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Estudos em Geografia Histórica e seu vínculo ao patrimônio-territorial

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Abstract

Este escrito apresenta a possibilidade de uso da Geografia Histórica como um instrumento para ativação do patrimônio-territorial. Busca, através de uma série de orientações metodológicas, iluminar dinâmicas territoriais de tempos pretéritos para visibilizar agentes de produção do espaço omitidos/esquecidos nos textos históricos, apresentando, numa microhistória, nuanças que revelem outros possíveis percursos socioespaciais. Sustentado em observações acumuladas por mais de uma década de estudos, pesquisas, bancas e escritos no campo da Geografia Histórica, apresenta-se de forma didática dez riscos ao se deparar com estudos nesse campo da Geografia, notadamente, no estabelecimento dos vínculos desta com o patrimônio material e imaterial.
vol. 4 | n. 7 | março 2021 | pp. 63-77 | Artigo
PatryTer | ISSN: 2595-0169 | vol. 4 | n. 7 | março 2021 | pp. 63-77 | Artigo
Estudos em Geografia Histórica e seu vínculo ao patrimônio-territorial
Adriano Bittencourt Andrade
1
Resumo: Este escrito apresenta a possibilidade de uso da Geografia Histórica como um instrumento para
ativação do patrimônio-territorial. Busca, através de uma série de orientações metodológicas, iluminar
dinâmicas territoriais de tempos pretéritos para visibilizar agentes de produção do espaço
omitidos/esquecidos nos textos históricos, apresentando, numa microhistória, nuanças que revelem
outros possíveis percursos socioespaciais. Sustentado em observações acumuladas por mais de uma
década de estudos, pesquisas, bancas e escritos no campo da Geografia Histórica, apresenta-se de forma
didática dez riscos ao se deparar com estudos nesse campo da Geografia, notadamente, no
estabelecimento dos vínculos desta com o patrimônio material e imaterial.
Palavras-chave: Geografia histórica; cartografia histórica; patrimônio-territorial.
Estudios de Geografía Histórica y su vínculo al patrimonio-territorial
Resumen: Este escrito presenta la posibilidad de uso de la Geografía Histórica como un instrumento para
la activación del patrimonio-territorial. A través de una serie de orientaciones metodológicas, iluminar
dinámicas territoriales de tiempos pretéritos para identificar los agentes de producción del espacio
olvidados en los textos históricos, presentando, en una microhistoria, matices que revelen otros posibles
recorridos socioespaciales. En las observaciones acumuladas por más de una década de estudios,
investigaciones, bancas y escritos en el campo de la Geografía Histórica, se presenta de forma didáctica
diez riesgos al encontrarse con estudios en ese campo de la Geografía, especialmente, en el
establecimiento de los vínculos de ésta con el patrimonio material e inmaterial.
Palabras-clave: Geografía Histórica; patrimonio-territorial; cartografía histórica.
Researches in Historical Geography and their link to territorial-patrimony
Abstract: This article presents the possibility of using Historical Geography as an instrument for
activating territorial-patrimony. Through a group of methodological orientations, it goal shows the
territorial dynamics of past times and identify the agents of space production omitted / forgotten in the
historical texts, presenting, in a micro history, signals that reveal other possible socio-spatial ways.
Supported on observations and analyses for more than a decade of studies, research, newsstands and
writings about Historical Geography, ten main ideas are presented in a didactic way for this kind of
studies, especially in the establishment of its link with patrimony.
Keywords: Historical Geography; territorial-patrimony; historical cartography.
DOI: https://doi.org/10.26512/patryter.v4i7.27406
Como citar este artigo: Andrade, A. B. (2021). Estudos em Geografia Histórica e seu vínculo ao patrimônio-
territorial. PatryTer Revista Latinoamericana e Caribenha de Geografia e Humanidades, 4 (7), 63-77. DOI:
https://doi.org/10.26512/patryter.v4i7.27406
Recebido: 05 de setembro de 2019. Aceite: 16 de março de 2020. Publicado: 01 de março de 2021.
1
Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA, Professor federal do Ministério da Defesa / CMB. ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-2176-5427. E-mail: abittandrade@gmail.com
Adriano Bittencourt Andrade
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1. Introdução
Houve, nas últimas décadas, um
significativo aumento da produção acadêmica
brasileira, seja pela expansão quantitativa dos
cursos de graduação e pós (MEC, 2019)
i
, seja pela
competitividade e indução às publicações pelo
mercado e instituições de fomento. No bojo desse
volume estão os cursos de Geografia (Bauzys &
Ribeiro, 2015)
ii
e, com eles, os trabalhos voltados
para o campo da Geografia Histórica que abundam
em eventos científicos e aparecem como tal em
monografias, dissertações e teses.
A participação ativa nesse período de
ampliação de trabalhos vinculados à Geografia
Histórica (estudos de mestrado, doutoramento e
pós-doutoramento, além da observação e análise de
trabalhos acadêmicos na composição de bancas de
avaliação) permite inferir que a maior quantidade
veio acompanhada com algumas fragilidades
qualitativas e equívocos que se repetem em
diversos trabalhos analisados.
Essa problemática foi o contexto indutor
da produção deste artigo, que se soma a outros
escritos que discutem teórica e metodologicamente
os caminhos da Geografia Histórica, a exemplo de
Vasconcelos (1999), Abreu (2002 e 2011), Moraes
(2009) e Andrade (2013). No caso do texto aqui
posto, além de apresentar riscos recorrentes nos
estudos afins à área, procura-se vincular a
Geografia Histórica ao processo corrente de
patrimonialização, identificando possibilidades de
usar o seu instrumental para ativação popular do
patrimônio-territorial
iii
.
Vislumbra-se, nesse sentido, a pesquisa
científica como produto para a intervenção social.
Busca-se assim, através de uma série de orientações
metodológicas, possibilitar que, para além da
descrição de objetos do espaço, as dinâmicas
territoriais de tempos pretéritos sejam iluminadas,
visibilizando os agentes de produção do espaço
omitidos/esquecidos nos textos históricos.
Objetiva-se, dessa forma, apresentar, numa
microhistória (Lepetit, 2001), nuanças que revelem
outros possíveis percursos socioespaciais e
vivifique a Geografia como uma ciência social que
ontologicamente se sustenta na capacidade
explicativa de entender o mundo a partir da
dinâmica dos territórios e como eles são
produzidos e usados pelos homens.
Ratifica-se, então, que o objetivo geral que
norteia o artigo é analisar pressupostos para
estudos de Geografia Histórica vinculando esse
campo da Geografia como instrumental para a
ativação do patrimônio-territorial. Rompe-se assim
com uma perspectiva habitual de naturalização do
patrimônio material e imaterial e se propõe utilizar
das possibilidades interpretativas de dinâmicas
territoriais pretéritas como “máquina de guerra”
iv
para vislumbrar outros arranjos territoriais e atores
que apresentem patrimônios obliterados ou
secundarizados pela perspectiva de “eleição”
pontual de determinados espaços, monumentos ou
práticas sociais para comporem o elenco de
patrimônios na nossa atualidade.
Tem-se ainda como objetivos específicos:
(1) apresentar orientações metodológicas que
evitem equívocos recorrentes nos estudos de
Geografia Histórica; (2) destacar o papel da
cartografia histórica como instrumento
fundamental para a interpretação de arranjos
territoriais do passado visto que apresenta, medidas
as ressalvas técnicas e de intencionalidade, marcos
representativos (simbólicos e concretos) da história
de um dado espaço; (3) estabelecer parâmetros que
possibilitem que os estudos da Geografia Histórica
“toquem” criticamente o tempo presente,
rompendo assim com as abordagens meramente
descritivas de arranjos espaciais do passado.
Metodologicamente, a produção do texto
deriva de uma longa pesquisa bibliográfica e
embate teórico com outros autores. O escrito que
aqui se apresenta é resultado concreto do
aprofundamento dos debates desenvolvidos no
“III Seminário Latinoamericano: Imagen y
representaciones espaciales. Perspectivas
geográficas” que aconteceu abril de 2019 na
UNAM (Universidade Nacional Autónoma de
México) e foi materializado na publicação do
terceiro número da revista PatryTer (Andrade &
Andrade, 2019). Sustenta-se então, em análises
prévias (participação de bancas de mestrado e
doutorado, diálogo com outros autores e aplicação
empírica dos constructos desse ramo disciplinar) e
amadurecimento do resultado a partir de outros
textos já submetidos aos pares.
A estrutura do texto perpassa pela
discussão das dez seções relacionadas a seguir que
demarcam pressupostos conceituais ou
metodológicos para quem se propõe a fazer
estudos no campo da Geografia Histórica e, no
caso aqui discutido, vinculá-la à discussão
patrimonial: (1) O entendimento do espaço
geográfico como totalidade multidimensional, para
muito além de uma visão fragmentada do mesmo;
(2) Os limites e possibilidades da pesquisa em
fontes primárias; (3) Os riscos de anacronia no uso
de terminologias e/ou conceitos; (4) As estratégias
analíticas e metodológicas para avançar na pesquisa
da Geografia Histórica quando houver lacunas de
informação documental; (5) A identificação dos
agentes de produção do espaço e seus respectivos
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interesses, entendendo a sua diferenciação no
tempo e espaço; (6) Diante das incontáveis
possibilidades de eventos
v
num mesmo momento,
deve-se considerar o texto histórico como uma
tentativa interpretativa de um dado arranjo espaço-
temporal; (7) O uso da cartografia histórica como
instrumento de análise de paisagens pretéritas; (8)
Atentar para os limites técnicos e intencionalidades
presentes em cada fonte de pesquisa, notadamente
para as cartográficas; (9) Explorar a diversidade de
fontes como estratégia de cruzar informações em
busca da inapreensível dinâmica espacial; (10) Não
restringir os estudos de Geografia Histórica à mera
descrição quantitativa de fatos, eventos ou
disposição de objetos do passado e, nesse sentido,
apresentar a mesma como “máquina de guerra”
que possibilite a ativação popular do patrimônio-
territorial.
Cabe a ressalva de que não se arvora neste
artigo fazer um tratado metodológico sobre a
pesquisa na Geografia Histórica. Outros textos
citados alhures foram escritos defendendo essa
ampla temática. Pretende-se todavia que a
observação e o cuidado no trato desse elenco de
pressupostos protejam o pesquisador de riscos
recorrentes e remeta a uma pesquisa que para
além da classificação de objetos fixos num
determinado espaço-tempo.
2. Do patrimônio como elemento
puntiforme ao espaço como totalidade
O primeiro dos riscos numa abordagem de
Geografia Histórica vinculada ao patrimônio é o
sustentar-se naquela para “naturalizar” o que é tido
ou tomado como patrimônio. Não obstante o
entendimento sobre os critérios para a seleção do
que deve ser tombado pelos órgãos responsáveis
em variadas escalas, deve-se ter a clareza de que o
“eleito” responde a determinados critérios, mas se
distancia de uma totalidade que é absolutamente
mais complexa e diversa do que é enumerado,
limitado espacialmente ou classificado pelo poder
formal. Como bem alerta Costa (2017, por
exemplo), intervenções urbanas sob o signo da
patrimonialização e, sua cara metade, turistificação
tendem a fragmentar o espaço, segmentando-o,
como é próprio do capitalismo, perde-se assim a
perspectiva de um espaço mais amplo, complexo e,
normalmente, excluído e alienado em relação aos
investimentos e visibilização dados a uma
determinada área tombada.
Destaca-se aqui que não se é contra a
defesa de sítios ou práticas que, por determinados
critérios, devam ser protegidos, o que se alerta é
sobre as mudanças de usos, que alterem a própria
essência existencial do que foi tombado ou que se
iluminem determinados pontos do espaço em
detrimento a um mais amplo espaço da vida das
pessoas que habitam aquela localidade. Dois
exemplos cabais podem ser relacionados: no
primeiro caso, a experiência de gentrificação do
centro histórico de Salvador iniciado na década
1990 (Andrade & Brandão, 2009) quando houve a
expulsão da população local e a criação de um
espaço mítico, turístico e maquiado que alterou
bruscamente os usos e funções urbanas que aquela
região exercia no contexto da cidade.
Equipamentos foram instalados e as demandas
comerciais se impuseram às resistências residenciais
do entorno, criando um espaço sem vida, ou
melhor, com vida e serviços orientados para o
usufruto dos turistas ou dos soteropolitanos que
pudessem pagar para “consumir” o novo
Pelourinho. Um simulacro com luzes de um espaço
passado, sob a chancela da patrimonialização, que
se impôs autoritariamente no centro da complexa
realidade urbana da capital baiana.
Um outro exemplo que salta aos olhos é a
realidade das pequenas cidades mineiras tombadas
pela UNESCO, com destaque a Ouro Preto e
Diamantina. Fruto de uma extensa pesquisa
documental e empírica, Costa (2010) mostra como
a população mais fragilizada, que ocupa as
periferias dessas duas cidades, permanece alheia à
própria história do espaço e, principalmente,
“esquecidas” nas políticas públicas que canalizam
recursos à porção tombada do espaço urbano.
O processo histórico do acontecer social
se como um conjunto de possibilidades que se
enredam e se transformam em bases simbólicas e
concretas num contínuo embate entre o universal e
particular, este e aquele mais ou menos distante a
partir de cada realidade espacial (universal como
tendência e particular como acontecer real dos
lugares). Assim, os eventos se realizam
seletivamente numa mesma totalidade. Selecionar
determinados desdobramentos de eventos
acontecidos no desenrolar da vida cotidiana que
produz o espaço banal
vi
implica uma grande
armadilha de não levar em consideração um
axioma a ele ligado: a sua pluralidade. A seleção de
um desdobramento espacial em detrimento a
outros tende a deixar pessoas, hábitos e lugares
excluídos das políticas de patrimonialização.
A Geografia Histórica, ao passo que
estabelece análises sobre dinâmicas territoriais
pretéritas, possibilita a visibilização de grupos
sociais oprimidos/omitidos historicamente na
produção do espaço social. Assim, os “novos”
escritos postos à baila por essa área da Geografia se
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constituem como instrumentos para visibilizar
eventos e atores e constituir um campo de
resistência e permanência de espaços, saberes e
práticas sociais.
3. Qual a “verdade” presente nas fontes
primárias?
Deve-se também estar alerta às análises
que consideram documentos e textos históricos
como verdades consolidadas. Certamente eles
expressam “uma” verdade, no entanto, também
derivam de seleções, intencionalidades e,
principalmente, interpretações. Por vezes, na ânsia
de localizar algum registro documental ou texto
histórico que sustente uma hipótese, incorre-se no
erro de não tomá-lo como uma possibilidade diante
de uma miríade de outras omitidas. Não se trata de
descartar as fontes primárias ou secundárias, mas
de relativizar o seu uso e, quando possível,
confrontar com outras fontes.
No caso do Brasil, boa parte dos
documentos formais produzidos no período
colonial era feita por fidalgos (portugueses ou
descendentes) e, evidentemente, respondiam ao
interesses desse grupo frente aos diversos outros
agentes que ocupavam e produziam o vasto espaço
brasileiro.
Dentre os incontáveis exemplos de
dinâmicas territoriais pretéritas que poderiam
clarificar essa ponderação, selecionou-se aqui o
caso da criação de uma vila no distante sertão de
Rodellas, a oeste do Rio São Francisco. Andrade e
Andrade (2019, p.55) indicam que
em 23 de agosto de 1753 que, respeitando a
provisão régia de cinco de dezembro de 1752, foi
erigida a vila de São Francisco das Chagas da
Barra do Rio Grande, hoje simplesmente a cidade
de Barra na mesorregião Vale Sanfranciscano da
Bahia. A localização estratégica foi fator
fundamental na elevação desta vila; ela foi fundada
num "entroncamento" de vias fluviais que
articulava o norte e o sul através do rio São
Francisco e acessava por caminhos hídricos ou
terrestres as terras/minas do leste e oeste. A vila é
decorrente de um arraial formado por índios
pacificados a partir de orientação do então
Governador Geral D. João de Lancastro ao final
do século XVII. Esta medida foi tomada para
evitar as invasões e ataques do gentio (Acoroazes e
Mocoazes) às fazendas de gado da região. Os óbices
demográficos e materiais daquelas distantes terras,
porém, levou ao retardo da elevação do povoado a
vila, só ocorrendo depois de mais de meio século.
O discurso presente sobre a necessidade
de “pacificar” os indígenas apresenta esse grupo de
moradores originais daquele espaço como um
óbice a ser vencido para a implantação das
fazendas de gado e livre circulação dos fluxos
comerciais de tempo lento
vii
que por ali passavam
conectando o norte da colônia e o porto de
Salvador às interiores regiões mineiras.
Os indígenas “hostis” à empresa
colonizadora foram dizimados ou incorporados
como trabalhadores braçais das fazendas de gado.
Hoje, contraditoriamente, elementos marcantes da
cultura local derivam desse encaldeamento entre
opressor/colonizador e oprimido/indígenas. As
festas de gado e vaquejadas locais guardam cores
desse perverso passado, entretanto, são
apresentadas como mera alegoria, sem a
profundidade que possibilite visibilizar o papel
histórico dos índios Acoroazes e Mocoazes como
ocupantes primeiros daquele território.
O saber formal, presente nas fontes
primárias documentais, reverbera a dominância de
um grupo sobre os outros e a Geografia Histórica é
um campo disciplinar que pode apresentar uma
série de novas leituras, interpretações e
informações que sugiram outras possibilidades de
ver e entender grupos e dinâmicas territoriais do
passado.
4. O risco da anacronia
Uma outra “armadilha” contumaz nos
estudos da Geografia Histórica diz respeito à
anacronia no uso de conceitos e terminologias. O
uso de constructos hodiernos para explicar
dinâmicas de tempos mais recuados deve ser feito
com rigoroso aporte conceitual sob pena de
produzir análises sem sustentação nas diferentes
temporalidades e processos territoriais que se
davam a partir de outras bases.
É exemplar a discussão desenvolvida por
Andrade (2013) para a aplicação do conceito de
rede urbana à dinâmica territorial do Brasil
Colonial. Não obstante o amadurecimento
conceitual de urbanização e, por derivação, da rede
urbana estarem vinculados ao processo de
industrialização vivido no continente europeu pós
século XVIII, parece-nos adequado aplicar tais
conceitos a outros tempos e espaços, entretanto
com as necessárias ressalvas para que o
entendimento não se dê de forma anacrônica.
No uso supramencionado dos ditos
conceitos para entender a dinâmica territorial do
Recôncavo baiano e as suas articulações internas
(Andrade, 2013), fez-se necessário primeiramente
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definir o que era o urbano para aquele tempo e
espaço, com o claro entendimento de que aqueles
ajuntamentos humanos de então diferenciavam-se
sobremaneira do que se define como urbano na
nossa contemporaneidade (medidas as variações de
critérios entre os países). Tomou-se, então, como o
urbano para o Brasil setecentista as sedes das vilas
e cidades nos extensos termos municipais então
definidos pelo poder formal. Essas unidades
parcamente povoadas exerciam uma centralidade
demográfica, econômica e jurídica sobre um longo
e soberano espaço “rural”.
A partir desses núcleos de povoamento,
conforme se comprova em diversas fontes
primárias, estabeleciam-se trocas interiores que, por
vezes, subvertiam as ordens verticalmente impostas
pelo poder central de Lisboa/Portugal e
alinhavavam uma rede regional que rompia com o
modelo tipicamente arboral ou em forma de “bacia
de drenagem” (Moraes, 2002, p.85).
Uma rede tipicamente urbana que
articulava pontos a partir de fluxos de mercadorias
e pessoas num tempo lento, medidas as
dificuldades de circulação pelo território que
confirma a possibilidade de uso de tal conceito,
ainda que em tempos mais recuados, desde que
sejam feitas as argumentações teóricas que
justifiquem a aplicação para o entendimento da
dinâmica territorial pretérita.
Outros autores também tratam de redes
urbanas estruturadas em tempos mais recuados a
exemplo de Costa e Moncada (no prelo) na
avaliação que fazem sobre o complexo e intricado
espaço pré-colombiano no México (produção
sistema intensivo, concentração demográfica
numerosa, registros e calendários, artes, edifícios e
cidades monumentais, diferenciação entre rural e
urbano, articulação em rede e rotas comerciais,
estrutura e diferenciação político-econômica e
religiosa, centralidade e “hinterlândia”) com os
cuidados teóricos e metodológicos para justificar o
uso de conceitos amadurecidos em tempos mais
recentes que o fenômeno estudado.
5. Os “hiatos temporais”
É impossível apreender a totalidade do
espaço social dada a sua dinâmica e a incontável
possibilidade de arranjos. Considerando esse
axioma para a nossa contemporaneidade, a tarefa
de buscar dinâmicas territoriais em tempos
pretéritos é ainda mais árdua, pois se a partir
de um limitado conjunto de fontes, especialmente
nos espaços e tempos em que lacunas de
documentação.
Alguns espaços luminosos (Santos &
Silveira, 2001)
viii
no passado, como as capitais
coloniais, Salvador e Rio de Janeiro, ou áreas de
grande interesse econômico, vilas mineiras, por
exemplo, guardam grande volume de
documentação em condições de serem
transformadas em texto histórico; todavia,
outros espaços que viviam dinâmicas territoriais
em pontos opacos aos interesses imediatos da
empresa colonial e, nesse sentido, possuem
pequena disponibilidade de documentação
primária (textos escritos, cartografia e
iconografia). Tem-se assim, em oposição aos
“períodos densos”, os “hiatos temporais” à
pesquisa na Geografia Histórica o que dificulta a
apreensão das dinâmicas espaciais pretéritas
(Vasconcelos, 1999).
Dois importantes alertas merecem
menção para esses casos em que aparecem os
ditos “hiatos temporais”: o primeiro é o risco de
elaborar especulações e produzir textos sobre
territórios do passado com pouca sustentação
documental e incorrer no equívoco de embasá-los
em constructos do presente (“verdades
consolidadas” em textos secundários ou na
própria formação do pesquisador). O segundo
alerta diz respeito ao entendimento que a ausência
de informação documental não significa o “vazio”
de ocupação, mas uma outra lógica que
predominava no espaço “não” documentado,
assim, a “não informação” também é um dado
significativo a ser considerado na pesquisa em
Geografia Histórica. Ratifica-se, então, que o
texto resultante de uma análise revela apenas uma
possibilidade interpretativa diante do conjunto da
complexa e dinâmica totalidade socioespacial.
Alternativas viáveis ao se deparar com
esse óbice na pesquisa na Geografia Histórica são:
Procurar informações nas entrelinhas de textos
que tangenciem o objeto em foco na pesquisa
ix
.
Outra boa estratégia é ler/buscar as pistas que a
falta de documentação sobre um determinado
espaço-tempo apresentam, como a obliteração de
agentes de produção do espaço, omissão
intencional de dados pelo poder central ou
mesmo a pouca importância dada a determinadas
regiões coloniais.
Abreu (2005) havia sinalizado acerca
desse problema e indicado como alternativa, no
tocante ao trato com a cartografia histórica, a
possibilidade de produzir mapas conjunturais a
partir da coleta de informações de outras fontes
de pesquisa. Assim o fez para a realidade urbana
do Rio de Janeiro e tal metodologia foi
apropriada por outros estudos como o de
Andrade (2013) sobre o Recôncavo baiano.
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6. Interesses diferenciais na produção do
espaço: o papel dos agentes
Uma alternativa para o risco de naturalizar
os eventos (tomar “fatos” históricos como
verdades incontestes) é buscar identificar agentes
de produção do espaço e suas intencionalidades,
entretanto é fundamental estar atento à variação
desses para cada dinâmica espaço-temporal. A
identificação dos agentes nomeia e personaliza os
eventos, sejam eles conjunturais ou estruturais.
Num claro esforço teórico e
metodológico, vários autores tentaram
estabelecer classificações dos agentes de produção
do espaço, com destaque para Corrêa (1995), que
abordou o caso específico da cidade capitalista da
nossa contemporaneidade e de em Vasconcelos
(1997) que, recuando no tempo, apresentou os
agentes de produção do espaço para as cidades no
Brasil Colonial. Com um olhar mais focal, Andrade
(2013) aprofundou a relação quando analisou o
caso empírico do Recôncavo baiano setecentista. O
que ratifica que a variação no tempo e espaço
muda, determinantemente, o elenco e os papéis
dos agentes.
É revelador notar que um mesmo agente,
num mesmo tempo cronológico da história,
assume papéis diferentes diante da articulação de
forças desiguais (enfrentamento ou
articulação/aproximação com outros agentes) que
atuam na dinâmica territorial de produção e uso
dos territórios, a exemplo do papel diferencial da
Igreja na produção do espaço no Recôncavo
baiano e nas Minas Gerais no decorrer do século
XVIII. Pode-se ampliar esse olhar na comparação
com outros espaços da América Latina, a exemplo
do que fazem Costa e Moncada (no prelo) quando
mapeiam os presídios e conventos, objetos
concretos da colonização, na estruturação de uma
verdadeira rede de localidades estrategicamente
dispostas na ocupação e exploração do atual
território mexicano.
Destaca-se que a ação dos agentes
hegemonizados ganham pequena visibilidade tanto
na documentação formal como na materialidade do
território, entretanto eles existem e, portanto, são
passíveis de serem cartografados e analisados nos
seus papéis de outrora e atuais, dando assim
margem a pensarmos em outras dinâmicas
territoriais e possibilidades patrimoniais a serem
clarificadas pelas análises e textos da Geografia
Histórica. Essa possibilidade aqui sugerida
confirma o vínculo entre a produção de saberes
dos estudos da Geografia Histórica que
“iluminam dinâmicas territoriais do passado e o
seu uso, na atualidade, por grupos populares, para
que esses ativem o patrimônio-territorial vinculado
às suas práticas, por vezes, omitidas ou oprimidas
ao longo da história desigual e perversa do
processo capitalista de colonização, mormente no
contexto da América Latina.
7. O texto histórico como uma das
possibilidades analíticas para um dado
arranjo espaço-temporal
x
A produção de um estudo de Geografia
Histórica não prescinde de um claro entendimento
sobre a categoria analítica do tempo e suas
derivações como as temporalidades técnicas e as
estratégias de periodização (Andrade, 2013).
Seguindo essa perspectiva, três
possibilidades analíticas se apresentam inicialmente:
Num “diálogo” direto com a proposta
braudeliana (Braudel, 1978), o primeiro viés de
abordagem do tempo diz respeito ao entendimento
dos possíveis encontros concretos entre tempo e
espaço na realização dos eventos. Como escreveu
Santos (1997, p.114), “O evento é a flecha do
tempo num dado espaço”. Em cada canto do
mundo, a infinita possibilidade de realização de
acontecimentos é sempre mediada pela
temporalidade técnica e condicionante espacial
daquele ponto específico do planeta onde se
encontram os agentes que vivem o evento. A
maioria dos eventos tem apenas repercussão local,
outros, entretanto, podem ter repercussões globais.
Visto desta forma, decisões verticais, em redes
hierárquicas, m rebatimento no nível das
horizontalidades, do viver cotidiano. Assim, fatores
exógenos, atendendo a critérios supra-locais,
podem criar fatos novos para o local de vivência
das pessoas que passarão a contar com esta nova
realidade cotidiana.
Uma segunda possibilidade analítica é que,
num mesmo tempo cronologicamente datado,
podem coexistir, no mundo, diferentes
temporalidades técnicas. Como exemplo, pode-se
citar o caso do Brasil do século XXI onde
convivem espaços onde ainda se dão usos
tradicionais e arcaicos da terra, regulados pelos
domínios da natureza com técnicas primitivas de
cultivo e sujeitos às determinâncias de uma
natureza que pode ser hostil (secas mais
prolongadas, pragas, etc.) aos seus mais básicos
interesses, e outros, não tão distantes (sertão
nordestino e MATOPIBA
xi
), onde o
desenvolvimento da química fina e biogenética
possibilitam o encurtamento do tempo das safras
ou o crescimento contínuo e estimulado de
espécies animais como os galináceos, além do
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controle de pragas e maior produtividade a partir
da produção transgênica. É o domínio técnico de
uma e outra situação que determina a relação com
o tempo da safra, do crescimento dos animais e,
mesmo, com as demais relações sociais que se
desenrolam a partir da produção.
Terceiro, o tempo é acelerado pelas
técnicas e essas tocam o espaço geográfico
seletivamente, assim, considerando que cada
espaço possui uma dada temporalidade técnica e
uma dada conjunção de agentes que o produzem,
não se pode periodizar o tempo cronológico de
forma homogênea, sob o risco de severa anacronia.
O tempo e suas rupturas são diferentes para cada
fragmento do mundo. Como exemplo, podemos
pensar em quão incoerente deve ser a cronologia
eurocêntrica que divide o tempo em Idade Antiga,
Medieval, Moderna e Contemporânea, para os
Judeus, para o mundo árabe, para os antigos povos
pré-colombianos e mesmo para o extremo oriente
que adotam um outro padrão de periodização a
partir da lógica local.
8. A cartografia como instrumento de
pesquisa da Geografia Histórica
A ação social se espacializa, essa é a
premissa norteadora da Geografia, assaz esse
axioma, esta ciência tem ontologicamente o espaço
geográfico como categoria analítica nodal dos seus
estudos. Nesse sentido, e abrindo mão de um
desdobramento epistemológico sobre essa variável
teórica, tem-se na cartografia um instrumento de
apoio absolutamente necessário aos estudos
geográficos, visto que ela possibilita um manifesto
desdobramento dos eventos sociais, selecionados,
no território. Fator fundamental para os estudos
pretensamente geográficos.
Mormente para a pesquisa no campo da
Geografia Histórica, recorrer às representações
cartográficas na amplidão de possibilidades que ela
oferece (mapas de época, iconografia, mapas
conjecturais, cartografia indutiva, cartogramas)
significa complementar fontes e abrir outras
possibilidades de “ler” a dinâmica espacial vivida
em tempos recuados.
Uma ressalva de base quando se faz uso
desse recurso é que todo mapa representa uma
perspectiva redutiva ao caráter complexo e
multidimensional do espaço geográfico. Assim,
mesmo considerando que os eventos se
territorializam e a cartografia possibilita a
visibilização/leitura da espacialidade das dinâmicas
territoriais, não se pode perder de vista que,
conforme informado alhures nesse mesmo artigo,
os mapas são desdobramentos de intencionalidades
de quem se propõe a fazer o desenho.
Em relação à base de dados cartográfica,
tem-se como fundamento que mapas em diferentes
escalas abrem diferentes possibilidades de análise,
pois se vê coisas diferentes.
Desta forma, e considerando que a ação
dos agentes de produção do espaço pode ser
mapeada, abre-se a possibilidade analítica de
“enxergar” em mapas de diferentes escalas a
resistência que também se territorializa. Ou seja, a
cartografia que historicamente é utilizada como
instrumento de poder (conhecer, tomar posse,
batizar, oprimir) como teoriza e empiriciza Araújo
(2001) para o caso da formação da atual fronteira
oeste do Brasil, também pode dar pistas e ensejar
análises emancipatórias.
9. As intencionalidades e “limitações”
técnicas por trás dos mapas
Ainda vinculado ao pressuposto anterior,
que se ter clareza que quem fez o mapa ou o
documento traz consigo um posicionamento
ideológico. Nesse sentido, o pesquisador deve
buscar as intencionalidades e também os limites
técnicos (caso de precisão escalar e localização) na
construção dessas importantes fontes de pesquisa,
sempre alerta ao fato de que a dinâmica territorial
é muito mais complexa que as possibilidades de
revelá-la em um mapa.
Os dois exemplos que seguem clarificam
como que a feitura de um mapa, notadamente os
mapas históricos, explicitam informações
desejadas e omitem outras dinâmicas territoriais
que se apresentam ao pesquisador apenas nas
entrelinhas.
O primeiro exemplo é a Figura 1, um
mapa da comarca da Baía de Todos os Santos no
início do século XIX, mas com registros coletados
no século anterior, fato habitual para um tempo
de escassas informações sobre os espaços
ocupados e em que a cartografia produzida era
uma “soma” de dados de mapas anteriores.
Considerando ainda uma relativa inércia espacial,
pode-se afirmar que os equipamentos dispostos
na imagem (estradas e cleos de povoamento,
principalmente) possuem uma existência mais
recuada, possivelmente, no século XVIII.
Neste mapa aparecem destacados os
“caminhos reais”, assim chamados por serem as
vias principais dos fluxos formais que circulavam
no tempo lento da rede que ligava os principais
pontos a serem explorados do território colonial
aos portos atlânticos (cabeça de ponte).
Adriano Bittencourt Andrade
Estudos em Geografia Histórica e seu vínculo ao
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Verifica-se a presença dominante da cidade
de Salvador (não mais capital colonial, desde 1763,
mas ainda como um dos principais portos do
Brasil) na península que “fecha” a Baía de Todos
os Santos, e para onde vetorizavam os caminhos
terrestres e hídricos num evidente desenho de
bacia de drenagem ou arboral típico do período
colonial.
Percebe-se também, numa leitura imediata,
a presença de uma densidade de informações sobre
povoamentos no entorno da baía, no chamado
Recôncavo baiano, uma área povoada e ocupada
economicamente por lavouras de cana-de-açúcar,
tabaco e mandioca, prioritariamente.
O que, todavia, não está posto é que havia
uma série de articulações internas à região,
conforme comprova Andrade (2013) com base em
análises de fontes documentais e cartográficas, que
revelam uma rede regional bem integrada para
aquele tempo e espaço com a proeminência de
Salvador e a centralidade interior de cinco vilas
(São Francisco do Conde, Santo Amaro, Cachoeira,
Maragogipe e Jaguaripe), todas criadas até o
primeiro quarto do século XVIII. Os fluxos que
movimentavam essa rede caracterizavam uma
subversão do território colonial às ordens da
Coroa, pois possibilitavam o abastecimento
interno, via trocas por mascates ou feiras livres, em
detrimento ao controle e abastecimento da
alfândega de Salvador. Essa e outras dinâmicas
territoriais fogem da intencionalidade da produção
do mapa, entretanto são possíveis de serem
verificadas para além do espaço formal
cartografado. Além desses, variando a escala de
análise para o foco local, a possibilidade de
identificar agentes de produção do espaço pouco
registrados nos documentos formais, como o caso
dos roceiros, negros alforriados, quilombolas e
escravos urbanos. O segundo exemplo aqui
trabalhado (Figura 2), diz respeito a um registro da
região da baía de Todos os Santos ao atual litoral
sul do estado da Bahia. Esse documento
cartográfico foi publicado em 1754 e chama a
atenção, para a análise aqui feita, pelo texto que
traz no seu canto alto esquerdo: “Etendue de Pais
desert et peu connu”. Ou seja, em meados do
século XVIII, toda a extensão da margem esquerda
do rio São Francisco é apresentada formalmente
como um espaço deserto e pouco conhecido.
Isso nos leva a questionar a posição de
quem faz o mapa e a intencionalidade para qual ele
serve, visto que os sertões da Bahia figuravam
como rotas de estradas terrestres que seguiam para
as minas e as ligavam à pecuária extensiva das
províncias do norte e, principalmente, ao porto de
Salvador.
Figura 1Planta do porto e comarca da Bahia de Todos os Santos.
Fonte: Exército Português.Reg. nº 8762, Post 1808. grifo nosso.
Adriano Bittencourt Andrade
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Conforme sinalizam Andrade e Andrade
(2019), é significativo observar que a vila de Nossa
Senhora da Barra do São Francisco tinha sido
fundada um ano antes da publicação do mapa e
que no início dos setecentos havia uma
determinação do Capitão Geral da baía para que a
região fosse pacificada por fazendeiros”,
omitindo, em todos esses documentos, a presença
dos índios Acoroazes e Mocoazes que habitavam
originalmente naquelas terras do Além São
Francisco e que são apenas mencionados como um
“óbice” a ser vencido na ocupação do território
pelo agente colonizador (assunto mencionado no
item três deste artigo).
Figura 2Suíte du Bresil: depuis la baye de tous lês Saints jusqu’a St. Paul.
Fonte: Biblioteca Nacional. (1754). Jacques Nicolas Bellin, ARC.010,12,039.
Adriano Bittencourt Andrade
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Nesse mesmo sentido, merece menção
como que a intenção de quem faz o mapa revela
verdades sobre o território que se propagam no
tempo em que é publicado e nos tempos que
seguem visto que se apresenta como uma leitura
fidedigna do espaço. Caso emblemático é tratado
numa série de estudos apresentados por Hirt e
Lerch (2014) sobre a atual Bolívia. As autoras
mostram como que foi forjada, ao longo da história
colonial, uma forma hegemônica de pensar o
território a partir da cartografia oficial alijando de
visibilidade os mais numerosos habitantes locais, os
indígenas. Propõe-se no referido estudo a
produção de uma contracartografia com a mudança
da perspectiva do olhar, ou seja, um conjunto de
novos mapas, partindo de registros históricos,
porém a partir do protagonismo indígena.
Ratifica-se aqui o papel da Geografia como
ciência do presente
xii
e, desta forma, apresenta-se
concretamente uma contribuição da Geografia
Histórica e da Cartografia na “iluminação” de
fissuras, resistências, transformações e
permanências que possibilitem outras leituras das
dinâmicas territoriais passadas, recontando a
história do território sob outras bases e ajudando a
compreender os arranjos do presente.
10. Diversidade de fontes como fator de
enriquecimento das análises
A ausência de uma fonte não deve impedir
a pesquisa sobre uma dada dinâmica territorial. O
pesquisador de Geografia Histórica deve valorizar
e utilizar as diferentes fontes com as suas
respectivas linguagens e especificidades: oral,
literatura, jornais, documentos oficiais, cartografia,
iconografia.
Focar em uma única base de dados ou
fonte pode ser uma alternativa de trabalho para a
pesquisa em lugares ou tempos com um maior
volume de informações (fontes primárias)
disponíveis. , entretanto, que lidar com duas
variáveis bastante comuns na pesquisa da
Geografia Histórica: primeiro os chamados hiatos
temporais (já mencionados no item quatro deste
artigo), períodos ou recortes espaciais com escassez
de fontes; segundo, quando a variação da fonte de
pesquisa possibilita “ver” outros agentes ou
dinâmicas territoriais, a exemplo da combinação,
quando possível, entre bases documentais e
literatura ou registros orais, como fazem Pinheiro e
Silva (2004).
É evidente que o uso de diversas fontes
perpassa pelo rigor científico no trato dessas bases
como material substantivo para sustentar o
argumento de um texto na academia. A própria
abordagem metodológica das mesmas implica uma
adequação ao método adotado no desenvolver da
pesquisa.
Ratifica-se, todavia, que a diversificação
das fontes possibilita confrontar “realidades” a
exemplo do que faz Maluly (2019) quando
apresenta uma série de cartogramas desenhados a
partir do relato de um viajante, neste caso de
Auguste de Saint-Hilaire, nos anos de 1816 e 1817,
e confronta esses mapas com outros feitos na
época, para revelar o que chama de “espaços de
exceção”. Vazios de informação na cartografia da
época, mas que, na verdade, eram áreas ocupadas
por indígenas indesejáveis à empresa colonial que
explorava as Minas Gerais.
“Ver” nas entrelinhas, buscar outras
leituras além das explícitas e identificar o que não
está posto, o não dito, como informação (a
exemplo da análise feita sobre as Figuras 1 e 2) gera
a possibilidade de encontrar pistas que ensejem a
produção de outros mapas de uma cartografia
contra-hegemônica.
É a estratégia subversiva, anteriormente
sinalizada, de diversificar fontes para encontrar na
micro-história a revelação de dinâmicas territoriais
complexas e dar visibilidade a outros agentes na
produção do espaço de outrora. Muitas vezes essa
revelação pode acontecer no confronto entre a
memória de um relato individual e a memória
coletiva de uma determinada expressão social,
como sugere Alvarado-Sizzo (2019)
11. A Geografia Histórica como “máqui-na
de guerra” para a iluminação de
patrimônios-territoriais
Ao longo da segunda metade do século
XX, produziu-se no Brasil uma série de estudos
pretensamente associados à Geografia Histórica
que seguiam uma metodologia rígida e que
apresentavam cidades e regiões urbanas a partir da
descrição de componentes fisiográficos,
localizacionais, e da disposição de equipamentos de
infraestrutura econômica, todavia careciam de
análises críticas e apresentação dos processos que
movimentavam a dinâmica territorial, tanto para o
passado como para o presente (Abreu, 1994).
Para além desse modelo descritivo das
monografias urbanas que efetivamente tiveram um
papel importante na construção da Geografia
brasileira, é necessário pensar no novo papel
assumido pela Geografia Histórica a partir da
construção de análises sobre dinâmicas territoriais
pretéritas que permitam atualizar o olhar sobre a
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nossa contemporaneidade a partir de outras bases e
discursos históricos.
Assume-se assim a premência de que os
estudos da Geografia Histórica sejam verdadeiras
“máquinas de guerra” que iluminem grupos e
práticas ancestrais e apresentem novas lógicas
constitutivas dos territórios de hoje.
Essa perspectiva se aproxima do que se
propõe neste artigo: tem-se nos estudos da
Geografia Histórica a possibilidade concreta de
iluminar, construir e cartografar patrimônios-
territoriais pouco visibilizados pela historiografia
até então.
Considera-se o patrimônio-territorial,
conforme Costa (2017), como uma resistência que
se territorializa. Resistência no sentido de que são
expressões de um povo sobre um território,
algumas inclusive perdidas ou profundamente
modificadas ao longo da história (a exemplo do
legado imaterial dos povos que sofreram etnocídio
no processo de colonização latino-americano).
Costa (2016, p.2) é enfático ao afirmar que “o
utopismo patrimônio-territorial latino-americano
(...) voz aos indígenas, às mulheres, aos pobres
urbanos; legitima a diversidade das memórias
nacionais e acusa desmantelamentos por guerras e
ditaduras. Reconhece que a mudança social no
continente está nas mãos dos despojados e dos
humilhados, perfazendo-se neles próprios”.
Entende-se, assim, que a produção da Geografia
Histórica, reveladora de dinâmicas territoriais do
passado, deve ser utilizada, no presente, como
instrumento fundamental para a ativação popular
desse patrimônio-territorial, símbolo da resistência
de povos oprimidos e que tem, no resgate da
história que os visibilize, a possibilidade de
subverter a história posta e vivificar novas
territorialidades sustentadas em práticas ancestrais
omitidas.
Os riscos para estabelecer esse vínculo são
muitos, como também o são para aprofundar
estudos sobre dinâmicas territoriais do passado.
Nesse sentido, o rigor metodológico pavimenta um
caminho seguro a trilhar nessa imensa miríade de
possibilidades de estudos na Geografia Histórica,
muitos tidos como tal, mas restritos a relatos
descritivos ou carentes de base espacial, como
sinaliza em estudo crítico Costa (2015). Sugere-se
aqui como uma alternativa metodológica a
proposta feita e aplicada por Vasconcelos (2002),
na qual o autor propõe quatro fases essenciais para
os estudos neste campo: o estabelecimento
criterioso de uma periodização adequada àquele
tempo e espaço, a contextualização em diferentes
níveis escalares, a identificação dos agentes de
produção do espaço e os interesses em jogo e, por
fim, como elemento essencial, o mapeamento e
análises acerca das transformações espaciais
atinentes a cada período estudado.
Sob essa base metodológica, não se deve
descartar a importância que na análise das
paisagens reconstituídas a partir da distribuição de
“alguns” elementos naturais ou técnicos numa dada
disposição espaço-temporal. A análise da paisagem
permite que a Geografia Histórica revele “outras”
bases patrimoniais e se constitua em instrumento
de resistência.
Considera-se que, a partir desses
pressupostos à pesquisa, é possível, então, ativar o
patrimônio-territorial a partir da periferia ou dos
grupos que foram submetidos às forças
hegemônicas. Entender o “novo” que surge do
encaldeamento entre a imposição de determinados
grupos que atuam estrategicamente sobre o
território e a vida banal dimensão existencial
(sincretismo, resistência, novas identidades criadas
exemplo das vaquejadas, do cristianismo
vernacular).
Os excluídos não podem ser vistos (ou
não vistos/omitidos da história territorial) como
variáveis sem emoção. Devem ser entendidos
como parte incluída de um sistêmico e perverso
processo socioeconômico que se em bases
territoriais e, portanto, com diferentes e sucessivas
temporalidades. Buscar essa espacialidade da
dominação presente, via de regra, na
documentação histórica, é usar a ciência como
“máquina de guerra” para ativar o patrimônio
territorial. Para além das formas, é possível
vislumbrar outras histórias a partir da análise de
dinâmicas territoriais de tempos passados.
A construção de análises que apresentem a
dimensão existencial do espaço permite, por
exemplo, explicar as dinâmicas territoriais a partir
de elementos e olhares endógenos e não a partir de
constructos exógenos. Caso exemplar da América
Latina que é sempre “explicada” a partir de um
olhar eurocêntrico ou anglo-saxão e pouco se viu
por dentro. Esse alerta feito por Santos (2006) e
Lemos (2018) reverbera em trabalhos que se
avolumam nas últimas décadas, a exemplo dos
escritos publicados regularmente em revistas
científicas como a PatryTer - Revista
Latinoamericana e Caribenha de Geografia e
Humanidades, que se estrutura segundo essa
perspectiva aqui indicada.
Fundamentalmente, entende-se, por
exemplo, que os modelos analíticos impostos de
fora podem explicar a realidade latino-americana a
partir da lógica econômica e da industrialização e,
com esse enfoque, corrompido, economicista, os
pobres são entendidos como uma variável, sem
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patrimônio-territorial
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emoção. Não como parte de um sistêmico e
excludente processo socioeconômico capitalista.
Deve-se, então, estar alerta para o fato de que os
resultados obtidos numa pesquisa são resultantes
de “uma” realidade vivida, uma dinâmica social
espacializada em relações territoriais entre
oprimidos e opressores. E que ambos devem ser
mapeados sob o risco de olhares míopes e
estereotipados sobre o território usado no passado
e agora.
12. Considerações finais
Entendendo as limitações óbvias de um
aprofundamento de discussão e análise no campo
de um único artigo científico, ratifica-se que o que
se pretende com esse escrito é acrescentar
elementos ao diálogo teórico-metodológico na
construção da Geografia Histórica brasileira.
Assim, num exercício de síntese,
apresentam-se a seguir as ideias fortes aqui
defendidas como pressupostos conceituais ou
metodológicos para quem se propõe a fazer
estudos no campo da Geografia Histórica
vinculando-os ao processo em curso de ativação
popular do patrimônio-territorial.
(1) A ação social dos agentes de produção
do espaço (hegemônicos e hegemonizados) deixa
marcas concretas no território usado, desta forma é
passível de representação cartográfica e registro
textual que deve ser buscado/produzido a fim de
dar visibilidade a todos os agentes, o que possibilita
mais de uma leitura do evento vivido.
(2) Os estudos de Geografia Histórica
possibilitam abrir luz a novas interpretações sobre
os processos que estruturaram dinâmicas
territoriais no passado. Uma boa alternativa para
alcançar essa possibilidade é a diversificação e
cruzamento de fontes de pesquisa.
(3) uma rie de dificuldades que se
impõe ao pesquisador que se arvora à busca por
interpretações de dinâmicas do passado, uma delas
está vinculada à disponibilidade de fundos com
documentação que lance luz aos eventos pretéritos.
O exercício dessa busca é um verdadeiro
“garimpo” documental e um trabalho típico do
pesquisador da Geografia Histórica.
(4) A pesquisa em arquivos por vezes
apresenta verdadeiros “hiatos” de documentação.
São encruzilhadas da pesquisa em que a lacuna de
dados históricos obscurece olhares interpretativos
sobre os fatos espaciais. Alternativas a esta situação
está na busca por outras fontes e no entendimento
de que a ausência de dados não significa o vazio de
ocupação, mas outra lógica territorial não mapeada
pelos agentes hegemônicos.
(5) A cartografia histórica é
definitivamente um instrumento habitual e
essencial aos estudos de Geografia Histórica, visto
que apresenta uma perspectiva interpretativa (de
quem fez o mapa) sobre as configurações espaciais
de um determinado tempo e espaço. Deve-se ter a
clareza, entretanto, que a dinâmica territorial é
muito mais complexa que as possibilidades de um
mapa, sendo esse uma mera representação escalar
de alguns componentes fixos selecionados para
serem mostrados.
(6) A Geografia Histórica como campo do
saber e o patrimônio como elemento social
(material ou imaterial) selecionado sob
determinados critérios podem, ambos, articulados,
se apresentarem como instrumento de resistência,
ao passo que possibilitam a ativação popular do
patrimônio-territorial com o resgate e visibilização
de práticas e grupos de agentes omitidos pela
historiografia oficial.
(7) De outra forma, pode-se afirmar que é
possível vislumbrar outras e novas histórias a partir
da apreensão de dinâmicas territoriais passadas.
Não é tarefa fácil, exige grande rigor metodológico
e analítico para não sucumbir ao desejo de
simplesmente dizer algo novo sem um
embasamento na pesquisa primária, sendo que esta,
via de regra, foi produzida por agentes
hegemônicos. Ou seja, é a busca por
documentação escrita, cartográfica, iconográfica e
oral que possibilita lançar olhares interpretativos a
grupos e espaços que têm pouca presença na
documentação oficial, porquanto, carecem de um
protagonismo na escrita da história, visto que a
possuem na existência e na produção do território.
(8) Esses aspectos anteriormente
apresentados dão margem para a proposta pensada
e sugerida por Costa (2017) de ativar patrimônios-
territoriais por e a partir da periferia. A Geografia
Histórica possibilita o recontar da história do
território com a identificação dos agentes de
produção do espaço, analisando os seus interesses
e articulações e permitindo o entendimento de
(i)lógicas que se impõem ao território de hoje, mas
que refletem estruturas socioespaciais de tempos
bem mais recuados.
Na construção dessas elaborações teórico-
metodológicas sobre a Geografia Histórica e a
ativação popular do patrimônio-territorial,
certamente uma série de lacunas que se apresentam
como pistas para pesquisas que seguem, a exemplo
da discussão sobre as transformações sociais
decorrentes da patrimonialização de
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eventos/monumentos populares e o consequente
uso turístico do mesmo.
Outra brecha que se apresenta à pesquisa é
a relação entre oportunismo econômico, consumo
pós-moderno, pós-industrial e a guarda da
memória cultural do patrimônio ativado. São duas
faces da mesma moeda: a necessidade de ativar o
patrimônio-territorial, aqui estruturada ao longo do
artigo, e o que decorre dos novos usos que podem
se impor a partir dessa ativação.
O pesquisador da Geografia Histórica não
pode ser um simples “ventríloquo” de povos e
grupos culturais soberanos, porém oprimidos,
omitidos e esquecidos na historia até então
contada. É necessário dar a esses grupos o
protagonismo no contar de novas histórias
territoriais sob o risco de impormos a nossa
interpretação sobre as suas práticas. Esse
entendimento à Geografia Histórica o desejado
papel de verdadeiras “máquinas de guerra” na
revelação de dinâmicas territoriais subversivas.
13. Referências
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Notas
i
Não obstante a sinalização de cortes
orçamentários e diminuição de oferta desde 2017
decorrente da conjuntura política do Brasil
(manobra para a sucessão do executivo federal e
ascensão da extrema direita), é significativo
observar os ganhos substantivos do período de
2003 a 2014, a exemplo do crescimento de 94%
das matrículas em universidades na região
Nordeste (p.21) e no aumento do número de
cursos de graduação no país de 16.505, em 2003,
Adriano Bittencourt Andrade
Estudos em Geografia Histórica e seu vínculo ao
patrimônio-territorial
PatryTer | ISSN: 2595-0169 | vol. 4 | n. 7 | março 2021 | pp. 63-77 | Artigo
77
para 32.049, em 2013 (p.23).
ii
Mantidas as ressalvas na nota anterior atinentes
ao perverso cenário político brasileiro hodierno, na
análise que os autores supramencionados fazem
dos cursos de pós-graduação stricto-sensu de
Geografia os dados são reveladores, a exemplo da
expansão de nove ao final da década de 1980 (final
do período da ditadura militar), para 84 (55
mestrados e 29 doutorados) em 2014.
iii
No uso desse conceito, norteador nas análises
desse artigo, acompanha-se o entendimento de
Costa (2017, p.59) quando indica o patrimônio-
territorial como resistência, sendo “elemento de
arte, cultura e vivências situadas na periferia, bem
material-imaterial ainda em realização espacial no
continente (sem qualquer ato de institucionalização
por parte do Estado-mercado), ele se opera em
singularidade (o fazer do e no lugar) diante de
múltiplas particularidades (economias políticas
regionais e nacionais), as quais conformam relações
sociais de trabalho”.
iv
Expressão emprestada de Magnavita (2004) para
tratar da utilização de instrumentos do saber
subversivos ao conhecimento posto, oficialmente
historicizado.
v
Noção filosófica defendida por Santos (1997, p.
114) e aprofundada na seção sete desse artigo.
vi
Conceito desenvolvido por Santos (1997) para
tratar do espaço na escala do local, o espaço do
“roçar” cotidiano, dos encontros e do nível da vida
entre os iguais.
vii
Conceito apresentado em Santos (1997) e aqui
utilizado para fazer menção à circulação de
pessoas, mercadorias e informações que se dava no
território do Brasil Colonial num velocidade,
volume e precisão bastante lentos se comparados
com os fluxos contemporâneos.
viii
Milton Santos faz uso desse conceito para tratar
de espaços de comando com maior fluidez e
interesses das empresas globais, em oposição aos
espaços opacos. Para evitar o risco de anacronia,
ressalva-se que o uso para tempos mais recuados é
feito para indicar os espaços do controle (do
mandar) em oposição aos espaços do fazer.
ix
Andrade (2013) buscando dados que revelassem
as dinâmicas internas do Recôncavo Baiano
setecentista, foi encontrar num fundo de Cíveis um
documento (APEB, 1715) que apresentava o
inventário de herança de uma “preta” alforriada
que morava no termo de Cachoeira (principal vila
interior do Recôncavo). Nesse documento
aparecem diversas informações sobre as posses
dessa senhora, como: pretos de ganho, roças de
mandioca e casas de aluguel na vila de Cachoeira
que dão pistas sobre relações socioespaciais muito
mais complexas que as duais campoXcidade ou
senhoresXescravos.
x
O texto desta seção é um fragmento modificado
do artigo “Olhares cruzados sobre o ‘Tempo’: uma
abordagem interdisciplinar” (Andrade, Pinto &
Braga, 2018).
xi
Acrônimo utilizado no setor agrícola,
notadamente na EMBRAPA (Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária) para identificar a
fronteira de expansão da agropecuária comercial
entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e
Bahia.
xii
Acompanha-se aqui o entendimento da
Geografia como ciência do presente apresentado
de Santos (1997) problematizado por Abreu (2000).
... Conferido o auxílio moradia, os moradores optaram por alugar casas no entorno da comunidade, demonstrando uma resistência que se territorializa (Andrade, 2021;Costa, 2017) e confirmando seu grau de vínculo com o lugar, com seus equipamentos públicos e com a memória do espaço. ...
... O fruto da luta, da resistência e do processo de ativação do patrimônio-territorial contra a colonialidade são vistos nas intenções de fiscalização e remoção da comunidade, que resultaram no aluguel social como medida de redução de danos e permanência dos moradores no território. Uma vez que foi conferido o auxílio, os moradores optaram por alugar casas no entorno da comunidade, demonstrando uma resistência que se territorializa (Andrade, 2021;Costa, 2017 A escolha da comunidade por permanecer e dar continuidade à vida cotidiana no bairro e no entorno com seus serviços e condições oferecidas pelo território, além da rede de apoio que a vizinhança proporciona, confirma seu grau de vínculo e apreço pelo patrimônio-territorial. Este identificado como o lugar, a historicidade, a memória coletiva, a moradia, a paisagem e o acesso aos equipamentos e serviços públicos. ...
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O artigo aborda o tema do Patrimônio-territorial e conflitos de remoção. Tem como referência a Comunidade do Jacó, bairro Rocas, Natal/RN, Brasil, que desde 2018 sofre ameaça de remoção por parte da municipalidade. Evidencia-se que, além da moradia, a ameaça de remoção afeta a perspectiva de continuidade da vida cotidiana no bairro, além de fragilizar a rede de apoio e solidariedade existente na comunidade. O artigo busca refletir sobre essa ameaça, que abrange elementos constitutivos do patrimônio-territorial, considerando o contexto de remoção. Entende-se esse patrimônio-territorial como expressão da vida cotidiana e singular da periferia em suas diversas dimensões. A base de dados tem referência em pesquisa acadêmica e projeto de extensão universitária. Como resultado, verificou-se que historicidade, afetividade, memórias e laços sociais, além de estreitas relações entre moradia, trabalho, acesso à educação saúde e lazer estão presentes nas trajetórias de lutas da comunidade, o que possibilita identificar a constituição de um patrimônio-territorial, cujo reconhecimento e ativação popular se concretizam em cada ação e estratégia utilizadas para evitar rupturas com o território.
... Otras presentaciones involucraron los utopismos patrimoniales y el patrimonio-territorial, dentro de la propuesta de Costa (2024de Costa ( , 2021de Costa ( , 2016, operacionalizado y revisado a partir de experiencias empíricas, como en el caso del pueblo indígena Fulni-ô en Águas Belas (Pernambuco, Brasil) como signos de la decolonialidad originaria (Queiroz, 2021;Costa & Moncada, 2021), de las resistencias rurales-urbanas desde los sujetos situados en Serro, Minas Gerais, Brasil (Carvalho, 2024) y, también, desde mercados tradicionales en Brasil, dialogando el patrimonio-territorial y los circuitos de la economía urbana (Costa, Rodríguez & Alvarado, 2022, Santos, 1975. Las demás mesas versaron sobre la conservación y la representación técnica y artística de los lugares y paisajes turísticos, además de la historia del territorio, el género y el patrimonio, como se aprecia, por ejemplo, en el caso de la fotografía como fuente de análisis del paisaje urbano en Taxco (México), de las contribuciones de la Geografía Histórica para el análisis de la historia del territorio a través del patrimonio (Andrade, 2021), y de la experiencia de mujeres productoras y de la agricultura urbana en Bahía Blanca. (Argentina). ...
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El CLUP - Coloquio Latinoamericano sobre Urbanización y Patrimonialización – es un evento académico bienal, que reúne a investigadores de Geografía, ciencias humanas y sociales de América Latina y el Caribe, un espacio favorable para la divulgación de temas y el debate teórico-metodológico relacionado con los usos del territorio, las dinámicas urbano-rurales, la socialización del medio natural en el continente. El evento es promovido por GECIPA (Grupo de Investigaciones CNPq sobre Ciudades y Patrimonialización en América Latina y el Caribe), el cual pertenece al Departamento de Geografía de la Universidad de Brasilia (UnB) y fue fundado en 2011, bajo la coordinación del profesor Everaldo Batista da Costa. El IV se llevó a cabo en la Universidad Nacional del Sur, entre los días 26 y 28 de septiembre de 2024, reuniendo a cerca de 130 investigadores de universidades y otras instituciones de Brasil, México, Chile, Argentina y Costa Rica. El evento contó con un total de 13 mesas, en las cuales se realizaron 78 presentaciones de trabajos que permitieron reflexionar y proponer caminos posibles para la construcción de la justicia socioespacial y para la crítica y enfrentamiento de las desigualdades socioespaciales, que involucran las ciudades-campo en América Latina y el Caribe.
... Además de E. Costa, ver otra lectura del territorio de excepción enHaesbaert (2006). Otros autores también dialogaran con la propuesta del patrimonio territorial geográfico-decolonial, como Hostensky (2020), Mesquita (2020),Andrade (2021),Rodríguez y López (2023), y Pinassi y Bertoncello (2023). ...
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Parcanga constituye un ejemplo de patrimonio-territorial y territorio de excepción latinoamericano, ubicado a 3.750 m s. n. m. en el distrito de Yarusyacán, Pasco, Perú. Es un complejo arqueológico con pinturas rupestres o quilcas de círculos concéntricos de la religión andina del wak´anismo, contemporánea con Chavín. El objetivo de este estudio es analizar las funciones que tuvo el sitio arqueológico de Parcanga y que permitan transformar al pueblo de Yarusyacán mediante la educación y el turismo, en la construcción de un centro de interpretación, de resistencia cultural y de la mirada del giro descolonizador. Para ello, se utilizó como metodología de campo la prospección, el levantamiento planimétrico del sitio y su registro fotográfico. Se concluyó que el lugar fue un centro religioso del período Formativo Medio (800-300 a.C.), relacionado con el culto a la Pachamama o al Imaymana Wiracocha, representados en forma de serpiente femenina repleta de círculos concéntricos, cuyos ojos simbolizan al mito etiológico de los yarusyacanes.
... Neste artigo sustentado nos constructos da Geografia Histórica, parte-se do pressuposto inicial de que a identificação de agentes de produção, bem como dos seus interesses e ações, possibilita uma análise crítica sobre dinâmicas territoriais pretéritas e, dessa forma, elimina-se o risco de naturalização das estruturas socioespaciais decorrentes (Andrade, 2021). ...
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O entendimento das complexas e assimétricas relações de poder que se dão entre os agentes produtores do espaço permite identificar intencionalidades e se distanciar de uma perspectiva naturalizada da dinâmica de ocupação e uso dos territórios. Nesse artigo, a partir dessa premissa fundamental aos estudos de Geografia Histórica, objetiva-se analisar o papel da Igreja como agente hegemônico nas relações de produção do espaço no Brasil colonial. A partir do Recôncavo Baiano setecentista (entorno de Salvador, capital colonial até 1763), à luz de pesquisa primária em arquivos brasileiros e portugueses, relacionam-se sete imbricadas funções assumidas pela Igreja (Regular, Secular e Ordens leigas) na constituição daquela rede regional que articulava cidade e vilas interiores. Como resultado, é apresentado um cartograma que sobrepõe as unidades edificadas pela Igreja (matrizes e capelas), os núcleos de povoamento e os caminhos (terrestres e fluviomarítimos) que cruzavam a região.
... Essa abordagem proposta por Costa (2016) e retomada em seus estudos posteriores (2017, 2018, 2021a, amadurecida neste último), bem como debatida por outros autores (Scharage-Rúbio, 2019;Hostensky, 2020;Alves, 2019;Mesquita, 2020;Sousa, 2020;Silva & Queiroz, 2020;Andrade, 2021 e outros.), é fruto de uma série de investidas empíricas do autor em diversos países da América Latina, que justifica sua denominação, no sentido de desejar inverter a ideia de uma América Latina apartada da civilização ocidental, acreditando que os sujeitos subalternizados são necessários à escrita da nova história do continente. ...
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Para fundamentar pesquisa em andamento, propõe-se a discussão de alguns caminhos para conceitualizar uma investigação em Geografia, que se apropria da hermenêutica filosófica como método. A tese tem por temática a interpretação do discurso urbano-urbanístico produzido sobre Brasília, a partir da obra escrita de alguns professores(as) pesquisadores(as) da Universidade de Brasília, atuantes em Urbanismo e Geografia Urbana. Inicialmente, são realizadas algumas aproximações aos conceitos delineadores do tema e da hipótese da pesquisa – utopia Brasília e utopismos patrimoniais. Em seguida, são apresentadas ao debate algumas diretrizes derivadas da hermenêutica filosófica, que deverão conduzir a operação do método. O propósito do debate é guiar a construção de um conjunto de estratégias a serem adotadas como postura frente aos textos que serão interpretados, para que se alcance a situação hermenêutica desejada para realização do estudo.
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A compreensão das dinâmicas de territórios originários, no contexto urbano-metropolitano, perpassa a leitura das intencionalidades relativas à modernidade-colonialidade e o uso de categorias operativas que condicionem uma possível transformação da realidade. Logo, este artigo identifica e analisa o patrimônio-territorial indígena em Brasília, no contexto territorial dos Yepá Mahsã, no bairro Noroeste, de intensa dinâmica imobiliária, para apreender elementos de re-existência e/ou sobrevivência do grupo na capital federal. Metodologicamente, o estudo se pauta em levantamentos bibliográficos e trabalhos de campo, visando a obtenção e elaboração de materiais iconográficos e cartográficos, além da realização de entrevista semiestruturadas. Como resultado, é revelada a forma de organização comunitária indígena, suas estratégias de sobrevivência e difusão do patrimônio-territorial dos Yepá Mahsã.
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Este trabajo teórico tiene el objetivo de confrontar dos debates sobre el patrimonio desarrollados en los dos lados del Atlántico (Europa y Latinoamérica), respectivamente, el patrimonio territorial (eurocentrado) y el patrimonio-territorial (decolonial). Metodológicamente, (1) explica el origen del concepto “patrimonio territorial” (elaborado por el geógrafo español J. Ortega Valcárcel y el urbanista italiano A. Magnaghi; (2) presenta el concepto “patrimonio-territorial” latinoamericano (propuesto por el geógrafo brasileño E. B. Costa); y (3) reconoce las derivaciones analíticas hechas por otros autores, a partir de las dos propuestas originales. Además de aclarar la frontera entre las dos perspectivas (de matrices epistémicas y praxis distintas), el estudio defiende un giro de pensamiento sobre los sitios vulnerabilizados y sujetos subalternizados y humillados en la larga duración formativa-territorial de los países latinoamericano.
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Traditional markets in Latin American metropolises may mitigate the risks of urbanization-commercialization in historical sites and mediate rural-city and ancestral-contemporary interactions. Considering that the Xochimilco Market (Mexico City) generates centripetal-centrifugal forces which activate the local economy (formal and informal), the goal of the article is to analyze the indissolubility of its neighboring internal and external trade spaces (producer zones, informal trade, chinampas), creating a territory of supply, labor, and subsistence of the impoverished population. A mixed methodological design is adopted, with participant observation, semi-structured interviews, and qualitative spatial analysis. The decolonial concept of " territorial heritage" and the theory of "circuits of urban economy" applied to the Global South helps verify the socio-spatial experiences and permanence that, from the market, subjects and families have maintained, in a scenario of selective modernization of metropolitan territories and growth of informality onto the continent.
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The space-related dichotomies of time/space, society/nature and space/society are still a complex methodological challenge for Geography. Simultaneously, Historical Geography is a sub-area capable of reading and producing a dialectic representation of space, by discourse, cartography and images. Thus, this article proposes the concept of geographical time, epistemic component and analytic entity of trans-scalar and trans-temporal spatial issues, operated by historical cartography. Methodologically, it correlates: i) Historical Geography and the scalar representations of space; (ii) cartographical representation as means of overcoming the time/space dichotomy; and (iii) a cartographical praxis of geographical time, in support of society↔nature and space↔society dialectics, substantiated in the eighteenth century Colonial Brazil.
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Un enfoque científicamente exitoso parece ser el de la geografía histórica y la historia económica en la comprensión de la formación de territorios vinculados a la economía espacial. Por lo tanto, la tesis defendida en este artículo es que la economía espacial, distinta en cada región de la colonización portuguesa en Brasil, es afluente de una red de ciudades y villas que articularon el territorio. Metodológicamente, se basa en fuentes primarias del siglo xviii y en un análisis que vincula el concepto de lo urbano pretérito a las peculiaridades de la economía espacial de las regiones coloniales elegidas para el análisis, Recôncavo Baiano, Sertões do São Francisco y Minas Gerais. Estas regiones sintetizan un proceso de fragmentación articulada del territorio del siglo xviii en Brasil.
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El barroco en Latinoamérica invoca conceptos y nociones relativos a diferentes campos disciplinares y, geográficamente, puede ser trabajado como síntesis estética de la historicidad política del espacio. Así, este artículo analiza los objetos geográficos que explican el condicionamiento barroco del territorio resultante de la colonización ibérica de América; en especial de Nueva España. Metodológicamente se trata (1) del complejo condicionamiento del territorio novohispano forjado por tres instituciones coloniales de posesión y control cartografiadas en este estudio: los conventos, los presidios y los pueblos de indios; y (2) se introduce la noción de decolonialidad originaria. La investigación revela que estos objetos amalgamados formaron los embriones de ciudades condicionados por el devenir de una mentalidad fundadora y un “ethos barroco”, paradójicamente estimulantes de una resistencia indígena, negra y mestiza en el continente. Ese condicionamiento moderno (o barroco) del territorio -reflejo de su total posesión real e imaginaria a través de la praxis jurídica, teológica y productiva colonial- constituye la fase de sacralización del espacio novohispano (siglos XVI-XVII).
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La memoria y el imaginario referidos al territorio y al trabajo muestran dimensiones paradójicas de la vida ubicada de los sujetos. Así, este artículo tiene el objetivo de realizar un acercamiento a dos momentos en la región de Tierra Caliente de Michoacán (México): la Hacienda Nueva Italia –parte de un sistema latifundista– y el Ejido –forma colectiva de propiedad agraria– para comprender la relación del trabajador con esta área definidora de un territorio singular, a principios del del siglo XX. Metodológicamente, se trabaja con testimonios de habitantes de la actual Nueva Italia, para una reconstrucción de estas etapas con el análisis de los imaginarios y percepción pretérita del territorio, develados por los ex trabajadores informantes. Para ello, se articula la discusión sobre i) el espacio y el imaginario de la hacienda en la memoria local; ii) la cotidianeidad del trabajo en la hacienda y la vida privada de los trabajadores; iii) la lucha por la tierra, iv) la abundancia y la violencia en el ejido, y v) los Cusi y el General Cárdenas como alegoría de la hacienda y el ejido
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O texto trata das dificuldades na Geografia Urbana Histórica de examinar as cidades na longa duração. Dois conceitos são propostos inicialmente, o de “períodos densos” e o de “hiatos temporais” para o exame da questão. Em seguida é realizada uma avaliação da literatura que trata da periodização das cidades por autores de diferentes disciplinas. O texto é concluído com uma proposta metodológica de utilização: (1) das referidas periodizações; (2) do exame dos contextos; (3) da análise dos agentes; e (4) do desenvolvimento espacial das cidades. Abstract METHODOLOGICAL ISSUES IN URBAN HISTORICAL GEOGRAPHY The methodological issues of the Urban Historical Geography to examine cities in the long duration are discussed in this text. Two concepts are initially proposed: the “thick periods” and the “temporal hiatus”. The literature including different authors from different subjects dealing with the periodization of the cities is evaluated. Finally, a methodological proposal is presented for (1) using the cited periodizations; (2) examining contexts; (3) analysing the agents; and (4) the spatial development of the cities.
Article
Traducción de: Escrits sur l'histoire Incluye bibliografía
O Estudo geográfico da cidade no Brasil: evolução e avaliação. Contribuição à história do pensamento geográfico brasileiro
  • M A Abreu
Abreu, M. A. (1994). O Estudo geográfico da cidade no Brasil: evolução e avaliação. Contribuição à história do pensamento geográfico brasileiro. In A. F. A. Carlos (Org.). Os caminhos da reflexão sobre a cidade e o urbano (pp.199-322). São Paulo: EDUSP.
Construindo uma geografia do passado: Rio de Janeiro, cidade portuária, século XVII
  • M A Abreu
Abreu, M. A. (2000). Construindo uma geografia do passado: Rio de Janeiro, cidade portuária, século XVII. GEOUSP Espaço e Tempo, 4(1), 13-25. Recuperado em 24 outubro, 2020, http://www.revistas.usp.br/geousp/article /view/123400/119716
Pensando a cidade no Brasil do Passado
  • M A Abreu
Abreu, M. A. (2002). Pensando a cidade no Brasil do Passado. In I. E. Castro, P. C. C. Gomes & R. L. Corrêa (Orgs.) Brasil: questões atuais da reorganização do território (pp.145-184). (2a.ed.). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
Reencontrando a antiga cidade de São Sebastião: Mapas conjecturais do Rio de Janeiro do século XVI
  • M A Abreu
Abreu, M. A.(2005). Reencontrando a antiga cidade de São Sebastião: Mapas conjecturais do Rio de Janeiro do século XVI. Cidades. 2(4), 189-220. São Paulo: Gráfica Provo.