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O FUTURO É CIRCULAR, O DESIGN É CIRCULAR:
A EMBALAGEM E O PODER DO CÍRCULO
INTERNO
Relevância
À medida que a população mundial
aumenta, a exigência de produção de embalagens para
diferentes bens e produtos parece significar um
aumento da utilização de recursos materiais e
consequente desperdício1, devido a um consumo de
caráter marcadamente descartável. Atualmente, grandes
quantidades de embalagens acabam por não entrar no
sistema de gestão de resíduos, contribuindo fortemente
para a poluição do meio ambiente, para além do seu
valor material ficar perdido para a economia2.
O modelo linear “extrair-produzir-desperdiçar”3favorece
a destruição do valor material e simbólico da
embalagem, promovendo a perpetuação de um hábito
de consumo descartável.
Questão
Quais os contributos do Design para o
desenvolvimento de um sistema de embalagens não
descartáveis que evite a sua rápida obsolescência?
Desde há 50 anos que existe uma consciencialização
crescente, por parte dos agentes políticos, da indústria,
da academia e dos cidadãos, sobre o impacto
ambiental da ação humana e dos limites dos recursos
naturais, bem como da insustentabilidade de certas
práticas, que a prazo poderão limitar a vida na Terra.
De acordo com os objetivos já defendidos em 1987 no
Relatório Brundtland4, onde surgiu o conceito
“desenvolvimento sustentável”, na Cimeira Rio925, na
qual se apresentou o novo conceito “consumo
sustentável”, a Agenda 20306sustenta que o Design
coopere nas respostas a estas necessidades e desafios.
O modelo de produção através de um sistema linear
resulta num esgotamento de matérias-primas e num
acumular de desperdício que torna este sistema finito7.
Do ponto de vista da Economia Circular, prevendo na
fase de projeto cerca de 80% dos impactos ambientais8,
é possível enunciar três ciclos de “Design circular” como
resposta a uma otimização do valor material e simbólico
da embalagem:
1) a desaceleração
para a mitigação da
utilização de recursos materiais, prolongando o ciclo de
vida útil da embalagem;
2) o encerramento
para a
criação de um fluxo circular fechado através da
Esta investigação decorre no âmbito do doutoramento em Design da Universidade de
Aveiro e tem como objetivo construir um quadro de referência teórico e operativo
para o desenho de embalagens não descartáveis, através do Design Circular, com
base no modelo da Economia Circular. Temos como ambição que este tipo de
produto apresente um ciclo de vida mais longo, recorrendo ao “poder do círculo
interno”. Procuramos que a embalagem possa assumir-se como um objeto sedutor e
perene de direito e ciclo de vida próprios, evitando a sua rápida obsolescência.
da reciclagem dos recursos materiais;
3) a contenção
para o uso mínimo de materiais 9.
A reutilização da embalagem preserva mais o seu valor,
em comparação com a hipótese de reciclagem,
geralmente mais dispendiosa e com gastos energéticos
superiores, sendo este princípio conhecido como
“o poder do círculo interno”
10: a reparação e a
reutilização como soluções sem perda de matéria ou
acréscimo de uso de energia. A embalagem deve ser
considerada um produto de direito e ciclo de vida
próprios11, devendo assumir o design uma posição de
liderança na criação de valor, e não apenas como meio
de resolver problemas12.
Considerações finais
A partir do modelo da Economia
Circular e através do Design Circular, está agora a ser
desenvolvido um projeto exploratório – com e para a
empresa Grestel, Produtos Cerâmicos SA, em parceria
com a Tintex Textiles SA –para a criação de um modelo
sistémico de embalagens não descartáveis,
exponenciando o seu valor simbólico e material.
Palavras-chave
Economia Circular
Design Circular
Embalagem
Reutilização
Poder do
Círculo Interno
1 Eurostat, ”Packaging Waste Statistics”.
Acedido em novembro, 2020.
https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-
explained/index.php/Packaging_waste_st
atistics#Waste_generation_by_packaging
_material
2DelftX, “Sustainable Packaging in a
Circular Economy”, Delft University of
Technology online course. Acedido em
março, 2021.
3Ellen McArthur Foundation. “What is The
Circular Economy”. Acedido em junho,
2021.
https://www.ellenmacarthurfoundation.org/
circular-economy/what-is-the-circular-
economy
4World Commission on Environment and
Development.
Our common future
. Oxford:
Oxford University Press, 1987.
5United Nations.
Rio Declaration on
Environment and Development
. New York:
UN Dept. of Public Information, 1993.
6ONU (Centro Regional de Informação
para a Europa Ocidental). “Objetviso de
Desenvolvimento Sustentável”. Acedido
em junho, 2021.
https://unric.org/pt/objetivos-de-
desenvolvimento-sustentavel/
7Koeijer, Bjorn de, Wever, Renee, &
Henseler, Jorg. “Realizing Product-
Packaging Combinations in Circular
Systems: Shaping the Research Agenda”.
Packaging technology and science
30, 8
(2017): 444.
8 European Comission.
Circular Economy
Action Plan
. Brussels: EC, 2018.
9DelftX, “Sustainable Packaging in a
Circular Economy”, Delft University of
Technology online course. Acedido em
março, 2021.
10 Flipsen, Bas. DelftX, “Sustainable
Packaging in a Circular Economy”, Delft
University of Technology online course.
Acedido em março, 2021.
11 Vezzoli, Carlo & Manzini, Ezio.
Design
for Environmental Sustainability, Design
and Innovation for Sustainability
. Berlin:
Springer, 2008.
12 Ito, Toru. Japan Package Design
Association. “Message from the
President”. Acedido em dezembro, 2020.
https://www.jpda.or.jp/en/about/message
Raquel Gomes
Investigadora
Universidade de Aveiro
raquelbgomes@ua.pt
Cláudia Albino
Orientadora
Universidade de Aveiro
c.albino@ua.pt
Jason Schneider
Segmented disc, 2017
Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto UIDB/04057/2020 (PD/BD/150492/2019)