O estrangeiro, ainda mais a mulher estrangeira, aparece em todas as culturas, inclusive no interior do texto bíblico, como um sujeito fraco, vulnerável sob diferentes pontos de vista. Contudo, a mulher estrangeira, em alguns textos emblemáticos, se torna um importante recurso para a hermenêutica da fé. O artigo se divide em duas partes. Na primeira, dedicada ao Antigo Testamento, são abordados,
... [Show full abstract] principalmente, dois textos: a história de Tamar (Gn 38) o livro de Rute. A segunda parte focaliza, ao contrário, o Novo Testamento e, de forma específica, dois textos: a genealogia de Jesus no Evangelho de Mateus e a perícope do encontro entre Jesus e a mulher cananéia, relatado por Mc 7,24-30 e por Mt 15,21-28. A conclusão final trará algumas conseqüências que decorrem da análise dos textos supracitados. Introdução O estrangeiro, na cultura antiga e moderna, é considerado um sujeito vulnerável, que reúne em si um conjunto de características negativas: ele é, por excelência, o estranho, aquele que pode se tornar uma ameaça, pelo menos no imaginário coletivo, do qual a mídia hodierna se faz caixa de ressonância. A sua estranheza decorre do idioma, da cultura, da religião, da maneira de se alimentar e se vestir etc. Por esses motivos, mais de natureza emotiva do que frutos de uma verdadeira reflexão, o estrangeiro é marginalizado, não é considerado "um dos nossos", portanto, deve ser "guetizado", não lhe são reconhecidos os direitos, com exceção de alguns, e é simplesmente tolerado, na medida em que, como acontece pelo menos na Itália, seu trabalho é freqüentemente necessário, senão indispensável, sobretudo em alguns setores, como o do cuidado da pessoa, dos idosos, das crianças etc. A Escritura, com freqüência, solicita o fiel a refletir sobre este sujeito, convidando o povo de Israel não só a tolerar o estrangeiro sem oprimi-lo, mas dando-lhe até o mandamento: "Amareis o estrangeiro, porque fostes estrangeiros na terra do Egito" (Dt 10,19).