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ISSN 2179-7692
Rev. Enferm. UFSM, v.12, e29, p.1-12, 2022 • https://doi.org/10.5902/2179769266551
Submissão: 02/07/2021 • Aprovação: 05/04/2022 • Publicação: 19/07/2022
Artigo publicado por Revista de Enfermagem da UFSM sob uma licença CC BY-NC-SA 4.0.
Relato de Experiência
A experiência de se elaborar uma tecnologia cuidativo-educacional à
luz da Teoria das Transições
The experience of developing a care-educational technology in the light
of the Theory of Transitions
La experiencia de desarrollar una tecnología educativa sobre el cuidado a la luz de la
Teoría de las Transiciones
Marina Nolli BittencourtI,Bruna Hinnah Borges de FreitasI,
Samira Reschetti MarconI, Angellica Fernandes de OliveiraI,
Valquiria Mira LandimI, Darci Francisco dos Santos JuniorII
I Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil
IIUniversidadade Federal do Amapá, Macapá, Amapá, Brasil
Resumo
Objetivo: relatar a experiência da primeira fase da elaboração de uma tecnologia cuidativo-educacional
(TCE) para a promoção da saúde mental infantil. Método: relato de experiência, sobre a primeira fase da
elaboração de um manual à luz da Teoria das Transições de Meleis e do Modelo de Inteligência Emocional
de Goleman. Resultados: o manual foi elaborado considerando a infância como um período de natureza
desenvolvimental, tendo como facilitadores a escola e as características emocionais positivas da criança,
podendo ser inibida por fatores relacionados ao contexto social negativo. Em relação ao padrão de
resposta, obteve-se um padrão de resposta emocional positivo da criança, por meio da promoção da
saúde mental, a partir do fortalecimento das competências emocionais das crianças. Conclusão: a escolha
da Teoria promove a comunicação de forma efetiva e a utilização do Modelo de Inteligência Emocional de
Goleman possibilita que a TCE obtenha compreensão, multiplicação e execução.
Descritores: Teoria de Enfermagem; Promoção da Saúde; Saúde Mental; Criança; Inteligência Emocional
Abstract
Objective: to report the experience of the first phase of the development of a care-educational technology
for the promotion of children’s mental health. Method: this is an experience report about the first phase of
the elaboration of a manual in the light of Meleis’ Transitions Theory and Goleman’s Emotional Intelligence
Model. Results: the manual should be prepared considering childhood as a period of a developmental
nature, having as facilitators the school and the child’s positive emotional characteristics, which may be
inhibited by factors related to the negative social context. Regarding the pattern of response, it was expected
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that the manual would seek a pattern of positive emotional response from the child, through the promotion
of mental health, from the strengthening of children’s emotional skills. Conclusion: the choice of Theory
promotes effective communication and the use of Goleman's Emotional Intelligence Model enables the
manual to obtain understanding, multiplication and execution.
Descriptors: Nursing theory; Health promotion; Mental health; Child; Emotional intelligence
Resumen
Objetivo: reportar la experiencia de la primera fase de la preparación de una tecnología educativa sobre el
cuidado para la promoción de la salud mental infantil. Método: se trata de un relato de experiencia sobre
la primera fase de la elaboración de un manual a la luz de la Teoría de las Transiciones de Meleis y del
Modelo de Inteligencia Emocional de Goleman. Resultados: el guía debe ser preparado considerando la
infancia como un período de carácter de desarrollo, teniendo como facilitadores la escuela y las
características emocionales positivas del niño, que pueden ser inhibidas por factores relacionados con el
contexto social negativo. En cuanto al patrón de respuesta, se esperaba que el guía buscara un patrón de
respuesta emocional positiva del niño, mediante la promoción de la salud mental, a partir del
fortalecimiento de las habilidades emocionales de los niños. Conclusión: la elección de la Teoría promueve
la comunicación efectiva y el uso del Modelo de Inteligencia Emocional de Goleman posibilita que el
manual obtenga comprensión, multiplicación y ejecución.
Descriptores: Teoría de enfermería; Promoción de la salud; Salud mental; Niño; Inteligencia emocional
Introdução
Os enfermeiros possuem um papel fundamental na promoção de saúde da
população, especialmente quando são direcionadas às pessoas que estão em vulnerabilidade
social, indivíduos mais expostos a riscos e agravos, pois esses são propensos a terem
sofrimento psíquico, com impacto na qualidade de vida e bem-estar. Tal situação pode afetar
o desenvolvimento das crianças, que é caracterizado como transição ineficaz, e o cuidado
ofertado devido não serem ofertadas as condições favoráveis para tal evolução, que é a
insuficiência do papel.1-2
As ações de promoção da saúde, lideradas pelo enfermeiro, que tenham como
objetivo de promover a qualidade de vida e a diminuição da vulnerabilidade são essenciais
para garantir melhores condições ao indivíduo.3 Assim, ao pensar nessa promoção, é
importante considerar o aspecto mental, pois não há progresso global, dessa maneira é
preciso englobar as dimensões biológica, psíquica e social dos indivíduos.3-4
No que tange a infância, as ações devem ser ainda mais cuidadosas, pois é uma fase
em que se passa por uma intensa evolução biopsicossocioespiritual e, por isso, são mais
suscetíveis ao aparecimento de transtornos mentais, os quais podem influenciar
negativamente em seu desenvolvimento ao longo da vida.4 Então, ao cuidar da saúde mental
nessa faixa etária, é preciso incluir o componente emocional/relacional. Esse cuidado deve
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ser construído a partir dos aspectos culturais, permeado por diferentes experiências e
pautado nas relações com o meio e com o outro, tomando a criança como capaz de se afetar
e produzir afetos no outro.5
Dessa forma, considera-se que a criança passa por um período de intensas transições,
as quais são afetadas por diversos fatores (positivos e negativos), conforme descrito na Teoria
das Transições de Afaf Meleis, o enfermeiro consegue realizar a avaliação tendo em conta as
características transacionais como o surgimento de necessidades ou mudança nas relações
vivenciadas por ela.6 Dessa maneira, torna-se capaz de propor ações de prevenção,
promoção e intervenção terapêutica de cuidados nesses processo.2,7 A proposição de ações
do enfermeiro na promoção da saúde mental fundamentadas em teorias da enfermagem,
não só fortalecem as modificações de atitudes e práticas de vida saudáveis por parte da
criança, como também fortalecem a profissão de forma científica e positiva.8
Os enfermeiros podem utilizar diversas tecnologias para realizar com criatividade o
processo que alia o cuidado e a educação, dentre elas, destacam-se as Tecnologias Cuidativo-
Educacionais (TCE).9-10 Elas se inserem na práxis da Enfermagem sob uma perspectiva que
alia o cuidar ao educar, proporcionando aos indivíduos o desenvolvimento da crítica,
construção e fortalecimento do conhecimento.10 Assim, ao investir na edificação, validação e
avaliação de materiais educativos a fim de se tornarem TCE, auxilia-se o enfermeiro no
exercício de suas atividades de forma ágil, criativa, confiável e comprometida com a saúde e a
assistência prestada.11
Considerando a infância como um período de intensas transições desenvolvimentais,
na qual o enfermeiro é agente estratégico na proposição de intervenções terapêuticas, este
estudo tem como objetivo: relatar a experiência da primeira fase da elaboração de uma
tecnologia cuidativo-educacional para a promoção da saúde mental infantil.
Método
Trata-se de um relato de experiência, sobre a primeira fase de elaboração de um
manual de promoção da saúde mental infantil à luz da Teoria das Transições de Afaf Meleis e
do Modelo de Inteligência Emocional de Daniel Goleman. O manual foi escolhido como formato
da TCE devido ser um guia de instrução que pode ser entendido por pessoas comuns e
reproduzido com facilidade, o qual posteriormente chamado de “Sinto, logo penso” foi um
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produto do projeto de extensão “Promoção de saúde mental nas escolas: estímulo e
desenvolvimento da inteligência emocional em crianças” da Universidade Federal do Amapá,
desenvolvido de janeiro a dezembro de 2018.
Essa TCE foi desenvolvida por enfermeiros, pesquisadores e estudantes de
enfermagem. O intuito foi de promover a saúde mental infantil por meio de oficinas a serem
implementadas por tais profissionais às crianças de 8 a 12 anos nos serviços de Atenção Básica
em saúde, pelo Programa de Saúde na Escola. As oficinas que compõem esse manual se
propõem a estimular o gerenciamento e enfrentamento emocional nas diversas transições
vivenciadas no cotidiano, utilizando estratégias que englobam os conceitos da Inteligência
Emocional: Autoconsciência, Autorregulação, Automotivação e Empatia.12-14
Considerando que, para atingir o objetivo de promover a saúde mental, as crianças
deverão passar por uma transição, uma mudança no estado de saúde ou nas relações,
expectativas ou habilidades de papéis, tal situação requer de enfrentamento na perspectiva do
desenvolvimento delas. Essa etapa requer que a pessoa incorpore novos conhecimentos, altere
o comportamento e, portanto, mude a definição de si mesmo no contexto social. Essas
modificações são eventos de desenvolvimento, situacionais ou de saúde-doença, de ordem
psicossocial e/ou biofisiológico. A própria passagem da infância para a adolescência tem o
potencial de estar associada a problemas subsequentes, como os agravos de saúde mental,
por isso requer uma abordagem apropriada por parte dos enfermeiros.6
Neste sentido, para fundamentar o manual, utilizou-se como primeira etapa de
elaboração o fluxograma proposto pela Teoria das Transições de Afaf Meleis. Essa teoria busca
compreender a natureza e as respostas à mudança, facilitando a experiência e respondendo às
suas diferentes fases, e promovendo saúde e bem-estar. Fornece uma estrutura que orienta o
cuidado eficaz antes, durante e após a transição. Assim, os enfermeiros tornam-se capazes de
preparar os indivíduos e famílias para as etapas de desenvolvimento, processo de saúde-
doença, cuidar deles durante as mudanças e melhorar seu bem-estar e a qualidade de suas
vidas.
Os objetivos do fluxograma são garantir que eles sejam capazes de lidar com as
mudanças que experimentam em sua saúde e encontram em seu ambiente e emergir sendo
capazes de funcionar em todas as suas capacidades, por meio da aquisição de conhecimentos,
habilidades, estratégias e competências psicossociais para lidar com a experiência de
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transformação e as respostas.6
A Teoria das Transições é composta pela natureza das transições (tipos, padrões e
propriedades); condicionantes facilitadores e inibidores da transição (pessoais, comunidade e
sociedade); padrões de resposta (indicadores de processos e indicadores de resultados) e
terapêutica de enfermagem.6 A teoria foi aplicada no manual devido o gerenciamento e
enfrentamento emocional nas diversas situações vivenciadas no cotidiano.
Além disso, utilizou-se o Modelo de Inteligência Emocional de Daniel Goleman para
formular os eixos e conceitos do manual. Além de direcionar os indicadores de resultados da
proposta do manual. Para o autor, a inteligência emocional pode ser compreendida como a
capacidade de o indivíduo identificar os seus próprios sentimentos e os dos outros, de se
motivar e de gerir bem as emoções e os relacionamentos interpessoais. Segundo ele, o
controle das emoções é essencial para o desenvolvimento da inteligência de um indivíduo.
Esse modelo é composto por cinco competências e habilidades, a saber: a)
Autoconsciência – capacidade de reconhecer as próprias emoções; b) Autorregulação –
capacidade de lidar com as próprias emoções; c) Automotivação – capacidade de se motivar e
de se manter motivado; d) Empatia – capacidade de enxergar as situações pela perspectiva dos
outros; e) Habilidades sociais – conjunto de capacidades envolvidas na interação social.12 Este
modelo foi adotado uma vez que se compreende que, para promover a saúde mental infantil é
preciso abordar essas competências e habilidades, para que a criança seja capaz de
desenvolver a inteligência emocional requerida em seus processos transicionais.
Vale ressaltar que esse estudo se trata do relato de experiência da primeira etapa de
elaboração desse manual a luz da Teoria das Transições e do modelo de inteligência emocional.
Após essa primeira etapa, o manual foi construído e validado em conteúdo e aparência,
apresentando, conforme dados de estudo anterior,13 Índices de Validade de Conteúdo e de
Concordância satisfatórios (98 e 100%, respectivamente).13,15 Esses dados demonstram uma
tecnologia capaz de auxiliar o enfermeiro na promoção da saúde mental de crianças, por meio
do desenvolvimento de competências e habilidades da inteligência emocional.
Resultados da experiência
A representação da primeira fase da elaboração do manual à luz da Teoria das
Transições de Meleis encontra-se disposta na Figura 1.
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Figura 1 - Representação da primeira fase da elaboração do manual à luz da Teoria das
Transições de Meleis.
Considerando que a Teoria de Transições de Meleis propõe a identificação de quatro
pressupostos para a proposição de uma intervenção terapêutica de enfermagem, conforme
apresentado na Figura 1, destaca-se a natureza da intervenção como desenvolvimental, já que
é direcionada para crianças em fase escolar, em transição entre a fase da infância e
adolescência. Portanto, apresenta um padrão múltiplo que envolve propriedades de
conscientização e mudanças psicoemocionais, que é o objetivo da intervenção terapêutica
proposta no material.
Quanto aos condicionantes da transição, a equipe de pesquisa se baseou em estudos
que identificam a escola como um facilitador desse desenvolvimento, pois é um local que
envolve a progressão intelectual, além de fortalecer as interações e trocas sociais.2,9 Os fatores
pessoais foram reputados, uma vez que as características e vivências das crianças podem
afetar positivamente, quando forem vivências que afloraram habilidades emocionais positivas,
como a resiliência; ou negativamente, quando afetam nas respostas esperadas pela
intervenção terapêutica, como a falta de afeto e vínculo familiar (Figura 1).
Em relação ao padrão de resposta, espera-se com a construção dessa intervenção
terapêutica, que as crianças desenvolvam inteligência emocional como indicador de processo,
resultando nos seguintes frutos - baseados no modelo da inteligência emocional utilizado:
autoconsciência, empatia, autocontrole e autoeficácia, e resiliência emocional; captadas pelos
comportamentos e um olhar de si mais positivos12 (Figura 1).
O relato de experiência abordou a primeira fase da elaboração de um manual para
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promoção da saúde mental infantil que seguiu os pressupostos da Teoria das Transições de
Afaf Meleis e do Modelo de Inteligência Emocional de Daniel Goleman,6,12 levando à construção
posterior de uma intervenção terapêutica desenvolvida por enfermeiros e já validada por
especialistas, expressando índices de validade de conteúdo satisfatórios.13
Vale ressaltar que a complexidade e singularidade dos processos que envolvem as
transições, faz com que elas possam ter naturezas diversas, portanto, identifica-se que a
mudança vivenciada na infância é de natureza desenvolvimental, que está relacionada ao
avançar de um ciclo vital. Para experienciar essas transições, que possuem múltiplos padrões e
envolvem várias dimensões e propriedades, é essencial que a criança desenvolva a
conscientização, que está relacionada ao reconhecimento da transformação vivenciada, e que
define a sua experiência de mudança.6,16-18 Para que isso ocorra é necessário mudar
percepções, ideias e identidades, buscando mudanças psicoemocionais saudáveis, como
proposto na elaboração da intervenção terapêutica relatada neste estudo.19
Além de visualizar a natureza dessa mudança vivida pelas crianças é necessário
identificar os fatores da transição, sendo a escola caracterizada como um facilitador desse
desenvolvimento, e os fatores pessoais como imposições positivas ou negativas. Dessa forma,
o que se observa é que os condicionantes são essenciais para que o enfermeiro compreenda
as experiências vivenciadas pelo indivíduo, inclusive aqueles que dificultam e facilitam o
processo de transformação, pois ambos poderão ser utilizados como estratégias de auxílio na
gestão do processo e vivência de uma passagem saudável, e o domínio de novas
habilidades/competências emocionais, como o esperado na elaboração dessa intervenção
terapêutica.6
Por esse motivo, a intervenção terapêutica proposta foi elaborada para que seja
empregada pelo enfermeiro no seu processo de cuidar e educar de crianças, sobretudo no
contexto escolar. O enfermeiro possui um papel fundamental no cuidado infantil durante o
processo de transição desenvolvimental, marcado por múltiplas mudanças
biopsicossocioespirituais, e isso é apontado por estudos que demonstram os efeitos positivos
das intervenções de enfermagem no desenvolvimento infantil.20-21
Vale ressaltar que a escola tende a prepará-los para transições iminentes que facilitam o
processo de aprendizagem de novas competências relacionadas com as experiências de saúde
e doença, facilitando a transição e promovendo a saúde mental,5 portanto, sendo a escola um
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ambiente facilitador dos processos de evolução da criança, e do desenvolvimento das
habilidades socioemocionais desse público, quando estratégias como essas, que envolvem a
promoção da saúde mental, são incluídas no cotidiano escolar, observam-se respostas
positivas na saúde mental e socioemocional dessas crianças.21
Essa intervenção terapêutica do tipo manual foi composta pela apresentação, conceitos,
oficinas de autoconsciência, empatia, autocontrole e autoeficácia, resiliência emocional, encarte
e referências. Os conceitos que ressignificam as atividades são descritos no tópico subsequente,
como os domínios da inteligência emocional e as técnicas de comunicação criativa com
crianças. Essas técnicas se referem a mensagem do “eu”, na qual o enfermeiro deve relatar o
termo “eu” sobre comportamento pela criança, evitando usar “você”, pois são encaradas como
julgadoras e deixam a criança em defensiva.22
Como apontado como fatores facilitadores no processo de transições, os fatores
individuais foram identificados como essenciais, dentre eles, a própria forma de comunicação
entre o enfermeiro e a criança, uma vez a comunicação deve sempre envolver a empatia e ser
baseada nos pontos fortes da criança, pois isso permite o fortalecimento da sua autoeficácia,
uma das habilidades esperadas de serem desenvolvidas pelo manual, portanto, deve-se evitar
o confronto com a criança, por meio da utilização de recursos e ferramentas apropriadas
durante essas discussões.13,16,22Além disso, para abrir o espaço de fala da criança e facilitar o
seu envolvimento na atividade e a sua confiança no enfermeiro que a propõe, as crianças o
percebem acessível quando esse os aborda com sorrisos, atividades lúdicas, e as escutam.17
A intervenção terapêutica teve como indicador de processo que as crianças
desenvolvessem a inteligência emocional, uma vez que a literatura já vem apontando os
benefícios do desenvolvimento das competências emocionais - autoestima, empatia e
resiliência - no ambiente escolar para o progresso de melhores respostas adaptativas, e de
respostas mais éticas, reforçando que essas competências emocionais e sociais devem ser
incluídas desde o início do processo educacional da criança. 6,21,23
Apesar da avaliação da eficácia dessa intervenção terapêutica ainda não ter sido
publicada, e não ser identificado a segurança dos indicadores de resultado selecionados nessa
primeira fase de construção do manual, a literatura já vem apontando o êxito de estratégias
utilizadas nas oficinas do manual “Sinto, logo penso” que foi construído e validado após essa
primeira fase de teorização, como a meditação e a contação de histórias, que se mostram
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eficazes para melhorar a atenção das crianças, e para a diminuição de sintomas ansiosos.18-19
Observa-se que mesmo com a ampla literatura que mostra a construção de
intervenções terapêuticas como essa com base em teorias e/ou modelos de enfermagem para
fortalecer a prática assistencial do enfermeiro no ambiente hospitalar, há poucos estudos que
apresentam a construção delas com o objetivo de promover a saúde mental infantil. Dentre os
estudos que têm esse objetivo, apesar de apresentarem evidências que apontam para a
eficácia das estratégias de promoção à saúde mental de crianças, as teorias de enfermagem
não são demonstradas no processo de construção dessas tecnologias lideradas por
enfermeiros.24-25
Dessa forma, para atender à visão positiva proposta para o fenômeno da promoção da
saúde mental, e considerando que tal propósito perpassa por diversas teorias de Enfermagem,
inclusive pela Teoria das Transições de Meleis, a proposição dessa intervenção facilita e
fortalece a prática de uma enfermagem positiva e científica. 4,8
Destaca-se que este relato apresenta a primeira etapa da elaboração de uma TCE para
promoção da saúde mental infantil à luz da Teoria das Transições, que não é diretamente
relacionada ao fenômeno da promoção da saúde mental, pois não há uma teoria de
enfermagem específica para tal fim. Porém, considerando que esta perpassa pelo fenômeno
da promoção da saúde mental, e pode ser fortalecida por um modelo que direcione as
atividades propostas pelos enfermeiros nessa tecnologia, o Modelo da Inteligência Emocional
da Psicologia foi selecionado para reforçar os objetivos da tecnologia construída e diminuir tais
limitações da ciência de enfermagem.8
Conclusão
O manual cuidativo-educacional “Sinto, logo penso” elaborado à luz da Teoria das
Transições de Meleis e do Modelo de Inteligência Emocional de Goleman, considerou a infância
como um período de natureza desenvolvimental, tendo como facilitadores a escola e as
características emocionais positivas da criança, podendo ser inibida por fatores relacionados
ao contexto social negativo, fundamenta-se no padrão de resposta o desenvolvimento
emocional positivo da criança durante esse processo, por meio de uma terapêutica de
enfermagem que buscasse a promoção da saúde mental de crianças através do fortalecimento
de algumas competências emocionais.
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Dessa maneira, com a escolha da Teoria de Meleis foi possível promover a comunicação
de forma efetiva, já que o objetivo principal do manual é a promoção de saúde mental infantil
por meio da comunicação terapêutica, da formação do vínculo, da escuta e do acolhimento.
Ademais, a utilização do Modelo de Inteligência Emocional de Goleman foi essencial para o
desenvolvimento dos eixos temáticos do manual e dos conceitos utilizados. Dessa maneira se
assemelhando com o modelo que é amplamente difundido e reconhecido possibilitando que a
TCE obtenha fácil compreensão, multiplicação e execução.
Espera-se que esse relato da primeira etapa da elaboração de uma tecnologia cuidativo-
educacional para promoção da saúde mental de crianças, a luz de uma teoria de enfermagem,
permita que os enfermeiros reflitam sobre a importância da inclusão das teorias na primeira
etapa de proposição de uma intervenção, especialmente para o fortalecimento da ciência que
rege a profissão e para a reflexão sobre o que se espera da prática a ser construída.
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12 | Tecnologia cuidativo-educativo para promoção da saúde mental infantil
Rev. Enferm. UFSM, v.12, p.1-12, 2022
Contribuições de Autoria
1 – Marina Nolli Bittencourt
Autor Correspondente
Enfermeira, Doutora - E-mail: marinanolli@hotmail.com
Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito, revisão e aprovação
da versão final.
2 – Bruna Hinnah Borges de Freitas
Enfermeira. Doutoranda - E-mail: bruhinnah@gmail.com
Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito, revisão e aprovação
da versão final.
3 – Samira Reschetti Marcon
Enfermeira, Doutora - E-mail: samira.marcon@gmail.com
Revisão e aprovação da versão final.
4 – Angellica Fernandes de Oliveira
Enfermeira. Doutoranda - E-mail: enfangellica@gmail.com
Concepção e/ou desenvolvimento da pesquisa e/ou redação do manuscrito, revisão e aprovação
da versão final.
5 – Valquiria Mira Landim
Enfermeira. Mestranda - E-mail: vmiralandim@gmail.com
Revisão e aprovação da versão final.
6 – Darci Francisco dos Santos Junior
Enfermeiro, Especialista - E-mail: darcijr.contato@gmail.com
Revisão e aprovação da versão final.
Editora Científica Chefe: Cristiane Cardoso de Paula
Editora Associada: Daiana Foggiato de Siqueira
Como citar este artigo
Bittencourt MN, Freitas BHB, Marcon SR, Oliveira AF, Landim VM, Junior DFS. The experience of
developing a care-educational technology in the light of the Theory of Transitions. Rev. Enferm.
UFSM. 2022 [Access at: Year Month Day]; vol.12 e29: 1-12. DOI:
https://doi.org/10.5902/217976966551