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Congresso Transformação Digital 2021
FORESIGHT NO APOIO ÀS ESTRATÉGIAS DE
TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
ARTIGO CIENTÍFICO COMPLETO
Resumo
A Transformação Digital (TD) é um fenômeno social decorrente do surgimento de novas tecnologias
digitais ou da evolução daquelas existentes e da massificação dos seus usos, traduzindo-se pela
disrupção dos modelos de negócios atuais e pela transformação da cadeia de valor das empresas. A
extensa produção acadêmica sobre TD tem estado focada na promoção do seu entendimento através de
casos práticos e em estudos que buscam unificar os conceitos equivalentes existentes, não se atendo à
identificação da necessidade e da formulação das estratégias nas firmas. Assim, o foresight surge como
estratégia essencial para redução da incerteza na construção de processos de disrupção vencedores em
contextos onde a incerteza acerca dos cenários futuros do ambiente competitivo aumenta. Com o
objetivo de construir uma agenda de pesquisa das conexões existentes entre o Foresight e a TD na
academia, este artigo foi elaborado a partir de uma Revisão Sistemática de Literatura (RSL) aplicando
o Método Prisma. Como resultado, são propostos caminhos para pesquisas futuras voltadas à
exploração das incertezas no contexto atual e futuro, à exploração das capacidades dinâmicas
associadas à adoção do foresight e no papel governamental da promoção de estratégias de
monitoramento do ambiente para apoio às decisões estratégicas nas firmas. Palavras-chave:
Transformação Digital; Foresight; RSL; Incerteza; Inteligência Antecipativa.
Abstract
Digital Transformation (DT) is a social phenomenon arising from the emergence of new digital
technologies or the evolution of existing ones and the massification of their uses, resulting in the
disruption of current business models and the transformation of the companies' value chain. The
extensive academic production on DT has been focused on promoting its understanding through
practical cases and studies that seek to unify the existing equivalent concepts, not paying attention to
identifying the needs and the strategy formulation itslef at the firms. Thus, foresight emerges as an
essential strategy to reduce uncertainty in the construction of successful disruption processes in contexts
where uncertainty about future scenarios in the competitive environment increases. In order to build a
research agenda of the existing connections between foresight and DT in academia, this article was
made by a Systematic Literature Review (RSL) applying the PRISMA method. As result, a research
agenda was proposed aimed at exploring uncertainties in the current and future context, also exploring
the dynamic capabilities associated with the adoption of foresight and analysing the governmental role
of promoting environmental scanning strategies to support strategic decisions in firms. Keywords:
Digital Transformation; Foresight; RSL; Uncertainty; Anticipatory Intelligence.
Foresight no Apoio às Estratégias de Transformação Digital
Congresso Transformação Digital 2021 2
1 Introdução
A Transformação Digital (TD) é um processo de mudanças sociais a partir da evolução das tecnologias
digitais e das suas massificações (STOLTERMAN; FORS, 2004), tendo sido abordado na academia
(LIU et.al., 2011; BHAROSA et.al., 2013; SCHUCHMANN; SEUFERT, 2015; LOEBBECK; PICOT,
2015; JANOWSKI, 2015; WANG et.al., 2016) como fonte de contínua mudança e disrupção do
ambiente competitivo das firmas (VIAL, 2019). A TD consolidou-se ao longo dos últimos anos como
tema constante na comunidade acadêmica (PICCININI et al., 2015; VIAL, 2019; GONG; RIBIERE,
2020) e como motivador de frequentes discussões em diversos setores (FITZGERALD et al., 2014). A
evolução da temática se dá sobretudo pela sua importância estratégica enquanto fenômeno que
transpassa o mercado, não se atendo a setores específicos da economia (SINGH; HESS, 2017;
ANDRIOLE, 2017). A aceleração da infraestrutura digital (computadores, smartphones, conexão digital
e plataformas de aplicação avançadas) catalisa a criação de novas tecnologias (CARCARY;
DOHERTY; CONWAY, 2016) que, por sua vez, abrem caminho para a disrupção dos modelos de
negócios (FICHMAN et al., 2014), justificando o caráter estratégico da TD para as firmas.
A criação de novos modelos de negócios (JAFARI-SADEGHI et al., 2021) baseados no emprego de
novas tecnologias digitais (ANDRIOLE; COX; KHIN, 2017) influencia toda a cadeia de geração de
valor das organizações (RIASANOW et al., 2020), gerando conexões de causa e efeito (GONG e
RIBIERE, 2020; WESSEL et al., 2021). Diversos estudos têm sido elaborados com o objetivo de suprir
o gap teórico comum em temas emergentes que é a falta de unificação de conceitos e da compreensão
do fenômeno enquanto construto (HAFFKE et al., 2016), o que pode prejudicar a tomada de decisão
para a alta gestão, como CEOs, CIOs e CDOs na liderança de organizações que passam pelo processo
de disrupção (SIGH; HESS, 2017). Para Gong (2020), o que difere a Transformação Digital - enquanto
processo aplicado nas empresas - de outras transformações baseadas em tecnologia, como a IT-Enabled
Organizational Transformation (ITOT), por exemplo, é o seu produto final, que é a disrupção do modelo
de negócios.
Como consequência da globalização e da evolução tecnológica sem precedentes (JEMALA, 2019), a
incerteza relacionada ao futuro se potencializa. Para Magruk (2016), a incerteza resulta da interação de
diferentes forças (tecnológica, social, política, econômica e ambiental), da rápida evolução das
tecnologias e do surgimento de negócios disruptivos, resultando na compreensão da incerteza como o
"novo normal" (SCHWARTZ, 2012). Esse cenário impacta a formulação das estratégias de TD,
principalmente porque dependem da visão do CEO, sobretudo na decisão de quais caminhos serão
seguidos, em qual velocidade e quais aspectos serão impactados (FITZGERALD et al., 2013). Nesse
sentido, estudos apontam para a necessidade das firmas em construir rotinas de avaliação e reavaliação
de cenários competitivos para apoiar o processo de sensemaking (KLOS; SPIETH, 2021). Bisson e
Boukef, em estudo apoiado pela SCIP (2021), apontam que, dado que as estratégias de TD devem ser
precedidas e apoiadas por uma visão apurada do ambiente externo e suas movimentações, é necessário
desenvolver processos de foresight para rever os assessments gerados (BISSON; BOUKEF; SCIP,
2021). Como reforçam Heger e Rohrbeck (2012), o foresight estratégico no ambiente corporativo
preocupa-se com a redução do domínio do desconhecido e em reduzir a incerteza no processo de tomada
de decisão estratégica.
Contudo, os estudos focam na descrição do processo de TD nas organizações (MORAKANYANE;
GRACE; O'REILLY, 2017), e poucos deles abordam a importância do monitoramento estratégico do
ambiente (foresight) orientado à formulação de estratégias de TD, seja do ponto de vista ferramental de
construção e aplicação de um construto viável, seja enquanto compreensão do fenômeno. Assim,
buscando compreender a origem da formulação das estratégias de TD para apoiar na formulação de
processos melhor estruturados, cíclicos e mensuráveis (CHANIA; MYERS; HESS, 2018; CAINELLI
& JANISSEK-MUNIZ, 2019), este estudo busca responder à seguinte questão de pesquisa: Quais
aspectos precisam ser considerados para a formulação de um processo de foresight adequado aos
desafios relacionados à Transformação Digital?
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Este artigo tem como objetivo contribuir para a construção de uma agenda de pesquisa que aprofunde a
relação entre o foresight e as estratégias de TD, optando-se por uma Revisão Sistemática de Literatura
(RSL) como procedimento metodológico, seguindo o modelo PRISMA (MOHER ET AL., 2015) para
sua execução. Após esta introdução, a seção 2 traz os conceitos de Foresight e de Transformação Digital,
seguida da seção 3 que apresenta as etapas da RSL e os seus resultados. Na seção 4 apresenta-se uma
análise crítica dos resultados, seguida da conclusão da pesquisa.
2 Referencial teórico
Com o objetivo de contextualizar os principais conceitos abordados nesta RSL, esta seção retoma o
foresight enquanto processo de redução de incertezas sobre o futuro dos ambientes organizacionais e
como ferramenta de apoio à tomada de decisão (ROHRBECK; SCHWARTZ, 2013), seguido de uma
contextualização da Transformação Digital enquanto fenômeno social (MATT et al., 2015) e processo
organizacional de disrupção da cadeia de valor (GONG, 2020).
2.1 Foresight
Organizações são sistemas abertos, logo são afetadas e afetam o ambiente em que estão inseridas,
portanto o monitoramento e avaliação das suas mudanças são essenciais para a sua sustentabilidade
(VERDU; TAMAYO; RUIZ-MORENO, 2012), considerando que mudanças no ambiente pode afetar
os objetivos estratégicos das empresas, bem como os seus cursos de ação (MAYER et al., 2013). Para
Daft e Weick (1984), as organizações devem perceber o ambiente em que estão inseridas, traduzindo
suas interpretações para desenvolvimento de estratégias baseadas nos insights obtidos. Esse processo de
sensemaking (WEICK, 1995), ou criação de sentido, é essencial para o estabelecimento de estratégias
adequadas ao contexto ambiental. Contudo, Simon (2000) reforça que a racionalidade limitada dos
tomadores de decisão deve ser considerada, sendo importante recorrer a processos e ferramentas que os
apoiem no processo de compreensão do ambiente visando redução das incertezas (BJORKLUND &
SIOSHANSI, 1988).
O foresight no ambiente competitivo vem sendo discutido e aplicado para a redução das incertezas e no
apoio aos tomadores de decisão em lidar com as mudanças e possíveis impactos futuros (BARNEY,
1991; ROHRBECK; SCHWARTZ, 2013). Para Rohrbeck e Schwartz (2013), os termos foresight e
strategic foresight são utilizados desde a década de 1980 para englobar estudos do futuro nas
organizações, ainda que diferentes vertentes dos estudos futuros existam. O foresight, segundo Klos e
Spieth (2021), possui a finalidade de promover o sensemaking prospectivo, antecipando cenários
futuros. A aplicação de práticas de foresight pela organização deve, portanto, ser orientada a reduzir as
incertezas do contexto ambiental (ROHRBECK et al., 2015), para o atingimento dos objetivos
organizacionais (GORDON, 2020). Yüksel e Çifci (2017) compreendem o foresight como processos
sistemáticos e multidisciplinares que devem ser utilizados não apenas para atingir objetivos específicos,
mas também para identificação das áreas de investimento prioritárias para as organizações visando
diferencial competitivo de longo prazo.
Contudo, como ressaltam Hess e Benlian (2015), o contexto social de constante e rápida mudança
baseada na evolução tecnológica aumenta as incertezas que envolvem os cenários futuros dos ambientes
competitivos, afetando a compreensão do futuro descontínuo dos contextos organizacionais (RUFF,
2006) e apontando para a necessidade de construção de processos adequados, contínuos, cíclicos e
mensuráveis (HESS; BENLIAN, 2015; CAINELLI & JANISSEK-MUNIZ, 2019); permitindo que as
empresas se antecipem aos movimentos de mercado visando a criação de diferencial competitivo
(SOMMARBERG; MÄKINEN, 2019). Com processos prospectivos, conforme destaca Lesca (2003),
aumenta-se as chances das empresas desenvolverem diferenciais competitivos através da antecipação
dos movimentos de mercado e do ajuste aos movimentos identificados. O foresight permite que se
antecipem os movimentos sociais e de mercado, possibilitando agir de maneira rápida e melhor
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planejada, e, por conseguinte, aumentando suas chances de desenvolver algum tipo de diferencial
competitivo (LESCA, 2003).
Considerando que o contexto atual demanda das organizações a capacidade de antecipação para
diferenciação e liderança nos seus setores (SOMMARBERG; MÄKINEN, 2019), a capacidade do
foresight de desafiar os modelos mentais e eliminar os pontos cegos do processo de sensemaking do
ambiente competitivo futuro (ROHRBECK; SCHWARTZ, 2013) é essencial, servindo como importante
alavanca para a inovação (GEORGHIOU; HARPER; KEENAM; MILES; POPPER, 2008). No contexto
de Transformação Digital, as empresas precisam atentar para estar na vanguarda da inovação, orientando
seus caminhos como estratégia de diferencial competitivo (GARTNER, 2017).
2.2 Transformação digital
Estudos iniciais da TD a relacionam o uso de tecnologias digitais para melhora da performance ou
alcance dos objetivos das empresas (WESTERMAN, 2011), enquanto estudos mais amplos da temática
relatam que esse processo transformacional não está limitado às organizações, mas também à sociedade,
influenciando todos os aspectos da vida humana (STOLTERMAN; FORS, 2004). Um fator que aumenta
a complexidade na compreensão dos processos e tecnologias que englobam a TD (VAN VELDHOVEN
ET AL., 2019) é o uso do conceito de servitização como estratégia largamente utilizada na TD (QVIST-
SORENSEN, 2020), bem como o uso de dados para identificação de novas oportunidades de negócio e
proposições de valor (KÜHNE; BÖHMANN, 2019), tendo a tecnologia como capacitadora do processo
de transformação (SCHNECKENBERG ET AL., 2021).
De fato, a Transformação Digital é um processo de mudanças sociais a partir da evolução da tecnologia
e da sua massificação que influencia toda a cadeia de geração de valor das organizações (RIASANOW
ET AL., 2020). O advento de novas tecnologias e a posterior redução das barreiras de adesão é o
principal driver para o processo de TD nas organizações (PETROV; ZEMTSOV; BUTYRIN, 2019),
possibilitando a criação de novos modelos de negócios (JAFARI-SADEGHI ET AL., 2021) baseados
no emprego de novas tecnologias digitais (ANDRIOLE; COX; KHIN, 2017).
O emprego de tecnologias digitais, como observam Andriole, Cox e Khin (2017), deve ser entendido
como um meio para a TD, não o seu fim ou conceito em si, estando relacionado à criação de novos
negócios, de uma nova cadeia de valor, e sob essa perspectiva, até mesmo a cultura e a identidade da
organização ao impactar os processos que sustentarão os novos modelos de negócios e a nova cadeia de
valor (PEREZ, 2010; JAFARI-SADEGHI ET AL., 2021; WESSEL ET AL., 2021). A TD acontece a
partir do emprego de novas tecnologias digitais ou a evolução de tecnologias existentes (FITZGERALD
et al., 2014; LIERE-NETHELER et al., 2018; HESS et al., 2016) e ao aproveitamento do processo de
digitização na estratégia das organizações (HAFFKE et al., 2016).
Nesse sentido, plataformas digitais criam valor a partir da redução do atrito entre os consumidores e
tecnologias emergentes, (HERMES et al., 2019), enquanto incumbentes reformulam seus produtos
tradicionalmente analógicos/offline através da exploração das tecnologias digitais já adotadas pela firma
(POURSTCHI, 2019). Portanto, ainda que Wessel et al. (2021) reforcem que a TD depende diretamente
da disrupção da proposta de valor, é preciso considerar que esse processo não envolve apenas
incumbentes buscando a manutenção da sua sustentabilidade, mas também novos entrantes que se
aproveitam das lacunas criadas pela TD para capturar o valor existente nelas (KÜHNE; BÖHMANN,
2019). Os fatores internos (redução de custos, aumento de margem, sustentabilidade organizacional)
também precisam ser observados na análise do processo completo de TD pois são motivadores para a
gestão ao passo em que se apresentam como possibilidades tangíveis de geração de resultados para a
organização (QVIST-SORENSEN, 2020).
O alinhamento estratégico dos ativos de TI também é relacionado como um dos pontos centrais da TD
(WESSEL et al., 2021), dependendo do planejamento estratégico das organizações pois deriva da
alocação correta de recursos a fim de atingir objetivos específicos (MATT et al., 2015). Nesse sentido,
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os direcionamentos estratégicos da organização devem ser embasados com a visão de futuro da
organização, determinando sua posição relacionada à criação de valor, proposição e captura
(TAVOLETTI et al., 2021).
A TD demanda das organizações uma visão apurada do ambiente externo, sendo preciso empregar
processos de foresight para compartilhar informações e insights com diferentes departamentos
(BISSON; BOUKEF; SCIP, 2021). Isso deve-se ao fato de que a antecipação aos movimentos de
mercado são importantes diferenciais competitivos (SOMMARBERG; MÄKINEN, 2019). Para Gong
et al. (2021), modelos de negócios inovadores baseados em estratégias de TD possibilitam que as
organizações se adaptem dinâmica e rapidamente, modificando as condições de mercado e conquistando
vantagem competitiva diante modelos tradicionais. Para Andriole, Cox e Khin (2018), as empresas que
buscam ser competitivas devem adotar tecnologias disruptivas o mais cedo possível, participando do
contexto de construção dessas tecnologias.
Considerando que a TD é um processo social contínuo e cíclico ao longo do tempo (LIU et.al., 2011;
BHAROSA et.al., 2013; SCHUCHMANN; SEUFERT, 2015; LOEBBECK; PICOT, 2015;
JANOWSKI, 2015; WANG et.al., 2016), a criação e a adoção de processos que permitam uma postura
proativa ao cenário de rápida mudança social emergem como importantes questões de pesquisa (VIAL,
2019). Neste contexto, a implementação de processos de foresight pode ser compreendida como uma
estratégia essencial pois capacita as organizações na redução da incerteza oriunda do complexo cenário
atual (LESCA, 2003; MAGRUK, 2016). Buscando explorar as abordagens atuais da academia acerca
do foresight em relação às estratégias de TD, bem como mapear oportunidades de pesquisa futura, a
próxima seção apresenta uma revisão Sistemática da Literatura baseada no método Prisma (MOHER et
al., 2015).
3 Método de pesquisa
A Revisão Sistemática de Literatura (RSL) permite a adoção de um método científico replicável
(TRANFIELD; DENYER. SMART, 2003), reduzindo vieses (MULROW; COOK; DAVIDOFF, 1997),
e se apresentando como atividade científica essencial (MULROW, 1994), sobretudo em um contexto de
alta produção acadêmica em temáticas emergentes e que ainda carecem de definições.
Para a construção de uma revisão estruturada e potencialmente replicável, optou-se pelo Método Prisma,
que apresenta uma base clara composta por etapas de busca, seleção, filtragem e análise, e permite uma
seleção que garanta qualidade dos estudos (MOURA; BRAUNER; JANISSEK-MUNIZ, 2020), porém
sem incorrer no subjetivismo do processo de seleção (MOHER et al., 2005). Nesta RSL seguiu-se o
método formulado e testado inicialmente em 2005 por Moher et al. (2005), que permite uma sequência
de etapas estruturadas que delimitam e orientam a revisão, que são: (1) formulação da pergunta de
pesquisa; (2) localização dos estudos e detalhamento da busca; (3) avaliação crítica dos estudos, com
criação de filtros para selecionar os trabalhos relevantes; (4) coleta de dados; (5) análise e apresentação
dos dados; (6) interpretação dos dados e posterior; e (7) análise crítica e discussão dos resultados,
gerando a agenda de pesquisa proposta.
4 Revisão sistemática de literatura
A primeira etapa da RSL consiste na formulação da pergunta de pesquisa a ser respondida. Para suprir
o gap de compreensão dos aspectos que precisam ser considerados para a formulação de um processo
de foresight adequado aos desafios relacionados à Transformação Digital, buscou-se a construção de
uma agenda de pesquisa que aprofunde a relação entre o foresight e as estratégias de TD.
Dada a proposta de formulação de uma agenda de pesquisa, passa-se para a etapa de localização dos
estudos. Para tanto, foi utilizada a combinação de conceitos relacionados à Transformação Digital
("Transformação Digital"; "Servitização"; "Digitização"; "Industry 4.0") e ao Foresight ("foresight";
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"strategic foresight"; "corporate foresight"; "environmental scanning"; "strategic scanning"; "strategic
intelligence"; "scenario planning"; "horizon planning"; "inteligência antecipativa"; "inteligência
estratégica"). Essa relação de palavras resultou em queries complexas descritas na Tabela 1. Os termos
foram escolhidos com base em estudos de TD, como os de Vial (2019), Gong e Ribiere (2020) e Wessel
et al. (2021), e do foresight, como os de Masters e Kaartemo (2017) e de Gordon et al. (2020).
Base
Query
Resultados
Web of
Science
(AB= ("digital transformation" OR "digitization" OR "servitization" OR
"industry 4.0") AND AB= ("foresight" OR "strategic foresight" OR
"corporate foresight" OR "environmental scanning" OR "strategic
scanning" OR "strategic intelligence" OR "scenario planning" OR "horizon
planning" OR "antecipative intelligence"))
24
Scopus
ABS ( ( "digital transformation" OR "digitization" OR "servitization" OR
"industry 4.0" ) ) AND ABS ( ( "foresight" OR "strategic foresight" OR
"corporate foresight" OR "environmental scanning" OR "strategic scanning"
OR "strategic intelligence" OR "scenario planning" OR "horizon planning"
OR "antecipative intelligence" ) ) AND ( LIMIT-TO ( LANGUAGE ,
"English" ) ) AND ( LIMIT-TO ( DOCTYPE , "ar" ) OR LIMIT-TO (
DOCTYPE , "cp" ) )
34
Tabela 1. Busca de Estudos Para RSL.
As bases escolhidas para a pesquisa foram a Web of Science e a Scopus, por apresentarem um acervo de
estudos já criteriosamente selecionado em uma perspectiva global, evitando-se assim algum viés local
na RSL. Os termos foram utilizados em inglês para a construção da string pois em ambas as bases o
conteúdo é indexado nessa língua. Acerca do idioma, foram filtrados resultados em Inglês, Português e
Espanhol. Não foi utilizado o filtro de data, pois a recência é uma característica da temática geral de
TD. Considerando o intuito de produção de uma RSL baseada na análise qualitativa dos estudos, o
resultado preliminar atendeu às expectativas, não sendo identificada a necessidade de ampliação do
escopo das palavras-chaves ou da sua combinação. Não obstante, à seleção preliminar dos estudos foram
adicionadas etapas de análise de elegibilidade, as quais são apontadas na Tabela 2.
Ordem
Filtro
Justificativa
1º
Aderência à
Temática
Foi avaliada a aderência dos artigos à temática através da análise do contexto
de utilização dos termos pesquisados. Foram excluídos registros que não
apresentavam conexão entre os conceitos de TD e Foresight.
2º
Frequência
dos
Conceitos
Através do software NVivo foi analisada a frequência dos termos centrais da
pesquisa, visando descartar os estudos que apenas mencionam os conceitos,
não os abordando com profundidade.
3º
Leitura dos
Artigos
Ao final das duas etapas anteriores, partiu-se para a leitura dos artigos
restantes, os quais foram analisados buscando identificar neles a construção
da relação objetivada na pesquisa.
Tabela 2. Filtros Utilizados na Seleção dos Estudos da RSL.
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Ressalta-se que foram mantidos Artigos e Conference Papers pois, dado o caráter inovador da pesquisa
em TD, sobretudo sob um espectro de combinação específico ainda pouco abordado, entende-se a
necessidade de ampliar a base de dados, observando-se ainda a seleção de qualidade das bases
escolhidas. A Figura 1, adaptada de Moher et al. (2005), apresenta o resultado das etapas de avaliação
crítica e coleta de dados, as quais limitaram o número de estudos em vinte (n=20).
Figura 1. Seleção de Estudos Para RSL.
As etapas de análise, interpretação e apresentação dos dados serão abordadas na seguinte seção do
presente artigo.
4.1 Resultados da RSL
O resultado da seleção de estudos para a presente RSL demonstra tanto a atualidade da abordagem do
foresight direcionado à TD (e vice versa) quanto a evolução da temática: o primeiro artigo identificado
foi publicado em 2017, com aumento frequente do volume de publicações ano a ano, sendo que até
junho de 2021 foram publicados cinco artigos e conference papers, enquanto no ano anterior foram
publicados sete estudos. A Figura 2 ilustra os resultados mencionados em relação ao surgimento da
abordagem, bem como a sua evolução na academia.
Figura 2. Tipos de Documento e Ano de Publicação.
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Os termos utilizados para englobar o processo de TD nas empresas se apresenta como um dos desafios
para se obter uma compreensão coesa do fenômeno e, por conseguinte, identificá-lo na academia, como
pode ser observado pela utilização de variações do termo Indústria 4.0 (SORIANO; VALDÉS, 2021).
O foresight, segundo Yüksel e Çifci (2017), é um processo contínuo e multidisciplinar utilizado em
diferentes contextos e formatos de acordo com os desafios das empresas, bem como o contexto social e
as incertezas dos ambientes competitivos; portanto, também carrega consigo uma vasta gama de
nomenclaturas e abordagens. A Tabela 3 reproduz uma matriz que resume a abordagem de foresight
utilizada pelas publicações selecionadas pelos termos de TD utilizados. Observa-se que o termo geral
TD foi utilizado tanto quanto o termo específico de Indústria 4.0, enquanto foresight, strategic foresight
e technological foresight foram as abordagens mais comuns.
Termo
Environmental
Scanning
Foresight
Scenario
Planning
Strategic
Foresight
Strategic
Intelligence
Technological
Foresight
Transformação Digital
3
2
3
3
Digitization
1
Industry 4.0
1
4
1
1
Servitization
1
Tabela 3. Abordagens utilizadas nos estudos selecionados pela RSL.
Com o intuito de responder ao objetivo de construção de uma agenda de pesquisa para futuros estudos
acerca da relação entre o foresight e a Transformação Digital nas empresas, sobretudo no apoio à
formulação de estratégias de TD para a geração de diferencial competitivo que sejam ciclicamente
avaliadas e readequadas, apontam-se caminhos de pesquisa em três grandes blocos. O primeiro traz uma
compreensão do cenário atual de incerteza orientada pelo contexto de constante, rápida e abrupta
mudança gerada pela evolução das tecnologias digitais. Nesse sentido, a compreensão das características
do contexto, da incerteza que o envolve, da sociedade que a gera e, não obstante, de como o foresight
deve se adequar para amenizar os seus efeitos se torna essencial para as empresas que buscam pela
sustentabilidade dos seus negócios.
O segundo bloco engloba a compreensão do quanto as Capacidades Dinâmicas da organização impactam
na implementação de processos de foresight orientados à formulação de estratégias para lidar com as
incertezas e atingir os objetivos de longo prazo da firma. Por fim, o terceiro bloco apresenta o papel
governamental na promoção de um contexto local de incentivo ao desenvolvimento da capacidade
antecipativa das empresas locais: a aplicação do Foresight para o preparo das empresas lidarem com os
seus ambientes competitivos futuros é realmente um desafio exclusivo delas? Qual o papel do governo
nesse contexto? Quais perguntas ainda devem ser respondidas para a melhor compreensão do papel
governamental? Os três blocos supracitados serão abordados consecutivamente nos tópicos 4.1.1, 4.1.2
e 4.1.3 que seguem. Ao fim dos subtópicos mencionados são apresentadas potenciais perguntas de
pesquisa, objetivando resumir os gaps e oportunidades identificados.
4.1.1 Incertezas no contexto de TD
A incerteza como uma característica intrínseca na compreensão do futuro dos ambientes competitivos
se mostra como um consenso nos estudos analisados, sendo uma constante nos estudos do campo de SI
relacionados ao foresight (ÇIFCI; YÜKSEL, 2018), sobretudo porque, como resumem Harris e
Wonglimpiyarat (2019), o foresight pode ser visto como uma maneira de lidar com a implacável
mudança no ambiente negócios, e esse mudança é imprevisível dadas as diversas possibilidades e
variáveis envolvidas na definição do futuro, como já proposto pelo estudo seminal de Duncan (1972).
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Segundo Magruk (2020), a incerteza é o resultado de complexas interações de forças tecnológicas,
sociais, políticas, econômicas e ambientais. Para Aichouni et al. (2021) o foresight pode ser considerado
como uma série de processos que são utilizados quando as empresas enfrentam uma alta carga de
incerteza nos contextos organizacionais e/ou nacionais, apoiando na compreensão do impacto de ações
do presente no futuro da firma, bem como no estabelecimento de alertas para tomada de ação antecipada,
e também na formulação dos cenários futuros de para formulação de estratégias antecipadas
(AICHOUNI et al., 2021). Segundo ANGHEL (2020), o foco das firmas a partir de uma estratégia de
antecipação deve ser a construção de um cenário de sustentabilidade para a organização através da
digitalização. Nesse sentido, muitos setores se apropriam de mudanças sociais para introduzir novas
tecnologias de maneira antecipada como um diferencial competitivo, já que os seus setores em si ainda
não enfrentam o desafio da TD (ERNSTSEN et al., 2021).
Em sua pesquisa, Magruk (2020) retoma conceitos centrais da incerteza em relação aos contextos
organizacionais futuros e como o foresight pode apoiar na redução do seu impacto na estratégia da
organização (KONONIUK et al. 2017). Segundo o autor, existem fatores que tornam a incerteza no
contexto atual mais exacerbada em comparação a outras eras, os quais estão relacionados às relações
sócio-culturais de uma sociedade em constante e rápida mudança nos seus padrões de consumo e na sua
relação com a tecnologia (MAGRUK, 2020). Kaivo-Oja, Roth e Westerlund (2017) utilizam o conceito
de sociedade ubíqua (GREENFIELD, 2006; STAPPERS, 2006) para caracterizar um contexto social de
completa absorção da tecnologia pelos humanos em suas relações e na sua vida privada, e que dada a
evolução tecnológica avançar em uma lógica exponencial, torna cada vez mais imprevisível o cenário
competitivo das organizações. Çifci e Yüksel (2021) reforçam que, dado esse cenário, os profissionais
envolvidos no processo de foresight recorrem a métodos quantitativos e apoiados por tecnologias
digitais como machine learning o que os autores conceituam como Sexta Geração do foresight.
Magruk (2020) ainda ressalta que a incerteza pode apresentar diferentes proporções de acordo com os
contextos organizacionais analisados. Exemplo disso é o contexto envolvendo a Indústria 4.0, que
segundo o autor apresenta um contexto de incertezas particulares por envolver: (1) ignorância acerca do
tema; assim como outros elementos, processos e tecnologias da DT, (2) diversas e mútuas relações entre
diferentes agentes do ecossistema organizacional; (3) a criação modelos de negócios novos,
desconhecidos e imprevisíveis; (4) a criação de novos postos de trabalho e competências desejadas nos
trabalhadores; e (5) aumentar a complexidade das plantas industriais e de manufaturas.
Barzman et al. (2021) observam o impacto da pandemia na incerteza envolvendo os contextos
organizacionais no futuro pelo elevado número de variáveis alteradas no contexto atual. Segundo os
autores, a COVID-19 aumenta a necessidade de se construir cenários futuros que prevejam a ampliação
do uso de tecnologias digitais e a aceleração da digitalização na sociedade.
A seguir são listadas as propostas para a agenda de pesquisa relacionada à compreensão e redução da
incerteza a partir do foresight no contexto de Transformação Digital:
● Como o foresight pode apoiar as organizações na redução da incerteza nos contextos
tecnológicos futuros?
● Quais processos podem apoiar as organizações na formulação de estratégias visando a
sustentabilidade em contextos de frequente, rápida e imprevisível mudança?
● Quais os impactos da pandemia do COVID-19 na complexidades de formulação de cenários
futuros?
● Qual o impacto da pandemia do COVID-19 nos objetivos futuros das organizações, bem como
nas estratégias para o seu atingimento?
4.1.2 Capacidades dinâmicas e technological readiness
Tendo em vista o cenário de mudanças estratégicas existentes no ambiente dinâmico proposto pelo
processo de transformação digital, Zaidan e Janissek-Muniz (2018) defendem que analisar o desafio das
organizações em responder às mudanças nos ambientes organizacionais, sob a lente das capacidades
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Congresso Transformação Digital 2021 10
dinâmicas, pode auxiliar na compreensão dos fatores que acabam por determinar quais empresas serão,
ou não, bem sucedidas. Segundo os autores, a perspectiva das capacidades dinâmicas descreve uma
abordagem para compreender as mudanças estratégicas (HEFELT; PETERAF, 2009), ao abordar as
habilidades organizacionais necessárias para responder às mudanças em um ambiente.
As capacidades dinâmicas reforçam a importância da gestão e da estratégia como antecessoras das
capacidades tecnológicas e digitais (DUTRÉNIT, 2000). Ernstsen et al. (2021) ressaltam que um dos
principais desafios que se apresenta no processo de TD das firmas é a sua capacidade de compreender
o seu próprio negócio a partir do volume de dados existentes antes mesmo de alocar recursos em projetos
de TD. Nesse sentido, Harris e Wonglimpiyarat (2019) assinalam que o ponto central no processo de
TD promovido pela Xerox não foi a transição do modelo de negócios, ou seja, da migração da venda de
hardware para a prestação de serviços (servitização), mas sim a mudança no processo de definição da
estratégia. O processo de transformação da Xerox se baseou na definição de um processo de foresight
que objetivava apoiar a definição das estratégias de disrupção do modelo de negócios da empresa
(HARRIS; WONGLIMPIYARAT, 2019). Assim, aspectos importantes como a colaboratividade na
construção da estratégia competitiva foram capacidades incentivadas pela firma para promover a sua
sustentabilidade (HARRIS; WONGLIMPIYARAT, 2019).
Segundo Harris e Wonglimpiyarat (2019), a inovação surge a partir da colaboração para a integração de
habilidades e capacidades de diferentes agentes da organização. A inovação representada pela disrupção
dos modelos de negócios a partir de novas tecnologias digitais acontece a partir dos gatilhos disparados
pelo processo de foresight e do sensemaking coletivo (DRESSLER; PAUNOVIC, 2021). Nesse
contexto, Zaidan e Janissek-Muniz (2018) observam que as empresas que se destacam no cenário
competitivo atual são aquelas que apresentam a capacidade de gerir as informações do ambiente com o
intuito de munir e orientar a estratégia de negócios. Contudo, tanto as capacidades envolvendo os
processos de foresight e de sensemaking dos dados coletados, quanto às envolvendo a gestão da inovação
não são compreendidas pelos estudos analisados nesta revisão. As capacidades encontradas são
identificadas nos estudos, porém não são analisadas sob a lente da Teoria das Capacidades Dinâmicas,
o que traz uma oportunidade para uma vasta gama de estudos futuros.
A seguir são listadas as questões para a agenda em relação à compreensão das Capacidades Dinâmicas
no processo de foresight no apoio à TD:
● Quais Capacidades Dinâmicas são relevantes para as empresas no processo de Transformação
Digital?
● Quais são as Capacidades necessárias para compreender, responder, e, sobretudo, antecipar-se
às mudanças do ambiente de incertezas e rápida transformação?
● Como a academia relaciona as Capacidades Dinâmicas ao processo de TD?
● Quais são as Capacidades Dinâmicas identificadas pela academia como essenciais ao processo
de disrupção?
● Quais Capacidades Dinâmicas relacionadas ao processo de foresight podem ser aproveitadas
pelas empresas no processo de disrupção e inovação?
● Como identificar as Capacidades Dinâmicas nas organizações?
● Quais organizações apresentam Capacidades Dinâmicas essenciais ao processo de
Transformação Digital?
4.1.3 Papel governamental no fomento ao foresight nas empresas locais
A Transformação Digital, como posto por Stolterman e Fors (2004), é um processo de mudanças sociais
a partir da evolução e da massificação das tecnologias digitais; portanto, não se deve compreender os
seus impactos sob a ótica exclusiva dos desafios organizacionais. Como ressaltam Martín, Rodríguez e
Sánchez (2019), há um papel governamental essencial no processo de Transformação Digital que está
relacionado diretamente ao incentivo aos processos de foresight com o intuito de se obter uma visão
prospectiva dos ambientes competitivos locais e internacionais.
Foresight no Apoio às Estratégias de Transformação Digital
Congresso Transformação Digital 2021 11
Os governos precisam apoiar as empresas no processo de se preparar para os potenciais cenários futuros
com o objetivo de que as mesmas não percam suas posições no mercado globalizados, ou inclusive se
tornarem mais competitivas e buscarem a liderança a partir da construção de novos diferenciais
competitivos (MARTÍN; RODRÍGUEZ; SÁNCHEZ, 2019). Posto que o foresight se mostra essencial
para a sustentabilidade das empresas no cenário competitivo atual, iniciativas de apoio às firmas com
menor disponibilidade financeira para investir em atividades que não sejam o seu core precisam ser
criadas com o objetivo de se construir um processo menos oneroso de construção de cenários futuros
(SMIRNOV et al., 2019).
Aichouni et al. (2021) analisam no seu estudo "Foresight Readiness Assessment for Saudi
Organizations" os impactos e o estágio atual das empresas locais após a publicação do documento
"National Vision 2030" publicado pelo governo saudita. Os autores observam que a formulação de uma
documentação clara e propositiva por parte do governo local incentivou as firmas a buscarem formular
iniciativas relacionadas ao foresight, seja em estágios iniciais, seja em etapas avançadas e apresentando
uma maior prontidão para adotar o foresight. Contudo, como assinalam Weber, Gudowskyb e
Aichholzer (2019) no seu estudo empírico de aplicação de workshops de foresight para membros do
parlamento austríaco, os próprios governos não apresentam a prontidão necessária para promover o
foresight, seja em iniciativas internas, seja no apoio às organizações locais. Barreiras como a carga de
trabalho envolvida, a necessidade de colaboração entre opositores e os próprios tempos de mandato dos
governantes se apresentam como barreiras na adoção dos processos de foresight de maneira bem
sucedida, ainda que existam algumas iniciativas bem sucedidas já elucidadas pela literatura (WEBER;
GUDOWSKYB; AICHHOLZER, 2019).
A seguir são propostas questões para a agenda em relação ao papel governamental na adoção de
processos de foresight:
● Qual é o papel governamental na adoção do foresight?
● Quais os impactos da ação governamental na promoção da adoção do foresight?
● Quais as Capacidades Dinâmicas para a adoção do foresight na esfera governamental?
● Quais são os possíveis impactos da adoção do foresight na esfera governamental? Como esse
processo impacta as empresas locais?
Com o objetivo de resumir a agenda proposta gerada a partir da RSL, a Tabela 4 consolida as perguntas
de pesquisas dos três principais tópicos identificados.
Tópico
Pergunta
Incerteza
Como o foresight pode apoiar as organizações na redução da incerteza nos contextos
tecnológicos futuros?
Quais processos podem apoiar as organizações na formulação de estratégias visando
a sustentabilidade em contextos de frequente, rápida e imprevisível mudança?
Quais os impactos da pandemia do COVID-19 na complexidades de formulação de
cenários futuros?
Qual o impacto da pandemia do COVID-19 nos objetivos futuros das organizações,
bem como nas estratégias para o seu atingimento?
Capacidades
Dinâmicas
Quais Capacidades Dinâmicas são relevantes para as empresas no processo de
Transformação Digital?
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Congresso Transformação Digital 2021 12
Quais são as Capacidades necessárias para compreender e responder, sobretudo,
antecipar-se às mudanças do ambiente de incertezas e rápida transformação?
Como a academia relaciona as Capacidades Dinâmicas ao processo de TD?
Quais são as Capacidades Dinâmicas identificadas pela academia como essenciais
ao processo de disrupção?
Quais Capacidades Dinâmicas relacionadas ao processo de foresight podem ser
aproveitadas pelas empresas no processo de disrupção e inovação?
Como identificar as Capacidades Dinâmicas nas organizações?
Quais organizações apresentam Capacidades Dinâmicas essenciais ao processo de
Transformação Digital?
Papel
Governamen
tal
Qual é o papel governamental na adoção do foresight?
Quais são os impactos da ação governamental na promoção da adoção do foresight?
Quais são as Capacidades Dinâmicas necessárias para a adoção do foresight na
esfera governamental?
Quais são os possíveis impactos da adoção do foresight na esfera governamental?
Como esse processo impacta as empresas locais?
Tabela 4: Consolidação das Perguntas de Pesquisa Identificadas
5 Considerações finais
O objetivo desta revisão sistemática de literatura foi contribuir para a construção de uma agenda de
pesquisa que aprofunde a relação entre o foresight e as estratégias de TD. Para tanto, foi utilizado o
método PRISMA, buscando-se nas bases de dados Web of Science e Scopus estudos que comportassem
o uso dos termos relacionais à TD e ao foresight. Após o levantamento foram filtrados os estudos a partir
de critérios de elegibilidade, restando vinte (n = 20) artigos e conference papers selecionados para uma
revisão qualitativa.
Analisando-se a seleção final dos artigos entende-se que o objetivo proposto foi atingido, sendo
identificado que a conexão entre os conceitos de foresight e TD ainda são incipientes na literatura
acadêmica, ainda que exista uma forte aproximação da inteligência antecipativa com os estudos no
campo da inovação (CAINELLI et al., 2019). Posto que a TD para as organizações se apresenta como
um processo de disrupção das modelos de negócios e, por conseguinte, da cadeia de valor (GONG,
2020), as conexões TD aplicada à inovação apoiadas pelo processo de foresight podem ser mais
abordadas pela academia.
Foram identificados ainda três blocos de potenciais agendas futuras: (1) incerteza no contexto de
Transformação Digital da sociedade; (2) Capacidades Dinâmicas necessárias para a adoção do foresight
aplicado à Transformação Digital; e (3) o papel governamental no fomento à adoção do foresight como
estratégia de sustentabilidade e competitividade das empresas locais. O primeiro bloco, com a temática
central da incerteza, engloba a compreensão do cenário de constante, rápida e abrupta mudança gerada
pela evolução das tecnologias digitais. A compreensão da incerteza que envolve a sociedade e, por
Foresight no Apoio às Estratégias de Transformação Digital
Congresso Transformação Digital 2021 13
conseguinte, os ambientes organizacionais e sobretudo o entendimento de como o foresight deve se
adequar para amenizar os seus efeitos se torna essencial para as empresas que buscam pela
sustentabilidade dos seus negócios são os pontos centrais desse bloco.
O segundo engloba a compreensão do impacto das Capacidades Dinâmicas na implementação de
processos de foresight orientados à formulação de estratégias para lidar com as incertezas do ambiente
competitivo. Além dos impactos em si, esse bloco apresenta questionamentos anteriores, como quais
são as Capacidades Dinâmicas necessárias para atingir os objetivos de longo prazo da firma em uma
estratégia baseada no modelo cíclico de avaliação e reavaliação proposto pelo foresight. Por fim, o
terceiro bloco dá conta do papel governamental na promoção de um contexto local de incentivo ao
desenvolvimento da capacidade antecipativa das empresas locais. Dado que a Transformação Digital é
um fenômeno social com particularidades locais (DRESSLER; PAUNOVIC, 2021), a atuação dos
governos locais se mostra essencial para a adoção do foresight com o objetivo de tornar as empresas
preparadas para o contexto incerto, promovendo a sustentabilidade e a competitividade.
A contribuição do estudo reside na identificação dos principais aspectos a serem abordados na agenda
de pesquisa acerca da Transformação Digital e seus impactos para as firmas. Não obstante, ressalta-se
que o estudo possui limitações no que tange à escassez de pesquisas relevantes no assunto e ao não
cruzamento dos dados oriundos da academia com a análise dos especialistas de mercado. Outra limitação
pode ser identificada nas bases, sobretudo por não indexarem conteúdos relevantes de conferências
locais, sobretudo quando analisado na ótica da realidade acadêmica brasileira.
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