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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 4 a 9/10/2021
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Comunidades Online de Mulheres sem Filhos: Apontamentos Iniciais de Pesquisa
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Ana Luiza de FIGUEIREDO SOUZA
2
Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ
RESUMO
O número de brasileiras sem filhos é o maior já registrado, acompanhando um movimento
mundial. Tal fenômeno se dá em um momento em que se vivencia a dimensão da escolha
e as mídias sociais desempenham papel relevante na produção subjetiva dos sujeitos.
Apesar disso, trabalhos acadêmicos no campo da Comunicação não relacionam a
emergência de espaços voltados à não maternidade nessas mídias à mediação dos projetos
de vida de não mães voluntárias ou involuntárias. O artigo traz os apontamentos iniciais
de pesquisa de doutorado que investiga como não mães se apropriam das mídias sociais
para construírem outras formas de ser mulher que não passem pela maternidade. Assim,
atenta para demandas das não mães expressas e construídas através da mediação das
mídias sociais, bem como sua perspectiva sobre problemáticas maternas.
PALAVRAS-CHAVE: não maternidade; projeto de vida; mídias sociais; comunidades
online.
INTRODUÇÃO
Atualmente, no Brasil, quatro em cada dez mulheres não têm filhos, o maior índice
já registrado.
3
Tal fenômeno se reflete não apenas no cenário demográfico, mas também
na gradual criação de espaços comunicacionais voltados àquelas que vivenciam a não
maternidade. O que em boa medida acontece, conforme mostram os relatos abaixo, nas
mídias sociais.
A gente abre o Facebook e lá estão mensagens para heroínas que nós, as sem
filhos, nunca seremos. Não é bom ser uma mulher sem filhos no Dia das Mães,
principalmente pós Facebook.
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Hoje eu vim aqui fazer esse vídeo como forma de representatividade, que é o fato
de eu ser uma mulher e não querer ter filhos. Como assim não quer ser mãe, toda
mulher tem instinto maternal. Mas não é bem assim não.
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Acho triste minha gravidez de 12 anos porque é o tempo que espero. Obrigada a
todas pelas histórias... bom poder ler as de mulheres que sabem o que sinto.
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1
Trabalho apresentado no GP Comunicação e Cultura Digital, XXI Encontro dos Grupos de Pesquisas em
Comunicação, evento componente do 44º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.
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Mestre e doutoranda pelo PPGCOM da UFF. Bolsista CAPES-Proex. Integrante do grupo de pesquisa MiDICom.
Site: www.analuizadefigueiredosouza.com.br. E-mail: analuizafigueiredosouza@id.uff.br.
3
Disponível em: https://glo.bo/2YIfWOL. Acesso em: 10 jul. 2021.
4
Retirado de coluna no site Universa. Disponível em: https://bit.ly/31FXkMr. Acesso em: 08 jul. 2021.
5
Retirado de canal do YouTube. Disponível em: https://bit.ly/2MV4Ajl. Acesso em: 08 jul. 2021.
6
Retirado de blog para não mães involuntárias. Disponível em: https://bit.ly/2ySkhzu. Acesso em: 09 jul. 2021.
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Sou negra, nascida e criada na favela (...) e desde os meus 18 anos sou cf
[childfree] por não me imaginar sendo mãe e dando o que eu passei de vida pra
um filho, então tire dessas mentes fechada de vcs que todo cf é rico e privilegiado,
pq os verdadeiros cf deveria ser essas pessoas de comunidade, pra pararem de se
reproduzirem sem planejamento e sem condições.
7
Mídias sociais, por sua vez, são aqui entendidas enquanto tecnologias e práticas
online usadas por pessoas ou empresas para disseminar conteúdo, gerando o
compartilhamento de opiniões, experiências, ideias e perspectivas (SOUSA e
AZEVEDO, 2010). São, portanto, mídias que seguem a lógica da web 2.0, focadas na
interação social. Distinguem-se assim dos meios de comunicação de massa tradicionais,
em grande medida baseados em uma dinâmica informativa na qual um polo emissor envia
a mesma mensagem para um grupo de receptores tido como homogêneo. Em abordagens
mais próximas à perspectiva das materialidades da comunicação, tais mídias podem ser
denominadas sociotécnicas (POLIVANOV e FIGUEIREDO SOUZA, 2019).
Todavia, enquanto trabalhos acadêmicos buscam estudar mães e suas
manifestações em ambientes online, este empreendimento é escasso em relação às não
mães. Diante disso, o presente artigo parte de reflexões que surgiram após conclusão de
pesquisa de mestrado, em 2019.
Nela investiguei, por meio da exploração de narrativas pessoais de mulheres
brasileiras em mídias sociais, as disputas, dilemas e paradoxos em torno da maternidade,
relacionando essas narrativas tanto a movimentações históricas quanto ao ambiente
dialógico das plataformas em que são produzidas (FIGUEIREDO SOUZA, 2019). De
trocar ideias sobre produtos até debater políticas públicas, as mídias sociais têm sido
mobilizadas por diferentes públicos, com fins diversos. Mulheres utilizam esses espaços
para debater a maternidade, assim como a usam — de forma semelhante aos demais
sujeitos inseridos na cultura digital — para discutir várias outras temáticas
(POLIVANOV e FIGUEIREDO SOUZA, 2019). O que a dissertação aponta é a
importância que as mídias sociais ganharam na mediação de discursos sobre
problemáticas relativas à maternidade que antes não eram observados. Inclusive no que
abrange mulheres que não se tornam mães.
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Retirado de postagem em página no Facebook, que exibia a mensagem enviada por uma de suas seguidoras.
Disponível em: https://bit.ly/2OM1fp8. Acesso em: 10 jul. 2021.
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Trata-se de um grupo que tanto incursões posteriores
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ao mestrado quanto a
realização da atual pesquisa de doutorado revelaram como diverso e complexo, no qual
encontram-se: mulheres sem filhos arrependidas por não terem se tornado mães; mulheres
sem filhos satisfeitas, mas que reclamam de exclusão, preconceito e/ou pressão para
serem mães; mulheres que, embora gostem da ideia de virarem mães, adiam a
maternidade até ser tarde demais; mulheres sem filhos que sofrem (percebendo-se como
anormais ou mesmo tornando-se suicidas) por não terem desejo maternal; mulheres
engajadas nos direitos reprodutivos femininos; mulheres sem filhos que não se sentem
discriminadas ou cobradas a tê-los; não mães involuntárias (que admitem apenas a
maternidade biológica ou que aceitam a adoção como forma de se tornarem mães);
mulheres sem filhos que ainda não decidiram se querem ou não virar mães; mulheres que
se tornam porta-vozes da não maternidade; mulheres que se identificam como childfree
9
(em suas variadas vertentes), entre outros subgrupos.
A partir disso, cheguei à seguinte questão: de que formas a não maternidade é
abordada em comunidades online voltadas a não mães nas mídias sociais e como mulheres
pertencentes a essas comunidades (e a diferentes perfis de não mães) se relacionam com
tais abordagens? O compartilhamento de narrativas pessoais gera conflitos e redes de
apoio em comunidades online dirigidas às sem-filhos, por meio da convergência de
discursos de diferentes instituições (mídias, experiências particulares, medicina, ciência,
política, religião, entre outras) no mesmo ambiente. Assim, é possível entender que existe
uma produção de subjetividade a partir da mediação da cultura digital. Processo este que
a tese em andamento busca discutir e do qual os trabalhos acadêmicos sobre a não
maternidade encontrados até o momento não dão conta, mesmo que alguns deles
explorem o ambiente virtual ou as mídias sociais de alguma forma.
Este artigo apresenta os apontamentos iniciais da referida tese de doutorado, a fim
de dividir suas descobertas com os debates acadêmicos no campo da Comunicação.
PROJETOS DE VIDA E CULTURA DIGITAL
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Além de ter dado continuidade à pesquisa sobre a relação entre maternidade e mídias sociais, converti meus perfis
nessas mídias em contas profissionais. Nelas, compartilho conteúdo relacionado ao que venho pesquisando, o que gera
retorno por parte de mulheres que se interessam pelas temáticas abordadas.
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Pessoa que não tem filhos por opção; estilo de vida sem filhos; luta pelo direito de não ter filhos; mais recentemente
também utilizado para se referir à demanda por ambientes “livres de crianças”.
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A reivindicação dos valores de autonomia e de individualidade, para Simmel
(1973), ocupa lugar central na vida moderna. Os indivíduos buscam maior liberdade de
escolha e ação no mundo social. Procuram se diferenciar entre si e para si perante as
forças sociais e a herança histórica. Cabe ao indivíduo moderno, portanto, construir seu
próprio projeto de vida, que pode ser entendido como “a conduta organizada para atingir
finalidades específicas” (VELHO, 2003, p. 101). Processo este que enfatiza a
responsabilidade individual: os resultados das escolhas do sujeito são consequência de
suas atitudes. Crença que, segundo Polivanov (2019), ganha cada vez mais força
conforme avançam o neoliberalismo, a globalização, a presença das mídias e tecnologias
na vida cotidiana, o embaçamento de fronteiras temporais/espaciais e a sensação de
aceleração do tempo.
A cultura midiática, por sua vez, informa os sujeitos sobre as escolhas existentes,
isto é, sobre as diversas opções de atividades e produtos por meio dos quais podem
construir seus estilos de vida. Ambas, aliadas à cultura do consumo, constituiriam uma
espécie de quadro de referências (POLIVANOV, 2019) ao qual as pessoas
frequentemente recorrem ao longo da (re)construção de sua identidade.
Mulheres inseridas na cultura capitalista ocidental só podem ter a discussão de ser
ou não ser mães por contarem com a dimensão do projeto de vida. O que vai fazer a
diferença entre várias mães ou não mães é justamente a dimensão do estilo de vida.
“Quero uma rotina com filhos ou sem filhos”, por exemplo, que são bem distintas. Tais
estilos de vida também são compartilhados e construídos nas mídias sociais que essas
mulheres utilizam, a partir de suas publicações e do contato de terceiros com elas.
Embora exista a dimensão da escolha, ela também é questionável a partir do
momento em que não é o único fator que age sobre os projetos de vida e a própria vida
das mulheres. Os indivíduos traçam seus projetos influenciados pelo campo de
possibilidades em que estão inseridos (VELHO, 2003). As opções de conduta e consumo
aparecem enquanto campo de possibilidades, mas, ao mesmo tempo, esse campo é, ainda
assim, restrito dentro da dimensão do projeto de vida. Conforme ressalta Velho (2003), o
processo de construção de narrativas de si não se dá do mesmo modo para sujeitos que
vivem em condições sociais, econômicas e culturais distintas. Assim como existem
elementos que se repetem na construção dos projetos de vida de sujeitos pertencentes ao
mesmo âmbito cultural ou dada configuração histórica.
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A maternidade e a não maternidade são partes constitutivas da identidade das
mulheres, sendo a assim chamada identidade feminina ainda centrada na figura da mãe,
nos traços tomados como maternais (GILLESPIE, 2003; BADINTER, 2011; DONATH,
2017). O próprio debater a maternidade é, de muitas formas, a elas imposto. Ser mãe ou
não mãe integra um processo de construção identitária a partir do papel social (ou dos
papéis sociais) ocupado(s) por essas mulheres.
É possível, ainda, complexificar a oposição binária “mãe” e “não mãe”. Conforme
identifica Donath (2017, p. 61), existe um amplo espectro de atitudes emocionais que
oscilam entre “uma tendência para a maternidade” e “uma tendência para a não
maternidade”, que pode ser expresso por uma mesma mulher. Porém, a não maternidade
constitui uma vivência cuja denominação deriva da vivência normativa, a maternidade.
Importante perceber que os termos existentes para se referir àquelas que não são mães
imprimem conotação de carência ou perda (sem-filhos, sem-frutos, nulípara, não mãe,
childless), o que denota a maneira como são socialmente percebidas. Segundo Harrington
(2019), não ter filhos — sobretudo por escolha — expõe a estigmatização de um grupo
que se encontra fora da normatividade de uma sociedade que é pronatalista, ou seja, que
estimula o aumento das taxas de natalidade.
Independentemente de nomenclaturas, mulheres que escolhem não ter filhos
costumam sofrer marginalização e estigma social, tanto como resultado de sua escolha
quanto pela revelação do status de sem-filhos. Não mães voluntárias têm sido percebidas
ao longo das últimas décadas como egoístas, individualistas, orientadas para a carreira,
menos carinhosas, autônomas, desajustadas e menos socialmente desejáveis
(NGOUBENE-ATIOKY et al., 2017). A decisão de não ter filhos representa uma das
mais notáveis mudanças na família moderna (AGRILLO e NELINI, 2019), o que não
ocorre sem atritos sociais. Já as não mães involuntárias experimentam cobrança para
permanecerem na busca pela maternidade, sendo frequentemente alvo de pena e/ou
censura (BADINTER, 2011). Ambas se encontram sujeitas à reprovação pública.
Solnit (2017) aponta a recorrente preocupação social quanto aos filhos que as
mulheres não têm, muitas vezes maior do que o interesse nos demais empreendimentos
que realizam. Põe-se a não maternidade enquanto lugar da falta. Por mais que uma mulher
acumule conquistas em sua vida profissional e/ou pessoal, não ter tido filhos a marca
como incompleta, insuficiente. Visão esta que não se reflete apenas em percepções
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culturais manifestadas no cotidiano, mas também nas matérias jornalísticas, textos,
imagens, vídeos e memes de internet que circulam pelas mídias sociais.
Apesar disso, comunidades online aparecem como importantes espaços nos quais
aqueles que fogem à norma pronatalista reagem aos estigmas a eles associados
(MORISON et al., 2016). Segundo Van Zoonen (2012), o ambiente das mídias sociais
estimula uma discussão pública calcada em experiências pessoais. Tal dinâmica altera
inclusive o consumo da informação política, uma vez que “a conversação informal tem
se alimentado da brecha aberta por sistemas de interação online, elevando, por sua vez, a
discussão política ao patamar do corriqueiro” (CHAGAS, 2019, p. 42). Assim, a
conversação cotidiana configuraria uma ação política pensada como fim em si mesma.
Entendida por Mansbridge (apud CHAGAS, 2019, p. 43) enquanto ato político — que
pode e tem se estendido às mídias sociais —, permite que lutas individuais se conectem
tanto a causas coletivas quanto a lutas normativas mais amplas e abrangentes, quando
vista como parte do arcabouço cultural da política, integrante de um todo. No caso da não
maternidade, integrada a um conjunto de práticas, pensamentos e posições tradicional e
institucionalmente vinculadas à maternidade.
METODOLOGIA
Desde abril de 2019, com maior ênfase a partir de março de 2020, realizo imersão
em campo para mapear as comunidades digitais em torno da não maternidade que
surgiram recentemente. Conjunto que, até o momento, envolve as seguintes categorias:
a) grupos no Facebook, a maioria fechados; b) páginas no Facebook; c) perfis no
Instagram configurados enquanto contas profissionais; d) grupos no Whatsapp e/ou no
Telegram; e) blogs. Algumas páginas e perfis têm canal no YouTube, assim como
algumas fanpages têm perfis no Instagram e vice-versa.
Para apresentar os apontamentos iniciais da pesquisa, são utilizadas determinações
da Internet Research: Ethical Guidelines 3.0, guia elaborado pela Association of Internet
Researchers (AoIR, 2019) a fim de orientar a conduta de trabalhos voltados para
fenômenos que se desenrolam na Internet e em plataformas digitais. Por isso, as dinâmicas
de cada categoria de comunidade online de mulheres sem filhos serão descritas sem o uso
de capturas de tela ou elementos que permitam identificar as autoras. Tal medida busca a
preservação tanto da identidade das integrantes dessas comunidades quanto do conteúdo
original nelas divulgado, haja vista que parte considerável delas são grupos fechados, ou
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seja, suas postagens não se configuram enquanto dados públicos que poderiam ser
reproduzidos sem a necessidade de assinatura de termo de consentimento por parte das
respectivas autoras.
APONTAMENTOS DE PESQUISA
Conforme explicado na seção anterior, as comunidades online de mulheres sem
filhos foram separadas em cinco categorias. Embora não configurem categorias estáticas,
isto é, algumas comunidades e/ou participantes de uma categoria podem pertencer a
outras categorias, a divisão busca simplificar a apresentação dos achados iniciais da
pesquisa em andamento.
A primeira categoria é composta por grupos no Facebook. A maior parte deles são
grupos fechados, ou seja, qualquer pessoa com acesso ao link vai encontrar os grupos
com suas respectivas descrições, mas apenas membros podem ver as postagens e interagir
com elas. Por enquanto, são seis grupos acompanhados pela pesquisa, que serão aqui
renomeados como: Grupo A, Grupo B, Grupo C, Grupo D, Grupo E, Grupo F.
Grupo A: criado no segundo semestre de 2017. Atualmente
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com 3,3 mil
integrantes. Exclusivo para mulheres childfree (CF). Apresenta-se enquanto grupo
voltado para discutir questões CF sem discriminar mães ou crianças. Contém uma única
administradora. Média de idade de 20 a 38 anos. Postagens mais comuns são publicações
internas feitas pelas participantes, especialmente contando experiências ou fazendo
perguntas às demais. Aceita mães — o que costuma causar debate entre as integrantes.
Algumas argumentam que aquele deveria ser um espaço exclusivo para não mães, já que
as mães representam o grupo hegemônico. Também defendem que, por terem filhos, mães
não poderiam ser consideradas childfree. Já outras argumentam que se as regras do grupo
estabelecem a empatia com mães naquele espaço, não faria sentido não as aceitar.
Também comentam que tê-las no grupo traria oportunidade tanto de as mães entenderem
as demandas de mulheres voluntariamente sem filhos quanto de expandir as definições
do próprio conceito de childfree.
Grupo B: criado no segundo semestre de 2018 e excluído entre março e abril de
2021, à época com mais de 10 mil membros. Misto (homens e mulheres), exclusivo para
pessoas childfree. Associado a uma fanpage e a um perfil do Instagram. Apresentava-se
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Última atualização do número de participantes de cada grupo feita em: 11 ago. 2021.
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enquanto grupo que discutia o estilo de vida CF sem ser apologético ou envolver política.
Média de idade 20 a 45 anos, postagens mais comuns eram compartilhamentos de páginas
CF/maternas e de perfis pessoais, memes de internet, relatos e enquetes. Continha uma
única administradora, que geralmente promovia enquetes para conhecer o perfil
demográfico do grupo. Divergências entre o posicionamento político da administradora e
o de parcela significativa de integrantes se tornaram mais comuns entre fevereiro e março
de 2021, o que pode ter contribuído para sua exclusão. Junta-se a isso o fato de o grupo
ser relacionado a uma fanpage que costuma receber denúncias por algumas de suas
postagens, consideradas ofensivas. A ideia de conseguir uma vida confortável e luxuosa
por meio do trabalho, sem as despesas acarretadas por filhos, era bastante presente entre
as narrativas das participantes. Também era possível perceber subgrupos de mulheres
dentro do grupo: as que evitavam ou abdicavam de relações sexuais para não
engravidarem; as extremamente rigorosas quanto ao uso de métodos contraceptivos
combinados, que não admitiam o argumento de gravidez acidental; as que se opunham
aos subgrupos anteriores, asseverando que sexo não deveria ser reduzido a procriação e
que acidentes acontecem até com as mais precavidas; as que defendiam ser necessário
demonstrar empatia pelas mães e as que reiteravam que aquele era um dos poucos espaços
em que não precisavam seguir a normatividade materna.
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Grupo C: criado no primeiro semestre de 2017. Atualmente com 8,3 mil
integrantes. Exclusivo para mulheres, com foco naquelas sem filhos. Apresenta-se
enquanto grupo dedicado à orientação e ao planejamento para cirurgia de laqueadura.
Contém duas administradoras. Média de idade de 20 a 35 anos. Postagens mais comuns
são dicas, relatos e dúvidas sobre como conseguir a laqueadura, quais médicos e planos
de saúde aceitam realizar o procedimento etc. Também são feitos desabafos sobre as
dificuldades e burocracias envolvidas no processo, o que abrange discussões tanto acerca
do controle do corpo feminino quanto das expectativas sociais em torno das mulheres.
Grupo D: criado em no primeiro semestre de 2016. Atualmente com 990
integrantes. Exclusivo para mulheres sem filhos. Apresenta-se enquanto grupo dedicado
à discussão sobre não maternidade que não aceita falta de respeito entre as participantes
nem ataques a mães ou crianças. Contém uma administradora e uma moderadora. Média
de idade de 20 a 35 anos. Postagens mais comuns são compartilhamentos de posts de
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Comportamentos estabelecidos social e culturalmente — alguns deles, por lei — que as mulheres precisam apresentar
ao se referirem à e se relacionarem com a maternidade, tenham filhos ou não (FIGUEIREDO SOUZA, 2019).
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grupos/páginas maternas, CF ou antinatalistas, memes de internet e discussões entre as
participantes, em geral desabafos sobre como se sentem sobre a maternidade e os motivos
para preferirem não ter filhos. Comentários jocosos relacionados às condutas das mães
são comuns, bem como denúncias acerca de comportamentos masculinos problemáticos.
Grupo E: criado no primeiro semestre de 2019. Atualmente com 2,3 mil
integrantes. Misto, voltado a simpatizantes do antinatalismo.
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Apresenta-se enquanto
grupo antinatalista com abordagem feminista e que não tolera posicionamentos classistas,
racistas ou que colocam a superpopulação como mais danosa do que o hiperconsumismo.
Contém três administradores: a fanpage associada ao grupo e dois perfis masculinos.
Média de idade de 25 a 40 anos. Postagens mais comuns são links de matérias jornalísticas
sobre problemáticas ambientais ou sociais e compartilhamentos de conteúdo
antinatalistas. Entre os participantes, são comuns reflexões sobre o estado em que se
encontra(m) o mundo e/ou o país e como o antinatalismo seria um ato amoroso por não
trazer mais pessoas para sofrerem nessas condições. Também se encontram subgrupos de
mulheres, por exemplo, as que abdicam de ter relacionamentos afetivos e/ou relações
sexuais para não sentirem vontade de procriar ou acabarem acidentalmente grávidas.
Grupo F: criado no segundo semestre de 2016. Atualmente com 1,6 mil
integrantes. Exclusivo para pessoas com útero sem filhos (homens trans precisam contatar
as administradoras para solicitarem entrada). Apresenta-se enquanto grupo dirigido à
troca de informações entre pessoas sem filhos interessadas em realizar esterilização
voluntária. Contém duas administradoras e uma moderadora. Média de idade de 25 a 35
anos. Postagens mais comuns são memes de internet sobre a maternidade ou a não
maternidade, compartilhamentos de páginas para sem-filhos ou maternas, links de
matérias sobre mães ou não mães e instruções ou dúvidas quanto à laqueadura e ao aborto.
Todos os grupos acompanhados exigem um teste para aprovação de novos
membros. O teste, em geral, consiste em perguntas relacionadas aos motivos do interesse
em entrar no grupo e aos posicionamentos dos aplicantes quanto às temáticas nele
trabalhadas. Também costuma haver uma lista de checagem que o potencial novo
integrante precisa indicar que se compromete a seguir caso a solicitação de entrada seja
aceita. Os itens dessas listas são as regras de funcionamento de cada grupo.
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De forma resumida, pessoas antinatalistas têm como missão diminuir o sofrimento dos seres vivos. Por isso,
acreditam que seria melhor que mais ninguém nascesse, sobretudo por razões ecológicas ou humanitárias.
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Tais regras ficam visíveis na descrição, na aba Sobre e/ou na aba Avisos. Duas
regras comuns são: a necessidade de interagir de forma constante com as postagens e ter
perfil ativo no Facebook, com foto. Desse modo, as administradoras checam se as
participantes não são perfis falsos e, principalmente, se não estão ali para colher conteúdo
e disseminá-lo entre grupos de mães ou contrários ao estilo de vida sem filhos. Com
exceção do Grupo E, capturas de tela ou “prints vazados” são proibidos em todos os
grupos. Se descobertos, a pessoa responsável é expulsa.
Nota-se, portanto, grande preocupação em preservar o conteúdo produzido nessas
comunidades — cuidado que é mantido neste artigo. Outra cautela parece relacionada ao
fato de evitar que o grupo seja visto como hostil ou contrário a mães e crianças, talvez
para se protegerem de denúncias que poderiam causar a exclusão do grupo.
A segunda categoria é composta por páginas no Facebook que se dividem
basicamente em três conjuntos: a) fanpages voltadas para conteúdo humorístico, em geral
relacionadas ao estilo de vida childfree; b) fanpages dirigidas ao debate sobre a
expectativa social da maternidade e situações que aquelas que fogem à normatividade
materna vivenciam; e c) as que divulgam informações relacionadas à esterilização
voluntária e/ou aos direitos reprodutivos das mulheres. Algumas das páginas também têm
grupos, blogs ou perfis no Instagram, bem como é possível encontrar seguidoras delas em
alguns dos grupos fechados que a pesquisa acompanha.
No primeiro conjunto, as postagens costumam ser memes de internet ou piadas
que envolvem as diferenças entre a vida com e sem filhos, além de reações de pais/mães
ao estilo de vida childfree e vice-versa. Os comentários variam entre pessoas sem filhos
ou CF se divertindo com o conteúdo, fazendo rápidas avaliações sobre a situação que
motivou a piada da postagem ou respondendo (em geral, junto à própria fanpage)
comentários que criticam seu posicionamento. No segundo conjunto, as postagens mais
comuns são links de matérias sobre o que as fanpages classificam como tabus
relacionados à maternidade, entre os quais se encontram o arrependimento materno e a
recusa em ter filhos. Os comentários costumam ser relatos de não mães compartilhando
suas vivências maternas
13
ou a de mães que conhecem/conheceram. No terceiro e último
conjunto, as postagens mais comuns são passo a passo sobre procedimentos de
13
Conjunto de valores e ideologias relacionados à maternidade que cada mulher — por meio do convívio familiar,
instituições de ensino, cotidiano social, produções midiáticas — adquire ao longo da vida. Esse conjunto ajuda a
estabelecer o lugar reservado à maternidade dentro de seu planejamento pessoal e, também, a forma como a enxerga
em termos coletivos (FIGUEIREDO SOUZA, 2019).
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esterilização disponíveis nas redes pública e privada. Os comentários mais frequentes são
relatos de experiências bem ou mal sucedidas com procedimentos como laqueadura,
salpingectomia ou, no caso de se referirem a parceiros que tenham ejaculação de sêmen,
vasectomia.
Em número considerável das fanpages, existe a preocupação em esclarecer que
não odeiam crianças. É provável que isso seja causado pela associação constantemente
feita entre pessoas sem filhos e desgosto por crianças ou seus cuidadores, o que provoca
denúncias e avaliações negativas das páginas por parte do público geral.
A terceira categoria é composta por perfis no Instagram configurados enquanto
contas profissionais. Com exceção dos perfis relacionados a fanpages já existentes
(portanto, que compartilham postagens com as mesmas temáticas que elas), têm data de
criação mais recente, entre 2019 e 2021. Apresentam-se enquanto projetos dedicados a
explorar a não maternidade voluntária, promover discussões sobre a maternidade
compulsória
14
e apoiar o direito de as mulheres poderem tanto expressar a falta de desejo
de serem mães quanto viverem uma vida sem filhos de modo que isso não as torne páreas
sociais. Costumam demostrar empatia por mães, bem como refutar a ideia de que o desejo
de não ter filhos invalide ou atrapalhe os planos de outras mulheres terem filhos. Porém,
se o retrato da maternidade como árdua frequentemente gera simpatia por parte de mães
que comentam ou apoiam as postagens, às vezes esses perfis recebem críticas por
retratarem a maternidade quase exclusivamente pelo viés do cansaço, da abnegação e do
sofrimento. Inserem-se, assim, entre as disputas de sentido em torno do que seria a assim
chamada maternidade real (FIGUEIREDO SOUZA, 2021), tão acionada nos debates
maternos online.
A quarta categoria é composta pelo Grupo G, alocado tanto no Whatsapp (no
momento, com oito integrantes) quanto no Telegram (atualmente com catorze membras).
A divisão entre plataformas foi feita em função das preferências de cada participante.
Criado no primeiro semestre de 2021 por duas não mães, uma involuntária e outra
voluntária, que desejavam construir uma rede de mulheres em torno da vivência da não
maternidade. Número flutuante de integrantes, atualmente com 17 delas. Média de idade
entre 35 e 50 anos. A cada quinze dias ou uma vez ao mês, é realizada reunião por
videoconferência entre as participantes, nas quais todas se apresentam e dividem casos,
14
Ver mais em: https://www.analuizadefigueiredosouza.com.br/post/maternidade-compuls%C3%B3ria-
defini%C3%A7%C3%A3o-e-problematiza%C3%A7%C3%B5es. Acesso em 12 ago. 2021.
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questionamentos e desabafos tanto sobre situações que vivenciam ou já viveram por não
terem filhos quanto sobre as formas de organização de uma sociedade e cultura
pronatalistas, nas quais elas não se encaixam plenamente. O tema dos encontros virtuais
é definido por votação cerca de uma semana antes. É o grupo que possui as trocas mais
próximas, no qual todas sabem que sou pesquisadora e que investigo temáticas maternas,
com foco em não maternidade durante o doutorado. A pesquisa é motivo de interesse das
participantes, que querem saber mais sobre ela e contribuir com informações.
Algumas integrantes do núcleo mais fixo deixaram o grupo entre junho e julho,
entre elas, uma de suas criadoras, a não mãe voluntária. Em geral, o motivo informado
para as saídas é o fato de terem conseguido, graças às interações com o grupo, ficar em
paz com a não maternidade, sem julgarem necessário continuar discutindo o assunto com
o coletivo. Apesar disso, o grupo costuma receber ao menos uma nova participante por
reunião. Se passarão a integrar os grupos no Whatsapp e/ou no Telegram depois disso,
cabe a elas decidir.
Por meio do compartilhamento de experiência particulares, muitas delas no
âmbito doméstico, romântico e/ou familiar, o grupo acaba discutindo estruturas
socioculturais mais amplas, identificadas como responsáveis tanto pelo silenciamento das
não mães quanto por boa parte do seu sofrimento enquanto mulheres sem filhos que,
muitas vezes, não escolheram esse caminho. Segundo a maioria delas, suas dores e
angústias enquanto não mães (sobretudo involuntárias) não são entendidas como dignas
de espaço ou atenção, sequer como existentes. Afirmam que o grupo se torna um espaço
onde podem compartilhar impressões, quereres e experiências que, fora dele, não
costumam ser compreendidos ou mesmo escutados.
Por fim, a quinta categoria, até o momento, é composta por um único blog,
dedicado à não maternidade involuntária. Sua primeira postagem foi, inclusive, analisada
pela dissertação. Criado e administrado por uma mulher não identificada que, segundo
consta na página inicial, “sempre quis ser mãe, mas o destino não permitiu”. As
discussões nos comentários constantemente levantavam a ideia de criarem um grupo para
si no Whatsapp, mas, até onde pude verificar, ele não chegou a ser criado. As narrativas
também indicavam forte valorização tanto da maternidade biológica quanto da vivência
de mãe, colocada como capaz de dar significado à vida daquelas tentantes. As interações
ocorrem desde 2014, são espaçadas e quase todas as participantes utilizam perfis
anônimos, sem fotos. Os comentários mais recentes datam de abril a setembro de 2020.
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Neles, as visitantes compartilham experiências e perguntam sobre o grupo de Whatsapp,
afirmando que seria bom poderem desabafar com pessoas que sofrem as “mesmas
angústias”. Também questionam se “mais ninguém posta nada aqui”, expondo a
necessidade de quererem “tanto falar com alguém”. O último comentário é de julho de
2021, feito por alguém que se apresenta como mãe. Ela recomenda que as demais
comentadoras realizem o “tratamento [de reprodução] com óvulos doados”, pois foi como
teve sua filha. “Se sentirá realizada como mãe”, termina, em referência à autora da
postagem e, consequentemente, do blog.
Nota-se a predominância de não mães voluntárias entre as comunidades online de
mulheres sem filhos mapeadas, o que indica que esse grupo possui espaço reduzido dentro
de um grupo que já é minoritário. O questionamento à normatividade materna, à cultura
pronatalista e à maternidade enquanto referencial identitário feminino são traços comuns
a boa parte dos nós dessas redes sociotécnicas, embora as discussões presentes no quinta
categoria aqui apresentada se alinhem bastante aos pressupostos e ideologias que boa
parte dos demais nós afirmam buscarem desconstruir.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
As comunidades online de mulheres sem filhos até o momento identificadas
revelam: a) o quanto a discussão sobre ser ou não ser mãe integra a vivência feminina; b)
forte relação com a elaboração de projetos de vida baseados em escolhas individuais; c)
como as mídias sociais são utilizadas para legitimar posicionamentos particulares, dar
visibilidade a determinadas experiências/demandas e, ainda, construir e disseminar novas
representações midiáticas sobre as não mães. Há, inclusive, debates nessas plataformas
sobre pressupostos das próprias comunidades de sem-filhos, especialmente as online.
Se partirmos do princípio de que a mídia não apenas representa o mundo, mas o
constrói, podemos considerar que a produção subjetiva dos indivíduos é midiaticamente
afetada. Há mais mulheres sem filhos, por opção ou impossibilidade. Elas vêm usando as
mídias sociais para expressarem suas indignações, alegrias, dissabores e vivências por
não terem filhos, desde a satisfação com essa escolha, passando pela cobrança social para
se tornarem mães até tentativas malsucedidas de engravidarem/adotarem. Não há, por
exemplo, revistas ou programas televisivos voltados para discutir o que significa ser não
mãe em uma cultura natalista, que compele principalmente as mulheres a terem filhos. A
novidade é que hoje, para além de travarem conversas entre si offline, essas não mães
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também se expressam online. Diante de um interesse e de um público (mulheres sem
filhos) crescente, que se manifesta principalmente nas mídias sociais, passa a surgir mais
conteúdo sobre a não maternidade. Todos esses discursos (matérias jornalísticas, memes
de internet, narrativas de quem se encontra na mesma situação etc.) que circulam nas
redes afetam o processo de construção de identidade dessas mulheres, que, em geral,
argumentam que a maternidade não é um caminho dado, e que seria possível (ou ao menos
tolerável) engendrar existências femininas que não a perpassem.
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