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10/15/21, 11:22 AM
Setembro Amarelo e a saúde mental dos adolescentes e jovens negros - Baobá
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Setembro Amarelo e a saúde mental
dos adolescentes e jovens negros
BY BAO B Á - FUN D O PA R A EQU I DAD E RAC I AL
Baobá - Fundo para Equidade Racial 01/10/2021
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Por Vinícius Vieira
Desde 1996 o Brasil celebra o Dia de Adolescentes (21). Setembro também é o mês em
que se celebra o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10). Em alusão a esta data, desde
2014 acontece a campanha nacional Setembro Amarelo, por iniciativa da Associação
Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM) e sendo aderida
em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV).
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), no Brasil, todos os anos, cerca
de 12 mil pessoas tiram a própria vida. Isso representa quase 6% da população. A OMS
também informa que o suicídio é a terceira causa de morte de jovens brasileiros entre 15
e 29 anos.
Dados do Ministério da Saúde, revelam que, em 2019, a taxa de jovens negros entre 10 e
29 anos de idade que cometeram suicídio foi 45% maior que a observada entre jovens
brancos na mesma faixa etária. A pergunta que ca é: Qual são os possíveis motivos que
levam o adolescente/jovem negro brasileiro a experimentar este risco acrescido de
suicídio?
Para a psicóloga, mestre em Saúde Comunitária, doutora em Saúde Pública, docente na
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e idealizadora da página Saúde Mental da
População Negra, Jeanne Saskya Campos Tavares, é preciso voltar no tempo e analisar
que o suicídio funciona como estratégia política da população negra no Brasil desde a
colonização: “No passado, por diferentes meios, pessoas negras davam m a sua
própria vida e de seus lhos para que não mais fossem submetidos aos horrores da
escravização”.
Nos tempos atuais, Jeanne arma que o racismo continua diretamente ligado à ideação e
comportamento suicida, uma vez que este não é um problema individual, mas um
processo coletivo: “Ele se relaciona com a necessidade do jovem negro de cessar um
intenso sofrimento através da morte e à percepção de que não há esperança de que, em
algum momento, terá uma vida que valha a pena viver. Neste sentido, o racismo está
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diretamente relacionado às questões sociais, de baixa auto-estima e de violência no
ambiente escolar desde a infância”.
Jeanne faz questão de salientar que o racismo é um importante fator que vulnerabiliza os
adolescentes e jovens negros brasileiros e pode ser entendido como um fator
predisponente para o suicídio: “Pois ele impede o acesso aos direitos de cidadania,
expõe as pessoas negras a múltiplas violências cotidianas que envolvem desde
situações continuadas de humilhação pública, até a possibilidade de sua própria morte e
encarceramento ou encarceramento de conhecidos e familiares. Essas experiências
comprometem signicativamente a saúde mental da maioria das pessoas negras, pois
relacionam-se com a baixa qualidade de vida e impossibilidade de receber apoio social
em diferentes contextos”.
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Jeanne Saskya Campos Tavares, psicóloga, mestre em Saúde Comunitária, doutora em Saúde Pública, docente na
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e idealizadora da página Saúde Mental da População Negra
Em 2020 e 2021, tivemos que lidar (e estamos lidando) com um fato que afetou
diretamente a vida e a saúde mental das pessoas do mundo inteiro: a pandemia da
Covid-19. Durante este período, Jeanne Tavares realizou uma série de lives intituladas
Saúde mental da população negra em tempos de pandemia, que dialogavam diretamente
com os mais afetados nesta crise sanitária. Jeanne diz que o novo coronavírus impactou
diretamente na saúde mental dos adolescentes e jovens negros: “A saúde mental foi
afetada porque foram expostos à maior insegurança do que já viviam. Não era apenas o
risco de contaminação pelo vírus, pois muitos continuaram desenvolvendo atividades
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laborais, geralmente informais, junto com suas famílias, mas tiveram que lidar com a
morte e adoecimento dos seus familiares e conhecidos que, em sua maioria, não
puderam estar em trabalho remoto”. Jeanne frisa que, em um ano de pandemia, os
jovens experienciaram todas as diculdades relacionadas à perda de emprego entre os
seus e ao empobrecimento coletivo, além da paralisação de suas atividades escolares
com comprometimento do apoio que a comunidade escolar pode oferecer, “ainda que
tendo muitas limitações, é um contexto reconhecido como protetor e de acesso à
alimentação e contatos sociais diários”.
Diante de todo esse cenário, ca evidente que o cuidado com a saúde mental de
adolescentes e jovens negros é essencial. Políticas, programas, iniciativas para enfrentar
o racismo no ambiente escolar, dialogar sobre orientação sexual, identidade de gênero,
entre outras intersecções que contribuem para a vulnerabilidade e podem levar ao
suicídio de jovens negres. Trabalho de base realizado em um ambiente escolar, educação
básica de qualidade, manutenção de jovens negres na escola, todos estes pontos estão
em jogo quando falamos sobre saúde integral e saúde mental, em especial. Segundo o
Instituto Brasileiro de Geograa e Estatística (IBGE), em 2018 um terço dos brasileiros
entre 19 e 24 anos não havia conseguido concluir o ensino médio. Entre os que não
conluíram esta etapa, 44,2% eram homens jovens negros. Um dos motivos da evasão
escolar entre negros do sexo masculino, com menos de 18 anos, é o ingresso no
mercado de trabalho. O relatório Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil,
divulgado em 2019 pelo IBGE, mostra que as pessoas negras representam 75% entre os
mais pobres. A educação de má qualidade, o ambiente que segrega e a carência
econômica contribuem para a busca por emprego em detrimento à formação escolar.
Sobre esta conexão entre situação socioeconomica e educacional, Jeanne acredita que as
políticas de redistribuição de renda e as políticas armativas, não apenas as cotas como
também as que garantam a permanência de crianças, adolescentes e jovens do ensino
fundamental ao superior, podem ser interpretadas também como políticas promotoras
de saúde mental: “É importante salientar que a saúde mental da população negra está
diretamente associada à nossa qualidade de vida, por isso todas as políticas que nos
permitam viver numa sociedade equânime, com acesso à alimentação, água, justiça,
paz, trabalho, moradia, liberdade de trânsito nas cidades, saúde, educação, descanso,
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dentre tantos outros direitos humanos, são também produtoras de saúde mental e nos
protegem em relação ao suicídio”. Finaliza.
Já É: Promovendo educação, equidade racial e qualidade de vida
Compreendendo as conexões entre educação de adolescentes e jovens, qualidade de
vida, saúde mental e justiça racial, o Fundo Baobá lançou em 2020 o Programa Já É:
Educação e Equidade Racial. Em parceria com a Citi Foundation, Demarest Advogados e
Amadi Technology, o Programa Já É foi criado pelo Baobá com a premissa de
impulsionar o ingresso de jovens negros e periféricos nas universidades, através do
custeamento dos gastos em um curso pré-vestibular e também transporte e
alimentação.
Jakeline Souza Lima, 22 anos, é uma das jovens apoiadas pelo Já É e uma das defensoras
da promoção de uma educação de qualidade para o m do racismo estrutural: “A
educação é a ferramenta mais potente para transformar as estruturas, para sanar os
problemas que estão enraizados há tanto tempo na nossa sociedade”. Apesar desta
certeza, Jakeline também acredita que a educação precisa ser crítica e empoderadora,
principalmente no que diz respeito a história negra: “É preciso que nossa história seja
passada como realmente foi: cheia de lutas, com muita potência, inventividade, riqueza
e orgulho, e não como tem sido desde sempre, quase nos ensinando a termos vergonha e
aceitar tudo que nos dizem”.
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Jakeline Lima, apoiada no “Programa Já É: Educação e Equidade Racial”
Foi a falta dessa educação crítica e empoderadora, que fez Jakeline sofrer racismo dos 7
aos 14 anos no ambiente escolar: “Os alunos zoavam tudo em mim: o meu cabelo, a cor
da minha pele, o meu nariz e o meu peso. Essas ofensas afetaram demais minha
autoestima, passei a me sentir feia, achar que eu nunca seria amada; passei a não ter
mais vontade de sair e ter medo de ser vista demais, queria car escondida e chamar o
mínimo de atenção possível”.
Mesmo com a saúde mental abalada pelos ataques racistas na adolescência, durante o
ensino médio, Jakeline Lima teve contato com o movimento dos estudantes
secundaristas, com o teatro e também com o grêmio estudantil. Montou uma chapa com
alguns amigos e realizou um trabalho de conscientização, enfrentamento ao racismo, e
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outras formas de discriminação: “Realizamos a Semana da Alteridade, levando os
alunos mais novos para a biblioteca para contarmos as nossas experiências e explicar o
porquê não era bom ofender o amigo, além de várias outras questões”,
Hoje no Programa Já É, Jakeline quer cursar artes cênicas e credita ao teatro um divisor
em sua vida: “No teatro eu lidei, e sigo lidando, com as questões mais pessoais, passei a
trabalhar minha relação com a imagem e transformar minhas dores em criações, juntar
minhas dores com as de muitas pessoas e lutar, criar um coro, forte e potente”.
Jakeline Lima: “No teatro eu transformo minhas dores em criações”
Assim, Jakeline Lima faz questão de reforçar a importância da educação como sendo
caminho de potencialização e transformação: “Através da educação a gente se enxerga
na história e tem orgulho dela, tanto da que escreveram antes de nós, mas também da
que estamos escrevendo”, arma a estudante, também frisando que o Fundo Baobá,
através do Programa Já É, tem permitido que outros adolescentes e jovens escrevam a
sua própria história: “O Programa Já É, é um desses caminhos que usa a educação para
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nos devolver, para nos dar perspectiva, para nos fazer acreditar que somos capazes e
também para nos mostrar que, quase cem jovens estão juntos e, se apenas um passar na
universidade, todos passam, porque representamos a nós mesmos, mas também toda
nossa família que muitas vezes não tiveram a mesma oportunidade que nós”.
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