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A coleção de fotografias de Geraldo Horácio de Paula Souza, Estados Unidos 1919-1920: notas de um projeto de pesquisa

Authors:

Abstract

Em 2016 foi realizado o projeto A história da saúde pública pelas fotografias de Geraldo Paula Souza. A pesquisa tinha como objetivo organizar as fotografias que pertenceram a esse professor. Realizadas durante sua estadia nos Estados Unidos, entre 1918 e 1920, as fotografias evidenciam os interesses de Paula Souza como profissional de saúde pública. As temáticas retratadas passam por estações de tratamento de águas e esgotos, habitações, parques e outras cenas do cotidiano urbano. Dessa forma, o artigo tem como proposta entender a produção dessas fotografias, as quais permitem vislumbrar os passos iniciais do fotógrafo, assim como a formação do campo acadêmico da saúde pública.
Artigos & Ensaios
1 Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 29, p. 1-34, 2021 – e021023 – e-ISSN: 2178-3284 DOI: 10.20396/resgate. v29i00.8666536
A coleção de fotografias de Geraldo Horácio de Paula Souza, Estados
Unidos 1919-1920: notas de um projeto de pesquisa1
Cristina de Campos2
Bruno Henrique Soares3
Fernanda Peixoto Silva4
The collection of photographs by Geraldo Horácio de Paula Souza, United States 1919-
1920: notes from a research project
La colección de fotografías de Geraldo Horácio de Paula Souza, Estados Unidos 1919-1920:
apuntes de un proyecto de investigación
Resumo
Em 2016 foi realizado o projeto A história da saúde pública pelas fotografias de
Geraldo Paula Souza. A pesquisa tinha como objetivo organizar as fotografias
que pertenceram a esse professor. Realizadas durante sua estadia nos Estados
Unidos, entre 1918 e 1920, as fotografias evidenciam os interesses de Paula
Souza como profissional de saúde pública. As temáticas retratadas passam por
estações de tratamento de águas e esgotos, habitações, parques e outras cenas
do cotidiano urbano. Dessa forma, o artigo tem como proposta entender a pro-
dução dessas fotografias, as quais permitem vislumbrar os passos iniciais do
fotógrafo, assim como a formação do campo acadêmico da saúde pública.
Palavras -chave: Fotograf ia; Saúde pública; Estados Unidos.
1 Este projeto foi subsidiado pela Fapesp (Processo Fapesp nº 2019/19712-7).
2 Professora de Política Cientíca e Tecnológica do Instituto de Geociências-Unicamp; professora
na Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo na Universidade São Judas Tadeu. Coordenadora
do Núcleo de Pesquisa em História, Território e Tecnologia na Unicamp. Pós-doutorado na Facul-
dade de Arquitetura e Urbanismo-USP. E-mail:crcampos@unicamp.br
3 Membro do Núcleo de Pesquisa em História, Território e Tecnologia da Universidade Estadual
de Campinas; mestrado em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
E-mail: brunosoareshistoria@gmail.com
4 Colaboradora no projeto de pesquisa. Bacharelado e Licenciatura em Geograa na Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp); graduação-sanduíche em Geograa pela Universidade do Porto
(Portugal). E-mail: pxt.fernanda@gmail.com
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2 Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 29, p. 1-34, 2021 – e021023 – e-ISSN: 2178-3284 DOI: 10.20396/resgate. v29i00.8666536
Abstract
In 2016, the project The history of public health through the photographs of
Geraldo Paula Souza was carried out. The research aimed to organize the
photographs that belonged to this professor. Taken during his stay in the United
States, between 1918 and 1920, the photographs show the interests of Paula
Souza as a public health professional. The themes portrayed include water
and sewage treatment plants, housing, parks and other scenes of everyday
urban life. In this way, the article proposes to understand the production of
these photographs, which allow us to glimpse the photographer’s initial steps,
as well as the formation of the academic field of public health.
Keywords: Photography; Public Health; United States.
Resumen
En 2016 se realizó el proyecto A história da saúde pública pelas fotografías
de Geraldo Paula Souza. La investigación tuvo como objetivo organizar las
fotografías que pertenecieron a este maestro. Tomadas durante su estancia
en Estados Unidos, entre 1918 y 1920, las fotografías muestran los intereses
de Paula Souza como profesional de la salud pública. Los temas retratados
incluyen plantas de tratamiento de agua y alcantarillado, viviendas, parques
y otras escenas de la vida urbana cotidiana. De esta forma, el artículo se
propone comprender la producción de esas fotografías, que permiten
vislumbrar los pasos iniciales del fotógrafo, así como la formación del campo
académico de la salud pública.
Palabras clave: Fotografía; Salud pública; Estados Unidos.
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3 Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 29, p. 1-34, 2021 – e021023 – e-ISSN: 2178-3284 DOI: 10.20396/resgate. v29i00.8666536
Introdução
O
contato com o acervo da família Paula Souza, em particular, com as
fotografias do professor Geraldo Horácio de Paula Souza (1889-1951)
data do início da década de 1990. A professora Maria Lúcia Caira Gitahy,
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
(FAUUSP), pesquisava a transferência da tecnologia do concreto armado para
São Paulo, quando localizou descendentes de Antonio Francisco de Paula
Souza (1843-1917), ex-diretor da Escola Politécnica, ligado ao Gabinete de
Resistência dos Materiais.
A aproximação com a família ocorreu por meio de Ada Celina, neta de Antonio
Francisco e filha de Geraldo Horácio. Ada recebeu a professora em sua casa
e explicou que os documentos, como cartas, manuscritos, diários, relatórios
e documentos pessoais de Antonio Francisco haviam sido doados para a
Biblioteca Mário de Andrade. No entanto, os documentos, com destaque neste
trabalho para as fotografias, ela as guardava consigo. Observando o material,
a professora Maria Lúcia percebeu o valor desses registros para a pesquisa,
uma vez que se tratava de um médico sanitarista, ex-diretor da Faculdade de
Saúde Pública da Universidade de São Paulo e articulador de políticas públicas
que envolviam, diretamente, a cidade e o território. Com a autorização de Ada
para o uso das informações, a professora Maria Lúcia Caira Gitahy selecionou
um de seus alunos para organizar um projeto de pesquisa junto ao Programa
de Pós-Graduação da FAUUSP. A proposta foi encaminhada à Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e foi contemplada com
uma bolsa de mestrado.
Para o uso do material sob a guarda da família, foi estabelecida a condição
de que essa documentação seria disponibilizada mediante a garantia de
acondicionamento adequado e organização. Contudo, o trabalho realizado
entre 1998 e 2004 extrapolou o período de conclusão do mestrado devido à
expressiva quantidade de documentos envolvidos. Em um primeiro momento,
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foram organizados cartões-postais5, cartas, diários e, parcialmente, as
fotografias, visto que o acervo fotográfico demandaria bastante tempo e mão
de obra especializada para a análise do volume expressivo de documentação.
A dissertação de mestrado que utilizou a documentação guardada pela
família, inclusive as fotografias, foi defendida em 2001 e publicada como
livro em 2002. Diante do interesse em prosseguir com as pesquisas sobre
Paula Souza, a família disponibilizou inteiramente o material, que ficou sob a
guarda de um dos pesquisadores que assinam o artigo6.
O acervo fotográfico de Geraldo Paula Souza está dividido da seguinte
forma: coleção Brasil – que abrange fotografias feitas em trabalhos de
campo envolvendo saneamento (urbano e rural), saúde pública, congressos
científicos, como o da Sociedade Brasileira de Higiene –, coleção pessoal, com
fotografias de familiares; coleção Estados Unidos, com as primeiras imagens
capturadas pelo médico, quando começou a se interessar pela fotografia;
coleção Europa, quando Paula Souza trabalhou pela Liga das Nações, entre
1927 e 1929; coleção China e Japão, com as fotografias realizadas em 1939,
quando visitou os dois países. O acervo é composto por diversos tipos
de suporte7. No caso da coleção Estados Unidos, foco do presente estudo,
identificaram-se suportes em papel, tecido e materiais sintéticos.
Devido ao volume do material, outro enfoque deveria ser proposto para a
elaboração de um projeto de pesquisa. Optou-se pela montagem de um
trabalho centrado nas fotografias, especialmente as produzidas por Paula
Souza na denominada coleção Estados Unidos (1919-1920) que marca
5 Alguns números do material organizado são: 17 diários; 121 cartas Coleção GH (Geraldo Horácio);
225 cartas Coleção EG (Evangelina e Geraldo); 249 cartas Coleção FR (Fonseca Rodrigues). Para a
organização das cartas, seguiu-se o que foi determinado pelo Setor de Obras Raras da Biblioteca
Mário de Andrade com o ano, mês e dia de cada carta, seguida da inicial da coleção. Como exemplo:
GH920.08.03, em que GH indica o nome da coleção (Geraldo Horácio) seguido de parte nal do ano
(920), mês (08, agosto) e dia (03) em que a carta foi escrita.
6 Alguns conjuntos desse acervo foram doados para algumas instituições públicas que mantinham
documentos referentes à família Paula Souza. Assim, uma parte do material referente ao engenhei-
ro Antonio Francisco de Paula Souza foi doado, em 1984, ao Setor de Obras Raras, da Biblioteca
Mário de Andrade da cidade de São Paulo. Documentos referentes ao professor Geraldo Paula Sou-
za sobre a criação da Organização Mundial de Saúde foram doados, em 2017, ao Museu Histórico
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
7 Segundo Filippi et al. (2002, p. 16) “suporte é a superfície que carrega a camada fotossensível,
formadora da imagem”.
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sua entrada no universo da fotografia. Essas fotografias dizem respeito
ao período em que realizou seu curso de Doutorado em Higiene e Saúde
Pública pela Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (EUA). O conjunto é
emblemático, porque reúne as primeiras fotografias do professor. A coleção
apresenta o uso de câmeras fotográficas distintas e técnicas que foram, aos
poucos, apreendidas pelo ávido fotógrafo. A partir desse momento, Paula
Souza assimilou a fotografia em seu cotidiano, atividade que praticou
com entusiasmo. Como fotógrafo, acompanhou a evolução tecnológica do
segmento e adquiriu câmeras e filmadoras.
Com esse recorte definido, em 2015, o projeto intitulado A história da saúde
pública pelas fotografias de Geraldo Paula Souza foi submetido ao Programa
Bolsa Auxílio Estudo e Formação (BAEF) da Pró-Reitoria de Graduação
da Unicamp. O projeto foi aprovado para ser executado em 12 meses,
com a indicação de uma bolsista que o acompanhou por 9 meses, sendo
substituída por outro bolsista, que permaneceu os 3 meses restantes. Os
bolsistas realizaram a organização e digitalização das fotografias. Cada foto
recebeu um número de registro e uma breve descrição, perfazendo um total
de 460 imagens catalogadas. Como o material passou por várias formas de
acondicionamento e organização por parte de membros da família, a ordem
original das fotografias feitas por Geraldo Paula Souza foi perdida. Não foi
possível identificar a lógica de organização das fotografias, sendo preciso
recorrer a outras fontes para entender a razão pela qual o médico realizou
tais capturas. O projeto apontou, portanto, para a necessidade de investigar
as cartas escritas por Paula Souza aos seus familiares no período em estudo,
atividade que foi parcialmente desenvolvida, uma vez que o objetivo
principal estava centrado na organização das fotografias. Logo, optou-se por
realizar essa investigação futuramente em outro projeto de pesquisa.
No total, o projeto BAEF fichou 460 fotografias reveladas em papel. Na coleção
Estados Unidos, sobressaem as representações da saúde pública8 em suas
8 O termo “representação”, como proposto por Kossoy (2002), considera a fotograa como recurso
que permite registrar, capturar um fragmento de uma cena real. As fotograas de Paula Souza bus-
cam representar cenas signicativas de ações e práticas em saúde pública, campo em que estava
se especializando nos Estados Unidos.
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6 Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 29, p. 1-34, 2021 – e021023 – e-ISSN: 2178-3284 DOI: 10.20396/resgate. v29i00.8666536
mais variadas vertentes, como tratamento de água e esgoto; as paisagens
naturais transformadas pela ação humana; o espaço urbano e cenas do
cotidiano (pessoas, edificações, manifestações públicas). Em um primeiro
momento, os temas podem parecer variados e desconexos, mas, com um
olhar mais atento, levando-se em conta o contexto em que os registros
foram tomados, as representações captam os interesses de Geraldo Paula
Souza como profissional da saúde pública. Revela-se, assim, um acervo com
múltiplas possibilidades de estudo e análise.
Nos procedimentos metodológicos adotados no projeto BAEF, os aspectos
teóricos sobre o uso da fotografia como documento e fonte tomaram como
baliza o estudo de Boris Kossoy, Fotografia e História (2002)9. Documento
inconteste, como lembra Kossoy, cada vez mais a fotografia vem sendo
incorporada pelos pesquisadores das ciências humanas e sociais como
fontes de pesquisa, extrapolando uma função meramente ilustrativa. O
projeto adotou procedimentos metodológicos que tomaram como balizas as
premissas estabelecidas por Kossoy (2002), a fim de entender o processo
de criação das imagens. Partiu-se do entendimento da trama histórica que
envolveu a produção das fotografias que, na concepção do autor, envolve
analisar o contexto histórico, social e cultural do fotógrafo. A trama histórica
revela-se envolta nesta complexa composição, bem além dos elementos do
processo de criação das imagens, que são de ordem material (técnicas e
equipamentos) e imaterial (aspectos mentais, culturais e sociais). Para os
elementos de ordem material, investigou-se o contato de Paula Souza com
a fotografia em um período no qual ocorre a difusão da fotografia amadora
de massa nos Estados Unidos (JENKINS, 1975). Incluem-se, nos aspectos
materiais, os dispositivos que utilizou para a captura de suas imagens.
Os aspectos de ordem imaterial levaram a entender as origens de Paula
Souza como membro da elite paulista, sua formação acadêmica e seu
9 Além de Kossoy, posteriormente, foram acrescidos outros trabalhos que abordam a fotograa
em seus aspectos teóricos e metodológicos, os quais estão contidos nas análises de Lima e Carvalho
(1997), Monteiro (2006) e Possamai (2007). Sobre a análise histórica das fotograas, foram utiliza-
dos autores como Le Go; Nora (1995), Sontag (2004) e Burke (2004).
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7 Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 29, p. 1-34, 2021 – e021023 – e-ISSN: 2178-3284 DOI: 10.20396/resgate. v29i00.8666536
alinhamento com as correntes teóricas de seu tempo: o eugenismo e o
higienismo. Considerou-se, também, sua inserção no ambiente acadêmico da
Universidade Johns Hopkins e o contato com o campo disciplinar da saúde
pública, alinhada aos princípios defendidos pela Fundação Rockefeller.
A presente reflexão tem como objetivo compartilhar os resultados da
primeira organização da coleção Estados Unidos, de autoria de Geraldo
Paula Souza, composta por fotografias realizadas durante sua permanência
como pós-graduando e bolsista da Fundação Rockefeller. A fotografia foi
trabalhada como documento histórico e considerou o fato de que esses
registros foram produzidos para um determinado propósito, no caso, a
captura de cenas relacionadas à saúde pública. A pesquisa atentou-se,
assim, ao processo de criação das fotografias cujo cruzamento com os dados
biográficos do médico-fotógrafo foi essencial.
O artigo está dividido em quatro partes. A primeira, com o intuito de situar
o personagem e entender sua trajetória acadêmica e profissional, presente
em suas fotografias, apresenta uma breve biografia de Geraldo Paula Souza.
A segunda parte traz à luz o processo criativo de produção de suas imagens,
envolvendo os aspectos de ordem material e imaterial. A terceira aborda
os esforços dos pesquisadores para entender o conjunto documental e seu
alinhamento com a saúde pública, ressaltando os resultados obtidos com
a sistematização das fotografias no Projeto BAEF. Por último, apresenta-se
uma seleção de fotografias da coleção Estados Unidos.
O trabalho com as fotografias desdobrou-se em outras frentes de trabalho
possíveis, devido ao apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (FAPESP), na modalidade Auxílio à Pesquisa. O artigo
visa trazer a contribuição de um projeto realizado em 2015, para cuja
realização o apoio da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) foi
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8 Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 29, p. 1-34, 2021 – e021023 – e-ISSN: 2178-3284 DOI: 10.20396/resgate. v29i00.8666536
imprescindível. Programas como o BAEF10, devido ao seu caráter social,
transforma a experiência acadêmica dos alunos, ao colocá-los em contato
com várias atividades desenvolvidas dentro da universidade, abrindo novas
possibilidades de atuação profissional.
Notas biográficas do fotógrafo Geraldo Horácio de Paula Souza
Geraldo Horácio de Paula Souza (1889-1951) era membro de família
tradicional paulista, sendo descendente dos Paula Souza e dos Paes de Barros,
pelo lado paterno, e de origem suíça, berço do “poeta do proletariado” Georg
Herwegh (GITAHY, 1994), pelo lado materno. Sua família paterna integrou
grupos de políticos, latifundiários e cafeicultores paulistas. Seu pai, Antonio
Francisco de Paula Souza, foi engenheiro, político e um dos fundadores e
primeiro diretor da Escola Politécnica de São Paulo. Sua mãe, Ada Virgine
Herwegh, de origem franco-suíça, era irmã de um colega de turma de Antonio
Francisco no curso de Engenharia, realizado na Alemanha. Ada Virgine
casou-se com Antonio; mudaram-se para o Brasil e tiveram 16 filhos.
Geraldo Paula Souza era o caçula, criado pelas irmãs mais velhas. Sua vida
acadêmica iniciou-se em São Paulo, na Faculdade de Farmácia, em 1906;
ao formar-se, em 1908, ingressou no curso de Medicina da Faculdade
de Medicina no Rio de Janeiro. Ele demonstrava apreço pela “bancada de
laboratório”, aproximando-se das análises clínicas, o que o levou até o
professor Roberto Hottinger, da Cadeira de Química da Escola Politécnica de
São Paulo. Especula-se que a aproximação com Hottinger ocorreu através de
seu pai, diretor da Escola Politécnica. Durante as férias escolares da Faculdade
no Rio de Janeiro, Geraldo Paula Souza permanecia no Laboratório de
Biologia Geral da Politécnica, onde, em parceria com Hottinger, desenvolveu
10 A Bolsa Auxílio Estudo Formação (BAEF) consiste em uma modalidade de bolsa criada pela
Unicamp em 2012, com o objetivo de promover um alinhamento entre as demandas de formação
acadêmica e de caráter socioeconômico. Volta-se para estudantes de graduação, visando possibi-
litar a participação em projetos de pesquisa dentro de sua área de formação. Sobre esse e outros
programas de bolsas mantidos pela Unicamp, consultar o site: www.unicamp.br
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9 Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 29, p. 1-34, 2021 – e021023 – e-ISSN: 2178-3284 DOI: 10.20396/resgate. v29i00.8666536
estudos sobre a água distribuída e consumida na cidade de São Paulo. A
colaboração desdobrou-se na tese defendida junto à Faculdade de Medicina
e no desenvolvimento do dispositivo Perfector, para purificação da água
(CAMPOS; GITAHY, 2011).
Em 1916, ele assumiu posição na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São
Paulo como professor substituto na cadeira de Higiene, cujo responsável era
o professor norte-americano Samuel Taylor Darling. Junto a essa cadeira, foi
criado o Laboratório de Higiene, espaço destinado à realização de trabalhos
práticos e experimentais. Foi a partir desse ano que os primeiros acordos
entre o Governo Estadual de São Paulo e a Fundação Rockefeller foram
firmados para duas frentes de atuação: a primeira, no auxílio das campanhas
sanitárias no interior; a segunda, para reformulação do ensino médico na
Faculdade de Medicina (MARINHO, 2003; 2006). Na reestruturação do curso
de Medicina (MARINHO; MOTA, 2012), as bolsas de estudo da fundação foram
direcionadas aos docentes da faculdade para formação nos Estados Unidos.
A cadeira de Higiene foi contemplada com duas bolsas para a realização de
doutoramento em Higiene e Saúde Pública na Universidade Johns Hopkins,
em Baltimore. Os dois professores escolhidos foram Geraldo Paula Souza
e Francisco Borges Vieira, este último havia ingressado recentemente na
Faculdade de Medicina de São Paulo. A parceria estabelecida entre Paula
Souza e Borges Vieira será duradoura e presente até o final da vida de ambos
junto ao Instituto de Higiene e, posteriormente, à Faculdade de Saúde Pública
(CAMPOS, 2013).
Com a finalização dos estudos em Baltimore (EUA), Paula Souza e Borges
Vieira retomaram suas posições na cadeira de Higiene, oficializado
como Instituto em 1924. Com o contrato dos técnicos norte-americanos
finalizado, Samuel Taylor Darling e Wilson George Smillie retornaram aos
Estados Unidos, deixando as vagas de diretor e vice-diretor direcionadas,
respectivamente, para Paula Souza e Borges Vieira. A visibilidade que Paula
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10 Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 29, p. 1-34, 2021 – e021023 – e-ISSN: 2178-3284 DOI: 10.20396/resgate. v29i00.8666536
Souza ganhou, sobretudo dentro da Fundação Rockefeller somada ao seu
papel na elite política paulista, vinculada ao Partido Republicano Paulista
(FARIA, 2007) – respondeu pela sua indicação para assumir o posto de diretor
do Serviço Sanitário do Governo Estadual paulista. Dessa forma, uma de suas
funções era a de levar a cabo o saneamento do interior paulista, iniciado
em 1917 com Arthur Neiva e reforçado com as comissões implantadas pela
Fundação Rockefeller, que passariam ao controle do Serviço Sanitário. Os
serviços de saúde foram ampliados no interior paulista (MARINHO et al.,
2019) e centralizados com a criação de centros de saúde, concebidos como
um novo eixo de organização do serviço público de saúde. Coube a Paula
Souza implementar tais políticas públicas através da reformulação do
Código Sanitário de 1925. A implementação do centro de saúde recebeu forte
resistência, o que impactou a criação de centros na capital e no interior do
estado. Em 1927, Paula Souza deixou o Serviço Sanitário e assumiu posto
na Seção de Higiene da Liga das Nações, na Europa, posição que ocupou até
1929. Na vacância de Paula Souza, Borges Vieira assumiu integralmente a
direção do Instituto de Higiene, que havia recebido recursos da Fundação
Rockefeller para edificar sua sede própria, ao lado da Faculdade de Medicina,
na Avenida Doutor Arnaldo, na cidade de São Paulo.
De volta ao Brasil, assumiu a direção do Instituto de Higiene, mantendo
contato com várias instituições, como a Sociedade Brasileira de Higiene
e o Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT), além dos laços
com a Fundação Rockefeller, como a sua correspondência pessoal mostra.
No plano pessoal, durante a década de 1920, casou-se com Evangelina
Fonseca Rodrigues, filha do engenheiro e professor da Escola Politécnica
de São Paulo, José Antônio Fonseca Rodrigues e Celina Campello. Em
1930, nasceu a única filha do casal, Ada Celina Paula Souza. Em 1939, ele
realizou viagem para conhecer as escolas de Medicina na China, financiadas
pela Fundação Rockefeller11. O ensino médico desenvolvido pelas escolas
11 Sobre a viagem à China e ao Japão, consultar Roland e Gianini (2013).
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11 Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 29, p. 1-34, 2021 – e021023 – e-ISSN: 2178-3284 DOI: 10.20396/resgate. v29i00.8666536
chinesas foi um dos principais motivos da viagem, o que não o impediu de
registrar questões ligadas à saúde pública, como suas fotografias revelam.
Com o início da Segunda Guerra Mundial, foi indicado para assumir a Divisão
de Epidemiologia da United Nations Relief and Rehabilitation Administration
(UNRRA)12 em 1944, porém não dispomos de nenhum documento que aponte
os motivos para essa indicação. As hipóteses fundam-se no fato de Paula
Souza ser um sanitarista transnacional, além de seus fortes vínculos com a
Fundação Rockefeller, que podem ter sido decisivos para sua nomeação.
Durante os anos em que atuou na UNRRA, Paula Souza foi membro da
delegação brasileira em evento da Organização das Nações Unidas em 1945,
na cidade de São Francisco (EUA). Na reunião, as delegações brasileira e
chinesa, respectivamente representadas por Geraldo Paula Souza e Szeming
Sze, encaminharam o documento para a criação de um órgão internacional
de saúde, que resultou no lançamento da World Health Organization (WHO).
Entre 1934 e 1945, o Instituto de Higiene passou por momentos delicados,
devido à instabilidade política decorrente do golpe de 1930, ameaçando
a autonomia da instituição. Paula Souza, mesmo ausente de São Paulo por
causa das viagens internacionais, acompanhava esses desdobramentos.
Nesses momentos, era Borges Vieira quem conduzia a instituição, com
intensa troca de correspondência com Paula Souza. Depois de quase duas
décadas, em 1931, o Instituto de Higiene passou a ser a Escola de Higiene e
Saúde Pública; em 1945, foi incorporado à Universidade de São Paulo (USP),
passando a ser denominada Faculdade de Higiene e Saúde Pública, unidade
autônoma da universidade13.
Em meio a essa carreira intensa, seja na Escola de Higiene, seja como
sanitarista internacional, havia espaço para a fotografia. Em seus trabalhos
12 A UNRRA era uma agência criada no âmbito das Nações Unidas, voltada para organizar, plane-
jar e propor ações de assistência às vítimas de guerra, especialmente nos países aliados aos Estados
Unidos (FOX, 1950). Reinisch (2011) considera a agência com um dos primeiros bem-sucedidos
experimentos de colaboração internacional realizados durante a II Guerra Mundial.
13 Sobre a trajetória do Instituto de Higiene, consultar os trabalhos de Candeias (1984), Faria
(2007), Ribeiro (1993) e Rocha (2003).
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12 Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 29, p. 1-34, 2021 – e021023 – e-ISSN: 2178-3284 DOI: 10.20396/resgate. v29i00.8666536
de campo, registros de experimentos laboratoriais, nos congressos e eventos
na área de saúde pública, ou mesmo nos momentos íntimos, junto da família,
a fotografia estava presente.
A trajetória de Geraldo Paula Souza, tanto política quanto acadêmica,
foi analisada por vários autores, evidenciando suas relações com a elite
política paulista, suas conexões com a Fundação Rockefeller, a difusão da
educação sanitária e dos centros de saúde como elementos estruturadores
da ação estatal em saúde pública. Como fotógrafo, foi analisado em estudos
acadêmicos, como os de Campos (2001) e Rezende (2002), no entanto, pelo
volume e a amplitude temática das fotografias, o material possibilita o
desdobramento em outras pesquisas. Nesse contexto, o objetivo do projeto
de pesquisa, junto ao Programa BAEF, visava justamente aprofundar este
conhecimento sobre a importância de Geraldo Paula Souza como fotógrafo e
a relação de sua produção fotográfica com a saúde pública e com seu campo
de atuação profissional e acadêmica. Na próxima parte, o objetivo é entender
o processo criativo de produção de suas fotografias.
O fotógrafo e seu processo criativo: a saúde pública em foco
O conjunto documental da coleção Estados Unidos é diverso, composto por
fotografias tanto do campo da saúde pública quanto de outros momentos,
como os passeios turísticos, além de cenas do cotidiano. Desta forma, cada
imagem deve ser analisada dentro do contexto específico de sua criação,
pois envolve tanto os aspectos técnicos da captura da imagem quanto as
motivações do fotógrafo para retratar, especificamente, aquela determinada
cena. Não se trata apenas de uma simples representação; para o pesquisador
que pretende utilizar-se da fotografia como fonte, é preciso entendê-la
inserida em uma complexa composição que mescla não só o tema retratado,
mas também outros aspectos ligados àquele que o retratou. É o que Boris
Kossoy entende como trama histórica.
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Segundo Kossoy (2002), a representação fotográfica está inserida em uma
trama histórica, sendo realizada dentro de um determinado contexto. Para
entendê-la, é necessário desmontá-la em seus elementos constitutivos de
ordem material e imaterial. A ordem material corresponde aos recursos
técnicos, ópticos e químicos para a realização da fotografia, ao passo que os de
ordem imaterial são atrelados aos aspectos mentais e culturais do fotógrafo.
Esses elementos unidos são, para o autor, a parte fundamental do processo de
criação da fotografia. Logo, uma pergunta se coloca: como era esse processo
para Geraldo Paula Souza?
O primeiro ponto a ser elucidado é como ocorreu seu contato com a
fotografia. Desde os resultados obtidos com a pesquisa publicada em 2002
(CAMPOS, 2002), que se cogita a hipótese de que esse contato com a prática da
fotografia teria ocorrido durante a realização do doutorado em Saúde Pública
na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Nessa década de 1910,
a fotografia era um produto de massa e tornou-se acessível como técnica
e produto devido ao barateamento da fabricação das câmeras e materiais
fotográficos (filme, papel e produtos químicos).
De acordo com Jenkins (1975, p. 198), entre 1880 e 1895, ocorreu uma
revolução na indústria fotográfica e nas tecnologias, o que resultou em
mudanças para quem praticava a fotografia. Antes das inovações tecnológicas,
o ato de fotografar era realizado por fotógrafos profissionais, que detinham
o conhecimento e as técnicas complexas que envolviam a atividade: eram
barreiras impostas que afastavam os fotógrafos amadores. Com a revolução
na indústria, essa prática tornou-se acessível ao amador, o que levou o papel
social da fotografia a outro patamar. Assim, Jenkins (1975) sinaliza para a
criação do mercado de massa da fotografia amadora.
Desse modo, a fotografia era um produto de massa, acessível ao consumidor
estadunidense interessado em praticar a fotografia. O equipamento
fotográfico era de fácil acesso, o que também ocorria para o processo de
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14 Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 29, p. 1-34, 2021 – e021023 – e-ISSN: 2178-3284 DOI: 10.20396/resgate. v29i00.8666536
revelação e sua reprodução; uma das inovações trazidas por George Eastman
e outros inventores da indústria fotográfica, como a trajetória de companhias
como a Kodak ilustra.
Nas fontes escrutinadas, não se encontraram indícios que apontem para a
recomendação de uso da fotografia no curso de Higiene e Saúde Pública,
tampouco se foi dos próprios estudantes a iniciativa de adquirir equipamento
fotográfico para registro de assuntos ligados aos trabalhos de campo e aulas.
Como era um produto de massa, de fácil utilização e custo relativamente baixo,
o recurso de captar cenas acabou sendo incorporado ao trabalho acadêmico
dos alunos da Johns Hopkins. Era um instrumento que permitia capturar
cenas que poderiam ser utilizadas no processo de elaboração da pesquisa.
Ao recorrer às cartas de Geraldo Paulo Souza, encontram-se indícios para
entender o uso da fotografia pelos estudantes. Na correspondência enviada
à sua mãe, escrevia que entre os estudantes havia muita troca de informação
sobre equipamento e o comércio de máquinas usadas. Ao observar as
fotografias da coleção em que Paula Souza retrata ou é retratado com seus
colegas de turma nota-se que o uso da câmera fotográfica era comum, uma
vez que cada qual portava seus respectivos equipamentos (Figura 4). Tal
indício presente nas fotografias é o que leva a inferir que a fotografia era
uma prática realizada pelos estudantes da Johns Hopkins.
Outro elemento constitutivo do processo de criação é o de ordem material,
ou seja, dos equipamentos utilizados para a realização das fotografias. Para
obter informações sobre os equipamentos, foi fundamental esmiuçar a trama
histórica. Novamente, foi significativo o uso da correspondência remetida
por Geraldo Paula Souza a seus familiares em São Paulo, durante o seu
doutoramento. A fonte epistolar mostrou-se relevante por conter informações
detalhadas sobre as câmeras adquiridas, as viagens de campo realizadas,
além de várias descrições das fotografias enviadas por Paula Souza aos
parentes que passaram a acompanhar as cartas.
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15 Resgate - Rev. Interdiscip. Cult., Campinas, v. 29, p. 1-34, 2021 – e021023 – e-ISSN: 2178-3284 DOI: 10.20396/resgate. v29i00.8666536
Com base nas cartas, identificou-se que a primeira câmera comprada foi uma
Kodak portátil, segundo ele, uma “máquina fotográfica de bolso”, comprada
em janeiro de 1919 (GH919.01.25). Sobre seu envolvimento com a atividade
de fotografar, em carta de março de 1919, explicava que a monotonia da
vida nos Estados Unidos o motivou a sair com sua câmera para fotografar
algo engraçado, sendo o estímulo à atividade incitado pelo mercado
de massa: “Aqui é muito fácil ser fotógrafo. Compra-se uma máquina.
Aprende-se a apertar o botão da objetiva, manda-se o rolo de filmes para
a farmácia e recebe-se a foto revelada e copiada em papel dois ou três dias
depois” (GH919.03.16). Em agosto desse mesmo ano, escreveu aos familiares
comunicando que havia vendido a máquina portátil e adquirido outras duas
câmeras: uma Kodak 3A e uma Graflex Auto 4x5, esta última para uso em
locais com pouca luz (GH919.03.16).
Em 1920 realizou uma última troca de câmeras durante a estadia naquele
país: de sua “pequenina” Kodak Vest Pocket por uma Premo, que permitia,
também, o uso de placas de vidro. A Graflex grande também havia sido trocada
por outra de 8x11 (GH920.04.25). A troca de equipamentos indica como Paula
Souza interessava-se cada vez mais pela fotografia e por equipamentos que
atendessem aos seus anseios na captura de suas representações. Seu processo
criativo apoiava-se em dois tipos de câmeras: as portáteis, para capturas de
fotografias em passeios ou trabalhos de campo (representadas pelas câmeras
Kodak), e as mais complexas, com recursos técnicos que permitiam a captura
de uma imagem em condições desfavoráveis de luz para obtenção de uma
representação mais precisa (as câmeras Graflex).
Foram consultados os manuais das respectivas câmeras, o que permitiu
identificar algumas características básicas dos aparelhos e esclarecer outros
detalhes de seu acervo. A Kodak 3A, por exemplo, permitia escrever nos
negativos informações sobre a fotografia (Imagem 1 a 3). Muitos negativos
presentes na coleção Estados Unidos apresentam anotações (data e informações)
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sobre a representação, o que indica o uso do recurso oferecido por essa câmera.
A existência de uma quantidade significativa de negativos em chapa de vidro
permite supor que, provavelmente, foram realizadas com a Kodak Premo. Sobre
a Graflex, o equipamento mais complexo, há um manual que explica os três
princípios básicos de todos os aparelhos da marca: o sistema óptico de “reflexo
visor”, como um display, que mostra a imagem exata da cena fotografada com
a mesma profundidade; um obturador com múltiplas velocidades, que oferece
uma gama de exposições e amplo conjunto de acessórios para a câmera, de fácil
adaptação (INSTRUCTION MANUAL..., s. d.).
Imagem 1Reprodução da Câmera 3A Folding Pocket Kodak.
Fonte: n. 3A Folding (s. d.).
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Imagem 2Reprodução da Câmera 3A Folding Pocket Kodak, que permite ao fotógrafo
registrar no negativo informações sobre a fotograa.
Fonte: Kodak (s. d.).
No que tange aos elementos imateriais do processo de criação das fotografias,
as imagens produzidas por Paula Souza tinham um forte apelo quanto aos
assuntos relacionados à sua formação em saúde pública, tema predominante
na coleção Estados Unidos. Não é possível afirmar qual era a finalidade de
tais imagens, mas são reflexo do conteúdo com o qual estava em contato.
Especula-se que talvez fossem utilizadas para propósitos profissionais
diversos, mais especificamente, para a criação de um acervo iconográfico
para artigos científicos, aulas, pesquisas ou relatórios14.
No campo dos aspectos culturais, sua condição de membro da elite paulista
se faz presente em algumas de suas capturas, especialmente quando se nota
as legendas das fotografias, o que deixa transparecer os valores de uma
sociedade conservadora, branca e machista. Em algumas fotografias, Paula
Souza mostrava-se indignado com a condição de vida dos afrodescendentes
nos Estados Unidos por se vestirem de forma elegante ou pelo uso de sapato,
item de indumentária que não era comum entre os afrodescendentes no
14 Em alguns relatórios produzidos pelo médico, na posição de diretor do Serviço Sanitário, era co-
mum a utilização de suas fotograas como ilustração para determinadas situações ou ocorrências.
Sobre o uso das fotograas em relatórios, consultar Campos (2002).
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Brasil. Outro item a ser somado aos aspectos mentais e culturais está em sua
aproximação com o higienismo e a eugenia, duas correntes teóricas com forte
presença entre os médicos brasileiros15.
De uma forma resumida e breve, o “eugenismo” entendia a existência de
raças superiores e inferiores, indicava a importância de medidas que visavam
promover a ascensão das raças tidas como superiores. O “higienismo”
apontava para as condições insalubres do espaço como um componente
que impedia o pleno desenvolvimento humano. Tais correntes defendiam
que profundas alterações para tornar o ambiente salubre eram indicadas e
necessárias. Ambas estavam imbricadas e comprometidas, segundo explica
André Mota (2005, p. 33), “em garantir membros sadios para uma sociedade
liberal e capitalista”. Segundo o autor, no Brasil era comum a comunidade
médica – notadamente a paulista – atribuir os males da sociedade nacional
à terra e à raça (MOTA, 2005, p. 33). Entende-se as razões do alinhamento,
neste momento específico da trajetória acadêmica de Geraldo Paula Souza, ao
“higienismo” e à “eugenia”, visto que era uma visão que estava presente, como
indicam Mota e Marinho (2013), no próprio staff da Fundação Rockefeller16.
Nas fotografias referentes ao trabalho de campo nos estados do sul dos Estados
Unidos, o alinhamento de Paula Souza com essas correntes transparece
nas legendas. As comunidades pobres do sul eram fortemente marcadas
pela presença de afrodescendentes, alvo das campanhas de saneamento
da Fundação Rockefeller. As capturas reforçam as condições de pobreza, a
“insolência” e a “inapetência para o trabalho”, características presentes,
segundo a corrente eugênica, nas comunidades negras. Não questionavam,
em momento algum, a estrutura social que reforçava a exclusão ou o racismo
como um componente dominante naquele contexto.
15 Sobre “eugenismo” e “higienismo”, consultar Mota (2005) e o livro organizado por Mota e Mari-
nho (2013) Eugenia e história, em especial, o capítulo de Silva (2013). Sobre o papel da Eugenia no
Brasil, consultar o trabalho de Schwarcz (1993).
16 Mota e Marinho (2013, p. 203) reproduzem, em seu texto, trecho de relatório sobre o Brasil, em
1920, produzido por Wicklie Rose, primeiro diretor do International Health Board, da Fundação
Rockefeller. Rose indicava a existência de raças inferiores, como “negros incompetentes” e “para-
sitas de origem portuguesa”, defendendo que, por meio da miscigenação, a sociedade caminhava
para uma “raça de brasileiros fortes e brancos”.
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Outro aspecto dos componentes mentais e culturais que deve ser considerado
é o doutorado em Higiene e Saúde Pública, presente nas imagens captadas
por Geraldo Paula Souza. A Escola de Higiene e Saúde Pública foi fundada
em 1916 e é considerada a primeira instituição de ensino e pesquisa em
saúde pública dos Estados Unidos (FEE, 1987). Os cursos não ficaram restritos
aos profissionais estadunidenses, sendo uma das marcas da nova escola
o recebimento de estudantes de várias partes do mundo, especialmente
daqueles países que mantinham contratos com a Fundação Rockefeller,
ampliando, assim, a difusão deste novo campo científico.
Eis que esta escola nasceu como uma iniciativa do International Health Board,
da Fundação Rockefeller, com o objetivo específico de treinar as pessoas
dentro do que essa instituição acreditava ser o que havia de mais inovador
em conhecimento, técnicas e metodologias em saúde pública. Assimilando
postulados e conceitos da medicina e da engenharia, a escola foi concebida
dentro de uma proposta de ênfase igualitária entre prevenção da doença e
promoção da saúde (FEE, 1987). De acordo com a autora, o curso era composto
por disciplinas voltadas para a ciência básica (com base em laboratório) e a
ciência aplicada, distribuídas em dois grandes departamentos: Patologia da
Doença e Fisiologia da Saúde. O Departamento de Fisiologia da Saúde era
o mais balanceado, por apresentar disciplinas tanto de ciência pura como
aplicada. Nele eram oferecidas disciplinas como a Epidemiologia, voltada
para o estudo do ambiente e seus efeitos na saúde, e a Engenharia Sanitária,
as quais eram vistas como eixos principais do departamento (FEE, 1987,
p.123). Tanto a Epidemiologia como a Engenharia Sanitária eram disciplinas
que introduziam os alunos nos novos métodos de pesquisa, ao enfatizar a
importância do trabalho de campo para inspecionar e coletar evidências
sobre as doenças. Como exemplo disso, a disciplina Engenharia Sanitária
e Hidráulica Elementar, essencialmente aplicada, promovia “viagens de
inspeção” (viagens de campo) em várias instalações sanitárias nos Estados
Unidos, dignas de serem visitadas pelos estudantes. Assim, pode-se lançar
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como hipótese que o registro da visita – por meio da fotografia – era um
recurso utilizado pelos alunos.
Esse era o ambiente acadêmico em que o médico estava inserido, o qual
era, por sua vez, responsável por fornecer os elementos de ordem imaterial
(aspectos mentais e culturais), contribuindo, assim, com o processo de
criação de suas fotografias. Várias disciplinas, especialmente Epidemiologia
e Engenharia Sanitária, aliadas às novas metodologias de pesquisa de campo,
certamente atuaram favoravelmente para que a fotografia fosse incorporada
como um componente do trabalho do profissional de saúde pública.
As fotografias de Geraldo Paula Souza e a representação da
saúde pública
As fotografias que integram a coleção Estados Unidos foram realizadas entre
os anos de 1919 e 1920. Apesar da ação do tempo, do acondicionamento
inadequado por tantas décadas, as fotografias encontram-se em bom estado
de conservação. Ao manusear o conjunto, identificam-se indícios de uma
organização do material produzida pelo fotógrafo, visível na numeração e
reprodução sequenciada em papel cartonado com legendas. Depois de seu
falecimento, em 1951, sua esposa Evangelina de Paula Souza iniciou outra
etapa de organização do material sem qualquer tipo de ajuda profissional.
Nessa ocasião, rasurou várias fotografias com anotações com base em suas
memórias pessoais. Com o falecimento de Evangelina, as fotografias foram
novamente misturadas, transportadas para outro local, até que foram
disponibilizadas para a pesquisa de mestrado, ao final da década de 1990,
sem qualquer tipo de acondicionamento ou organização.
Neste conjunto específico das fotografias realizadas durante a estadia nos
Estados Unidos, foi proposta outra organização com base nos temas mais
recorrentes ao longo do processo de organização. Chegou-se ao seguinte rol
de temas:
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Arquitetura – representação de edificações particulares, públicas em geral
e monumentos;
Saneamento – temática com o maior número de fotografias devido ao
fato de ser a área de estudo do fotógrafo. Identificam-se fotografias que
representam plantas de tratamento de águas e esgotos, equipamentos para
tratamento (bombas, tanques de distribuição/decantação/sedimentação),
incineradores de lixo, transporte de resíduos sólidos, brejos, canais de
drenagem, latrinas, fossas, jardins botânicos, habitações etc.;
Paisagem natural – parques nacionais (reservas), vida rural, florestas,
cachoeiras etc.;
Paisagem urbana – parques urbanos, escolas etc.;
Atividades econômicas – representação das atividades econômicas das
áreas visitadas (agricultura, extrativista, pequenas fábricas);
Cotidiano – paradas cívicas e militares, manifestações públicas, corridas de
cavalos, esportes em geral, atividades de lazer, conflitos raciais;
Pessoas – representações do fotógrafo (autorretrato) e capturas de outros
colegas do curso.
As fotografias foram organizadas e receberam um número para identificação
em uma pequena ficha realizada em planilha. Foram inseridas informações a
respeito de autoria, ano de realização, localização e descrição da fotografia. Por
meio dessa ficha, a pesquisa identificou os locais retratados pelo fotógrafo, com
base na informação indicada nas legendas. Boa parte das anotações estavam
legíveis; no entanto, outras fotografias possuíam anotações de Evangelina,
feitas com caneta esferográfica no papel fotográfico, em algumas situações
escritas por cima da informação registrada por Paula Souza, o que dificultou
o trabalho paleográfico. Nas fotografias sem qualquer tipo de informação,
recorreu-se à fonte epistolar, que possibilitou identificar lugares e pessoas.
Parte significativa da coleção Estados Unidos foi realizada em Baltimore e
seus arredores, compondo a série de trabalhos de campo por vários estados
do país, o que resultou em uma expressiva série voltada às questões de saúde
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pública. Nas cartas, o fotógrafo explicava o caráter da visita técnica feita
aos estados do sul e do meio oeste, cujo objetivo era observar os avanços
na área de saúde pública materializados no espaço, por meio de obras de
saneamento e drenagem, plantas de tratamento de águas e esgotos. O outro
lado da moeda os desafios da saúde pública como as habitações insalubres,
áreas pantanosas e a pobreza em geral foram igualmente contemplados (e
representados). Ao todo, foram visitadas 14 cidades de 12 estados daquele
país, conforme se visualiza no Quadro 1.
Quadro 1 – Cidades visitadas por Geraldo Paula Souza nos Estados Unidos.
Relação das cidades visitadas pelo fotógrafo Geraldo Paula Souza,
1918-1919
Estado Cidade
Louisiana New Orleans
Wisconsin Milwaukee
Ohio Columbus
Illinois Chicago
Arkansas Little Rock
Iowa Endora
Indiana Columbia
Maryland Baltimore, Aberdeen
Mississipi Gulfport
Tennessee Memphis
Georgia Atlanta
New York New York, Albany
Fonte: Elaboração dos autores com base em Campos (2000).
Nesta organização e sistematização inicial das fotografias, reuniram-se
várias informações que permitem alinhavar alguns pontos desta complexa
trama histórica. Entretanto, reconhece-se que é preciso um aprofundamento
sobre as transformações que ocorriam nos Estados Unidos no período,
sendo fundamental entender como simultâneas a construção dos sistemas
sanitários e a configuração de um campo científico que dava respaldo a tais
transformações.
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Considerações finais
A fotografia foi um recurso que permitiu a Geraldo Paula Souza capturar
cenas ligadas à temática da saúde pública, seu campo de pesquisa e estudo.
Foi uma forma de registro da informação observada em trabalhos de campo
e até mesmo em experimentos realizados na bancada do laboratório. Anos
depois, como diretor do Serviço Sanitário, a fotografia foi um importante
documento para registro da informação. Na coleção Estados Unidos, seus
registros não ficaram restritos à saúde pública. Ele tinha outras intenções ao
registrar sua estadia nos Estados Unidos, criando assim memórias do tempo
em que viveu naquele país. A coleção é rica e comporta o desenvolvimento de
outras pesquisas pela ampla temática capturada pelo professor.
Imagens: coleção Estados Unidos
Nas fotografias realizadas por Geraldo Paula Souza identificam-se certas
curiosidades do fotógrafo interessado em capturar cenas diferentes, além dos
temas que lhe interessavam profissionalmente. O fotógrafo procurou, sempre
que possível, ter cuidado na hora de compor sua fotografia, com o uso de
critérios de enquadramento e de luz. Por ter poder econômico e por isso ser
acessível à época, o médico permitiu-se realizar experimentos com os seus
equipamentos, com sequências de fotografias em outras condições, conforme
se pode observar na pequena seleção que compõe a coleção Estados Unidos.
Imagem 3Geraldo Paula Souza toma chá com amigos. Autor: Desconhecido.
Fonte: coleção Estados Unidos (s. d.).
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Imagem 4 – Geraldo Paula Souza com seus colegas da Universidade Johns Hopkins. Paula
Souza é o que está em pé, em primeiro plano, à esquerda. Observe que está segurando
uma de suas câmeras portáteis, talvez a Kodak 3A. Autor: Desconhecido.
Fonte: coleção Estados Unidos (s. d.).
Imagem 5 – Esta fotograa traz a seguinte legenda: “A minha mão indica a altura
primitiva da água antes da drenagem. Note a forma dos troncos – Gulfport, Miss”. Geraldo
Paula Souza mostra com a própria mão a altura que a água atingia antes da drenagem.
A fotograa em questão é uma de várias cuja temática dizia respeito ao seu trabalho em
saúde pública. Autor: Desconhecido.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
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Imagem 6 – “Macchina para varrer e aspirar lixo – Streets Memphis, Tenn”. Caminhão
utilizado para varrer e aspirar lixo das ruas de Memphis, no Estado do Tennessee. Outra
fotograa atrelada aos interesses prossionais do fotógrafo. Autor: Geraldo Paula Souza.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
Imagem 7 – Lixo entulhado em um beco. Assim como retratou os equipamentos, o
fotógrafo também capturou cenas que marcaram a falta de equipamentos ou ações de
controle sanitário do espaço urbano. Autor: Geraldo Paula Souza.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
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Imagem 8 – “Carroças de transporte de lixo – Chicago, III.”. Imagem retrata a remoção de
resíduos sólidos na cidade de Chicago. Autor: Geraldo Paula Souza.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
Imagem 9 – Casa Branca em Washington – DC. A coleção de fotograas abriga dezenas de
imagens de edifícios e monumentos públicos. Autor: Geraldo Paula Souza.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
Imagem 10 – Capitólio em Washington – DC. Autor: Geraldo Paula Souza.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
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Imagem 11 – Universidade de Princeton – Nova Jersey, Estados Unidos. Autor: Geraldo
Paula Souza.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
Imagem 12 – Vista do alto de um prédio da cidade de Chicago. Além de fotografar
edifícios, Geraldo Paula Souza capturava imagens das cidades a partir do topo dos
edifícios. Autor: Geraldo Paula Souza.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
Imagem 13 – Vista de uma igreja em Boston, próxima do “Public Gardens”. Autor: Geraldo
Paula Souza.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
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Imagem 14 – Escola ao ar livre – Toronto, Ontário (Canadá). Autor: Geraldo Paula Souza.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
Imagem 15 – Imagem de automóvel estacionado. Autor: Geraldo Paula Souza.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
Imagem 16 –“State Educational bulding. Albany, N.Y.”. A coleção Paula Souza também
é composta por vários cartões-postais de prédios públicos e outros pontos turísticos
estadunidenses.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
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Imagem 17 – “Race riot – Resultado da briga de raças em Chicago – Negro sendo preso
em Detroit 1919”. Durante sua estadia nos Estados Unidos, Geraldo Paula Souza registrou
cenas do cotidiano, incluindo vários registros com afrodescendentes. Autor: Geraldo
Paula Souza.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
Imagem 18 – “Negro cabin Monroe County Mississipi 13/VII”. Outro registro sobre a
condição dos afrodescendentes nos Estados Unidos, que retrata uma autêntica forma de
morar utilizada desde os tempos da escravidão. Autor: Geraldo Paula Souza.
Fonte: coleção Estados Unidos (1919-1920).
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Recebido em: 29 de julho de 2021
Aprovado em: 14 de dezembro de 2021
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This essay is on the writings of sanitary doctor Geraldo Horácio de Paula Souza in Eugenia e Imigração (1928) and, after an official trip to the Orient, in Digressões sobre a medicina chinesa clássica (1942) and A sabedoria chinesa diante da ciência ocidental e a Escola Médica de Pequim (1943). The documents, analyzed according to the conceptual approach of Carlo Ginzburg, indicate a change in his view of the Chinese. Trained according to the Rockefeller Foundation's model of experimental medicine, Geraldo de Paula Souza was guided in his work by scientific rigor and record imagery. In his youth he was of the opinion that the Chinese civilization was stagnated, but this view changed after his visit, when he perceived the Chinese republic's capacity to modernize.
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Este artigo traça relações entre fotogra fia e narrativa, fotografia e coleção. Con sideram-se os álbuns fotográficos en quanto coleção que apresenta uma determinada narrativa configurada pelo ordenamento das imagens fotográficas no seu interior. A partir da leitura vi sual de um álbum de vistas da cidade de Porto Alegre, propõe-se uma metodologia de abordagem dos álbuns e imagens fotográficas que busca tecer uma narrativa ensejando sentidos precisos, procurando dar a ver uma cidade de feições modernas.
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[[Susan Pettiss, an American relief worker, remembered that UNRRA—the United Nations Relief and Rehabilitation Administration—‘caused quite a stir when it was established’. Its creation was ‘a magnificent unprecedented feat’, she thought: ‘There was no background, tradition, system, common language or currency for UNRRA’; yet it brought together ‘men and women of different nationalities, backgrounds and skills’, all united in the ambition to build ‘a true world community with new social systems and international relations’. 2 Other relief workers thought much the same. Francesca Wilson, a British relief worker with decades of experience, described how en route to begin her duties in continental Europe it suddenly dawned on her ‘what a great experiment UNRRA was—the first international body to do something concrete and constructive, an attempt at an international civil service’. 3Nor was this sense of UNRRA's unprecedented internationalist tasks and character confined to the organization's foot soldiers. An editorial in The Observer enthused that the UNRRA agreement, ‘one of the most important and pregnant events of the war’, provided a forum for ‘world-management’, ‘as bold, big and exciting a venture as any in the history of social organization’. 4 Jan Masaryk, Foreign Minister of the Czechoslovak government-in-exile, argued in March 1944 that the successes of UNRRA as ‘the first great agency of the United Nations’ would have ‘great repercussions on the new forms of international organisation’ at the end of the war. 5 In more measured tones, Philip C. Jessup, an American lawyer and diplomat who served in the State Department's foreign relief office, agreed that UNRRA was ‘an international organisation of a unique character’, none like it having existed before on a comparable scale. 6 Others welcomed UNRRA as a great ‘cooperative enterprise’ of entirely new dimensions. 7 Even UNRRA's critics tended to agree about its uniquely internat ]]
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Este trabalho estará centrado nas configurações adquiridas pelas instituições médicas fundadas, conjuntamente a um projeto modernizador que será implementado em São Paulo na virada do século XX. Nessa perspectiva, serão valorizados determinados aspectos de modificação e reestruturação urbana, priorizando e atendendo às necessidades das elites construtoras e financiadoras dessas transformações. A intenção desse raciocínio é o de compreender o movimento da saúde pública e seus ditames, não apenas em sua importância adquirida nesse momento de transformação social, política e econômica que o Brasil vivia e que São Paulo vai consubstanciar de maneira inequívoca, mas também sublinhar as dificuldades advindas das implementações medicalizadoras quer de cunho organizacional, quer de cunho corporativo. Tese (Doutorado).
Terceiro Trabalho Programado (Trabalho para obtenção de créditos junto ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
  • Cristina Campos
  • De
Saúde e política. A Fundação Rockefeller e seus parceiros em São Paulo. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz
  • Lina Faria
  • De
Como tratar coleções de fotografia. São Paulo: Arquivo do Estado; Imprensa Oficial do Estado
  • Patrícia Filippi
  • De
Realidades e ficções na trama fotográfica
  • Boris Kossoy