Content uploaded by Eduardo Sant Anna
Author content
All content in this area was uploaded by Eduardo Sant Anna on Dec 23, 2021
Content may be subject to copyright.
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
Representações sociais no radar da pesquisa em turismo:
revisão de literatura (2011-2020)
DOI: 10.2436/20.8070.01.221
Eduardo Silva Sant’Anna
Mestrando em Turismo pelo Programa de Pós-Graduação em Turismo da Universidade
Federal Fluminense, Brasil.
E-mail: eduardosilvasantanna@gmail.com
Erly Maria de Carvalho e Silva
Doutora em Ciência Política pela Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologia, Portugal. Professora Associada na Universidade Federal Fluminense,
Brasil.
E-mail: erlymar@uol.com.br
Resumo
A teoria das representações sociais demonstra há algumas décadas seu potencial
compreensivo e explicativo de fenômenos comunicacionais e epistêmicos, figurando de
forma consolidada em diversos campos de conhecimento. O objetivo deste artigo é
caracterizar a produção científica teórico-empírica sobre representações sociais em
periódicos de turismo no decênio de 2011-2020. Para isso, realizou-se uma revisão da
literatura com consulta nas bases de dados Publicações de Turismo, Scopus e Web of
Science. Dos 350 artigos recuperados, 55 sobreviveram aos critérios de elegibilidade e
compõem corpus desta análise. Após a apresentação de um panorama do acervo
bibliográfico e as principais metodologias de coleta e análise empregadas nos artigos,
discutem-se os principais grupos sociais e objetos representacionais presentes nas
publicações. Embora incipiente, as representações sociais despontam como categoria de
análise psicossocial promissora para compreensão e planejamento do fenômeno do
turismo. Sugere-se uma agenda de pesquisa destinada especialmente ao emprego
fundamentado da Teoria das Representações Sociais que faça jus à análise que a Teoria
merece.
Palavras-chave: Representações sociais. Metodologia. Revisão de literatura. Atitudes.
Opinião.
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
94
1 INTRODUÇÃO
Compreendido como fenômeno social e atividade econômica, o turismo é
simultaneamente o processo e o resultado das ações de turistas, do poder público, da
iniciativa privada, da comunidade local e de trabalhadores (FRATUCCI, 2008, 2014). À
medida que produzem espaços e territórios, esses agentes sociais também fabricam
representações sobre os componentes da vida cotidiana e das experiências turísticas. As
representações sociais são saberes construídos e compartilhados por grupos acerca de
objetos presentes no cotidiano (JODELET, 2001; MOSCOVICI, 2012). Elas são
construções processuais que condicionam a forma como grupos sentem, pensam e agem,
e se constituem seara de pesquisa de diferentes ciências interessadas no pensamento e
memória social.
Apesar dos fenômenos representativos capturarem a atenção de diferentes
disciplinas, talvez poucas abordagens tenham sido tão prolíferas quanto o conceito e a
teoria das representações sociais articulados por Moscovici (2012) e desenvolvidos por
demais pesquisadores, sobretudo na Europa e na América do Sul (JODELET, 2008). A
diversidade geográfica da apropriação desse enquadramento teórico se reflete na
variedade de temáticas e objetos empíricos que são analisados por meio de diferentes
enfoques em aspectos específicos das representações sociais (DE ROSA; BOCCI;
DRYJANSKA, 2018). No caso do turismo, Moscardo (2011) chama atenção para o fato
que representações sociais hegemônicas sobre o planejamento turístico condicionam o
olhar do poder público e da academia para o turismo, amiúde engendrando modelos de
crescimento pouco sustentáveis e responsáveis. Sob este pano de fundo, destaca-se a
importância do estudo das representações sociais nesse campo de conhecimento sob o
ponto de vista dos diferentes agentes sociais produtores do turismo.
Pesquisadores vinculados à teoria das representações sociais buscam
consistentemente ao longo dos anos refletir internamente sobre os limites e possibilidades
da teoria, por meio de ensaios teóricos e trabalhos de revisão bibliográfica nas
modalidades narrativa, integrativa e sistemática (DE ROSA; BOCCI; DRYJANSKA,
2018). Isso também se verifica pela ampla presença de pesquisas bibliométricas e
taxonomias sobre representações sociais desde diversos pontos de vista disciplinares. Dois
exemplos recentes são os trabalhos de revisão de Collares-de-Rocha, Wolter e Wachelke
(2016) sobre a teoria das representações sociais publicados na revista da Associação
Brasileira de Psicologia Social, e a bibliometria de Martins-Silva et al. (2016), que
analisam a presença da referida teoria nos estudos organizacionais, para mencionar apenas
dois exemplos. Por outro lado, não foram encontrados estudos, recentes ou antigos, que
apresentem consistente e sistematicamente o emprego da teoria das representações sociais
nos estudos do turismo.
Desse modo, o objetivo deste artigo é caracterizar a produção científica sobre
representações sociais no campo do turismo do decênio 2011-2020. Para isso,
apresentam-se os resultados de uma caracterização do acervo bibliográfico dos últimos
dez anos, publicado em periódicos científicos, nacionais e internacionais, especializados
em turismo. Foram consultadas as bases Publicações de Turismo, Scopus e Web of
Science. Os temas, sujeitos e objetos representacionais e procedimentos metodológicos
são apresentados e sintetizados de modo a oferecer um panorama do uso da teoria das
representações sociais nos estudos do turismo.
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
95
2 REVISÃO DE LITERATURA
Representação social dá nome tanto ao fenômeno quanto à teoria que articula os
conceitos que o englobam. Como fenômeno, as representações sociais são responsáveis
pela criação, circulação e transformação de conhecimentos construídos por meio da
comunicação e cooperação entre indivíduos; elas moldam o pensamento e influenciam o
comportamento de grupos sociais; “são impostas sobre nós, transmitidas e são o produto
de uma sequência completa de elaborações e mudanças que ocorrem no decurso do
tempo e são o resultado de sucessivas gerações” (MOSCOVICI, 2011, p. 37).
A teoria ganhou forma a partir de um resgate teórico e reelaboração conceitual
da noção de representações coletivas cunhada por Émile Durkheim (1858-1917), evento
marcado pela publicação da obra seminal do psicólogo social francês Serge Moscovici
(2012) [1961/1976], La psychanalyse, son image et son public. Insatisfeito com a
limitação dos conceitos e paradigmas da psicologia social existentes, Moscovici
desenvolve a teoria das representações sociais, situando-a em uma zona fronteiriça entre
as ciências sociais e a psicologia (SÁ, 1993).
Na inauguração de um novo campo de estudos na psicologia social, no entanto,
impunha-se uma dificuldade: a definição conceitual do fenômeno das representações
sociais. Moscovici (2012) atribui a dificuldade a razões históricas e não históricas, mas
detém-se às segundas: o maior fator limitante era a posição mista das representações
sociais “na encruzilhada de uma série de conceitos sociológicos e de uma série de
conceitos psicológicos” (p. 39). A falta de uma delimitação conceitual do que seriam as
representações sociais tornou a teoria alvo de críticas. Moscovici (1988, p. 213)
argumenta considerar a psicologia social, na qual circunscreve as representações sociais,
como uma ciência social e, portanto, assim como na antropologia e sociologia, não
precisava apresentar “uma definição não ambígua de cada um de seus conceitos”.
Parte significativa das críticas recebidas por outros autores vem da tentativa de
enquadrar a teoria das representações sociais no modelo cartesiano presente na
psicologia social da época e, por muito tempo, hegemônico nas ciências sociais. O
fenômeno representacional, por sua vez, só pode ser compreendido se observado por um
prisma dialógico, que visa compreender as relações estabelecidas não apenas a partir do
modelo sujeito-objeto, e sim sob um paradigma Eu-Outro-Objeto ou Alter-Ego-Objeto,
como vem sendo explorado por Marková (2006) e corroborado por Jovchelovitch
(2011). Não obstante os desafios oriundos da transdisciplinaridade do fenômeno
estudado por Moscovici, é possível reunir algumas características que dão feição ao
fenômeno representacional. Jodelet (2001, p. 22) apresenta a seguinte definição para
representação social:
[...] é uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e
partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para uma
realidade comum a um conjunto social. [...] Como fenômenos
cognitivos, envolvem a pertença social dos indivíduos com as
implicações afetivas e normativas, com as interiorizações de
experiências, práticas, modelos de condutas e pensamento,
socialmente inculcados ou transmitidos pela comunicação social, que
a ela estão ligadas.
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
96
Ademais, as representações sociais estão sempre direcionadas à compreensão de
um objeto. Esse direcionamento das representações constitui uma característica basilar
da teoria. “Uma representação é sempre representação de alguém e ao mesmo tempo
representação de alguma coisa” (MOSCOVICI, 2012, p. 27). Objetos de uma vasta
gama de dimensões são contemplados por esse fenômeno: pessoas e coisas;
acontecimentos nas dimensões material, social ou psíquica; fenômenos da natureza;
noções, ideias, teorias (JODELET, 2001).
Embora toda representação social tenha um objeto específico, a teoria não
apresenta a separação típica dos modelos cartesianos entre sujeito e objeto. Desde sua
primeira publicação, Moscovici (2012) deixa clara a constituição do saber de forma
ativa entre os sujeitos, de modo que o universo exterior e os atores sociais se coadunam,
representando constantemente objetos de diferentes formas, estando tanto os sujeitos
quanto às representações em processo de mudança. Abric (1994, p. 13-14) apresenta seu
delineamento conceitual das representações sociais da seguinte forma:
uma visão funcional do mundo que permite ao indivíduo ou ao grupo
conferir sentido às suas condutas e entender a realidade mediante seu
próprio sistema de referências [...]. É um sistema de pré-codificação
da realidade posto que determina um conjunto de antecipações e
expectativas. [As representações sociais] estão submetidas a uma
lógica dupla: a lógica cognitiva e a lógica social. Podem ser definidas
como construções sociocognitivas, regidas por suas próprias regras.
Segundo Abric (1994), o componente cognitivo das representações é marcado
pela sua construção pelos sujeitos, o que lhe atribui matizes psicológicos. Por aspectos
cognitivos, compreende-se uma instância psicológica responsável pela construção de
conhecimentos. Ao mesmo tempo, seu componente social refere-se às condições em que
as representações são elaboradas e transmitidas, permitindo as práticas dos elementos
cognitivos (ABRIC, 1994a).
Dentre os elementos constitutivos das representações sociais, Jodelet (2001, p.
22) alude aos “informativos, cognitivos, ideológicos, normativos, crenças, valores,
atitudes, opiniões, imagens etc.” que às vezes são estudados isoladamente. No entanto, é
preciso ressaltar que as representações sociais não podem ser reduzidas a opiniões ou
imagens, por exemplo, visto que essas palavras não expressam a complexidade, a lógica
e as implicações de uma representação social. Além de opiniões e imagens, as
representações sociais são teorias do senso comum organizadas na forma de um saber
prático.
Compreende-se por saber prático o direcionamento de todos os elementos
mencionados por Jodelet (2001) à ação social, o que significa que as representações
sociais produzem comportamentos. Outrossim, as representações sociais remodelam e
reconstituem “os elementos do ambiente no qual o comportamento deve acontecer”
(MOSCOVICI, 2012, p. 46), tendo os sujeitos como agentes produtores de saberes em
um movimento constante de compreensão e ressignificação de objetos do seu cotidiano.
Devido ao seu condicionamento histórico-cultural, uma representação social deve ser
sempre remetida ao seu contexto de produção.
As representações conduzem um grupo social à familiarização de diferentes
objetos, de forma que o desconhecido se torne familiar. Trata-se de um movimento feito
pelos próprios grupos sociais para compreender um objeto que pode não ser próprio de
sua realidade, dando a ele novos sentidos e significados. Essa tentativa de compreender
o desconhecido é explicada pela função cognitiva das representações sociais que,
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
97
segundo Spink (1993), ocupa-se da familiarização de elementos estranhos a um grupo
social. Isto porque é necessário para os sujeitos identificar, significar e interpretar
objetos que não necessariamente pertencem ao seu cotidiano, visto que “coisas que não
são classificadas nem denominadas são estranhas, não existentes e ao mesmo tempo
ameaçadoras” (MOSCOVICI, 2011, p. 61).
Como uma atividade econômica, urdida em um fenômeno social, o turismo
implica inevitavelmente em encontro com uma gama de diferenças: geográfica, política,
populacional, gastronômica, cultural, econômica, tecnológica, ambiental e outras.
Portanto, a compreensão dos conhecimentos sociais construídos por diferentes agentes
envolvidos com o turismo é imperativa para planejamento e gestão coerentes com a
circulação de saberes da população local, atitudes de trabalhadores, imagens e
representações do poder público, opiniões de turistas e conhecimentos do mercado.
3 METODOLOGIA
Esta revisão de literatura abrange o período de 2011 a 2020. Três bases de
dados constituem fonte de consulta: Publicações de Turismo; Scopus; e Web of Science.
Essa escolha pautou-se no alcance geográfico dos periódicos de turismo indexados em
cada base. Publicações de Turismo concentra 40 revistas ibero-americanas destinadas
exclusiva ou principalmente ao estudo do turismo. Scopus e Web of Science são duas
das principais bases indexadoras interdisciplinares internacionais de títulos, resumos e
palavras-chave. O Portal de Periódicos CAPES foi a via de acesso às duas últimas
referidas bases.
Empreenderam-se buscas em novembro de 2020 e em janeiro de 2021. Na
primeira ocasião, o objetivo principal foi explorar os recursos das bases, os painéis de
filtragem e os títulos, resumos e palavras-chave com o intuito de construir um protocolo
de pesquisa com critérios de elegibilidade e de exclusão. No segundo momento,
realizou-se novamente a busca nas três bases para realizar a seleção de artigos,
obedecendo aos seguintes critérios de inclusão: artigos teórico-empíricos publicados
entre 2011 e 2020 em revistas de turismo, e ancorados na teoria das representações
sociais, conforme estabelecida na psicologia social. No Scopus e Web of Science
combinaram-se as palavras-chave: “social representation*” AND (tourism OR tourist*
OR travel*). Dos 243 resultados recuperados nas duas bases, 182 passaram pelo recorte
temporal e 75 foram incluídos. Após a exclusão de duplicatas, 37 artigos compõem o
corpus extraído das duas bases internacionais.
O processo de busca e recuperação no Publicações de Turismo teve outras
particularidades. Como o repositório não permite filtragens, foi necessário inventariar
em uma planilha de Excel todos os artigos recuperados com as palavras-chave
“representações sociais” (n=81) e “representação social” (n=47), com e sem aspas,
resultando em 106 documentos após a exclusão de duplicatas. Do referido número
foram excluídos: 15 publicações anteriores a 2011; 4 resenhas ou publicações em anais
de congressos; 3 artigos teóricos; e 4 artigos com base empírica advinda de jornais,
revistas ou outras mídias. Este último critério de exclusão justifica-se pelo interesse em
concentrar a revisão de literatura em artigos que abordassem as representações sociais
do ponto de vista de seus produtores, em outras palavras, os mais variados agentes
sociais que produzem o fenômeno do turismo.
O último critério de exclusão refere-se a uma escolha teórica. Embora a
psicologia social não dispute o monopólio conceitual das representações sociais,
interessa-se especialmente pelas representações assentadas no referencial psicossocial.
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
98
Portanto, optou-se por excluir artigos empíricos que empregam a vertente antropológica
ou sociológica de representação coletiva/social. Deslandes e Iriart (2012) já apontaram
para o uso polissêmico das representações sociais em publicações do campo da saúde e,
neste artigo de revisão, decidiu-se focalizar as representações apenas na perspectiva
psicossocial. Nesse sentido, 65 artigos foram excluídos por não explicitar a
compreensão de representação social dos autores ou manifestar uma instrumentalização
conceitual amparada pela sociologia ou antropologia. Por conseguinte, da base
Publicações de Turismo foram aproveitados 18 artigos teórico-empíricos sobre
representações sociais no viés escolhido.
Desse modo, 55 documentos compõem o conjunto de artigos analisados neste
estudo de revisão sob a égide das seguintes categorias: 1) caracterização do acervo
bibliográfico; 2) metodologias empregadas; 3) sujeitos e objetos representacionais.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Caracterização do acervo bibliográfico
Nesta seção apresenta-se uma caracterização geral dos artigos consultados. A
descrição compartimenta-se nas seguintes classificações: distribuição temporal;
principais revistas; e referências da teoria das representações sociais mais empregadas.
Esse protocolo analítico foi inspirado nas categorias utilizadas por Martins-Silva et al.,
(2016), quando da revisão bibliométrica da teoria das representações sociais nos estudos
organizacionais.
Depreende-se da Figura 1 o crescimento do número de artigos publicados na
segunda metade da década em análise. Até 2015, 21 publicações lançaram mão do
referencial teórico das representações sociais. Entre 2016 e 2020 houve aumento de
86% na soma de artigos publicados, saltando de 21 para 34 documentos, dos quais a
porção mais significativa se concentra em periódicos internacionais (78%). Ressalta-se
que a produção científica brasileira e ibérica seria maior caso houvessem sido incluídos
os artigos de matriz analítica antropológica e sociológica, porém, nos termos do
enquadramento psicossocial, o acervo bibliográfico extraído do repositório Publicações
de Turismo resulta incipiente.
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
99
Figura 1: Distribuição absoluta dos artigos por ano.
Fonte: Elaboração própria.
Na Figura 2 apresenta-se a distribuição das publicações por periódico. Observa-
se o predomínio das revistas com tradição qualitativa de pesquisa social. No caso
brasileiro, os quatro periódicos no topo deste ranqueamento possuem escopo de
pesquisa alinhado às perspectivas históricas, sociais e ambientais do fenômeno do
turismo. É interessante observar que mesmo o Caderno Virtual de Turismo sendo um
dos periódicos brasileiros mais antigos, a produção científica sobre representações
sociais é relativamente pífia. O mesmo pode ser dito de outros periódicos precursores da
divulgação científica em turismo, como Turismo em Análise e Turismo, Visão e Ação,
que nem aparecem no ranking.
No caso internacional, as duas primeiras revistas tendem a privilegiar o
empreendimento de investigações interdisciplinares, com objetivos e escopo de pesquisa
holísticos. Ressalta-se que na Annals of Tourism Research desponta um dos primeiros
artigos publicados sobre representações sociais no turismo por Michel Morin em 1984.
No entanto, as publicações de maior impacto no turismo surgiram mais de uma década
após a referida publicação seminal. Também na Annals Of Tourism Research, Fredline e
Faulkner (2000) relacionam as representações sociais manifestadas por residentes sobre
o turismo com a realização de eventos, distribuindo-os em clusters de acordo com as
atitudes dispensadas ao turismo e aos eventos. Por sua vez, Andriotis e Vaughan (2003)
contribuem para a literatura sobre desenvolvimento turístico a partir do referencial
psicossocial, enfocando especificamente a dimensão atitudinal das representações
sociais. Apesar de não integrarem o acervo bibliográfico desta revisão, esses autores
influenciaram a literatura de representações sociais no turismo, como será observado
mais adiante.
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
100
Figura 2: Distribuição dos artigos por periódico.
Base
Revista
N
%
Publicações de turismo (n=18)
Caderno Virtual de Turismo
3
5,26%
Revista Brasileira de Ecoturismo
2
3,51%
Revista Iberoamericana de Turismo
2
3,51%
Rosa dos Ventos
2
3,51%
Outras
9
15,79%
Scopus &
Web of Science (n=39)
Journal of Sustainable Tourism
6
12,28%
Annals of Tourism Research
5
8,77%
Journal of Travel Research
4
7,02%
Tourism Management
4
7,02%
International Journal of Tourism Research
3
5,26%
Tourism Review
3
5,26%
Outras
12
22,81%
Total
55
100,00%
Fonte: Elaboração própria.
Não obstante o foco deste artigo de revisão não resida nos dados bibliométricos,
buscou-se observar as referências empregadas nos estudos do decênio com o intuito de
verificar os autores que mais influenciam a compreensão de representação social do
acervo inventariado. Para isso, as referências dos artigos foram catalogadas em um
arquivo Excel de modo a determinar os principais autores e bibliografias contempladas
pelos autores. No caso específico dos artigos extraídos do Scopus e Web of Science, foi
possível utilizar o pacote Bibliometrix no RStudio para facilitar o ordenamento das
referências.
Constatou-se que Serge Moscovici (n=98) acumula o maior número de citações
dentro do universo analisado, sendo 22% referentes à base nacional e 78% às bases
estrangeiras. Na literatura internacional destacam-se Fredline e Faulkner (2000),
Andriotis e Vaughan (2003) e Moscardo (2011) com o maior número de citações
individuais. Enquanto os dois primeiros artigos referenciados não foram incluídos no
estudo por conta do critério temporal, Moscardo (2011), apesar da popularidade de seu
artigo, não foi incluída por utilizar dados secundários como análise empírica. Não
obstante, a autora é frequentemente mencionada, especialmente em artigos em que as
problemáticas abrangem políticas públicas de turismo, governança territorial e
planejamento do desenvolvimento turístico.
Jean-Claude Abric, um dos precursores da abordagem estrutural das
representações sociais, figura em quatro artigos extraídos do Publicações de Turismo e
cinco do Scopus e Web of Science. Apesar das citações não serem numericamente
expressivas, isso sugere que há um subgrupo de trabalho que lança mão da teoria do
núcleo central. Parcela desses trabalhos emprega a Técnica de Associação Livre de
Palavras para mapear os elementos cognitivos constitutivos das representações sociais
sobre um determinado objeto.
Além de Sandra Jovchelovitch, comumente associada à abordagem narrativa e
dialógica das representações, e Duveen, representante da abordagem experimental, dois
autores são dignos de nota: Lefevre e Lefevre, autores responsáveis pelo
desenvolvimento do Discurso do Sujeito Coletivo, figuram em cinco, dos 18 artigos
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
101
ibero-americanos. O Discurso do Sujeito Coletivo consiste em um conjunto de
estratégias que visa à organização e expressão das “representações sociais sob a forma
de discursos instituintes de sujeitos coletivos” (LEFEVRE; LEFEVRE; MARQUES,
2009). Após a construção do corpus de pesquisa, isto é, das entrevistas, gravações e
transcrições, o Discurso do Sujeito Coletivo é operacionalizado a partir da organização
de três elementos discursivos: expressões-chave; ideias centrais; e ancoragem.
4.2 Metodologias empregadas nas pesquisas
Em primeiro lugar, vale afirmar que a literatura da teoria das representações
sociais aponta para a diversidade de métodos e técnicas de coleta e tratamento dos
dados. Somam-se a isso, décadas de encontros de reflexão e autocrítica metodológica
(SÁ, 2002). De forma geral, a “grande teoria” das representações sociais exige a coleta
e análise de aspectos discursivos, verbais ou não. Eles podem ser coletados e analisados
em sua forma orgânica, como Jodelet realizou acerca das representações da loucura na
década de 1980, em um pequeno vilarejo situado na zona central da França. Também é
possível analisar as representações com procedimentos experimentais, como é o caso da
Escola de Genebra, liderada por Doise (JODELET, 2008), e da Escola de Aix-en-
Provence, que possui variações experimentais.
Abric (1994b) classifica os métodos de coleta do conteúdo e estrutura das
representações em interrogativos e associativos, ambos importantes, cada qual com suas
vantagens e limitações. Os interrogativos incluem entrevistas, questionários e desenhos.
Os associativos resumem-se principalmente à Técnica de Associação Livre de Palavras,
amplamente empregada em pesquisas sobre o núcleo central, e a carta associativa, um
refinamento da primeira técnica.
Em se tratando da natureza das pesquisas dos artigos analisados, pouco mais da
metade das publicações (56,4%) é de base qualitativa. Os demais artigos distribuem-se
nas abordagens quantitativa (29,1%) e mista (14,5%) (Figura 3). Esses dois últimos
grupos lançam mão principalmente da aplicação de questionários ou formulários como
procedimento de coleta e, para análise, empreendem análise de clusters, análise de
variância, análise fatorial e modelagem de equações estruturais. Observa-se que esses
estudos tendem a privilegiar a dimensão atitudinal das representações, isto é, a detecção
das atitudes de grupos sociais em direção a objetos do cotidiano. Identificar as atitudes
como preditoras de comportamento de turistas (HORNG; LIAW, 2018; TASCI;
FYALL; FU, 2020) revela-se útil do ponto de vista do planejamento público e privado
do turismo. Além disso, outra vantagem da perspectiva das atitudes é que permite
distinguir os fatores que tornam as pessoas favoráveis a práticas ambientalmente
sustentáveis (ATZORI et al., 2019), incidindo sobre os comportamentos dos indivíduos.
Ademais, a análise de clusters possibilita identificar subgrupos que, com base em
determinadas características sociodemográficas, compartilham diferentes representações
sobre a imagem de um destino turístico, dado importante para planejadores e
responsáveis pela promoção de destinos (STYLIDIS, 2018).
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
102
Figura 3: Distribuição dos procedimentos de coleta e análise por natureza de pesquisa.
Natureza
Coleta
N
Análise
N
Qualitativa (n=31)
Entrevista
25
Pressupostos da TRS
9
Associação Livre de Palavras
6
Análise de conteúdo
4
Observação
5
Análise prototípica
4
Grupo focal
3
Análise temática
4
Mapas mentais
2
Discurso do Sujeito Coletivo
4
Outros
6
Quantitativa (n=16)
Survey
16
Análise de clusters
6
Análise de variância
6
Análise fatorial
4
Modelagem de Equações Estruturais
4
Outros
6
Mista (n=8)
Survey
8
Análise de clusters
3
Entrevista
4
Análise de conteúdo
2
Associação Livre de Palavras
2
Análise de variância
3
Grupo focal
2
Outros
4
Teste de memória
1
Fonte: Elaboração própria.
Nas abordagens qualitativa e mista destacam-se artigos com notória capacidade
de emparelhamento entre o referencial teórico das representações e os achados
empíricos. Os conceitos mais explorados referem-se às representações hegemônicas e
polêmicas (VON DER HEIDT et al., 2019; WASSLER et al., 2019), e à polifasia
cognitiva e núcleo central (FARSARI, 2018). Embora esta seja uma característica
esperada de artigos científicos e, no caso da pesquisa qualitativa seja parte constitutiva,
nem sempre a seção de discussão de resultados reflete empenho reflexivo e
interpretativo necessários. Minayo (2014), expoente nacional e latino-americana de
pesquisa qualitativa, sempre enfatiza o caráter construtivo da pesquisa qualitativa, na
qual a concepção de coleta de dados contrasta com a de construção ativa do pesquisador
sobre os dados, o que demanda esforço compreensivo e dialético permanente. Salienta-
se isso porque, assim como observado em outras revisões bibliográficas (MARTINS-
SILVA et al., 2016), alguns autores afirmam adotar o paradigma das representações
sociais, porém acabam por não se debruçar reflexivamente sobre a pesquisa de campo a
partir da abordagem psicossocial.
Apesar de não destacar nenhuma noção do aporte representacional, Gazallo e
Ertzogue (2019) logram conduzir uma discussão detalhada das representações
produzidas por barqueiros sobre o turismo, sublinhando os aspectos simbólicos e
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
103
figurativos nas narrativas construídas por eles. Além disso, como a teoria das
representações sociais nunca se apresentou rígida ou hostil à combinação com outras
abordagens teóricas, observa-se sua combinação também com a perspectiva
fenomenológica e hermenêutica (AQUINO; ANDERECK, 2018). Em se tratando dos
estudos de abordagem mista, os autores costumam justificar a combinação das
dimensões qualitativa e quantitativa como estratégia para complementar os pontos fortes
da tradição positivista com os pontos fortes da matriz construtivista, visto que esta
permite esmiuçar os universos de compreensão e significados em torno dos fenômenos
(SHAKEELA; WEAVER, 2018; WASSLER et al., 2018).
Não impressiona que a entrevista tenha sido a técnica mais amplamente utilizada
no âmbito da pesquisa qualitativa. Tampouco que autores empregaram a técnica de
survey para coleta de dados quantitativos. Ambos os procedimentos são considerados
capitais à pesquisa em representações sociais (ABRIC, 1994b) e aparecem como opção
metodológica em estudos clássicos e contemporâneos. A Associação Livre de Palavras,
por sua vez, desponta como uma das técnicas mais usadas na pesquisa qualitativa,
vinculada sobretudo à abordagem estrutural das representações sociais (ABRIC, 1994a;
SÁ, 2002). O procedimento consiste em fornecer ao entrevistado ou respondente um
estímulo indutor, que pode ser uma frase, imagem ou vídeo, ao qual deverá responder
com as primeiras palavras que lhe surgem na mente. Com isso obtém-se um acervo de
palavras evocadas que podem ser organizadas pelos parâmetros de frequência e ordem
média de evocação (WALCHEKE; WOLTER, 2011).
Faião et al (2013) e Cardoso, Carvalho e Silva (2014) empreendem combinação
metodológica interessante, envolvendo a Associação Livre de Palavras como método
para apreensão do conteúdo das representações sociais e a análise do Discurso do
Sujeito Coletivo para o exame do material qualitativo proveniente de entrevistas. Os
resultados indicam a fertilidade dessa combinação visto que permite cotejar resultados
extraídos de dois procedimentos e sintetizar ideias centrais e ancoragens dos discursos
de forma didática e representativa de uma coletividade.
No que se refere a outros procedimentos de análise adotados, as análises de
conteúdo e temática foram bastante frequentes. Cada uma figura em quatro estudos, a
primeira referendada pelo instrumental analítico fornecido por Bardin (2011) e a
segunda pelo caminho promovido por Braun e Clarke (2006). No entanto, a maioria dos
estudos qualitativos não explicita uma técnica específica de análise, comprometendo-se
apenas a discutir os resultados de entrevistas, grupo focal e observações de campo à luz
dos pressupostos teóricos da Teoria das Representações Sociais (DIAS, 2018;
GAZALLO; ERTZOGUE, 2019; MONTERRUBIO, 2019; SIMONETTI, 2019).
Para o caso supracitado, há dois cuidados imprescindíveis à interpretação dos
dados empíricos à luz da teoria das representações. Alves-Mazzotti (2005) adverte
pesquisadores sobre o equívoco de considerar as representações como a verdade em
relação a um objeto ou “um espelho da realidade”. Essa recomendação parece poder ser
sintetizada em um aforismo moscoviciano: “representar uma coisa, um estado, não é só
desdobrá-lo, repeti-lo ou reproduzi-lo, é reconstruí-lo, retocá-lo, modificar-lhe o
contexto” (MOSCOVICI, 2011, p. 54). Isso deve ser considerado não somente ao
analisar os dados como também ao tomá-los para fazer inferências sobre as práticas dos
grupos sociais (ALVES-MAZZOTTI, 2005).
Alves-Mazzotti ainda chama atenção para algo que difere a teoria das
representações sociais da psicologia social americana: não existem representações
erradas sobre um objeto, “uma vez que as transformações efetuadas na apropriação do
objeto pelos sujeitos constituem a forma mesma do pensamento social” (ALVES-
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
104
MAZZOTTI, 2005, p. 146). Dito isso, não cabe ao pesquisador arrogar-se a detenção do
conhecimento “racional”, mas sim compreender como os agentes sociais apreendem a
realidade de um objeto. Esse equívoco verificou-se em alguns dos trabalhos analisados,
que apontam representações “erradas” de turistas ou da comunidade local sobre
determinado destino ou sobre o próprio turismo.
4.3 Sujeitos e objetos representacionais
A despeito de Moscovici (1988) deixar clara a flexibilidade impressa em suas
proposições, existem alguns conceitos que se consolidaram na teoria nas suas mais de
cinco décadas de existência e nesse sentido são inegociáveis. Um deles é o fato de que
as representações sociais sempre estão ligadas a algum objeto. Alves-Mazzotti (2005)
ressalta a importância de delimitar com clareza o objeto por dois motivos. Em primeiro
lugar, ele deve estar claro de forma a orientar a construção de instrumentos adequados a
apreender as representações. Em sequência, deve-se cuidar para não perder de vista o
objetivo representacional que se buscou investigar na discussão dos resultados.
Outrossim, caso o objeto de análise não sejam as mídias, é fundamental não
negligenciar o grupo social que atua na fabricação de tais representações, de modo que
as reflexões sobre os sujeitos produtores não fiquem desconexas dos objetos
representados.
No caso da presente revisão, os sujeitos reprodutores das representações
relacionam-se principalmente aos agentes sociais produtores do turismo: turistas;
residentes; representantes do trade; representantes do setor público; e trabalhadores do
turismo (FRATUCCI, 2008). No entanto, somaram-se aos já mencionados acadêmicos e
consumidores de outros bens ou serviços (que não se enquadram no perfil de turista).
Em alguns casos, buscaram-se as representações de diferentes agentes em um único
estudo. Nessas situações, foram registrados todos os sujeitos mencionados. De qualquer
forma, a maioria das pesquisas centra-se nas representações sociais produzidas pela
comunidade local (moradores) (60,7%). Em sequência encontram-se os turistas
(21,4%) e trabalhadores (10,7%) como produtores de representações. Com menos de
10% estão acadêmicos, grupos de especialistas no tema tratado, consumidores,
representantes de mercado e representantes do setor público.
A maior complexidade reside na amplitude de objetos representacionais
pesquisados. A multidimensionalidade do fenômeno do turismo é incontestável, assim
como dos elementos que o constituem. Por conseguinte, não surpreenderia que os
objetos representados fossem tão amplos quanto às características desse fenômeno.
Contudo, o que se verificou foi que a maior parte dos estudos se concentra na
identificação de percepções, opiniões e atitudes sobre o objeto representacional
turismo. Trata-se, pois, de um emprego coerente desse referencial teórico, já que as
representações sociais constituem teorias do senso comum sui generis, construídas para
tornar familiar o desconhecido (MOSCOVICI, 2011, 2012). Por essa razão, é esperado
que “turismo”, “desenvolvimento turístico”, “impactos do turismo” e “eventos” figurem
com frequência alta, especialmente como representações fabricadas pela comunidade
local e por trabalhadores.
Uma pré-condição importante para construção do objeto de pesquisa em
representações é se certificar de que o grupo social estudado efetivamente manifeste
representações em torno do objeto em questão (SÁ, 2002). A inserção de determinado
evento ou fenômeno no discurso público é um indicador de que grupos sociais se
comunicam e constroem sentidos e significados em torno dele (MARKOVÁ, 2006).
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
105
Com isso, torna-se mister investigar as representações produzidas por comunidades
receptoras em torno do turismo a fim de garantir um planejamento mais participativo,
socialmente responsável e ambientalmente sustentável. Isso se reflete no predomínio
dos estudos sobre “Opiniões e atitudes sobre o turismo”, como se pode observar na
Figura 4.
Figura 4: Classificação dos objetos representacionais e autores.
Categoria
Objeto representacional
Opiniões e atitudes sobre o
turismo (n=19)
Destino turístico (1); Feriado (1); Desenvolvimento turístico (3);
Cruzeiros (1); Impactos do turismo (3); Viagem espacial (1);
Turismo (6); Turistas (3)
Opiniões e atitudes sobre
outros elementos do cotidiano
(n=14)
Questões ambientais (4); Impactos do AirBnB (2); Eventos e
festivais (4); Impactos do volunturismo (1) Outros (3).
Representações como
marcadores identitários (n=11)
Desenvolvimento turístico (1); Cinema brasileiro (1); Destino
turístico (1); Identidade profissional (1); Nudismo (1); Patrimônio
(3); Política pública (1); Turismo (2).
Representações e imagens
turísticas (n=7)
Destino turístico (n=5); Colaboração entre agentes sociais (n=1);
Eventos (n=1)
Outros (n=4)
Pico do petróleo (n=2); Desenvolvimento profissional (n=1);
Qualidade de serviço (n=1).
Fonte: Elaboração própria.
Essa primeira categoria recobre objetos representacionais diretamente
relacionados às representações sobre turismo, turistas e viagens. Observou-se especial
interesse nos processos de objetivação e ancoragem das representações sociais nos
estudos desta categoria. Objetivação é o processo no qual se dá materialidade a um
elemento a partir da “duplicação de um sentido por uma figura”; inversamente, ancorar
implica na duplicação de uma figura por um sentido, pelo qual “se fornece um contexto
inteligível ao objeto” (MOSCOVICI, 2012, p. 60). Ambos os processos são
indissociáveis, estando um focado na face figurativa de uma representação e o outro
sublinhando seus aspectos simbólicos.
Em que pese a importância dos processos de ancoragem e objetivação para a
compreensão do fenômeno representacional, amiúde ambos os conceitos são pouco
explorados nas investigações que adotam o referencial da teoria das representações
sociais (JODELET, 2001; MARTINS-SILVA et al., 2016). Isso pode ser explicado por
um desconhecimento da teoria, que culmina em uma apropriação equivocada, ou
simplesmente pela adoção de um paradigma teórico cuja ênfase não repousa no
processo formativo das representações sociais. No entanto, pelo que se pode observar
nos artigos desta categoria, os processos de ancoragem e objetivação são notadamente
úteis para compreender em que repertórios linguísticos e históricos o turismo se ancora
e objetifica nas representações sociais de residentes sobre turistas (WASSLER et al.,
2019), de trabalhadores barqueiros sobre o turismo (GAZALLO; ERTZOGUE, 2019) e
de consumidores potenciais sobre turismo espacial (TASCI; FYALL; FU, 2020).
A categoria “opiniões e atitudes sobre outros elementos do cotidiano”
compartilha das feições do grupo supracitado. Optou-se por incluir os “Impactos do
AirBnB” e os “Eventos e festivais” nesta segunda categoria por compreendê-los como
subsistemas de um ecossistema mais amplo e complexo do turismo. As questões
ambientais também se salientam neste subgrupo, em que há a identificação de
representações de turistas sobre mudanças climáticas (ATZORI et al., 2019), de turistas
sobre o turismo de baixo carbono (HORNG; LIAW, 2018), de diferentes agentes sociais
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
106
sobre o turismo e a balneabilidade de praias (MACEDO-SILVA; TCHAICKA; SÁ-
SILVA, 2016) e de turistas em torno de viagens de avião (DICKINSON et al., 2013). O
conjunto de estudos dentro dessa categoria demonstra a importância de familiarização
com as representações sociais, por um lado com fins pedagógicos de sensibilização
sobre problemáticas sociais e por outro para intervenção e mitigação de efeitos
negativos de determinadas práticas para o turismo (VON DER HEIDT et al., 2020).
A terceira categoria de objetos representacionais agrega os estudos que tomam
as representações sociais como marcadores identitários. Essa classificação revela-se útil
para abarcar a função afetiva das representações, que garante a preservação e
legitimação de identidades. Essa função “remete à dinâmica de interação social e, mais
especificamente, à elaboração de estratégias coletivas ou individuais para a manutenção
de identidades ameaçadas” (SPINK, 1993, p. 306). No caso do acervo bibliográfico
consultado, 11 estudos se enquadram nesta categoria, com destaque ao patrimônio e ao
destino turístico como alvos de representações sociais. Essa categoria também se
diferencia por concentrar o maior número de artigos extraídos da base Publicações de
Turismo (n=8), indicando que pode haver uma inclinação das pesquisas brasileiras e
ibero-americanas pela abordagem sócio-histórica das representações sociais. Uma das
tendências desse grupo de artigos é a articulação da teoria das representações sociais
com aspectos territoriais (MENDONÇA; REIS, 2013) e patrimoniais do fenômeno
turístico (DIAS, 2018).
Representações e imagens turísticas compõem a quarta categoria, cuja ênfase
recai sobretudo nos aspectos comerciais das marcas dos destinos turísticos. De forma
geral, esses artigos versam sobre os fatores que influenciam a construção de
representações e imagens mentais sobre o turismo e sobre destinos. Diferentemente das
outras categorias, neste grupo predominam os turistas como produtores de
representações, como no caso de Weaver et al. (2018), que investigam representações
sociais de turistas sobre o Japão e De Rosa e Dryjanska (2017), que se ocupam das
representações de turistas sobre Warsaw – Polônia. A última categoria centra-se em
objetos temáticos que não se aderiram às demais classificações: picos de petróleo;
desenvolvimento profissional; e qualidade de serviços.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As representações sociais são ao mesmo tempo visão de mundo e interpretação
do mundo em que se vive. Como teoria, estabelecem uma constelação de conceitos que
se imbricam e se adequam às diferentes realidades em que comunicação, linguagem,
memória, afeto e história se imiscuem na composição do pensamento social de um
grupo. Neste artigo buscou-se caracterizar a produção científica teórico-empírica sobre
representações sociais em periódicos de turismo no decênio de 2011-2020, dando
atenção aos procedimentos metodológicos adotados e aos sujeitos e objetos
representacionais. O exame de um acervo bibliográfico composto por 55 artigos
possibilitou: 1) fornecer um panorama da evolução temporal da teoria das
representações nos estudos do turismo nacionais e estrangeiros; 2) sintetizar os
procedimentos de coleta e de análise de dados nas pesquisas sobre representações
sociai; 3) identificar os principais sujeitos e objetos representacionais contemplados
nesses estudos.
Sendo crenças coletivas que moldam a realidade, as representações sociais
revelam não apenas os modos de pensar dos agentes sociais envolvidos com o turismo,
mas as formas como se comportam, comunicam e tomam decisões no cotidiano. Dos
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
107
artigos consultados, os sujeitos envolvidos nas pesquisas eram notadamente a
comunidade local e os turistas. A relevância do exame das representações ultrapassa as
atitudes ostentadas por locais e trabalhadores sobre o turismo e tampouco se limita às
imagens e opiniões de turistas sobre destinos. Concorda-se com Moscardo (2011),
quando a autora afirma que só será possível transformar o planejamento do turismo em
um processo mais participativo, responsável e sustentável, quando foram identificadas e
transformadas as representações hegemônicas que esses atores constroem sobre o
turismo e seu desenvolvimento.
Observou-se nos artigos estudados uma lacuna no que se refere ao papel dos
atores do setor público como produtores de representações sociais. Do ponto de vista
prático, questiona-se se as vozes produzidas na ampla literatura sobre representações
sociais da comunidade local são efetivamente levadas em consideração no planejamento
e gestão do turismo. A caracterização das representações hegemônicas apresentada por
Moscardo (2011) sugere que não. Complementarmente, nota-se que a figura do poder
público como sujeito representacional correspondeu à parcela ínfima do acervo
bibliográfico analisado neste artigo. Abordar as representações sociais desses agentes
sociais é importante, pois suas representações condicionam as ações políticas de
estímulo, fomento, planejamento e gestão do turismo. Se a compreensão de turismo e
planejamento está limitada aos interesses e ações de poucos agentes (frequentemente da
iniciativa privada), os benefícios do desenvolvimento igualmente se limitarão a poucos.
Por outro lado, este estudo também revelou que a teoria das representações
sociais não é incompatível com abordagens orientadas às práticas mercadológicas e
interesses relacionados aos aspectos organizacionais de empresas turísticas. No entanto,
deve-se levar em consideração as origens e implicações da teoria representacional de
modo a não incorrer em contradições epistêmicas, julgando representações como
inadequadas ou distorções da realidade.
Sugere-se uma agenda de pesquisa destinada ao atendimento das lacunas
identificadas, especialmente no que se refere ao emprego fundamentado da Teoria das
Representações Sociais, pois em vários estudos não há uma abordagem consistente que
faça jus à análise que a Teoria merece. Além disso, como o emprego de técnicas
projetivas mostrou-se fértil nos artigos revisados, incentiva-se que próximos trabalhos
ampliem e aprofundem o uso desse método advindo do campo da psicologia.
6 REFERÊNCIAS
ABRIC, J. C. Las representaciones sociales: aspectos teóricos. In: ABRIC, J.-C. (Org.).
Prácticas sociales y representaciones. Distrito Federal - México: Ediciones Coyoacán,
1994a. p. 11–32.
ABRIC, J. C. Metodología de recolección de las representaciones sociales. In: ABRIC,
J.-C. (Org.). Prácticas sociales y representaciones. Distrito Federal - México:
Coyoacán, Ediciones, 1994b. p. 53–74.
ALVES-MAZZOTTI, A. J. Representações sociais e educação: a qualidade da pesquisa
como meta política. In: OLIVEIRA, D. C. de; CAMPOS, P. H. F. (Org.).
Representações sociais: uma teoria sem fronteiras. Rio de Janeiro: Editora Museu da
República, 2005. p. 141–150.
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
108
ANDRIOTIS, K.; VAUGHAN, R. D. Urban residents’ attitudes toward tourism
development: The case of Crete. Journal of Travel Research, v. 42, n. 2, p. 172–185,
2003.
AQUINO, J. F.; ANDERECK, K. Volunteer tourists’ perceptions of their impacts on
marginalized communities. Journal of Sustainable Tourism, v. 26, n. 11, p. 1967–
1983, 2018.
ATZORI, R. et al. The Role of Social Representations in Shaping Tourist Responses to
Potential Climate Change Impacts: An Analysis of Florida’s Coastal Destinations.
Journal of Travel Research, v. 58, n. 8, p. 1373–1388, 2019.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
BRAUN, V.; CLARKE, V. Using thematic analysis in psychology. Qualitative
Research in Psychology, v. 3, n. 2, p. 77–101, 2006.
CARDOSO, C. A.; CARVALHO, E. M.; SILVA, L. F. Representações sociais dos
estudantes do ensino básico no desenvolvimento turístico na cidade de Bonito (MS).
Revista Brasileira de Ecoturismo, v. 7, n. 3, p. 602-617, ago./out. 2014.
COLLARES-DE-ROCHA, J. C. C.; WOLTER, R. P.; WACHELKE, J. As pesquisas
em representações sociais na revista Psicologia & Sociedade. Psicologia & Sociedade,
v. 28, n. 3, p. 582–588, 2016.
DE ROSA, A. S.; DRYJANSKA, L. Visiting Warsaw for the first time: imagined and
experienced urban places. International Journal of Culture, Tourism, and
Hospitality Research, v. 11, n. 3, p. 321–340, 2017.
DE ROSA, A. S.; BOCCI, E.; DRYJANSKA, L. The Generativity and Attractiveness of
Social Representations Theory from Multiple Paradigmatic Approaches in Various
Thematic Domains an Empirical Meta-theoretical Analysis on Big-data Sources from
the Specialised Repository “SoReCom ‘A.S. de Rosa’ @-lib. Papers of Social
Representations, v. 27, n. 1, p. 1–35, 2018.
DESLANDES, S. F.; IRIART, J. A. B. Usos teórico-metodológicos das pesquisas na
área de Ciências Sociais e Humanas em Saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 28, n.
12, p. 2380–2386, 2012.
DIAS, N. M. G. Patrimônio cultural e representações sociais do turismo em São Paulo,
Valéria (AM). Revista Brasileira de Ecoturismo, v. 11, n. 2, p. 206–220, 2018.
DICKINSON, J. E. et al. Awareness of Tourism Impacts on Climate Change and the
Implications for Travel Practice: A Polish Perspective. Journal of Travel Research, v.
52, n. 4, p. 506–519, 2013.
FAIÃO, A. M. P.; MARANHÃO, R. F. de A.; TORRES, R. de G.; BUENO, M. S.
Percepção dos colaboradores internos da prestação de serviços em restaurantes
institucionais. Revista Hospitalidade, v. 10, n. 2, p. 422-443, dez. 2013.
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
109
FARSARI, I. A structural approach to social representations of destination collaboration
in Idre, Sweden. Annals of Tourism Research, v. 71, p. 1–12, 2018.
FRATUCCI, A. C. A dimensão espacial nas políticas públicas brasileiras de
turismo: as possibilidades das redes regionais de turismo. 2008. Universidade Federal
Fluminense, 2008.
FRATUCCI, A. C.. Turismo e territórios: relações e complexidades. Caderno Virtual
de Turismo, v. 14, n. 1, p. 87–96, 2014.
FREDLINE, E.; FAULKNER, B. Host community reactions: A cluster analysis. Annals
of Tourism Research, v. 27, n. 3, p. 763–784, 2000.
GAZALLO, A. D. A.; ERTZOGUE, M. H. Barragem e turismo na representação dos
barqueiros atingidos pela UHE Estreito em Babaçulândia – Tocantins. Caderno Virtual
de Turismo, v. 19, n. 1, p. 1–13, 2019.
HORNG, J.-S.; LIAW, Y.-J. Can we enhance low-carbon tour intentions through
climate science or responsibility sharing information? Current Issues in Tourism, v.
21, n. 8, p. 877–901, 2018.
JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D.
(Org.). As representações sociais. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2001. p. 17–47.
JODELET, D. Social Representations: The Beautiful Invention. Journal for the
Theory of Social Behaviour, v. 38, n. 4, p. 411–430, 2008.
JOVCHELOVITCH, S. Os contextos do saber: representações, comunidade e cultura.
2. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
LEFEVRE, F.; LEFEVRE, A. M. C.; MARQUES, M. C. da C. Discurso do sujeito
coletivo, complexidade e auto-organização. Ciência & Saúde Coletiva, v. 14, n. 4, p.
1193–1204, 2009.
MACEDO-SILVA, W.; TCHAICKA, L.; SÁ-SILVA, J. R. Representações sociais e
percepção ambiental: a balneabilidade de praias de São Luís e São José de Ribamar,
Maranhão, Brasil. Rosa dos Ventos, v. 8, n. 4, p. 405–418, 2016.
MARKOVÁ, I. Dialogicidade e representações sociais. Petrópolis: Vozes, 2006.
MARTINS-SILVA, P. de O. et al. Teoria das representações sociais nos estudos
organizacionais no Brasil: análise bibliométrica de 2001 a 2014. Cadernos
EBAPE.BR, v. 14, n. 4, p. 891–919, 2016.
MENDONÇA, A. P.; REIS, N. B. Representações sociais sobre o turismo em Pirambu
(SE). Revista de Cultura e Turismo, v. 7, n. 3, p. 43–76, 2013.
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
110
MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14.
ed. São Paulo: Hucitec, 2014.
MONTERRUBIO, C. Hosts and guests’ social representations of nudism: A mutual
gaze approach. Annals of Tourism Research, v. 75, p. 18–28, 2019.
MOSCARDO, G. Exploring social representations of tourism planning: Issues for
governance. Journal of Sustainable Tourism, v. 19, n. 4–5, p. 423–436, 2011.
MOSCOVICI, S. Notes towards a description of social representations. European
Journal of Social Psychology, v. 18, p. 211–250, 1988.
MOSCOVICI, S. Psicanálise, sua imagem e seu público. 1. ed. Petrópolis: Editora
Vozes, 2012.
MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social. 8. ed.
Petrópolis: Vozes, 2011.
SÁ, C. P. de. Núcleo central das representações sociais. Petrópolis: Vozes, 2002.
SÁ, C. P. de. Representações sociais: o conceito e o estado atual da teoria. In: SPINK,
M. J. (Org.). O conhecimento do cotidiano nas representações sociais na perspectiva
da Psicol. Soc. São Paulo: Brasiliense, 1993.
SHAKEELA, A.; WEAVER, D. “Managed evils” of hedonistic tourism in the
Maldives: Islamic social representations and their mediation of local social exchange.
Annals of Tourism Research, v. 71, p. 13–24, 2018.
SIMONETTI, S. R. Turismo e o Patrimônio Imaterial da Vila de Paricatuba: ruínas que
guardam história. Turismo & Cidades, v. 1, n. 1, p. 85–106, 2019.
SPINK, M. J. O conceito de representação social na abordagem psicossocial. Cadernos
de Saúde Pública, v. 9, n. 3, p. 300–308, 1993.
STYLIDIS, D. Residents’ place image: a cluster analysis and its links to place
attachment and support for tourism. Journal of Sustainable Tourism, v. 26, n. 6, p.
1007–1026, 2018.
TASCI, A. D. A.; FYALL, A. D.; FU, X. Social representations of space travel:
Modeling the antecedents and outcomes. International Journal of Tourism Research,
2020.
VON DER HEIDT, T. et al. Airbnb in the Byron Shire, Australia – bane or blessing?
International Journal of Tourism Cities, v. 6, n. 1, p. 53–71, 2019.
WACHELKE, J.; WOLTER, R. Critérios de construção e relato da análise prototípica
para representações sociais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 27, n. 4, p. 521-526,
out./dez. 2011.
Eduardo Silva Sant’Anna, Erly Maria de Carvalho e Silva
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, v. 11, n. 2, p. 93-111, 2021.
http://www.seer.ufal.br/index.php/ritur
111
WASSLER, P. et al. Social representations and resident attitudes: A multiple-mixed-
method approach. Annals of Tourism Research, v. 78, 2019.
WASSLER, P. et al. You’re welcome? Hong Kong’s attitude towards the Individual
Visit Scheme. International Journal of Tourism Research, v. 20, n. 5, p. 637–649,
2018.
WEAVER, D. et al. Dark tourism, emotions, and postexperience visitor effects in a
sensitive geopolitical context: a Chinese case study. Journal of Travel Research, v. 57,
n. 6, p. 824–838, 2018.
Social representations under the radar of tourism research: a literature review (2011-
2020)
Abstract
The Theory of Social Representations has demonstrated, for some decades, its
comprehensive and explanatory potential of communicational and epistemic
phenomena, appearing in a consolidated way in several fields of knowledge. This
article aims to characterize the theoretical-empirical scientific production on social
representations in tourism journals from 2011 to 2020. For this, we have carried out a
literature review with consultation in the following databases Publicações do Turismo,
Scopus, and Web of Science. Of the 350 articles recovered, 55 survived the eligibility
criteria and made up the body of this analysis. After presenting an overview of the
bibliographic collection and the primary methodologies and analysis used in the
articles, we discuss the leading social groups and representational objects present in
the publications. Although nascent, social representations emerge as a promising
psychosocial analysis category for understanding and planning the phenomenon of
tourism. So, we suggest a research agenda, especially at the grounded use of the Theory
of Social Representations, that does justice to the analysis it deserves.
Keywords: Social representations. Methodology. Literature review. Attitudes. Opinion.
Artigo submetido em 05/03/2021. Artigo aceito em 23/10/2021.