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DOI:10.22600/1518-8795.ienci2022v27n1p108
LITTLE GREEN MEN: O EPISÓDIO DE DETECÇÃO DOS PULSARES E O PROTAGONISMO DE
JOCELYN BELL BURNELL
Little Green Men: The Episode of Detection of Pulsars and the Leading Role of Jocelyn Bell Burnell
Larissa do Nascimento Pires [larissa.n.pires@hotmail.com]
Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica
Universidade Federal de Santa Catarina
Campus Universitário Trindade, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
Luiz O. Q. Peduzzi [luizpeduzzi@gmail.com]
Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica
Universidade Federal de Santa Catarina
Campus Universitário Trindade, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
Resumo
No ano de 1967, a então estudante de pós-graduação Jocelyn Bell identificou sinais pulsados de ondas de
rádio, que posteriormente puderam corroborar observacionalmente a existência das estrelas de nêutrons.
Neste trabalho, desenvolvemos um estudo histórico-epistemológico sobre o episódio de detecção dos
pulsares a partir de relatos elaborados por Jocelyn Bell Burnell e por seu orientador, Antony Hewish, e de
pesquisas que se debruçaram sobre este tema. Na análise epistemológica, consideramos,
predominantemente, aspectos da filosofia da ciência de Thomas Kuhn e Norwood Hanson. Os resultados
chamam atenção para o papel da serendipidade em uma descoberta científica e para a importância do
trabalho coletivo em um período de ciência normal, que neste caso propiciaram novos estudos teóricos e
observacionais para a compreensão deste novo objeto astronômico. Ressaltamos que a discussão da
serendipidade e do acaso no contexto de ensino de ciências pode contribuir para desmistificar ideias
equivocadas sobre este conceito, favorecendo uma melhor compreensão da natureza do conhecimento
científico. O trabalho também possibilita evidenciar o protagonismo de uma mulher cientista em um
importante episódio científico.
Palavras-Chave: História da Física e da Astronomia; Natureza da Ciência; Pulsares; Jocelyn Bell Burnell.
Abstract
In 1967, then graduate student Jocelyn Bell identified pulsed radio waves signals, which later corroborated
observationally the existence of neutron stars. In this paper, we develop a historical-epistemological study
about the episode of detection of pulsars, based on narratives written by Jocelyn Bell Burnell and by her
advisor, Antony Hewish, and on researches about this topic. In the epistemological analysis, we
predominantly consider aspects of the philosophy of science by Thomas Kuhn and Norwood Hanson. The
results draw attention to the role of serendipity in a scientific discovery and to the importance of collective
work in a period of normal science, which in this case provided new theoretical and observational studies to
understand this new astronomical object. We emphasize the discussion of serendipity and chance in the
context of science teaching can contribute to demystifying mistaken ideas about this concept, supporting a
better understanding of the nature of scientific knowledge. The paper also makes it possible to highlight the
role of a woman scientist in an important scientific episode.
Keywords: History of Physics and Astronomy; Nature of Science; Pulsars; Jocelyn Bell Burnell.
V27 (1) – Abr. 2022
pp. 108 - 136
Investigações em Ensino de Ciências – V27 (1), pp. 108-136, 2022
109
INTRODUÇÃO
“Here was I trying to get a Ph. D. out of a new technique,
and some silly lot of Little Green Men had to choose my
aerial and my frequency to communicate with us” zookah
Jocelyn Bell Burnell (1977)
1
Há pouco mais de cinquenta anos, o campo científico da Astronomia Moderna vivenciou um dos
seus mais célebres eventos: a detecção observacional dos pulsares, que posteriormente corroboraram a
existência das estrelas de nêutrons, possibilidade sugerida décadas antes, em 1930 (Longair, 2009). Apesar
disso, a novidade desse achado residia no fato de que “[...] ninguém suspeitava que estrelas de nêutrons
pudessem emitir sinais pulsados de radiofrequência” (Roberts, 1989, p. 121). A pesquisa protagonizada
pela então estudante de pós-graduação Jocelyn Bell em seu doutorado na Universidade de Cambridge,
durante os últimos anos da década de 1960, possibilitou o anúncio de
“[...] uma classe totalmente nova de estrelas que emitiam pulsos de ondas de rádio
com extraordinária rapidez e precisão. Os pulsares foram logo reconhecidos como
estrelas de nêutrons, as cinzas da evolução estelar que os astrônomos supunham
serem fracas demais para serem detectadas da Terra” (Wade, 1975, p. 358).
A identificação dos pulsares “[...] mostrou que objetos compactos, muito além das estrelas anãs
brancas, existiam” (Kidger, 2007, p. 30). A biógrafa Sharon Bertsch McGrayne, em seu livro Nobel Prize
Women in Science: Their Lives, Struggles and Momentous Discoveries, descreve que a pesquisa científica
protagonizada por Jocelyn Bell “[...] forneceu aos físicos novos laboratórios gigantes para o estudo de
matéria superdensa, campos magnéticos superfortes, relatividade geral e gravitação” (McGrayne, 1998, p.
357). Ademais, Almeida (2020, p. e20200197-2) aponta que o reconhecimento da possível existência dos
buracos negros se fortaleceu por meio das “[...] descobertas astronômicas dos quasares e pulsares e a
ascensão da astrofísica relativística”. Em suma, a identificação destes objetos propiciou uma melhor
compreensão do processo de evolução estelar.
Além da sua relevância para o campo da Astronomia, os elementos históricos sobre o episódio de
detecção deste novo objeto celeste proporcionam interessantes discussões, sob o ponto de vista
educacional, acerca de aspectos relativos ao processo de construção de conhecimentos na ciência. Um
destes curiosos aspectos diz respeito ao fato de que, à época da detecção, entre os membros do grupo em
que Jocelyn Bell atuava como pesquisadora, se considerou “[...] por um tempo que os sinais poderiam ser
originários de outra civilização, motivo pelo qual eles apelidaram os pulsares de Little Green Men” (Wade,
1975, p. 358). Não somente isso, McNamara (2008, p. 3) corrobora esta perspectiva elencando outros
elementos sobre ciência envolvidos neste episódio:
“[...] a história do pulsar também está repleta de controvérsias, carreiras
ameaçadas, comentários descuidados à mídia, o equilíbrio entre a comunicação
científica aberta e a rivalidade que se esconde dentro e entre as instituições. É
uma história de cooperação internacional e pesquisa de ponta em tecnologia.
Acima de tudo, porém, é uma história de uma ciência fantástica”.
Outro aspecto, não menos importante, que a discussão histórica sobre os pulsares pode ensejar diz
respeito à visibilidade das mulheres nas ciências, pelo fato de evidenciar o protagonismo da astrônoma
Jocelyn Bell Burnell
2
. Ainda que as investigações no âmbito do ensino de ciências com abordagens
histórico-epistemológicas apresentem preocupações “[...] em não reproduzir uma imagem de ciência neutra,
rígida e elitista, [estas pesquisas] não têm mostrado a diversidade de personagens que produzem essa
ciência” (Lima, 2019, p. 64). Neste sentido, uma das reivindicações apresentadas em recentes trabalhos no
âmbito da educação em ciências (Cordeiro, 2017; Lima, 2015; Maia Filho & Silva, 2019) diz respeito à
elucidação de exemplos de mulheres cientistas cujas contribuições foram negligenciadas historicamente. De
1
Tradução: “Aqui estava eu tentando obter um doutorado com uma nova técnica, e alguns homenzinhos verdes tiveram que escolher
minha antena e minha frequência para se comunicar conosco”.
2
À época do episódio de detecção dos pulsares, entre os anos de 1967 e 1968, a cientista assinou sua tese de doutorado com o
nome Susan Jocelyn Bell. Entretanto, ao se casar, passou a assinar seus trabalhos com o nome Jocelyn Bell Burnell, como nos
artigos em que relata a sua atuação neste episódio histórico.
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fato, mediante a explanação histórica da atuação de mulheres no campo das ciências “[...] reconfiguramos a
área de história das ciências, tornando-a mais representativa, a partir de novos olhares, novas narrativas e
novas personagens mulheres” (Maia Filho & Silva, 2019, p. 137).
Cabe ressaltar que recentes trabalhos do campo de ensino se debruçaram em investigar os
aspectos históricos de conceitos da Astronomia, Astrofísica e Cosmologia, como a Teoria do Big Bang
(Arthury & Peduzzi, 2015), a Lei de Hubble e a evolução do universo (Badgonas, Zanetic & Gurgel, 2017), a
pré-história dos buracos negros (Almeida, 2020), as contribuições de Cecília Payne na composição estelar
(Vieira, Massoni & Alves-Brito, 2021), Em relação aos pulsares, no entanto, Pires e Peduzzi (2021a)
desenvolveram uma revisão bibliográfica na qual evidenciaram que esta temática ainda é pontualmente
discutida sob uma perspectiva histórica em pesquisas do âmbito do ensino de Física e de Astronomia;
algumas exceções, por exemplo, são as pesquisas de Araújo (2017) e Costa, Polati e Allen (2018), que
apresentam aspectos históricos sobre os pulsares no contexto do ensino de conceitos de Radioastronomia
e Evolução Estelar, respectivamente.
Assim, considerando a potencialidade deste episódio histórico para discussão destes importantes
aspectos para o campo da educação em ciências, objetivamos, neste artigo, desenvolver uma discussão
histórico-epistemológica acerca do episódio de detecção dos pulsares. Neste sentido, intencionamos prover
respostas para as seguintes perguntas de pesquisa: “Que contribuições apresenta a pesquisa desenvolvida
pela cientista Jocelyn Bell Burnell para o campo da Astronomia, no que se refere ao episódio de detecção
dos pulsares? Que discussões sobre Natureza da Ciência podem ser abordadas por meio dos aspectos
apresentados no episódio de detecção deste objeto?”.
Nesta perspectiva, o artigo apresenta a seguinte estrutura: inicialmente, elencamos elementos
relacionados ao embasamento teórico-metodológico da pesquisa, que envolvem a defesa da utilização
didática da História e Filosofia da Ciência. Em seguida, construímos um percurso histórico sobre o episódio
de detecção dos pulsares, baseado em relatos das/os cientistas envolvidas/os, o que compreende desde a
entrada de Jocelyn Bell no grupo de radioastrônomos na Universidade de Cambridge até a detecção dos
pulsares pela cientista. Posteriormente, por meio da análise epistemológica desta discussão histórica,
explicitamos determinados aspectos sobre a Natureza da Ciência presentes neste episódio, com base em
reflexões de autores da moderna filosofia da ciência.
PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
Diversas pesquisas do campo da Educação em Ciências (Matthews, 1995; Abd-El-Khalick &
Lederman, 2000; Freire Jr, 2002; Martins, 2007; Forato, 2009; Forato, Pietrocola & Martins, 2011; Oliveira &
Silva, 2012; Moura, 2014; Krupczak & Aires, 2018; Peduzzi & Raicik, 2020) sugerem a utilização, em sala
de aula, de elementos de História e de Filosofia da Ciência (HFC). Tais pesquisas apontam potencialidades,
por possibilitar que docentes e discentes reconheçam as variadas particularidades presentes no processo
de construção do conhecimento científico, sem restringir o ensino apenas à apresentação dos resultados
científicos. De outra forma, o reconhecimento dos conteúdos da ciência “[...] é condição necessária, e
indispensável, mas não suficiente para saber sobre a ciência, sobre a natureza do empreendimento
científico” (Peduzzi & Raicik, 2020, p. 20).
Em termos de sua potencialidade pedagógica, cabe ressaltarmos que a abordagem histórico-
filosófica promove discussões profícuas acerca de aspectos da Natureza da Ciência (NdC). Em especial,
alguns trabalhos (Henrique, Andrade & L’Astorina, 2010; Carvalho, Nascimento & Silva, 2017; Gorges Neto
& Arthury, 2021) elaboram discussões sobre a articulação de elementos de NdC com a História da
Astronomia. Apesar do caráter multifacetado acerca da sua definição, podemos compreender que, em
linhas gerais
“A natureza da Ciência é entendida como um conjunto de elementos que tratam
da construção, estabelecimento e organização do conhecimento científico. Isto
pode abranger desde questões internas, tais como método científico e relação
entre experimento e teoria, até outras externas, como a influência de elementos
sociais, culturais, religiosos e políticos na aceitação ou rejeição de ideias
científicas” (Moura, 2014, p. 32).
Podemos evidenciar determinados aspectos sobre a NdC mediante o desenvolvimento de
narrativas sobre episódios históricos, pois, “estudos historiográficos trazem elementos que subsidiam
discussões acerca da gênese do conhecimento científico” (Moura, 2014, p. 33). Neste sentido, a partir de
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pressupostos elencados por Cellard (2012), construímos uma narrativa histórica baseada em elementos da
análise documental. Assim, as fontes primárias utilizadas para a escrita da narrativa consistem em artigos
redigidos por Jocelyn Bell Burnell sobre o episódio de detecção dos pulsares (Bell Burnell, 1977, 1983,
2004, 2007, 2010, 2017, 2018) bem como o relato desenvolvido pela astrônoma enquanto estudante de
pós-graduação, presente no apêndice da sua tese de doutorado (Bell, 1969). Da mesma forma, como
contribuição à narrativa, são elencadas algumas reflexões expostas no discurso de Antony Hewish,
orientador de Jocelyn Bell Burnell, na Conferência do Prêmio Nobel de Física do ano de 1974 (Hewish,
1974). Estas fontes permitem uma imersão em aspectos do contexto de descoberta e justificação do achado
científico. Em termos das fontes secundárias, são mencionadas reflexões de estudiosas/os que se
debruçaram no estudo deste episódio (Wade, 1975; McGrayne, 1998; Longair, 2006, 2011; McNamara,
2008; Dick, 2013; Penny, 2013; Graham-Smith, 2014; Vidal, 2019), que apresentam possíveis
interpretações em retrospectiva sobre o episódio em questão.
A análise preliminar da construção histórica desenvolvida permitiu identificar determinados
elementos de Natureza da Ciência que podem ser investigados mediante reflexões baseadas na moderna
filosofia da ciência. Por exemplo, é perceptível a presença da serendipidade no processo de detecção dos
pulsares. A potencialidade de discussões sobre este aspecto, quando presente no processo de geração de
conhecimento, é mencionado por Peduzzi e Raicik (2020). Neste âmbito, as reflexões histórico-
epistemológicas desenvolvidas incluíram, predominantemente, conceitos da filosofia da ciência de Thomas
Kuhn (2011, 2017, 2018) e Norwood Hanson (1967). Definimos a escolha destes autores pelo fato de que
ambos discutem características das descobertas científicas e, principalmente, a presença da serendipidade
no trabalho científico. As ponderações de Thomas Kuhn, em específico, oportunizam discutir a existência
das práticas científicas em um contexto de ciência normal no âmbito da detecção dos pulsares. Cabe
apontar, ainda, no que se refere às discussões sobre serendipidade, que consideramos trabalhos
específicos que versam sobre este aspecto na ciência, como os de Rosenman (1988), Van Andel (1994),
Merton e Barber (2004), Norrby (2010), Gillies (2015) e Copeland (2019).
O EPISÓDIO DE DETECÇÃO DOS PULSARES
A Procura por Quasares por Jocelyn Bell
Ainda que os objetos estelares denominados pulsares tenham sido identificados no ano de 1967
mediante os esforços acadêmicos de Jocelyn Bell (1943-), de seu orientador Antony Hewish (1924-2021),
além de outros integrantes do grupo de radioastrônomos de Cambridge, “[...] as sementes desta conquista
foram plantadas muito antes, durante a emocionante época em que a radioastronomia se desenvolveu em
uma busca especializada de físicos e engenheiros” (Longair, 2011, p. 147). As ondas de rádio cósmicas,
identificadas por Karl Jansky (1905-1950) e Grote Reber (1911-2002), na década de 1930, possibilitaram o
início do desenvolvimento de um emergente campo na Astronomia: a radioastronomia
3
, que “[...] era capaz
de realizar descobertas completamente independentes da astronomia óptica. Uma nova era na pesquisa
científica havia começado” (McNamara, 2008, p. 33).
Após a Segunda Guerra Mundial, “a tecnologia do rádio passou por uma grande evolução”
(McNamara, 2008, p. 30), possibilitando que muitos grupos de radioastrônomos começassem a investigar a
natureza das emissões cósmicas de rádio. Neste contexto, “os principais grupos envolvidos eram
Cambridge, Manchester e Sydney” (Longair, 2011, p. 147). O grupo de pesquisa de Cambridge era liderado
por Martin Ryle (1918-1984), sendo Antony Hewish um dos integrantes. O objetivo desses cientistas
consistia em desenvolver técnicas que possibilitassem a obtenção de “alta resolução angular
4
e
sensibilidade combinando coerentemente os sinais de rádio recebidos por conjuntos de telescópios”
(Longair, 2011, p. 147). Antony Hewish, especificamente, ingressou neste grupo em 1948, sendo seu
interesse investigar o “[...] problema geral da propagação da radiação através de meios transparentes
irregulares. Todos nós conhecemos o cintilar das estrelas visíveis e minha tarefa era entender por que as
estrelas que emitiam em ondas de rádio também cintilavam” (Hewish, 1974, p. 174). De outra forma,
“A pesquisa de Hewish envolveu a compreensão da natureza das flutuações, ou
cintilações, das intensidades das fontes de rádio devido às nuvens de plasma em
movimento [...] Assim como as estrelas cintilam mesmo nas noites mais claras, as
3
Em sua dissertação de mestrado, Araújo (2017) menciona aspectos históricos do surgimento da radioastronomia.
4
Resolução angular consiste na relação entre as dimensões do telescópio e a frequência das ondas eletromagnéticas. Na
radioastronomia, para se conseguir “[...] um poder de resolução comparável com a resolução dos telescópios ópticos, os
instrumentos devem ter dimensões exageradamente grandes” (Gregorio-Hetem, Jatenco-Pereira & Oliveira, 2010, p. 63).
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fontes pontuais de emissão de rádio cintilam, especialmente nos longos
comprimentos de onda do rádio” (Longair, 2011, p. 147).
No decorrer da década de 1950, os princípios físicos do processo de cintilação foram estudados por
Hewish (1951, 1952). Em seu discurso na Conferência Nobel, Hewish (1974, p. 174) aponta que “se as
fontes de rádio fossem de tamanho angular pequeno o suficiente, elas iluminariam a atmosfera solar com
coerência aceitável para produzir padrões de interferência na Terra que seriam detectáveis como uma
flutuação muito rápida de intensidade” (Hewish, 1974, p. 174). Ele aponta que, no entanto, pela falta de
evidências disponíveis para verificação desta hipótese, a conjectura não fora levada adiante. No ano de
1962, porém, a astrofísica Margaret Clarke
“[...] percebeu que três fontes particulares mostravam variações de intensidade.
Ela apontou que duas das fontes eram conhecidas por terem tamanhos angulares
de menos de 2 segundos de arco e estimou que um mecanismo de cintilação
exigia irregularidades no plasma [...] mas concluiu que as flutuações eram um
mistério não resolvido” (Hewish, 1974, p. 174).
A partir destas contribuições e com o auxílio de outros radioastrônomos, Antony Hewish aprofundou
seus estudos sobre o fenômeno denominado de cintilação interplanetária, o qual foi corroborado
experimentalmente mediante a observação de fontes de rádio já conhecidas (Hewish, Scott & Wills, 1964).
Em um de seus relatos, Jocelyn Bell define este fenômeno como a “aparente flutuação na intensidade da
emissão de rádio de uma fonte de rádio compacta” e que ocorre devido “à difração das ondas de rádio na
medida em que atravessam o turbulento vento solar no espaço interplanetário” (Bell Burnell, 1977, p. 685).
Com base em investigações sobre estas cintilações provenientes de fontes de rádio, seria possível
desenvolver
“[...] o estudo de três importantes áreas astronômicas: permitiria que muitos mais
quasares fossem descobertos; seus tamanhos angulares poderiam ser estimados;
e a estrutura e a velocidade do vento solar poderiam ser determinadas” (Longair,
2011, p. 150).
Um dos objetos estelares investigados pelos radioastrônomos de Cambridge foram os quasares,
identificados por Maarten Schmidt (1929-) em meados dos anos de 1960. O achado deste astrofísico fora
publicado no artigo 3C273: a star-like object with a large red-shift, na Nature, em 1963, revelando que “o
objeto estelar consiste em uma estrela com um grande desvio para o vermelho [...] correspondendo a uma
velocidade aparente de 47,400 km/s”, (Schmidt, 1963, p. 1040). Além disso, “[...] ser detectável em
comprimentos de onda visíveis ou de rádio significava que 3C273 era incrivelmente brilhante, implicando
suprimento e energia em uma escala nunca antes conhecida” (McNamara, 2008, p. 37). Os quasares se
transformaram no objeto de pesquisa de muitos astrônomos, incluindo Antony Hewish. Neste contexto, a
cientista Jocelyn Bell, recém-formada em Física na Universidade de Glasgow, ingressou como estudante de
doutorado no grupo de radioastrônomos da Universidade de Cambridge (Bell Burnell, 1977, 1983, 2004).
Em um de seus relatos, a pesquisadora aponta que
“A natureza tem sido muito gentil conosco, porque as fontes compactas que
mostram esse tipo de cintilação [interplanetária] tendem a ser os quasares, e as
fontes de rádio de maior diâmetro angular que não cintilam são as galáxias de
rádio mais comuns. Tony Hewish percebeu que essa seria uma excelente técnica
para encontrar os quasares e ele fez um pedido de subvenção para construir um
grande telescópio, especificamente para monitorar o céu em busca de fontes que
mostrassem essa cintilação” (Bell Burnell, 1983, p. 160).
Em outras palavras, mediante esta técnica, havia a possibilidade de não somente “estudar as
flutuações de densidade no plasma interplanetário e seus movimentos, mas também [...] descobrir
quasares, pois muitos deles são fontes de rádio compactas e, portanto, deveriam exibir grandes cintilações
de rádio em baixas frequências” (Longair, 2006, p. 193). Assim, o objetivo da pesquisa de doutorado de
Jocelyn Bell consistiu em investigar o diâmetro angular de quasares, considerados “os objetos detectáveis
mais distantes do universo e também fontes extremamente poderosas de ondas de rádio” (Bell Burnell,
2007, p. 579). Além disso, “poucos eram conhecidos, e o objetivo do projeto no qual participei era descobrir
mais com um novo radiotelescópio” (Bell Burnell, 2017, p. 831). Naquela época,
“Os quasares eram um fenômeno celeste novo e celebrado. Esses luminosos
sinais de rádio eram tão pontuais quanto às estrelas e ainda mais distantes que as
galáxias. O que poderia estar tão distante, mas brilhar tão intensamente? [...] As
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respostas a essa e a centenas de outras perguntas mantiveram a astronomia
movimentada, mas o próximo passo lógico era ver quantos quasares estavam lá
fora e como eles eram” (McNamara, 2008, p. 39).
Para desenvolver estes estudos, o grupo de pesquisa dirigido por Hewish construiu, entre os anos
de 1965 e 1967, o radiotelescópio Interplanetary Scintillation Array (Figura 1), financiado pela Universidade
de Cambridge, cujo objetivo era “[...] realizar um levantamento em grande escala de mais de mil galáxias de
rádio usando cintilação interplanetária” (Hewish, 1974, p. 175). Os dois primeiros anos do doutorado de
Jocelyn Bell foram destinados à construção do equipamento, sendo a pesquisadora também responsável
pela sua manutenção. Seu orientador descreve que “[...] naquele ano, uma nova estudante de graduação,
Jocelyn Bell, se juntou a mim, e ela se tornou responsável pela rede de cabos” do radiotelescópio (Hewish,
1974, p. 175).
Figura 1 – Jocelyn Bell e o radiotelescópio Interplanetary Scintillation Array (Extraído de Feder, 2019).
O radiotelescópio ocupava uma área de 1,8 hectares, o que equivale a cerca de cinquenta quadras
de tênis (Bell Burnell, 1977) e foi construído com uma série de seis mil postes de madeira, além de
trezentos e vinte quilômetros de cabos e mais de dois mil dipolos de cobre (Bell Burnell, 2004). Em um dos
relatos da astrônoma, se apresenta, curiosamente, uma preocupação quanto à permanência física do
radiotelescópio, pelo fato de que sua construção ocorreu “[...] no auge da crise de cobre na Rodésia
5
,
utilizando várias toneladas de fios de cobre, e sempre tivemos pesadelos de que, ao sairmos em uma
manhã, alguém pudesse ter aparecido e removido os fios de cobre com alicates” (Bell Burnell, 2004, p. 1.7).
A grande área ocupada pelo radiotelescópio era justificada pelo fato de que a frequência de coleta
dos sinais, na faixa de 81,5 MHz (comprimento de onda de 3,7 m), era extremamente baixa, “a fim de se
registrar as intensidades das rápidas flutuações de fontes de rádio em escalas de tempo tão curtas quanto
um décimo de segundo” (Longair, 2011, p. 150). Sobre isso, a cientista também justificou que, pelo fato da
cintilação ser um fenômeno que ocorre de maneira muito repentina
“[...] tem que ter um sistema que responda rápido o suficiente para acompanhar as
mudanças no brilho. Portanto, o instrumento deve ter uma constante de tempo
curta, como feito em uma exposição rápida com uma câmera. Se você tem uma
constante de tempo curta você perde algumas das vantagens de integrar por um
longo tempo. Você tem problemas de relação sinal-ruído e a maneira de contorná-
los é aumentar a área de coleta de seu radiotelescópio” (Bell Burnell, 2004, p. 1.7).
O equipamento Interplanetary Scintillation Array entrou em operação no mês de julho de 1967
(Longair, 2006). A partir dele, a astrônoma coletou informações sobre quasares localizados a bilhões de
anos-luz de distância (McGrayne, 1998). Para a coleta dos sinais de ondas de rádio pelo equipamento, seus
fios eram “[...] conectados a um laboratório central de forma que o telescópio tivesse ‘feixes’ que apontavam
para o sul e para uma declinação
6
fixa no céu. Conforme a Terra girava, um círculo de céu daquela
declinação varria cada feixe a cada dia” (Penny, 2013, p. 2). Sobre isso, a astrônoma relata que
5
A Rodésia do Norte, atual Zâmbia, foi uma das colônias britânicas responsáveis pela produção de minério de cobre; declarou sua
independência no ano de 1963 (Mazrui & Wondji, 2010).
6
De acordo com Oliveira Filho e Saraiva (2014, p. 18), declinação consiste no “arco medido sobre o meridiano do astro, com origem
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“Usamos quatro feixes por vez para escanear quatro declinações diferentes e, em
seguida, mudamos para um conjunto diferente de feixes no dia seguinte, e assim
por diante, de modo que demoramos quatro dias examinando todo o céu entre
declinações de -10 e +50. Isso significa que cada pedaço do céu foi observado
cerca de 30 vezes em um intervalo de 6 meses” (Bell Burnell, 1983, p. 162).
O equipamento registrava as observações em longos gráficos, cuja extensa análise era de
responsabilidade da astrônoma. Segundo Bell Burnell (2004, p. 1.8), “uma das coisas com as quais você
deve se habituar ao começar a operar um radiotelescópio é o efeito da interferência e como ela aparece nos
gráficos [...] Também nos acostumamos a identificar os quasares”. Por sua vez, McGrayne (1998, p. 365)
menciona outro relato da astrônoma relativo à diferenciação entre sinais de interferência e os sinais
provenientes de quasares:
“Radiotelescópios são muito sensíveis - eles têm a finalidade de detectar os fracos
sinais de raios cósmicos - mas isso significa que eles são facilmente inundados
por interferência de rádio local. Felizmente, a cintilação e a interferência
geralmente parecem diferentes nos gráficos, e logo se aprende a distingui-las”.
Bell Burnell atuava em sua pesquisa “[...] mapeando os sinais que eram verdadeiras fontes de rádio
cintilantes e descartando aqueles que vinham de fontes de interferência feitas pelo homem [...] altímetros de
aeronaves e estações de rádio piratas” (Wade, 1975, p. 359). Hewish (1974, p. 175), por sua vez, descreve
que as fontes de ondas de rádio poderiam “[...] ser distinguidas da interferência elétrica, uma vez que é
improvável que esta se repita com as mesmas coordenadas celestes”. Entretanto, apesar de computadores
já existirem naquela época, os sinais registrados eram analisados manualmente por Jocelyn Bell. Sobre
este aspecto envolvido no processo de observação destes objetos celestes, a astrônoma menciona
algumas das razões para esta escolha metodológica:
“Analisá-los [os gráficos] manualmente foi uma decisão deliberada, em parte
porque, com o novo equipamento, você não deseja colocá-lo diretamente no
computador; você quer dar uma olhada e ver o que está acontecendo e ver se
está funcionando bem. A outra razão pela qual foi feito manualmente, é porque
não tínhamos certeza de que poderíamos programar um computador para
distinguir entre essas cintilações e as interferências humanas. E certamente,
quando comecei a fazer a análise, era possível reconhecer as fontes cintilantes, e
reconhecer, geralmente como diferente, as interferências humanas” (Bell Burnell,
1983, p. 163-164).
Segundo a cientista, uma varredura completa do céu era registrada em gráficos (Figura 2) cujo
comprimento compreendia cerca de 120 metros, atividade que perdurava durante quatro dias. Seu
orientador ressalta que era “[...] um grande crédito para Jocelyn Bell que ela era capaz de acompanhar o
fluxo de papel dos quatro gravadores” (Hewish, 1974, p. 175).
Neste contexto, ela menciona que, na época, pensou que “essa era a maneira ideal de fazer
ciência” pelo fato de ter participado de “todas essas maravilhosas palestras quando criança sobre o método
científico” (Bell Burnell, 1983, p. 164). Apenas com esta afirmação, é difícil evidenciar qual poderia ter sido o
posicionamento da cientista quanto a sua concepção sobre o “método científico”, mas podemos especular
algumas possibilidades: uma delas seria que Jocelyn se referiu ao método no sentido de evidenciar uma
performance científica cuidadosa, como ela bem demonstra em sua atuação na detecção dos pulsares.
Outra possibilidade diz respeito ao fato de que Jocelyn estaria se remetendo a uma perspectiva
estereotipada do método científico, associada a uma sequência de etapas para a coleta e a análise de
dados por cientistas em seus laboratórios. Esta última conjectura aparenta ser mais plausível, pelo fato de
que, quando criança, supostamente, a cientista aprendeu sobre o método científico em um viés positivista.
Em contraste, ainda podemos considerar que a cientista pudesse estar elaborando uma possível crítica à
noção de um método científico rígido e imutável, pelo fato de que discussões filosóficas críticas a esta
perspectiva já se faziam existentes na época de escrita dessa citação.
no equador e extremidade no astro”. Seu valor sofre variações entre -90° (declinações no hemisfério sul) e +90° (declinações no
hemisfério norte).
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Figura 2 – Jocelyn Bell e os longos gráficos, no ano de 1974 (Extraído de Mitchell, 2017).
Belisha Beacon: O Achado Inesperado
Em pouco mais de um mês de operação do radiotelescópio a cientista identificou um sinal com um
comportamento diferenciado nos seus registros. A posição celestial do achado consistia em um sinal em
ascensão reta
7
em 19 horas e 19 minutos (McNamara, 2008). Nos gráficos investigados pela astrônoma,
consta que este achado fora registrado pela primeira vez no dia 6 de agosto de 1967 (Figura 3). Sobre este
aspecto, Dick (2013, p. 107), argumenta que esta consistiu em uma descoberta serendíptica pelo fato dos
pesquisadores estarem “[...] procurando quasares usando a técnica de cintilação interplanetária”. Wade
(1975, p. 359) aponta que “[...] embora ainda houvesse muito a ser feito, o cerne da descoberta estava
naquele único instante de reconhecimento”.
Figura 3 – Registro casual do sinal CP1919 por Jocelyn Bell em agosto de 1967 (Extraído de Roberts,
2019).
McNamara (2008, p. 42), aponta que “muitos teriam descartado o minúsculo registro como
interferência, mas para Bell não parecia artificial”. Neste sentido, segundo a astrônoma, “em um quarto de
7
De maneira análoga a coordenada terrestre de longitude, a ascensão reta é o “arco medido sobre o equador, com origem no
meridiano que passa pelo ponto Áries e fim no meridiano do astro. A ascensão reta varia entre 0h e 24h [...] aumentando para leste”
(Oliveira Filho & Saraiva, 2010, p. 18). O ponto Áries consiste em “uma das duas interseções do equador celeste com a eclíptica”
(Oliveira Filho & Saraiva, 2010, p. 18).
Investigações em Ensino de Ciências – V27 (1), pp. 108-136, 2022
116
polegada daqueles quatrocentos pés, havia um pouco do que eu chamo de ‘scruff’, que não se parecia
exatamente com interferência e nem com cintilação” (Bell Burnell, 1983, p. 164). Em outro relato, ela
também retrata que o sinal parecia ser
“[...] outro enigma que era intermitente. Nas primeiras vezes em que vi, eu anotei
isso como uma pergunta. Mas, pela segunda ou terceira vez, vi esse sinal
engraçado e [...] minhas células cerebrais estavam começando a se conectar e
disseram: ‘Já vi esse tipo de sinal antes. Eu já vi esse tipo de sinal, deste pedaço
do céu antes, não é?’” (Bell Burnell, 2004, p. 1.8).
Nesse sentido, “ela percebeu que essa fonte [...] às vezes reaparecia quando o telescópio apontava
para uma determinada direção” (Penny, 2013, p. 2). A cientista percebeu características que destoavam do
que estava acostumada a observar: o sinal aparecia na mesma parte dos registros ou, melhor dizendo, na
mesma parte do céu (Bell Burnell, 1977) e parecia se movimentar de acordo com o tempo sideral. Além
disso, o sinal se manifestava no período noturno, quando geralmente a observação da cintilação de fontes
de ondas de rádio era desenvolvida durante o período diurno. Segundo ela, “era um pouco incerto se
poderia ser cintilação ou não porque estava acontecendo no meio da noite naquela época do ano”, pois “[...]
a cintilação interplanetária era um fenômeno de base solar, então você espera isso durante o dia” (Bell
Burnell, 1983, p. 165). A cientista também reporta que este aspecto “[...] era digno de nota, porque não se
esperava que muitas fontes cintilassem a uma distância tão grande do sol” (Bell, 1969, p. 214):
“Um cientista, especialmente alguém treinado em ciências físicas, tem um cérebro
que armazena problemas, como coisas que você não entende. Aqueles de nós
que se formaram como físicos aprenderam a ser econômicos com o cérebro.
Sabemos que, se entendermos algo, não precisamos nos preocupar, mas se
houver algo que não entendemos, arquivamos em algum lugar. Em cada 400 pés
de papel gráfico, ocasionalmente havia um quarto de polegada que eu não
entendia” (Bell Burnell, 2004, p. 1.8).
Antony Hewish menciona que a astrônoma apresentou a ele os registros de uma fonte de rádio “[...]
sofrendo cintilação quando observada na direção antissolar. Isso era incomum, pois fortes cintilações
raramente ocorrem nesta direção e nós pensamos que os sinais poderiam ser interferência elétrica”
(Hewish, 1974, p. 175). Embora estes sinais possuíssem características curiosas, o desenvolvimento de
uma investigação aprofundada sobre este achado necessitou ser adiado por um tempo, pelo fato de que o
radiotelescópio estava ainda em construção e necessitava de determinados receptores para o estudo de
quasares já conhecidos (Bell Burnell, 1983). Assim, a cientista se concentrou no estudo da fonte 3C273,
com o objetivo de “[...] checar aspectos da teoria da cintilação interplanetária” (Hewish, 1974, p. 177). Sobre
isso, ela descreve que
“A fonte estava em trânsito durante a noite - um período em que a cintilação
interplanetária deveria ser mínima [...] Fosse o que fosse, decidimos que merecia
uma inspeção mais detalhada e que isso envolveria fazer gravações mais rápidas
nos gráficos durante sua passagem. Perto do final de outubro, quando terminamos
de fazer alguns testes especiais em 3C273 e quando finalmente tínhamos nosso
conjunto completo de receptores e gravadores, comecei a ir ao observatório todos
os dias para fazer as gravações” (Bell Burnell, 1977, p. 686).
A cientista concentrou seus esforços na procura desta fonte de rádio, em meados de final de
outubro ou início de novembro (Bell Burnell, 1983). Para que fosse possível desenvolver este trabalho, a
cientista e seu orientador instalaram um gravador de alta resolução, de maneira a possibilitar a análise do
sinal em mais detalhes (Wade, 1975; McGrayne, 1998; Longair, 2006). Conforme ela explica, “[...]
planejamos fazer o equivalente a uma ampliação fotográfica. Queríamos que esse sinal ocupasse não
apenas um quarto de polegada, mas se espalhasse para que pudéssemos ver sua estrutura” (Bell Burnell,
2004, p. 1.8). Nessa circunstância, verificava diariamente os registros feitos durante a noite; no entanto,
detectou apenas ruídos durante várias semanas (Bell Burnell, 1977, 1983). Segundo Wade (1975, p. 360), a
cientista relata que “Hewish estava pensando naquele momento que era uma estrela eruptiva e que a
tínhamos perdido”. A cientista aponta que
“Isso era intrigante porque a fonte estava, a essa altura, transitando apenas três
ou quatro horas após o sol, cujo estágio a cintilação costuma ser máxima. Ficava
cada vez mais claro que essa fonte não era ‘normal’: o motivo de seu
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desaparecimento não era conhecido e não havia certeza de que voltaria a
aparecer!” (Bell, 1969, p. 216).
Apesar disso, os sinais foram observados novamente no dia 28 de novembro de 1967 (Figura 4),
que consistiam em “[...] uma série de pulsos de diferentes amplitudes, cada pulso durando cerca de 0,3
segundos, e os pulsos tendo cerca de 1,33 segundos de intervalo” (Bell, 1969, p. 216). Em um dos seus
relatos (Bell Burnell, 2004, p. 1.8), a cientista afirma que encontrou os sinais em meio a seguintes
circunstâncias:
“Houve uma palestra muito interessante em Cambridge, sobre envelhecimento,
que coincidiu com a observação. Lembro-me vividamente [...] em parte porque é
um tópico que se torna mais relevante à medida que você envelhece. Pela
primeira e última vez, não fui ao observatório naquele dia e fui à palestra [...]
Então, no dia seguinte [...] fiquei no observatório - não ousando voltar para
Cambridge, e no gravador de alta velocidade encontrei uma série de pulsos, um
sinal fraco que estava obviamente muito próximo do limite de detecção, com
alguns dos pulsos faltando, mas mantendo a fase e mantendo um período muito
preciso. Você podia ver, mesmo enquanto o gráfico fluía sob as canetas, a
regularidade dos bipes e podia ver que o período era de cerca de 11/3 segundos.
[...] É muito interessante suas reações quando você vê esse tipo de coisa. Fui bem
treinada na graduação na Universidade de Glasgow, e quando vi este sinal
pulsado, metade do meu cérebro estava dizendo: ’Puxa vida, é um sinal pulsado’,
e a outra metade do meu cérebro estava dizendo: ‘O que eu faço a seguir?’”.
Figura 4 – Registro dos pulsos em novembro de 1967 (Extraído de Roberts, 2019).
Devido à diminuição na constante de tempo captada pelo receptor, “os pulsos foram detectados
separadamente pela primeira vez” (Longair, 2011, p. 154). A cientista explica que, ao observar que os
registros demonstravam uma série de pulsos periodicamente espaçados, comunicou o achado ao seu
orientador, cuja “reação inicial foi que a fonte tinha que ser artificial: não havia nenhum fenômeno natural
conhecido que pudesse produzir um sinal de rádio recorrente” (McNamara, 2008, p. 43). A pesquisadora,
por outro lado, se mostrou intrigada com a hipótese explicitada pelo orientador e considerou, por um
momento, que estes sinais poderiam ser oriundos de alguma estrela:
“Entrei em contato com Tony Hewish, que estava lecionando para a graduação em
um laboratório em Cambridge e sua primeira reação foi que os sinais deveriam ser
interferências humanas. Essa foi uma resposta muito sensata nas circunstâncias,
mas [...] não vi por que eles não podiam ser de uma estrela” (Bell Burnell, 1977, p.
686).
Posteriormente, a cientista admitiu para McGrayne (1998, p. 366) que “o que eu não sabia [...] era
que seria difícil obter uma variação tão rápida de uma estrela, galáxia ou qualquer outro tipo de objeto
cósmico até então conhecido”. A cientista esclarece que, na noite seguinte, Hewish apareceu para verificar
os sinais: “este foi um momento de ansiedade, dado o quão fracos eram esses sinais e quão raramente os
detectávamos” (Bell Burnell, 2004, p. 1.9). Apesar disso, os pulsos foram identificados novamente por Bell e
Hewish:
Investigações em Ensino de Ciências – V27 (1), pp. 108-136, 2022
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“Foi aqui que nossos problemas realmente começaram. Tony conferiu as
gravações e verificou que essa coisa, seja lá o que fosse, se mantinha exatamente
no tempo sideral. Mas pulsos com intervalos de 11/3 segundos pareciam sinais
suspeitamente feitos por ação humana. Além disso, 11/3 segundos era uma taxa de
pulsação muito rápida para algo tão grande quanto uma estrela” (Bell Burnell,
1977, p. 686).
Segundo Wade (1975, p. 360), o problema visualizado pelos cientistas se apresentava justamente
no fato de que “[...] a estrela variável mais rápida conhecida até então possuía um período de um terço de
um dia e ninguém poderia conceber uma estrela com um período de 11/3 segundos”. Segundo McGrayne
(1998, p. 367), em homenagem à regularidade destes sinais, estes foram denominados pela cientista e
pelos seus colegas de maneiras cômicas. A cientista “[...] apelidou o ‘scruff’ de ‘Belisha Beacon’ em
homenagem ao globo laranja cintilante que alerta os motoristas sobre travessias de pedestres na Inglaterra.
Outros cientistas apelidaram de LGM, de Little Green Men”. Segundo ela, “começamos a apelidá-lo de
‘homenzinhos verdes’, embora não acreditássemos seriamente que se tratasse de homenzinhos verdes,
mas era um nome tão bom quanto qualquer outro” (Bell Burnell, 2004, p. 1.9).
Os Homenzinhos Verdes: Como Explicar e Anunciar os Sinais?
O grupo de radioastrônomos de Cambridge começou a elaborar conjecturas sobre o do que se
tratava, de fato, este enigmático scruff. Em um primeiro momento, os cientistas, principalmente Hewish,
consideraram que o sinal poderia ser produzido artificialmente, mediante interferência humana (Tesh &
Wade, 2017); no entanto, mesmo admitindo a origem artificial do sinal, reconheceram que ele
“[...] reaparecia com cada revolução das estrelas, não com a rotação da Terra.
Poderiam ser sinais de radares refletidos na lua ou em um satélite em uma órbita
peculiar? Isso não se encaixava. Burnell e Hewish, então, perceberam que as
únicas pessoas na Terra que manteriam as programações de 23 horas e 56
minutos do tempo sideral eram outros astrônomos” (Wade, 1975, p. 362).
Considerando esta conjectura, a cientista relata que seu orientador entrou em contato com outros
grupos de radioastrônomos da Grã-Bretanha, perguntando se tinham algum programa em andamento
desde agosto que pudesse estar causando interferência: a resposta dada por todos os grupos consultados
foi negativa (Bell Burnell, 1983). Corroborando este ponto, Hewish relata:
“Não pude acreditar que qualquer fonte natural irradiasse desta maneira e
imediatamente consultei colegas astrônomos em outros observatórios para saber
se eles tinham algum equipamento em operação que pudesse gerar interferência
elétrica em um horário sideral próximo às 19h19m” (Hewish, 1974, p. 177).
Assim, após descartarem a possibilidade de radiointerferência, outra hipótese considerada pelo
grupo de pesquisa consistiu em verificar se não havia algum problema técnico com o próprio radiotelescópio
(Bell Burnell, 2007). Segundo a cientista,
“Não eram outros astrônomos, não era um radar sendo refletido da lua para o
nosso telescópio, não era um satélite em uma órbita engraçada. Fiquei muito
preocupada com aquele hangar do Ministério da Aeronáutica feito de metal
corrugado, que ficava logo ao sul do telescópio, mas na verdade as ondulações
nele têm um comprimento de onda de apenas alguns centímetros [...] então não
era isso também. Ainda restava a possibilidade de que tivesse algo a ver com
nossa instrumentação” (Bell Burnell, 1983, p. 167).
A cientista era a principal responsável pela construção do equipamento; por conta disso, ela relatou
seu receio com o fato dos sinais serem resultado de uma falha com o radiotelescópio: “[...] estava com
medo de ter literalmente cruzado alguns fios, que minha estupidez estava prestes a ser descoberta pelos
cérebros [...] de Cambridge e eu poderia sair sem um PhD” (Bell Burnell, 2004, p. 1. 9). Como exposto em
alguns relatos (Bell Burnell, 2017; 2018), esta citação certamente exemplifica que a cientista, durante seu
doutorado em Cambridge, vivenciava a chamada “Síndrome de Impostora”.
Para analisar esta hipótese, o grupo de pesquisa entrou em contato com Robin Collins e seu
supervisor Paul Scott (Bell Burnell, 1979, 1983), com o objetivo de detectar os sinais “[...] com um telescópio
que operava na mesma frequência para ver se eles também podiam captar o sinal” (Bell Burnell, 2004, p.
Investigações em Ensino de Ciências – V27 (1), pp. 108-136, 2022
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1.9). Por meio deste equipamento, Bell e Hewish aguardaram pela manifestação dos sinais próxima à hora
do seu trânsito. Entretanto, “[...] na hora marcada nós todos nos agrupamos em volta do registrador gráfico -
e nada aconteceu” (Bell Burnell, 1983, p. 167). Segundo Bell Burnell (1983, 2004), seu orientador e o
supervisor de Collins se distanciaram do radiotelescópio, questionando os motivos pelos quais os sinais não
haviam aparecido. A cientista, em um dos seus relatos, conta que Scott, especificamente, perguntou a eles:
“O que é que aparece em nosso telescópio, mas não aparece no telescópio de vocês?” (Bell Burnell, 1983,
p. 167). Entretanto, Collins havia permanecido próximo ao instrumento e continuou observando os registros:
“Então, Robin gritou ‘Aqui está!’ [...] Havíamos calculado mal o alinhamento do
segundo feixe do radiotelescópio, felizmente por apenas cinco minutos. Se tivesse
passado meia hora, talvez tivéssemos ido para casa e não teríamos encontrado
pulsares em Cambridge. Nosso radiotelescópio e receptor foram absolvidos” (Bell
Burnell, 2004, p. 1.9).
Posteriormente, admitindo a existência deste objeto, o grupo de pesquisa se concentrou em calcular
sua distância até a Terra, cujo trabalho fora desenvolvido por Paul Scott e por John Pilkington (Bell Burnell,
1983). De fato, Hewish (1974, p. 178) comenta que “não encontrando nenhuma explicação terrestre
satisfatória para os pulsos, começamos agora a acreditar que eles só poderiam ser gerados por alguma
fonte muito além do sistema solar”. Assim, por meio da medição da dispersão do sinal de ondas de rádio, os
cálculos evidenciaram que a fonte estava além do Sistema Solar, mas ainda situada na Via Láctea (Bell
Burnell, 1977, 2017). Em outro relato, a cientista aponta como ocorreu este cálculo protagonizado por
Pilkington:
“Então começamos a medir a distância. [...] Trabalhar com um instrumento de
trânsito é muito complicado. Se algo der errado e você não tiver tudo funcionando
perfeitamente durante os cinco minutos certos do dia, você perde 24 horas. E este
era um experimento tecnicamente complicado de fazer, embora seja baseado em
um fenômeno de dispersão de rádio bem conhecido. [...] Da mesma forma no
espaço, os sinais de rádio de estrelas e galáxias se propagam através de um
espaço contendo elétrons livres que irão dispersar um sinal de rádio. Portanto,
supondo que esses pulsos comecem como o golpe de um relâmpago [...] no
momento em que viajarem para a Terra, eles terão se espalhado. A quantidade de
dispersão depende de quantos elétrons eles atravessam. Se pudermos adivinhar o
número de elétrons no espaço interestelar, então podemos adivinhar a distância.
[...] E ele chegou ao resultado interessante de que esta fonte estava a cerca de 65
parsecs, ou algumas centenas de anos-luz de distância [...] na constelação de
Vulpecula. Então, depois de cerca de um mês, tínhamos estabelecido que essa
coisa mantinha uma ascensão reta constante, estava a essa distância, que
pulsava com extrema precisão e com extrema rapidez. E não tínhamos certeza do
que era” (Bell Burnell, 2004, p. 1.9).
Percebemos que o grupo elencou diferentes hipóteses na tentativa da compreensão destes objetos.
Corroborando este aspecto, Dick (2013, p. 108) reitera que “radares refletidos da Lua, satélites em órbitas
peculiares, e os efeitos locais foram eliminados quando o telescópio [de Scott e Collins] confirmou os
resultados” da existência destes sinais. Além destas, outra hipótese passou a ser considerada: ainda que
inicialmente a nomenclatura não passasse de uma brincadeira, a cientista e seus colegas passaram a
considerar, durante um tempo, a hipótese de estes sinais serem uma possível detecção de inteligência
extraterrestre (Penny, 2013; Graham-Smith, 2014). Vidal (2019, p. 219) argumenta que “a alta frequência
incomum das pulsações, bem como sua regularidade, levaram imediatamente à hipótese de que poderia ser
uma inteligência artificial”. A cientista pontua, por sua vez, que “a possibilidade de que os sinais fossem de
alguma civilização inteligente em outro lugar do universo não foi descartada” (Bell, 1969, p. 221). Para
investigar esta hipótese, em meados de dezembro de 1967, os cientistas iniciaram análises no desvio
Doppler do movimento desta fonte. As impressões deste momento foram expostas por Bell Burnell e
Hewish:
“Se não é um sinal terrestre produzido por homens, talvez sejam os ‘Homenzinhos
Verdes’ tentando nos sinalizar. Ok, se são [...] eles provavelmente estão em um
planeta. Seu planeta gira em torno de seu sol, e devemos ser capazes de ver os
desvios Doppler, as mudanças no período de pulso conforme eles giram em torno
de seu sol. [...] Então, começamos a fazer gravações rápidas dessa coisa todos os
dias para estudar a hora de chegada do pulso” (Bell Burnell, 1983, p. 168).
Investigações em Ensino de Ciências – V27 (1), pp. 108-136, 2022
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“Tínhamos de enfrentar a possibilidade de que os sinais fossem, de fato, gerados
em um planeta que girava em torno de alguma estrela distante [...] Eu sabia que
as medições de tempo, se continuadas por algumas semanas, revelariam
qualquer movimento orbital da fonte como um desvio Doppler, e me senti obrigado
a manter uma cortina de silêncio até que esse resultado fosse conhecido com
alguma certeza. Sem dúvida, aquelas semanas de dezembro de 1967 foram as
mais emocionantes na minha vida” (Hewish, 1974, p. 178).
Enquanto essas análises eram efetuadas, em um momento anterior ao feriado de Natal de 1967, a
cientista relata que se dirigiu a sala de seu orientador para elucidar algumas dúvidas, mas, acabou
adentrando em uma reunião de teor deliberativo com outros pesquisadores sobre as implicações das
divulgações destes achados (Bell Burnell, 1977, 2004) - encontro que, cabe apontar, a cientista não havia
sido convidada. A astrônoma comenta que, de fato, “esta foi uma discussão que eu acho que deveria ter
participado, na verdade, desde o início” (Bell Burnell, 2010).
Na reunião, em razão das evidentes contradições observadas no comportamento dos sinais, além
da possibilidade dos sinais possuírem uma origem extraterrestre (McNamara, 2008), os pesquisadores
estavam receosos sobre a maneira com que publicariam este achado, pois, de modo geral, os
radioastrônomos consideram que “[...] provavelmente serão as primeiras pessoas na Terra a detectar um
sinal de outras civilizações do cosmos” (McGrayne, 1998, p. 367):
“Houve uma reunião pouco antes do Natal de 1967 [...] Desci ao escritório de Tony
para perguntar algo a ele e, excepcionalmente, a porta estava fechada. Bati e uma
voz disse: ‘Entre’. Enfiei a cabeça pela porta e Tony disse: ‘Ah, Jocelyn, entre e
feche a porta’. Então entrei e fechei a porta. Era uma discussão entre Tony
Hewish (meu supervisor), Martin Ryle, (o chefe do grupo), e provavelmente John
Shakeshaft (um dos outros membros seniores do grupo). A discussão girou em
torno da pergunta: ‘Como publicamos esse resultado?’” (Bell Burnell, 2004, p. 1.9).
Em meio a possível consideração da hipótese de extraterrestres, estava claro que a divulgação do
achado estando associada com a possibilidade de extraterrestres evocaria “[...] visões da imprensa mundial
clamando pelas primeiras notícias dos ‘homenzinhos verdes’ que estavam tentando se comunicar conosco”
(Graham-Smith, 2014, p. 109). Reconhecendo a “[...] cobertura sensacional da mídia que iria acontecer, o
trabalho de investigação seria prejudicado” (Penny, 2013, p. 5). Ainda que não houvesse um consenso
entre os membros do grupo sobre o achado poder ser uma demonstração de tentativas de comunicação
extraterrestre (Penny, 2013), os cientistas do grupo aventaram esta hipótese em diferentes níveis,
considerando que não possuíam, até o momento, “nenhuma sugestão positiva sobre o que pudesse ser”
(Bell Burnell, 1983, p. 168):
“Pouco antes do Natal [...] entrei em uma conferência de alto nível sobre como
apresentar esses resultados. Não acreditávamos realmente que havíamos
captado sinais de outra civilização, mas obviamente a ideia havia nos passado
pela cabeça e não tínhamos nenhuma prova de que era uma emissão de rádio
inteiramente natural. É um problema interessante se alguém pensa que pode ter
detectado vida em outro lugar do universo, mas como anunciar os resultados com
responsabilidade? Para quem se conta primeiro?” (Bell Burnell, 1977, p. 686-687).
A divulgação de um achado científico está envolvida em um contexto de “um delicado equilíbrio
entre a urgência de entrar na imprensa científica para ganhar prioridade e a necessidade de verificação”
(McNamara, 2008, p. 45). Sem quaisquer perspectivas para resolução de como publicar os resultados
encontrados até então, na época, Bell vivenciou certo aborrecimento com a situação. Em vários de seus
relatos, (Bell Burnell, 1977, 1983, 2004) ela menciona que “[...] estava tentando conseguir um PhD, e alguns
homenzinhos verdes tolos escolheram meu radiotelescópio e minha frequência para entrar em contato com
o planeta Terra” (Bell Burnell, 2004, p. 1.9-2.0).
Um Adendo Nesta História: Steady State versus Big Bang
Certamente, não era apenas a delicada hipótese dos homenzinhos verdes a responsável por
interferências na publicação destes achados. Algumas pesquisas (McNamara, 2008; Longair, 2011; Penny,
2013) apontam outra razão que pode ter contribuído para a possível relutância dos cientistas: durante a
Investigações em Ensino de Ciências – V27 (1), pp. 108-136, 2022
121
década de 1950, pairava um contexto de controvérsia
8
na aceitação dos cientistas entre a Teoria do Big
Bang e a Teoria do Estado Estacionário (Steady State), proposta por Fred Hoyle (1915-2001), Hermann
Bondi (1919-2005) e Thomas Gold (1920-2004) (McNamara, 2008). Nesta época, alguns pesquisadores de
Cambridge começaram a desenvolver catálogos para organizar as fontes de rádio (Longair, 2006, 2011).
Segundo Kragh (1996, p. 310), “[...] o programa de pesquisa dos radioastrônomos de Cambridge tornou-se
cada vez mais orientado para a Cosmologia e, mais especificamente, para uma refutação da Teoria do
Estado Estacionário”. Por certo, na divulgação destes resultados, expostos no Segundo Catálogo de Fontes
de Rádio de Cambridge, Martin Ryle, um dos membros do grupo de radioastrônomos e colega de Antony
Hewish, interpretou a grande quantidade de cerca de 1700 fontes encontradas como uma evidência
favorável aos pressupostos teóricos do Big Bang (Kragh, 1996; McNamara, 2008). Nesta perspectiva, os
dados catalogados eram “[...] inconsistentes com as expectativas da Cosmologia de Estado Estacionário”
(Longair, 2011, p. 149).
Por sua vez, os pesquisadores australianos da Universidade de Sydney, liderados por Joseph
Pawsey (1908-1962), desenvolveram uma catalogação semelhante. Mediante a observação de pouco mais
de 1000 objetos, esses cientistas argumentaram que seus resultados não apresentavam diferenças
significativas entre o número de galáxias previstas pela Teoria do Estado Estacionário. Assim, “[...] como o
alvo das afirmações de Cambridge era a Cosmologia de Estado Estacionário, indiretamente, os resultados
de Sydney agiram como um argumento a favor da possível validade desse modelo do universo” (Kragh,
1996, p. 315). Neste sentido, os resultados de Cambridge foram desmentidos pelos resultados
apresentados pelo grupo de Sydney, que demonstraram que “a pesquisa de Cambridge carecia de
resolução, resultando em confusão entre fontes individuais e fontes múltiplas mais fracas” (McNamara,
2008, p. 46). Cabe apontar que, posteriormente, por outras razões, como a descoberta da radiação cósmica
de fundo, a Teoria do Estado Estacionário não se manteve vigente (McNamara, 2008).
Longair (2011, p. 149) aponta que, por conta deste contexto, “as relações entre Martin Ryle, os
radioastrônomos de Sydney e os proponentes da Cosmologia do Estado Estacionário [como Hoyle]
tornaram-se cada vez mais tensas”. Penny (2013, p. 5) descreve que o grupo “[...] teve no passado
problemas [...] com colegas observacionais e teóricos. Em particular, as relações eram ruins [...] com Fred
Hoyle [...] um teórico de outro departamento de Cambridge”. Considerando a provável repercussão deste
acontecimento na comunidade científica, “[...] eles tinham que estar absolutamente certos de que essas
fontes de rádio pulsantes eram reais antes de contar ao mundo” (McNamara, 2008, p. 46).
O Segundo Achado: Adeus, Little Green Men!
De maneira concomitante ao desenvolvimento das análises do Efeito Doppler, as quais não
possibilitaram identificar evidências do sinal estar situado em um planeta, Bell identificou outro sinal com
características semelhantes ao primeiro, o que, na perspectiva de muitos estudiosos sobre a temática, como
McGrayne (1998, p. 368), “resolveu a questão da fonte do sinal de uma maneira diferente”. A astrônoma
relata que detectou o segundo sinal na noite do dia 21 de dezembro de 1967. A cientista estava em pleno
trabalho em seu laboratório, pois “[...] com todas essas travessuras de pulsares, essas coisas engraçadas e
os gráficos de rotina sendo registrados a trinta metros por dia, a análise estava ficando muito atrasada” (Bell
Burnell, 1983, p. 168). Neste estágio, cabe ressaltar que “as análises de gráficos rotineiras continuaram e
uma vigilância foi mantida para outras fontes” (Bell, 1969, p. 222). Nesse momento, a cientista relata que ao
verificar os gráficos de outra parte do céu, em “[...] um pedaço de gráfico por volta das onze horas e meia da
ascensão reta” (Bell Burnell, 1983, p. 168), ela identificou um possível novo sinal:
“E pouco antes de o laboratório fechar às 10 horas, eu estava olhando para um
pedaço de céu que incluía Cassiopeia A, uma forte fonte de rádio, em menor
culminação. É circumpolar na Grã-Bretanha, o que significa que você pode pegá-
lo lindamente no sul e, 12 horas depois, se você não tiver sorte, é tão forte que
você pode pegá-lo novamente no norte, pela parte de trás do seu radiotelescópio.
Então, ele está muito baixo no horizonte, cintila furiosamente e é uma bagunça.
[...] No meio da bagunça lá parecia ser um desses pequenos sinais engraçados e
desalinhados. [...] Registros anteriores daquela parte do céu foram [...] espalhados
pelo chão; e lá, em duas ou três ocasiões anteriores estava uma sugestão de
‘scruff’” (Bell Burnell, 2004, p. 1.10).
8
Henrique (2011) apresenta discussões sobre as controvérsias entre estas duas teorias cosmológicas, cujas reflexões são
direcionadas ao ensino de ciências.
Investigações em Ensino de Ciências – V27 (1), pp. 108-136, 2022
122
Entretanto, devido ao horário, a cientista descreve que precisou “[...] sair do laboratório antes que
fechasse para a noite, sabendo que o sinal transitaria nas primeiras horas da manhã” (Bell Burnell, 1977, p.
687). De maneira a efetuar mais registros deste sinal, a astrônoma se dirigiu para o observatório no meio da
madrugada, no horário do trânsito. Em meio a problemas no radiotelescópio, a cientista descreve que
encontrou um possível segundo sinal, que em sua perspectiva possibilitou desconsiderar a hipótese dos
Little Green Men:
“Às duas horas da manhã [...] eu estava no observatório, e estava extremamente
frio. Por motivos que nunca entendi, quando estava muito frio o telescópio operava
com metade da potência. E é claro que naquela noite ele estava com meia
potência. Então, apertei os interruptores, respirei [...] e fiz com que funcionasse
com força total por cinco minutos. Foram os cinco minutos certos e no cenário
certo. Apareceu outro fluxo de pulsos, desta vez com um intervalo de 11/4 segundo,
e não 11/3 segundo. [...] Não era uma falha com o equipamento, não era um sinal
gerado localmente, era algo lá fora entre as estrelas. Fosse o que fosse, este era
outro, em uma parte totalmente diferente do céu. [...] Tinha que ser algum tipo
novo de algo estelar e nós encontramos os primeiros” (Bell Burnell, 2004, p. 1.10).
A cientista coloca que o sinal consistia em uma série de pulsos com o intervalo de 1,2 segundo, cujo
período era ainda menor em comparação ao primeiro sinal encontrado (Bell Burnell, 1977, 1983). Naquele
momento, ela descreve: “Deixei a gravação na mesa de Tony e saí muito mais feliz para o feriado de Natal.
Era muito improvável que dois grupos de homenzinhos verdes escolhessem a mesma frequência
improvável e, ao mesmo tempo, tentassem sinalizar para o mesmo planeta Terra” (Bell Burnell, 1977, p.
687). Esta justificativa da astrônoma possibilita apontarmos algumas importantes reflexões presentes em
trabalhos voltados à investigação deste episódio histórico.
Alguns autores (Wade, 1975; McGrayne, 1998; Dick, 2013) sublinham que, além das evidências
identificadas em relação ao Efeito Doppler, que possibilitaram rejeitar a possibilidade dos sinais serem
emitidos de um planeta por comunicação extraterrestre, a detecção deste segundo sinal semelhante por
Jocelyn Bell Burnell oportunizou a desconsideração definitiva da hipótese dos Little Green Men, aspecto que
se direciona aos argumentos apresentados pela astrônoma. Outros pesquisadores (Penny, 2013; Vidal,
2019), entretanto, em uma análise retrospectiva do episódio, discutem as justificativas assumidas pelos
cientistas para desconsiderar esta hipótese, argumentando que ambas as evidências observacionais
obtidas pelo grupo possivelmente não eram conclusivas no sentido de abandonar a polêmica conjectura.
Por exemplo, Vidal (2019) coloca que estas justificativas apresentavam um viés possivelmente
antropocêntrico; além disso, indica várias razões que, combinadas, fortaleceram o abandono desta
hipótese: em sua perspectiva, a razão mais influente seria o posterior desenvolvimento de uma explicação
teórica para o comportamento destes sinais, que consistiria no modelo de farol cósmico elaborado por
Thomas Gold. Por sua vez, Penny (2013, p. 10-11) argumenta que
“Em retrospecto, naquele momento, as razões para rebaixar a explicação dos
sinais inteligentes não são de fato totalmente conclusivas. A falta de movimento
orbital pode ser explicada pelos alienígenas colocando sua fonte longe de uma
estrela. O fato de haver várias dessas fontes significaria apenas que os
alienígenas eram comuns. O fato de os sinais serem intrinsecamente poderosos
significaria apenas que os alienígenas eram muito avançados. Mas, no geral, o
julgamento foi razoável: havia uma explicação natural plausível em estrelas de
nêutrons pulsantes e a explicação LGM veio unicamente da nitidez e
regularidade dos pulsos. Qualquer alegação 'LGM' precisa de evidências
extraordinárias, e no início de janeiro de 1968, isso simplesmente não estava
presente. No geral, o processo foi extremamente rápido. De 28 de novembro,
quando a natureza pulsante foi vista pela primeira vez, até meados de janeiro,
quando a explicação da estrela de nêutrons foi adotada durante a redação do
artigo, durou apenas sete semanas. [...] Todo o processo foi um tour de force de
persistência, descoberta, investigação e teorização”.
Encaminhamentos Para o Contexto Pós-Detecção
No mês de janeiro de 1968, o grupo de pesquisa de Hewish se organizou de maneira a caracterizar
os achados de maneira sistematizada, a partir das detecções realizadas por Jocelyn Bell de um terceiro e
quarto sinais nos registros gravados durante o seu período de férias (Bell Burnell, 1977, 1983, 2004): “Em 6
de janeiro de 1968, durante a análise de gráfico de rotina, duas fontes pulsantes mais prováveis foram
Investigações em Ensino de Ciências – V27 (1), pp. 108-136, 2022
123
percebidas” (Bell, 1969, p. 224). Em sua conferência Nobel, Antony Hewish descreve a atuação persistente
da pesquisadora, pois “Jocelyn Bell examinava todas as nossas gravações de levantamento do céu com
sua persistência e diligência típicas e produziu uma lista de possíveis posições de pulsares adicionais”
(Hewish, 1974, p. 178):
“Durante minhas férias, Tony gentilmente manteve a pesquisa em execução. Ele
colocou papel novo no registrador de gráfico e tinta nova nos tinteiros, e empilhou
os gráficos não analisados na minha mesa. Portanto, no meu retorno, ficou bem
claro o que eu tinha que fazer. Comecei a pensar que tinha tido um feriado muito
bom quando, depois de cerca de uma hora, encontrei mais dois sinais
desalinhados. Tony veio e disse: ‘Quantos sinais mais você perdeu? Volte para
todas as suas gravações antigas’. Isso eu diligentemente fiz, mas não descobri
mais nada. Nas semanas seguintes, confirmamos os números três e quatro” (Bell
Burnell, 2004, p. 1.10).
O terceiro e quarto sinais foram encontrados “em um pedaço do gráfico, com uma hora ou mais de
intervalo em ascensão reta [...] 0834 e 0950. Passaram-se mais duas semanas antes de 1133 [o segundo]
ser confirmado, e logo depois disso o terceiro e o quarto” (Bell Burnell, 1977, p. 687). Em outro relato, a
cientista coloca que o terceiro sinal encontrado possuía “[...] cerca de 1,27 segundo, mas 0950 era muito
diferente. [...] O período de pulso é um quarto de segundo; trata-se do pulsar mais rápido que poderíamos
ter detectado com aquela constante de tempo de décimo de segundo” (Bell Burnell, 1983, p. 169). Sobre
este último sinal, Bell Burnell e Hewish apontam que
“[...] era realmente empolgante porque apresentou um período de um quarto de
segundo [...] e estava aumentando nosso entendimento. Também pode ser,
ocasionalmente, um sinal incrivelmente forte. Tornou-se uma espécie de atração
turística para outros pesquisadores e estudantes, que iam ao observatório no
momento apropriado apenas para ver uma caneta varrendo o papel quadriculado
e batendo contra as paradas finais quatro vezes por segundo” (Bell Burnell, 2004,
p. 1.10).
“[...] antes de enviar nosso artigo para publicação, em 8 de fevereiro, estávamos
confiantes de que existiam três pulsares adicionais, embora seus parâmetros
fossem então apenas grosseiramente conhecidos. Lembro-me bem da manhã em
que Jocelyn entrou na minha sala com a gravação de um possível pulsar que ela
havia feito na noite anterior em ascensão reta 09h50m. Quando espalhamos o
gráfico no chão e colocamos uma régua contra ele, uma periodicidade de 0,25
segundos era perceptível” (Hewish, 1974, p. 178).
Durante a redação do artigo, a astrônoma destaca que o grupo de pesquisa não sabia como
nomear os achados. A cientista lembra “[...] de uma discussão séria sobre o título. Seria ‘fonte pulsante’ ou
‘fonte pulsada’?” (Bell Burnell, 2004, p. 1.10). Na visão da cientista (Bell Burnell, 1977, 1983, 2004),
entretanto, a publicação dos achados ainda era relativamente arriscada, pelo fato de que as evidências
empíricas coletadas não eram substancialmente suficientes para uma publicação. Apesar disso, a Revista
Nature publicou o artigo (Figura 5) intitulado Observation of a Rapidly Pulsating Radio Source (Hewish, Bell,
Pilkington, Scott & Collins, 1968) no dia 24 de fevereiro, sendo Jocelyn Bell a segunda autora
9
. De maneira
geral, o artigo apresenta um estudo mais aprofundado das características da primeira fonte encontrada pela
cientista, embora mencione as outras três identificadas posteriormente.
9
É possível problematizar o fato de a cientista não ter sido indicada como primeira autora do artigo, tendo em vista seu papel
importante na identificação destes objetos. Cabe apontar que, ainda, em artigo posterior publicado pelo grupo (Pilkington, Hewish,
Bell & Cole, 1968), em que detalham as características dos outros três sinais identificados, o primeiro autor consistiu em um dos
membros do grupo, o cientista John Pilkington – a cientista é a terceira autora deste artigo.
Investigações em Ensino de Ciências – V27 (1), pp. 108-136, 2022
124
Figura 5 – Cabeçalho do artigo publicado na Nature em 1968 (Extraído de Hewish et al., 1968).
Neste contexto, a cientista se concentrou na finalização da escrita de sua tese de doutorado.
Segundo ela, “[...] entreguei as antenas ao próximo aluno de pesquisa e me retirei para analisar todos os
gráficos, medir os diâmetros angulares de muitos quasares e escrever uma tese” (Bell Burnell, 1983, p.
169). Curiosamente, apesar de protagonizar uma importante descoberta no campo da Astronomia, seus
achados relativos aos pulsares permaneceram no apêndice do seu trabalho, em uma seção chamada
Pulsed Radio Sources (Bell, 1969). Nesta seção de sua tese, a pesquisadora descreve algumas das
características das fontes de rádio identificadas e algumas conjecturas consideradas pelo grupo de
pesquisa, como a hipótese de comunicação extraterrestre. Sobre este aspecto, a cientista relata que
“[...] quando cheguei a Cambridge, fui presenteada com minhas ferramentas e
comecei a construir este radiotelescópio; acreditei que estava em um projeto para
identificar tantos quasares quantos fossem possíveis no céu visível de Cambridge,
e tentar medir seus diâmetros angulares. E, na verdade, era sobre isso que minha
tese tratava, porque quando os pulsares apareceram, meu supervisor, Tony, me
avisou que era tarde demais para mudar o título da tese. Pelo que agora sei sobre
os sistemas universitários, acho que ele estava errado, mas como estudante de
doutorado, acreditei nele. Então, os pulsares ficaram em um apêndice e eu escrevi
uma tese substancial sobre os diâmetros angulares de quasares usando uma
técnica de cintilação interplanetária, tudo feito em um período de três anos” (Bell
Burnell, 2004, p. 1.7).
Em relação à repercussão, que não se restringiu apenas ao âmbito da comunidade científica, a
astrônoma descreve que, no artigo “[...] mencionamos que em um determinado estágio pensamos que os
sinais poderiam ser de outra civilização” (Bell Burnell, 1977, p. 688). No que se refere à este aspecto, como
esperado, houve reações do achado no âmbito midiático. Várias notícias publicadas na época enfatizavam
justamente que os cientistas consideraram as possibilidades de comunicação extraterrestre. A título de
exemplo, no jornal The Times, no dia 08 de março de 1968, uma das passagens sobre o achado era a
seguinte: “[...] no início, a assombrosa regularidade dos pulsos levantou a possibilidade de que os sinais
viessem de algum tipo de vida extraterrestre” (Penny, 2013, p. 9). Cabe apontar que a nomenclatura para
estes sinais acabou sendo definida mediante a sugestão despretensiosa de um jornalista científico do jornal
Daily Telegraph:
“O nome 'pulsar' foi cunhado pelo correspondente científico do Daily Telegraph,
Anthony Michaelis, e usado pela primeira vez em um artigo do Daily Telegraph em
5 de março de 1968. Ele foi um dos muitos jornalistas e comentaristas de TV que
nos entrevistaram após o anúncio da descoberta. Não tínhamos pensado em um
nome, a não ser debater se deveriam ser descritos como fontes de rádio
‘pulsantes’ ou ‘pulsadas’ [...] E aceitamos a sugestão de Michaelis do nome
‘pulsar’, análogo a quasar” (Bell Burnell, 2017, p. 831).
É importante destacar que a cientista vivenciou situações inconvenientes durante a divulgação do
achado na imprensa, quando os jornais descobriram que uma mulher estava envolvida nesta descoberta
científica. A título de exemplo, houve situações que, enquanto questionavam a Hewish sobre a importância
da descoberta, perguntas de cunho pessoal eram direcionadas à cientista (Bell Burnell, 2004). Ainda assim,
a atuação de Jocelyn Bell Burnell enquanto doutoranda na Universidade de Cambridge oportunizou uma
importante descoberta para a História da Astronomia no Século XX. Quando questionada se havia sido
emocionante estar envolvida na identificação dos objetos estelares que posteriormente seriam denominados
de pulsares, ela respondeu negativamente, argumentando que fora algo “[...] assustador e preocupante. Foi
ótimo ter encontrado os [pulsares] subsequentes, mas não encontrar o primeiro” (Bell Burnell, 2004, p. 1.9).
Investigações em Ensino de Ciências – V27 (1), pp. 108-136, 2022
125
Posteriormente, outro fato polêmico consistiu na omissão de Jocelyn Bell Burnell no Prêmio Nobel
de Física de 1974, cuja láurea fora concedida somente à Martin Ryle, chefe do grupo de radioastrônomos
de Cambridge e ao orientador da cientista, Antony Hewish. Embora em seu discurso na premiação Hewish
tenha agradecido Bell “[...] pelo cuidado, diligência e persistência que levou à nossa descoberta tão cedo no
programa de cintilação” (Hewish, 1974, p. 183), estudos de Gênero e Ciência, a exemplo de Rossiter
(1993), sugerem que esta premiação ilustra um fenômeno denominado Efeito Matilda, compreendido como
a atribuição para homens, como orientadores ou parceiros, de pesquisas protagonizadas por mulheres. Por
certo, o astrofísico Iosef Shklovsky (1916-1985), em um encontro acadêmico com a astrônoma, em meados
da década de 1970, disse a ela: “Miss Bell, você fez a maior descoberta astronômica do Século XX”
(Longair, 2006, p. 196-197).
A DETECÇÃO DOS PULSARES: REFLEXÕES EPISTEMOLÓGICAS
Embora o episódio histórico de detecção dos pulsares pelo grupo de radioastrônomos de
Cambridge seja temporalmente breve, ele apresenta relevantes elementos para discussões
epistemológicas, que podem ser realizadas no contexto de ensino de Física e de Astronomia. Nesta
perspectiva, elencamos reflexões sobre este episódio com base em aspectos das filosofias de Thomas
Kuhn (2011, 2017, 2018) e Norwood Hanson (1967) e em apontamentos de estudiosos que se debruçam,
especificamente, sobre a serendipidade em descobertas científicas (Rosenman, 1988; Van Andel, 1994;
Merton & Barber, 2004; Norrby, 2010; Gillies, 2015, Copeland, 2019). Para contribuir com a análise,
retomaremos elementos dos relatos das/os cientistas envolvidos e reflexões de estudiosas/os sobre o
episódio, além de aspectos apresentados em pesquisas do ensino de ciências sobre discussões histórico-
filosóficas.
A identificação das fontes celestes em ondas de rádio por Jansky e Reber na década de 1930
inaugurou um novo e importante segmento da Astronomia: a Radioastronomia. Seu surgimento, como
exposto por McNamara (2008) e Longair (2011), mediante o desenvolvimento dos radiotelescópios, gerou
mudanças específicas na maneira como os objetos estelares poderiam ser observados, propiciando a
possibilidade da identificação de entidades astronômicas ainda não conhecidas em outras faixas do
espectro eletromagnético. Como destaca Thomas Kuhn (2018, p. 90), na sua obra A Estrutura das
Revoluções Científicas, “[...] os radiotelescópios são apenas os exemplos mais recentes de até onde os
investigadores estão dispostos a ir, se um paradigma os assegurar da importância dos fatos que
pesquisam”. Com efeito, os radiotelescópios começaram a ser desenvolvidos com base em pressupostos
paradigmáticos da Física e da Astronomia, fazendo com que novas possibilidades em termos teóricos e
observacionais pudessem ser consideradas pelos radioastrônomos. Por certo, isso ilustra que “[...] o
paradigma é um objeto a ser melhor articulado e precisado em condições novas ou mais rigorosas” (Kuhn,
2018, p. 88).
Estas breves características denotam o que, de acordo com Thomas Kuhn, ocorre em um contexto
de ciência normal. Segundo o filósofo, “[...] a pesquisa científica normal está dirigida para a articulação
daqueles fenômenos e teorias já fornecidos pelo paradigma” (Kuhn, 2018, p. 89). Assim, a atuação dos
membros do grupo de radioastrônomos da Universidade de Cambridge exemplifica um trabalho que ocorre
no âmbito de uma ciência normal, pelo fato de que as/os pesquisadoras/es envolvidas/os trabalharam na
articulação de alguns pressupostos elencados pelo segmento da Radioastronomia. De fato, Longair (2011)
aponta que os objetivos do radiotelescópio construído pelo grupo envolviam investigações sobre a técnica
de cintilação interplanetária em relação a possibilidades ainda não bem aprofundadas, como a procura por
mais quasares e seus diâmetros angulares, além do estudo das características do vento solar. Neste
campo, as/os cientistas objetivavam desenvolver a “[...] extensão da teoria existente a áreas em que se
esperaria que fosse aplicável, mas nas quais isso nunca havia sido tentado” (Kuhn, 2011, p. 249).
Em específico, os objetivos da pesquisa de doutorado de Jocelyn Bell ilustram a existência deste
contexto de solução de enigmas, próprio da ciência normal. O trabalho da cientista consistia em calcular
diâmetros angulares de quasares mediante a técnica de cintilação interplanetária desenvolvida por seu
orientador. Nestas condições, os esforços da cientista objetivavam “[...] elucidar, em vez de alterar, a
tradição científica em que foram criados” (Kuhn, 2011, p. 250). Tal atuação implica em “[...] uma tentativa de
ajustar a teoria ou observação existentes, de modo que ambas apresentem concordância cada vez maior”
(Kuhn, 2011, p. 249).
Estes aspectos possibilitam compreender que a atuação das/os cientistas em um período de ciência
normal é tão importante quanto nos períodos em que há grandes rupturas teóricas, com mudanças
revolucionárias:
Investigações em Ensino de Ciências – V27 (1), pp. 108-136, 2022
126
“[...] nem a ciência e nem o desenvolvimento do conhecimento poderão ser
entendidos, caso a pesquisa seja vista exclusivamente pelas revoluções que
produz de tempos em tempos. Por exemplo, embora os compromissos básicos
sejam postos à prova apenas na ciência extraordinária, é a ciência normal que
revela tanto os pontos a serem testados como a maneira de realizar os testes”
(Kuhn, 2011, p. 289).
Cabe ressaltar que as pesquisas desenvolvidas no domínio de uma ciência normal “[...] não tem
como propósito a produção de descobertas fundamentais ou mudanças revolucionárias na teoria científica”
(Kuhn, 2011, p. 249). Apesar disso, a investigação aprofundada de determinado aspecto da natureza abre
precedentes para que inconsistências sejam identificadas pelas/os cientistas – como observado por Jocelyn
Bell. Assim, a detecção do scruff por Bell em meio de suas pesquisas sobre quasares ilustra que,
eventualmente, “[...] fenômenos novos e insuspeitados são periodicamente descobertos pela pesquisa
científica” (Kuhn, 2018, p. 128).
Neste sentido, Kuhn argumenta sobre a existência de determinadas descobertas “que não poderiam
ser previstas com base nas teorias aceitas, e, portanto, apanharam de surpresa a profissão como um todo”
(Kuhn, 2011, p. 184). Por outro lado, também reconhece descobertas na qual sua existência “[...] havia sido
prevista na teoria [...] e os que realizaram a descoberta sabiam, portanto, o que procurar desde o início”
(Kuhn, 2011, p. 185). Apesar destas classificações, Thomas Kuhn reconhece que nem sempre tais
episódios podem ser caracterizados inequivocamente em uma ou outra destas categorias, como é possível
constatar no episódio de detecção dos pulsares.
Outro estudioso que discorre sobre possíveis categorizações de descobertas científicas, esta feita
com bastantes pormenores, é Norwood Hanson. Em seu artigo An Anatomy of a Discovery, ele descreve
que existem descobertas trip-over, que ocorrem ao acaso, as quais se apresentam sem quaisquer
expectativas das/os cientistas. Em seguida, indica a existência de descobertas resistivas, ou back-into
discoveries, que são consideradas como descobertas que se opõem as expectativas das/os
pesquisadoras/es. Também, aponta, como Kuhn, a existência das descobertas previstas, ou puzzle-out
discoveries, que implicam expectativas teóricas para que sejam encontradas. Por último, elenca a existência
das descobertas generalizadoras, ou subsume and reticulate discoveries, responsáveis por unificar
determinadas construções científicas de forma teórica e/ou empírica. Em suma, Hanson (1967) e Kuhn
(2011) ilustram que descobertas, de várias naturezas, “[...] podem ocorrer em distintos momentos
procedimentais de uma investigação científica” (Raicik & Peduzzi, 2016, p. 154).
Em consonância com a interpretação de certos estudiosos (Wade, 1975; Rosenman, 1988; Roberts,
1989; McNamara, 2008; Norrby, 2010; Dick, 2013), o episódio histórico dos pulsares elenca elementos que
possibilitam entender que o trabalho protagonizado por Jocelyn Bell acarretou um achado inesperado, uma
descoberta serendíptica
10
. Primeiramente, seu objetivo de pesquisa era encontrar comportamentos
ondulatórios de quasares ou, na pior das hipóteses, sinais de radiointerferência, o que permite ilustrar que
“uma das coisas de que depende a prática da ciência normal é a capacidade aprendida de agrupar objetos
e situações em classes de similaridade” (Kuhn, 2017, p. 213). O aprofundamento da cientista em meio a
estas concepções teóricas exigidas por seus objetivos de pesquisa possibilitou se deparasse com algo
insuspeito. Em suma, a cientista sabia reconhecer como os sinais apareceriam nos registros do
radiotelescópio.
De outra forma, “o acaso beneficia os pesquisadores que estão imersos em determinada
investigação” (Peduzzi & Raicik, 2020, p. 40), pelo fato de que “[...] conhecem bem seus instrumentos e
sabem qual deve ser o comportamento da natureza” (Kuhn, 2011, p. 192). Tais descobertas se manifestam
quando a/o cientista, “[...] sabendo com precisão o que deveria esperar, é capaz de reconhecer que algo
saiu errado” (Kuhn, 2018, p. 143). De fato, este aspecto se apresenta nos relatos da astrônoma, a qual
descreve sua inquietação concernente ao sinal com comportamento ondulatório diferenciado que havia
encontrado em seus longos registros. Assim, tais descobertas se manifestam com base em um arcabouço
teórico pré-existente, a partir de uma “mente preparada” que permite identificar algo inesperado. Desse
modo, “[...] sem um estoque substancial de conhecimento, os indivíduos não têm os requisitos para que
‘algum tipo de catálise’ ocorra. Na verdade, o ‘dom da serendipidade’ depende de tal conhecimento” (Merton
& Barber, 2004, p. 173). Em suma, “[...] a mente preparada do cientista [...] transformou uma observação
trivial, feita por muitos antes, em uma alavanca para um novo entendimento” (Norrby, 2010, p. 48).
10
A origem etimológica do termo serendipidade é atribuída ao conto persa Os Três Príncipes de Serendip. Este conto relata que “[...]
conforme suas altezas viajavam, eles estavam sempre fazendo descobertas, por acidentes e sagacidade, de coisas que eles não
buscavam” (Rosenman, 1988, p. 132). Cabe destacar que desenvolvemos uma discussão prévia sobre a presença da serendipidade
na detecção dos pulsares em Pires e Peduzzi (2021b).
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127
Esta discussão também perpassa um importante aspecto: considerar apenas a postura individual de
cientistas pode não ser suficiente na análise de uma descoberta científica permeada pela serendipidade. De
outro modo, além da importância de se ressaltar a importância da “mente preparada”, a exemplo de Bell
Burnell, igualmente é necessário enfatizar o contexto social e a coletividade que envolve a/o cientista,
reconhecendo a importância da flexibilidade e da autonomia dos grupos de pesquisa na investigação de um
achado inesperado (Merton & Barber, 2004; Gillies, 2015; Copeland, 2019) – o que de fato, observamos na
postura dos membros do grupo de radioastrônomos de Cambridge.
“Assim, um processo de descoberta fortuita provavelmente envolverá a
participação de vários cientistas, de uma forma ou de outra, e se estenderá ao
longo do tempo. Em contraste com a representação individualista da
serendipidade como um ‘lampejo de percepção’, então, temos uma imagem da
serendipidade ocorrendo dentro de uma comunidade, envolvendo redes de
indivíduos e interações” (Copeland, 2019, p. 2390).
Norwood Hanson (1967), por sua vez, contribui para a compreensão do acaso
11
em descobertas
científicas ao apontar que ele se manifesta sem que haja qualquer expectativa anterior das/os
pesquisadoras/es. A detecção dos primeiros sinais pulsados por Jocelyn Bell ilustra o fato de que em
descobertas casuais
“Nenhuma expectativa teórica ou psicológica anterior sulca as fronteiras da
investigação em tal caso. As teorias e suposições existentes eram independentes
e evasivas em relação ao surgimento dessa descoberta” (Hanson, 1967, p. 336).
Ainda que essa caracterização elaborada por Hanson (1967) permita ressaltar que a identificação
dos pulsares consistiu em uma descoberta ao acaso, a existência destes objetos, no entanto, já era
parcialmente prevista mediante sugestões sobre a existência de estrelas de nêutrons, que posteriormente
viriam a explicar o comportamento dos sinais encontrados por Jocelyn Bell. Na época da detecção, porém,
estes elementos teóricos não foram imediatamente considerados pelo grupo de Cambridge na construção
das primeiras conjecturas: eles foram se manifestar posteriormente, a partir da publicação do artigo na
Revista Nature pelo grupo de radioastrônomos (Hewish et al., 1968) e em artigos publicados por outras/os
cientistas. Desta forma, este aspecto oportuniza argumentarmos que este episódio é um dos exemplos que
aparenta não se enquadrar inequivocamente nas classificações sobre descobertas científicas elaboradas
por Kuhn (2011), pelo fato de que as estrelas de nêutrons já eram parcialmente previstas, mas sua
observação ocorreu de maneira inesperada. Em outras palavras, na perspectiva de Jocelyn e do grupo de
pesquisa, encontrar os pulsares consistiu em um evento inesperado, mas, no ponto de vista da comunidade
astronômica, estes achados vieram a corroborar uma predição parcial elaborada décadas antes.
Considerando a atuação de Jocelyn Bell, de Antony Hewish e dos demais radioastrônomos do
grupo de Cambridge em um contexto de ciência normal, podemos perguntar se a descoberta protagonizada
por Jocelyn Bell pode ser descrita como uma anomalia, nos termos de Thomas Kuhn. Em certa medida,
podemos dizer que sim, no sentido de que fora “reconhecível como uma violação das expectativas” (Kuhn,
2011, p. 192) geradas no âmbito do corpo de conhecimento aceito. De outra maneira, Merton e Barber
(2004, p. 197) apresentam que “[...] uma descoberta acidental depende da observação de dados
inesperados e anômalos”. De fato, isto era visível nos relatos das/os cientistas envolvidos no episódio: não
era esperado que um objeto astronômico pudesse emitir radiação eletromagnética na faixa do rádio em um
período tão preciso e rápido, além de se manifestar de maneira incomum no período noturno.
No entanto, as/os cientistas envolvidos puderam assimilar, ainda que preliminarmente, este novo
fato por meio de pressupostos da Radioastronomia, caracterizando parcialmente este objeto com o cálculo
do seu período e de sua distância em relação a Terra, por exemplo. Posteriormente, novos conhecimentos
sobre os pulsares foram desenvolvidos mediante o trabalho de outras/os cientistas, gerando uma ampliação
na capacidade explicativa do paradigma. Não somente isso, cientistas atuaram no resgate de construções
teóricas – a predição das estrelas de nêutrons por Baade e Zwicky publicadas em meados da década de
1930 – que antecedeu a detecção por Jocelyn Bell e que viria a contribuir na compreensão da natureza
11
No texto, os termos serendipidade e acaso são mencionados de maneira indistinta. Ainda assim, reconhecemos a existência de
estudos, a exemplo de Gillies (2015), que estabelecem discrepâncias entre estes termos. Por exemplo, a descoberta dos raios-X por
Wilhelm Conrad Röentgen (1845-1923) seria serendíptica, pois ao estudar os tubos de raios catódicos, “ele estava procurando uma
coisa [...] e encontrou outra” (p. 527). As descobertas casuais, por sua vez, envolvem acidentalidades nas práticas científicas e
modificam substancialmente os rumos da pesquisa, como o caso da identificação da penicilina por Alexander Fleming (1881-1955).
Com efeito, Merton e Barber (2004) apontam que existem diferentes compreensões sobre a serendipidade desenvolvidas ao longo
da história.
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destas estrelas. Assim, tal aspecto ilustra o início do processo de compreensão conceitual sobre estes
novos sinais em um âmbito de ciência normal, na qual “[...] simplesmente revisa-se ou acrescenta-se uma
única generalização e todas as outras permanecem as mesmas” (Kuhn, 2017, p. 41). Neste sentido,
Thomas Kuhn reforça o caráter dinâmico das investigações desenvolvidas durante a ciência normal,
ressaltando que, ainda que não gerem crises agudas, novos fenômenos podem surgir neste contexto:
“Depois da assimilação da descoberta, os cientistas encontravam-se em
condições de dar conta de um número maior de fenômenos ou explicar mais
precisamente alguns dos fenômenos previamente conhecidos. Tal avanço
somente foi possível porque algumas crenças ou procedimentos anteriormente
aceitos foram descartados e, simultaneamente, substituídos por outros. Procurei
mostrar que alterações desse tipo estão associadas com todas as descobertas
realizadas pela ciência normal” (Kuhn, 2018, p. 145).
A detecção dos pulsares é um dos episódios científicos que possibilita perceber que a identificação
de um novo fenômeno de maneira inesperada e inicialmente não compreendida pode ser posteriormente
digerida, sem grandes sobressaltos, pelo paradigma vigente. Mediante a modificação de determinadas
crenças sobre o processo de evolução estelar, foi possível conceder uma compreensão mais estruturada,
com respaldo observacional, sobre características das estrelas de nêutrons. Efetivamente, Kuhn (2018, p.
181) argumenta que “[...] um novo fenômeno pode emergir sem refletir-se destrutivamente sobre algum
aspecto da prática científica passada”. No âmbito deste episódio, a identificação dos pulsares desencadeou
uma ampliação nas possibilidades do que os radiotelescópios poderiam observar.
Além disso, ressaltamos que descobertas acidentais “[...] só adquirem significados quando captam a
atenção de alguém capaz de colocá-las em um contexto científico” (Merton & Barber, 2004, p. 297). Isso
implica a postura atenta das/os cientistas para que estes achados inesperados sejam identificados. Por
certo, além da importância da/o cientista “[...] estar sempre atento a algo inesperado e refletir se essa
ocorrência inesperada pode ter algum significado” (Gillies, 2015, p. 527), igualmente é importante que a/o
cientista possua “[...] uma atitude flexível em relação aos seus planos de pesquisa e estar preparado para
mudá-los à luz de desenvolvimentos inesperados” (Gillies, 2015, p. 528). Ainda que Jocelyn Bell e seus
colegas de grupo não possuíssem expectativas teóricas para este achado, eles identificaram que o
comportamento do sinal se diferenciava do que usualmente era esperado e se direcionaram para o estudo
deste novo objeto. Em outras palavras, o achado “[...] apresentou resultados inesperados que “forçaram” os
cientistas [...] a fazer mais investigações, e essas pesquisas adicionais foram frutíferas além de qualquer
expectativa” (Merton & Barber, 2004, p. 188). Este aspecto evidencia a não existência da neutralidade
das/os pesquisadores frente a descobertas como as inesperadas, pois “reconhecendo o imprevisto, e sua
possível fecundidade para a pesquisa, o investigador passa a estudá-lo” (Peduzzi & Raicik, 2020, p. 40).
Nesta perspectiva, o grupo de radioastrônomos de Cambridge se mobilizou de maneira a compreender, em
um âmbito inicial, o comportamento deste objeto. Como exposto por Kuhn (2018, p. 112):
“[...] o cientista deve preocupar-se em compreender o mundo e ampliar a precisão
e o alcance da ordem que lhe foi imposta. Esse compromisso, por sua vez deve
levá-lo a perscrutar com grande minúcia empírica (por si mesmo ou através de
colegas) algum aspecto da natureza. Se esse escrutínio revela bolsões de
aparente desordem, esses devem desafiá-lo a um novo refinamento de suas
técnicas de observação ou a uma maior articulação de suas teorias”.
Os relatos de Jocelyn Bell (1983, 2004) e Hewish (1974) ilustram que o grupo realizou a instalação
de um receptor específico no radiotelescópio de forma a analisar o comportamento do primeiro sinal,
fazendo com que assumissem que o achado consistia em uma novidade, de fato. Em seguida, outras ações
foram desenvolvidas pelo grupo de pesquisa: Antony Hewish entrou em contato com outros
radioastrônomos para verificar a possibilidade de interferência humana; de maneira a confrontar a hipótese
de problemas técnicos com o próprio radiotelescópio, Jocelyn Bell, seu orientador e outros radioastrônomos
procuraram pela manifestação do mesmo sinal em outro telescópio, expectativa que se concretizou. Este
caminho percorrido por Jocelyn Bell e seus colegas ilustra que o empreendimento científico, além de não
ser construído de maneira neutra, “possui um pluralismo metodológico e um dinamismo entre as teorias, as
hipóteses e as experiências desenvolvidas” (Raicik & Peduzzi, 2016, p. 161), o que depõe contra a suposta
existência de um método científico imutável, que pode ser aplicado em qualquer circunstância da prática
científica. Em suma, este aspecto permite perceber o “[...] abandono da ideia de ciência como um
empreendimento monolítico único limitado por um método único” (Kuhn, 2017, p. 149).
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Ainda sob esta perspectiva, Kuhn (2018, p. 134) argumenta um aspecto importante, ao comentar
sobre as descobertas do oxigênio e dos raios-X. Segundo ele, “[...] a percepção de que algo saíra errado foi
apenas o prelúdio da descoberta. Nem o oxigênio, nem os raios X surgiram sem um processo ulterior de
experimentação [ou observação] e assimilação”. De outra forma, somente a observação de algo inesperado
não caracteriza uma descoberta científica, mas esta se constitui pelas investigações direcionadas que
ocorrem posteriormente (Merton & Barber, 2004), o que implica que descobertas fortuitas não geram
respostas imediatas e conclusivas; é necessário “[...] um período de reflexão [...] para que o[a]
observador[a] reconheça o significado do evento casual” (Copeland, 2019, p. 2392). De fato, o grupo de
radioastrônomos de Cambridge desenvolveu buscas pelo mesmo sinal, para um melhor entendimento de
suas características, o que ilustra que “[...] busca dirigida e serendipidade não se excluem, mas [...] se
complementam e até se reforçam mutuamente” (Van Andel, 1994, p. 644).
Além disso, em meio a sua procura por quasares, Bell Burnell, em conjunto com os demais
membros do grupo, direcionou seu trabalho para também encontrar comportamentos ondulatórios em seus
registros que fossem semelhantes ao do primeiro achado, evidenciando que observações e experiências
“são conduzidas, sobretudo, pelo desejo de obter regularidades” (Peduzzi & Raicik, 2020, p. 39). Neste
sentido, Jocelyn Bell veio a encontrar outros três sinais que apresentavam comportamento regular e
pulsado, similar ao primeiro. Esses aspectos demonstram que “o trabalho científico sistemático sempre
segue a observação fortuita inicial [...] evoluindo a partir de experimentação rigorosa e amplo conhecimento
da área” (Rosenman, 1988, p. 135).
Cabe ponderar, ainda, sobre a hipótese mais polêmica, que consistia na remota possibilidade de os
sinais serem tentativas de comunicação extraterrestre. O que começou como um nome despretensioso, o
grupo de cientistas passou a considerar como uma conjectura passível de investigação, como mostram as
observações realizadas mediante o princípio do Efeito Doppler. De fato, “sua natureza [da fonte de rádio]
era a princípio completamente incerta [...] alguns dos líderes do grupo tiveram que lidar com a possibilidade
de terem detectado sinais de uma civilização alienígena” (Penny, 2013, p. 5). É importante destacar que,
enquanto os cientistas não possuíam evidências mais consistentes, pairou sobre o grupo de
radioastrônomos uma preocupação momentânea em relação à publicação do seu achado. Além disso, não
há consenso entre os estudiosos deste episódio em relação ao abandono da hipótese dos Little Green Men,
pelo fato de que determinados autores (Wade, 1975; McGrayne, 1998; Dick, 2013) indicam que
observações posteriores de sinais semelhantes puderam derrubar a hipótese dos homenzinhos verdes,
enquanto outros autores (Penny, 2013; Vidal, 2019) apontam que o achado de outros pulsares não seria o
suficiente para o abandono desta hipótese. Em suma, a aceitação ou a rejeição de conjecturas dependerá
da interpretação dos cientistas, dos seus objetivos e das suas expectativas de pesquisa.
À guisa de conclusão, destacamos outros aspectos presentes neste episódio histórico que se
apresentam de maneira mais pontual: curiosamente, Jocelyn Bell optou deliberadamente por realizar a
análise dos dados de forma manual, ainda que existissem computadores que pudessem realizar este
trabalho. No apêndice de sua tese de doutorado, a cientista inclusive argumenta que as fontes poderiam
não ter sido identificadas digitalmente, exceto por análises manuais. Segundo ela, “[...] se a saída da antena
tivesse sido digitalizada e alimentada diretamente em um computador, essas fontes poderiam muito bem
não ter sido descobertas, pois o computador não teria sido programado para buscar tais objetos
inesperados” (Bell, 1969, p. 231). Isso possibilita perceber a não neutralidade nos procedimentos científicos
e a influência das escolhas teóricas das/os cientistas em meio as suas pesquisas.
Por último, podemos constatar que as relações interpessoais entre os cientistas podem impulsionar
ou dificultar o prosseguimento e a apresentação de investigações para a comunidade científica. De forma
positiva, o grupo de radioastrônomos de Cambridge contatou outros colegas para verificar a existência
destes sinais, o que implica em um senso de coletividade na ciência. Por outro lado, a inimizade entre
alguns astrônomos e a reputação comprometida dos radioastrônomos de Cambridge acerca do conflito
cosmológico possivelmente interferiu na publicação dos achados do grupo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ainda que durante o desenvolvimento de seu doutorado Jocelyn Bell não tenha se comunicado, de
fato, com “homenzinhos verdes”, sua atuação decisiva propiciou o início de uma das mais importantes
descobertas científicas do Século XX. Neste sentido, embora seja imprescindível compreender a ciência
como construída com base na coletividade, como observamos no episódio discutido neste artigo,
evidenciamos que a astrônoma apresenta um papel de destaque na história dos pulsares. Assim, este
aspecto permite reforçar a importância de se demonstrar o protagonismo de mulheres nas contribuições
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130
científicas desenvolvidas ao longo da história (Lima, 2015; Maia Filho & Silva, 2019). De fato, “se faz
necessário que as discussões feitas sobre a natureza da ciência no ensino de Física, precisamente,
considerem também os marcadores identitários das pessoas que produzem essa ciência” (Lima, 2019, p.
164). Nesta perspectiva, iniciamos o desenvolvimento de um estudo que evidencia elementos da trajetória
acadêmica desta cientista, cujos primeiros resultados são apresentados em Pires e Peduzzi (2021c). Por
meio do exemplo de Bell Burnell, há potencialidades em se discutir a existência do Efeito Matilda, bem
como a influência do casamento e da maternidade na carreira de mulheres cientistas.
A análise epistemológica deste episódio histórico, em especial, com base nas reflexões de Thomas
Kuhn e Norwood Hanson, possibilitou evidenciar o papel da serendipidade em descobertas científicas, que,
por certo, consiste em uma importante temática que pode contribuir para uma melhor compreensão sobre a
Natureza da Ciência. Assim, em discussões sobre descobertas acidentais, é essencial situá-las em seu
contexto histórico, evidenciando os objetivos iniciais de trabalho das/os cientistas envolvidos. Neste sentido,
Kuhn adverte que “sabendo que os cientistas se tornam famosos por resultados que não pretendiam
alcançar”, precisamos “[...] perguntar em que problemas o autor trabalhava e como se tornaram problemas
para ele” (Kuhn, 2011, p. 132). Além disso, é imprescindível identificar, em decorrência de um achado
inesperado, a imersão na pesquisa e as concepções teóricas dos envolvidos, que intencionalmente
desenvolvem hipóteses e ações experimentais – ou observacionais, como no âmbito deste episódio – para
compreender novos achados. Efetivamente, como exposto por David Bohm (2015, p. 89), “um dos efeitos
do acaso é permitir que ‘as coisas se agitem’, permitindo o início de desenvolvimentos qualitativamente
novos”.
Neste âmbito, outros estudos sobre a serendipidade em descobertas científicas por meio de outros
episódios históricos são de suma importância, pois o “[...] componente acidental tem sido subestimado, ou
exagerado, ou simplesmente não compreendido” (Merton & Barber, 2004, p. 159). De fato, existem na
literatura perspectivas diversas sobre o papel da serendipidade e do acaso na ciência, que fazem com que
este aspecto, em relatos científicos, seja desconsiderado ou sobrestimado, acarretando compreensões
problemáticas sobre este conceito como um aspecto da natureza do conhecimento científico.
Nesta perspectiva, Merton e Barber (2004) expõem alguns destes pontos. Por exemplo, há
posicionamentos os quais apontam que considerar a serendipidade e o acaso como um dos fatores para a
ocorrência de descobertas científicas poderia ser um sinal de enfraquecimento da ciência, além de
desmerecer o trabalho sistemático das/os cientistas. Esta concepção, possivelmente, parece ser oriunda de
uma visão de ciência que a considera como um corpo de conhecimento rígido, pautado em um “método
científico” imutável. Assim, é compreendido que a experimentação e a observação possuem a função de
corroborar ou refutar teorias ou hipóteses, sem margens para ocorrências casuais. Diferente deste
posicionamento, valorizar o acaso não implica no abandono dos pressupostos teóricos no desenvolvimento
de experimentos ou de observações, mas possibilita “[...] dar o devido reconhecimento ao modo como os
dados empíricos podem desempenhar um papel [...] imprevisível” (Merton & Barber, 2004, p. 187), podendo
ser geradores para o reconhecimento de novos princípios e fenômenos (Raicik & Peduzzi, 2015). Em outras
palavras, mesmo que a ciência tenha se consolidado como uma “[...] busca por novos conhecimentos [...]
mais estruturada, mais previsível e, portanto, menos dependente de eventos casuais [...] isso é apenas
parcialmente verdadeiro [...] eventos fortuitos continuam a desempenhar um papel importante nas
descobertas científicas” (Norrby, 2010, p. 47). Em suma, “a história da ciência mostra [...] que a ciência
cresceu tanto por plano quanto por acidente” (Merton & Barber, 2004, p. 186).
Outra noção, que se faz presente no âmbito popular, consiste no fato da serendipidade ser
associada à ideia de um “acidente feliz”, como se as/os pesquisadoras/es descobrissem subitamente novos
fenômenos e que, de imediato, soubessem suas definições. Esta “[...] interpretação nociva da serendipidade
[...] tornaria a palavra sinônima de uma dependência irracional, intuitiva e passiva da ‘inspiração’ para
resposta a problemas científicos” (Merton & Barber, 2004, p. 198). Assim, entende-se que tais descobertas
resultam imediatamente em soluções de problemas científicos, sendo identificados de maneira simples e
corriqueira, sem exigir investigações aprofundadas por parte das/os cientistas.
Neste âmbito, a literatura aponta críticas coerentes sobre abordagens estereotipadas da
serendipidade na ciência, pois, entende-se, popularmente, que este aspecto se manifesta com “[...] pessoas
que ‘descobrem verdades universais’ observando fatos corriqueiros, por meio de insights” (Forato,
Pietrocola & Martins, 2011, p. 39, grifo no original). Tal concepção faz com que a atividade científica seja
“[...] reduzida a uma sucessão de eventos acidentais que supostamente culminaram em grandes feitos
científicos” (Garcia, 2019, p. 671). Diferente dessa perspectiva, pretendemos ressignificar o papel da
serendipidade em descobertas científicas, considerando que estas não ocorrem de maneira corriqueira,
mas, dentro de um contexto de imersão e de autonomia das/os cientistas em suas pesquisas. Ainda,
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131
concordamos com Copeland (2019, p. 2386) sobre o fato da “serendipidade na ciência [...] [ser] melhor
compreendida quando observada dentro do contexto mais amplo da comunidade científica, em vez de
estritamente pelas lentes da experiência individual”. Em suma, essa categoria de descoberta possibilita o
prelúdio de novos conceitos e de novos campos de estudo, bem como extensões de construções teóricas,
que se consolidam após o trabalho coletivo de muitas/os cientistas.
Não somente quanto ao papel da serendipidade, o episódio de detecção dos pulsares é um profícuo
exemplo para a ilustração de características da ciência normal. Foi possível evidenciar a dinamicidade que
se apresenta neste contexto científico, a qual abarca o prelúdio e o desenvolvimento de novas descobertas,
que não necessariamente acarretam em crises sem solução e em períodos de ciência revolucionária.
Apesar disso, ainda que o artigo tenha evidenciado a importância da ciência normal, consideramos que, de
maneira mais ampla, o desenvolvimento científico também deve ser compreendido por meio de suas
revoluções científicas. Neste sentido, entendemos “[...] o desenvolvimento científico como uma sucessão de
períodos ligados à tradição e pontuados por rupturas não cumulativas” (Kuhn, 2018, p. 321).
Além disso, o episódio de detecção dos pulsares proporciona, em certa medida, a reflexão sobre os
contextos da descoberta e da justificativa. Como elencado por Raicik e Peduzzi (2015, 2016), estes
contextos são delimitados de maneira dicotômica pelos filósofos positivistas, os quais consideram que o
contexto da descoberta está associado com aspectos subjetivos nas descobertas e as origens psicológicas
das ideias científicas, enquanto o contexto da justificação se refere à articulação lógica dos resultados
científicos. Conforme os positivistas, estes contextos são bem delimitados.
Não obstante, autores pós-positivistas, entre eles Thomas Kuhn e Norwood Hanson, problematizam
esta dicotomia, elencando que ambos os contextos, na prática científica, são indissociáveis. Dentre várias
justificativas, podemos apontar que, “o contexto da descoberta possui elementos complexos e lógicos – e
está, de forma intrínseca, relacionado ao contexto da justificação” (Raicik & Peduzzi, 2016, p. 151). Assim,
no âmbito do episódio analisado, percebemos que após identificarem os primeiros sinais de rádio incomuns,
o grupo de radioastrônomos mobilizou investigações teóricas e observacionais para justificarem, mesmo
que preliminarmente, seu novo objeto de pesquisa. Em suma, isto ilustra que “[...] descobrir algo significa
adquirir conhecimento e, consequentemente, justificar [...] essa nova aquisição” (Raicik & Peduzzi, 2015, p.
139).
Vale destacar, também, a potencialidade de discussões propiciadas pelas fontes documentais
analisadas neste artigo. Estes materiais possibilitaram evidenciar elementos que envolvem o processo
inicial de construção de conhecimentos relativos aos pulsares, como por exemplo: o processo de
construção de conhecimento por meio de descobertas científicas, como aquelas permeadas pela
serendipidade; o trabalho científico em seus aspectos individuais, mas também coletivos. Além disso, cabe
apontar a possibilidade do desenvolvimento de outros estudos sobre este episódio a partir de outras
temáticas: ainda que mencionado de maneira introdutória na análise, por meio da discussão da hipótese
dos Little Green Men, é possível investigar elementos sobre valores envolvidos na aceitação ou rejeição de
hipóteses, além da influência de aspectos culturais na construção de conjecturas na ciência – afinal, o
contato com extraterrestres consiste em um tema largamente difundido na cultura popular.
Por fim, outra possível discussão, não abordada neste artigo, e potencialmente profícua, diz
respeito ao fato de que a história da descoberta dos pulsares não se encerra nas suas primeiras detecções.
A descoberta de um novo fenômeno deve ser considerada como “um desenvolvimento complexo que se
estende no tempo e no espaço” (Kuhn, 2011, p. 183), pois “[...] envolve o reconhecimento tanto da
existência de algo, como de sua natureza” (Kuhn, 2018, p. 132, grifo no original)
12
. Aqui, apresentamos
somente o contexto de detecção, relativo ao “reconhecimento da existência de algo”, que consiste em um
recorte extremamente relevante na história dos pulsares. É igualmente importante, e matéria para novos
estudos, o desenvolvimento de discussões sobre o contexto de pós-detecção dos pulsares, que evidenciam
todo o movimento científico ocorrido para a compreensão da natureza destes singulares objetos celestes.
Agradecimentos
Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo
apoio financeiro para o desenvolvimento desta pesquisa. Também, registramos nosso agradecimento
12
Uma argumentação semelhante sobre a construção coletiva e a extensão temporal de descobertas científicas, baseada na
epistemologia de Thomas Kuhn, também é desenvolvida no artigo de Bagdonas, Zanetic e Gurgel (2017), em que os autores
apontam que o entendimento sobre a expansão do universo extrapola as contribuições de Edwin Hubble (1889-1953).
Investigações em Ensino de Ciências – V27 (1), pp. 108-136, 2022
132
às/aos avaliadoras/es deste artigo e às/aos colegas do grupo Apeiron - Grupo de História, Filosofia e Ensino
de Ciências (UFSC) pelas importantes contribuições para o aprimoramento do texto.
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Recebido em: 19.07.2021
Aceito em: 20.12.2021