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Novos Cenários para Velhos Trajetos: O Nordestino sofre Discriminação Salarial na Região Sudeste do Brasil?

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Abstract

A desigualdade regional incentivou a migração interna brasileira ao longo do século XX. Apesar do avanço nos fluxos migratórios de retorno a partir da década de 1980, a região Nordeste continua a ser a principal emissora e o Sudeste a principal região receptora. O presente estudo tem como objetivo central verificar se o migrante nordestino é sujeito a discriminação no mercado de trabalho da região Sudeste em consequência da sua região de nascimento, quando comparado aos demais migrantes. A análise foi realizada para os migrantes homens, através dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015. De maneira geral, por meio da decomposição de Oaxaca-Blinder com correção de Heckman, evidencia-se o efeito discriminatório relacionado à região de nascimento ao comparar os migrantes nordestinos não brancos com aqueles oriundos da região Norte. Nas demais comparações realizadas entre migrantes, verificou-se que a diferença salarial entre nordestinos e aqueles nascidos em outras regiões, brancos e não brancos, é explicada pela discrepância educacional.
Revista Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos
v. 14, n. 1, p. 131 -154, 2020
DOI: https://doi.org/10.54766/rberu.v14i1.648
Novos Cenários para Velhos Trajetos: O Nordestino sofre
Discriminação Salarial na Região Sudeste do Brasil?
Rebeca Maria Nepomuceno Lima1| Evandro Camargos Teixeira2
1Departamento de Economia, Universidade Federal de Viçosa. E-mail: rebeca.econ@gmail.com
2Departamento de Economia, Universidade Federal de Viçosa. E-mail: evandro.teixeira@ufv.br
RESUMO
A desigualdade regional incentivou a migração interna brasileira ao longo do século XX. Apesar
do avanço nos fluxos migratórios de retorno a partir da década de 1980, a região Nordeste con-
tinua a ser a principal emissora e o Sudeste a principal região receptora. O presente estudo tem
como objetivo central verificar se o migrante nordestino é sujeito a discriminação no mercado de
trabalho da região Sudeste em consequência da sua região de nascimento, quando comparado
aos demais migrantes. A análise foi realizada para os migrantes homens, através dos dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015. De maneira geral, por meio da
decomposição de Oaxaca-Blinder com correção de Heckman, evidencia-se o efeito discriminató-
rio relacionado à região de nascimento ao comparar os migrantes nordestinos não brancos com
aqueles oriundos da região Norte. Nas demais comparações realizadas entre migrantes, verificou-
se que a diferença salarial entre nordestinos e aqueles nascidos em outras regiões, brancos e não
brancos, é explicada pela discrepância educacional.
PALAVRAS-CHAVE
Diferenciação salarial, Migração, Decomposição de Oaxaca-Blinder
New Scenarios for Old Path: Does the Northeast Migrant Suffer Wage Discrimination in
the Brazilian Southeast Region?
ABSTRACT
Regional inequality encouraged Brazilian internal migration throughout the 20th century.
Despite the advance in migratory return flows since the 1980s, the Northeast continues to
be the main source and the Southeast the main recipient region. The present study has as
main objective to verify if the northeastern migrant is subject to discrimination in the labor
market in the Southeast region as a result of his region of birth, when compared to the other
migrants. The analysis was carried out for male migrants, using data from the 2015 National
Household Sample Survey (PNAD). In general, through the decomposition of Oaxaca-Blinder with
Heckman’s correction, the discriminatory effect related to the region of birth when comparing
non-white northeastern migrants with those from the northern region. In the other comparisons
made between migrants, it was found that the wage difference between northeastern and those
born in other regions, white and non-white, is explained by the educational discrepancy.
KEYWORDS
Wage differentials, Migration, Oaxaca-Blinder decomposition
CLASSIFICAÇÃO JEL
J31, J71, R23
Recebido: 17/05/2020. Aceito: 14/08/2020. e-ISSN: 2447-7990 | https://revistaaber.org.br/rberu
© 2020 Associação Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos
132 R. M. N. Lima, E. C. Teixeira
1. Introdução
A desigualdade econômica regional brasileira, que perpassa a agenda política
muitas décadas, tem como uma de suas consequências a dinâmica das migrações
internas. O processo de industrialização concentrado na região Sudeste fez com que
essa região, principalmente no caso do estado de São Paulo, atraísse um elevado fluxo
migratório oriundo das demais regiões do país. Adicionalmente, as regiões Norte e
Centro-Oeste também atraíram um contingente considerável de migrantes em função
da expansão de suas fronteiras agrícolas, de forma que as regiões Sul e Nordeste do
Brasil foram caracterizadas como regiões expulsórias de mão de obra (Maciel e Cunha,
2013).
No entanto, a partir da década de 1980, os fluxos migratórios se reverteram, efeti-
vando um novo cenário impulsionado por migrações de retorno, as quais foram pro-
piciadas por diversos fatores, dentre eles a crise econômica da década de 1980, os
movimentos de fronteiras agrícolas, o aumento dos gastos públicos, a “guerra fis-
cal” ocorrida em alguns estados e a desconcentração produtiva (Martine, 1980; Cano,
1997).
Porém, ainda que posteriormente, entre os anos de 2000 e 2010, tenha ocorrido
redução no número de deslocamentos em direção ao Sudeste, a região continua se
destacando como a mais economicamente dinâmica do país e assim a mais atrativa
para os migrantes inter-regionais (Baeninger, 2012).
Diante da dinâmica migratória apresentada, a literatura elenca diversas razões
que justificam a decisão de deslocamento geográfico, inclusive que respaldam as mu-
danças recentes no fluxo migratório do país. Para fins de análise, o presente estudo
terá como ênfase os incentivos econômicos que determinaram os referidos fluxos mi-
gratórios.
Nesse sentido, se por um lado existe a expectativa de que o migrante aumente seus
ganhos com o deslocamento, por outro lado evidências teóricas e empíricas de que
o mercado de trabalho está sujeito a um comportamento discriminatório, o que pode-
ria impactar nos ganhos relativos a partir da migração. Nesse sentido, a existência de
discriminação econômica no mercado de trabalho ocorre quando um grupo de indiví-
duos recebe salários distintos ou é sujeito a um tratamento diferenciado em função de
características específicas que não impactam em sua produtividade, tais como raça,
gênero, cor, idioma, condição econômica, aparência física ou etnia (Beller et al., 1994;
Becker, 1957; Darity, 1998).
Nesse contexto, a discriminação no mercado de trabalho pode ser classificada em
quatro tipos (Loureiro, 2003): (1) discriminação salarial, quando um grupo de traba-
lhadores recebe salários menores do que outro grupo, apesar de realizarem o mesmo
trabalho; (2) discriminação de emprego, que ocorre quando um grupo fica em des-
vantagem no que se refere à menor oferta de vagas, de forma que tal grupo é mais
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propenso ao desemprego; (3) discriminação de trabalho, que corresponde à restrição
ou proibição arbitrária para que um grupo específico exerça certa atividade; (4) dis-
criminação de oportunidades, que decorre da distribuição desigual de incentivos ao
aumento do capital humano, como o fornecimento de treinamento para um determi-
nado grupo em detrimento aos demais. Para fins de análise, o presente estudo tem
como ênfase a análise do primeiro tipo, discriminação salarial, em decorrência de o
indivíduo ter nascido na região Nordeste do Brasil.
Assim, no que tange especificamente à discriminação salarial, é ampla a literatura
que a analisa no contexto brasileiro. Parte desses trabalhos, como os de Fernandes
(2015); Souza et al. (2015), realizou análises com base no gênero ou na cor do in-
divíduo e apresentou resultados que corroboram a ideia de que indivíduos negros e
do sexo feminino estão sujeitos à discriminação salarial. Além da avaliação desses
fatores, outros estudos avaliaram a discriminação entre os indivíduos do mesmo gê-
nero e raça, por meio de algumas outras características, tais como aparência física,
peso e local de residência. Quanto ao último aspecto, Sachsida et al. (2004); Bóo e
Trako (2009) apontam a existência de punição salarial para os trabalhadores que re-
sidem em regiões mais pobres se comparados àqueles que moram em regiões mais
desenvolvidas.
Além do local de residência, não são incomuns estudos que retratam a diferença
salarial do migrante interno no Brasil. Elenca-se que os migrantes possuem carac-
terísticas endógenas, que em conjunto a um ambiente econômico mais propício, fo-
mentam o aumento salarial relativo (Rodrigues et al., 2016; Aguiar et al., 2018). No
entanto, a condição de migrante pode desencadear um efeito desfavorável, seja por
adaptação social ou porque no local de destino suas características podem ter valores
distintos das do seu local de origem (Batista e Cacciamali, 2009).
Em suma, o impacto econômico da migração é volátil ao tempo e à localidade,
podendo ser benéfico ou prejudicial (Yap, 1976). No caso da região Sudeste, alguns
estudos apontam que a diferença salarial por sexo é menor entre a população mi-
grante (Batista e Cacciamali, 2009), no entanto a discriminação em função da raça é
relativamente maior se comparada a outras regiões (Campante et al., 2004; Cambota
e Marinho, 2007).
Levando-se em consideração que o Brasil é um país caracterizado por discrepân-
cias regionais, o que propicia diferenciação cultural, social e econômica, o processo
adaptativo pode se diferenciar entre as regiões, tanto do ponto de vista da população
migrante quanto da perspectiva da população receptora. Dessa forma, é relevante
analisar se a região de nascimento do migrante desencadeia diferenciação salarial,
seja de forma positiva ou negativa, em decorrência de fatores discriminatórios ou não
em relação a ela. Nesse raciocínio, é totalmente plausível a hipótese de que o migrante
oriundo de uma região mais pobre esteja sujeito a efeitos discriminatórios no mercado
de trabalho em uma região economicamente mais desenvolvida.
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Considerando-se o histórico do fluxo migratório interno no Brasil, no qual a região
Nordeste é a principal emissora e o Sudeste o principal receptor, o presente estudo
busca verificar se diferenciação salarial para os migrantes nordestinos quando
comparados aos migrantes das demais regiões. Além disso, analisa-se se essa dife-
renciação está relacionada com sua região de origem, sendo reflexo de fatores não
produtivos. Com esse objetivo, a pesquisa contribui para a literatura ao aprofundar
a abordagem da discriminação salarial para além do gênero e da raça, abordando-a
do ponto de vista da dinâmica migratória no Brasil, representada pelos indivíduos
nascidos na região Nordeste e residentes no Sudeste.
Cabe ainda salientar que, considerando os estudos realizados, a definição de
migração pode variar de acordo com a modalidade considerada. Essa questão é sin-
tetizada por Cunha (2005) que, ao analisar a modalidade interestadual, afirma que
o migrante pode ser definido a partir de três critérios conceitualmente distintos. O
critério de “residência anterior” ou última etapa se restringe à análise do migrante
a partir da última informação. o critério de “lugar de nascimento” considera os
migrantes acumulados, que migraram alguma vez na vida, porém não consideram
o período de migração. Por fim, o critério “residência nos últimos cinco anos” ou data
fixa permite combinar o período do deslocamento com o espaço geográfico.
Levando-se em consideração o objetivo do estudo, a definição de migrante adotada
considerou a região de nascimento. Adicionalmente, uma vez que a melhoria nas
condições socioeconômicas do migrante está diretamente relacionada com o tempo de
residência no local de destino (Martine, 1980), essa característica foi adicionada ao
critério de definição do migrante. Assim, consideraram-se como migrantes somente
aqueles que se deslocaram, no mínimo, nos últimos cinco anos. Ademais, optou-se
por restringir a análise aos migrantes do sexo masculino, pois esses, em sua maio-
ria, são consideradas pessoas de referência nos domicílios e, portanto, primordiais
no processo de decisão a respeito da migração, cujas motivações são essencialmente
econômicas.
Para atingir o objetivo da pesquisa, o trabalho está dividido em cinco seções, a
contar desta introdução. Na segunda seção, apresenta-se o referencial teórico que
versa sobre a economia da discriminação e a revisão de literatura, a qual inclui es-
tudos sobre a diferenciação salarial dos migrantes. Na terceira seção, são discutidas
a estratégia de identificação e a metodologia utilizada. Por fim, na quarta seção, os
resultados são apresentados, seguidos pelas considerações finais.
2. A Economia da discriminação e da migração: uma breve
revisão
Os estudiosos da Economia da discriminação apontam a existência de dois gru-
pos de modelos teóricos. Segundo Loureiro (2003), esses são divididos em modelos
de discriminação por preferência e modelos de discriminação estatística. A primeira
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abordagem retrata o comportamento do indivíduo que tem preferência por discriminar.
Conforme Becker (1957), as preferências do discriminador poderiam ser diferenciadas
entre a utilidade do empregador, do empregado e do consumidor; e o ato da discrimi-
nação seria consequência direta da maximização das utilidades de cada agente.
os modelos do segundo tipo, discriminação estatística, partem do princípio de
que o empregador ou credor não possui informações completas sobre os indivíduos.
Dessa forma, o indivíduo pondera características dos grupos que sofrem discrimina-
ção para reduzir o valor do crédito ou salário. Na visão de Phelps (1972), a discri-
minação é em sua maior parte explicada pela crença dos empregadores de que certo
grupo possui produtividade média menor do que o outro. Por sua vez, Arrow (1973)
parte do pressuposto de que o trabalhador precisa receber um investimento para au-
ferir um emprego. Nesse caso, se o empregado é julgado de forma preconceituosa, o
investimento não é recebido e, portanto, não é observado.
Nesse aspecto, Yinger (1998) abordou a questão da discriminação no mercado con-
sumidor norte-americano, especialmente no mercado imobiliário e no comércio de
automóveis, concluindo que a barreira discriminatória em relação ao consumo não
diminuiu ao longo das duas décadas precedentes. Ademais, para o autor, as evi-
dências apontam que os estereótipos, os preconceitos e as disparidades decorrentes
da discriminação passada ou histórica ainda incentivam os agentes econômicos a
adotarem um comportamento discriminatório no tempo presente, como no caso dos
afrodescendentes e hispânicos em território americano.
Com relação ao mercado de trabalho brasileiro, estudos empíricos também evi-
denciaram características contundentes de diferenciação salarial. existência de
diferenciação salarial decorrente da discriminação devido à raça do trabalhador (Ar-
cand e D’hombres, 2004), mas gênero e cor, em conjunto, podem potencializar as
diferenças salariais no país, sendo majoritariamente desfavoráveis para mulheres e
não brancos, persistentes até nas décadas mais recentes (Souza et al., 2015; Fernan-
des, 2015; Carvalho et al., 2006).
Em vista disso, a existência da discriminação é um tema relevante a ser conside-
rado nos estudos que analisam o mercado de trabalho, uma vez que as perspectivas de
trabalho têm implicações importantes para os indivíduos e para a situação econômica
dos locais nos quais eles se inserem, de modo que elas podem impactar na decisão
pela migração.
A respeito dessa temática, a literatura econômica aponta vários fatores que jus-
tificam a migração. Sob a ótica da teoria microeconômica neoclássica, a decisão de
migrar é tomada pelo indivíduo racional a partir da análise de custo benefício de um
retorno futuro. para os “novos economistas da migração do trabalho”, a decisão
está atrelada ao conjunto de pessoas proximamente ligadas e não por um indivíduo
isolado (Massey et al., 1993). Por sua vez, na visão de Becker (1993), uma corre-
lação inversa entre educação e desemprego, sendo que a opção pela migração estaria
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atrelada ao investimento desejado pelo indivíduo em capital humano.
Para Sahota (1968), o ganho salarial é a variável econômica mais importante na
tomada de decisão em migrar. Ademais, o tempo de residência é positivamente cor-
relacionado com o retorno salarial (Martine, 1980). Contudo, isso não significa que
os salários dos migrantes convergem em direção aos dos nativos. Isso porque os imi-
grantes podem possuir informações assimétricas de como suas habilidades são reco-
nhecidas nos locais de destino, de modo que o retorno real da migração pode diferir
daquele esperado (Borjas, 1994). Nesse aspecto, sendo a discriminação um diferen-
cial salarial não explicado por características produtivas, essa pode gerar efeitos nos
ganhos relativos dos trabalhadores, bem como em eventuais quebras de expectativas,
as quais, por conseguinte, podem desestimular o deslocamento geográfico da mão de
obra ou incentivar as migrações de retorno.
Nesse sentido, a análise da discriminação decorrente da migração também é abor-
dada na literatura internacional. Veit e Thijsen (2019), por exemplo, analisaram a re-
lação entre o local de nascimento e a contratação no mercado de trabalho. Os autores
avaliaram se os empregadores de cinco países europeus Alemanha, Países Baixos,
Noruega, Espanha e Reino Unido diferenciariam os trabalhadores de acordo com
sua origem étnica (oriundos da Europa, Oriente Médio ou África). Como conclusão,
o estudo apontou que a probabilidade em receber ofertas de emprego é menor para
os nascidos em grupos etnicamente distantes, porém esse efeito não é o mesmo para
todos os países, e, em algum caso, como no Reino Unido, o efeito se mostrou reverso.
Todavia, além da discriminação no ato de contratação, essa também pode se mani-
festar em outros aspectos, dentre eles no retorno salarial. Alguns estudos buscaram
avaliar o retorno financeiro dos migrantes internos brasileiros no mercado de traba-
lho. Yap (1976) concluiu que a migração rural-urbana, no período após a Segunda
Guerra Mundial, ocasionou efeito positivo para o crescimento econômico do Brasil e
para elevação da renda, no entanto o acesso aos serviços sociais urbanos por parte
dos migrantes seria limitado.
Utilizando dados da PNAD 2009, Maciel e Cunha (2013) destacaram que os migran-
tes oriundos do Nordeste sem considerar o tempo da migração são negativamente
selecionados, ganhando em média 7,3% a menos do que os nativos na região Sudeste.
Com base nos dados dos Censos Demográficos de 1991 e 2000, relativos à Re-
gião Metropolitana de Campinas, Branchi e Barretto (2010) estimaram uma regressão
múltipla para avaliar a receptividade do mercado de trabalho da região ao migrante.
Os autores concluíram que os indivíduos naturais dos municípios paulistas se depa-
ram com melhores condições no mercado de trabalho do que aqueles provenientes de
outros estados brasileiros.
Resultados semelhantes aos estudos anteriores foram encontrados por Loureiro
(2003), que utilizou dados da PNAD 2015 para estimar a equação de rendimentos
de Mincer (1958), com correção de Heckman (1979), para estabelecer se a região de
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origem do migrante se relaciona com sua condição no mercado de trabalho. A autora
afirmou que majoritariamente os migrantes internos são positivamente relacionados,
exceto os nordestinos, que obtiveram retorno salarial negativo tanto na região Sudeste
quanto na região Centro-Oeste.
Em suma, os trabalhos empíricos indicam a existência de discriminação no mer-
cado de trabalho brasileiro, bem como evidenciam a diferenciação salarial na região
Sudeste. Contudo, a evolução do rendimento do migrante depende de como o mer-
cado de trabalho no local de destino valoriza suas qualificações, o que pode ser distinto
entre as diversas regiões do país.
3. Estratégia de identificação e procedimentos econométri-
cos
3.1 Estratégia de identificação
A mensuração de um possível efeito discriminatório no mercado de trabalho da
região Sudeste, causado pelo local de origem do indivíduo, especificamente o Nor-
deste, seria idealmente avaliada se fosse possível comparar a trajetória profissional de
trabalhadores com características produtivas; físicas, dadas as evidências de discri-
minação por raça e gênero; e econômicas, dada a possibilidade de discriminação por
características socioeconômicas semelhantes, distinguindo-os apenas pela região de
nascimento.
Levando em consideração a inviabilidade da realização do experimento ideal, é
importante fazer algumas considerações. Inicialmente, é importante destacar que
as variáveis correspondentes à migração possuem características endógenas quando
avaliadas sob a perspectiva do mercado de trabalho. Como indicado na revisão
de literatura, os migrantes internos brasileiros podem ter características próprias
como determinação, ambição, entre outras que afetam tanto sua propensão a migrar
quanto a pretensão salarial (Rodrigues et al., 2016; Aguiar et al., 2018).
Não é errôneo supor que as características próprias dos migrantes podem ser dis-
tintas, especialmente quando eles são segregados pela região de nascimento. Isto é, o
migrante nordestino pode ter atributos menos valorados no mercado de trabalho em
relação ao migrante de outras regiões. Esses atributos não estão necessariamente
vinculados apenas à localidade geográfica, mas também aos aspectos socioeconô-
micos dessa localidade. Partindo da teoria referente aos modelos de discriminação
estatística, optou-se por considerar o migrante a partir da sua região de nascimento,
pois o objetivo é verificar a hipótese de que o fato de o indivíduo possuir ascendência
nordestina impactaria de forma negativa em sua valoração no mercado de trabalho.
Por esse motivo, além da possibilidade de se trabalhar com um nível de agregação
maior, optou-se por avaliar a migração do ponto de vista regional, em detrimento do
municipal ou estadual.
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Finalmente, para evitar viés de seleção e tornar a interpretação causal válida, foi
adotada a Suposição da Independência Condicional (CIA). De acordo com Angrist e
Pischke (2008), com a realização do controle por variáveis observáveis, valendo-se da
CIA, é possível comparar os dois grupos analisados na regressão e ainda evitar o viés
de variável omitida.
Dessa forma, dois procedimentos foram adotados no presente estudo. O primeiro
consiste em verificar se os indivíduos que se deslocam para a região Sudeste do Brasil
são negativamente selecionados, ou seja, se os atributos dos migrantes são valorados
negativamente no mercado de trabalho, de forma que eles teriam tendência a re-
ceber salários mais baixos, independente da condição de migração. Essa avaliação é
realizada a partir do modelo de seleção de Heckman (1979) em dois estágios.
O segundo procedimento refere-se à verificação da existência da discriminação
salarial. Para tal, utiliza-se a decomposição de Oaxaca-Blinder para realizar uma
comparação do migrante nordestino em pares: (a) Indivíduos nascidos nas regiões
Nordeste e Norte; (b) Indivíduos nascidos nas regiões Nordeste e Sul; (c) Indivíduos
nascidos nas regiões Nordeste e Centro-Oeste.
Objetivando-se a obtenção de grupos mais comparáveis, a amostra foi restrita aos
indivíduos do sexo masculino, subdividindo-a em homens brancos (autodeclarados
brancos na PNAD 2015) e não brancos (autodeclarados pardos, pretos, amarelos e
indígenas). Ademais, como supracitado, optou-se por considerar como migrantes
apenas os homens, nascidos em outras regiões, classificados na PNAD 2015 como
residentes na região Sudeste pelo menos cinco anos.
3.2 Procedimentos econométricos
A análise dos rendimentos foi estimada considerando-se características pessoais
e do mercado de trabalho, a partir de dados da PNAD 2015, conforme a expressão
abaixo, respaldada por Mincer (1958):1
ln(Yi) = β0+β1Sindi+β2Esc2i+β3Esc3i+β4Esc4i+β5Casadoi+β6Agrcolai
+β7Indstriai+β8Construoi+β9Comerservi+β10U rbanoi+β11 Nonasci+β12N enasci
+β13N unasci+β14Expi+β15E xp2
i+β16Diretori+µi(1)
1Heckman (1979) aponta que a estimação pautada no trabalho de Mincer (1958) é enviesada, de forma
que a estimação da taxa de retorno da educação seria superestimada. A literatura recente retrata que
o nível de escolaridade não é exógeno, como considerado na equação minceriana, sendo necessária a
adoção de controles para ponderar o impacto da educação no salário (Barbosa Filho e Abreu Pessôa,
2010). Entretanto, o presente estudo tem como objetivo central verificar se diferença salarial não
explicada entre os migrantes relacionada com a origem de nascimento. Logo, a mensuração do impacto
da educação atende a um objetivo secundário, referente apenas à sua significância na explicação das
características observáveis dos indivíduos e não necessariamente à sua respectiva taxa de retorno para
os rendimentos.
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Novos Cenários para Velhos Trajetos 139
considerando ln(Y)o logaritmo natural da renda do trabalho principal e µo termo de
erro. A descrição das demais variáveis é apresentada no Quadro 1.
A estimação da Equação (1) por MQO levaria a resultados inconsistentes, dada a
existência de viés de seletividade decorrente do fato de apenas constarem observações
de rendimentos para indivíduos após sua migração. O procedimento de Heckman
(1979) em duas etapas foi utilizado para estimar a razão inversa de Mills e incluí-la
na equação minceriana.
Tal procedimento consiste na estimação de duas equações, a de participação e a
de rendimentos. Levando-se em consideração o problema de pesquisa, optou-se pela
mensuração no primeiro estágio da probabilidade de o indivíduo migrar para a região
Sudeste. Para evitar problemas de multicolinearidade, a equação de participação deve
conter ao menos um regressor que não seja considerado na equação de resultado (Ca-
meron e Trivedi, 2005). Isto é, ao menos uma variável de controle deve ser incluída
no primeiro modelo associada à probabilidade de o indivíduo deslocar-se para a re-
gião Sudeste, mas não ao seu rendimento. As referidas variáveis foram descritas no
Quadro 1.
Levando-se em consideração que pode existir relação endógena entre a probabili-
dade de o indivíduo migrar e o rendimento na região de destino, foi inserido o logaritmo
natural do número de migrantes do estado de nascimento como instrumento na equa-
ção de seleção. A opção por incluir a referida variável se baseia em estudos os quais
apontam que as taxas estaduais históricas podem ser utilizadas como instrumentos
para as redes de migrantes. Essas proporcionam impacto positivo e significativo so-
bre os fluxos migratórios, mesmo após o controle de outras variáveis que afetam a
migração (Ribeiro, 2017). A utilização do histórico das taxas estaduais está direta-
mente relacionada à ideia de que as “redes sociais” representam um sistema em que
um fluxo de troca, de pessoas e de informações, entre certas localidades, de modo
que isso implicaria na origem e no desenvolvimento do próprio fluxo (Fazito, 2002;
Fawcett, 1989).2
2Fazito (2002) afirma que, pela consolidação da abordagem sistêmica sobre a migração, a função das
redes sociais se torna plausível, considerando as teorias de correntes migratórias, as quais abordavam a
presença de uma “força” que conectava regiões de origem e de destino por meio dos fluxos de migrantes.
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Quadro 1. Variáveis utilizadas no modelo econométrico
Variável Definição
ln(Y) Logaritmo do salário individual do trabalho principal.
Sind Dummy, que atribui 1 para o indivíduo vinculado ao sindicato e 0 caso
contrário.
Esc1(b) Dummy, que atribui 1 para o indivíduo que não completou ensino
fundamental e 0 caso contrário.
Esc2 Dummy, que atribui 1 para o indivíduo com ensino fundamental
completo e 0 caso contrário.
Esc3 Dummy, que atribui 1 para o indivíduo com ensino médio completo e
0 caso contrário.
Esc4 Dummy, que atribui 1 para o indivíduo com ensino superior completo e
0 caso contrário.
Casado Dummy, que atribui 1 para o indivíduo casado e 0 caso contrário.
Agrícola Dummy, que atribui 1 para o trabalhador alocado no setor agrícola e
0 caso contrário.
Indústria Dummy, que atribui 1 para trabalhador alocado no setor industrial e
0 caso contrário
Construção Dummy, que atribui 1 para o trabalhador alocado no setor de construção e
0 caso contrário.
Comerserv Dummy, que atribui 1 para o trabalhador alocado no setor de comércio ou
serviços e 0 caso contrário.
Outros(b) Dummy, que atribui 1 para o trabalhador alocado em outros setores fora os
anteriores e 0 caso contrário.
Urbano Dummy, que atribui 1 para o indivíduo que reside em zona urbana e 0 caso
contrário.
No_nasc Dummy, que atribui 1 para quem nasceu na região Norte e 0 caso contrário.
Ne_nasc Dummy, que atribui 1 para quem nasceu na região Nordeste e 0 caso
contrário.
Su_nasc Dummy, que atribui 1 para quem nasceu na região Sul e 0 caso contrário.
Co_nasc (b) Dummy, que atribui 1 para quem nasceu na região Centro-Oeste e 0 caso
contrário.
Exp Indica a experiência, calculada por: exper =idade-anos de estudo-6.
Exp2Experiência ao quadrado.
Idade Idade do indivíduo em anos.
Diretor Dummy, que atribui 1 caso o indivíduo assuma a posição de líder (diretor
ou gerente) e 0 caso contrário.
Ref (h) Dummy, que atribui 1 se a pessoa é referência na família e 0 caso
contrário.
Difeduca (h) Variável auferida pela diferença entre o nível médio de escolaridade dos indivíduos com
18 anos de idade entre os estados de origem e destino do migrante.(1)
Pesdomic (h) Número de residentes no domicílio.
lnmig (h)
Logaritmo natural do número de migrantes do estado de nascimento.
As informações dessa variável abrangem o período entre 2000 e 2009,
tomando como base os valores expostos no trabalho de Ribeiro (2017).
Nota: (1) Por considerar como migrante apenas os que residem no local de destino por pelo menos 5 anos.
A variável em questão foi calculada a partir dos dados disponíveis pela Síntese de Indicadores Sociais
(SIS- IBGE) para o ano de 2010.
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Novos Cenários para Velhos Trajetos 141
A inclusão dessa variável também possibilita a vantagem de acréscimo de um com-
ponente exógeno à decisão de migrar, que se diferencia entre os diferentes estados.
Assim, a equação de seleção, estimada por meio do modelo Probit, é indicada por:
ln(Y
i) = β0+β1Esc2i+β2Esc3i+β3Esc4i+β4Casadoi+β5Exp2
i
+β6Idadei+β7Refi+β8Dif educai+β9P esdomici+β10 lnmigi+β11 Nonasci
+β12N enasci+β13Sunasci+εi(2)
em que yassume valor igual a 1 se o indivíduo imigrou com destino à região Sudeste
e 0 caso o indivíduo não tenha imigrado para a referida região. Se a razão inversa
de Mills, obtida a partir da estimação da equação de seleção, for estatisticamente
significativa, indicativo de viés de seleção. Logo, essa deve ser incorporada na
equação de determinação dos rendimentos, Equação (1).
Também é possível incorporar a razão inversa de Mills na decomposição de Oaxaca-
Blinder, exposta por Oaxaca (1973) e Blinder (1973), cuja metodologia permite verifi-
car o diferencial de rendimentos entre dois grupos. Conforme expresso na estratégia
de identificação, neste estudo são utilizadas três composições, cada qual compara o
migrante nordestino com aquele oriundo de outra região (Norte, Sul e Centro-Oeste).
O diferencial de rendimentos pode ser obtido por:
D= [E(Xnordestino)E(Xnaonor destino)]β+ [E(Xnor destino)(βnordestino β)
+E(Xnaonordestino)(βnaonor destino β)] (3)
Jann (2008) destaca que o primeiro termo da equação indica o diferencial de sa-
lário decorrente das características observáveis inseridas no modelo. Por sua vez, o
segundo termo representa a parte inexplicada da diferença. Essa pode ser atribuída
ao fator analisado, que no caso é o fato do migrante ter nascido na região nordestina.
3.3 Dados
Ao todo, foram consideradas 15.487 pessoas na amostra, sendo 6.058 autodecla-
radas brancas e 9.429 autodeclaradas não brancas. Os dados utilizados no presente
estudo foram retirados da PNAD do ano de 2015, pesquisa realizada pelo IBGE. Tal
pesquisa é realizada anualmente e visa descrever a situação da população brasileira,
referente a diversos aspectos, relacionados à renda, educação, trabalho, migração,
dentre outros. A PNAD se caracteriza também por ser uma pesquisa com amostra-
gem complexa, ou seja, estratificada e conglomerada. Anualmente, o IBGE seleciona
domicílios aleatoriamente no país, cujas respostas são expandidas, via variáveis de
Revista Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos
142 R. M. N. Lima, E. C. Teixeira
pesos e estratos de modo a representarem toda a população brasileira.
Ao se utilizar a referida base de dados, é de suma importância que se considerem
tais variáveis próprias do tipo de amostragem em estimações, tanto pontuais quanto
intervalares; caso contrário, os resultados não são representativos para a população
brasileira nem para a própria amostragem suposta simples. As variáveis de uso co-
mum na estimação de amostragem complexa são aquelas relacionadas ao peso para
o indivíduo selecionado para a pesquisa e ao estrato para a conglomeração dos in-
divíduos selecionados. A variável de peso é geralmente construída tendo em vista o
inverso da probabilidade de seleção do indivíduo para a pesquisa, enquanto a variável
de estrato se associa ao peso conferido às probabilidades de diferentes conglomerações
serem selecionadas para a pesquisa.
4. Resultados e discussão
4.1 Análise descritiva
A análise prévia dados disponíveis é de suma importância para compreender os
resultados paramétricos. Assim, as estatísticas descritivas da amostra utilizada são
apresentadas na Tabela 1. É possível perceber que os dois grupos são, em média
similares no que se refere a atuação no setor formal, status marital e idade. No en-
tanto, na média, o nível de escolaridade dos indivíduos não brancos é menor, sendo
tal resultado recorrente na literatura (Campante et al., 2004; Gama e Machado, 2014).
Com relação ao deslocamento para a região Sudeste, a origem do indivíduo branco
é majoritariamente as regiões Nordeste e Sul do país. Por outro lado, indivíduos mi-
grantes não brancos são, em média, aqueles nascidos nas regiões Nordeste e Norte.
Nesse caso, evidencia-se que a região Nordeste é a principal emissora em ambos os
grupos, como ilustrado na Figura 1.
A Tabela 2 denota que a maioria dos migrantes analisados está inserida no mercado
formal, especialmente os não caucasianos. Nota-se que o setor de Comércio e Serviços
se destaca na absorção de trabalhadores migrantes. É importante também evidenciar
que a maioria dos migrantes assume postos de trabalho formais na região Sudeste. No
caso específico dos migrantes brancos nordestinos, 58% atuam em vínculos formais.
Por sua vez, no caso dos não brancos, esse percentual é de 60%.
Apesar do percentual relativamente elevado de formalização, a Figura 2 indica que
em ambas as amostras o percentual de imigrantes nordestinos com nível superior é
relativamente menor. Essa relação pode corroborar o fato de que esses trabalhadores
são majoritariamente alocados no segmento de Comércio, Serviços e de Construção
- diferenciando-os dos imigrantes nascidos nas regiões Centro-Oeste e Sul, cuja se-
gunda principal atividade de destino é a Indústria.
Revista Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos
Novos Cenários para Velhos Trajetos 143
Tabela 1. Estatísticas descritivas dos indivíduos analisados, sexo masculino, incluí-
dos migrantes e não migrantes da região Sudeste
Brancos
(6.058
observações)
Não Brancos
(9.429
observações)
Variável Média Desvio-
Padrão
Média Desvio-
Padrão
Migrante 21% 0,410 21% 0,407
Sindicato 20% 0,401 18% 0,386
Esc1 22% 0,412 31% 0,464
Esc2 23% 0,423 28% 0,447
Esc3 33% 0,471 31% 0,462
Esc4 22% 0,414 10% 0,301
Casado 6% 0,243 6% 0,242
Diretor 9% 0,290 4% 0,203
Idade 43 12,996 41 12,672
No_nasc 5% 0,220 11% 0,309
Ne_nasc 32% 0,316 52% 0,500
Su_nasc 26% 0,264 8% 0,274
Co_nasc 7% 0,258 8% 0,272
Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2015.
Tabela 2. Alocação dos migrantes por ramo de atividade, 2015
Brancos Não Brancos
Norte Nordeste Centro-
Oeste
Sul Norte Nordeste Centro-
Oeste
Sul
Agrícola 3% 4% 6% 7% 6% 6% 15% 16%
Indústria 7% 15% 20% 18% 13% 14% 20% 22%
Construção 14% 23% 13% 17% 29% 27% 19% 17%
Comércio e Serviço 62% 45% 52% 43% 26% 41% 37% 39%
Outros 14% 12% 9% 14% 26% 11% 9% 6%
Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2015.
Revista Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos
144 R. M. N. Lima, E. C. Teixeira
Figura 1. Classificação dos migrantes por local de origem, 2015
Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2015.
Figura 2. Classificação dos migrantes por nível de escolaridade, 2015
Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2015.
Nesse aspecto, considerando a possibilidade de o migrante possuir viés de seleti-
vidade, como especificado na estratégia de identificação, ainda é importante analisar
descritivamente as características dos indivíduos que nasceram e residiam na região
Nordeste no período analisado, vide Tabela 3, abaixo.
A Tabela 3 revela que o percentual médio de trabalhadores formais que residem
na região Nordeste (mantendo-se no local de nascimento) é relativamente inferior ao
dos que migraram para o Sudeste. Contudo, em média, o percentual de indivíduos
que possuem ensino superior (Esc4) é relativamente maior tanto para brancos quanto
Revista Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos
Novos Cenários para Velhos Trajetos 145
para não brancos. Em ambos os casos, o segmento de Comércio e Serviços é o que
possui contingente mais elevado de indivíduos alocados. No entanto, verifica-se ele-
vado percentual de trabalhadores atuantes no setor Agrícola, quando se compara com
aqueles que migraram para a região Sudeste.
Tabela 3. Estatísticas descritivas dos indivíduos que nasceram e residem na região
Nordeste
Brancos
(334 observações)
Não Brancos
(863 observações)
Característica Média Desvio-
Padrão
Média Desvio-
Padrão
Esc1 31% 0,461 38% 0,4868
Esc2 22% 0,4138 24% 0,4243
Esc3 29% 0,456 28% 0,448
Esc4 18% 0,386 10% 0,302
Agrícola 18% 0,384 21% 0,408
Indústria 10% 0,306 10% 0,305
Construção 13% 0,332 20% 0,4014
Comércio e Serviço 51% 0,500 40% 0,4903
Outros 8% 0,268 8% 0,273
Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2015.
4.2 Análise da equação de rendimentos
Inicialmente, foi realizado o teste de Hausman, o qual denotou endogeneidade da
variável que aponta a probabilidade de o indivíduo migrar (variável dependente da
equação de seleção) com o rendimento na região de destino (variável dependente da
equação de rendimentos), controlada pela utilização do instrumento correspondente
ao logaritmo natural do número de migrantes, vide seção metodológica. Ademais,
o teste de Wald mostrou que não igualdade entre os coeficientes estimados para
as equações de rendimentos e de seleção de Heckman. Por fim, o teste de Variance
Inflation Factor (VIF) foi realizado, considerando as variáveis explicativas utilizadas na
estimação dos dois estágios do Procedimento de Heckman, não indicando a existência
de multicolinearidade.
Os resultados da estimação da equação de rendimentos são indicados na Tabela 4.
De fato, é possível notar que a escolaridade, especialmente referente ao nível superior,
mostra-se positiva e estatisticamente significativa para determinação dos rendimentos
em ambos os grupos. Em relação aos ramos de atividades, estimou-se relação negativa
entre a atuação no setor Agrícola e a remuneração. a participação no ramo de
Revista Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos
146 R. M. N. Lima, E. C. Teixeira
Comércio e Serviços apenas foi estatisticamente significativa na amostra composta
por caucasianos. Como esperado, a atuação em cargos de liderança, como direção ou
gerência, é positivamente relacionada aos rendimentos.
Tabela 4. Equação de rendimentos estimada, considerando migrantes e não migran-
tes, ano 2015
Brancos
(6.058 observações)
Não Brancos
(9.184 observações)
Variável Parâmetro Desvio-
Padrão
Parâmetro Desvio-
Padrão
Sind 0,138 0,02*** 0,130 0,02***
Esc2 0,229 0,03*** 0,152 0,02***
Esc3 0,446 0,03*** 0,286 0,02***
Esc4 1,114 0,04*** 0,753 0,04***
Casado 0,015 0,04 0,016 0,03
Agrícola -0,143 0,05*** -0,246 0,03**
Indústria -0,010 0,04 0,066 0,03
Construção -0,013 0,04 0,023 0,03
Comércio e Serviços -0,084 0,03** -0,039 0,02
Urbano 0,139 0,04*** 0,136 0,03***
No_nasc -0,208 0,04*** -0,157 0,03***
Ne_nasc -0,150 0,03*** -0,269 0,02***
Su_nasc 0,061 0,03** -0,093 0,03**
Exper 0,039 0,00*** 0,033 0,00***
Exper2 -0,001 0,00*** 0,000 0,00***
Diretor 0,533 0,04*** 0,647 0,04***
Mills -0,051 0,01*** -0,096 0,01***
_cons 6,503 0,09*** 6,764 0,05***
Nota: Indicam *** 1%; ** 5%; * 10% de significância.
Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2015.
No presente estudo, o resultado da razão inversa de Mills indica que os migrantes
com destino ao Sudeste são negativamente selecionados no mercado de trabalho, ou
seja, esses possuem características que em média corroboram um rendimento inferior.
É interessante ressaltar que a região de nascimento do migrante mostra-se estatis-
ticamente significante em relação aos rendimentos. Dado que estes são expressos em
Revista Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos
Novos Cenários para Velhos Trajetos 147
termos logarítmicos, o rendimento do nordestino é 15% e 27% inferior, se comparado,
respectivamente, ao dos trabalhadores brancos e não brancos do Centro-Oeste.
Os caucasianos nascidos no Sul possuem 6% de vantagem salarial, mas os não
brancos nascidos no Sul recebem cerca de 9% a menos que seus semelhantes oriun-
dos do Centro-Oeste. Destaca-se que, de acordo com as estatísticas descritivas, os
indivíduos caucasianos, que migraram para o Sudeste, são preponderantemente nor-
destinos e sulistas. Em relação aos migrantes não caucasianos, a maioria é proveni-
ente das regiões Nordeste e Norte, os quais estão negativamente relacionados com os
rendimentos, quando comparados aos da região Centro-Oeste.
O resultado da razão inversa de Mills retrata que os indivíduos não brancos, que
migraram para o Sudeste, são negativamente selecionados. Todavia, a constatação de
que a região de nascimento impacta os rendimentos não é suficiente para verificar se
o mercado de trabalho do Sudeste diferencia o migrante em decorrência disso. Essa
questão é analisada através da decomposição de Oaxaca-Blinder, pela qual se pode
inferir que o grau de diferenciação salarial se distingue tanto pela cor quanto pela
região de origem do migrante.
Os resultados da decomposição também permitirão verificar se o migrante nordes-
tino está sujeito ao comportamento discriminatório e se as características explicadas
da diferenciação salarial existente entre os migrantes de diversas origens são decor-
rentes de fatores similares. Essas considerações são apresentadas nas três subseções
seguintes, nas quais se explanam as estimações da decomposição de Oaxaca-Blinder
entre os pares de migrantes residentes na região Sudeste.
4.3 Comparação entre migrantes das regiões Nordeste e Norte
Nesta subseção, discute-se a primeira comparação entre os rendimentos recebidos
dos indivíduos nascidos nas regiões Norte e Nordeste do país, que se deslocaram para
a região Sudeste. A Tabela 5 indica os resultados dessa análise. Nota-se que não
diferença salarial estatisticamente significante entre migrantes brancos nascidos
nas regiões Nordeste e Norte, sendo que o mesmo não ocorre para os migrantes não
brancos. No presente estudo, verifica-se que diferenciação salarial motivada tanto
por características explicadas quanto não explicadas, desfavoráveis ao nordestino não
branco.
Dentre os fatores que explicam a diferença salarial, destaca-se a escolaridade no
ensino superior, a qual se apresentou como um parâmetro positivo e significativo na
decomposição. Paralelamente, o nível de escolaridade equivalente ao ensino funda-
mental mostrou-se negativamente correlacionado aos rendimentos.
Quando se compara a escolaridade média dos indivíduos não brancos, percebe-
se que apenas 6% dos nordestinos possuem ensino superior completo, enquanto que
cerca de 30% não finalizaram o ensino fundamental. A Figura 1, apresentada,
Revista Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos
148 R. M. N. Lima, E. C. Teixeira
demonstrou que tal proporção é praticamente inversa para os indivíduos nascidos na
região Norte. Conforme exposto na estimação da equação de rendimentos, esse pode
ser um determinante para o diferencial existente. Assim, o componente inexplicado
pode ser interpretado como a diferença decorrente da discriminação.
Tabela 5. Decomposição Oaxaca-Blinder: imigrantes das regiões Nordeste e Norte,
2015
Brancos Não Brancos
Diferença Parâmetro Desvio-Padrão Parâmetro Desvio-Padrão
0,157 0,24 0,713 0,21***
Explicada 0,151 0,09* 0,080 0,05*
Inexplicada 0,007 0,20 0,633 0,2***
Nota: Indicam *** 1%; ** 5%; * 10% de significância.
Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2015, SIS 2010 e Ribeiro (2017).
4.4 Comparação entre os migrantes das regiões Nordeste e Sul
A segunda comparação foi realizada entre os migrantes oriundos das regiões Nor-
deste e Sul, residentes na região Sudeste. Similarmente ao que fora apresentado na
subseção anterior, objetiva-se verificar se os trabalhadores nordestinos são discrimi-
nados no mercado de trabalho, porém comparando-os com os sulistas.
A diferença salarial total entre os migrantes nordestinos e os sulistas foi estatisti-
camente significativa para o grupo composto por homens brancos, mas não o foi para
os não brancos e a Tabela 6 retrata esse resultado.
Tabela 6. Decomposição Oaxaca-Blinder: imigrantes das regiões Nordeste e Sul, 2015
Brancos Não Brancos
Diferença Parâmetro Desvio-Padrão Parâmetro Desvio-Padrão
0,234 0,122* 0,181 0,134
Explicada 0,151 0,03*** 0,051 0,02**
Inexplicada 0,083 0,119 0,130 0,134
Nota: Indicam *** 1%; ** 5%; * 10% de significância.
Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2015, SIS 2010 e Ribeiro (2017).
Pode-se concluir que os migrantes sulistas caucasianos também tendem a apre-
sentar rendimentos superiores aos dos nordestinos em função do acesso ao ensino
superior. Na média, observa-se que o percentual de sulistas caucasianos com ensino
superior supera em dobro o dos nordestinos. O cargo ocupado também se mostrou
Revista Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos
Novos Cenários para Velhos Trajetos 149
relevante para justificar a diferença salarial. A partir da amostra observada, 5% dos
migrantes nordestinos trabalhavam em cargos de liderança no Sudeste, enquanto os
sulistas ocupavam 10% das posições.
4.5 Comparação entre os migrantes das regiões Nordeste e Centro-Oeste
Por fim, a terceira análise foi realizada com o intuito de comparar os rendimentos
dos migrantes nascidos na região Nordeste com daqueles nascidos na região Centro-
Oeste, vide Tabela 7, que apresenta a decomposição de Oaxaca-Blinder. Para os cau-
casianos, a diferença entre os rendimentos foi estatisticamente significativa e justifi-
cada, como aponta a estatística do componente explicado. Nessa amostra, a diferença
total entre os não brancos não se mostrou significativa.
Tabela 7. Decomposição Oaxaca-Blinder: imigrantes regiões Nordeste e Centro-
Oeste, 2015
Brancos Não Brancos
Diferença Parâmetro Desvio-Padrão Parâmetro Desvio-Padrão
0,312 0,151** -0,124 0,175
Explicada 0,233 0,059*** 0,041 0,038
Inexplicada 0,079 0,144 -0,165 0,169
Nota: Indicam *** 1%; ** 5%; * 10% de significância.
Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2015, SIS 2010 e Ribeiro (2017).
A principal justificativa para a diferença salarial explicada do indivíduo branco é a
escolaridade de nível superior. Similarmente aos resultados anteriores, a posição de
liderança no trabalho, em que 14% dos migrantes nascidos na região Centro-Oeste
ocupavam tais cargos, também é um fator que explica o diferencial. Ademais, a quan-
tidade de migrantes nordestinos que possuem apenas o ensino fundamental é em
média o dobro da referente ao grupo comparado, o que influencia negativamente o
diferencial de rendimentos.
Para os três casos, é possível apontar algumas similaridades importantes para res-
ponder ao questionamento central do presente estudo. A discussão geral a respeito da
discriminação dos migrantes nordestinos no mercado de trabalho da região Sudeste
é apresentada na subseção seguinte.
4.6 Discussões gerais a respeito dos resultados
No geral, os resultados apontam que o trabalhador nordestino, que migra para a
região Sudeste, é negativamente selecionado, de modo que seu retorno salarial em
decorrência da migração tende a ser inferior se comparado ao dos migrantes nascidos
Revista Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos
150 R. M. N. Lima, E. C. Teixeira
nas demais regiões do país. Contudo, quase sempre esse diferencial não é decorrente
de efeitos discriminatórios, sendo majoritariamente explicado pela diferença no ní-
vel de escolaridade. A exceção encontra-se no grupo de trabalhadores não brancos,
quando comparados àqueles nascidos na região Norte do país, onde é possível verificar
uma discrepância salarial não explicada, desfavorável ao nordestino.
Esse resultado complementa as conclusões levantadas por Loureiro (2003); Maciel
e Cunha (2013), os quais afirmam que o migrante nordestino é negativamente sele-
cionado. O nível de escolaridade, especialmente referente ao ensino superior, foi o
principal fator explicativo para as diferenças salariais entre os grupos de migrantes.
A partir do Gráfico 2, foi possível evidenciar que os nordestinos estão em desvan-
tagem nesse aspecto. Nesse sentido, a relevância da educação superior também foi
evidenciada por Moura (2008).
As demais variáveis inseridas como controles do modelo também apresentaram
resultados condizentes com estudos anteriores. A relação positiva entre a filiação
sindical e o rendimento condiz com o trabalho de Sachsida et al. (2004). Quanto ao
setor de atividades, a atuação no setor agrícola pode acarretar relação negativa com
o rendimento, devido ao fato de esse ser majoritariamente composto por mão de obra
não especializada e localizada em zonas não urbanas. Por sua vez, a incidência de
maiores retornos salariais decorrentes das melhores condições de trabalho presentes
nas zonas urbanas é indicada por Santos (2006).
A relação negativa, expressa pelo parâmetro ligado ao comércio, também é encon-
trada por Maciel e Cunha (2013), mas diferente das autoras, a estimação do modelo
para brancos e não brancos permite verificar que o efeito dos ramos de atividade é es-
tatisticamente distinto entre tais grupos. Nesse caso, para os migrantes não brancos,
a atuação no segmento comercial ou de serviços não foi estatisticamente significativa.
5. Considerações finais
O presente estudo se baseou na teoria econômica da discriminação para verificar
se a região de origem do migrante interno brasileiro determina diferenciação salarial.
Diante dos longos períodos de emigração da região Nordeste e do histórico e persistente
atraso socioeconômico da região comparada às demais, optou-se por especificar a
análise em relação ao migrante nordestino com destino à região Sudeste, que ainda
permanece como o principal local de destino dos migrantes internos.
Verificou-se que os rendimentos dos migrantes nordestinos são de fato inferiores
se comparados aos dos demais migrantes. Entretanto, constata-se que apenas o in-
divíduo não branco, comparado com aqueles oriundos da região Norte, está sujeito ao
efeito discriminatório relacionado ao local de nascimento.
Apesar de a análise empírica corroborar a teoria econômica da discriminação es-
tatística para o caso supracitado, essa não permite distinguir o tipo de discriminação
Revista Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos
Novos Cenários para Velhos Trajetos 151
sofrida se é exclusivamente salarial, de emprego, de trabalho ou de oportunidades.
Para tal, seria necessária uma estratégia de identificação distinta, a qual poderá ser
desenvolvida em estudos futuros. Quanto às diferenças salariais encontradas nas
demais regiões, essas são explicadas pelas disparidades no percentual de migrantes
com ensino superior.
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Este artigo busca verificar se existe um efeito negativo duplo sobre os salários das mulheres migrantes (não naturais e de retorno) nas regiões brasileiras. Para captar o diferencial salarial, empregou-se o método não paramétrico de Ñopo (2008) aplicado aos dados obtidos a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2005 e 2015. Os resultados mostraram que apenas a mulher migrante não natural na região Sudeste sofre de dupla desvantagem no mercado de trabalho. A primeira desigualdade salarial refere-se à questão de gênero e ocorre também nas demais regiões brasileiras. A segunda diferença no salário deve-se à condição de migrante não natural da região Sudeste. Para as demais regiões, as mulheres migrantes (não naturais e de retorno) possuem uma vantagem salarial em relação às não migrantes.
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Focusing on birthplace (foreign vs. domestic) and origin group (European vs. Middle Eastern or African), this article examines the effects of cultural distance signals on discrimination against ethnic minority job applicants. Drawing on a cross-nationally harmonised correspondence test (N = 5780), we investigate how employers in five Western European destination countries (Germany, the Netherlands, Norway, Spain, and the U.K.) respond to job applications from majority and minority group members, with minority job applicants being either very similar (domestic-born and/or European origin) to the majority population or rather different (foreign-born and/or Middle Eastern/African). Our results are generally consistent with taste-based discrimination theory. Employers pay attention to signals of cultural distance, which results in particularly high levels of discrimination against foreign-born minorities and against minorities originating from Middle Eastern and African countries. Although origin group has a stronger effect on employer responses than birthplace, they jointly exert an additive effect. This results in particularly low labour market chances for foreign-born minorities of Middle Eastern and African origin. Separate country analyses, however, reveal important country differences, both with respect to the size of the minority penalty and the joint effect of birthplace and origin group.
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This paper analyzes income differentials between migration conditions by educational level in the Northeast region. From the data of the PNAD of 2014, the method proposed by Lee (1983) was employed in the wage equations to correct the potential problem of selection bias in the sample. In order to evaluate the wage differentials between migrants and non-migrants and between categories of migrants, the decomposition proposed by Oaxaca (1973) and Blinder (1973) was used. The findings suggest that for each completed educational segment a wage increase is generated, with a higher return on education achieved mainly by return migrants. And, the results of wage decompositions indicate that migrants have higher incomes when compared to non-migrants. In addition, it was also found that having at least one undergraduate degree increases the salary difference of migrants vis-à-vis those who decide not to migrate and among migrant groups.
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Analisa a ocorrência de diferenciais de rendimentos entre migrantes e não-migrantes no Brasil, com ênfase sobre o efeito do tempo de migração. Estima uma regressão minceriana para o logaritmo da renda a partir dos dados da PNAD de 2009 e verifica que o rendimento dos migrantes é superior ao dos não migrantes e há evidências de que esse diminui com o tempo de migração, o qual influencia também na desigualdade de renda regional. Quando considera a migração por região de destino e de origem, observa que o fenômeno de seleção positiva não ocorre para todas as regiões.
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p>Este trabalho analisa a diferença salarial segundo a condição de migração e sexo da população dos estados do Sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), a partir dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – 2013. Para isso, calculam-se as equações de rendimentos, o procedimento de Heckman e a decomposição de Oaxaca-Blinder. Os resultados revelam que o estado do Paraná tem maior participação relativa de migrantes da Região Sul, seguido por Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A Região apresenta um salário superior para migrantes, tanto para os homens como para as mulheres, compatível com a literatura sobre o tema. Os homens possuem um salário superior, tanto nos grupos de não migrantes como nos de migrantes, e a maior diferença salarial por sexo ocorre na população migrante. Há discriminação salarial por sexo entre migrantes e não migrantes, sendo maior entre os migrantes. O efeito migratório sobre os salários das mulheres é de aproximadamente 15%, favorável às migrantes, e dos homens é de aproximadamente 38% favorável aos migrantes.</p
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The myth of racial democracy is still widespread in the Brazilian society, although economic literature has continuously documented pervasive racial discrimination. This study analyzes racial discrimination in the Brazilian female labor market using a Mincer stochastic wage frontier, corrected for sample selection. The results, using Oaxaca-Blinder decomposition, showed that an efficient wage differential, not explained by differences in human capital does exist and is large among the most efficient workers. Wage inefficiencies are also explained and it is a claim of the study that traditional policies might be a tool in reducing underpayment dispersion, but cannot cope with pure discrimination.
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This article surveys contemporary theories of international migration in order to illuminate their leading propositions, assumptions, and hypotheses. It hopes to pave the way for a systematic empirical evaluation of their guiding tenets. The authors divide the theories conceptually into those advanced to explain the initiation of international migration and those put forth to account for the persistence of migration across space and time. Because they are specified at such different levels of analysis, the theories are not inherently logically inconsistent. The task of selecting between theories and propositions thus becomes an empirical exercise, one that must occur before a truly integrated theoretical framework can be fully realized. -Authors
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Este trabalho investiga as alterações nos diferenciais de rendimentos entre migrantes, migrantes de retorno e não migrantes, entre 2000 e 2010, no Brasil. São utilizados dados do Censo Demográfico. Entre os principais resultados, destaca-se que ser homem, jovem e escolarizado eleva à probabilidade de migrar e retornar. Migrantes e migrantes de retorno são mais bem remunerados que não migrantes. A situação dos trabalhadores melhorou no período, pois houve elevação dos rendimentos e diminuição das desigualdades regionais de renda, tendo a migração contribuindo para tal.