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42 Edição 179 - plantiodireto.com.br
Introdução
Culturas como milheto e sor-
gos são espécies de crescimento
intensivo, altamente produtivos
e de elevado valor nutritivo. Ge-
ralmente são estabelecidos em
sucessão aos cereais de inverno
e pastagens anuais, muito impor-
tantes para sistemas de produção
intensivos principalmente para
bovinos confinados, vacas leitei-
ras, novilhas e terneiras de repo-
sição na região sul-brasileira. Na
região tropical brasileira é culti-
vado na safrinha e como cobertura
de solo.
Milheto e sorgos são culti-
vados em condições ambientais
adversas em muitas partes do
mundo e seus grãos são usados
para alimentação humana na Ásia
e África, sendo que em toda Amé-
rica são usadas basicamente para
alimentação animal.
São originados da Índia e
África, onde são culturas produ-
toras de grãos para alimentação
humana, mas na América são uti-
lizados quase que exclusivamente
para produção animal em pasta-
gens, silagem, ou colhidos meca-
nicamente frescos e fornecido aos
animais. Raramente são utilizados
como feno pela dificuldade de se-
cagem dos colmos e nesse caso o
corte com segadora-condiciona-
dora é indispensável para seca-
gem uniforme das folhas e colmos.
No presente artigo será abor-
dado o estabelecimento, utilização
e manejo, além de uso estratégico
para minimizar o vazio forrageiro
outonal.
Origem e relevância
Acredita-se que os sorgos, o
milheto e as braquiárias, como o
papuã, são originários da África,
enquanto o teosinto ou milho de
sete cortes é americano (México)
sendo o ancestral do milho.
O Milheto ou capim-italiano
[(Pennisetum glaucum (L.) R. Br.] e
sorgos híbridos ou capim-sudão
[Sorghum bicolor (L.) Moench] são
as duas principais espécies de
gramíneas anuais cultivadas com
fins forrageiros na estação quente,
ambas são originárias do norte da
África. Além destas, em menor ex-
tensão são cultivados o teosinto ou
dente-de-burro [Zea mays subsp.
mexicana (Schrad.) H.H. Iltis], e na
safrinha o milho (Zea mays L.), ori-
ginário da América Central (Méxi-
co). O milho pode ser cultivado na
safrinha em altíssima densidade,
e encontra-se em domesticação
também, o papuã ou capim-mar-
melada (Urochloa plantaginea) que
também pode ser manejado estra-
tegicamente para minimizar o va-
zio forrageiro outonal em pastejo.
Utilização estratégica de gramíneas
anuais de verão para vazio forrageiro
outonal e cobertura de solo
Renato Serena Fontaneli; Roberto Serena Fontaneli; Carlos Bondan; Henrique Pereira dos Santos;
Jane Rocrigues de Assis Machado; Angelica Consoladora Andrade Manfron; Manuele Zeni;
Ricardo Costa Leão; Francine Talia Panisson; Emanuel Cassol Dall’Agnol; Felipe Martinazzo Escobar;
Maria Eduarda Tramontini Ceolin; Mylena Palma Consoli Webber
INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA
43
plantiodireto.com.br - Edição 179
Características morfo-
lógicas e agronômicas
Milheto é uma planta de por-
te ereto, com altura que varia de
1,0 à 3,5 m, mas a maioria das cul-
tivares melhoradas apresentam
cerca de 2,0 a 3,0 m de altura, com
abundante perfilhamento e folhas
largas serrilhadas nas bordas e lí-
gula pilosa. A inflorescência é uma
longa panícula espiciforme, com
forma semelhante a um charuto.
Já os sorgos, apresentam colmos
grosseiros e eretos com 1,2 a 4,5 m
de altura. A inflorescência é uma
panícula grande e densa nos tipos
graníferos e pequena nos tipos
forrageiros.
Tanto os sorgos como o mi-
lheto são muito tolerantes a seca,
não toleram solos úmidos ou su-
jeitos a encharcamento (HANNA;
SOLLENBERGER, 2004). Os sorgos
não toleram solos muito ácidos en-
quanto que o milheto é adaptado a
solos arenosos, mas não produz
bem em solos calcários. O milhe-
to é muito folhoso, especialmente
os tipos baixos e médios, sendo
facilmente manejados para pas-
tejo com menos colmos que os ti-
pos altos. O número de folhas é o
mesmo, sendo os tipos altos mais
produtivos, mas não supera os de
porte menor em produção animal.
Possuem muito bom valor nutriti-
vo quando manejados em estádios
imaturos.
O capim-sudão é similar aos
híbridos de sorgo para pastejo,
mas com menor estatura e talos
mais finos. Híbridos específicos
para silagem, atingem altura de
2,4 a 3,0 m, propiciam forragem
com cerca de 85-90% do valor nu-
tritivo do milho, quando colhido
no estádio de grãos em massa e
geralmente superam o milho em
produtividade. Para feno deve ser
colhido com 0,9 a 1,0 m de altura.
É recomendável uso de segadoras-
condicionadoras para amassar os
colmos para secagem uniforme
dos talos. Para pastejo devem ser
pastejados pelo método rotativo,
milheto com alturas das plantas
quando da entrada dos animais
no piquete de 0,4 a 0,5 m e, saída
de 0,15 a 0,2 m de altura. Após ser
pastejado, deve se aguardar o re-
brote das plantas atingirem nova-
mente de 0,4 a 0,5 m.
A diferença básica é que os
sorgos podem causar envenena-
mento por ácido cianídrico (HCN).
Ambos podem causar toxidade por
nitratos, mas apenas os sorgos por
HCN ou ácido prússico (veja ma-
nejo específico abaixo). O milheto
é menos exigente em fertilidade,
mas muito responsivo a N. Sorgos
exigem pelo menos fertilidade mé-
dia (BALL et al., 2007).
O milheto é uma cultura pro-
duz mais em solos de baixa ferti-
lidade e com restrições hídricas
do que a maioria das espécies
como milho e sorgos, mas também
apresenta a característica é mui-
to responsivo a boas adubações e
umidade adequada. Produz mui-
to bem em solos com pH de 5,5 a
7,0 em solos de diversas texturas,
inclusive os arenosos. Cresce bem
na maioria das regiões brasileiras
com temperatura acima de 22oC e
boa umidade.
Estabelecimento,
utilização e manejo
A semeadura somente deve
ser iniciada com o solo aquecido,
com temperatura acima de 18oC
para que ocorra uma germinação,
emergência e crescimento inicial
desejável. A densidade ótima é de
40 a 60 plantas por m2, 15 a 25 kg
de milheto cultivares BRS 1501
e BRS 1503; 25 a 40 kg de capim-
sudão cultivar BRS Estribo e 10 a
15 kg/ha de sorgo híbrido BRS 810
(Tabela 1), distribuídas em linhas
espaçadas de 0,17 a 0,45 m ou as
quantidade maiores à lanço (EM-
BRAPA, 2020).
Existem outros híbridos e
cultivares de diversas empresas
como Sementes Adriana, Agro-
ceres, entre outras no mercado
brasileiro. Fontaneli et al. (2001)
encontraram que a disponibilida-
de de forragem de alta qualidade
poderia ser estendida por mais de
cinco meses usando dois períodos
de semeadura, espaçados de 3 a 5
semanas, sendo o segundo até o
início de fevereiro (HANNA et al.,
2007). Já o teosinto ou dente-de-
burro deve ser semeado em linhas
espaçadas de 0,5 a 0,6 m, na densi-
dade de 35 kg/ha de sementes, ou
à lanço com cerca de 40 kg/ha de
sementes. Apesar de possuir se-
mentes maiores que sorgos e mi-
lheto, o solo deve ser bem prepa-
rado e a emergência das sementes
somente ocorrerá com temperatu-
ra de solo superior a 15 oC.
Época de semeadura - seme-
ado de outubro a fevereiro. Quando
semeado cedo, outubro/novembro
Tabela 1. Quantidade de sementes aproximada (kg/ha), semeadura em linhas ou à lanço,
indicada para estabelecimento de forrageiras anuais de verão
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na maioria das regiões subtropi-
cais, permite pastejo durante cer-
ca de 120 dias. Semeaduras mais
tardias reduz potencial produtivo,
antecipa o florescimento, reduz o
período de utilização e pode com-
prometer o valor nutritivo da for-
ragem.
Método de semeadura - Li-
nhas espaçadas de 0,17 a 0,45 m
ou à lanço, adicionando-se pelo
menos 20% a mais de sementes
em relação ao método em linhas.
Scaléa (1998) indica de 18 a 20 kg/
ha de sementes em linhas espaça-
das de 0,2 a 0,3 m e 40 a 50 kg/ha
se a semeadura for a lanço (Tabela
1).
Profundidade de semeadu-
ra - A deposição de sementes deve
ser de 2 a 4 cm de profundidade
(CÓRDOVA, 2012).
Adubação na semeadura –
geralmente é adubado com 100 a
120 kg/ha de P2O5 e K2O, respecti-
vamente, em solos com fertilidade
mediana, tendo como meta 10,0 t/
ha MS. É recomendável adicionar
10 kg/ha a mais desses adubos
(P2O5 e K2O) por tonelada adicional
de MS (MANUAL...., 2016).
Adubação nitrogenada –
responde linearmente em produ-
ção de biomassa até 200 kg/ha N,
preferencialmente com aplica-
ções fracionadas, por exemplo 5
aplicações de 40 kg/ha N, após os
primeiros ciclos de pastejo. Em re-
giões tropicais com boa distribui-
ção hídrica ao longo da estação de
crescimento, responde até 400 kg/
ha de N.
Características das
cultivares e híbridos
A Embrapa e diversas empre-
sas privadas dispõem de híbridos
que são adaptados a sua área, com
boa resistência a doenças e pra-
gas. A seguir, indicaremos algu-
mas características de cultivares
e híbridos disponibilizados pela
Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa).
Rendimento de biomassa são
variáveis, realisticamente variam
de 7,0 a 12,0 t/ha de MS. Em termos
de valor nutritivo são muito bons
(Tabela 1), mas Restle et al. (2002)
reportaram valores e de produção
de sorgos em pastejo de 8,0 t/ha
MS, com média de 9,95% de PB e
55% de digestibilidade, não dife-
rindo de milheto e de papuã.
Espécies e cultivares
Milheto: BRS 1501 e BRS
1503
De estabelecimento rápido,
podendo ser pastejado com 35 a
45 dias após a emergência, com
0,6 m de altura. Alta produção de
forragem de valor nutritivo eleva-
do (Tabelas 1 e 2). Córdoba (2012)
destaca teor de 24% de PB e diges-
tibilidade de 60% a 78%, em ex-
perimentos em pastejo. Diferente
dos sorgos, não tem durrina, pre-
cursor do ácido cianídrico (HCN)
mesmo quando pastejado com
plantas imaturas, sendo, portanto,
atóxico aos animais.
Entretanto o manejo é si-
milar ao dos sorgos. Deve ser ini-
ciado pastejo quando as plantas
atingirem cerca de 0,5m de altura,
preferentemente no método rota-
tivo (Figura 1). A saída dos animais
deve ocorrer quando houver re-
baixamento da vegetação com cer-
ca de 0,2 m (Tabela 2). O primeiro
ciclo de pastejo pode ser mais in-
tenso, com resíduo pós pastejo de
0,1 m, para quebrar a dominância
apical e estimular o perfilhamento
(KICHEL; MIRANDA, 2000). Deve
ser seguido de uma adubação N na
base de 40 kg/ha de N. Em pastejo
Tabela 2. Altura de plantas (cm) na entrada e na saída dos animais em pastejo
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plantiodireto.com.br - Edição 179
pelo método contínuo, manter as
plantas com 0,4 a 0,6 m de altura.
Para feno, deve ser colhido com
plantas de 0,9 a 1,0 m de altura,
sendo recomendável amassar os
colmos com condicionadora. Para
silagem deve ser colhido no está-
dio de emborrachamento a início
da emissão das inflorescências,
sempre que possível deve ser mur-
chado antes de triturar e a seguir
ensilar. O potencial de produção
supera 15 t/ha MS.
Capim-sudão: BRS Estribo
Apresenta maior produção
de forragem, maior perfilhamento
e maior proporção de folhas e valor
nutritivo que os tipos comuns. Cul-
tivar BRS Estribo foi selecionado
dos tipos comuns tradicionalmen-
te cultivados no RS. É a primeira
cultivar registrada no MAPA, com
atestado de origem e garantia de
qualidade e pureza das sementes.
A produção de biomassa anual
pode ser de cerca de 17 t/ha MS
(EMBRAPA, 2020), com teor de PB
de 19% nas lâminas folhares,e de
13% nos colmos e digestibilidade
de 65 a 70% (SILVEIRA et al., 2015.
Sorgos híbridos pastejo:
BRS 802 e BRS 810
Tem como característica o
baixo teor de lignina, com alto
teor de proteína e digestibilidade,
resultando em maior consumo e
maior produção animal. O poten-
cial de produção pode superar 15
t/ha MS. BRS 810 é um híbrido que
contém o gen BrM, cuja nervura
central das folhas tem coloração
marrom, com maior digestibilida-
Figura 1. Pastagens de milheto (A e B), milheto para palhada após rolo-faca ( C ) e híbrido de sorgo para silagem ( D ).
de em relação a outros cultivares e
híbridos.
Sorgos híbridos para sila-
gem: BRS 610 e BRS 655.
O rendimento de forragem
em massa verde é de 50 a 60 t/ha
ou 15 a 18 t/ha MS. Sorgos para
silagem devem ser colhidos com
grãos leitosos a pastosos, amos-
trados no terço médio da panícula,
com teor de matéria seca superior
a 28% (Figura 1). Na região de Pas-
so Fundo, RS, já colhemos 110 t/ha
de massa verde, em áreas demons-
trativas com a Emater/Ascar. Atin-
ge o ponto para ensilagem com
100 a 120 dias após a emergência.
Altura de plantas em torno de 2,5
m, panícula semi-aberta, grãos
marrom e semiduro. A densidade
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recomendada é de 120 mil plan-
tas/ha, com peso de 1.000 semen-
tes de 26 gramas, resultando em 6
a 8 kg/ha de sementes.
O híbrido de sorgo BRS 655
é resistente a míldio e, moderada-
mente resistente à antracnonose,
ferrugem e helmintosporiose. Pos-
sui colmo seco, com ótimo padrão
de fermentação, com 30 a 40% de
grãos na massa ensilada, resultan-
do em silagem de alta digestibili-
dade, com cerca de 60% e de 8%
de proteína bruta (PB).
Teosinto ou Dente-de-burro
Espécie considerada o ances-
tral do milho, ocorre naturalmente
na América Central e México. Pode
produzir de 15 a 70 t/ha de ma-
téria verde o que corresponde a,
aproximadamente, 3 a 17 t/ha de
MS. Souza et al. (1992) obtiveram
em Augusto Pestana, RS, cortan-
do quando as plantas atingiam 0,5
m e resteva de 0,10 m, 5,2 t/ha de
MS, enquanto Almeida e Flaresso
(1993), no Alto Vale do Itajaí, SC,
obtiveram 9,8 t/ha MS, resultan-
te de quatro cortes na estação de
crescimento. Freitas et al. (1994)
reportaram valor médio de 15,1%
de PB e 69,2% de digestibilidade.
A exemplo das outras gramíneas
anuais de estação quente, respon-
dem bem a adubação nitrogenada,
aumentando o perfilhamento e a
relação folha/colmo, bem como
teor de PB e de digestibilidade.
Papuã ou capim-marmelada
Há poucos anos o papuã ou
capim-marmelada era reportado
na literatura apenas como plan-
ta daninha. Entretanto, apresen-
ta elevada produção de biomassa
com bom valor nutritivo (RESTLE
et al., 2002), sendo uma espécie
que também pelo potencial de
produção de sementes está sen-
do domesticado para ser utilizado
com planta cultivada em sistemas
integrados de produção agropecu-
ária, nas condições sul-brasileiras.
Infelizmente, não temos até o mo-
mento nenhuma cultivar registra-
da.
Trata-se de uma espécie
anual do gênero Urochloa (ex-
Brachiaria) entre as mais de cem
de interesse agronômico, de hábi-
to de crescimento decumbente e
ocorre espontaneamente duran-
te o verão e outono, florescendo
e desaparecendo com as geadas.
Há uso da espécie por produtores
como pastagem e para produção
de feno. Embora tenha elevada
adaptação regional e baixa exigên-
cia em fertilidade de solo, deve ser
adubada, prioritariamente com
adubos nitrogenados para otimi-
zar a produção animal e fenação.
Tabela 3. Rendimento médio de forragem seca de genótipos de gramíneas anuais de verão, em três datas de semeadura no verão, em Passo
Fundo, RS
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plantiodireto.com.br - Edição 179
Para manter o banco de se-
mentes no solo, convém manejar
para promover a ressemeadura
natural. Martins et al. (2000) obti-
veram respostas lineares de pro-
dução de matéria seca de forragem
até 200 kg/ha de N.
Milho em altíssima
densidade
Para minimizar o vazio for-
rageiro outonal é indicado seme-
adura tardia, janeiro/fevereiro em
áreas já utilizadas para silagem,
cultivos precoces (feijão, milho ou
soja), prática cada vez mais fre-
quente na região norte e noroeste
do RS.
Fato e que à medida que a se-
meadura é postergada em relação
a melhor época, início de prima-
vera (setembro-outubro) diminui
o potencial de produção, pois há
menor aproveitamento dos recur-
sos ambientais. Na Tabela 1, está
sumariada comparativamente o
rendimento e valor nutritivo de
cultivares e híbridos de sorgos,
milheto e capim-sudão, semeadas
tardiamente em Passo Fundo, RS.
Suscintamente, não devemos
indicar a semeadura em março de
forrageiras anuais de verão, devi-
do à baixa produtividade. Embora
ocorra redução de rendimento de
10-15 t/ha MS em semeadura no
início da primavera, para 3,0-6,0
t/ha MS, destaca-se que é seme-
lhante a produtividade de forra-
geiras anuais de inverno tradicio-
nais, como aveia-preta, azevém e
aos cereais de inverno semeados
com fins forrageiros. Reitera-se a
importância da época de disponi-
bilidade de forragem das forragei-
ras anuais de verão no período de
maior dificuldade de obter oferta
de forragem de bom valor nutriti-
vo aos ruminantes domésticos. O
espaçamento entre linhas, pode
variar de 0,2 a 0,8 m, ou mesmo à
lanço. Indica-se variedades de mi-
lho como o BRS Planalto ou mesmo
grãos recém colhidos e peneirados
para uniformização.
Em termos de valor nutritivo
há maior potencial de consumo
das folhas relativo aos colmos de
forrageiras anuais de verão, mes-
mo quando bem manejados e fer-
tilizados. (Tabela 3).
Consorciações
Consorciações ou misturas
forrageiras apresentam algumas
vantagens como o aumento de
rendimento de forragem, melho-
ram a distribuição estacional de
forragem, melhoram o valor nu-
tritivo da forragem, interceptam
mais radiação, cobrem melhor o
solo, diminuem a incidência de
plantas daninhas, permitem me-
lhor infiltração de água, menor
escorrimento superficial e maior
proteção do solo, diminuem a am-
plitude térmica,
Gramíneas anuais de estação
quente podem ser cultivados con-
sorciados com mucuna (Mucuna
sp.), labe-labe [Lablab purpureus
(L.) Sweet], feijão-miúdo [Vigna
unguiculata (L.) Walp. Subsp un-
guiculata] e soja, que melhoram o
rendimento de forragem e o valor
nutritivo, principalmente no final
da estação de crescimento. Exem-
plos de consorciações, segundo
Senar (1999):
a) 10 kg/ha de sorgo + 30 kg/
ha de feijão-miúdo ou 25 kg/ha de
labe-labe.
b) 15 kg/ha de milheto + 30
kg/ha de feijão-miúdo ou 25 kg/ha
de labe-labe.
c) 60 kg/ha grãos de milho re-
cém colhido peneirados para uni-
formização + 30 kg/ha de soja.
d) Sobressemedura de for-
rageiras anuais de verão em soja
para forragem outonal e conserva-
ção de solo.
A sobressemeadura é uma
estratégia viável que pode ser uti-
lizada para fornecer alimento para
os animais e palhada para o siste-
ma de produção (PACHECO et al.,
2008; CRUSCIOL et al., 2012). Os
trabalhos de Lara-Cabezas (2004),
com sementes peletizadas de mi-
lheto apontaram a sobressemea-
dura como alternativa viável para
solucionar a formação e a manu-
tenção de palhada, em sistema de
plantio direto no Cerrado.
48 Edição 179 - plantiodireto.com.br
O sorgo por sua vez apresen-
ta uma vantagem quando utilizado
em sobressemeadura na soja, pelo
fato da sua semente ser pequena
ocasiona uma maior superfície
específica de contato da semente
com o solo, o que favorece a ger-
minação quando sobressemeado
(PACHECO et al. 2008). Podendo
chegar a cerca de 5 t/ha de MS
quando a sobressemeadura for
realizada em março, na safrinha,
conseguindo uma fitomassa re-
manescente para próxima safra de
soja de aproximadamente 1,3 t/ha
(PACHECO et al. 2009).
O Cober Crop (híbrido de
sorgo com capim-sudão (Sorghum
bicolor x Sorghum sudanense) quan-
do utilizado em sobressemeadura
tem grande potencial para a pro-
dução de fitomassa, com maior
persistência na entressafra (PA-
CHECO et al., 2008). Pode passar
7 t/ha de MS no momento de des-
secação para plantio da cultura da
soja novamente (PACHECO et al.
2009).
Produção animal
Devem ser pastejados com
alta carga animal, preferencial-
mente em pastejo rotativo, e mui-
tas vezes requerem que os talos
sejam roçados. Novilhos de 320
kg de peso vivo, ganharam de 508
a 534 kg/ha de peso vivo, em estu-
dos de dois anos, onde pastejaram
durante 84 dias, com início em 01
de dezembro (HILL et al., 1999).
Pode ocorrer o envenena-
mento por ácido cianídrico (HCN)
ou glicosídeos cianogênicos, pre-
sentes nas células epidérmicas
de sorgos. Durante a mastigação,
paredes celulares e membranas
são rompidas, resultando em uma
mistura de componentes celulares
contendo a enzima B-glucosida-
dase com as células epidérmicas
que contém durina liberando HCN
que é absorvido nas paredes do rú-
men e transportado para tecidos
corporais. Sinais clínicos incluem
dificuldade respiratória, aumen-
to dos movimentos respiratórios,
mucosas cianóticas (azuladas),
tremores musculares, salivação,
ansiedade, falta de coordenação
motora, decúbito lateral e convul-
sões que precedem as mortes. Bo-
vinos, ovinos e outros ruminantes
são mais suscetíveis que equinos,
pois HCN também pode resultar
da atividade dos microrganismos
do rúmen. A morte pode ocorrer
de 15 minutos a duas horas após
a ingestão de quantidade tóxica de
HCN.
O envenenamento ocor-
re com mais frequência quando
os animais pastejam sorgos com
plantas menores que 38-46 cm de
altura, e logo após a geada. Plan-
tas novas e rebrota tem maior con-
centração de durrina que declina
rapidamente com o desenvolvi-
mento das plantas. A maior inci-
dência após a geada ocorre devido
ao congelamento das membranas
celulares que permitem a mistura
descrita anteriormente antes da
ingestão da forragem pelos ani-
mais. Além disso, quando as plan-
tas são colhidas mecanicamente
e fracionadas para alimentação,
também ocorre o rompimento dos
tecidos. Alta dose de N pode au-
mentar o nível de glicosídeos cia-
nogênicos.
Para minimizar o risco é
conveniente dividir as aplicações
de N, mas também pode ocorrer
em plantas maiores que 46 cm
de altura logo após geada, porque
muitos perfilhos ficam protegidos
do congelamento e são preferidos
em pastejo. Assim, indica-se pos-
tergar o pastejo por uma ou duas
semanas após a geada, minimiza
grandemente o risco do envene-
namento. Forragens conservadas
como feno ou silagem são seguras.
Sorgos sob estresse de seca
ou geada acumulam ácido cianí-
drico (HCN-p) que podem envene-
nar bovinos. Milheto ao contrário
dos sorgos não produz ácido cianí-
drico (durina), mas ocasionalmen-
te ambas espécies pode causar en-
venenamento por nitratos (NO3-)
sob alta fertilização nitrogenada e
estresse por seca (HANNA; SOL-
LENBERGER, 2007).
ALELOPATIA – palhada de
gramíneas anuais de verão, espe-
cialmente capim-sudão e sorgos
híbridos, formam densa cobertura
de solo, competindo efetivamente
com plantas daninhas, inibindo a
germinação e crescimento. Entre-
tanto, devem ser dessecadas de 3
a 6 semanas antes da semeadura
de culturas em sucessão, especial-
mente forrageiras (HALL; VOUGH,
2007).
Considerações finais
É possível minimizar o vazio
forrageiro outonal com a seme-
adura escalonada de forrageiras
anuais de verão até fevereiro na
região do Planalto do Rio Grande
do Sul. Os sorgos forrageiros são
mais produtivos que capim-sudão
e teosinto. O milheto tem maior
afilhamento, maior teor de PB e
menor FDA nas lâminas foliares
que sorgos e teosinto.
Sendo forrageiras de verão
é frequente sofrerem estresse hí-
drico em diferentes estádios de
desenvolvimento. Umidade ina-
dequada bem como formação de
crostas na superfície do solo afe-
tam a germinação e estabeleci-
mento das plantas, especialmente
de milheto. Ocorrência de patóge-
nos em folhas podem afetar o ren-
dimento em anos de incidência
severa.
A presença de fatores anti-
nutricionais como sílica, lignina,
oxalatos e fenóis na forragem afe-
tam o consumo, a digestibilidade e
consequentemente o desempenho
animal.
Sobressemeadura de espé-
cies como milheto e capim-sudão
devem ser realizadas até meados
do verão, quando inicia a senes-
cência da soja e seu sucesso vai
depender de umidade favorável.
As Referências Bibliográcas deste artigo
estão disponíveis para consulta em:
www.plantiodireto.com.br/edicoes,
na aba conteúdo aberto.