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REVISTA IBERO-AMERICANA DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO, CULTURA E ARTES | #16 | ISSN 1647-0508
DOI 10.24981/16470508.16.2
O olhar, a taclidade e a sua representação em fotograa
La mirada, la taclidad y su representación en fotograa
Gaze, taclity and its representaon in photography
Ana Teresa Vicente
Centro de Invesgação e Estudos em Belas Artes (CIEBA-FBAUL)
contact@anateresavicente.com
José Bidarra
Centro de Invesgação em Artes e Comunicação (CIAC)
Jose.Bidarra@uab.pt
RESUMO
Este argo toma como ponto de parda a análise de um conjunto de
negavos, fotograas e outros objetos encontrados, cuja intervenção plásca autoral
foi realizada de modo a salientar o paradoxo existente na fotograa fotoquímica: esta
é, simultaneamente, composta por elementos visuais, mas também é, ela própria, um
objeto tácl. Consubstancia-se num processo de criação arsca que levanta algumas
questões. Será que esta conuência entre olhar e tocar, entre o hápco e visual, está
presente na nossa relação com as imagens digitais, em relação às quais necessitamos de
disposivos para as descodicar? Será que é apenas quando olhamos através de uma
máquina que materializa o nosso olhar e, em consequência, desgasta uma imagem, que
obtemos uma maior consciencialização do corpo sico – o nosso e o da imagem?
Através da ulização de estratégias de experimentação criava, foram
exploradas as ideias de imagem latente que se revela através do nosso toque sobre a
sua supercie, a codicação de elementos textuais recorrendo à cifração tácl permida
pelo Braille ou, ainda, a ideia de repeção de gestos sobre as supercies lisas e frias
dos ecrãs que nos acompanham no nosso quodiano. Assim, foram ulizados para o
efeito uma série de abordagens que exploram a imagem fotográca, o seu poder e
maleabilidade, bem como a conexão tácl que com ela podemos estabelecer. Adotou-
se também como estratégia a junção de elementos visuais e textuais, a aplicação de
ntas e solventes ou ainda a manipulação e interferência entre o fotoquímico e o digital
para refazer e recombinar as imagens a parr do seu interior. Estabelece-se, assim, uma
experimentação arsca que se centra em questões relacionadas com a materialidade,
taclidade e o olhar recorrendo a métodos de análise baseados na troca ava, tácl e
performava entre espectador e imagem.
Palavras chave: olhar, taclidade, codicação, supercie, materialidade
RESUMEN
Este arculo toma como punto de parda el análisis de un conjunto de
negavos, fotograas y otros objetos encontrados, cuya intervención arsca de autor
fue implementada de modo a resaltar la paradoja existente en la fotograa fotoquímica:
esta es, simultáneamente, compuesta por elementos visuales, pero también, un objeto
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tácl en sí mismo. Esto se conviró en un proceso creavo que desencadenó más
algunas preguntas. ¿Esta conuencia entre mirar y tocar, entre lo hápco y lo visual,
está presente en nuestra relación con las imágenes digitales, por las cuales necesitamos
disposivos para decodicarlas? ¿Sólo cuando miramos a través de una máquina que
materializa nuestra mirada y, como resultado, desgasta una imagen, obtenemos una
mayor conciencia del cuerpo sico, el nuestro y lo de la imagen?
Mediante el uso de estrategias de experimentación criava, se exploraron
las ideas de imagen latente que se revela a través de nuestro toque en su supercie,
la codicación de elementos textuales mediante la encriptación tácl que permite el
braille o, incluso, el concepto de repeción de gestos en las supercies lisas y frías de las
pantallas que nos acompañan en nuestro día a día. Así, se ulizaron para ello una serie
de enfoques que exploran la imagen fotográca, su poder y maleabilidad, así como la
conexión tácl que podemos establecer con ella. También se adoptó como estrategia la
unión de elementos visuales y textuales, la aplicación de pinturas y solventes o incluso la
manipulación e interferencia entre lo fotoquímico y lo digital para rehacer y recombinar
las imágenes desde adentro. Conjuntamente, se establece una experimentación arsca
que se centra en temas relacionados con la materialidad, la taclidad y la mirada,
ulizando métodos de análisis basados en el intercambio acvo, tácl y performavo
entre espectador e imagen.
Palabras-clave: mirada, tacto, codicación, supercie, materialidad
ABSTRACT
This project takes as a starng point the analysis of a set of negaves, photographs,
and other objects found, enabling a creave approach by the author in order to highlight
the paradox that exists in photochemical photography: it is simultaneously composed
of visual elements, but it is also, itself, a tacle object. This became a creave process
triggering a few quesons. Is this conuence between looking and touching, between
hapc and visual, present in our relaonship with digital images, in relaon to which
they need devices to decode? Is it only when we look through a machine that our gaze
materializes and, consequently, wears out an image, that we obtain a greater awareness
of the physical body - ours and that of the image?
Through these strategies of creave experimentaon, the latent image ideas
that are revealed through our touch on their surface, the encoding of textual elements
using the tacle encrypon allowed by braille, or the idea of repeon of gestures
on the smooth and at surfaces of the screens that accompany us in our daily lives.
A series of approaches were adopted in order to explore the photographic image, its
power and malleability, and the tacle connecon that we can establish with it, such
as the juxtaposion of visual and textual elements, the applicaon of ink and solvents,
or the use of interferences between the photochemical and the digital to remake and
recombine the images from within. As such, the arsc experimentaon focuses on
issues related to materiality, taclity and gaze, using analysis methods based on the
acve, tacle and performave exchange between spectator and image.
Keywords: gaze, taclity, coding, surface, materiality
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1. Entre o visual e o hápco
Os sendos são aquilo que nos permite descobrir o mundo
e, é através deles, que apreendemos e discernimos aquilo
que nos rodeia. O sendo da visão e do tato foram vistos,
desde cedo, como estando entrelaçados, enquanto formas
privilegiadas e complementares de relação com a realidade.
Esta mútua relação de contacto pode ser já discernida na
teoria da visão de Empédocles (494-434 AC), segundo a qual
os olhos emitem raios que tocam os objetos e que, deste
modo, permitem a visão dos mesmos. Também Ptolomeu
e a teoria da extramissão colocavam os olhos como os
emissores dos raios luminosos que depois tocam os objetos.
Por outro lado, na teoria da intramissão são os objetos, e
não os olhos, que connuamente lançam raios que são
depois captados pelos nossos olhos. Em ambos os casos,
há algo que emite radiação que toca o recetor e permite
percecionar/descodicar os objetos. De facto, a sica
moderna tornou estas observações obsoletas, ao conrmar
que os raios luminosos são transmidos através de fotões,
que se propagam tanto em ondas como em parculas, e é
o olho humano (ou outro meio detetor) que recebe estes
raios. Se, nas angas teorias, a parr dos nossos olhos são
projetados raios que se expandem até aos objetos, sendo
estes responsáveis pela visualização dos objetos através
do toque, também os ícones bizannos reeam uma
experiência sinestésica em que todos os sendos estão
engajados, como refere Pentcheva (2006), apontando
para um conjunto de caracteríscas que concorrem para
a sensação de toque visual. Os ícones bizannos, retratos
portáteis de Cristo, da Virgem ou de Santos, eram percebidos
como matéria imbuída de graça divina, para os quais todo
o corpo é convocado a experimentar sinestesicamente.
Ao contrário da pintura, onde marcas e pinceladas numa
supercie criam uma imagem miméca, o ícone bizanno
é visto como uma impressão direta da realidade – torna-se
então um espaço performavo, uma supercie hápca, de
qualidades tácteis que, sensual e sensoriamente, convoca
os sendos, tornando avo o espaço que medeia o ícone
e o observador, pelo intercâmbio entre toque e visão
(Pentcheva, 2006, pp. 631-640). Este espaço interscial é
também referido por Demócrito: a perceção é vista como
uma troca bem-sucedida de átomos através dos eidolâ
(ídolos), entre os órgãos da perceção e aquilo que estes
encontram. Para Zielinski (2011, p. 51), esta troca é baseada
num varrimento recíproco da camada de ar comprimido,
que age como interface entre o observador e aquilo que é
visto.
A fotograa não deixou de ter uma função paradigmáca na
era digital, mas há, contudo, uma alteração neste paradigma:
a introdução de imagens produzidas por máquinas para
máquinas, que colocam o olho humano à margem desta
equação, transformando a noção antropocêntrica daquilo
que é uma imagem, dos seus usos e funções. Hoje assiste-
se à difusão global de um modelo baseado em “narravas
digitais”, fazendo uso de imagens que constuem sequências
visuais difundidas através de plataformas digitais (Twier,
Facebook, Instagram). Desde crianças que as histórias nos
ajudam a compreender a experiência individual e a criar uma
perceção do mundo que nos rodeia. Mas hoje, infelizmente,
as imagens tornam-se efémeras e tendem a desaparecer
na “poeira” (digital) do tempo acelerado em que vivemos.
A ligação de narravas pessoais à paisagem circundante,
através de seles e outras formas de intervenção individual,
representa uma viragem ideológica em que “o autor”
somos todos nós. Por outro lado, o remix de fragmentos
de imagem e texto tornou-se uma caracterísca nas redes
sociais de hoje, mas que já encontrámos nos ready-mades
de Marcel Duchamp, nas fotograas solarizadas de Man
Ray, ou nas imagens híbridas de Andy Warhol. Neste novo
contexto, encontramos a capacidade de ver em qualquer
momento os conteúdos digitais online em diversos
formatos, mas também a existência de criação voltada para
conteúdos mais ligeiros, com pouca complexidade e pouco
prossionalismo. O visionamento em disposivos móveis,
por exemplo, altera a experiência do recetor, pois devido
à pequena dimensão dos ecrãs a perceção de detalhes é
inexistente (Oliva, Bidarra & Araujo, 2017). Com frequência
as imagens são apresentadas com pouca nidez e fraca
qualidade fotográca, embora possam ter um tratamento
apelavo com efeitos digitais.
2. Materialidade e taclidade na fotograa
Em claro contraponto com a emergência de uma realidade
desmaterializada, importa examinar o objeto fotográco
nas suas diversas vertentes e problemazar questões
relacionadas com os suportes, a materialidade, a supercie,
a taclidade e a fotograa enquanto objeto, norteadas
pela relação entre o hápco e o visual. De que forma esta
membrana supercial pode atuar como meio propiciador
de uma relação não só visual, mas também tácl? Terá esta
correspondência entre toque e olhar sido indelevelmente
alterada com as imagens codicadas? Abordamos,
portanto, uma problemazação em torno da visão e do
toque, situada entre o “ver com as mãos” e “tocar com os
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olhos”, pela criação de obras que residem, precisamente,
entre o hápco e o visual. Tendo como ponto de parda
para a exploração plásca um conjunto de negavos, provas
fotográcas, cartas, livros e postais, que o novo proprietário
de um apartamento lisboeta descartou, interessou-nos
parr de imagens vernaculares e pré-existentes. Segundo
Cristofovici (2009, p. 20), a fotograa no seu uso vernacular,
isto é, em outros usos que não o arsco, está muito
associada às representações da idendade e tem um papel
signicavo na construção das nossas narravas pessoais e
colevas. Assim, optámos por adotar o termo “vernacular”
no sendo dado nas áreas de arquitetura ou linguísca, para
designar todos os usos da fotograa que não o arsco e,
no caso concreto da invesgação desenvolvida, centrado
nas imagens de uso domésco ou familiar. Estes pos de
imagens têm como valores fundamentais o suporte da
memória, a comunicação e a idendade (Sarvas & Frohlich,
2011, p. 9). Mesmo as imagens que pertencem ao colevo
são internalizadas, havendo, portanto, uma conexão entre
imagem e corpo, para além da mera visualização (Belng,
2011, p. 16). Este autor menciona ainda que as imagens
colonizam os corpos e cérebros, encontrando-nos nós à sua
mercê (Belng, 2011, p. 2 e 10). Funcionam, por conseguinte,
como supercies que medeiam a transformação do visual
em algo material, tornando-se “an acve site of exchange
between subject and object” (Bruno, 2014, p.8), com um
meio de inscrição que pode ser temporalmente localizado.
Mesmo que os órgãos sensoriais não sofram alterações, os
diferentes suportes em que as imagens se inscrevem estão
sujeitos a correntes históricas, à força do progresso e aos
caprichos da moda (Bruno, 2014, p.16). Agem então como
“corpo” arcial para que as imagens se tornem visíveis,
visibilidade esta que ocorre também no nosso corpo, o
organismo que elas encontram para habitar. As imagens
deixam em nós um “traço invisível” que modela a nossa
memória (Belng, 2011, p. 38).
As fotograas impressas são objetos com “volume, opacity,
taclity, and a physical presence in the world”, com
morfologia própria e que podem ser lidas como artefactos
sensuais e criavos, mas também como “provocave
meditaons on the nature of photography in general”
(Batchen, 2000, p. 60). Enquanto objetos sujeitos à nossa
ação (que podemos transportar, acarinhar, dobrar, rasgar ou
descartar), estão submedos a um desgaste sico e à ação
dos elementos; tornam-se porosos em relação ao ambiente
e às condições de humidade, temperatura, luminosidade
em que se encontram. Estes fatores tornam-nas elementos
sicos que também têm uma temporalidade, sujeitas a
degenerescência. Esta relação de troca entre sujeito e
objeto-imagem, foi um ponto que nos interessou invesgar,
bem como a relação com o medium onde a imagem se
materializa no mundo. Explorámos, deste modo, três
tópicos: a materialidade do objeto fotográco; a relação
visual e tácl com a fotograa; e a materialização do olhar.
Remetemos, portanto, em primeiro lugar para a experiência,
mas também para a relação com o corpo e com os sendos:
tocar, olhar, senr, descodicar. Já enquanto suporte, o
substrato onde a imagem se torna aparente, visível, nada é
sem o nosso olhar.
Podemos, assim, indicar duas forças opostas: a transparência
do medium, que nos permite visualizar “para lá” da imagem;
ou ver o medium enquanto objeto, como algo tácl, com
uma supercie e suscevel de deterioração. Por outro
lado, a supercie da fotograa permite uma visibilidade
total, algo a que Tamara Trodd (2010, p. 149) alude como
“pele”, “an uerly glazed and impermeable, miraculously
whole and intact skin which funcons almost as a kind
of prosthesis for the lost skin of the sculptural object.”.
Inscreve-se aqui a invesgação plásca desenvolvida, pela
interpelação sobre esta “pele”, tornando-a permeável e
solicitando ao espectador que com ela estabeleça uma
relação sica. A ideia de toque sobre o retratado encontra-
se já em Plínio, o Velho, quando é referida a origem da
representação, no episódio relavo ao traçar da sombra do
amante que se irá ausentar, salientando as relações entre
presença e ausência, o carácter simbólico da linha e da
mancha, e entre a passagem do tempo e a memória, pela
representação de algo que pertence ao passado (Stoichita,
1999, p. 18). Tais ideias relavas à origem da representação
podem transpor-se para a fotograa, evidenciando a
relação material que ela parlha com o retratado, que, de
certa forma, “toca” a película fotográca, transformando
a fotograa numa segunda “pele”, congelada no tempo.
Esta “pele” que se separa dos objetos e pessoas captadas
para gurar como seu substuto torna-se um simulacro
material que, sendo tão próximo destes, já não pode ser
considerada apenas fria e mecânica. Para Batchen (2000,
p. 61), é a conuência entre o hápco e o visual que torna
o medium da fotograa tão convincente, acrescentando:
“It is striking how many vernacular photographic objects
overtly reect on this same paradox.”. Ora, é precisamente
este paradoxo que pretendemos analisar, aquilo que o autor
situa como uma reexão sobre a “objectness” da fotograa,
minando a disnção entre rar e fazer/fabricar imagens,
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abalando a relação privilegiada com o mundo real externo e
tornando permeável a disnção entre a fotograa e outros
media. Batchen (2000, p. 109) indica a pós-fotograa como
a existência do vocabulário e convenções fotográcas
noutros media, desaparecendo enquanto endade disnta,
atestando o momento após, mas que ainda não está para lá
da fotograa.
As propriedades sicas e materiais dos objetos fotográcos
pressupõem uma relação sica e tácl, que se estende
também ao digital, isto é, há uma relação corpórea, com o
“corpo” do meio que a carrega. Do mesmo modo, os autores
de Digital Material (Van Den Boomen, Lammes, Lehmann,
Raessens, & Schafer, 2009, p. 9) ressaltam o facto de o
soware não poder exisr se não esver incorporado de
forma intrínseca em portadores de dados sicos (hardware),
não cando estes mesmos dados a utuar na substância
metasica do espaço virtual. A sicalidade dos suportes
de dados, aqui apontada como algo obrigatório, pressupõe
que o hardware é também passível de obsolescência e
degenerescência. Haverá assim uma alteração na nossa
relação sica com os objetos fotográcos, pela modicação
profunda do po de materialidade em que a imagem é
inscrita? Antes da era digital, a fotograa era “um trabalho
que envolvia óca, fotossensibilidade e processamento
químico” (Mah, 2003, p. 7). Exigia também uma supercie
na qual a imagem era xada, ulizando para tal os referidos
meios fotoquímicos. Esta base foi, entretanto, transformada,
assentando agora numa raiz eletrónica, exisndo uma
distância fundamental no que respeita à relação entre matriz
e suporte, bem como à estrutura de formação da imagem.
Outra diferença fundamental consiste na descodicação
necessária no caso das imagens digitais, o que implica o
uso de soware e hardware adequados, ao passo que nas
imagens analógicas tal não é necessário: apenas se necessita
de luz para visionar as imagens, sendo estas de ulização
direta e universal. Há também uma linha análoga entre o uso
de novos e angos media, de modo a criar laços e conexões
entre diferentes prácas e perspevas, numa lógica de
mixtum compositum (Zielinski, 2011, p. 298). Do mesmo
modo, Parikka (2012, p. 64-65) refere o fascínio exercido
na arqueologia dos media pelos objetos e disposivos de
outras épocas; é o enfazar destes disposivos no presente
que expõe uma tarefa políca essencial da arqueologia dos
media: a invisibilidade crescente dos objetos de consumo
na cultura digital. A aparência dos objetos, sejam materiais
ou digitais, vai obedecer a um discurso caracterísco de
um determinado período, a que podem corresponder
determinados disposivos, processos e métodos (Edwards
& Hart, 2005, p. 188). Este processo nunca é, assim,
a-histórico. Mesmo os processos angos/alternavos, são
vistos hoje de forma diferente, pelas sucessivas camadas
temporais que informam estas prácas e que alteram a
nossa perceção.
Na exploração plásca autoral, recorreu-se à apropriação
de um conjunto de imagens que já nham, elas próprias,
um futuro incerto. Laura U. Marks (2002. p. 107) refere
que “loving a disappearing image can be a way of
rescuing something that was not loved in its own me”.
Apesar da aparente transição sem desconnuidades do
fotoquímico para o digital, haverá certamente alterações
profundas na forma como produzimos, guardamos,
visionamos, parlhamos e somos perscrutados pelas
imagens, num crescendo connuo. Assim, as imagens
apresentadas ao longo do argo remetem, precisamente,
para o resultado dessa pesquisa plásca, onde foram
incorporadas várias estratégias processuais, numa lógica de
fotograa expandida, que pode – e neste caso deve – ser
experienciada com o corpo, de forma sica e não apenas
puramente visual. Recorrendo a prácas de transferência de
um media a outro, através de processos de adição, rasura,
digitalização, impressão, serigraa, ou a meios tecnológicos,
pretendemos quesonar a nossa relação sica com o objeto
fotográco, expondo a reversibilidade nessa relação.
3. Percurso plásco
No início do processo plásco autoral que aqui
apresentamos, recorreu-se à fotograa fotoquímica como
método de trabalho. Ao ampliar as imagens ulizando um
processo análogo ao que gerou as imagens, dicilmente se
conseguiu distanciar as imagens do seu propósito original:
fotograas vernaculares, que documentam as vivências de
uma família durante um período de tempo especíco. Houve,
posteriormente, uma alteração relavamente aos processos
de trabalho, do grão ao pixel, dos sais de prata ao digital, da
impressão em papel baritado ao visionamento de imagens
em ecrãs. Contudo, em algumas séries desenvolvidas
houve lugar a uma transferência da fotograa-objeto para
a fotograa digital que depois regressa novamente ao
suporte sico, numa lógica de reciprocidade entre meios.
Esta necessidade deveu-se a questões relacionadas com o
desgaste da supercie de inscrição da imagem ou, ainda,
por questões de mediação da supercie tácl, palpável ou
reava. Aqui fazemos uso da expressão de Heilmann de
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materialidade recíproca, que o autor descreve da seguinte
forma: “Code is inscribed into materiality and materiality,
conversely, inscribes itself into code. This is what I call
reciprocal materiality” (Heilmann, 2015, p. 41).
Por outro lado, em relação às imagens, Belng (2011)
menciona a necessidade de existência de um espectador
que as anime, como se fossem elementos vivos. É, portanto,
com o olhar que tornamos as imagens “visíveis”, que estas
se tornam vivas. Barthes refere que a fotograa, tal como
nós, é mortal: “como um organismo vivo, nasce nos próprios
grãos de prata que germinam, vive por um momento, depois
envelhece. Atacada pela luz, pela humidade, empalidece,
gasta-se, desaparece” (Barthes, 1980/2008, p. 104). No caso
das imagens com que trabalhámos, os laços com os seus
propósitos originais foram rompidos, tornando-as órfãs.
Apesar de testemunharem o isto foi, a narrava pessoal a
que se reportam não nos é familiar. Em termos de produção
plásca autoral, a obra Untled (aer Sorlin) (Figura 1),
apresenta-nos, precisamente, um conjunto interminável de
perguntas sem resposta, tal como a frase que nos é dada a
ver na página rasurada do livro de Pierre Sorlin: “We cannot
hope to nd and clarify them all. We must choose a middle
way between discussing the obvious and losing ourselves in
a maze of largely unanswerable quesons” (Sorlin, 1980,
p.31).
Figura 1. Untled (aer Sorlin), negavos digitalizados e páginas rasuradas
do livro The Film in History - Restaging the Past, de Pierre Sorlin, 2014/16.
Fonte: Ana Teresa Vicente
A taclidade enquanto modo de relação com o mundo
pressupõe um contacto sico e ínmo com os objetos,
supercies ou corpos. A raiz emológica do hápco sugere
exatamente esta possibilidade contacto com o mundo,
sendo que não se rege apenas pela nossa pele, mas que
cobre o corpo por inteiro, e inclui o próprio olho (Bruno,
2002, p. 254). A pele é, então, limite e recipiente: é aquilo
que nos permite contacto com o mundo, mas, ao mesmo
tempo, aquilo que dele nos separa, havendo também uma
reversibilidade no ato de tocar: quanto tocamos algo somos
tocados de volta (Barker, 2009, p. 49). No mesmo sendo,
Bellacasa (2017, p. 115) aponta que o toque permite-nos
tomar consciência do carácter transformavo do contacto,
onde se inclui também o contacto visual – um olhar tál: “...
the sense of intensied curiosity is gured by a parcular
way of seeing-touching”. Merleau-Ponty (2007, p. 404) diz-
nos que é a conuência entre movimento, toque e visão
que, através do paciente e silencioso trabalho do desejo, da
sua aplicação no outro e em si mesmo, do retorno à sua
fonte, que inicia o paradoxo da expressão; acrescenta Barker
(2009, 18) que a distância e a proximidade constuem
o meio de acesso à visão, medeiam este processo e
permitem a perceção no mundo: estamos imensos nele e
em materialidade. Aliás, a nossa experiência acontece à
nossa volta e não apenas à nossa frente (Sobchack, 1994,
p. 137). Estabelece-se uma relação complexa: o espectador
e a obra não são endades isoladas uma da outra, há uma
conexão sica e material entre ambas; é o mesmo corpo
que toca e que vê, tornando o visível e o tangível como
sendos pertencentes a um mesmo mundo: “since vision is
a palpaon by means of he gaze, it must also be inscribed
in the order of being that it discloses to us; he who looks
must not himself be foreign to the world that he looks at”
(Merleau-Ponty, 2007, p. 396). Pretendemos, assim, abrir
este espaço relacional, de contacto entre o sujeito e a
imagem materializada, que pressupõe proximidade. Se o
toque é uma experiência onde as fronteiras entre o ser e o
outro se tendem a diluir, tal implica intrusão e apropriação,
mas também uma reação, uma atenção à resposta dada
por aquilo que é tocado (Bellacasa, 2017, p. 120). Neste
conjunto de obras que criámos foram aplicadas uma série
de estratégias processuais que levam quem vê as imagens
a aproximar-se, a tocá-las e a experimentar a sua supercie.
Em Read Me (Figura 2), o Braille foi ulizado para codicar
uma série de descrições, que posteriormente são sobrepostas
a cópias de uma mesma imagem. A convocação dada pelo
tulo terá diferentes leituras, consoante a capacidade para
decifrar os textos com a ponta dos dedos sobre a imagem,
agora rugosa. Em Touch Me, a nta termocrómica foi
ulizada sobre detalhes de mãos provenientes das imagens
apropriadas, impelindo a que a imagem seja “revelada”
através calor das mãos do espectador, que as terá que
tocar. Por úlmo, em Elephant Hotel, somos convidados a
espreitar por um óculo para visionar um vídeo, e onde se
condensam toque, reexo e imagem projetada.
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Figura 2. Read Me,
impressão fotográca
com Braille, 2018
Fonte:
Ana Teresa Vicente
Wandering Gaze (Figura 3) pautou-se pela criação de uma
peça que torna a imagem instável e perecível, através
da contribuição do espectador para a sua destruição e
aniquilação. Tal como Godfrey (2005, p. 103) arma: “looking
at an old photograph, in other words, you realize more and
more what you do not know of the person in the image, that
the photographic informaon is uerly inadequate, and as
viewer, you become an agent in this annihilaon”. Colocam-
se aqui em jogo não só as ideias de pulsão escópica, a
vontade de ver e ser visto, mas também o impulso de
espreitar (Elephant Hotel) e de saber como funciona o
mecanismo (Wandering Gaze). Paterson expõe a relação
entre visão e cegueira e convoca a expressão “asymmetric
voyeurism” para enfazar o fascínio que historicamente se
vericou em relação à incapacidade para ver, as relações
que se podem estabelecer com o toque e a ideia de que o
cego vê tudo “negro”: “blindness isn’t blackness” (Paterson,
2016, p. 4-5).
Figura 3. Wandering Gaze, Immersive | Imersivo, SNBA,
2018. Fonte: Ana Teresa Vicente © Maria Marns
Alfred L. Yarbus em Eye Movements and Vision (1967)
apresenta os seus métodos de invesgação e os disposivos
criados para isolar e documentar os movimentos oculares,
sendo um dos fundadores da invesgação moderna nesta
área. A tecnologia eye-tracking, para além de comprovar
que os nossos olhos estão em constante movimento,
saltando incessantemente de um ponto para outro,
possibilita avaliar o ponto exato e a trajetória que os
olhos executam numa determinada supercie, bem como
os pontos que mais atraem o nosso olhar. Wandering
Gaze explora a relação entre o olhar do observador e
uma determinada imagem, recorrendo, precisamente, à
tecnologia eye-tracking. Assim, foi criado um mecanismo,
no verso de uma imagem, que consiste numa ploer com
um íman. A ploer, controlada pelo sistema eye-tracking,
move o íman nos eixos x e y, de forma a seguir o ponto
no qual o olhar do observador se concentra. Na supercie
da imagem, uma série de limalhas metálicas seguem o
íman, e, através de um processo de desgaste, vão rasurá-
la nos locais em que o olhar do observador se detém
por mais tempo. Desta forma, determinadas áreas da
imagem serão progressivamente obliteradas. As limalhas
metálicas, concentradas em determinados pontos da
imagem, assemelham-se a um pequeno inseto robóco
que materializa as trajetórias seguidas pelos olhos dos
observadores. As propriedades do papel enquanto
substância, por oposição aos meios baseados em ecrãs são,
portanto, enfazadas: desde a sua fragilidade enquanto
suporte à sua construção por camadas. A materialidade
do olhar funciona como mediador que concorre para a
desintegração da estrutura sica do suporte da imagem.
Existe uma tensão entre a supercie vulnerável da prova
fotográca e as limalhas avadas pelo olhar de cada um
dos observadores que, lentamente, vão desintegrando
a camada onde a imagem se inscreve. Esta torna-se um
espaço performavo: o olhar do espectador é convidado
a perscrutar a imagem e a contribuir, desta forma, não só
para a formação da obra, mas também, em úlma instância,
para a destruição da sua supercie. A imagem afasta-se
do instante de captura, adquire uma temporalidade mais
extensa já que é o conjunto dos percursos mais comuns que
irá provocar maior desgaste (Figura 4). De que forma esta
supercie que se vai degradando poderá ter implicações
na nossa experiência corporal? De que maneira agimos,
quando confrontados com uma supercie cujas qualidades
se alteram quando o nosso olhar sobre ela recai? Quais
são as implicações da materialidade de uma determinada
supercie num mundo cada vez mais virtual?
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REVISTA IBERO-AMERICANA DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO, CULTURA E ARTES | #16 | ISSN 1647-0508
Figura 5. Golden
and Defaced, nta
dourada e solvente
s/ impressão
fotográca,
2015. Fonte: Ana
Teresa Vicente
Figura 6. Failure
is a Given, provas
fotográcas
digitalizadas e
manipuladas
digitalmente,
2013/18 Fonte: Ana
Teresa Vicente
Figura 4. Wandering Gaze. Resultado do desgaste provocado pelo
acumular de rasuras sobre a supercie da imagem, Fotomuseum
Winthertur, 2020. Fonte: Ana Teresa Vicente © Philipp Oendörfer
Regressamos novamente à ideia de dupla presença material,
já que em Wandering Gaze a imagem fotográca é dúplice:
é o “simulacro” de uma fotograa fotoquímica – realçado
pela inclusão do recorte em volta da imagem e pelas
interferências resultantes da digitalização – e é também
uma prova em papel, sujeita à deterioração causada pelo
arrastamento das limalhas na sua supercie. Sob um outro
ponto de vista, a materialização do olhar remete para a ideia
de “tocar” a imagem com o olhar, ainda que este toque seja
mediado pelo disposivo (visor-ploer-íman-limalhas).
Deste modo, Wandering Gaze poderá ser considerada
uma obra em transição, isto é, a sua conclusão pode dar-
se no término de um momento exposivo e recomeçar
no seguinte ou, por outro lado, acumular o desgaste e,
consequentemente, concluir-se quando nada restar da
impressão fotográca. Aqui o espectador não é passivo,
torna-se agente na avação da obra e, por consequência,
na sua destruição. É uma peça que, lentamente, vai
entrando em processo de degradação através da rasura da
supercie da imagem impressa e, enquanto tal, vai também
acumulando sedimentos na sua base, pela raspagem do
papel pelas limalhas.
A materialidade da supercie de inscrição da imagem
foi algo que nos interessou explorar e, no campo da
experimentação plásca, o que começou como tentava
de rasurar a imagem, mais tarde transformou-se numa
exploração das interferências entre a imagem fotográca e
a pintura. Posteriormente, em Golden and Defaced (Figura
5) foram também ulizados solventes, de forma a permir
a manipulação da nta na supercie das provas e a tornar
os sujeitos aí representados como “borboletas anestesiadas
e xadas” (Barthes, 1980/2008, p. 65), cristalizadas num
objeto único e irrepevel, minando desta forma a sua
reprodubilidade.
Ao digitalizar os negavos e as provas fotográcas,
transformando a sua materialidade em imagens no ecrã, o
objeto material foi condensado numa supercie, tornando-
se código. A materialidade da fotograa-objeto converte-se,
assim, num substuto digital, tornando-se unidimensional.
Reestruturar, refazer e manipular os pixéis que compõem
estas imagens permite abrir uma nova camada de
interpretação da imagem e das ferramentas ulizadas.
Em Failure is a Given (Figura 6), seguiu-se uma linha de
invesgação centrada na mulplicidade e acumulação
pela aplicação de distorções, duplicações, cortes e rasuras,
expondo o uso das ferramentas digitais na manipulação das
imagens. O facto de se retrabalhar a imagem a parr do
seu interior segue uma lógica que tanto faz uso do próprio
programa de edição de imagem e dos seus parâmetros pré-
estabelecidos como adiciona camadas de informação sobre
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a imagem original. O fotoquímico e o digital interligam-se
por meio destas camadas e sobreposições, como expressões
materiais das interferências entre a supercie das coisas
captadas e a supercie da imagem (primeiro no ecrã, depois
na imagem novamente materializada, impressa). Há uma
cisão entre a imagem original e a imagem retrabalhada
que é reduplicada e cruzada sobre si mesma, separando-
se do seu original. Por outro lado, sabendo que as imagens
são “datáveis” pela tecnologia que usam (Belng, 2011, p.
15), interconectam-se aqui duas temporalidades disntas:
a da imagem original e a da imagem intervencionada. A
cooperação entre meios, onde as ferramentas ulizadas
para adulterar a imagem são trazidas para primeiro plano,
e colocam em evidência aquilo que o programa interpreta
da imagem. É na conuência de degradação, manipulação
e ulização do soware como campo de interação na
recomposição destas imagens, que pretendemos inscrever
a pesquisa no campo do pós-fotográco, já que aqui se dá
uma “reprogramação das imagens, designadamente do seu
progressivo funcionamento como forma de visualização
e projeção de dados, como interface lúdico e interavo”
(Flores, 2013).
4. Considerações nais
A presente invesgação teve como ponto de parda
um conjunto de imagens pré-existentes exploradas
arscamente de modo a enfazar uma maior
consciencialização do corpo sico – o nosso e o da imagem.
Através de uma proposta de experimentação plásca,
explorámos várias questões de materialidade, taclidade
e olhar, transformando a imagem em algo atreito a
apropriação e manipulação, quer a nível do representado
quer a nível das eventuais ligações entre as próprias
imagens, que pertenceram a tempos e locais muito disntos
entre si. Em resposta às questões que nhamos colocado,
sobre a conuência entre olhar e tocar, entre o hápco e
visual, em relação aos disposivos para descodicar, foram
realizadas várias obras.
Num primeiro momento da invesgação foram realizadas
uma série de experimentações no campo da fotograa
fotoquímica a que, mais tarde, se juntou a mediação entre
os territórios argêncos e digitais. Em seguida, foram
explorados aspetos relacionados com a codicação, a
imagem latente, a degradação ou a manipulação (visual ou
de sendo), aplicando, para tal, vários processos especícos
que alteram a relação sica e visual que estabelecemos com
as imagens. O ato de “espreitar”, de curiosidade em relação
a algo, de descodicar e descobrir a imagem escondida
foram também pontos a que pretendemos aludir, com a
criação de peças que exigem uma aproximação sica, olhar
“pelo buraco da fechadura”, tocar/senr a sua supercie
lisa ou rugosa. As várias obras apresentadas são disto
testemunho e esveram patentes à apreciação do público
numa exposição (Galeria Belas Artes – ULisboa).
Há uma convivência de vários pos de suportes, tecnologias
e modos de fazer, sempre com o intuito de ir para lá da
supercie da imagem, recaindo sobre a relação estabelecida
entre o olhar, o toque e a maleabilidade das imagens das
quais parmos. Procurámos, assim, desenvolver criações
arscas entre a proximidade indispensável para tocar e a
distância necessária para ver, ancorando o trabalho plásco
na experiência tácl, visível e tangível do objeto fotográco,
deslocando e expandindo os processos arscos para o
campo da invesgação nas artes.
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