumula saberes consagrados na sua experiência de vida” (Miranda & Rodrigues, 2020, p.
1876). Ao longo da pesquisa, podemos perceber que as mulheres da Mussuca são lutadoras que
aprenderam a tirar o sustento da sua família pela pesca, extraindo da maré os recursos naturais,
para a sua sobrevivência. Os seus relatos apontam mulheres fortes, trabalhadoras, filhas, mães,
esposas, com inúmeras atribuições e responsabilidades para o cuidado da sua família, dos seus
filhos, além da manutenção econômica da sua casa.
A mulher negra na comunidade quilombola exerceu e continua exercendo um papel
fundamental na luta e conquista de seus direitos sociais. Elas “são um exemplo de resistência
e de organização política dentro da comunidade (...) participam do movimento negro de luta,
organização política e resistência da comunidade quilombola” (SANTOS, 2019, p. 109).
Conforme Fernandes et., 2020, as mulheres quilombolas “apresentam-se como agentes na luta
pela garantia dos direitos fundamentais, pois é no cotidiano que elas enfrentam situações que
necessitam resolubilidade e estratégias para a superação dos problemas vividos” (FERNANDES
et., 2020, p. 07). Logo, podemos notar que os moradores da Mussuca têm uma relação muito
forte com o Rio Cotinguiba, dele retirando recursos marinhos. Para Santana (2008):
A maré é mais que uma área de captação de recursos, é uma área de sociabilidade
para os grupos familiares que para lá se dirigem. Lá se escutam conversas sobre o
dia-a-dia da comunidade, mexericos, trocas de informações sobre a maré, sobre
as condições favoráveis ou desfavoráveis para a pesca e a coleta, e assim por diante
(SANTANA, 2008, p. 105).
Além da pesca e da retirada de mariscos, muitas família desenvolvem a atividade de
agricultura para sua subsistência, principalmente de produtos como mandioca, amendoim,
feijão, milho, quiabo, macaxeira. O trabalho na terra é de fundamental importância para as
comunidades quilombolas, na terra é possível à produção do seu alimento, do trabalho e da sua
moradia. Podemos notar também a atividade da pecuária com a criação de porcos, bois e galinhas
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e a extração do calcário nas pedreiras, realizadas por maioria homens, sendo sua matéria-prima
utilizada nas construções das casas e fonte de renda e trabalho.
Segundo o INCRA (2020) “as comunidades quilombolas são grupos étnicos -
predominantemente constituídos pela população negra rural ou urbana –, que se autodefinem a
partir das relações específicas com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições
e práticas culturais próprias” (INCRA, 2020, p. 01). Por isso, os quilombos são espaços de
resistência dos povos negros que foram escravizados, que lutaram e resistiram contra o sistema
colonial baseado na exploração da mão de obra negra. Ao longo da história, as comunidades
quilombolas não foram somente formadas por escravos fugidos, mas por pessoas livres que
receberam terras por heranças. “As terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos
quilombos são aquelas utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e
cultural” (INCRA, 2020, p. 01). Para Santos (2013):
[...] as comunidades quilombolas classificam-se em rurais e/ou urbanas formadas
por descendentes de escravos negros refugiados das fazendas dos senhores de
engenhos por conta dos trabalhos braçais muito pesados e das chicotadas durante
o período colonial da cana-de açúcar. São povos guerreiros que se orgulham e se
autodefinem com as relações da terra. Além disso, mantêm viva a luta e tradição
de um povo que tem história gerada desde sua ancestralidade (SANTOS, 2013,
p.12).
Por consequência, o reconhecimento dos territórios quilombolas é de grande importância
para a dignidade e garantia da continuidade desses grupos étnicos. No Brasil, muitas comunidades
quilombolas vivem em precárias condições de vida, sofrem exclusão social, não têm seus direitos
reconhecidos, sofrem violências físicas e simbólicas, discriminação racial, cultural, social e estão
em situação de vulnerabilidade. Tudo isto, é resultado de 300 anos de escravização ao quais os
negros foram submetidos com tratamento degradante. De acordo com Fernandes et., 2020:
Ser quilombola, hoje no Brasil é parte de uma comunidade que resiste
para manter suas tradições, cultura e identidade negra, em uma sociedade
historicamente preconceituosa. A continuidade e sobrevivência dos quilombos
contemporâneos passam pela necessidade de busca por respeito e dignidade, na
formação de uma identidade que se produz no transcorrer do enfrentamento
político (FERNANDES et., 2020, p. 05).
Segundo a fala da autora, pertencer a uma comunidade quilombola é compartilhar
inúmeras experiências, crenças, modos de vida e principalmente lutas e resistências para que
sua cultura, modos de cuidar e cultivar a terra sejam preservados. Portanto, podemos pensar as
comunidades quilombolas em lugares de resistência marcados por trajetórias históricas de luta
contra a opressão.
5 O rio Contiguiba nas mémorias da Mussuca: analisando as entrevistas
Nesta seção iremos analisar as lembranças das entrevistadas. Podemos perceber que as
moradoras selecionadas tiveram e ainda têm uma forte ligação com o Rio Cotinguiba, atuando
principalmente como pescadoras e marisqueiras. Na pesquisa utilizamos os nomes próprios das
pessoas da comunidade que aceitaram e autorizaram participar da construção dessa narrativa.
Vamos apresentar as entrevistadas no quadro seguinte:
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Tabela 1- Relação das entrevistadas.
NOME IDADE QUANTO TEMPO MORA NA MUSSUCA
Maria Nadir dos Santos 74 Anos Nascida e criada na comunidade
Maria Martins dos Santos 66 anos Nascida e criada na comunidade
Maria Jaci Santos 63 anos Nascida e criada na comunidade
Maria José dos Santos 61 anos Nascida e criada na comunidade
Maria Eugênia dos Santos 60 anos Nascida e criada na comunidade
Edméa Cupertino 56 anos 45 anos
Joelia dos Santos 50 anos Nascida e criada na comunidade
Fonte: Tabela elaborada pela autora, 2022.
Nos relatos das pescadoras podemos notar várias histórias e estórias, algumas alegres e
saudosistas, outras tristes e sofridas, mas que relatam experiências de mulheres, negras, mãe,
esposas e dona de casa que lutaram e ainda lutam diariamente para retirar do Cotinguiba o seu
sustento e o de sua família. Quando indagadas sobre como eram as lembranças da região da
Mussuca na sua infância, Dona Maria Nadir nos conta que:
A Mussuca na minha infância era mais complicada, não era pela violência, mas
aqui não tinha escola, não tinha rodagem, não tinha nada. Era só caminho,
entendeu? E as crianças como eu mesma, não estudei, e era muito difícil. Aquelas
pessoas que tinham mais oportunidades de estudar tinha que ir a Laranjeiras, ia a
pé, ou então ia para o povoado Várzea, que tinha uma professora chamada Maria
Augusta. (...) Na minha época era muito difícil, entendeu? Mas de um certame
para cá, a Mussuca está muito formosa e maravilhosa. O pessoal que entra aqui
na Mussuca entra e saí satisfeito de vê a grandeza e a fartura; o povo daqui que é
cultura, e os trabalhos da gente que é hoje em dia. Hoje tudo é mais fácil (Dona
Maria Nadir, 2021).
As moradoras relatam que a vida na comunidade, antigamente, era muito difícil, não
tinha energia, as casas eram poucas e distantes e não existiam rodagens, farmácias, escolas e
postos de saúde. Outra entrevistada, Dona Maria Eugênia nos relata “que a região aqui era bem
pecuária, era estrada, como se dizia antigamente, estradinha de formiga, era bem estreita para a
gente andar, não existia rodagem, nem calçamento, as casas eram de taipa, de palha, não existiam
casas de bloco” (Dona Maria Eugênia, 2021). Outro obstáculo apontado pelas entrevistadas
era o acesso à educação, já que a comunidade não possuía escolas. Segundo relata Dona Maria
Martins:
[...] se a gente quisesse fazer alguma coisa, estudar era difícil. A vida da gente,
desde os 12 anos era dentro da maré. Os pais da gente não tinham condições de
nada e nós íamos pra maré, para vender. Meu pai me pegava e me levava lá no
ponto para eu pegar o ônibus de Laranjeiras para eu vender as coisas, os mariscos.
A minha vida e a dos meus irmãos foi assim. O pessoal daqui, a maioria, tinha que
pescar para se sustentar. Eu? Eu trabalhei muito, muito, muito na maré, muito...
pra vender, pra ajudar o meu pai que era desempregado, não era aposentado, nem
a minha mãe também, aí a gente pescava para vender. Quem saia para vender era
eu e outro irmão meu. Hoje, graças a Deus eu sou rica, em nome de Jesus! (risos).
Tenho a minha casinha (Dona Maria Martins, 2021).
Hoje, as moradoras consideram a comunidade bem desenvolvida, comparada a
antigamente, já que possui escolas, posto de saúde, farmácias e mercearias, assim como acesso
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Memórias sobre as Águas do Rio Cotinguiba em Laranjeiras/SE: Usos, Histórias e Percepções
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á educação. Quando indagadas sobre as memórias do Rio Cotinguiba na sua infância e como
percebem as alterações sofridas, no rio, ao longo dos anos, Dona Maria Martins relata que está
bastante poluído, principalmente pelo caxixe, dejetos da cana de açúcar que são jogados e que
matam os peixes. Segundo ela, “antes a gente, de longe, não aguentava o fedor, desses produtos
das plantações de cana” (Dona Maria Martins, 2021).As entrevistadas apontam também a
poluição do rio pelas fábricas, indústrias, lixo e esgoto, assim como da própria comunidade que
“jogam muita bagaçada” no Cotinguiba. Para Joelia, “muitas das vezes o povo corta os mangues
e deixa os galhos dentro do rio, quando a gente vai pescar a rede fica enganchando na sujeira
deixada” (Dona Joelia, 2021).
Dona Nadir ressalta que os peixes, ao longo dos anos, diminuíram, e que tudo na maré
também diminuiu. Ela ainda ratifica a sujeira que a população deixa no rio, pois “pegam o
apicum que era da maré para fazer viveiro de camarão, aí foi que acabou com tudo mesmo”
(Dona Maria Nadir, 2021). Não obstante, outro fator que influencia na alteração do rio, que é
citado pela moradora Dona Jaci é o crescimento desordenado da população, ela nos conta que
“o rio antes não era como agora, agora está um pouco mais devagar (...). E também não tem a
comida que tem antigamente, não existe mais os peixes, as ostras não tem mais, pois tem muita
gente pra tirar agora” (Dona Maria Jaci, 2021).
Notamos nas falas das entrevistadas relatos de um passado saudosista, do tempo que
tinha muito peixe e marisco. Dona Nadir reflete que o rio não era como antes, não tinha essa
poluição que tem hoje em dia. Tinha muitas coisas para pegar e que pescava de tudo com fartura.
Dona Maria Martins relembra que pescava pela ponte toda, que pescava de redinha (um de um
lado e outro de outro) e que antes tinha muito peixe, muito camarão. Para ela, hoje a metade já
não tem. Hoje, quando vai para o rio pega só um pouco de peixe para fazer em casa mesmo e
que antigamente pegava para o seu sustento e para vender. Dessa forma, podemos perceber que
as moradoras pescavam muito no rio, principalmente de redinha, assim como pegavam camarão,
siri, ostras, caranguejos, sururu, massunim e que hoje não é mais como era antes, principalmente
pela poluição do Cotinguiba. Dona Maria Jaci nos conta que na sua infância ia muito para o Rio
Cotinguiba, próximo à ponte, ela ia pescar, ia tirar ostra, sururu (no lastro), ia pescar de redinha.
Já para Dona Maria Eugênia era um prazer entrar no rio e trazer alguma coisa para a sua
família, e que vivia disso (...). Ela informa que hoje vai para a maré com maior sacrifício, traz
uma coisinha que não da um quilo, é uma coisa bem pouquinha, é sofrimento. “Eu pegava siri
com as mãos, hoje tem que “bater” o mangue todo para pegar um, ou dois siris de hora em hora”
(Dona Maria Eugênia, 2021).
Conforme Dona Maria José:
Antigamente eu ia pescar de redinha, tinha rede grande. As pessoas vinham pescar
dentro da canoa e a rede era grande que atravessava o rio. Eles (os pescadores)
soltavam no meio do rio, aí deixava quatro pessoas de nado, eles iam e arrodeavam
e se encontravam no outro lado do rio para fazer o lance, do lance que eles faziam,
íamos com a redinha atrás, enchia de peixinho. Eles pegavam os peixes grandes,
mas a malha era maior do que a rede da gente aí o que saíam da rede deles,
entravam na rede da gente de redinha (Dona Maria José, 2021).
Quando questionadas se o rio era mais limpo do que antigamente e se havia navegação, à
maioria das moradoras concordaram que sim. Porém, Dona Maria Jaci relata que sempre existiu
poluição do Cotinguiba, para ela, de Laranjeiras para cá, desce muita bagagem (plástico, lixo
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e lata) e sempre desceu, porque o rio é corrente. Consoante Jaci, ela mesma tinha uma canoa,
mas que não atravessava sozinha, pois o rio era fundo, mas tinham homens que atravessava
para o outro lado, e ali, era tudo canoa no porto. Dona Maria José afirma a existência de muita
canoas de remo e vela que navegava no Cotinguiba. Interessante à fala de Dona Maria Nadir, ela
relembra da história que ouvia do seu pai em relação à navegação do rio. Segundo Nadir:
[...] meu pai falava que de Aracaju vinha muitas embarcações: navios, saveiros
(naquela época chamava de saveiros) e balsas. Depois de um tempo pra cá,
desapareceu tudo. Todo tipo de embarcação vinha para Aracaju, vinha carregado e
carregar (era cimento, milho, pedras) e agora não existe mais embarcações pesada
com esse material e é difícil vê um navio em Aracaju, mas antigamente tinha. O
rio era muito mais fundo, o rio era mais limpo, era livre. Aracaju não era como é
agora, tinha pouca gente, agora em Aracaju é uma cidade grande, e a maioria dos
poderosos aterra a beira da maré, aterra tudinho para fazer prédio (Dona Maria
Nadir, 2021).
As entrevistadas relatam também que já ouviram muitas histórias, lendas e estórias
envolvendo o Rio Cotinguiba com algum parente ou a própria narradora. Então, foi possível
colher relatos de pessoas que morreram quando iam pescar, assim como adultos e crianças que
caíram em um buraco no rio e acabaram não sobrevivendo, ainda é possível notar falas de pessoas
que se perderam no mangue por obra da caipora que enganava o povo. Dona Maria Jaci afirma
que o pai dela se perdeu um dia no mangue e que só conseguiu sair à noite, lá em Pedra Branca.
Ela narra que já viu gente entrar de dia e não saber sair, pois para andar no mangue fechado deve
ir com uma pessoa bem prática, porque quem não sabe sair se perde.
Dona Maria José se lembrou da lenda do nego d´agua e que quando os pescadores iam
à noite para o rio, se assustavam e caiam dentro da água com medo do nego d´agua. Afirma
também, que já se perdeu dentro do mangue por obra da caipora que enganava. Ela conta que
foi pescar a noite no Riacho do Pilar, na Camboa Grande e na hora de sair se perdeu, somente
chegou em casa bem tarde da noite. Era bem mocinha e não estava sozinha, estava com um
grupo de adultos. Dona Maria José nos contou também que para a pessoa, que foi enganada pela
caipora, saber onde estava tinha que chegar em um toquinho de pau e colocar um pouquinho
de fumo. Já Dona Joelia, afirmou uma história que sempre ouvia da sua mãe. Informou que o
pai dela, antigamente, retirava e transportava madeira pelo Rio Cotinguiba para fazer casas. Em
um dia que foram tirar a madeira, o tio dela caiu e morreu, de repente, dentro do barco. A mãe
dela sempre dizia que antigamente não tinha carro e caso alguém precisasse ir para as cidades
mais próximas de Laranjeiras, tinha que ir de barco, só se atravessava de barco, tudo era de barco
pelo rio.
As moradoras enfatizaram a importância do rio na sua vida e para a comunidade em que
vivem. Dona Maria Nadir nos diz que o Cotinguiba foi importante e ainda hoje é, foi através
dele que criou seus nove filhos com frutos desse rio, através de mariscos, massunim, aratu,
caranguejo, peixe, ostras, sururu de tudo tinha e tinha com fartura. Dona Maria José ressalva
que o rio é a mãe maré, porque na Mussuca ninguém passa fome. Para ela, agora, tem pessoas
que trabalham e têm como se sustentar, mas antigamente vivia da pesca mesmo. Era para comer
e para o consumo dentro de casa. Segundo Maria Eugênia, o Cotinguiba é um rio que abastece
todos os moradores ao redor de Laranjeiras, principalmente na Mussuca. “No rio tiramos o nosso
alimento, e então ele precisa de mais limpeza. Tirar a sujeira que o povo joga muito. Vamos para
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Memórias sobre as Águas do Rio Cotinguiba em Laranjeiras/SE: Usos, Histórias e Percepções
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a maré e o que encontramos de plástico, de vasos e outras coisas que polui e prejudica a gente”
(Dona Maria Eugênia, 2021). Já Dona Maria Martins nos conta que colheu muitas coisas dele.
Minha mãe teve 12 filhos e todos foram criados pelo sustento da maré. Lembro
que dia de sábado ia pescar no Rio Cotinguiba, com meu pai, bem cedinho.
Vinha eu, minha mãe, meu pai e outro irmão, esse irmão, hoje, mora em Salvador.
Quando a gente voltava trazia dois a três baldes de siri, todo sábado era assim.
Depois pegávamos o cavalo e levava o siri para vender em Areia Branca. Saia no
sábado de tarde para vender e chegava no domingo, por volta das duas da tarde,
para comprar carne pra gente comer e farinha também. Não deixava de ir para
maré não. Tinha semana que eu ia duas vezes para maré, no mesmo dia, de manhã
e de tarde, quando a maré dava pra pescar. Eu já pesquei muito (Dona Maria
Martins, 2021).
Ao arguir sobre quais as atividades as moradoras viam as outras pessoas desenvolvendo
no Cotinguiba, foram relatadas dentre elas: as retiradas do sal, realizadas, principalmente pelas
moças que carregavam gamela de sal para encher o barracão para o navio pegar. Conforme Dona
Maria Nadir, agora não existe mais a salina, antigamente usávamos o sal grosso que só era feito na
salina. Já Dona Joelia se lembra da retirada da madeira para fazer e para cobrir as casas. Ela conta
que as pessoas atravessavam e iam para o mangue, enchiam a canoa e traziam a madeira. “Minha
mãe tinha que pegar lá na beirada, essas madeiras para fazer as casas. Antigamente às casas não
eram de bloco, era de madeira. Essas eram as atividades que existiam além da pesca e que o seu
avô tirava a madeira para fazer casas” (Dona Joelia, 2021).
Das atividades que as moradoras mais gostam de realizar no rio, Dona Maria Jaci nos
diz que gosta mais de pescar de camboa (que é uma rede que atravessava no rio todo) aí muitas
vezes ela “fechava a camboa”, assim como pegar o sururu, o carangueijo, uns “puxava no braço”,
outros já pegava de redinha. Gosta também de pegar aratu, correndo, jogando a lama (risos).
“Eu tenho uma rede de arrasta, que pega camarão, peixe e siri, mas também tenho rede grande”
(Dona Maria Jaci, 2021). A maioria das moradoras atualmente não frequenta ou frequenta
pouco o rio por causa de problemas de saúde. Algumas relatam dores nos joelhos, nas pernas e
no quadril. Perguntada sobre como elas veem o Rio Cotinguiba hoje, Dona Maria Nadir reflete
que o rio, em comparação a antigamente, está destruído. Segundo ela, para o pescador pegar o
fruto para vender é muito difícil, pega muito pouco, têm dias que vai pescar e pega três quilos de
peixe, e antigamente pegava muito peixe. Ela relata que ia pescar a noite e pegava vários tipos de
peixe, enchia balde e cesto, e agora se for para a maré, caminha daqui para o asfalto para pegar
uma ostra, o rio está destruído de tudo, de tudo. Dona Maria Eugênia, compartilha dos mesmos
relatos de Nadir, para ela o rio hoje está acabado, não têm essas coisas toda para dizer “eu vou
ali, para pegar e vou vender para colocar as coisas diferentes dentro de casa”. Você pode até pegar
algo, mas tem que trabalhar muito (Dona Maria Eugênia, 2021).
Por fim, quando questionadas sobre se acreditam na melhoria das condições das águas
do Rio Cotinguiba, algumas entrevistadas falam do rio como se não tivessem mais solução,
entendendo que as mudanças no Rio Cotinguiba são irreversíveis. Por consequência, as moradoras
Maria Nadir, Eugênia e Edméia acreditam que não, pois quando mais tem fábrica, mas os rios
são poluídos. Já para as demais moradoras, há sim esperança de melhoria para a poluição do
Cotinguiba é só esperar que as indústrias não joguem as “bagunças” dentro do rio, assim como
deve haver mais diálogo com a população para se conscientizar e não sujar o rio.
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6 Considerações finais
Neste trabalho, dedicamo-nos a resgatar as memórias sobre questões ambientais que
marcam o Rio Cotinguiba. A pesquisa conseguiu atingir os objetivos propostos, na medida em
que, por meio das entrevistas, podemos conhecer as memórias e histórias sobre o rio, perceber
e refletir como os moradores da Mussuca viviam, como era a sua vida e sua ligação com o
Cotinguiba. Ao falarem das mudanças por que passou o Rio Cotinguiba, as pessoas entrevistadas
trazem, através de suas lembranças, das transformações ocorridas na sua comunidade, da sua
trajetória pessoal, da experiência de vida. Através dos relatos apresentados, o rio, ao longo do
tempo, vem sofrendo muito com a poluição das suas águas, estabelecida pela ação do homem, o
que acaba influenciando nas experiências cotidianas dos moradores.
Com as entrevistas podemos identificar também quais os usos e experiências feitas pelas
entrevistadas dessas águas, sendo os mais citados: a pesca, a retirada de mariscos (massunim,
aratu, ostras, sururu), o siri e o caranguejo. A maioria das entrevistadas apresentou em suas
memórias usos e práticas cotidianas daquilo que viveu ou ouviu sua infância, sua adolescência ou
da fase adulta. Sendo assim, os depoimentos apresentados, marcam as experiências das diferentes
mulheres com os rios, sendo suas ações e práticas ligadas para o seu sustento e o da sua família.
Por fim, os relatos permitem reforçar para a comunidade de Laranjeiras a relação de identidade
e pertencimento do seu lugar, entendendo a importância de conhecer as memórias ambientais,
as dinâmicas do rio e as transformações sofridas, ao longo do tempo, assim como refletir sobre a
poluição do rio, tema de fundamental relevância nos dias de hoje.
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