Os estudos de não-usuários são frequentemente negligenciados pela área de informação. Investigações dessa natureza enfrentam desafios para obter diagnósticos. Diante disso, defende-se a realização de estudos que compreendam tanto usuários quanto não-usuários de informação, abordando diferentes enfoques e concepções a esse respeito. Objetiva-se ampliar miradas epistemológicas, éticas e políticas no campo de estudos de usuários de informação. Para tanto, foi realizada revisão de liter atura sobre enfoques e concepções de usuários e de não-usuários de informação. Os referenciais teóricos abordaram contribuições e limitações dos conceitos em questão. O termo "não-usuário de informação" pode ser empregado para abordar sujeitos ignorados ou fora do interesse da área de informação. Políticas públicas em informação, educação e cultura têm buscado converter esses não-usuários em público, promovendo a cultura "socialmente" valorizada. No entanto, instituições de mediação também podem reconhecer a cultura dos não-usuários e valorizar suas situações de necessidades informacionais em contexto. Considerar os estudos de usuários e não-usuários aporta benefícios para o campo e para a sociedade, ao trabalhar com uma concepção inclusiva e abrangente. Ainda assim, mesmo esses estudos podem não incluir outros processos, como a leitura e a apropriação da informação em determinados contextos, ou mesmo desconsiderar comportamentos e práticas informacionais na vida cotidiana, ou seja, não relacionados a sistemas de informação institucionalizados. É importante refletir sobre as escolhas epistemológicas e teórico-metodológicas para a realização de estudos dessa natureza. Tais decisões refletem, política e eticamente, a visão de mundo dos docentes, dos pesquisadores e dos profissionais de informação e podem dar voz e protagonismo para uns e silenciar e invisibilizar outros. Keywords: usuário de informação; não-usuário de informação; público; não-público; estudos de usuários de informação. 1 Introdução Os estudos envolvendo não-usuários frequentemente são negligenciados ou omitidos devido à maior demanda de trabalho, de tempo e/ou de recursos necessários (Brunskill & Hanneke, 2021), posto que eles têm o desafio de abordar uma parcela significativa da população (Schlichter & Pemberton, 1992; Borteye, Atiso, & Knust, 2018), algo que dificulta a obtenção de diagnósticos (Brunskill & Hanneke, 2021). A presente investigação defende a possibilidade de estudos que abranjam a relação entre sujeito e informação, considerando tanto usuários quanto não-usuários de informação. São analisados diferentes enfoques e concepções sobre esses sujeitos e suas contribuições e implicações para a pesquisa e atuação profissional em informação. Assim, se objetiva ampliar as miradas epistemológicas, éticas e políticas no campo de estudos de usuários de informação. O campo de estudos de usuários de informação-relacionado aos estudos de busca de informação-está consolidado em áreas como biblioteconomia e ciência da informação, documentação (doravante denominadas "área de informação"). Nele se investiga, dentre outros aspectos, as necessidades e os processos de busca, de uso e de apropriação de informação. Não obstante, outras expressões, orientadas por distintos prismas teóricos, em certas ocasiões, têm sido empregadas como representativas do campo ou como direcionamentos de ação neste, como é o caso dos estudos de comportamento informacional ou das práticas informacionais.