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Liderança à luz do Cinema: a Análise de Filmes como Possibilidade de Desenvolvimento da Liderança

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A liderança é um dos pilares da Administração e uma das áreas de maior urgência por ser desenvolvida. Seus métodos de ensino-aprendizagem têm passado por modificações, após os desafios de adaptação do ensino para o formato não presencial, decorrentes das restrições impostas pela pandemia do Covid-19. Uma alternativa está no uso e análise de filmes como recurso para o ensino. Este estudo busca abordar como aprimorar o ensino-aprendizagem da liderança por meio do uso de filmes, especialmente no ensino não presencial. Para isso, é realizado uma revisão da literatura e um caso de ensino-aprendizagem de liderança com o uso de filmes é apresentado, para em seguida discutir metodologicamente a atividade. O caso em análise foi escolhido por ser aplicar o método movie club de Sprinkle e Urick (2016) para a realização da sessão interativa de cinema não presencial, realizada via Netflix - Teleparty. A busca de artigos da revisão foi realizada em três bases de dados obtendo 25 artigos. São analisadas redes de palavras-chave, artigos, autores, tipo de artigo (teórico ou empírico), journals, filmes analisados e métodos empregados. A percepção dos alunos sobre a atividade bem como principais resultados obtidos são apresentados. Em contexto de ensino não presencial, o método “Movie Club” permitiu uma aproximação e maior engajamento dos estudantes. Como o desenvolvimento da liderança no ambiente profissional envolve o emprego de diferentes métodos, a análise de filmes pode proporcionar a observação e a reflexão sobre a ação e conduta (virtudes) de líderes, a partir de diferentes contextos e culturas.
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XXIV SEMEAD
Seminários em Administração
novembro de 2021
ISSN 2177-3866
LIDERANÇA À LUZ DO CINEMA: A ANÁLISE DE FILMES COMO POSSIBILIDADE DE
DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA
MARIA CLARA FIGUEIREDO DALLA COSTA AMES
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA (UDESC)
MAURICIO CUSTÓDIO SERAFIM
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA (UDESC)
1
LIDERANÇA À LUZ DO CINEMA: A ANÁLISE DE FILMES COMO
POSSIBILIDADE DE DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA
1 INTRODUÇÃO
Os métodos de ensino-aprendizagem têm sido um recurso indispensável para a área de
Administração, especialmente a partir das mudanças do formato de ensino durante as restrições
sanitárias decorrentes da pandemia do Covid-19. Professores têm buscado inovar nos meios e
recursos para ensino, agora realizado em grande medida por meio de interação virtual online.
Uma das possibilidades é o uso de filmes como método de ensino (Mendonça & Guimarães,
2008), o que permite a discussão de temas como questões de poder (Sprinkle, & Urick, 2016),
jeitinho brasileiro (Moraes, Gomes, & Helal, 2016), interseccionalidade (Ferreira, Alves, Lins,
& Santos, 2020; Urick, & Sprinkle, 2018), tomada de decisão e questões éticas.
O ensino e a prática da liderança passaram a ser mais desafiadores desde que passamos
a adotar o ambiente virtual e o trabalho em homeoffice/teletrabalho, demandando diferentes
competências para alunos, professores e atuantes nas organizações que realizam processos de
liderança. algum tempo que as organizações têm percebido que a necessidade de
desenvolver futuros líderes nunca foi tão urgente (Elkington, Pearse, Moss, Steege, & Martin,
2017). Por essência, a Administração envolve a relação entre gerência, liderança e política, de
modo que a ação no âmbito organizacional pode ser exercida de forma virtuosa, do ponto de
vista ético, quando sua finalidade é o bem comum (Azevêdo & Grave, 2014).
A importância da liderança na Administração Pública, Empresarial e entre redes de
governança, têm se intensificado diante das necessidades das organizações, das equipes e para
a manutenção de instituições democráticas. Essa demanda se tornou mais complexa com o
trabalho remoto, como os desafios de comunicação, relacionamentos e de aprendizagem
coletiva. A percepção dessa rápida migração para o digital, vivenciada durante a pandemia e
que mostra suas limitações e possibilidades, têm deixado claro que o processo de liderança
também é realizado à distância e mediado por aplicativos de reunião, vídeo e áudio. Assim, há
uma preocupação atual em como aprimorar o processo de liderança por esses meios.
Simultaneamente, a graduação precisou se adaptar a essas novas realidades,
demandando adaptabilidade e criatividade, além de ótima comunicação entre professores e
alunos. As disciplinas de Liderança precisaram ser repensadas, os pressupostos sobre
aprendizagem e como ensinar-aprender liderança precisaram ser revistos, incluindo
questionamentos como: que tipo de conhecimento é a liderança? Como esse conhecimento pode
ser desenvolvido, vivenciado ou reconhecido durante a interação aluno-professor à distância?
(Kresse, & Watland, 2016) Quais estilos de aprendizagem serão mais ou menos requeridos dos
estudantes, nesse formato à distância? (Santos, & Moura, 2021) Quais métodos poderiam ser
adaptados para essa nova condição de ensino superior, de modo a possibilitar a reflexão sobre
a prática e competências de liderança?
Este artigo teórico-empírico busca apresentar e discutir uma proposta de ensino-
aprendizagem de liderança, criada para o curso de graduação em Administração Pública,
chamada Liderança à luz do Cinema. Constituindo-se de seminários em grupos em que os
alunos discutem a liderança a partir de um filme e apresentam aos colegas os temas
correlacionados, essa atividade foi sendo aprimorada na medida em que o ensino na graduação
foi adaptado para o formato não-presencial em 2020. Ainda assim, persistem perguntas e a
necessidade de avaliação de como esse e outros métodos podem contribuir para o ensino-
aprendizagem de liderança. A pergunta de partida deste estudo é: como aprimorar o processo
de ensino-aprendizagem da liderança por meio do uso de filmes, especialmente durante o
período pandêmico em que o ensino em Administração foi adaptado para o formato não
presencial?
2
Este estudo apresenta um caso de ensino-aprendizagem da liderança a partir da análise
de filmes, bem como discute suas limitações e possibilidades a partir de uma revisão da
literatura (Snyder, 2019) de artigos que relacionam a liderança e filmes/cinema.
Preliminarmente, a proposta gerou engajamento dos estudantes, bom nível de discussão sobre
temas de liderança e o fortalecimento da confiança entre estudante-professor. Adicionalmente,
foi possível testar o método de Movie Club (Urick, & Sprinkle, 2018) com interação não
presencial pela extensão Teleparty do Netflix. Este trabalho contribui para a discussão sobre
metodologias de ensino-aprendizagem de liderança, ao apresentar uma proposta que tem se
mostrado promissora para o ensino presencial e à distância no campo da Administração.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
As raízes mais antigas da discussão sobre a liderança e o seu papel podem remontar aos
pensadores gregos, no ocidente, e confucianos no oriente, adotando como exemplo de boa
política e sabedoria atores políticas de seu tempo. No setor público contemporâneo, a
capacidade de inovar das lideranças tem se intensificado, revelando a necessidade de
habilidades humanas dos líderes, ou seja, à capacidade de manter uma boa relação com os
membros do grupo. Além disso, para inovar no setor público brasileiro o líder não precisa,
necessariamente, dominar todos os conhecimentos técnicos das atividades desenvolvidas (e,
cada vez mais se tem valorizado competências relacionais e socioemocionais, como a
inteligência emocional (Goleman, 2011) e virtudes da liderança (Havard, 2011).
A compreensão sobre a liderança incita estudos e debates sobre os traços do líder, seu
comportamento, a relação líder-liderados, o estilo de liderança, e os aspectos situacionais e
contextuais envolvidos. A liderança pode ser o reflexo de estilos transacionais ou
transformacionais, relações mais autocráticas ou participativas, condutas marcadas pelo espírito
de servir e de ser autêntico (Bergamini; 1994; Robbins, 2005). A liderança é uma dimensão
essencial da Administração, enquanto processo humano e relacional coexistente com aspectos
gerenciais e políticos, a partir dos quais as ações se articulam para o alcance da excelência
(virtude) na consecução de bens humanos (Azevêdo & Grave, 2014).
Em seu estudo, passado um período em que a perspectiva do líder foi predominante,
novas abordagens sugerem um paradigma pós-heroico, em que o foco recai sobre o processo
de liderança, entendido como algo relacional, coletivo e participativo (Sobral e Furtado, 2019).
Nessa perspectiva, considera-se que a liderança surge a partir da interação entre líder e
liderados, nos relacionamentos pessoas e nas trocas sociais entre eles estabelecidas.
Sobral e Furtado (2019) abordam que, diante dessas novas demandas das organizações,
há alguns desafios no ensino de liderança na graduação. Eles apontam três principais: (1) um
currículo focado em hard skills, em detrimento das soft skills, tais como habilidades
interpessoais, inteligência emocional (Goleman, 2011), caráter e virtudes (Havard, 2011); (2)
domínio de abordagens prescritivas e carência de abordagens holísticas/ humanísticas no ensino
e formação de líderes; e (3) ausência de métodos ativos de ensino-aprendizagem, como
promover situações reais e ativas para a vivência da liderança. Sobral e Furtado (2019)
incentivam que as escolas de gestão e organização invistam em abordagens menos tradicionais
de ensino, focadas em metodologias ativas e baseadas na prática. O currículo de liderança, por
exemplo, poderia ser aprimorado por meio de experiências educativas que aumentem a
capacidade de imaginação moral dos estudantes (Werhane, 2006; Odom, Andenoro, Sandlin,
& Jones, 2015).
De todo modo, permanecem como atributos relevantes para identificar a liderança
aspectos inerentes ao seu caráter, como virtudes morais, entre elas a humildade. Considerando
a importância das relações interpessoais e da disposição do líder para o outro (Sobral & Furtado,
3
2019), a humildade se mostra como um hábito essencial da liderança. Segundo Havard (2011,
p. 49):
A humildade cresce como uma semente posta no mais profundo do
coração. Desenvolve-se mediante o exercício da vontade e floresce finalmente
quando o líder põe em prática os três grandes princípios que hão de nortear a sua
relação com as pessoas que dirige na sua empresa: a inclusão, a colegialidade e a
continuidade (Havard, 2011, p. 49).
A inclusão pressupõe a humildade para governar, agregando enquanto membro
contribuidor os demais envolvidos; a colegialidade corresponde ao reconhecimento do valor da
decisão compartilhada e a continuidade reflete na preparação de novos líderes, contribuindo
para promover a organização e não a si próprio.
O ensino-aprendizagem da liderança é um tópico de grande interesse em várias áreas do
saber. Em uma busca na base Web of Science com os termos “leadership” AND “teaching”
OR “learning”, somente no Abstract, foram encontrados 8.517 registros. Desses, 985 eram da
área de Management e 103 da área de Administração Pública.i Uma forma mais específica de
abordar tal interesse é considerar os estudos sobre o desenvolvimento de lideranças, algo de
interesse acadêmico e prático.
Entre os recursos articulados aos métodos de ensino-aprendizagem em Administração,
os filmes têm se mostrado um material recorrente (Mendonças & Guimarães, 2008; Ferreira et
al., 2020). Em liderança têm sido usados para discutir diversos temas, tais como tomadas de
decisões, como em Margin Call, analisado por Rocchi, Ferrero e Mcnulty (2017). Relacionado
à cultura brasileira, os filmes Tropas de Elite 1 e 2 foram utilizados para o estudo do jeitinho
(Moraes et al., 2016), entre outros filmes que notadamente discutem as relações de trabalho e
estilos de liderança (Ferreira et al., 2020). Além dos métodos empregados para o ensino-
aprendizagem ao longo do ensino superior, futuros administradores podem receber a
capacitação necessária enquanto participantes de programas de Desenvolvimento de
Lideranças, oferecidos por organizações.
2.1 O desenvolvimento de lideranças
De acordo com as percepções dos especialistas em Desenvolvimento de Liderança (DL),
quatro dimensões de uma estratégia eficaz de desenvolvimento de liderança (Elkington et
al., 2017). Elas foram reunidas em quatro grandes temas, denominados como: capital
contextual, capital humano, capital social e capital estrutural, todos considerados por
especialistas em DL como sendo centrais para o desenvolvimento da liderança coletiva.
Segundo Elkington et al. (2017), há uma diferença entre o desenvolvimento de líderes, que se
concentra no capital humano, e o desenvolvimento de lideranças, que se concentra no capital
social dentro de uma organização. O desenvolvimento de líderes procura aumentar a capacidade
de liderança de um indivíduo, aumentando a autoconsciência, autorregulação e automotivação
de um indivíduo. O desenvolvimento de liderança, por outro lado, procura promover uma
cultura organizacional na qual os processos e a emergência de liderança são fomentados e
apoiados e na qual a liderança pode emergir de lugares surpreendentes em circunstâncias
inusitadas.
O desenvolvimento de liderança tem sido definido como a aquisição dos conhecimentos,
habilidades e a adoção de comportamentos para exercer a liderança. Na discussão sobre a
análise da eficácia da mentoria para o desenvolvimento de liderança, Grocutt, Gulseren,
Weatherhead e Turner (2020) sugerem que informação, demonstração e prática das habilidades
e comportamentos de liderança são fundamentais. Os programas de desenvolvimento de
liderança bem-sucedidos fornecem informações sobre liderança, incluindo diferentes
habilidades, demonstram habilidades e comportamentos positivos e permitem que os
4
participantes pratiquem então essas habilidades e comportamentos. Sugerem que os
participantes precisam praticar a incorporação de novos conhecimentos e comportamentos em
seu dia a dia e devem refletir ativamente sobre este processo, o que se construiria a partir de
uma boa relação entre mentor e mentorado (Grocutt et al., 2020).
A Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) tem promovido desde 2016 um
Programa para Desenvolvimento de Lideranças baseado no design, a partir da abordagem de
Michael Barzelay. Descrito brevemente, tal abordagem se caracteriza como um método
estruturado de resolução de problemas: enunciar o problema, modelar uma solução, planejar
sua realização, realizá-la e avaliá-la. Consideram como pontos positivos do programa a
transferência de aprendizados, a construção de redes, a capacidade de estruturar problemas
complexos e desenvolver soluções colaborativas. Em tais experiências, foram aplicados os
métodos de aprendizagem baseada em problemas reais, design thinking, sala de aula invertida,
estudos de caso, role-playing, visual thinking e mentoria (Barzelay, Martins, Vilela, & Marques,
2019).
Programas de desenvolvimento de liderança feminina poderiam contribuir na
construção de relacionamentos e de confiança, tendo como base a perspectiva da liderança
autência (Selzer, Howton, & Wallace, 2017). Segundo esse estudo autoetnográfico em um
programa de DL exclusivamente para mulheres:
A fim de efetivamente desenvolver mulheres líderes, o trabalho deve ser feito nos
níveis pessoal, interpessoal e organizacional; e que todos esses níveis estejam inter-
relacionados e interdependentes. Dentro destas áreas de desenvolvimento, oito temas
emergentes subiram à superfície. A nível pessoal, (1) vulnerabilidade, (2) espaço
estruturado para reflexão, e (3) ser visto e ouvido; no nível interpessoal, (4)
interseccionalidade, (5) apoio da comunidade para a vulnerabilidade e (6) o trabalho
em rede; e, no nível institucional, (7) o cultivo de autêntica liderança e (8) mudança
de cultura [...]. Em suma, o desenvolvimento da liderança feminina começa com a
reflexão pessoal, envolve o envolvimento com outros no trabalho de identidade, e
necessita de apoio estrutural e institucional. (Selzer et al., 2017, p. 8).
Um aspecto envolvendo programas de desenvolvimento de lideranças e discutido por
Diochon e Nizet (2019) é o contexto de implementação de tais programas, muitas vezes
afetados pelas dinâmicas de poder. Os autores discutem que muitas abordagens de coaching,
por exemplo, em programas formais e estruturados, acabam por negligenciar as características
contextuais de uma organização ou setor específicos, alegando que os programas de coaching
são muito similares em conteúdo e métodos, mesmo entre diferentes organizações. Tendem,
também, segundo Diochon e Nizet (2019) a focar nas competências individuais e não coletivas,
em modelos padronizados e formalizados de forma centralizada, levantando questões
importantes para se pensar o melhor método e conteúdo para desenvolver lideranças. Assim,
apontam para a necessidade de melhor considerar os aspectos contextuais internos e externos
para a elaboração de programas de desenvolvimento de lideranças, bem como processos de
escolhas e de relações de poder mais participativas.
Além dos aspectos contextuais, Vince e Pedler (2018) defendem a consideração dos
resultados não intencionais e contraditórios para o aprimoramento da liderança. Ajudar os
líderes a engajar-se com contradições é tão importante quanto desenvolver suas capacidades
positivas. Um foco em contradições da liderança poderia ajudar a resolver as limitações
emocionais e políticas que programas podem impor ao aprendizado.
Como procurou-se brevemente apontar, diferentes métodos e conteúdos a serem
pensados para o desenvolvimento de líderes e da liderança. Eles vão depender do contexto de
atuação, dos aspectos identitários envolvidos, e dos objetivos das experiências metodológicas,
tais como a construção de relacionamentos e de redes ou ainda o fortalecimento de
competências e virtudes de liderança.
5
3 METODOLOGIA
Acerca dos procedimentos metodológicos, este estudo se organiza a partir de três etapas
envolvendo o estudo de uma experiência de aprendizagem de liderança com o uso de filmes do
cinema, seguidas de uma revisão da literatura e, finalmente, discutindo a atividade descrita a
partir da base literária reunida.
Na primeira etapa, de abordagem qualitativa, conduz um estudo de caso sobre a
experiência do uso de filmes em uma disciplina de Desenvolvimento de Lideranças, conduzida
entre novembro de 2020 e abril de 2021, em regime de ensino não presencial. Adotando uma
abordagem inspirada no estudo de caso (Stake, 2010), ou seja, o caso do projeto Liderança à
luz do Cinema na disciplina de Desenvolvimento de Lideranças, são descritos os
procedimentos de como a atividade foi conduzida, realizada e avaliada, na perspectiva do
professor e dos estudantes. Tal atividade adiciona à proposta de movie club de Sprinkle e Urick
(2015) a realização da sessão interativa de cinema não presencial, realizada via extensão
Teleparty do streaming da Netflix, fator que motivou a análise mais aprofundada sobre o
método empregado.
As técnicas de coleta envolveram pesquisa documental sobre a atividade Liderança à
luz do Cinema, realizada entre novembro de 2020 e março de 2021, disponibilizadas aos
estudantes da disciplina de Desenvolvimento de Lideranças, do curso de graduação em
Administração Pública de uma universidade pública do Sul do país; questionário de avaliação
da disciplina ao final do semestre, respondido pelos estudantes; e a percepção qualificada do
professor que conduziu a atividade.
Numa segunda etapa, com o objetivo de explorar a produção acadêmica de artigos que
relacionam liderança e análise de filmes, realizou-se uma revisão da literatura de artigos que
articulam filmes ao desenvolvimento de liderança e de suas práticas de ensino-aprendizagem.
Iniciou-se por buscas exploratórias no final de 2020 e início de 2021, no Google Acadêmico,
com a qual foram selecionados nove artigos que poderiam contribuir. Em julho de 2021, fez-se
uma busca sistemática nas bases Spell e Scielo, a partir do query de busca ((“leadership”) AND
(“film” OR “movie*”)), mas sem resultados. Em seguida, foi realizada a busca na base de dados
Web of Science (coleção completa da Clarivate Analytics), considerando os seguintes critérios
de elegibilidade (filtros de seleção):
Fonte: Web of Science, Clarivate Analytics;
Query: AB=((("leadership") AND ("film" OR "movie*")));
Tipo: artigos;
Idioma: inglês, português ou espanhol;
Período: sem recorte temporal.
Com isso, chegou-se ao número de 131 artigos, publicados em múltiplas áreas de
conhecimento. Para uma seleção de artigos mais aderentes à área de Administração ou
Administração Pública, foram selecionados artigos apenas das áreas/categorias assim
classificadas na Web of Science: Management, Business, Social Science Interdisciplinary,
Humanities Multidisciplinary, Psychology applied, Women Studies, Political Science,
Psychology social, Public Administration, Psychology Developmental, apresentadas em ordem
da maior para a menor em número de artigos. Isso totalizou 48 artigos.
Esses 48 artigos passaram por um processo de seleção, com a leitura de títulos, resumo,
palavras-chave e nome das revistas. Artigos que analisaram a indústria cinematográfica em si
foram retirados da amostra, além de outros que não propunham a análise de filmes para o
ensino. Após essa leitura, o número de artigos selecionados reduziu-se para 17 artigos, sendo
que não se teve acesso ao texto completo de apenas um artigo, restando então 16 artigos.
6
Somados aos nove artigos iniciais, chegou-se a uma amostra de 25 artigos. As
referências encontradas foram organizadas no Mendeley e uma matriz de análise foi estruturada
no Excel, para análise dos seguintes dados: autores, ano de publicação, revista, título, palavras-
chave, tipo do artigo (teórico ou empírico), filme(s) sugerido ou analisado e método
sugerido/empregado.
Na terceira e última etapa, as contribuições metodológicas apontadas pela amostra de
artigos são consideradas para discutir a atividade em análise, considerando limitações e
possibilidades de aprimoramentos para futuras propostas de desenvolvimento de lideranças.
Para a apresentação dos resultados, primeiro são abordados os resultados provenientes
da revisão da literatura. A análise de palavras-chave, por exemplo, apoiou-se no programa
VoSViewer para criar um mapa ou network de palavras-chave. Na sequência, descreve-se o
caso da atividade Liderança à Luz do Cinema. Ao final, discute-se a atividade a partir das
contribuições da revisão da literatura.
4 RESULTADOS
4.1 Resultados da revisão da literatura
Os artigos integrantes da amostra revelam um caráter difuso na publicação de artigos
que analisam ou relatam a aplicação da análise fílmica como método de ensino. A seguir,
descrevemos as características básica dessa amostra de artigo, iniciando pelas palavras-chave,
journals, tipo de artigo, e filmes em análise, para então apresentar métodos empregados.
Figura 1: Network de palavras
Fonte: elaborado pelos autores.
Analisando as palavras-chave de maior ocorrência na Figura 1, percebe-se que além de
tópicos esperados, como liderança e filmes, aparecem elementos como: gestão de crises, gênero,
personalidade, psicopatia corporativa e análise cinemática. A discussão de gênero está
relacionada aos trabalhos que abordam a liderança feminina (Neville & Anastasio, 2019;
Thompson, 2020) ou ainda que discutem questões como diversidade de gênero (Urick &
Sprinkle, 2019) e interseccionalidade (Ferreira et al., 2020).
7
Como detalhado a seguir, uma variedade de filmes e propostas metodológicas,
praticamente sem a reincidência de um mesmo filme entre os estudos reunidos. A Tabela 1 lista
os 25 artigos encontrados com a revisão da literatura, ordenados segundo o ano de publicação.
Entre eles, apenas dois foram publicados em língua portuguesa, embora alguns autores
brasileiros tenham optado pela publicação em inglês (Moraes, Gomes, & Helal, 2016; Aoki &
Santos, 2020).
Considerando as revistas científicas de publicação, uma variedade de 21 jornais, com
maior número de artigos no Leadership Quarterly (n=3), Management Teaching Review (n=2)
e Business Horizons (n=2).
Os filmes citados em tais estudos formam uma cartela variada de opções, com filmes de
animação, filmes antigos e outros contemporâneos, tais como: Doze homens e uma Sentença
(Hackley, 2007), O Poderoso Chefão (Kidwell, Eddleston, Cater, & Kellermanns, 2013; Warner
& Riggio, 2012), Tropa de Elite I e II (Moraes, Gomes, & Helal, 2016), Margin Call (Rocchi,
Ferrero, & McNulty, 2016), Sniper Americano (Wedlock, 2016), O Hobbit: uma jornada
inesperada (Sprinkle & Urick, 2016), a série House of Cards (Palmen, Derksen, & Kolthoff,
2018), Mulher Maravilha (Urick & Sprinkle, 2019), Amor sem escalas, O Diabo Veste Prada e
Um Senhor Estagiário (Ferreira et al., 2019), A Fuga das Galinhas (Aoki & Santos, 2020), Day
of the Dead (Buchanan & Hallgren, 2018), Estrelas Além do Tempo (Thompson, 2020) e Robin
Hood (Bartlett, Jang, Feng, & Aderibigbe, 2021).
Tabela 1
Artigos sobre liderança a partir da análise de filmes
Nr.
Autor (ano)
Journal
Título
1
Hackley (2007)
Negotiation Journal
2
Warner (2007)
Leadership Quarterly
3
Mendonça e
Guimarães
(2008)
Cadernos. Ebape.BR
4
Islam (2009)
Leadership Quarterly
5
Riad (2011)
Leadership Quarterly
6
Warner e
Riggio (2012)
Leadership
7
Kidwell et al.
(2013)
Business Horizons
8
Rapp et al.
(2015)
Business Horizons
9
Turner (2015)
Journal of Gender
Studies
10
Sprinkle e
Ulrick (2016)
Management
Teaching Review
11
Kresse e
Watland (2016)
Journal of Learning
in Hihgher education
12
Moraes,
Gomes e Helal
(2016)
RAM - Revista de
Adm. Mackenzie
8
13
Rocchi, Ferrero
e Mcnulty
(2016)
Academy of
Management
Proceedings
14
Wedlock
(2016)
COGENT ARTS &
HUMANITIES
15
Palmen et al.
(2018)
Public Integrity
16
Shuman (2018)
Historical Social
Research
17
Winther (2018)
International Journal
of Qualitatives
Methods
18
Urick e
Sprinkle (2019)
Management
teaching review
19
Ferreira et al.
(2019)
Revista Eletrônica de
Administração
20
Buchanan e
Hallgren
(2019)
Management
Learning
21
Neville and
Anastasio
(2019)
Sex Roles
22
Aoki e Santos
(2020)
Revista de Gestão
23
Niemec (2020)
Journal of Clinical
Psychology
24
Thompson
(2020)
Feminist Media
Studies
25
Bartlett et al.
(2021)
Human Resource
Development
International
Fonte: elaborado pelos autores.
A maioria dos artigos em análise são empíricos (n=22) e apenas três são teóricos. Os estudos
seguiram abordagens qualitativas e descritivas em sua maioria, aplicando métodos e abordando
elementos teóricos de teorias de liderança. Cabe destacar que os artigos podem ser organizados
em dois grupos:
Análise do filme (cinemática ou fílmica), relacionando-o com tópicos sobre liderança:
filmes como artefatos culturais que transmitem uma imagem de liderança (Bartlett et
al., 2021); liderança em contextos extremos e de crises (Buchanan & Hallgren, 2019);
jeitinho brasileiro (Moraes, Gomes, & Helal, 2016); mitos de liderança em animações
(Islam, 2009); Kidwell et al. (2013), Warner (2007), Riad (2011), Rapp et al. (2015),
Turner (2015); decisão ética (prudência) em finanças (Rocchi, Ferrero, & McNulty,
2016); abordagens de liderança (Wedlock, 2016); psicopatia e liderança (Palmen et al.,
2018), marcadores sociais e representações de liderança (Ferreira et al., 2019); e
liderança feminina (Thompson, 2020).
Artigos que relatam o uso de filmes como método de ensino-aprendizagem: Hackley
(2007), Mendonça e Guimarães (2008), Urick e Sprinkle (2015), Kresse e Watland
(2007), Sprinkle e Urick (2018).
9
Ambos os grupos de artigos permitem reunir procedimentos metodológicos que podem
aprimorar o uso de filmes como ferramentas pedagógicas no ensino de liderança. Considerando
a análise narrativa de mitos e folclore, elementos abordados por Islam (2009) e Bartlett et al.
(2021), percebe-se que o gênero narrativo presente na cultura popular pode ser abordado,
conforme afirma Islam (2009), por abordagens complementares, como o estruturalismo,
estudando o filme como um mito, e a psicanálise como uma fantasia. Na análise cinemática de
Bartlett et al. (2021) opta-se por abordar o dramatismo e a estratégia da grounded theory para
pesquisa.
Outros estudos assumem como enfoque questões pragmáticas e éticas da liderança
(Warner & Riggio, 2012), como a tomada de decisão (Rocchi et al., 2016), neste caso específico
a análise da decisão e do contexto decisório, considerando como elementos analíticos: a trama,
o caráter e o diálogo dos personagens centrais à luz da virtude da prudência.
Outra possibilidade envolve considerar características do comportamento do líder a
partir da narrativa de heróis dos quadrinhos e do cinema, abordando aspectos como empatia
(Super homem), humildade (Homem-Aranha), habilidade para expandir fronteiras (Thor),
cultivar trabalho em equipe (Quarteto Fantástico), integridade (Capitão América), valorizar os
outros (prof. Xavier, X-Men), buscar novos talentos (Magneto) (Rapp et al., 2015). Os autores
propõem considerar: o problema, características da liderança para resolvê-lo e uma narrativa
para ilustrar.
Propostas alternativas podem ser o método de “movie club” para discussão do tópico do
filme fora do horário de aula e a gamificação, segundo Sprinkle & Urick (2016). Eles estruturam
uma sessão de “clube do cinema” sugerindo: fundamentos teóricos prévios e indicação de
leitura; a obra/filme a ser analisado; estilo de liderança e tópicos relacionados; questões sobre
o filme e sobre os personagens (Sprinkle & Urick, 2016).
Descrevendo procedimentos práticos, Kresse e Watland (2016) sugerem identificar
práticas-chave de liderança em filmes, para que o aluno tenha exemplos visuais do
comportamento; envolve apresentação do aluno, desafios da liderança que considera haver etc.;
e Uma noite de filmespara assistir e depois um momento de discussão. Urick e Sprinkle
(2019) também se apoiam na seleção de temas e cenas, indicando os minutos de início e fim de
cada uma.
Moraes, Gomes e Helal (2016) empregam uma metodologia reflexiva de observação
indireta, considerando temas e categorias prévias e assistindo várias vezes aos filmes, para
conduzir seu estudo sobre o jeitinho brasileiro, o que poderia adaptado na forma de orientações
para estudantes da graduação.
Em termos de elementos e abordagens analíticas, Buchanan e Hallgren (2019) partem
da teoria da ficção científica social, adotando uma abordagem analítica formada por quatro
etapas: (1) familiarização com o filme, o elenco e a narrativa, fazendo anotações provisórias;
(2) retorno à teoria; (3) análise a partir de um escalonamento temporal, para estruturar a
descrição dos eventos; (4) microanálise estruturada da cena. Sugerem as categorias: datas,
sujeitos e lugares.
Finalmente, para questões envolvendo questões étnico-raciais, de gênero e suas
conexões com a liderança, Thompson (2020) considera o contexto histórico dramatizado no
filme para entender o seu significado e adota abordagens combinadas com uso de filmes e
livros, pois nas adaptações livro-filme podem ocorrer reinterpretações.
4.2 Apresentação do caso: Liderança à Luz do Cinema
A atividade Liderança à luz do Cinema tem sido empregada desde meados de 2019,
sendo adaptada para o ensino não presencial nos últimos semestres, no âmbito do curso de
graduação em Administração Pública. Ela integra o sistema de avaliação da disciplina
10
Desenvolvimento de Lideranças, ofertadas às turmas que cursam o oitavo semestre da
graduação. Integram seu conteúdo programático as abordagens comportamentais da liderança,
estilos de aprendizagem, estilos de liderança, inteligência emocional, liderança ética, virtudes
da liderança, cultura e liderança, entre outros temas complementares.
A Figura 1 apresenta as orientações gerais repassadas aos estudantes.
Figura 1: Orientações básicas da atividade repassadas aos estudantes
Seminários: Liderança à luz do Cinema
O cinema nos oferece inúmeras obras, ficcionais ou
baseadas em histórias reais, que nos permitem melhor
compreender a liderança. Os desafios dos líderes, o que
e como fizeram, os impactos de suas ações, muitos são
os elementos da liderança retratados pela sétima arte.
1. O objetivo da realização desses seminários é
promover a reflexão dos estudantes sobre temas
relacionados à liderança por meio do
estudo/(re)interpretação de obras cinematográficas.
1.1 Objetivos de aprendizagem:
- Aprimorar conhecimentos, habilidades e atitudes por
meio do trabalho em equipe;
- Estimular a reflexão crítica e a criatividade coletiva
dos estudantes;
- Reconhecer e discutir os elementos relacionados à liderança: traços pessoais, como personalidade, inteligência
emocional, comportamento e caráter; relação líder-liderados, aspectos contextuais e/ou situacionais, aspectos
culturais, estilos de liderança, o processo de liderança, bem como os elementos do poder, autoridade, confiança
e política.
2. DOS SEMINÁRIOS
Liderança à luz do Cinema é uma proposta pedagógica que visa promover a reflexão e o debate sobre temas
relacionados à liderança, a partir de um filme escolhido e analisado pelos estudantes. Equipes serão formadas
para a preparação e apresentação dos seminários.
3. SOBRE OS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
O projeto em questão participa do sistema de avaliação da disciplina. A avaliação vai considerar:
- Participação dos alunos ouvintes ao longo das apresentações, os quais deverão fazer relatórios de cada dia
de apresentação, com comentários sobre as apresentações: características, comportamento e decisões da
liderança abordados. Análise do trabalho apresentado.
- Apresentação do seminário pelas equipes, construído a partir da relação do filme com o tema de Liderança;
- Criatividade para a apresentação dos trabalhos, coerência e relevância do filme aos aspectos de liderança;
- Trabalho em equipe e liderança ao longo da preparação e apresentação dos seminários;
- Participação dos estudantes no processo de avaliação;
Recomenda-se que os grupos organizem reuniões online para analisar o filme e estruturar o formato da
apresentação do seminário.
A professora ficará à disposição para conversas e reuniões com os grupos para tratar dos assuntos relacionados
ao seminário.
4. O QUE AS EQUIPES FARÃO
1. Discutir sobre possíveis filmes. Planejar os objetivos e trabalho.
2. Informar à professora e aos demais colegas qual foi o filme escolhido.
3. Criar e apresentar um seminário, construindo uma relação filme-teoria pertinente e de relevância para o
entendimento da liderança, especialmente no contexto da Administração Pública.
4. Elaborar e entregar um paper sobre a análise do filme escolhido e aspectos mais relevantes associados às
teorias relacionadas à liderança.
5. DATAS DE APRESENTAÇÃO DOS SEMINÁRIOS: definido com a turma
6. DAS APRESENTAÇÕES:
As equipes podem inovar nas apresentações, ficando à cargo do grupo decidir como fazê-las. As equipes
contarão com no máximo 30 minutos para apresentação, a depender do mero de equipes formadas
(preferencialmente com cinco membros).
11
7. Bibliografia sobre o uso de filmes para o ensino-aprendizagem.
MENDONÇA; GUIMARÃES. Do quadro aos "quadros": o uso de filmes como recurso didático no ensino de
administração. Cadernos EBAPE.BR, agosto, 2008, 1-21. Disponível em:
https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=323228071003
8. Bibliografia de Liderança
Além das referências contidas no Plano de Ensino da disciplina, as equipes podem buscar por referências para
sustentar seu estudo e preparação em bases de dados como no Scielo, Spell, Google Acadêmico, entre outras.
Fonte: elaborado pelos autores.
O cronograma de apresentação dos seminários foi decidido de forma colegiada em sala.
A proposta de assistir conjuntamente a alguns dos filmes surgiu a partir do conhecimento da
ferramenta Netflix Teleparty, por meio da qual é possível assistir filmes online simultaneamente
e interagindo por meio de chat, o que permitiu organizar três sessões “movie club” à distância.
Em data e hora definida pelos alunos, foram assistidos três filmes entre os listados na Figura 2.
A Figura 2 apresenta uma síntese de seis filmes analisados pelos grupos, bem como os temas
que eles optaram por discutir a partir dos filmes.
Figura 2: Filmes e temas definidos pelos estudantes
Filme
Temas
Síntese da análise realizada pelos estudantes
Karatê Kid
(1984)
Liderança e mentoria
Virtudes do caráter
Liderança autocrática e
democrática
Apesar das divergências, não há um perfil de liderança mais
correto do que o outro. Olhar pela ótica das virtudes, modelos de
liderança e outras características (como cultura, por exemplo),
auxiliam o líder a entender a forma mais adequada de fazer com
que sua equipe alcance os melhores resultados.
Estrelas além
do Tempo
(2016)
Liderança feminina
Questões de gênero e
diversidade, racismo
Foi possível perceber os conflitos de gênero e raça, que as
protagonistas tiveram que superar para alcançar seus objetivos.
Por serem mulheres e negras, elas foram tratadas de formas
discriminatórias e limitadas quanto aos cargos de liderança que
poderiam almejar. Desta forma, extrai-se que o filme pode ter um
resultado inspiratório e despertar interesses na liderança
feminina.
O Homem
que mudou o
jogo (2011)
Tomada de decisão
Resolução de
problemas
Liderança técnica
O filme apresenta os obstáculos que muitos líderes enfrentam por
estarem contra a opinião de uma maioria - desconstruindo a
cultura, além de apresentar diferentes tipos de liderança em
diferentes cenários; a liderança deve ser flexível e deve buscar
construir alianças.
O Diabo
Veste Prada
(2006)
Liderança autocrática
Relação líder-liderados
O líder não deve se concentrar apenas em alcançar resultados,
mas sim em desenvolver um ambiente de trabalho saudável e
crescimento colaborativo; o modelo autoritário de liderança não
é positivo para a inovação e desenvolvimento dos colaboradores;
este modelo entrega resultados, infelizmente, com um preço muito
alto: integridade; a cultura organizacional possui o poder de
propagar comportamentos e a manutenção de práticas
consideradas abusivas;
Um Senhor
Estagiário
(2015)
Estilos de liderança
O modo de agir dos líderes varia de acordo com seu nível de
autoestima; o foco do filme se dá na pressão feita pelos
investidores da empresa de que a protagonista não seria capaz de
administrar sua empresa e lidar com esse crescimento das vendas
sem deixar de lado seu jeito ímpar de liderar. Com o apoio e
empatia de seu estagiário, ela compreende que está no seu lugar,
motivando a equipe e buscando sempre ser melhor.
Sérgio (2020)
Inteligência emocional
e humildade
A forma de lidar com conflitos internacionais através da paz e do
diálogo; a forma de lidar com as situações de forma humilde
demonstra nobreza em suas atitudes e inspira novas pessoas a
12
agirem a trabalharem como ele, gerando novos líderes; lidar com
conflitos em sua jornada de forma ética, com carisma;
Fonte: elaborado pelos autores.
Avaliação da disciplina e das atividades desenvolvidas em torno do projeto Liderança à
luz do Cinema, permitiu reunir a percepção dos alunos da disciplina, quando perguntamos sobre
sugestões, ao final do semestre.
(Opcional):Uma contribuição final: com base em sua experiência nesse semestre,
como podemos melhorar a Disciplina de Desenvolvimento de Lideranças nesse
contexto de ensino remoto? Desde agradeço aos feedbacks. [pergunta
disponibilizada pelo moodle pela professora].
Os alunos responderam fazendo sugestões, destacando pontos positivos e pontos que
podem ser melhorados, conforme Figura 3. Entre as sugestões para o próximo semestre,
sugeriu-se planejar a entrega do trabalho escrita antes da data de apresentação dos trabalhos,
em uma data na metade do semestre. Outra sugestão, foi buscar discutir experiências práticas
de liderança a partir do contexto local, com a participação de convidados via encontros online,
por exemplo.
Figura 3: Comentários de alunos sobre a disciplina de Desenvolvimento de Lideranças
Cód.
Comentários
E1
E achei muito interessante a proposta do cinema como forma de trabalho, porque juntamos o momento
de lazer ao aprendizado, e analisamos através dos filmes os tipos de liderança. Com certeza foi um
alívio fazer desse estilo o trabalho, principalmente por causa do momento que estamos vivendo, e talvez
se o modelo do trabalho fosse outro, não teria tido um efeito tão positivo quanto esse. Foi uma ótima
ideia [E1]
E2
As aulas foram muito proveitosas e agradáveis de assistir! Acredito que as atividades foram muito leves
e muito ricas. Eu particularmente gosto de aulas que trazem vídeos, convidados, TED Talks,
documentários, filmes, seriados... Penso que enriquece o conteúdo, aproxima os alunos e torna mais
“simples” de fazer paralelos e associações [E2]
E3
A disciplina de Desenvolvimento de Lideranças foi uma das minhas favoritas no curso. Para mim, o
seminário foi o trabalho mais motivador do semestre porque pudemos relacionar teoria e prática dentro
de um contexto do nosso interesse e, como os alunos têm interesses diferentes, os resultados diversos
engajaram a turma a assistir as apresentações dos colegas. Também não poderia deixar de agradecer
a preocupação em transmitir os conteúdos de maneira interessante, dividindo a aula em partes síncrona
e assíncrona para otimizar a absorção do conteúdo e propondo dinâmicas diferentes, como o movie
club (que adorei participar). [E3]
E4
A Disciplina no geral foi bem positiva, a oitava fase acaba tendo esse momento delicado do TCC, então
acho que a cobrança da matéria foi na medida certa, respeitando os limites do momento de pandemia
e dos estresses do TCC. Gostei bastante da atividade dos filmes, acho legal manter para as próximas
turmas! Foi um momento no qual consegui revisar muito bem o conteúdo do semestre [E4]
E5
Professora, eu achei o formato da matéria bem satisfatório e gostei bastante da temática e a forma que
foi repassado o conhecimento. Realmente adorei assistir os filmes no Teleparty, e acredito que
dinâmicas assim transformam a aprendizagem [E5]
E6
As aulas da disciplina foram bem dinâmicas, inclusive adorei o fato de aplicar os aprendizados em um
determinado filme e de conhecer novos filmes e percepções a partir dos trabalhos dos demais colegas.
As “sessões de cinema” foram uma ideia ímpar, inovando na maneira de se relacionar com os alunos
[E6]
Fonte: elaborado pelos autores.
13
De forma geral, as considerações dos alunos foram positivas, considerando que a
atividade foi sendo adaptada ao longo do semestre conforme a situação de ensino não presencial
em virtude da pandemia.
4.3 Discussão
As possibilidades de ensino-aprendizagem reunidas a partir dos artigos destaca que a
análise de filmes pode contribuir para observar traços e comportamentos de liderança, bem
como refinar a análise do contexto e circunstâncias de atuação (inclusive em contextos de crise),
refletir sobre decisões e questões éticas, compreender questões culturais e de gênero, reconhecer
o papel de lideranças femininas e seus desafios. Por outro lado, permanecem como aspectos a
serem abordados a possibilidade de o uso de filmes contribuir para a imaginação moral, e temas
que podem ser propostos para discussão a partir dos filmes, tais como diversidade cultural,
relações entre gerações, aprofundar estudos sobre a influência dos aspectos contextuais e do
âmbito local que necessitam ser considerados para o desenvolvimento de lideranças.
A atividade Liderança à Luz do Cinema permitiu que os grupos de estudantes
escolhessem o filme e os temas possíveis de discussão a partir deles, algo que reforçou a sua
autonomia decisória e a expressão de valores e preocupações genuínas. Por outro lado, os
procedimentos de análise não foram pormenorizados nas orientações da atividade, resultando
em um resultado mais elástico entre o desempenho de uns grupos e de outros. Os artigos
revisados ofereceram elementos e categorias analíticas que podem ser considerados para
estruturar melhor a atividade, cabendo ao professor ou instrutor saber definir a medida certa de
tais orientações, de modo a não restringir a análise e reflexão dos participantes.
A título de exemplo, podemos destacar: a seleção de cenas; os elementos trama, datas,
caráter e diálogo dos personagens; a discussão sobre decisões tomadas; focalizar um problema,
características comportamentais que podem solucioná-lo e narrativas ilustrativas; a combinação
da análise de livro & filme; o uso de métodos como o “Clube de Cinema”, com potencial para
uso mesmo no ensino não presencial.
5 CONCLUSÃO
Este trabalho reuniu experiências e recomendações metodológicas que podem aprimorar
o uso de filmes para o ensino-aprendizagem da liderança. Em contexto de ensino não presencial,
o método “Movie Club” foi uma adaptação adotada que permitiu uma aproximação e maior
engajamento dos estudantes. Como o desenvolvimento da liderança no ambiente profissional
envolve o emprego de diferentes métodos, a análise de filmes pode proporcionar a observação
e a reflexão sobre a ação de atributos de líderes, a partir de diferentes contextos e culturas.
A revisão da literatura reuniu 25 artigos, na sua maioria empíricos, que analisam temas
das teorias sobre liderança a partir de filmes ou ainda o ensino-aprendizagem da liderança a
partir de filmes. As narrativas dos filmes, a trama, os personagens e os diálogos permitem
acessar aspectos da cultura e dos valores da liderança expressos no cinema. A experiência de
ensino de liderança analisada apresentou uma proposta adaptável para o ensino não presencial,
mas ainda requer uma melhor estruturação para melhor orientar e dar suporte aos estudantes. A
análise metodológica dos trabalhos reuniu elementos analíticos e procedimentos práticos.
Considerando as limitações desse estudo, estudos futuros podem dar continuidade a essa
revisão, iniciando com uma retomada da discussão sobre o ensino-aprendizagem da liderança
em Administração, bem como a condução de buscas sistemáticas em outras bases de dados.
Para o contexto brasileiro, os filmes brasileiros podem contribuir significativamente com o
entendimento das questões éticas e culturais locais.
14
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i Esta busca foi realizada pelos autores no dia 20 de julho de 2021.
Article
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O ensino de ética em Administração envolve inúmeros métodos e perspectivas. Ações éticas têm sido sustentadas por disposições estáveis do caráter: as virtudes. O objetivo deste artigo é discutir como ensinar virtudes em Administração, considerando o caso de estudantes de pós-graduação de uma disciplina eletiva de doutorado. A perspectiva da ética das virtudes desenvolvida em ética empresarial compõe o arcabouço teórico deste estudo, oferecendo métodos de ensino e aprendizagem para se cultivar virtudes morais e intelectuais. Por um estudo de caso de abordagem qualitativa, realizou-se observação participante e entrevista em grupo focal com doutorandos, fornecendo dados que foram codificados e interpretados com o suporte do Atlas.ti. Os resultados evidenciam que discussões teóricas articuladas às atividades experienciais - como aprendizagem baseada na aventura em ambiente natural e análise fílmica - permitem aos estudantes expressar um repertório de virtudes, bem como vivenciar virtudes nas atividades conduzidas. Destaca-se a importância do conhecimento teórico, da liderança e dos métodos para a condução das práticas. A articulação entre métodos, envolvendo teoria e experiência prática, contribui para a sensibilidade dos estudantes para questões éticas, agregando conhecimento, decisões e ações reais que demandam algumas virtudes, tais como coragem e prudência. A pesquisa reúne métodos de ensino-aprendizagem de ética em Administração, indicando que a articulação entre métodos contribui para enriquecer o conhecimento, reflexão e percepção sobre virtudes.
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Abordar a temática dos marcadores sociais da diferença e das interseccionalidades diz respeito a entender suas raízes, consequências e imbricações que produzem e reproduzem desigualdades, resistências e confrontamento das opressões. Neste contexto, as narrativas ficcionais podem constituir formas de representação e produzir insights, pois performam práticas e discursos. Este estudo objetivou analisar os marcadores sociais da diferença e as interseccionalidades representadas na figura do líder organizacional nos filmes Amor sem Escalas, O Diabo veste Prada e Um Senhor Estagiário. No tocante aos procedimentos metodológicos, foi realizada uma pesquisa qualitativa e descritiva, considerando nos filmes, data, sujeitos e lugar. A coleta de dados se deu por meio da microanálise estruturada de cada filme e a discussão ocorreu com base nas categorias de análise dos marcadores sociais da diferença e das interseccionalidades. Conclui-se que as diferenças e interseccionalidades abordadas neste artigo aproximam o contexto organizacional fictício, representado nos filmes examinados, da realidade de muitas organizações, em que se reforçam os padrões normativos através de relações hierárquicas e desiguais. Estas são resultantes do cruzamento dos marcadores sociais da diferença (classe, gênero, raça/etnia, sexualidade e geração),
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This study conducts a critical examination of leadership behaviour practices in a selection of film adaptations of the Robin Hood legend. This paper extends traditional efforts with theorizing leadership beyond leaders and their followers to consider acted performance exhibitions of leadership through cultural artefacts. The theory of dramatism was used to consider the portrayal of leadership behaviours of the title character in six Robin Hood films released over the years 1922–2018. A coding scheme using the GLOBE study six global leadership dimensions and associated 21 primary leadership behaviours were used to examine the action and dialogue of acted behaviours in each scene in each film. The results showed that the Robin Hood character most frequently presented a charismatic/value-based leadership style across all films. The results are discussed in terms of the ability of film to explore issues of leadership with results highlighting how leadership traits and behaviours of traditional cultural legends evolve and are adapted to modern audiences. This study contributes to ongoing investigations of analysis of leadership from an HRD theory and practice lens as represented in cultural artefacts such as film.
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Good movies have the potential to capture a trifecta of meaning: they can be enjoyable, engaging, and empowering. In other words, we experience pleasure, focused attention and concentration, and are inspired toward the good or reach new insights into ourselves, others, or the human condition. Drawing on the rapidly emerging science in character strengths, areas of integration with cinematherapy are outlined and explored. A therapeutic change model for character strengths cinematherapy is discussed, with emphasis on the roles of cinematic elevation and cinematic admiration. Practical suggestions to help therapists match client goals, well‐being areas, signature strengths, lower strengths, and psychopathology or problem areas are framed. While integration into large scale projects to impact social change is possible with character strengths cinematherapy, the starting point is helping therapists to use this approach with the client in front of them to promote that change one person at a time.
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Purpose The use of film language in management is an interesting method to understand the concept of leadership in the internal and external contexts of organizations, by means of metaphors. Thus, the objective of this study was to analyze the metaphors of leadership in a movie. Design/methodology/approach This was a qualitative research, which used the strategy of film analysis and content analysis (Bardin, 2016). Data were collected by scene decoupage, registered in an observation protocol. In the field of management, there is a growing interest in film analysis for understanding organizations, from inside and outside, by using dynamic methodologies. Findings The use of metaphors in film analysis made it possible to interpret concepts, for a better understanding of organizations. The identified leaders, despite adopting different attitudes at work, reach a common goal, with gains for the community. Originality/value This article also contributes to reflect on the teaching–learning process of management research through different methodological dimensions.
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Este trabalho trata de uma nova abordagem, na forma e no conteúdo, de desenvolver a prática profissional de gestores públicos orientada por design, elaborada pelo prof. Michael Barzelay, objeto de seu último livro “Public management as a design-oriented professional discipline” (2019). Relata a forma como esta abordagem foi colocada em prática na Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) do Governo Federal do Brasil entre 2016 e 2019 e os resultados positivos decorrentes para os participantes. Foi possível comparar os efeitos da abordagem nas turmas que a adoraram com os das turmas que não a adotaram. Uma avaliação econométrica e qualitativa do programa revelou efeitos positivos da abordagem relacionados à transferência de aprendizados, capacidade de estruturar problemas complexos e desenvolvimento de soluções colaborativas.
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Knowledge production within the field of business research is accelerating at a tremendous speed while at the same time remaining fragmented and interdisciplinary. This makes it hard to keep up with state-of-the-art and to be at the forefront of research, as well as to assess the collective evidence in a particular area of business research. This is why the literature review as a research method is more relevant than ever. Traditional literature reviews often lack thoroughness and rigor and are conducted ad hoc, rather than following a specific methodology. Therefore, questions can be raised about the quality and trustworthiness of these types of reviews. This paper discusses literature review as a methodology for conducting research and offers an overview of different types of reviews, as well as some guidelines to how to both conduct and evaluate a literature review paper. It also discusses common pitfalls and how to get literature reviews published.
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What can the classic zombie movie, Day of the Dead, tell us about leadership? In our analysis of this film, we explore leadership behaviours in an extreme context – a zombie apocalypse where survivors face persistent existential threat. Extreme context research presents methodological challenges, particularly with regard to fieldwork. The use of films as proxy case studies is one way in which to overcome these problems, and for researchers working in an interpretivist perspective, ‘social science fiction’ is increasingly used as a source of inspiration and ideas. The contribution of our analysis concerns highlighting the role of leadership configurations in extreme contexts, an approach not previously addressed in this field, but one that has greater explanatory power than current perspectives. In Day of the Dead, we observe several different configurations – patterns of leadership styles and behaviours – emerging, shifting and overlapping across the phases of the narrative, each with radically different consequences for the group of survivors. These observations suggest a speculative theory of leadership configurations and their implications in extreme contexts, for exploring further, with other methods.
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Mentoring programmes are popular within organizations as well as educational institutions. Research has shown that mentoring can be an effective tool for employee career development broadly; however, there has been a relatively small amount of research on the effectiveness of mentoring as a tool for leadership development specifically. This paper reviews the research on mentoring relationships, leadership development programmes, and the overlap of the two. Additionally, it provides a qualitative review of the three extant longitudinal intervention studies that have explicitly evaluated the impact of mentoring programmes for leadership development. The review shows that mentoring programmes are promising arenas for developing leadership capabilities for both mentees and mentors, but more evidence is needed to reach a definitive conclusion. The article concludes with recommendations for human resource development practitioners who would like to use mentoring for leadership development purposes.
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On December 25 2016, the film Hidden Figures made its debut in select theaters across the country. In a political climate where white supremacy seems to have prevailed and patriarchy necessitates the subordination of women, viewing the film without considering the history that it attempts to dramatize contributes to a deafening silence about the limitations of democracy in the United States and the critical social justice work that remains undone. Comparing the representations of Black womanhood in the film and book reveal how the narratives sometimes diverge. I argue that analyzing the film in light of the book offers insights about Black women’s legacy of struggle, particularly the leadership styles they routinely utilized to challenge racism and disrupt the gender status quo, which would otherwise be obscured. Juxtaposing these representations underscores how Black women’s tradition of resistance is marked by the ability to lead from behind, navigate the politics of invisibility and hypervisiblity seamlessly, and make a way where there appears to be none.