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Inovação no Design:
uma reflexão sobre a prática
da sustentabilidade no
mobiliário doméstico.
Raphael Cardoso Mota Pereira
Design Industrial
Orientadora: Profa. Dra. Cyntia Malaguti
Centro Universitário SENAC
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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Resumo
1 Este trabalho trata das inovações do design e investiga um modelo de inovação
que se proponha à refletir sobre a prática da sustentabilidade no móvel doméstico.
Coloca como objeto de estudo o home office, que é ambientado em um novo
contexto econômico e social.
2 Palavras-chave: Inovação, design, mobiliário.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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Sumário
Prólogo ...................................................... 7
Introdução ...................................................... 9
1. PARTE I – Conceituação e Racionalização da Inovação ............... 12
1.1. Investigação da inovação .................................... 12
1.1.1. A natureza inovadora ................................... 13
1.1.2. A inovação econômica e social ............................ 15
1.2. Investigação da inovação no design ............................ 17
1.2.1. Inovação no design ..................................... 17
1.2.2. Inovação estratégica do design ............................ 22
1.2.3. Tipos de inovação no design .............................. 24
1.3. Inovação no Brasil ......................................... 27
1.3.1. O cenário nacional ..................................... 27
1.3.2. Estratégia Brasil de inovação.............................. 29
2. PARTE II – Problematização e Justificativa ........................ 32
2.1. O produto ................................................ 32
2.1.1. Natureza do projeto..................................... 33
2.1.2. Análise setorial ........................................ 34
2.1.3. Público-alvo .......................................... 38
3. PARTE III – Metodologia e Resultados............................ 41
3.1. Metodologia ...............................................41
3.1.1. Fase analítica.......................................... 42
3.1.1.1. Pesquisa Exploratória ................................ 42
3.1.1.2. Pesquisa Causal...................................... 49
3.1.1.3. Tendências em design sustentável........................ 52
3.1.1.4. Pesquisa de imóveis .................................. 58
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3.1.1.5. Pesquisa de home offices .............................. 60
3.1.1.6. Pesquisa sobre materiais reciclados....................... 65
3.1.2. Fase Criativa ...........................................70
3.1.2.1. Painel semântico......................................70
3.1.2.2. Pesquisa eletroeletrônicos.............................. 72
3.1.2.3. Ergonomia ......................................... 73
3.1.3. Fase Executiva......................................... 75
3.1.3.1. Experimentações..................................... 75
3.1.3.2. Custo ............................................. 77
4. Conclusão ................................................. 79
Referências Bibliográficas ....................................... 82
Anexos ..................................................... 86
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
7
Prólogo
“Uma das ideias mais originais e frutíferas do Fausto de Goethe
diz respeito à afinidade entre o ideal cultural do autodesenvol-
vimento e o efetivo movimento social na direção do desenvol-
vimento econômico. Goethe acredita que essas duas formas de
desenvolvimento devem caminhar juntas, devem fundir-se em uma só, antes que
qualquer uma dessas modernas promessas arquetípicas venha a ser cumprida. O úni-
co meio de que o homem moderno dispõe para se transformar – Fausto e nós mesmos
o veremos – é a radical transformação de todo o mundo físico, moral e social em
que ele vive. A heroicidade do Fausto goethiano provém da liberação de tremendas
energias humanas reprimidas, não só nele mesmo, mas em todos os que ele toca e,
eventualmente, em toda a sociedade a sua volta. Porém, o grande desenvolvimento
que ele inicia – intelectual, moral, econômico, social – representa um altíssimo custo
para o ser humano. Este é o sentido da relação de Fausto com o diabo: os poderes
humanos só podem se desenvolver através daquilo que Marx chama de “os poderes
ocultos”, negras e aterradoras energias, que podem irromper com força tremenda,
para além do controle humano. O Fausto de Goethe é a primeira e ainda a melhor
tragédia do desenvolvimento.”
Trecho extraído de
“TUDO QUE É SÓLIDO DESMANCHA NO AR – A AVENTURA DA MODERNIDADE”,
de MARSHALL BERMAN.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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Introdução
3 Este trabalho precisa ser compreendido por sua impetuosidade. A intenção de re-
fletir sobre a prática, tendo como viés temas como inovação e sustentabilidade, e
principalmente sustentando uma ousada proposta de nova materialidade diante da
atual realidade mercadológica da indústria moveleira, foi desafiadora.
4 Foi necessário distorcer conceitos e valores para poder seguir adiante com uma
mudança de paradigma, pois estes fazem parte de uma realidade industrial e
de consumo baseada puramente em crescimento, que infelizmente insiste em
perpetuar-se por meio de modelos e práticas de um sistema econômico acomodado
em seu modus operandi. Mas que vem se tornando cada vez mais contraditório
diante do avanço de temas como do desenvolvimento sustentável.
5 A inovação por meio do design industrial é proposta, sobretudo, como um avanço
a esse comportamento econômico, que afeta principalmente o potencial heurístico
da inovação. Neste trabalho o design faz frente a novas propostas de valores, e
se sustenta pelo desejo do consumidor de ser mais responsável com a sociedade
e com o meio ambiente.
6 Apesar de uma estrutura de desenvolvimento rigorosa, o projeto não se antecipou
a nenhuma conclusão, nem mesmo qual seria o móvel doméstico, produto que
foi identificado mediante pesquisa. A cada passo do projeto buscou-se um fio
condutor que daria continuidade à investigação do tema. Nesse sentido, este
projeto se desenhou como um desafio lúcido e permanente.
7 O trabalho está dividido em três partes. Na primeira, incluem-se os capítulos
dedicados à racionalização da inovação e sua aplicação como um processo no
design. Na segunda, são apresentadas a problematização do projeto juntamente
com a justificativa do produto. E na terceira, são apresentados a metodologia
adotada para o desenvolvimento do trabalho juntamente com os resultados das
pesquisas e conclusões.
PARTE I – Racionalização e Conceituação da Inovação
8 A investigação da inovação é feita por intermédio de dois temas e seu objetivo
é ampliar a ótica da inovação. No primeiro tema, A inovação natural, é rea-
lizada uma busca pelo significado da palavra inovação com base na etimologia
e no evolucionismo a fim de resgatar valores relacionados a um significado mais
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purista, conduzindo a investigação para um campo mais inusitado e menos mer-
cadológico. No segundo tema, A Inovação econômica e social, é investigado o
significado da inovação sob a ótica do capital e do social, focado principalmente
nos processos históricos.
9 O capítulo Investigação da inovação no design é abordado em três temas e seu ob-
jetivo é entender o papel do design para a inovação. No primeiro tema, Inovação
no design, é investigado o aspecto da complexidade da inovação pela ótica do
conhecimento, evidenciando as mudanças ocorridas na área do design, o que
veio transformando sua própria noção de inovação. No segundo tema, Inovação
estratégica do design, é realizada uma análise do papel estratégico do design sob
a ótica do produto, do consumidor e da indústria. Por fim, no terceiro tema, Tipos
de inovação do design, são identificadas as inovações produzidas pelo design e
evidencia-se uma gama de conhecimentos relacionados à área que ampliam a
noção de tecnologia.
10 No capítulo Inovação no Brasil observa-s e um modelo de inovação estratégico,
idealizado para a atual realidade do País, seja por um ponto de vista econômico,
social ou ambiental. O desenvolvimento do novo móvel doméstico fica atento ao
trabalho do MCT1 a fim de aproximá-lo aos anseios da nova geração de tecno-
logias, indústrias e consumidores brasileiros.
Parte II – Problematização e Justificativa
11 O capítulo Proposta de produto é uma síntese do projeto, onde fica claro o dire-
cionamento da inovação, discutido principalmente na Parte I. Nesse capítulo são
problematizados e justificados os critérios que delinearam o desenvolvimento do
móvel residencial sob uma ótica bastante empreendedora, no qual dados sobre os
mercados da reciclagem e mobiliário são apresentados com o intuito de formar
um cenário que sustente uma proposta inovadora.
Parte III – Metodologia, Resultados e Conclusões
12 Neste capítulo são apresentadas as fases de desenvolvimento do produto, sendo
utilizado o procedimento básico de design de Bruce Archer (DUBBERLY, 2004)
como estrutura metodológica, que estão divididas em fase analítica, fase criativa e
fase executiva. Na fase analítica, foram apresentadas as atividade de investigação,
1 Ministério da Ciência e Tecnologia.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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que dão continuidade à proposta de briefing de Peter Phillips (2008), juntamente
com os resultados das pesquisas. Na fase criativa, são utilizados ferramentas e
exercícios para viabilizar a proposta de produto, encontrada na fase analítica. E
na fase executiva, apresenta-se uma experiência do papel da inovação do design
para o desenvolvimento de móveis sustentáveis. Por fim, uma reflexão sobre toda
a experiência desenvolvida no decorrer do projeto.
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1. PARTE I – Conceituação e Racionalização da Inovação
1.1. Investigação da inovação
1 O que é inovação? É fazer algo novo? Ou fazer diferente? Na verdade, o que são
mais replicantes nessas ingênuas perguntas são: Como fazer algo novo? Como
fazer diferente? Para que fazer diferente?!
2 Para compreender o papel da inovação também é necessário entender o papel
da ciência e da tecnologia. Para isso, foi realizado um curso sobre Ciência e
Tecnologia oferecido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV ONLINE, 2011), no qual
fica claro o ciclo que se cumpre até a inovação, que acontece desde a geração do
conhecimento nas universidades ou sociedade, passando pela aplicação prática do
conhecimento na tecnologia, até a viabilização econômica das tecnologias para a
sociedade, que é a inovação. Portanto, a inovação tecnológica é o potencial de se
gerar riquezas por meio do conhecimento, ou seja, é o capital intelectual de uma
nação. (ANDREASSI, 2007)
3 É importante colocar que não existe distinção entre conhecimentos para se gerar
tecnologia, ou seja, áreas do conhecimento de humanas ou biológicas tem o mesmo
potencial que de exatas. No entanto, as áreas de exatas têm maior sintonia com
as necessidades da indústria, enquanto as de humanas e biológicas estão mais
direcionadas para as necessidades da sociedade. Contudo, esse fato não exclui
a contribuição do conhecimento das áreas de humanas no desenvolvimento de
tecnologias e na geração de inovações.
4 É importante lembrar que a tecnologia está protegida pela égide da propriedade
intelectual, que pode se apresentar de duas formas: como patente, direito de
exploração econômico sobre uma aplicação prática do conhecimento; ou direito
autoral, que garante ao autor o reconhecimento pela sua descoberta, o que não
assegura a exploração comercial. Esse esclarecimento deixa claro o que é uma
apropiação intelectual, e como a tecnologia pode ser explorada comercialmente.
5 Nesse sentido, a primeira parte deste trabalho, Conceituação e Racionalização
da Inovação, tem o intuito de responder as seguintes questões: Qual o papel do
design na geração de inovações para a sociedade? E qual a qualidade das ino-
vações produzidas pelo design? Para responder essas questões, a primeira parte é
dividida em dois capítulos: Investigação da Inovação e Inovação no Design.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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6 O título A natureza inovadora não tem a pretensão de ser uma investigação
completa, apenas uma referência sobre a qualidade das inovações. No entanto,
essa referência tem modificado a noção de conhecimento científico e faz refletir
sobre a interação das tecnologias com o meio ambiente.
7 No título A Inovação econômica e social faz-se uma análise histórica da inovação,
começando pela revolução industrial, quando o design surge como ferramenta
de inovação. Nesse tema é fácil identificar uma polarização da discussão pelos
ideais políticos capitalista e socialista, o que é um engano, pois o intuito não é
trazer à tona os “ismos” que incorporam a condição de ideologia, e sim o conhe-
cimento decorrente do debate entre duas ideias divergentes que discutem o papel
da inovação na sociedade.
8 Por fim, espera-se ter um ponto de vista mais consistente do papel da inovação
na sociedade e na economia, o que ajuda a ampliar a noção de qualidade das
inovações nos produtos de design.
1.1.1. A natureza inovadora
1 De acordo com o dicionário Houaiss, a origem etimológica da palavra inovação
vem do latim innovatio e tem como principais acepções as palavras novidade
e renovação. Entende-se por novidade tudo o que se vê pela primeira vez ou a
alteração inesperada no andamento regular das coisas; e, por renovação, algo que
tenha evoluído ou passado por uma mudança positiva para se tornar novo.
2 Portanto, a palavra inovação reflete duas situações bem distintas: de criação,
como explicação do novo, e de evolução, como aperfeiçoamento do antigo. No
entanto, é possível identificar uma dicotomia no conceito de inovação, onde,
por um lado, a inovação é proposta como criação, no sentido filosófico, uma
manifestação do querer do homem; e, por outro, evolutivo, em um sentido mate-
rialista, como necessidade da natureza de se adaptar ao meio.
3 O fato é que a inovação como vontade do homem, a partir da revolução in-
dustrial, tem causado grandes mudanças no meio ambiente em um curto período
de tempo, ao contrário da natureza, que demora milhares de anos para realizar
pequenas mudanças. Esse processo tem extrapolado limites, pois o homem já
rompeu com a convenção de tempo da natureza, acelerando excessivamente seu
modo de vida.
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4 Janine Benyus (1997), autora do livro “Biomimética: Inovação Inspirada pela
Natureza”, trata a inovação por uma ótica menos nociva à natureza, onde a
tecnologia tem um diálogo com o meio ambiente. Benyus afirma que todo co-
nhecimento necessário para aperfeiçoar o estilo de vida da humanidade está na
própria natureza. Dessa forma, as tecnologias seriam mais harmoniosas e menos
nocivas à natureza.
5 Esse último princípio, “exploração do poder dos próprios limites”, é talvez muito obscuro
para nós, humanos, pois vemos os limites como um desafio universal, algo a ser superado
de modo que possamos continuar nossa expansão. Outros habitantes da terra levam seus
limites mais a sério por saber que devem viver dentro de uma variação de temperatura
mais rígida, produzir alimentos de acordo com a capacidade produtiva da terra e manter
um equilíbrio energético do qual não se pode abusar. (BENYUS, 1997, p. 15)
6 A natureza heurística da inovação nos coloca diante de duas formas de inovar,
descobrir e criar. O significado de descobrir é diferente de criar, exatamente no
que se diz respeito ao limite em que podemos chegar: os fatos. A descoberta
pressupõe que existam outros envolvidos na formulação do conhecimento, já a
criação pode ser considerada um exercício do ego ou manifestação divina.
7 Herbert Marcuse era um defensor radical da técnica, considerava o progresso
técnico um instrumento de libertação. A técnica como uma extensão do corpo
humano deveria permitir que a humanidade vivesse de modo mais confortável.
No entanto, apesar do avanço tecnológico ter atingido um nível onde todas as
carências da humanidade – como educação, alimentação, saúde, entre outros –
pudessem ser resolvidas, na verdade são utilizadas a serviço de guerras, e grandes
concentrações de riquezas. (IVANISSEVICH, 2011)
8 Portanto, que tipo de inovação está sendo levada adiante? Uma inovação funda-
mentalmente pautada em viabilidade econômica, sem mais nenhum critério de
valor. Será que, em um mundo onde já existam avanços conclusivos na ciência
sobre a evolução, o homem ainda deve se reconhecer como criador? Ou o homem
deve se entender como parte de um sistema, onde sua existência é muito recente?
9 Objetivamente, diante do atual cenário, infelizmente fica a visão pessimista de
Marcuse, de que o consumo está tão arraigado na sociedade que uma trans-
formação seria impossível. No entanto, Marcuse acreditava que uma nova racio-
nalidade seria capaz de instaurar uma verdadeira sociedade do conhecimento.
Seria essa a racionalidade do desenvolvimento sustentável?
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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1.1.2. A inovação econômica e social
1 De acordo com Andreassi (2007), o modelo de inovação que conhecemos
atualmente já data do século XVIII, quando a palavra inovação é apropriada por
economistas e se torna um termo técnico-cientifico, ganhando um significado
mercadológico relacionado à tecnologia.
2 Adam Smith, autor de “Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza
das nações”, apontou a relação entre acumulação de capital e tecnologia de
manufatura, demonstrando que a riqueza das nações resultava da atuação de
indivíduos que, movidos apenas pelo seu próprio interesse, promoviam o cres-
cimento econômico e a inovação tecnológica. Posteriormente, no século XIX,
o economista Friedrich List, pioneiro do conceito de investimento intangível,
concluiu que as descobertas, invenções e melhorias e os aperfeiçoamentos e es-
forços de todas as gerações antecedentes formam o capital intelectual da raça
humana. (ANDREASSI apud FREEMAN e SOETE, 1997)
3 O momento histórico que marca a apropriação do termo inovação é exatamente
o período de início da Revolução Industrial, meados do século XVIII, até sua
expansão pelo mundo no século XIX. Esse momento de passagem marca o ponto
culminante de uma mudança tecnológica, econômica e social que vinha se pro-
cessando na Europa.
4 O economista Karl Marx é um dos primeiros a perceber o significado da tecnologia,
considerando-a como expressão do trabalho, e seu desenvolvimento como reflexo da ca-
pacidade humana de inovar. Para Marx a capacidade do trabalho humano em modificar
a natureza é apropriada pelo sistema de produção predominante. (KATZ, 1996)
5 É nesse período que a manufatura do artesão é substituída pelas máquinas das
indústrias, dando início ao surgimento de novas profissões, como a do designer.
John Ruskin e William Morris, importantes nomes do design da época, idea-
lizaram suas profissões em sentido contrário às regras do sistema. A utopia era
criar objetos belos a preços acessíveis – ou mesmo de graça – para as pessoas
comuns, enquanto o resultado na vida real era sempre a criação de objetos extre-
mamente caros para uma minoria. (CARDOSO, 2000, p. 71)
6 No entanto, apesar da apropriação da inovação pelo sistema capitalista, Marx con-
sidera a tecnologia primeiramente enquanto fenômeno social, onde determinado
bem se apresenta como detentor de características que são indiferentes a um modo
de produção específico, por exemplo, “um martelo é um martelo”, seja no sistema
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capitalista ou no sistema feudal. O que se modifica são a forma e os propósitos de
sua utilização, que são configurados pelo modo de produção dominante. (PINHEIRO e
PINHEIRO, 2002 apud KATZ,1996)
7 Nesse sentido, é possível afirmar que, objetivamente, o principal valor percebido
na inovação é o econômico, ou seja, qualquer outra atribuição de valor fica
subjugada. Por exemplo, apesar da existência de tecnologias alternativas para
geração de energia nos automóveis, como hidrogênio e solar – que são renováveis
e mais limpas – as inovações no campo dos combustíveis fósseis têm tido muito
mais aceitação no mercado porque chegam ao consumidor por um preço muito
inferior. Ou seja, um modelo de produção dominante tem muito mais chances de
apresentar inovações por causa de sua situação mercadológica estabelecida.
8 No início da década de 1960, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento
(OCDE) desenvolveu um sistema padrão para avaliação em P&D, que deu origem
em 1963 ao manual de Frascati. Esse manual foi aperfeiçoado com a troca de ex-
periência entre países-membros da OCDE. Porém, visando à necessidade de focar
na questão da inovação, foi lançado em 1992 o Manual Oslo. (ANDREASSI, 2007)
9 De acordo com a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), o Manual Oslo
é bastante abrangente e flexível quanto a suas definições e metodologias de
inovação tecnológica e, por isso mesmo, tem sido uma das principais referências
para as atividades de inovação na indústria brasileira, que deseja ser mais com-
petitiva. (Manual Oslo – Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre
Inovação 1997)
10 O Manual Oslo está voltado principalmente para uma perspectiva econômica e
produtiva, sendo utilizado mundialmente como sistema de avaliação na geração
de inovações de um país. No entanto, temas como responsabilidade social e
sustentabilidade vêm surgindo com muita força, a exemplo de normas como
a ISO 14000, de Gestão Ambiental, e ISO 26000, de Responsabilidade Social e
Sustentabilidade.
11 Portanto, em pleno século XXI, em uma economia global, as inovações além de
forte perspectiva econômica e produtiva também buscam se voltar para o social
e o meio ambiente. Devemos agora então analisar como a atividade de design,
especificamente, contribui ou pode contribuir em relação à ideia de inovação,
considerando-se o sentido de inovação como o aperfeiçoamento integral do
produto não estando limitado somente à aparência dos objetos.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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1.2. Investigação da inovação no design
1 Que tipo de conhecimento o design usa para inovar? O design pode produzir tec-
nologia? Quais são as contribuições do design para o aperfeiçoamento das inovações?
2 No Manual Oslo (1997), faz-se uma diferenciação importante entre inovação
tecnológica e atividade inovativa, sendo esta última a classificadora do design.
São consideradas inovações tecnológicas somente as áreas de produto e processo,
assinadas pela rubrica de P&D, as demais atividades inovativas são assinadas
pelas inovações organizacionais e de marketing. Portanto, o design é considerado
uma atividade inovativa do setor de marketing.
3 Entretanto, o Manual é claro quanto ao fato da P&D não ser a única fonte geradora
de tecnologia empresarial. As empresas avançam tecnologicamente por meio de
vários outros tipos de aprendizagem, design, engenharia reversa e imitação. Além
disso, licenças e contratos de colaboração permitem que as empresas inovem com
base em tecnologia gerada por outras empresas. (ANDREASSI, 2007)
4 No título Inovação no design, é investigada a complexidade do atual processo
em design, pois, em sua origem na revolução industrial, restringia-se apenas
à aparência do produto ou à forma de produção. Mas o design progrediu e seu
âmbito alargou-se para incluir disciplinas que ampliaram seu espectro de atuação
como tecnologia, sustentabilidade, responsabilidade social, legislação, entre
outras áreas do conhecimento. (BONSIEPE, 2011)
5 No título Inovação estratégica do design, é realizada uma análise do papel estra-
tégico do design no desenvolvimento de produtos. Verificando-se a importância
do design para a competitividade das empresas em uma economia global.
6 E, finalmente, no título Tipos de inovação do design, são identificadas as inovações
produzidas pelo design que evidenciam a gama de conhecimentos relacionada à área
e que, ao mesmo tempo, dão uma dimensão qualitativa das inovações do design.
1.2.1. Inovação no design
1 Adrian Forty (2007), no livro Objetos de Desejo, especificamente no capítulo
Imagens do progresso, relaciona o progresso nas sociedades modernas com uma
série de medidas provocadas pelo capital industrial. Forty afirma que o sucesso
do capitalismo sempre dependeu de sua capacidade de inovar e vender novos
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produtos, sendo o design extremamente importante por sua capacidade de fazer
com que as coisas pareçam diferentes do que são.
2 “O sucesso do capitalismo sempre dependeu de sua capacidade de inovar e de vender
novos produtos. Não obstante, de modo paradoxal, a maioria das sociedades em que o
capitalismo criou raízes mostrou resistência à novidade das coisas, novidades que eram
tão evidentes na Inglaterra do século XVIII quanto hoje nos países em desenvolvimento.
O que então fez com que os povos das sociedades ocidentais estivessem preparados para
aceitar produtos novos, apesar da ameaça de mudança que representam? Uma vez que
qualquer produto bem-sucedido deve superar a resistência à novidade. Parece ser um
axioma que os produtos de capital industrial busquem criar aceitação das mudanças
que provocam. Entre as maneiras de obter essa aceitação, o design, com sua capacidade
de fazer com que as coisas pareçam diferentes do que são, foi de extrema importância.”
(FORTY, 2007, p. 20)
3 Forty introduz o conceito de estratégia nessa citação ao afirmar que o design é
extremamente importante para a capacidade de inovação do sistema capitalista.
Essa faceta do design é tão antiga quanto a própria profissão, ou seja, o design
surge no contexto profissional da revolução industrial para servir aos interesses
mercantis, criando diferenciação entre os produtos que, por sua vez, estimulavam
a concorrência, aumentando a oferta de mercado e reduzindo preços para o con-
sumidor.
4 Bonsiepe (1978), em seu livro Teoria y Práctica del diseño industrial, no capítulo
“Orientações interpretativas da atividade projetual”, também descreve, assim
como Forty, a atividade do design industrial chamada de Styling. Mas para ele
seria simplesmente um instrumento de promoção das vendas.
5 Bonsiepe apresenta o que se chama de “visão espiritual burguesa da atividade pro-
jetual”, criticando-a por fazer uma setorização social dos objetos entre populares e
de luxo. Essa setorização fortalece uma identidade ou um código de grupo nos quais
o consumidor constrói uma ideia vaga de qualidade, conferindo à qualidade formal
do produto um significado desproporcional. Em decorrência dessa visão, triunfam
as exigências visuais sobre as vitais na concepção e na avaliação do design.
6 No entanto, no capítulo Política tecnológica, design industrial e modelos de de-
senvolvimento, Bonsiepe apresenta uma visão desenvolvimentista da inovação
apoiada no design – mas não apenas como styling, e sim como uma ferramenta
de melhoria nos produtos –, que reflete de forma positiva, principalmente nos
países considerados “em desenvolvimento”, onde há atraso técnico e científico.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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7 Com a ascensão das classes sociais D e E no Brasil, e o aumento do potencial
de consumo da classe C, o debate sobre a democratização do design toma novo
fôlego e levanta questões muito mais elaboradas do que as do passado. Inserido
em um ambiente muito mais complexo, o consumidor de classe média está muito
mais exigente.
8 Segundo Renato Meirelles, do Instituto DataPopular, “...se engana quem pensa que a
classe C troca qualidade por menor preço. “Já foi o tempo que você tinha que ter produto
barato para atender à classe C. Com o crédito, o consumidor não se importa em pagar um
pouco mais se o produto durar mais que a duração das prestações”. “E a nova classe C já
leva em conta também a decoração. Acabou essa história de pegar a poltrona de um, o
sofá do outro. Agora tem de ser tudo combinando.”” (PORTAL G1, 2010)
9 Em seu recente livro Design, Cultura e Sociedade, Gui Bonsiepe (2011) faz uma
análise sobre o design democrático logo no primeiro capítulo e aponta como
a atividade do design tem se modificado em razão do nível de complexidade,
influenciado principalmente por novas áreas do conhecimento como tecnologia,
sustentabilidade, responsabilidade social, legislação, marketing, entre outras.
10 Para Bonsiepe, essas novas áreas trazem informações que fazem surgir diferentes
abordagens do design, como o design sustentável (ecodesign), o design alegre
(fun design) e o design inteligente (smart design), que, no final das contas, são
benéficas, pois ampliam o campo de pesquisa e possibilitam oferecer produtos
cada vez melhores aos consumidores. No entanto, Bonsiepe acusa principalmente
o marketing de segmentar socialmente essas soluções, privando muitos consu-
midores de desfrutarem do melhor do design.
11 Ao observar a trajetória de Bonsiepe – levando em consideração seu trabalho focado
nos países latino-americanos – a partir de seu livro de 1978 até o mais recente de
2011, é constatável que o atual estágio do design para a maioria da sociedade ainda é
restrito. Fica claro que a discussão sobre o papel das inovações do design ainda deve
ser muito explorada e desmitificada. Mas é possível verificar que o design vem se
transformando no mundo todo e apresentando alternativas muito inteligentes, como
o Design Think, aplicado por empresas como Humantific e IDEO.
12 A Humantific, sediada em New York, reconhece que muitos desafios enfrentados
pelas organizações, pela sociedade e, finalmente, pelo planeta Terra não podem
ser resolvidos por meio da criação de mais produtos e serviços. A Humantific, já
trabalha no outro lado da percepção que está emergindo no mercado global. A
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empresa acredita que por intermédio do sensemaking (fazer sentido) é que se faz
o changemaking (a mudança).
13 A IDEO, sediada nos EUA, em Londres, na Alemanha e na China, há anos utiliza
uma metodologia chamada Human-Centred design Toolkit (conjunto de ferra-
mentas para projetos centrados no humano) baseada no desenvolvimento de
soluções inovadoras. Por meio do questionamento “Porque não aplicar a mesma
abordagem para superar os desafios do mundo sem fins lucrativos?” foi possível
fazer esse trabalho chegar até ONGs e empresas sociais que trabalham com comu-
nidades carentes na África, na Ásia e na América Latina. A IDEO disponibiliza o
kit gratuitamente em seu site, onde orienta os usuários e dá suporte a atividades
como a construção das habilidades de escuta, realização de oficinas e imple-
mentação de ideias.
14 Até aqui se vê um design crítico, que pensa e está muito além da aparência dos
produtos. Portanto, o design não é somente um meio para o marketing inovar,
como havia classificado o Manual de Oslo inicialmente.
15 Para contextualizar o design em uma realidade de inovação onde a estratégia não
se resuma somente à aparência, é importante citar novamente o Manual Oslo,
que também reconhece e amplia o potencial inovador do design como parte do
processo e da aplicação de P&D. A publicação da OECD confirma a capacidade
de geração tecnológica do design, como se pode verificar no trecho a seguir,
extraído do documento.
16 2.4. Design
17 344. O termo design do produto, usado na definição das inovações de marketing, refere-
se à forma e à aparência dos produtos, e não a suas especificações técnicas ou outras
características funcionais. Porém, as atividades de design podem ser interpretadas pelas
empresas em termos mais gerais como parte integrante do desenvolvimento e da imple-
mentação de inovações de produto ou de processo, tal como descreve a Seção 2.2.3 deste
capítulo. A categorização das atividades de design dependerá, pois, do tipo de inovação
ao qual as atividades estão relacionadas.
18 345. Todas as atividades de design para o desenvolvimento e a implementação das ino-
vações de produto (incluindo o trabalho na forma e na aparência) e das inovações de
processo devem ser incluídas na rubrica P&D ou em outras preparações para as inovações
de produto ou de processo.
19 346. O trabalho relacionado a mudanças no design do produto que configuram inovações
de marketing (e não inovações de produto, isto é, quando as características funcionais ou
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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os usos previstos do produto em questão não foram significativamente melhorados) deve
ser incluído em preparações para inovações de marketing. (OECD/FINEP, 1997, p. 111)
20 2.2.3. Outras preparações para inovações de produto e de processo
21 331. O desenvolvimento das inovações das empresas pode abarcar diversas atividades
não incluídas na P&D tal como definido no Manual Frascati. Incluem-se as fases finais
das atividades de desenvolvimento e, fundamentalmente, a introdução de inovações de
produto e de processo que são novas para a empresa, mas não para o mercado (ou,
em termos da definição de P&D, que não aumentam o estoque de conhecimentos nem
contêm um elemento considerável de novidade). As atividades de desenvolvimento e
implementação para a adoção de novos bens, serviços e processos podem representar
uma importante parcela da atividade de inovação.
22 332. Outras preparações para inovações de produto e de processo incluem as atividades
internas relacionadas com o desenvolvimento e a implementação de inovações de
produto e de processo não englobadas na P&D. Entre elas está o desenvolvimento de
atividades parcialmente excluídas da P&D (como o desenho industrial, a engenharia, a
colocação em funcionamento e a produção para testes) ou totalmente excluídas dessa
rubrica (como patentes e licenças, a fase inicial da produção e os testes), assim como
as atividades de desenvolvimento para as inovações de produto ou de processo que não
possuem o grau de novidade exigido para realizar a P&D (isto é, novas para a empresa
mas não para o mercado). Alguns elementos dessa categoria estão descritos com mais
detalhes a seguir.
23 333. Outras atividades de desenvolvimento para serviços incluem as atividades internas
envolvidas no planejamento e no desenvolvimento de serviços novos ou significativamente
melhorados não constituintes da P&D (ver também Manual Frascati, §§ 145-151).
24 334. O design pode abarcar um amplo conjunto de atividades voltadas para o planejamento
e o desenho de procedimentos, as especificações técnicas e outras características fun-
cionais e de uso para novos produtos e processos. Entre elas estão as preparações iniciais
para o planejamento de novos produtos e processos e o trabalho em sua concepção e
implementação, incluindo ajustes e mudanças posteriores. Inclui-se também o desenho
industrial, tal como definido no Manual Frascati, que envolve o planejamento das es-
pecificações técnicas para novos produtos e processos. Alguns elementos do desenho
industrial devem ser incluídos na P&D (ver Manual Frascati, §§ 124-125) caso eles sejam
requeridos para executá-la.
25 335. Testes e avaliações compreendem os testes de produtos e de processos novos ou
significativamente melhorados, embora os testes de protótipos façam parte da P&D e
estejam, portanto, excluídos dessa rubrica. No que diz respeito à indústria de trans-
formação, incluem-se nessa categoria a produção para ensaios e as plantas piloto caso
já não tenham sido inseridas em P&D. A produção experimental insere-se na P&D se ela
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implicar testes de escala máxima e concepções e técnicas de engenharia subsequentes,
enquanto as plantas piloto são consideradas P&D caso esta seja seu objetivo principal.
Incluem-se também as atividades de ensaios e testes para a provisão de serviços, como os
testes sobre o funcionamento da provisão de serviços com o uso de novas tecnologias ou
os ensaios para examinar o desempenho de melhorias substanciais nos serviços existentes.
26 336. Instalação de equipamentos e engenharia refere-se a mudanças nos procedimentos,
métodos e padrões de controle da produção e da qualidade, bem como aos softwares
associados requeridos para a produção de produtos novos ou melhorados ou para o uso
do processo novo ou melhorado. Incluem-se as mudanças nos procedimentos e softwares
exigidos para o fornecimento de novos serviços ou o uso de novos métodos de distribuição.
27 Segundo o manual, a inovação propiciada pelo design tanto pode estar rela-
cionada ao marketing quanto ao campo do produto ou processo. Essa última
situação deve ser assinada com rubrica de P&D.
28 Assim como se procurou evidenciar, a inovação do design vai muito além da
função prática, simbólica e estética dos objetos; na verdade, se compromete
com soluções muito mais complexas, contemplando interesses múltiplos que
abrangem o fabricante, o investidor, o consumidor e a sociedade, ou seja, um
retrato complexo do conhecimento gerado naquele momento.
1.2.2. Inovação estratégica do design
1 Adrian Forty (2007) ilustra muito bem o papel do design na introdução de uma
inovação tecnológica em um ambiente doméstico quando relata o surgimento do
rádio no início dos anos 30 e como foram necessários vários estudos e reflexões
até se chegar à solução adequada.
2 “(...) A primeira era alojar o aparelho em uma caixa que imitava uma mobília antiga,
e assim referia-se ao passado. A segunda era esconder o rádio dentro de uma peça de
mobília que servia para alguma finalidade bem diferente, como uma poltrona. A terceira,
que se tornou mais comum à medida que as pessoas se familiarizavam com o rádio e
o achavam menos perturbador, era de coloca-lo dentro de um estojo desenhado para
sugerir que pertencia a um mundo futuro melhor.” (FORTY, 2007, p. 21)
3 Forty (2007) identifica, respectivamente, três abordagens evidentes nesses apa-
relhos – a arcaica, a supressiva e a utópica – e faz paralelos entre elas e a prática
do design nos diferentes períodos: “Se o design do século XX foi dominado pelas
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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imagens utópicas, os fabricantes do século XVIII confiavam mais no modelo arcaico
em seus esforços para superar a resistência à inovação.” (FORTY, 2007, p. 21)
4 A intenção de Forty em comparar os dois períodos foi destacar a importância do
design na introdução de novos conceitos, e como a imagem da inovação mudou
com o passar do tempo. Mas a mesma comparação reflete um fenômeno para-
digmático, que é a resistência a novos conceitos, pois as inovações normalmente
alteram a zona de conforto de consumidores e principalmente de fabricantes.
5 Essa realidade é um desafio para toda empresa, mas necessária para que seja com-
petitiva no mercado. No modelo de competitividade internacional de Bonsiepe
(2011) o design é destacado entre sete estratégias, que são: inovação tecnológica,
preço baixo, curto prazo de entrega, qualidade, sustentabilidade, design e na-
tional branding. A importância desse modelo não depende da motivação de ex-
portar produtos, mas sim da necessidade de se manter competitivo no mercado
interno, pois em uma economia global a concorrência dos produtos importados
é inevitável.
6 Com o intuito de medir o potencial em design nas empresas, o Conselho Nacional
de Desenvolvimento Econômico Britânico desenvolveu uma “escada do design”,
identificando quatro níveis de inserção do design, que também correspondem ao
nível de competitividade das empresas.
7 Nenhum uso do design: Nas empresas que se encontram nesse degrau, outras disci-
plinas acumulam a função de introduzir funcionalidade ou estética ao desenvolvimento
de produtos ou serviços.
8 Design como estilo: Nessas empresas o design é introduzido em um estágio já
avançado do projeto, como num acabamento ou detalhe gráfico.
9 Design como processo: Nesse degrau o design é visto como método de trabalho.
É integrado nos estágios iniciais do processo, combinando-se com a engenharia de
produção, o marketing e outros setores da empresa.
10 Design como estratégia: No degrau mais alto da escada, o design está incorporado na for-
mulação da estratégia competitiva da empresa e, portanto, participa ativamente no fomento
à inovação e no desenvolvimento de serviços e produtos. (CENTRO DE DESIGN PARANÁ, 2006)
11 Principalmente no estágio de design como estratégia, seguido pelo estágio do
design como processo, é possível trabalhar o design sob uma ótica de inovação
avançada, pois a cultura empresarial está preparada para gerir esse processo, que
pode ser considerado de risco.
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12 Alguns relatórios já apontam essa mudança na indústria brasileira. De acordo com
pesquisa realizada em 2005 pelo Departamento de Competitividade e Tecnologia
(DECOMTEC) da FIESP, há um crescente investimento da indústria paulista em
design, que chega em 78,8% das indústrias entrevistadas, onde 81,8% afirmaram
ter obtido alto grau de impacto positivo. O interesse do setor está focado princi-
palmente em manter ou aumentar a atual participação de mercado ante à concor-
rência (com 51,5%) e entrar em um novo mercado com novos produtos (30,3%).
(DECOMTEC, 2005)
13 Também é possível verificar alguns apontamentos sobre o desempenho do Brasil
internacionalmente, como demonstra, com certa preocupação, o relatório bri-
tânico do Design Council, “Design Returns, uma revisão da estratégia de design
nacional no período de 2004 a 2008”.
14 “O maior desafio da concorrência do Reino Unido no século 21 será proveniente dos países
do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). BRICs respondem por 30 por cento de crescimento
econômico do mundo desde 2000, atraem 15 por cento do investimento estrangeiro
direto do mundo e são responsáveis por 15 por cento do comércio mundial. BRICs são
grandes, modernizando rapidamente, cada vez mais sofisticados tecnologicamente e
investindo pesado em design.”
15 “O Brasil é o lar de uma vibrante indústria de design com série premiada. Em 2006 se
tornou o primeiro país sul-americano a aprovar uma lei para estimular a inovação. ‘In-
vestimentos em expansão e demanda dos consumidores têm impulsionado o crescimento
econômico, finalmente refutando o clichê de que o Brasil é uma economia emergente, e
que sempre será’.” (DESIGN COUNCIL, 2004-2008, p. 9)
16 Portanto, o design é chave para a introdução de inovações no mercado. No
entanto, assumir riscos e ter espírito empreendedor são necessários para inovar.
Constata-se que a indústria brasileira ainda se encontra em fase de amadure-
cimento, e o uso do design como estratégia de inovação e competitividade ainda
precisa evoluir na cultura organizacional das empresas.
1.2.3. Tipos de inovação no design
1 O trabalho de Joseph Schumpeter influenciou bastante as teorias da inovação. Seu ar-
gumento é de que o desenvolvimento econômico é conduzido pela inovação por meio de
um processo dinâmico em que as novas tecnologias substituem as antigas, um processo
por ele denominado “destruição criadora”. Segundo Schumpeter, inovações “radicais” en-
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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gendram rupturas mais intensas, enquanto inovações “incrementais” dão continuidade
ao processo de mudança. Schumpeter (1934) propôs uma lista de cinco tipos de inovação.
i) inovação de novos produtos;
ii) introdução de novos métodos de produção;
iii) abertura de novos mercados;
iv) desenvolvimento de novas fontes provedoras de matéria-prima e outros insumos;
v) criação de novas estruturas de mercado em uma indústria. (OECD/FINEP, 1997)
2 O trabalho de Schumpeter (1934) tem grande influência no Manual Oslo, mas optou-
-se em sintetizar as inovações em quatro tipos no manual: inovações de produto,
inovações de processo, inovações organizacionais e inovações de marketing. A
classificação das inovações está presente em diversas áreas do conhecimento, que
abordam e procuram classificar a inovação de maneira diferente. (ANDREASSI, 2007)
3 De acordo com Paulo Baptista (1999), autor sobre inovação na área de gestão
estratégica, o interesse de procurar agrupar as inovações por diferentes tipos
não está em desenvolver um exercício meramente acadêmico, mas em facilitar
a identificação do tipo de inovação que poderá melhor preparar a empresa para
atender ao mercado.
4 Baptista (1999) apresenta uma organização possível para classificação da
inovação, na qual considera existirem nove tipos distintos: inovação de conceito,
inovação de processo, criação de marca, aperfeiçoamento gradual, reorganização
tecnológica, reformulação, inovação de serviço, inovação de design e inovação
de embalagem. (BAPTISTA, 1999 apud FREIRE, 1997)
5 Já Bonsiepe (2011), no livro Design, cultura e sociedade, propõe que o design pode
oferecer, como estratégia competitiva, oito tipos ou classes de inovação. De acordo
com o autor, essa lista não pretende ser completa, deve ser vista mais como uma ten-
tativa de mostrar a amplitude das atividades inovadoras realizadas pelos designers.
6 1. Inovação para melhorar a qualidade de uso de um produto ou uma informação
2. Inovação para criar produtos e/ou affordances
3. Inovação no processo de produção
4. Inovação na sustentabilidade
5. Inovação para facilitar o acesso a um produto ou serviço (design inclusivo)
6. Inovação na aplicação de novos materiais ou materiais reciclados para novos produtos
7. Inovação na qualidade formal-estética
8. Inovação na oferta de produtos de uma empresa (design estratégico) (BONSIEPE, 2011)
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7 Portanto, os tipos de inovação não são estáticos, na verdade, variam de acordo
com o conhecimento empregado. Bernhard Bürdek (2006) cita Siegfried Maser
para explicar a abrangência do conhecimento no design.
8 “O designer como ‘Expert’ é o responsável pelos aspectos configurativos e comunicativos
dos produtos, e no que se atém às questões de ergonomia, da produção, do cálculo ou
semelhantes ele atua como ‘Conhecedor’.” (MASER apud BÜRDEK, 2006)
9 O “conhecedor” amplia as possibilidades de inovações do design porque não está
limitado ao conhecimento do “expert”. Bonsiepe (2011) listou doze forças do co-
nhecimento do design que poderiam conduzir a inovação no desenvolvimento de
produtos.
10 1. Inovação baseada em tecnologia
2. Inovação baseada no usuário
3. Inovação baseada na forma
4. Inovação baseada na invenção
5. Inovação baseada no valor simbólico ou status
6. Inovação baseada na tradição
7. Inovação baseada na engenharia mecânica
8. Inovação baseada na ecologia
9. Inovação baseada no branding
10; Inovação baseada nas tendências
11. Inovação baseada na arte
12. Inovação baseada na crítica (BONSIEPE, 2011)
11 Portanto, o melhor ambiente para inovação é o multidisciplinar. E não existem
limites para os tipos de inovação, pois, no momento em que os conhecimentos
migram entre áreas, há um aumento exponencial de possibilidades de inovações.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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1.3. Inovação no Brasil
1 Para dar uma perspectiva objetiva de inovação neste projeto, é necessário colocar
seu atual estágio de desenvolvimento no Brasil. No título O cenário nacional,
são apontados os principais indicadores políticos e econômicos que norteiam o
desenvolvimento da CT&I2 no Brasil.
2 No título Estratégia Brasil de inovação é feito um recorte do cenário da inovação
nacional, apresentada pelo ponto de vista de especialistas, instituições e orga-
nismos nacionais e internacionais dedicados à promoção da inovação, como o
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), a Federação da Indústria do Estado
de São Paulo (FIESP), o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e
principalmente a 4° Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para
o Desenvolvimento Sustentável (4° CNCTI).
3 A intenção desse pano de fundo é contextualizar as principais demandas do
setor da inovação no Brasil de forma que seja possível perceber oportunidades
no mercado de design para os próximos anos. No entanto, é importante deixar
claro que toda essa movimentação é fruto de uma vontade política, e não neces-
sariamente uma realidade da CT&I no Brasil.
1.3.1. O cenário nacional
1 Há uma década, um novo cenário político, social e econômico se apresentou de
forma muito positiva aos brasileiros. Em 2001, o Brasil foi incluso no BRICs, sigla
que se refere a Brasil, Rússia, Índia e China, países que se destacaram no cenário
mundial pelo rápido crescimento das suas economias. Atualmente, o principal
fenômeno decorrente nesse novo cenário é a ascensão de classes, impulsionadas
principalmente pelo aquecimento da economia.
2 SÃO PAULO – A baixa renda está consumindo mais. Neste ano, a classe D já superou a
classe B quando o assunto é consumo de alimentos, vestuário, móveis, eletrodomésticos
e eletrônicos para o lar e remédios.
3 De acordo com levantamento feito pelo instituto de pesquisas DataPopular, a maior di-
ferença está nos gastos com alimentação para o lar. Neste ano, a classe D deve gastar R$
2 Ciência, Tecnologia & Inovação.
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68,2 bilhões com esse item – número que equivale a 23,4% do total de gastos esperados,
considerando todas as classes, com os produtos do grupo, de R$ 292 bilhões.
4 Já a classe B deve gastar em torno de R$ 45,4 bilhões com alimentos, 15,5% do total
esperado para este ano. A diferença entre os dois segmentos da população é de R$ 22,8
bilhões. (INFOMONEY, 2010)
5 Nesse sentido, os olhos do mundo estão voltados para o Brasil com interesses
principalmente econômicos. De acordo com a consultoria alemã DB Research, no
relatório lançado em janeiro de 2010, “Brazil 2020”, o Brasil vai superar a França
e o Reino Unido e será a sétima maior economia em 2020. Aliás, previsão que já
foi superada, sendo o Brasil atualmente a sexta economia mundial.
6 No também recente relatório “The Brazilian Decade”, produzido pela consultoria
estratégica internacional Roland Berger, é sinalizado um momento único de
virada socioeconômica. O relatório analisa a crise econômica mundial e verifica
por que o Brasil foi um dos primeiro países a sair da crise, além de apontar os
principais mercados, empresas e oportunidades.
7 Nesse último relatório também é realizado um cruzamento relevante entre
inovação e exportação, e prova que países como EUA, Alemanha e Japão, onde
há alto investimento em inovação, lideram a economia mundial, concluindo: “O
Brasil deverá investir em inovação para desenvolver uma posição sustentável
como uma economia líder mundial”. (ROLAND BERGER, 2010)
8 Também é possível verificar alguns apontamentos sobre o desempenho do Brasil
no setor do design, como demonstra, com certa preocupação, o relatório britânico
do Design Council, “Design Returns, uma revisão da estratégia de design nacional
no período de 2004 a 2008”.
9 “O maior desafio da concorrência do Reino Unido no século 21 serão provenientes dos
países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). BRICs respondem por 30 por cento de cres-
cimento econômico do mundo desde 2000, atrai 15 por cento do investimento estrangeiro
direto do mundo e são responsáveis por 15 por cento do comércio mundial. BRICs são
grandes, modernizando rapidamente, cada vez mais sofisticados tecnologicamente e
investindo pesado em design.”
10 “O Brasil é o lar de uma vibrante indústria de design com série premiada. Em 2006 se
tornou o primeiro país sul-americano a aprovar uma lei para estimular a inovação. ‘In-
vestimentos em expansão e demanda dos consumidores têm impulsionado o crescimento
econômico, finalmente refutando o clichê de que o Brasil é uma economia emergente, e
que sempre será’.” (DESIGN COUNCIL, 2004-2008, p. 9).
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
29
11 Esse cenário otimista está movimentando todo o setor de CT&I no Brasil, onde
estão sendo discutidas políticas de desenvolvimento, que poderão ser vistas no
título Estratégia Brasil de Inovação.
1.3.2. Estratégia Brasil de inovação
1 Diante de toda a movimentação no setor de CT&I e a fim de preparar o país para
os próximos dez anos indicados pelos economistas, o Estado tem promovido mu-
danças significativas no setor da inovação. Nos últimos anos houve avanços com
a Lei de Inovação, a Lei do Bem, a subvenção econômica na Finep, a segunda
política industrial, lançada em 2008 com o nome de Política de Desenvolvimento
Produtivo (PDP), voltada para investimentos em inovação. Além disso, o PACTI
incluiu, pela primeira vez na história do MCT, a inovação como um dos eixos da
política governamental. (Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) & Centro de
Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), 2010)
2 Diante de todas as iniciativas do governo para promover a inovação no País, fica
claro que a inovação é diretamente influenciada pelas metas governamentais.
Por isso, a importância de um evento como a 4a Conferência Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, que procura impul-
sionar a economia sem abrir mão de frentes estratégicas, como a sustentabilidade.
3 A 4a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvol-
vimento Sustentável foi um dos acontecimentos mais expressivos do setor em 2010.
E teve como desafio a construção de um novo plano de ação na área de CT&I.
Foram reunidos vários nomes da ciência brasileira para pensar o País dos próximos
10 anos e em como utilizar plenamente nossas vantagens competitivas, que passam
pelo tamanho de sua população, território e riqueza de sua diversidade regional.
4 O resultado da 4a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para
o Desenvolvimento Sustentável foi apresentado no Livro Azul em dezembro de
2010. O livro aponta as principais demandas estratégicas para os próximos 10
anos, as deficiências que precisam ser superadas, as implementações, entre outras
implicações para que o Brasil possa alcançar seus objetivos.
5 Os principais grandes temas levantados no Livro Azul são: “Inovação e sustentabilidade,
imperativos para o desenvolvimento brasileiro”; “As novas oportunidades para o Brasil
e o estágio atual da CT&I”; e “Os grandes desafios e a agenda do futuro para CT&I”.
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6 Dentro do tema “Inovação e sustentabilidade, imperativos para o desenvolvimento
brasileiro”, está clara a proposta desenvolvimentista que aponta a inovação como
um dos principais responsáveis pela redução da degradação do meio ambiente,
estímulo tecnológico, aumento da concorrência, e de distribuição de renda por
meio do aumento do consumo.
7 Dentro do tema “As novas oportunidades para o Brasil e o estágio atual da
CT&I”, são abordados assuntos como financiamento para inovação, interação
em universidade – empresa e incubadoras. São apontadas algumas das principais
tecnologias estratégicas para o desenvolvimento sustentável, como a agricultura,
a bioenergia, as tecnologias da informação e comunicação, a saúde, a exploração
das reservas de petróleo e gás do pré-sal, a tecnologia nuclear, o espaço e a defesa
e as tecnologias portadoras de futuro e outras energias. Sempre sob o mote de
produzir mais energia, garantir a inclusão social e, ao mesmo tempo, reduzir a
emissão de CO2.
8 Finalmente no tema “Os grandes desafios e a agenda do futuro para CT&I”, são
colocados como os principais desafios a biodiversidade como fonte de conhe-
cimento com agregação de valor, a Amazônia sustentável, a inovação para o
desenvolvimento social e a revolução na educação brasileira.
9 Portanto, a inovação no Brasil busca o baixo impacto ambiental, a inclusão social
e o aumento da qualidade de vida de todos. O pioneirismo no desenvolvimento
de modelos bioenergéticos e o alto potencial para produção de fontes renováveis
faz do Brasil um exemplo e alternativa para o mundo.
10 Entretanto, a proposta de aumento da qualidade de vida mediante o consumo
pode ser conflituosa com os interesses de redução do impacto ambiental. Nesse
sentido, ao passo em que se desenvolvem novas tecnologias e novos processos e
produtos voltados para modelos bioenergéticos e renováveis, também esperam-se
soluções para áreas problemáticas, como geração de lixo, coleta seletiva e reci-
clagem, pois não há sustentabilidade sem a gestão dos resíduos.
11 Por mais que se tenha tido evolução nesse sentido, como a aprovação da lei
dos resíduos sólidos, toda a prática ainda é muito incipiente. Como se pode ve-
rificar na pesquisa CICLOSOFT 2010, realizada pelo CEMPRE3, apesar de haver um
aumento de municípios com coleta seletiva de 547%, entre 1994 até 2010, isso
representa apenas 8% dos municípios brasileiros. (CEMPRE, 2010)
3 Compromisso Empresarial para a Reciclagem.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
31
12 De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Re-
síduos Especiais (Abrelpe), em 2010, o País produziu 195 mil toneladas de resíduos
sólidos por dia, um aumento de 6,8% em relação a 2009, quando foram geradas
182.728 toneladas. Carlos Roberto Vieira da Silva Filho, diretor-executivo da
Abrelpe, afirma:
13 “Os dados mostram que o País está em uma trajetória ascendente na geração de resíduos,
o que já havia sido verificado nos anos anteriores. No entanto, a destinação adequada não
avança no mesmo ritmo.” Segundo ele, esse crescimento é um efeito colateral do bom
momento econômico e da melhoria do poder aquisitivo dos brasileiros, que passaram a
consumir mais produtos e mais embalagens. (JORNAL ESTADÃO, 2011)
14 O mercado da reciclagem vem crescendo vertiginosamente. De acordo com a
Revista Meio Ambiente Industrial, o mercado da reciclagem em 2002 já movi-
mentava cerca de US$ 6 bilhões de dólares por ano no País (RMAI, 2002). No
entanto, de acordo com a “Pesquisa sobre Pagamento por Serviços Ambientais
Urbanos Para Gestão de Resíduos Sólidos”, realizada pelo IPEA, o Brasil perde
R$ 8 bilhões anualmente por não reciclar. Somente a reciclagem do plástico
representaria quase 6 bilhões ao ano. (IPEA, 2010)
15 Nesse sentido, fica a crítica à 4a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e
Inovação para o Desenvolvimento Sustentável por não ter dado a mesma ênfase
para a questão dos resíduos sólidos como deu a outros temas como agricultura,
bioenergia, tecnologias da informação e comunicação, saúde, exploração das
reservas de petróleo e gás do pré-sal, tecnologia nuclear, espaço e defesa e tecno-
logias portadoras de futuro e outras energias.
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2. PARTE II – Problematização e Justificativa
2.1. O produto
1 Após as investigações e discussões sobre a inovação, agora é o momento de
transferir esse conhecimento para o desenvolvimento de um produto. Abrindo
caminho para se realizar uma reflexão sobre a prática da sustentabilidade pela
ótica da inovação do design.
2 Este é um projeto acadêmico e não está cerceado às limitações de uma empresa –
seja de investimentos ou de aquisição de tecnologias –, mas comprometido com
um modelo de inovação idealizado a partir de uma visão de futuro, que envolve
valores éticos e morais associados a tecnologias voltadas para a sustentabilidade,
qualidade de vida, e educação. Nesse sentido, este projeto não só pode, mas como
deve explorar possibilidades que estejam fora da perspectiva mercadológica – que
pensem fora do quadrado – como a investigação do uso da madeira plástica para
o desenvolvimento de mobiliários residenciais.
3 Na concepção de Donald Schön (2000), a prática profissional se caracteriza por apresentar
situações de instabilidades e de incertezas que nem sempre são resolvidas pelo profissional,
pois seu repertório de saberes não dá as respostas exigidas no dia a dia do exercício da
profissão. As referidas situações supõem a mobilização de saberes e de competências que
ultrapassem os conhecimentos técnicos adquiridos nos processos formativos.
4 Ser um profissional reflexivo nessa acepção traduz-se na capacidade de ver a prática como
espaço/momento de reflexão crítica, problematizando a realidade pedagógica e analisando,
refletindo e reelaborando, criativamente, os caminhos de sua ação a fim de resolver os
conflitos, construindo e reconstruindo seu papel no exercício profissional. (BRITO, 2006)
5 O trecho acima, retirado do artigo “O significado da reflexão na prática docente e
na produção dos saberes profissionais do/a professor/a” coloca a importância da
reflexão na prática profissional do docente. No entanto, apesar deste projeto não
ser sobre a prática do professor, mas sim do designer de produto, contudo, não
deixa de ser uma prática acadêmica já que é ambientada no universo da produção
de conhecimento de uma universidade.
6 Para a escolha do móvel doméstico a ser desenvolvido sob a ótica da inovação,
foi utilizada a estrutura de briefing proposta por Peter Phillips (2008), autor de
“Briefing: A gestão do projeto de design”, a seguir:
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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7 Natureza do projeto; Análise setorial; público-alvo; portfólio da empresa; objetivos do
negócio; e estratégia de design. (PHILLIPS, 2008)
8 A partir desse briefing foi possível identificar o home office como um móvel com
alto potencial de inovação. Também foram investigadas novas possibilidades de
materialidade para o home office com o intuito de viabilizar uma produção alter-
nativa ao que se tem oferecido no mercado brasileiro, no qual a madeira plástica
foi identificada como um produto competitivo por ser uma alternativa eficiente
para a reciclagem de resíduos plásticos.
2.1.1. Natureza do projeto
1 O modelo de inovação idealizado para o desenvolvimento do produto está atento
ao trabalho do MCT, desenvolvido para nortear os próximos dez anos (2010-
2020) de investimentos no setor de inovação, descrito no texto Estratégia Brasil
de Inovação (página 29). No entanto, este trabalho, além refletir os principais
desafios relacionados à inovação no Brasil para o futuro, também se compromete
em pensar soluções para questões passadas e do presente, como o resíduo sólido.
2 Ao relacionar os principais temas apresentados como desafios para a inovação no
Brasil – baixo impacto ambiental, aumento da qualidade de vida e inclusão social
– com as principais alternativas para geração de soluções inovadoras – fontes
renováveis, consumo e educação — é possível verificar por meio dos vetores de
inovação de Bonsiepe (2011)4 que o potencial do design reside na sua capacidade
de abrir múltiplos caminhos para a inovação. Serão escolhidos vetores de acordo
com a adequação às demandas e às atribuições de valor identificadas com o pú-
blico-alvo (classe C) e, portanto, relacionadas adequadamente ao tipo de produto.
3 Utilizando a ótica da sustentabilidade por meio dos 12 vetores de inovação pro-
postos por Bonsiepe (2011), é possível traçar uma série de possibilidades tangíveis
ao móvel doméstico.
•Inovaçãobaseadaemtecnologia
•Inovaçãobaseadanousuário
•Inovaçãobaseadanaforma
•Inovaçãobaseadanainvenção
•Inovaçãobaseadanovalorsimbólicooustatus
•Inovaçãobaseadanatradição
4 Listado no capítulo Tipos de inovações no design, pág. 19.
34
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
•Inovaçãobaseadanaengenhariamecânica
•Inovaçãobaseadanaecologia
•Inovaçãobaseadanobranding
•Inovaçãobaseadanastendências
•Inovaçãobaseadanaarte
•Inovaçãobaseadanacrítica
2.1.2. Análise setorial
1 Para o desenvolvimento do móvel doméstico dois setores foram investigados,
o moveleiro e o da reciclagem, com o intuito de identificar a importância do
design como elemento estratégico, e principalmente quais seriam os desafios e
resistências a inovação decorrer do projeto.
Moveleiro
2 Foi possível investigar o setor moveleiro por intermédio de diagnósticos disponi-
bilizados por instituições como o Centro de Design Paraná, Design Brasil e a ADP5,
onde são apontados setores que já conduzem um programa de aperfeiçoamento
industrial por meio do design.
3 O relatório “O impacto do design no desempenho das empresas do setor mo-
veleiro” (ASSOCIAÇÃO DOS DESIGNER DE PRODUTO-ADP & MINISTÉRIO DO
DESENVOLVIMENTO, INDUSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR) aponta que em 80%
das empresas entrevistadas o design é utilizado como projeto de produto pro-
priamente dito, em 87% é visto como investimento imprescindível e em 58%
o design é função-chave na estratégia de produtos e de mercado, e somente
23% dos entrevistados entendem o design em sua abordagem como projeto de
produto, incluindo materiais, processos de produção e adequação ao mercado.
4 O setor moveleiro apresenta características que estão em sintonia com os ob-
jetivos deste projeto, pois já percebe o design como fator imprescindível para o
negócio. No entanto, quando o design propõe novas possibilidades de exploração
de matérias-primas ou possibilidades no processo de fabricação e adequação ao
mercado, percebe-se uma radical retração do setor na pesquisa. Nesse sentido,
por que a indústria moveleira é tão engessada para buscar novas alternativas de
materiais e processos?
5 Associação dos Designers de Produto
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
35
5 Essa questão foi investigada na Brasil Móveis Feira Internacional, visitada no ano
de 2011 no pavilhão do Anhembi. De stand a stand foram observados os móveis
expostos e sua materialidade; por contraste visual pode-se afirmar que a maioria
eram de MDF ou MDP. Também havia móveis em chapa de aço, como em fibras
naturais, e materiais reaproveitados, como a madeira de demolição. No entanto,
móveis fabricados com matéria-prima reciclada não foram encontrados.
6 A falta de diversidade na materialidade desses móveis evidencia um afunilamento
mercadologico, e também a falta de alternativas viáveis para o uso de materia
-prima reciclada. Neste sentido, é preciso investigar e incentivar materias-primas
alternativas, para que surjam oportunidades no setor da reciclagem.
Reciclagem
7 Dados retirados do jornal da Plastivida Instituto Socioambiental dos Plásticos,
entidade que representa institucionalmente a cadeia produtiva do setor para di-
vulgar a importância dos plásticos na vida moderna e promover sua utilização
ambientalmente correta, aponta que hoje o mercado de reciclagem é uma rea-
lidade economicamente viável que movimentou em 2007 R$ 1,8 Bilhão de reais
e que é uma prática em ascensão com média de crescimento de 8,2% ao ano
(PLASTIVIDA JORNAL, 2009).
8 Do total de plásticos produzidos no Brasil, somente reciclamos 21,2%, média
superior a da União Europeia, de 18,3% (PLASTIVIDA JORNAL, 2009). De acordo
com o Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE), associação em-
presarial dedicada à promoção da reciclagem e da gestão integrada do lixo, um
dos empecilhos para o aumento da reciclagem é a grande variedade de tipos, o
que prejudica o processo de separação do lixo, bem como a deficiência da coleta
seletiva que somente alcança 7% dos municípios brasileiros.
9 De acordo com Paulo Dacolina, diretor-superintendente do INP – Instituto Na-
cional do Plástico, os plásticos sintéticos foram desenvolvidos para durar, e
não para permanecerem na natureza, tendo em vista que a formação de sua
matéria-prima dominante, o petróleo, leva milhões de anos para se decompor.
(DACOLINA, 2009)
10 Entender a natureza do artificial é uma luz para compreendermos a materialidade
do plástico sintético. Para Ezio Manzini, autor do livro Matéria da Invenção, o
artificial é:
36
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
11 “Uma antiga definição linguística define como artificial qualquer ordem local derivada da
atividade técnica e cultural do homem. Mas, em última análise, há apenas uma diferença
significativa entre artificial e natural: a do período de tempo necessário para desenvolver
as regras segundo as quais esta ordem local é produzida.” (MANZINI, 1986)
12 Manzini (1986) afirma que o plástico sintético é um material hiperartificial, pois é
fruto da atividade técnica e cultural do homem e rompe com as barreiras temporais
de nascimento e morte convencionadas por nossos ritmos biológicos, somando
as transformações dos processos de fabricação e do conhecimento tecnológico.
13 Essa definição de artificialidade dada ao material plástico transcende a materia-
lidade e faz muito mais sentido na temporalidade, pois sua permanência no meio
ambiente é que foge da compreensão do homem. O plástico é um dos materiais
mais duráveis que o homem aperfeiçoou, seu uso está tão difundido e seu custo é
tão acessível que permitiu que a sociedade industrial se desenvolvesse exponen-
cialmente.
14 Mas, se com o passar do tempo o plástico foi aperfeiçoado, novos problemas
surgiram atrelados ao uso inadequado. O consumismo cria a necessidade de
descarte de grande parte do que pode ser substituído em razão de demandas do
mercado. Essa característica pejorativa do descarte foi atrelada de forma errônea
ao material plástico em consequência de sua natureza versátil e de seu baixo
custo para o desenvolvimento de produtos em larga escala de produção.
15 Se a permanência do plástico na natureza é de até 450 anos, é fato que todo o
plástico produzido até hoje está disponível em nosso meio ambiente para reci-
clagem (CEMPRE, 2010). José Eli da Veiga, em seu livro Desenvolvimento sus-
tentável o desafio do século XXI, afirma:
16 “A noção de desenvolvimento sustentável, de tanta importância nos últimos anos, procura
vincular estreitamente a temática de crescimento econômico com a do meio ambiente.
Para compreender tal vinculação, são necessários alguns conhecimentos fundamentais
que permitem relacionar pelo menos três âmbitos: a) o dos comportamentos humanos,
econômicos e sociais; b) o da evolução da natureza, que é objeto das ciências biológicas,
físicas e químicas; c) o da configuração social do território, que é objeto da geografia
humana, das ciências regionais e da organização do espaço.” (VEIGA, 2005)
17 Essa tríplice, proposta por Veiga (2005), configura uma análise mais profunda
das relações do plástico com o meio ambiente e principalmente com as pessoas
que o consomem. Percebe-se então que o plástico não é o vilão da relação MA-
TERIAL x SUSTENTABILIDADE, há muito tempo estigmatizado, e sim o ciclo de
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
37
vida do produto, inadequado para um consumo sustentável. Fica evidente que a
concepção racional do produto é vital para o reaproveitamento da matéria-prima.
É valido levantar a bandeira do consumo responsável apoiado pelos 3Rs: Reduzir,
Reutilizar e Reciclar.
18 Após 20 anos de discussões, em 2 de agosto de 2010 foi sancionada a lei da
Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS)6, que atua como uma nova diretriz
no destino dos resíduos gerados no pós-consumo. Entre os seus artigos, fica es-
tabelecida a logística reversa que prevê que, depois de usados, itens como pilhas,
baterias, lâmpadas fluorescentes, embalagens de agrotóxicos, óleos lubrificantes
e pneus, além dos produtos eletroeletrônicos e seus componentes, retornem às
empresas para que tenham um destino adequado. Também fica determinada a
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos entre fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes, além dos consumidores e titulares
dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.
19 Antes da lei, o ciclo de vida do produto era quebrado no pós-consumo uma
vez que o descarte não era realizado de maneira consciente pelo consumidor.
Teoricamente, após a lei, esse ciclo será fechado com o descarte correto e o rea-
proveitamento do resíduo gerado.
20 Os estados e municípios terão que diagnosticar detalhadamente a situação atual
dos seus resíduos e elaborar planos para o seu manejo sustentável. Essas ações
impulsionarão a reciclagem e o aproveitamento por meio da coleta seletiva, dimi-
nuindo o custo do beneficiamento da matéria-prima valorizada e aumentando sua
competitividade no mercado. Por outro lado, as empresas terão que se adequar a
essa nova realidade, que muda completamente a lógica de mercado.
21 Questões socioambientais não estarão mais relacionas apenas a diretrizes de
marketing ou a ideias e intenções utópicas, mas também a medidas que serão
parametrizadas legalmente e que precisam ser incorporadas pelas empresas na
gestão dos seus produtos e do próprio negócio como um todo. Adequar-se a essa
nova realidade evitará prejuízos como multas, ressarcimento, recuperação de áreas,
restrição a contratação por órgãos públicos e privados, financiamentos, entre outras
penalidades, além de preservar e fortalecer sua imagem institucional. Questões
relacionadas à sustentabilidade serão um parâmetro de qualidade percebida para
aquisição de produtos e serviços pelo mercado e pelos consumidores.
6 Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.
38
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
22 Mas, infelizmente, a lei dos resíduos sólidos parece somente ser o primeiro passo
para uma realização capaz. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas
de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em 2010, o País produziu 195
mil toneladas de resíduos sólidos por dia, um aumento de 6,8% em relação a 2009,
quando foram geradas 182.728 toneladas. Carlos Roberto Vieira da Silva Filho,
diretor-executivo da Abrelpe, afirma: “Os dados mostram que o País está em uma
trajetória ascendente na geração de resíduos, o que já havia sido verificado nos
anos anteriores. No entanto, a destinação adequada não avança no mesmo ritmo”.
Segundo ele, esse crescimento é um efeito colateral do bom momento econômico
e da melhoria do poder aquisitivo dos brasileiros, que passaram a consumir mais
produtos e consequentemente mais embalagens. (JORNAL ESTADÃO, 2011)
23 Atualmente, 8% dos municípios brasileiros realizam coleta seletiva, o que vem
contribuir para a desestruturação do setor da reciclagem, levando em consi-
deração que a captação da matéria-prima de pós-consumo tem um peso relevante
no custo dos produtos finais. (CEMPRE, 2010)
24 Portanto, configura-se um cenário muito desafiador para as inovações do design
pela ótica da sustentabilidade no que diz respeito a uma nova perspectiva do uso
de materiais, processos e mercados para a indústria moveleira.
25 Nesse sentido, o uso da madeira plástica será colocado como forma de solução
para o reaproveitamento de resíduos plásticos, tendo o design um papel estra-
tégico na inserção desse material no desenvolvimento de um móvel, contribuindo
para a discussão sobre a materialidade e a sustentabilidade na sociedade.
2.1.3. Público-alvo
1 Trazer a noção de responsabilidade compartilhada pelos resíduos para o con-
sumidor é a prioridade do móvel de matéria-prima reciclada. Uma alternativa real
para se fechar o ciclo do plástico e viabilizar o fortalecimento de uma indústria
baseada em valores de desenvolvimento sustentável.
2 No estudo “A nova classe média: O lado brilhante dos pobres”, desenvolvido pelo
Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e coordenado por
Marcelo Cortez Neri, foram realizadas análises a partir de dados disponibilizados
pelo PNAD/IBGE. O trabalho analisa os últimos anos, 2009 e 2010, desde a es-
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
39
4 O estudo aponta que a nova classe média é a classe dominante do ponto de vista
econômico, concentrando mais de 46,24% do poder de compra dos brasileiros em
2009, superando as classes A e B, estas com 44,12% do total do poder de compra.
As demais classes D e E possuem 9,65% do poder de compra.
5 Ainda nesse superaquecimento econômico, de acordo com pesquisa do instituto
DataPopular, a partir de informações do IBGE, atualmente a classe C é a que mais
compra móveis. “De 2002 para 2010, os gastos com produtos como cama, sofá,
armários, luminárias, tapetes e utensílios subiram de R$ 3,1 bilhões para R$ 17,9
bilhões, ultrapassando o consumo das classes A e B, que subiu num ritmo menor,
passando de R$ 5,9 bilhões para R$ 15,8 bilhões”. Abaixo a opinião pessoal do
diretor do instituto DataPopular, Renato Meirelles, retirada da notícia “Classe C já
é a que mais compra móveis, diz pesquisa” publicada no Portal G1.
6 Para Renato Meirelles, diretor do DataPopular, o maior poder de compra e a expansão
do crédito não são os únicos fatores para a inversão de posições. “Há uma questão
demográfica. As idades das classes sociais são diferentes e a maioria das novas casas que
estão sendo montadas é de classe C”, afirma.
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE
A Pirâmide Populacional Dividida em Classes Econômicas
tagnação econômica causada pela crise global até os elevados índices de mobi-
lidade social causado principalmente pelo aquecimento da economia. (NERI, 2010)
3 O gráfico abaixo mostra pirâmides populacionais divididas em classes econômicas
dos anos de 2003, 2008 e 2009. Entre o período de 2003 a 2009 apresentam-se
percentuais de mobilidade para a classe A de 40,99%; para a B, de 38,51%;
para a C, de 34,32%; para a D, de -11,63%; e para a E, de -45,50. Ou seja, nesse
período, mais de 6 milhões de brasileiros ingressaram nas classes A e B, mais
de 29 milhões ingressaram na classe C, enquanto mais de 20 milhões saíram da
classe E, deixando a faixa de pobreza.
40
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
7 Ele lembra que, nas classes A e B, 17% tem menos de 16 anos e 47% mais de 41 anos. Já
na classe C, 25% tem menos de 16 anos e 35% está acima de 41.
8 A ascensão da classe C abre oportunidades de novos negócios, mas também aponta para
a necessidade de produtos diferenciados e com tamanhos adequados. “Como os imóveis
são menores, os móveis também precisam ser menores. Num apartamento de 45 metros
quadrados, quanto mais armários com portas de correr, melhor”, diz Meirelles.
9 Entretanto, segundo ele, se engana quem pensa que a classe C troca qualidade por menor
preço. “Já foi o tempo que você tinha que ter produto barato para atender a classe C.
Com o crédito, o consumidor não se importa em pagar um pouco mais se o produto durar
mais que a duração das prestações”, diz. “E a nova classe C já leva em conta também a
decoração. Acabou essa história de pegar a poltrona de um, o sofá do outro. Agora tem
de ser tudo combinando”. (PORTAL G1, 2010)
10 Neste sentido, o objetivo foi desenvolver um móvel, que estivesse alinhado com
as novas necessidades do consumidor de classe C, principalmente em seu novo
ambiente residencial, que vem se modificando juntamente com as estruturas
sociais e econômicas.
11 Para que o móvel realmente traduzisse as necessidades do ambiente doméstico
contemporâneo, foi realizada uma pesquisa exploratória e causal com pessoas de
classes B e C em redes sociais, descrita na página 42. O intuito foi identificar os
ambientes e móveis mais problemáticos e também a percepção da materialidade
do móvel para o consumidor.
12 A problemática apresentada no questionário levantava questões como sustentabi-
lidade, imóveis residenciais pequenos e espaços polivalentes, ou seja, fatores que
atingem diretamente o mobiliário doméstico e o publico em geral. No entanto,
uma faixa dos entrevistados se mostrou mais afetada pelo grupo de tendências
abordadas no questionário.
13 Tudo levou a entender que, para o consumidor de classe C, a materialidade do
móvel reciclado não deveria remeter sua origem ou a estética da reciclagem, e sim
parecer com o mobiliário convencional.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
41
3. PARTE III – Metodologia e Resultados
3.1. Metodologia
1 Para o desenvolvimento do produto foi utilizado o Procedimento básico de design
de Bruce Archer (DUBBERLY, 2004). Archer propõe esse modelo como uma re-
presentação de um “terreno comum” no âmbito da ciência do método de projeto,
ainda que se reconheça algumas particularidades relativas ao território do design.
2 O Procedimento básico de design de Bruce Archer, de acordo com Bonsiepe (1984
apud VASCONCELOS, 2009) se caracteriza como linear e temporal, ou seja, há
uma sequência de ações ou etapas nas quais sempre dependerá do resultado da
etapa anterior. A estrutura principal se divide em três fases: fase analítica, fase
criativa e fase executiva, as quais englobam importantes etapas de procedimentos
para o desenvolvimento do projeto.
3 Mas Archer (1964) indica que: “Na prática, os estágios se sobrepõem e, muitas vezes
confundido, com retornos frequentes aos estágios iniciais, quando enfrentam di-
ficuldades e obscuridades encontradas.” (ARCHER, 1964 apud DUBBERLY, 2004)
4 Portanto, apesar de esse procedimento ser linear, pode contar com os fee-
dbacks das etapas posteriores, o que o torna mais dinâmico e versátil para
ajustes finais no projeto.
Diagrama reeditado na revista Ulm e vários outros lugares (ARCHER, 1964; CROSS,1984, 2000; ROWE, 1987
apud DUBBERLY, 2004).
42
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
3.1.1. Fase analítica
1 Na fase analítica também estão inclusas as atividades relacionadas ao capítulo “O
produto” (pág. 32), que tratam da problematização e da justificativa: “natureza do
projeto” (pág. 33), “análise setorial” (pág. 34) e “público-alvo” (pág. 38).
2 Além desses textos, também foram realizadas outras quatro atividades: “Pesquisa
exploratória” (pág. 42), “Pesquisa causal” (pág. 49), “Tendências em design”
(pág. 52), “Pesquisa de imóveis” (pág. 52), “Pesquisa de home offices” (pág. 60) e
“Pesquisa sobre materiais reciclados” (pág. 65).
3 Essas atividades sintetizam a problematização do produto, contemplando a es-
trutura de briefing proposta por Peter Phillips (2008), mencionada anteriormente.
4 Nessa fase, verificaram-se as principais questões relativas ao móvel doméstico,
que deram direção para uma proposta de solução na fase criativa.
3.1.1.1. Pesquisa Exploratória
1 A pesquisa exploratória teve como finalidade apontar um móvel específico para
o desenvolvimento do produto, não tendo como objetivo ser uma conclusão real
da situação do mobiliário doméstico, pois seu universo representativo, sessenta
e três pessoas, é considerado muito pequeno. Nesse sentido, é apenas uma amos-
tragem, que pode ou não refletir o universo total de consumidores. No entanto,
o desenvolvimento deste trabalho de conclusão de curso é uma base prática de
inovação, pois utilizou a internet e as redes sociais para detectar anseios e neces-
sidades dos consumidores.
2 A próxima economia depende principalmente da inovação social. Dada essa natureza, as
inovações da próxima economia são principalmente criadas e realizadas pelos grupos de
pessoas diretamente envolvidas no problema que elas têm de solucionar, e não tanto por
especialistas ou políticos. (MORAES, 2010, p. X apud MANZINI)
3 Durante o período de 30 de abril a 16 de maio, foi realizada uma pesquisa na
internet com 63 pessoas com o interesse central de entender a situação/problema
do mobiliário doméstico por depoimentos de usuários. Foram abordadas questões
restritamente relacionadas ao mobiliário, envolvendo a percepção do consumidor
em relação às funções dos móveis, do espaço residencial e dos materiais.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
43
4 Para a fundamentação metodológica e o desenvolvimento da pesquisa, foi uti-
lizado o livro Pesquisa de Marketing – Uma Orientação Aplicada, organizado por
Naresh K. Malhotra (2004).
5 A pesquisa foi exploratória, com perguntas estruturadas, e foi realizada com
pessoas de idade, sexo e classe social diferentes, selecionadas em redes sociais
como Facebook© e Orkut©.
6 As perguntas ofereciam opções de respostas alternativas, podendo ser múltipla
escolha, dicotômica ou em escala. Muitas das perguntas tinham imagens, com
o intuito de estabelecer referências para uma resposta baseada em comparação.
7 O convite para a participação foi realizado por e-mail, e o assunto foi colocado
de forma direta, ou seja, todos os entrevistados ficaram a par do projeto, das in-
tenções e das conclusões. O formulário de pesquisa está disponível na plataforma
JotForm (http://www.jotform.com/form/11140033796), e o resultado da pesquisa
foi divulgado para todos os participantes no blog http://raphaelcardoso.wordpress.
com. Nos anexos deste documento encontra-se o modelo de formulário utilizado.
8 Além do resultado geral também foram ressaltados, quando pertinentes, re-
sultados que representavam universos específicos, como casal sem filhos, pessoas
que moram sozinhas, que trabalham em casa, e em residências pequenas.
Resultados
9 A pesquisa apontou que o ambiente do escritório tem o maior índice de insa-
tisfação com relação ao mobiliário residencial. Entre os dezesseis móveis su-
geridos na pesquisa com problemas relacionados às funções prática e estética,
não por acaso, a mesa de computador obteve maior ocorrência de problemas,
representando mais que o dobro em relação aos outros móveis.
10 Nesse sentido, é importante entender a realidade do público-alvo, que se configura
da seguinte forma: 33% dos entrevistados trabalham em casa; 38% trabalham em
área comum, ou seja, compartilham do ritmo do ambiente doméstico no horário
de trabalho; 75% compartilham sua residência com 3 até 5 pessoas; 50% tem
problema de falta espaço na residência.
11 A realidade observada na pesquisa reflete uma situação muito inadequada para
um ambiente de escritório doméstico, onde, além dos problemas relacionados
à mesa de computador, somam-se questões relacionadas à falta de espaço e a
44
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
espaços polivalentes. Portanto, o móvel de escritório residencial foi o produto
escolhido para ser desenvolvido sob a ótica da inovação.
12 No entanto, esse tipo de móvel é tratado dentro de um contexto mais amplo,
integrando uma estação de trabalho, que pode ser composta por uma grande
quantidade de itens, como mesa, cadeira, estante, gaveteiro entre outros móveis.
Por essa razão, a composição da estação de trabalho somente foi definida na
“Pesquisa de home offices” (pág. 60), quando foram analisadas as necessidades de
acordo com todo o cenário a ser constituído ao longo de outras pesquisas.
13 Os resultados da pesquisa referente aos materiais foram discutidos na “Pesquisa
sobre materiais reciclados” (pág. 65).
PERFIL DOS ENTREVISTADOS
EntrEvistados por sExo
•65% dos que trabalham em casa são
mulheres
EntrEvistados por idadE
•A faixa etária de entrevistados variou
de 18 a 65 anos
•Havendo concentrações maiores nas
idades de 24 e 29 anos
•A faixa etária dos que trabalham em
casa é de 21 a 60 anos
EntrEvistados por EscolaridadE
•65% dos que trabalham em casa têm
nível superior
EntrEvistados por árEa profissional
•Mais de 50% dos entrevistados são
das áreas de Comunicação, Artes e
Educação
•Trabalham em casa entrevistados
das áreas de Administração, Artes,
Arquitetura e Design, Comercial
e Vendas, Educação, Engenharia,
Informática, Jurídica e Saúde
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
45
EntrEvistados por Estado
•90% dos entrevistados moram
na região sudeste
EntrEvistados quE trabalham Em casa
•33% dos entrevistados
trabalham em casa
trabalham Em quE tipo dE ambiEntE
•38% trabalham em uma área comum
da residência, tipo sala ou hall
númEro dE moradorEs por rEsidência
•36% dos entrevistados moram
sozinhos ou são casais de renda
dupla sem filhos
•75% dos entrevistados que trabalham
em casa moram com 3 a 5 pessoas
númEro dE cômodos por rEsidência
•13% mora em residências
consideradas muito pequenas, de 3
a 4 cômodos. (quarto, sala, cozinha,
banheiro, área de serviço)
•41% mora em residências pequenas
NECESSIDADES UTILITÁRIAS E ORGANIZAÇÃO
noção Espacial
•41% dos entrevistados associam
organização a espaço livre
•59% percebe o espaço organizado
quando extremamente mobiliado
46
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
nívEl dE satisfação dos móvEis nos ambiEntEs
•O maior índice de insatisfação está
nos móveis de escritório
insatisfação com a função prática dos móvEis
•O maior índice de insatisfação é com
a mesa de computador, que chega
a ser o dobro do sofá, seguido do
armário
insatisfação com a função Estética dos móvEis
•O maior índice de insatisfação é com
a mesa de computador, que chega a
ser quase o dobro da cama
compra Em lojas rElacionadas a ambiEntEs
•O maior índice de compra de móveis
para escritório foi na Tok&Stok,
totalizando quase o dobro da Etna e
da Magazine Luiza, o que representa
50% dos entrevistados que trabalham
em casa
problEma com falta dE Espaço na rEsidência
•51% dos entrevistados têm problema
de falta de espaço na residência
•Esse dado amplia a falta de espaço
para móveis com até 7 cômodos
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
47
motivo rElacionado à falta dE Espaço
•31% dos entrevistados alegam
que os móveis ocupam muito
espaço, o que amplia o uso do
conceito de multifuncionalidade e
compatibilidade
os móvEis cumprEm mais dE uma função
•Mais de 50% confirma que o móvel
cumpre mais de uma função, mesmo
que não seja feito para isso
mudam os móvEis dE lugar
•33% dos entrevistados mudam os
móveis de lugar
mudam os móvEis com qual frEquência
•Mais de 50% mudam os móveis de
lugar em até três meses
Em quais ambiEntEs
•Grande maioria na sala, seguida do
quarto
•A mudança no escritório é baixa,
apenas 13%, mas é importante lem-
brar que esse universo representa
quase a metade dos que trabalham
em casa, que são 33% dos entre-
vistados
quais os modElos dE cozinha
•71% possuem cozinhas normais,
porém pequenas
•19% possuem cozinhas americanas,
sendo 11% consideradas bastante
pequenas
48
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PERCEPÇÃO SOBRE MATERIAIS
compraria móvEl dE matErial rEciclado
•98% admitiu que compraria um
móvel de matéria-prima reciclada
•Os 2% são representados por 1
pessoa
podEria parEcEr rEciclado
•78% mantém uma resistência
quanto à estética do material. Pro-
vavelmente por dois motivos: 13%,
por algum tipo de aversão a lixo; e
os outros 65% podem ser por ques-
tões decorativas
gosta do plástico imitando outros matEriais
•Quase 50% dos entrevistados têm
resistência quanto à estética do
mimetismo
os EntrEvistados rElacionam os matEriais com os
ambiEntEs da sEguintE forma
•A madeira é o material de maior
aceitação em ambientes de convívio
social e entretenimento, como sala
e quarto
•Materiais de maior resistência e
melhor limpeza são preferência na
área de serviço, banheiro e cozinha
gostaria quE o móvEl EstimulassE outras sEnsaçõEs
•74% dos entrevistados gostariam de
ter uma maior relação sensorial com
seus móveis
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
49
quais os sEntidos gostaria quE EstimulassE
•Mais da metade gostaria de ampliar
a experiência do tato, seguidos do
olfato e audição com ¼ das áreas
de estímulo
critério dE compra para móvEis
Maior preferência por:
•Nem muito quadrado nem muito
redondo
•Nem muito colorido nem muito
neutro
•Maior preferência por mobilidade
•Maior preferência por moderno
•Nem muito leve nem muito pesado
3.1.1.2. Pesquisa Causal
1 De acordo com Malhota (2004), a pesquisa causal é um tipo conclusivo no qual o
principal objetivo é obter evidencias relativas a relações de causa e efeito. Nesse
sentido, o intuito é compreender os fatores agravantes que tornam a mesa de
computador pouco funcional e atrativa no ambiente doméstico, como foi identi-
ficado na pesquisa exploratória (pág. 42).
2 Para realizar esta pesquisa foram solicitadas fotos do ambiente de escritório de 5
entrevistados que afirmam trabalhar em casa. A análise das imagens baseou-se
em 2 grupos de causa: na mesa de computador e no ambiente.
3 Quanto à mesa do computador, constatou-se que sua função se amplia para
outros usos, como escrever e organizar objetos de diversos fins. Observa-se que
outros equipamentos eletrônicos são inseridos sobre a mesa, como impressoras e
scanners, o que ocasiona perda considerável de espaço útil. Também é importante
frisar que em apenas uma das cinco imagens a mesa tem suporte para o teclado,
revelando questões inadequadas na ergonomia.
4 Quanto ao ambiente, foram encontradas diferentes situações entre ambientes
dedicados ou polivalentes, podendo ser sala+escritório ou quarto+escritório. Esse
fato revela adequações inteligentes pelos usuários, fazendo uso de aparadores
50
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
ou mesa de jantar como mesa de computador, em sintonia com o intuito desse
trabalho, em otimizar o espaço ou desenvolver um móvel multifuncional.
5 Nesse sentido, é interessante observar o quanto a mesa de computador é recente
no ambiente doméstico se comparada com o mobiliário convencional. A mesa
de computador foi uma adaptação da mesa tradicional, que, aliás, já está em
decadência, pois a era dos notebooks já subverte completamente a relação de uso
entre usuário e computador.
6 No entanto, a atividade laboral ainda necessita de um espaço minimamente pre-
parado, sendo a mesa a melhor mediadora para a função, pois apresenta as me-
lhores condições ergonômicas. Contudo, a mesa pode e deve ser repensada para
sua relação com o ambiente, pois a redução dos espaços no ambiente doméstico
implica um novo dimensionamento dos móveis.
Nome: J.P.
Idade: 33
Profissão: Historiador
Numero de pessoas na residência: 2
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
51
Nome: R.F
Idade: 25
Profissão: Designer
Numero de pessoas na residência: -
Nome: A.P.G.
Idade: 43
Profissão: Pesquisadora
Numero de pessoas na residência: 2
Nome: W.H.
Idade: 60
Profissão: Escritor
Numero de pessoas na residência: 2
Nome: V.L.
Idade: 23
Profissão: Designer
Numero de pessoas na residência: 3
52
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
3.1.1.3. Tendências em design sustentável
1 Na concepção de produtos sustentáveis de Manzini e Vezzoli (MANZINI e VEZZOLI,
2008), os projetistas devem interpretar e estimular as ideias socialmente aceitáveis,
culturalmente atraentes e ambientalmente sustentáveis. (DEMAJOROVIC; VILELA, 2006,
p. 290)
2 O produto sustentável deve ser concebido com atenção especial para cada fase
do seu ciclo de vida, que são: pré-produção, produção, distribuição, consumo e
descarte. Nesse sentido, o produto sustentável deve ser pensado para que cada
etapa desse ciclo seja sempre mais eficiente e nunca quebrada. (MANZINI e
VEZZOLI, 2008)
3 A pesquisa de tendências em design sustentável foi realizada em três grupos. O
primeiro voltou-se aos móveis da última edição da Bienal de Design Paraná, sendo
apenas selecionados os que foram desenvolvidos com materiais reaproveitados
ou reciclados. O segundo, com os móveis premiados das três últimas edições do
Salão Design Casa Brasil. E o terceiro, com alguns trabalhos selecionados no livro
de Fuad-Luke (2004), The Eco-Design, que ilustram um cenário internacional
muito criativo do ecodesign.
4 O ponto em comum entre os móveis da Bienal de Design é que todos foram
fabricados com matéria-prima reaproveitada, a não ser o Banco DC-3, que é
feito de matéria-prima reciclada. A Cadeira Pallet e o Banco Cabelo entram em
um padrão estético que pode contrastar radicalmente com uma decoração tra-
dicional. A poltrona Rio Manso segue uma linha tradicional do móvel moderno
brasileiro, enquanto o banco DC-3 segue uma linha de móvel futurista, talvez
mais adequado para ambientes como escritórios.
5 Nos móveis selecionados no Salão Design Casa Brasil, a maioria dos trabalhos
traduz simplicidade nas formas e no uso racional dos materiais. Uso de cores
uniformes e vibrantes, multifuncionalidade e compactabilidade são aspectos pre-
sentes em móveis relacionados a ambientes menores, como cozinha e escritório.
6 Já no livro The Eco-Design os exemplos selecionados trabalham as soluções prin-
cipalmente no âmbito da forma e do material. As cadeiras favela e Coca-Cola
estão focadas no conceito de reaproveitamento de materiais, enquanto a Body
Ralf e Tis Chbockisch trabalham o uso racional dos materiais por meio da forma.
7 O principal aspecto presente nos móveis de apelo sustentável é sem dúvida o uso
dos materiais, no entanto, os produtos que apresentam o uso da matéria-prima
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
53
relacionado intrinsicamente com a forma, a fim de dar uma solução otimizada,
alcançam um patamar de excelência.
8 Conceitos como compactabilidade, multifuncionalidade e regionalismo foram
observados nas pesquisas com muita frequência, o que aponta para uma direção
no design de móveis, onde pode-se concluir que os espaços estão se reduzindo;
além disso, o cotidiano tem exigindo um mobiliário mais preparado para a di-
nâmica social das grandes cidades, enquanto ao mesmo tempo observa-se uma
necessidade muito grande de se resgatar o regionalismo em consequência da
massificação e da perda de identidade cultural.
Bienal de Design Paraná
Cadeira Pallet
O móvel reaproveita pallets de madeira provenientes de empresas
que movimentam grandes cargas o que são doadas para a Asmare
Cooperativa de Catadores de Belo Horizonte. O material possibilita
produção modulada, com emprego quase integral das caixas.
Disponível em várias cores, pode ter assentos opcionais de lona de
banners reutilizados.
Banco Caipira
Feitos integralmente de peroba rosa ou timbaúva de demolição,
os bancos recuperam a linguagem do ícone cultura tradicional
caipira, um modelo de assento em que o conforto ergonômico é
sabidamente obtido. Os móveis não utilizam pregos, parafusos
ou colas e tomam sua forma por meio de um sistema simples de
encaixe. São vendidos desmontados: três bancos na caixa ocupam
o volume de um montado, o que leva à economia de espaço e de
combustível. Fragmentos são reaproveitados em jogos, mosaicos e
painéis, e a serragem, em prensagem ou adubação.
Poltrona Rio Manso
Poltrona de peroba rosa proveniente de demolição de casarões
paulistas. Utiliza um pouco de cola industrial a base de água
e tem opções como a de estofado solto ou apenas na madeira.
Simplicidade e despojamento.
Banco Cabelo
Feito de papelão, parte do princípio que as embalagens de
eletrodomésticos já poderiam vir com a proposta de ser tornarem
um novo objeto.
54
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
Banco DC-3 e cadeira Bebop
Feito de alumínio de liga especial B4H, reciclado de componentes
de aeronaves, utiliza processos e técnicas empregados no setor da
aviação. Produto coerente com a lei dos resíduos sólidos.
Salão Casa Design
2010
PREMIADO INDÚSTRIA – Linha Caruaru
Caruaru é uma linha de móveis inspirada no improviso da
Feira de Caruaru, uma das maiores feiras livres do mundo,
patrimônio cultural do Brasil, há mais de 200 anos no agreste de
Pernambuco. O escritório Rosenbaum® criou uma nova linha de
móveis à venda exclusivamente na loja Micasa e produzida pela
indústria Artefama.
O desenho dos móveis resgata os fundamentos construtivos
e as formas dos mobiliários de exposição da feira. O material
principal é a madeira pínus cultivada de forma natural. A
Linha Caruaru é uma homenagem ao pensamento simples,
autêntico, que permite reinventar-se todo dia. Traz essa riqueza
tão abundante Brasil afora para dentro de nossas casas, como
exaltação da essência do popular brasileiro.
MENÇÃO HONROSA PROFISSIONAL – Cavalete Regata
O Cavalete Regata é confeccionado em madeira maciça (Pinnus
Taeda), certificada com o selo FSC, e prima pelo consumo
responsável dos recursos naturais.
Detalhes em couro legítimo aliam funcionalidade e estética,
além do design do produto que, quando aberto, adquire robustez
e tridimensionalidade, e, quando fechado, torna-se compacto,
facilitando o transporte e o armazenamento.
Ideal para utilização com tampos de vidro em estações de
trabalho em home offices.
PREMIADO ESTUDANTE – Cadeira Trapézio
Desenvolvido para simplificar a fabricação por meio de uma
forma única, com a preocupação consciente do uso racional dos
materiais e seus processos de produção, a cadeira é composta
apenas por três peças diferentes. Com isso têm-se a criação de
um móvel racional que agrega a estética por meio das formas
geométricas, dos encaixes e dos materiais. É desmontável, pois o
sistema de estruturação é feito por duas barras de aço, onde nas
pontas se prendem porcas e arruelas para dar o aperto nas peças
de madeira. Isso facilita não só a fabricação mas toda a logística
que envolve embalagem, transporte, armazenagem, uso, desuso
e manutenção.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
55
MENÇÃO HONROSA – P200
Composta por três módulos, que podem ser usados
separadamente ou encaixados, a linha de mobiliário compacto
é uma alternativa incrível para mobiliar ambientes integrados
e para quem vive em um espaço reduzido. O Módulo Bancada
tem pia com torneira retrátil, fogão elétrico de duas bocas, local
para lixo reciclável e um tampo giratório que pode ser usado
nas refeições. O mobiliário é feito em MDF, tem detalhes em
aço cromado e dobrado, acrílico termomoldado nas banquetas,
acabamento em pintura com pistola e ainda é personalizável.
FINALISTA – Matuta
A coleção do designer alagoano Ronaldo Edson da Silva,
denominada AGUUU!, é composta por móveis, luminárias e
objetos confeccionados com matéria-prima proveniente do lixo
(papelão) e tecidos coletados em ateliês e adquiridos em lojas
populares de Maceió. Tem como inspiração as festas populares
nordestinas, o estilista japonês Kenzo Takada e a teoria do caos.
A coleção segue o conceito do it yourself! (faça você mesmo). O
processo utilizado para a confecção dos produtos é o de corte,
dobra, cola e encaixe, possibilitando que sejam produzidos de
forma manual, semi-industrial e/ou industrial.
FINALISTA – Armário Surf
O armário surf possui nicho lateral para colocação de até duas
pranchas, com proteção emborrachada na base – para não
arranhar nem o móvel nem a prancha. A base em pínus tingido
possui rodízios industriais. Completa a linha um cabideiro em
MDF recortado em forma de onda.
2008
PRÊMIO MÉRITO SOCIAL – Silla Rollitos de Totora
Conferindo o resultado do Salão Movelsul, que estará em
exposição na feira deste ano, me deparei com a “SILLA ROLLITOS
DE TOTORA”, vencedora do PRÊMIO MÉRITO SOCIAL. O designer
peruano Ricardo Geldres Piumatti projetou a cadeira usando
materiais locais.
56
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
PRÊMIO DE MADEIRAS ALTERNATIVAS – Chaise Zonza
A CHAISE ZONZA, faturou o PRÊMIO IBAMA, com design de
Eduardo Gomes Baroni, do Rio de Janeiro. Além de utilizar
madeira com tratamento à prova d’água, a zonza ainda é de
balanço, ou seja, uma “chaise querendo ser rede”!
PREMIADO INDÚSTRIA – Entrelinha
Além do IF Design Award, a Entrelinha já conquistou o concurso
ML Produz Design e o Salão Design Movelsul 2008, o mais
disputado concurso de mobiliário da América Latina.
MENÇÃO HONROSA PROFISSIONAL – Scrigno
PREMIADO PROFISSIONAL – Muestra
Multifuncionalidade e compactabilidade
2006
PREMIADO IBAMA – Banco Pará
A categoria Prêmio Ibama é de Luís Eduardo Camargo Ribeiro
Valle, de Rio Branco, no Acre. Ele é responsável pelo projeto
Banco Pará (foto ao lado). O produto vai lhe valer passagem e
diárias para uma viagem para visitar o Laboratório de Produtos
Florestais, em Brasília, e um local da Região Amazônica, onde
conhecerá técnicas de manejo sustentável de floresta tropical.
PREMIADO ESTUDANTE – Móveis para refeições Mult
Compactabilidade e multifuncionalidade.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
57
The eco-design hand book
Cadeira Favela
Irmãos Campana – É uma cadeira feita de muitos pedaços
de madeira natural, semelhante às casas da favela que
são construídas no Brasil. Coladas e pregadas à mão,
deliberadamente, faz com que cada cadeira seja única. (EDRA)
Body Raft
Michael Sodeu – Conceito orgânico com uso racional de
matéria-prima.
Coca-Cola escultura cadeira
Bar+Knell – Utiliza chapas de propaganda em plástico.
Tis Chbockisch
Jakob Timpe – Solução de encaixe simples que dispensa
acabamentos e outros materiais, a não ser da própria estrutura.
58
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
3.1.1.4. Pesquisa de imóveis
1 Para contextualizar o móvel doméstico aos novos padrões residenciais que as
construtoras têm oferecido no mercado, foi realizada uma pesquisa de imóveis
direcionados para a classe C.
2 A principal fonte de pesquisa foi o 7o Feirão Caixa Econômica Federal, que
ocorreu de 13 até 15 de maio de 2011. Foi realizada uma simulação on-line,
no site http://www.feirao.caixa.gov.br, com imóveis para famílias de jovens com
renda equivalente à classe C1, de R$ 2.000,00 até 4.000,00. Os imóveis oferecidos
para esse perfil de compradores são de normalmente até 50m2.
3 Para melhor rendimento do trabalho no home office, o ambiente mais adequado
deve ser separado do dia a dia doméstico, ou seja, um cômodo dedicado seria o
ideal. No entanto, pelo tamanho dos imóveis, como se vê nessa pesquisa, difi-
cilmente um profissional de classe C poderá se dar a esse luxo, tendo inevita-
velmente de conviver com ambientes polivalentes, exceto que more sozinho.
4 Dentro dessa realidade, a sala e o quarto são os ambientes mais prováveis para
o uso compartilhado com o home office. No caso de ser a sala, se o imóvel for
residido por até duas pessoas, sendo uma que trabalhe fora, poderá ter uso po-
livalente dentro de uma faixa de horários. No caso do quarto, ampliam-se as si-
tuações, por exemplo, normalmente, se for residido por um casal, um dos quartos
será utilizado como closet e quarto de visitas. Entretanto, esse ambiente poderá
ainda funcionar como um home office, podendo acumular até três funções. A
outra situação possível seria cada morador residir em um quarto, criando-se um
ambiente polivalente entre quarto e home office.
5 Portanto, para atender às necessidades do público alvo, a ideia inicial foi de-
senvolver um home office de forma que dialogue com ambientes polivalentes,
levando em consideração principalmente a falta de espaço desses ambientes. Daí
a importância de conceitos como multifuncionalidade e compatibilidade.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
59
SÃO PAULO – JABAQUARA
Rua Bocoroca, 103
Empreendimento: San Cristovan
Área útil: 47m²
Dormitórios: 2
Vagas: 1
SÃO PAULO – SANTO AMARO
Rua Jupi, 215
Empreendimento: Spazio Santo Amaro
Área útil: 43m²
Dormitórios: 2
Vagas: 1
À vista: R$ 189.928,00
SÃO PAULO – CAMPO LIMPO
Rua Januário Zingaro, 436
Empreendimento: San Pablo
Área útil: 46m²
Dormitórios: 2
Vagas: 1
À vista: R$ 140.881,00
60
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
3.1.1.5. Pesquisa de home offices
1 O objetivo desta pesquisa foi identificar os principais móveis que compõem a
estação de trabalho e os materiais utilizados, a noção espacial e organizacional.
Foram utilizadas imagens de ambientes elaboradas por empresas como Tok&Stok,
Site Simples Decoração e Ikea.
2 Os principais móveis relativos à estação de trabalho para ambientes polivalentes
são: a mesa e cadeira, estrutura básica; o gaveteiro e/ou prateleira e/ou armário e
luminária, indispensáveis para organização e fluxo na mesa de trabalho.
3 Por intermédio das imagens é fácil identificar a importância da mesa no ambiente
de trabalho, podendo até ser comparada com a da cama em um quarto de casal.
Todos os elementos se estabelecem em torno dela a fim de servi-la na produção
laboral. Esse modelo de “estrutura de arranjo” também é relatado por Jean Bau-
drillard (2006) em “O sistema dos objetos”.
4 A configuração do mobiliário é uma imagem fiel das estruturas familiais e sociais de
uma época... Os móveis, diversos na sua função, mas fortemente integrados, gravitam
em torno do guarda-louça ou leito central... Cada cômodo possui um emprego estrito
que corresponde às diversas funções da célula familiar e ainda remete a uma concepção
do indivíduo como de uma reunião equilibrada de faculdades distintas. Os móveis se
contemplam, se oprimem, se enredam em uma unidade que é menos espacial que de
ordem moral. (BAUDRILLARD, 2006, p. 21)
5 Pela posição da mesa é possível identificar o tipo de ambiente social retratado
nas imagens. Quando centralizada no cômodo, percebe-se que todo o espaço
está dedicado à atividade laboral, deixando o campo de visão livre para interagir
com o restante do ambiente. Quando encostada em uma parede há uma redução
drástica no campo de visão em relação ao ambiente, o que sugere um ambiente
polivalente, sujeito a atividades que não são relativas à estação de trabalho.
6 Pela posição da mesa também é possível estabelecer um nível de significação
social; quando a mesa é central no ambiente, caracteriza uma postura patriarcal
em imposição às pessoas no cômodo. Diferentemente de quando está encostada
na parede, apenas cumprindo sua função prática, sem maiores simbolismos.
7 No entanto, Baudrillard, no texto anterior, reflete sobre um modelo social pa-
triarcal, antigo e distante de toda a nova realidade social que foi abordada até
o momento pelas pesquisas deste trabalho. Mas no texto “O objeto moderno
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
61
liberto em sua função”, reconhece essas grandes mudanças sociais ocorridas com
o passar dos séculos.
8 “Ao mesmo tempo em que mudam as relações do indivíduo na família e na sociedade,
muda o estilo dos objetos mobiliários. Cosys*, camas de canto, mesas baixas, prate-
leiras, elementos suplantam o antigo repertório de móveis. A organização também
muda: o leito dissimula-se em sofá-cama, o buffet e os armários em armários embutidos
escamoteáveis. As coisas dobram-se, desdobram-se, são afastadas, entram em cena no
momento exigido. Claro, estas inovações não têm nada de uma livre improvisação: na
maior parte do tempo essa maior mobilidade, comutabilidade e conveniência são somente
o resultado de uma adaptação forçada à falta de espaço. É a pobreza que inventa. E se
a velha sala de jantar era sobrecarregada por pesada convenção moral, os interiores
‘modernos’, na sua engenhosidade, produzem frequentemente o efeito de expedientes
funcionais. A ‘ausência de estilo’ é primeiro ausência de espaço e a funcionalidade
maximal uma solução da adversidade onde o domicílio, sem perder seu confinamento,
perde organização interior.” (*) Cosy: divã com prateleiras, destinado a um ângulo da
peça. (BAUDRILLARD, 2006, p. 23)
9 Nesse sentido, o home office é fruto de um novo modelo social, proporcionado
principalmente pela era da informação com o advento da internet. No entanto,
a ideia de trabalhar em casa, que pode parecer o sonho de qualquer trabalhador
– tendo em vista todos os benefícios que o poupam de situações como trânsito,
comida de má qualidade na rua, ambiente de trabalho estressante, sem falar, em
gastos em transporte, vestimenta entre outras situações – pode se tornar uma
rotina massacrante, se o home office não oferecer a estrutura necessária para
otimização do tempo de trabalho e prática laboral, o que envolve principalmente
ergonomia.
10 Portanto, os elementos que configuram o home office são a mesa e a cadeira, o
gaveteiro, a estante ou a prateleira. No entanto, esse conjunto de móveis isola-
damente não atende às questões inicialmente levantadas quanto à multifunciona-
lidade e aos ambientes polivalentes. Nesse sentido, após reconhecer a importância
da mesa para o processo laboral e identificar a estante ou as prateleiras como
elementos de organização, a proposta de produto final é a junção da mesa de
computador com uma estante, onde foi levada para exercício na “Fase Criativa”
(pág. 70) e foram verificadas as possibilidades técnicas e ergonômicas para sua
realização.
62
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
Ambiente: Dedicado
Elementos móveis: Mesa, cadeiras, estante
Materiais: Madeira, plástico e metal
Tok&Stok
Ambiente: Dedicado
Elementos móveis: Mesas, cadeiras, lumi-
nária, poltrona
Materiais: Madeira, plástico e metal
Tok&Stok
Ambiente: Dedicado
Elementos móveis: Mesas, cadeiras, poltro-
na, luminária
Materiais: Madeira, metal
Tok&Stok
Ambiente: Polivalente – Quarto
Elementos móveis: Mesa, cadeira, prateleira
Materiais: Madeira, metal
http://www.simplesdecoracao.com.
br/2010/06/home-officestrabalhando-com
-prazer/
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
63
Ambiente: Polivalente – Sala
Elementos móveis: Mesa, cadeira, armário,
gaveteiro
Materiais: Madeira, metal
http://www.simplesdecoracao.com.
br/2010/06/home-officestrabalhando-com
-prazer/
Ambiente: Polivalente – Hall
Elementos móveis: Cadeira, armário mesa
Materiais: Madeira, metal
http://www.simplesdecoracao.com.
br/2010/06/home-officestrabalhando-com
-prazer/
Ambiente: Polivalente – Quarto
Elementos móveis: Mesas, cadeiras, estante
Materiais: Madeira, metal
http://www.simplesdecoracao.com.
br/2010/06/home-officestrabalhando-com
-prazer/
64
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
Ambiente: Polivalente – Quarto
Elementos móveis: Cadeira, mesa, gavetei-
ros
Materiais: Madeira, metal
Ikea
Ambiente: Polivalente – Sala
Elementos móveis: Cadeira, mesa, estante,
aparador, fichário
Materiais: Madeira, metal
Ikea
Ambiente: Polivalente – Quarto
Elementos móveis: Cadeira, mesa, pratelei-
ra, gaveteiro
Materiais: Madeira, metal
Ikea
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
65
3.1.1.6. Pesquisa sobre materiais reciclados
1 De acordo com a Pesquisa Exploratória (pág. 42), na parte relativa a materiais, foi
possível verificar total de aceitação do público pelo uso de materiais reciclados em
móveis do ponto de vista potencial. No entanto, há uma clara resistência com relação
à estética desses materiais, que pode ter duas origens: a primeira relacionada a as-
pectos simbólicos, pois o usuário associa a estética da reciclagem com lixo, causando
aversão; a segunda, associada à estética, pois pode contrastar demais com outros
móveis, em geral de madeira ou metal, descaracterizando uma decoração.
2 Ainda de acordo com a pesquisa, observou-se que o uso da madeira é uma pre-
ferência em ambientes como sala e quarto. Dos entrevistados, 57% toleram o
plástico imitando outros materiais, o que indica uma boa alternativa com o uso
de revestimentos plásticos provenientes da reciclagem de embalagens PET, o que
melhoraria em muito a qualidade estética da madeira plástica.
3 O critério para escolha dos materiais é que fossem 100% recicláveis e/ou mono-
materiais, com o intuito de manter a integridade para o pós-consumo.
Madeira Plástica
4 A madeira plástica é conhecida internacionalmente como Wood-Plastic Com-
posite (WPC). Esse termo se refere a qualquer compósito que possua madeira e
termofixos ou termoplásticos. O WPC já data do início do século XIX, o Baquelite
foi um dos primeiros a serem comercializados, composto por fenol-formaldeído
e farinha de madeira. Seu primeiro uso comercial teria sido como um botão de
câmbio para Rolls Royce em 1916. (CLEMONS, 2002 apud GORDON, 1988, p. 179)
5 O WPC já era produzido na Europa antes de nos EUA. Uma das primeiras aplicações
importantes da tecnologia WPC nos EUA foi em 1983, quando a Lear Corporation
começou a produzir subtratos para interior de carros utilizado tecnologia italiana
de extrusão com 50% de madeira. (CLEMONS, 2002 apud SCHUT, 1999)
6 No Brasil, a madeira plástica foi comercialmente introduzida tardiamente. Mas
o tema já era pesquisado desde os anos 1990 pela Prof. Eloisa Biasotto Mano.
E atualmente o trabalho de pesquisa continua por meio de sua orientada de
mestrado Elen Pacheco. O trabalho dessas pesquisadoras tem um uma proposta
sustentável, pois a ideia é utilizar resíduos de sacos plásticos que estavam no
lixo e transformá-los em tábuas no laboratório. O produto foi batizado como
Imawood. (FAPERJ, 2008)
66
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
7 O Imawood ainda não está disponível em escala comercial, mas existem em-
presas no país que já oferecem a madeira plástica, apesar de ser produzida em
pequena escala. Elen afirma que no País temos cerca de cinco unidades no Rio
de Janeiro e outras em São Paulo, no Rio Grande do Sul e em Belo horizonte que
trabalham com a madeira plástica. O IMA tem parceria para desenvolvimento
dos produtos da empresa Wisewood, que oferece peças, como dormentes, para
ferrovias. (FAPERJ, 2008)
8 A madeira plástica é um compósito, geralmente na composição de 80% de plástico
polietileno de alta, média e baixa densidades, e 20% de cargas e aditivos que
incluem fibras naturais. No entanto, essa composição pode variar dependendo da
aplicação, como em dormentes de trem, onde há uso de fibra de vidro. O aspecto
relevante para a sustentabilidade na madeira plástica é que sua fabricação pode
ser feita com matéria-prima de pós-consumo, como embalagens, sacolas, entre
outros produtos produzidos com PE.
9 Suas propriedades técnicas são muito próximas a da madeira natural, somando-
se qualidades extras como maior resistência a intemperes, é impermeável, é
imune há pragas, não forma farpas, não racha nem empena pelo ressecamento
ou envelhecimento, tem melhor arranque de pregos e parafusos, e como não
possui orientação de fibra não racha quando perfurada. Pode ser trabalhada com
a ferramentaria utilizada para madeira.
10 Atualmente, o uso da madeira plástica no Brasil se limita a áreas externas, como
decks e móveis, e para usos específicos, como dormentes de trem ou na cons-
trução civil. No entanto, em países como China, o uso da madeira plástica já
alcançou uma qualidade superior em custo, processo e aparência mimética, o que
possibilitou expandir seu uso em áreas internas.
11 O preço da madeira plástica em relação ao MDF e ao MDP pode chegar a ser 325%
mais caro. Os fabricantes foram consultados diretamente no intuito de conseguir
um preço de fábrica, sem custos adicionais de terceiros; porém, por uma política
comercial com seus distribuidores, o preço do fabricante é muito aproximado
ao do distribuidor. Foram consultados os preços praticados na cidade de São
Paulo no mês de outubro de 2011 pelos grandes distribuidores. Para a madeira,
plástica foi utilizado o preço da Allpex Brasil; e para o MDF e o MDP, o preço da
Léo Madeiras. Para facilitar a comparação de valores foram transformados para
preço/m3 e preço/Kg.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
67
Preço m3Preço Kg
MDF cru 1.881,11 2,51
MDP cru 1.324,72 2,21
Madeira Plástica 5.500,00 7,33
Tabela 1. Preços do MDF, MDP e WPC.
O preço do quilo pode ter uma pequena variação dependendo da densidade do material, que pode variar por fabricante.
Obtençãodematéria-primaparaoprotótipo
12 Na feira internacional do plástico, realizada no ano de 2010, foi feito contato com
a indústria Wisewood, com o intuito de uma aproximação estratégica a fim de
obter subsídios ao desenvolvimento deste projeto.
13 Com o contato estabelecido e iniciados os primeiros diálogos, foi enviada uma
proposta de parceria. Infelizmente o processo regrediu pois a negociação não
oferecia interesse para nenhuma das partes. No entanto, foi feita a aquisição da
madeira plástica na WBP Produtos Industriais, que é um distribuidor da própria
Wisewood.
14 O material adquirido tinha as dimensões de 150x25x3000 mm, 50x25x3000 mm
e 100x9x4000 mm. Possuía uma tonalidade próxima a da madeira, mas a textura
deixava muito a desejar. Ficou muito evidente sua artificialidade, o que contraria
o desejo da maioria dos consumidores da pesquisa exploratória, que é um móvel
de matéria-prima reciclável, mas com cara de convencional.
Acabamentos
15 Observando-se as características da madeira plástica adquirida e procurando
manter uma coerência com os propósitos do projeto, pensou-se em utilizar como
proposta para o acabamento de superfície da madeira plástica o laminado de PET.
16 Proveniente da reciclagem de garrafas PET, o laminado de PET tem uma apa-
rência muito próxima ao dos revestimentos utilizados na indústria moveleira.
Entre duas empresas consultadas, que apresentavam soluções de laminados para
móveis, a Lamiecco submeteu mostruário completo, além de algumas amostras
para testes.
17 O laminado de PET é resistente a produtos químicos, não apresenta amarelamento,
não racha na moldagem e no corte e possibilita dobras a frio em bordas arre-
dondadas, barreira contra mofos e cupins e também contra umidade e gordura. Os
laudos técnicos desse material estão disponíveis no site do fabricante.
68
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
18 O preço do laminado de PET, com chapas no formato de 3000x1250 mm, pode
variar de R$ 29,90, cores uniformes com texturas simples, até R$ 67,62, imitando
aço escovado. Os padrões que mimetizam madeira são microtexturizados, criando
uma superfície muito autêntica, e estão na faixa de preço de R$ 48,14.
19 A Lamiecco garante reciclar por mês 6 milhões de garrafas PET na produção de
seus laminados.
Madeira Plastica Chinesa e diversas aplicações
Lamindados LAMIECCO
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
69
Revestimentos de Baixo Impacto
EKOBE REVESTIMENTOS ECOLÓGICOS
http://www.ekobebrasil.com
Pastilhado de Coco com pastilhas de 20x20 mm lixadas levemente.
Produto ideal para revestimentos de pisos, paredes e móveis.
GYOTOKU
http://www.gyotoku.com.br/
EcoGlass
WISEWOOD
http://www.wisewood.com.br
Madeira plástica
ARBOFORM
http://www.arboform.com.br
Ambos os produtos são compostos de LIGNINA e FIBRAS (linho, sisal e
cânhamo).
A LIGNINA é obtida da indústria papeleira. Trata-se de produto de
engenharia termoplástica de alta qualidade para aplicações que de-
mandam sofisticados padrões tecnológicos. Combina as propriedades
positivas da madeira natural com a capacidade de processamento de
materiais termoplásticos.
ARBOFILL®
http://www.arboform.com.br
Pode ser extrudado para fabricação de perfis de forma convencional da
mesma forma que a madeira.
Resiste aos raios UV como a madeira natural. Pode ser colorido, pig-
mentado ou pintado.
Aplicações: portas, divisórias, paredes, mesas, esquadrias, peças estru-
turais, etc.
http://www.alluse.com.br
Chapa reciclada de tubo de creme dental texturizado.
70
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
http://www.ecoway.com.br
Chapa fabricada com a reciclagem de embalagens longa vida pré-con-
sumo, com fina camada de plástico reciclado branco.
http://www.alluse.com.br
Material 100% reciclado, obtido em forma de chapas, é produzido com
aparas de tubos de creme dental (resíduo industrial).
http://www.braskem.com.br/plasticoverde
PE e PP feitos a partir de cana-de-açúcar. Uma tonelada de PE ou PP
verde captura até 2,5 toneladas de CO2.
https://www.sabic-ip.com
Resina Valox iQ utiliza 850 g de resíduos pós-consumo (30-60 garrafas
PET). Pode ser utilizada em eletroeletrônicos, automóveis, entre outros,
com vida útil de 20 anos.
http://www.lonatex.com.br
A Lonatex é uma Indústria Têxtil especializada na fabricação e na
venda de tecidos crus e ecológicos, lonas de garrafas PET recicladas,
tecidos PET reciclados, lonas, lonitas, tecidos de juta com algodão,
tecidos PET para impressão digital, sublimação, cretones, tecidos 100%
algodão para forração e fabricação de sacolas ecológicas, ecobags,
embalagens PET, banners, entre outros.
3.1.2. Fase Criativa
20 Na fase criativa, além dos subsídios recebidos da fase analítica, foram realizadas
quatro atividades: painel semântico (pág. 71), pesquisa de eletroeletrônicos (pág. 72),
ergonomia (pág. 73).
21 Nessa fase, trabalhou-se para validar a proposta de um móvel composto por mesa
e prateleiras. Nesse sentido, foi estudada a estrutura de uma estante que, mediante
uma articulação, seria possível reposicionar uma das prateleiras, possibilitando
seu uso como uma mesa.
3.1.2.1. Painel semântico
1 Para o desenvolvimento do painel semântico, foram consideradas todas as
questões apontadas na fase analítica.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
71
72
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
3.1.2.2. Pesquisa eletroeletrônicos
1 A pesquisa de eletroeletrônicos teve como objetivo verificar o dimensionamento
dos equipamentos de informática oferecidos no mercado, voltados para o público-
-alvo em questão. A pesquisa foi realizada na internet em sites de venda on-line,
como FNAC e Casas Bahia. Foram considerados vários formatos de equipamentos
e valores.
2 Também foi utilizada uma pesquisa com o nova classe média sobre o mercado de
impressoras domésticas, encomendada pela Epson à agência M&CSAATCHI. Nos
anexos é possível verificar um resumo da pesquisa descrito pela própria analista
da M&CSAATCHI.
3 Entre todos os eletroeletrônicos, a impressora multifuncional é a que causou
maior preocupação, pois seu volume poderia prejudicar o dimensionamento de
um móvel polivalente e multifuncional. No entanto, o problema foi superado
quando se apresentou o dimensionamento final do móvel, pois não haveria pro-
blemas dimensionais para acomodá-lo.
Pesquisa de equipamentos de informática relativos ao homeoffice
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
73
3.1.2.3. Ergonomia
1 O objetivo de transformar dois móveis em um só, mesa de computador e estante,
resultou em uma estante onde suas prateleiras são relacionadas às necessidades
ergonômicas de uma mesa de computador. Para isso, foi utilizado o livro “As
medidas do homem e da mulher – Fatores Humanos em Design”, de Alvin R.
Tilley e Henry Dreyfuss Associates.
2 Os percentis utilizados são do homem e da mulher norte-americanos adultos,
indicados na tabela abaixo:
Homem Mulher
Percentil 1 1,59 m 1,47 m
Percentil 50 1,75 m 1,62 m
Percentil 99 1,92 m 1,77 m
Tabela 2. Percentis do homem e da mulher norte-americano adultos.
3 Para realizar o cálculo de posicionamento das prateleiras, foi utilizado o software
paramétrico Autodesk Inventor. Após inserção de todos os valores recomendados
por Henry Dreyfuss Associates, as alturas das prateleiras ficaram diretamente
relacionadas aos requisitos ergonômicos recomendados.
4 Para a altura da mesa foi considerada a recomendação de 61 a 71 cm. No entanto,
como sua posição é fixa, foi utilizada a altura de 70 cm, sendo recomendado para
o percentil 1 feminino utilizar suporte para os pés de até 10 cm.
5 Para que a prateleira referente à mesa possa ser deslocada até o limite, será
utilizada uma ferragem telescópica oferecida pela indústria de ferragens Häfele.
Essa ferragem suporta até 60 kg e pode deslocar a prateleira até seu tamanho
total de 45 cm.
74
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6 Para que o espaço livre em baixo da mesa alcance até 60 cm para o percentil
99, a estante deverá ter uma profundidade de 45 cm e um vão de até 12 cm do
chão, possibilitando a entrada dos pés calçados. (ALVIN R. TILLEY & HENRY
DREYFUSS ASSOCIATES, 2005)
7 Para definir a altura do tampo do monitor será oferecido um ajuste de até 3
variações, que estão relacionadas a até 3 medidas de monitores: 23, 18,5 e 15 pol.
Monitor Altura do tampo monitor em relação à mesa (d17)
23 pol (alt. 410 mm) 220 mm
18,5 pol (alt. 370 mm) 260 mm
15 pol (alt. 300 mm) 330 mm
Estudo para viabilidade ergonomica
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
75
3.1.3. Fase Executiva
8 Na fase executiva o protótipo do móvel seria executado. No entanto, não foi o
que aconteceu, por motivos que serão apresentados na conclusão do trabalho.
9 No entanto, foram realizados experimentações com a madeira plástica e cálculos
de custo para fabricação do protótipo.
3.1.3.1. Experimentações
1 Foram realizadas experimentações na maioria dos equipamentos para marcenaria
na oficina do SENAC, encaixes e outras possibilidades de trabalho com a madeira
plástica.
2 A madeira plástica se comporta bem com a ferramentaria para marcenaria, no
entanto, algumas questões foram identificadas. As máquinas devem ter baixa
rotatividade, caso contrário ocorre um superaquecimento do material, causando
derretimento.
3 Para uso na desempenadeira ou tupia de mesa é necessário que a lâmina de
corte seja de vídia, pois lâminas comuns perdem o fio facilmente. Na furação e
no aparafusamento o material de comportou de forma similar à madeira, com a
vantagem do resultado não depender do sentido ou da regularidade das fibras.
4 Para a colagem do laminado na superfície da madeira plástica é necessário re-
alizar algumas ranhuras com lixa grossa com o intuito de dar aderência com a
cola de contato e o prime do laminado de PET.
Laboratório de Design Industrial do Centro Universitário SENAC
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DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
Esperimentação de estrutura oca com laminado.
Lâmina cega
Experiencias de acabamento
Teste de arranque
Estrutura simulando prateleira
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
77
3.1.3.2. Custo
1 Para verificar o custo da matéria-prima em móveis de madeira, foi realizada uma
pesquisa na internet onde foi observado o peso total de uma estante oferecida pela
Tok&Stok e outra pela Casas Bahia. Como normalmente o peso total da estante
é atribuído à madeira, foi possível achar o custo aproximado de matéria-prima
multiplicando o peso do móvel pelo preço do quilo da matéria-prima, encontrado
na tabela comparativa de preços da “Pesquisa sobre materiais reciclados” (pág. 64).
2 No entanto, deve-se considerar que somente seria substituído o material, sem al-
teração nos processos de fabricação. Essa questão é levantada pelo fato de o MDF
e o MDP serem fornecido em chapas, enquanto a madeira plástica é fornecida em
perfis. Nesse sentido, deve-se considerar a possibilidade de uma chapa extrudada
de madeira plástica.
Estante Preço Peso Preço – Kg Custo aprox. MP Em WPC
Tok&Stok 340,00 17,3 kg MDF 2,51 Aprox. 12,5% – R$ 43,42 R$ 141,12
Casas Bahia 420,00 34,5 kg MDP 2,21 Aprox. 18% – R$ 76,24 R$ 247,78
3 Constata-se que em uma estante o custo da matéria-prima pode variar de 12%
a 18% do preço final. O uso da madeira plástica encareceria em 325% o custo
da matéria-prima, ou seja, o móvel da Tok&Stok sairia por aproximadamente R$
438,00, com uma diferença de 28%, e o da Casas Bahia por aproximadamente R$
595,00, com uma diferença de 42%.
Descrição: Estante em MDF (Medium
Density Fiberboard) com acabamento
em pintura por impressão e bordas
em PVC. Possui 6 nichos, sendo 5
prateleiras reguláveis. Permite o uso
fixo à parede (componentes inclusos).
Design: T&S DESIGN
Origem: BRASIL
Estante straity
R$ 340,00
Medidas:
altura (cm) 196,0
largura (cm) 75,0
profund. (cm) 25,0
peso (kg) 17,3
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Com design arrojado, essa estante
da BRV vai ajudar você a colocar em
ordem seus livros, suas revistas e o
que mais desejar de forma eficiente
e prática. Feita em MDP, é altamente
durável e resistente. Possui quatro
prateleiras e mais a base, garantindo
espaço suficiente para a sua organi-
zação. Não importa o lugar, seja na
sala ou no escritório, essa estante vai
fazer toda a diferença!
Estrutura em MDP
R$ 419,90
altura 1,83 m
largura 90,50 cm
profundidade 30,50 cm
Peso aproximado 34,5 kg
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
79
4. Conclusão
1 Viabilizar economicamente alternativas para o mercado é um desafio muito
grande, ainda mais quando se trata de tecnologias sustentáveis, que são inovações
de ruptura. A resistência à inovação ainda é uma característica muito comum na
indústria e nos consumidores. Mas quando um desses atores cede às inovações,
logo o outro precisa se adaptar, e assim a indústria vem mudando suas práticas.
2 A prática profissional se distancia da reflexão quando a viabilidade do produto
se depara com a realidade de mercado. Ou seja, a prática profissional está presa
a um território de possibilidades oferecidas pelo mercado, onde os principais
vetores de valor são o custo do produto, o público-alvo e o preço final. Se essa
relação nunca for igual a lucro e produto competitivo, não há viabilidade para
qualquer reflexão objetiva, pois transgride a realidade de mercado.
3 Muitas das classes de inovações propostas por Bonsiepe (2011) foram trabalhadas
até o final do projeto. Mas sem dúvida o maior desafio foi a “inovação na aplicação
de novos materiais ou materiais reciclados para novos produtos”.
4 O preço da madeira natural é insuperável, e o custo de qualquer produto fica con-
sideravelmente menor se forem utilizados o MDF ou o MDP. Não há argumento
lógico para convencer a indústria de móveis em reduzir seus lucros, mas é possível
convencer o consumidor a pagar um pouco mais caro por um produto alternativo.
5 A lógica do mercado faz com que a sustentabilidade se torne uma utopia, ou
um atributo de luxo e distante das classes médias, das quais poucas podem ter
acesso por causa de seu alto custo. Mas utopia aqui não dever ser entendida
como um termo pejorativo, pelo contrário, a utopia é um sonho, um objetivo a
ser alcançado. E pelo ciclo virtuoso da inovação observa-se que esse sonho está
se tornando, pouco a pouco, realidade.
6 A madeira plástica no Brasil precisa evoluir muito em processo e custo para
poder atender a outros mercados. Mas o ponto mais crítico é a dependência dessa
indústria com o aperfeiçoamento da coleta seletiva no País, o que realmente
reduziria o custo da matéria-prima. Nesse sentido, a madeira plástica ainda de-
morará a chegar em outros mercados, pois a coleta seletiva no Brasil ainda é
extremamente incipiente.
7 O argumento de venda da madeira plástica em relação à madeira natural con-
templa as necessidades para uso em áreas externas, principalmente pela sua
80
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
superioridade a intempéries. No entanto, não existe argumento que resista à es-
tigmatização do plástico como causador de grandes problemas ambientais. Ainda
que a madeira plástica seja uma alternativa muito eficiente para a reciclagem
dos resíduos plásticos, ela resolve um problema criando outro problema, que é a
massificação do uso de materiais sintéticos. Ou seja, estimulando a exploração
do petróleo.
8 Outra questão pertinente à madeira plástica é o uso de mão de obra de catadores,
onde se vê uma tentativa de resolver um problema com outro problema. A jus-
tificativa de que o problema ambiental pode resolver uma questão social é uma
hipocrisia. Na verdade, o problema ambiental deveria ser resolvido pela sociedade
e a indústria, e o problema da população carente se resolveria com educação e
políticas públicas. No entanto, ONGs indicam que através da organização dessa
mão de obra e de cooperativas haja uma alternativa para a inclusão social por
meio do trabalho dos catadores.
9 Durante os trabalhos com a madeira plástica ficou a percepção de que esta não
deveria se chamar madeira, pois o plástico já assumiu sua materialidade e estética
artificial desde os anos 70. Resgatar o mimetismo do material plástico como ar-
gumento de venda talvez não seja a melhor alternativa para inserir esse material
no mercado, pois bate de frente com uma indústria forte e estabelecida, que é a
tradicional indústria madeireira.
10 Não ter chegado em um protótipo do móvel investigado foi o resultado mais
coerente com as conclusões finais do projeto, pois faz mais sentido justificar
o que ainda não pode existir do que justificar a existência do que não pode
existir ainda. Para a madeira plástica poder alcançar uma produção de móveis
que atenda um público C, será necessária uma adequação muito grande dessa
indústria.
11 Na pesquisa exploratória foi perguntado ao entrevistado se compraria um móvel
fabricado com matéria-prima reciclada, 99% disseram que sim. No entanto, a
pesquisa falha quando não pergunta ao entrevistado o quanto estaria disposto a
pagar a mais para ter um móvel de matéria-prima reciclada. Essa indagação faz
toda a diferença e até consegue subverter a lógica de mercado, pois se o con-
sumidor estiver disposto a pagar mais caro para ter um produto mais ético, logo
a indústria terá de oferecer um produto mais ético uma vez que o que movimenta
o mercado é a demanda dos consumidores.
INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
81
12 (...) Uma organização inovadora sustentável “não é a que introduz novidades de qualquer
tipo, mas novidades que atendam às múltiplas dimensões da sustentabilidade em bases
sistemáticas e colham resultados positivos para ela, para a sociedade e o meio ambiente”
(BARBIERI e SIMANTOB, 2007, p. 105).
13 Não basta, para as empresas, apenas inovar constantemente, mas inovar considerando as
três dimensões da sustentabilidade, a saber:
14 Dimensão social – preocupação com os impactos sociais das inovações nas comunidades
humanas dentro e fora da organização (desemprego, exclusão social, pobreza, diver-
sidade organizacional, etc.);
15 Dimensão ambiental – preocupação com os impactos ambientais pelo uso de recursos
naturais e pelas emissões de poluentes;
16 Dimensão econômica – preocupação com a eficiência econômica, sem a qual elas (as
empresas) não perpetuariam. Para as empresas essa dimensão significa obtenção de lucro
e geração de vantagens competitivas nos mercados onde atuam. (BARBIERI et alii, 2010)
17 No final, este trabalho é um exercício da atividade “projetual”, onde a inovação
foi pensada por uma ótica sustentável. Apesar de o móvel não ter se concretizado,
fica a experiência do exercício acadêmico e a reflexão para ser levada ao mercado
de trabalho.
82
DESIGN INDUSTRIAL | CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
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INOVAÇÃO NO DESIGN: UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA DA SUSTENTABILIDADE NO MOBILIÁRIO DOMÉSTICO
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