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Inovação no jornalismo brasileiro no contexto da pandemia de COVID-19

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Este artigo discute as inovações jornalísticas implementadas nos primeiros meses da pandemia da COVID-19 no Brasil (março a agosto de 2020). As inovações analisadas são oriundas de um questionário online, com um total de 82 indicações e 67 inovações únicas com participação majoritária do público acadêmico e de profissionais de mídia residentes de 12 estados do Brasil. A inovação em jornalismo é discutida a partir de pesquisas anteriores (GARCÍA-AVILÉS ET AL., 2019; STORSUL & KRUMSVIK, 2013; DOGRUEL, 2017; FLORES, 2019; NUNES, 2020) e os resultados indicam uma notoriedade do desconforto como motor de inovação, a emergência da colaboração no setor e a inovação jornalística centrada em enfoques especiais durante a crise econômica e sanitária do novo Coronavírus.
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Como citar este capítulo:
ABNT
NUNES, Ana Cecília Bisso; FLORES, Ana Marta Moreira. Inovação no jornalismo brasileiro no contexto da pandemia de COVID-19.In:
MALLMANN, Andréia; TRINDADE, Cláudia Bromirsky; LIMA, Cristina Schroeder (orgs). Tecnologias Digitais: comunicação,
relacionamento e consumo em meio à pandemia. 1. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2021. p. 117-138. Disponível em:
<https://editora.pucrs.br/livro/1500>.
APA
Nunes, A. C. B.; Flores, A. M. M. (2021). Inovação no jornalismo brasileiro no contexto da pandemia de COVID-19. In A. Mallmann; C.
B. Trindade; C.S. Schroeder (orgs). Tecnologias Digitais: comunicação, relacionamento e consumo em meio à pandemia (pp. 117-138).
EDIPUCRS. <https://editora.pucrs.br/livro/1500>.
Inovação no jornalismo brasileiro no contexto
da pandemia de COVID-19
Ana Cecília Bisso Nunes1
Ana Marta M. Flores2
Resumo: Este artigo discute as inovações jornalísticas implementadas nos primeiros meses da
pandemia da COVID-19 no Brasil (março a agosto de 2020). As inovações analisadas são oriundas de
um questionário online, com um total de 82 indicações e 67 inovações únicas com participação
majoritária do público acadêmico e de profissionais de mídia residentes de 12 estados do Brasil. A
inovação em jornalismo é discutida a partir de pesquisas anteriores (GARCÍA-AVILÉS ET AL., 2019;
STORSUL & KRUMSVIK, 2013; DOGRUEL, 2017; FLORES, 2019; NUNES, 2020) e os resultados indicam
uma notoriedade do desconforto como motor de inovação, a emergência da colaboração no setor e
a inovação jornalística centrada em enfoques especiais durante a crise econômica e sanitária do
novo Coronavírus.
Palavras-chave: Inovação, jornalismo, mídia, digital, COVID-19
Introdução
A pandemia de COVID-19 impactou os mais diversos setores da vida em 2020 e, inevitavelmente, o
jornalismo. Nas redações, os profissionais tiveram de se adaptar a uma rotina de trabalho remoto e
a uma apuração condicionada ao distanciamento social. Em termos econômicos, os desafios de
2Doutora e mestre em jornalismo (PPGJOR/UFSC), investigadora do ICNOVA | iNOVA Media Lab, Universidade NOVA de Lisboa e
Nephi-Jor | Grupo Hipermídia e Linguagem/CNPq. E-mail: amflores@fcsh.unl.pt
1Professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e coordenadora acadêmica do IDEAR/PUCRS.
Doutora em Comunicação pela PUCRS, no Brasil, e a Universidade da Beira Interior, em Portugal, em regime de cotutela/dupla
titulação. Jornalista e Mestre em Comunicação Social (PUCRS). Pesquisadora no Grupo de Pesquisa UBITEC/PUCRS. E-mail:
ana.nunes@pucrs.br
rentabilidade se tornaram ainda mais centrais, com uma crise econômica mundial. No Brasil, isso
resultou em uma redução de 22% na compra de mídia no primeiro trimestre de 2020 em
comparação com 2019. Os segmentos mais afetados foram o de jornais (-41%), TV por assinatura
(-30.3%) e Internet (-29.6%). Entre janeiro e junho, a compra de mídia também caiu 30.3% em
relação a 20193(CENP-MEIOS, 2020), um número importante para uma indústria dependente da
receita publicitária.
Por outro lado, o cenário de assinaturas no formato digital continuou a crescer, incluindo
no primeiro semestre de 2020. Entre dezembro de 2015 e junho de 2020, o aumento de assinaturas
digitais nos jornais de maior circulação no Brasil variou entre 69% (Zero Hora) e 429% (Valor
Econômico)4. Ainda durante o período da pandemia, jornais como Folha de S.Paulo, O Globo e O
Estado de S.Paulo derrubaram as restrições de acesso aos conteúdos relacionados ao novo
Coronavírus; e o canal de TV a cabo GloboNews abriu o acesso via portal de notícias G1. A principal
justificativa se dá pela circulação de desinformação: restringir o acesso ao jornalismo verificado e de
qualidade seria um desserviço. Esse cenário motivou a UNESCO (2020) usar o termo
infodemia/desinfodemia para destacar a difusão rápida e descontrolada de informações
improcedentes, especialmente nas plataformas sociais.
De fato, a inovação costuma ser impulsionada por contextos de mudança ou de
desconforto5. No cenário nacional, a inovação tem destaque nas empresas jornalísticas a partir dos
anos 1990, com a inclusão do discurso da inovação nos planos estratégicos (MACHADO, 2010). A
popularização da inovação em mídia e jornalismo nos últimos anos teve um propósito bem
específico: assegurar a sobrevivência das atividades na reestruturação econômica e tecnológica,
assim como na atual pandemia. Neste sentido, Boczkowski (2005) afirma que o jornalismo possui
uma cultura de inovação reativa, defensiva e pragmática, ou seja, que tende a seguir as mudanças
sociais, focada em projetos de curto prazo para a manutenção do negócio estabelecido, em vez de
propor novos caminhos e projetos a longo prazo. Assim, os efeitos da pandemia da COVID-19 podem
ser um propulsor para experimentações e inovações em novas narrativas, produtos, processos,
empresas, formas de geração de receita e de diferenciação relacionados à estabelecida cultura de
inovação da área.
5Discomfort Innovation (FLORES, 2019) é um conceito que traz uma perspectiva mais abrangente para compreender o motor da
inovação para o jornalismo. Entende-se o desconforto pela perspectiva que o aproxima da inquietação e percebe que este é o estado do
jornalismo hoje. Seja nas pautas de temas desconfortáveis, no desconforto do jornalismo em ter de tratar de finanças ou no contexto
que desloca as práticas mais tradicionais de se apurar notícia - na rua - como na realidade vivida com a pandemia de COVID-19.
4Dados extraídos de pesquisa realizada pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC) e publicada pelo Poder360 (2020).
3Nota-se uma pequena queda na base de agências que remeteram informações ao levantamento: 218 em 2019, em comparação a 2013
em 2020.
Este artigo, portanto, investiga as características das inovações no país oriundas deste
momento tão particular, a partir de uma abordagem qualitativa. Entende-se a inovação em
jornalismo como uma resposta prática e criativa, que surge pela identificação e resolução de
problemas, manifestando-se em produtos, processos e serviços novos, agregando valor e, com isso,
viabilizando as organizações jornalísticas (GARCÍA-AVILÉS et al., 2019). As inovações aqui analisadas
são oriundas de um questionário online, com um total de 82 inovações submetidas e 67 inovações
únicas brasileiras6com participação majoritária do público acadêmico e de profissionais de mídia
residentes de 12 estados do Brasil. A análise indica que a conjuntura da COVID-19 dinamiza uma
série de micro-inovações, com destaque para o conteúdo e narrativa. Inovações que surgem diluídas
majoritariamente em nível nacional, com um destaque para estratégias de colaboração e jornalismo
de dados, embora centradas em medidas pontuais e de curto prazo.
1. Inovação em jornalismo: contexto, relações e conceito
Em algum sentido, inovar sempre fez parte da atividade jornalística. A mídia e o jornalismo têm
como característica a elaboração e distribuição de conteúdos e produtos culturais como parte da
rotina produtiva. Suas inovações, no entanto, nem sempre geram um benefício funcional, ou seja:
nem sempre modificam, criam ou melhoram o produto midiático de forma objetiva ou tangível. No
que se relaciona à inovação, portanto, é importante destacar as particularidades da indústria da
mídia, da qual o jornalismo faz parte.
Na economia, a inovação é entendida como uma nova combinação de ideias,
competências e recursos já existentes (KOULOPOULOS, 2011; ROSSETTI, 2013). Para essas áreas, ela
é um instrumento do empreendedorismo, que pode se manifestar de múltiplas formas, além de ter
como objetivo principal a busca por maior lucratividade nas organizações (SCHUMPETER, 1985;
DRUCKER, 2002; O'SULLIVAN & DOOLEY, 2009). Esta é uma perspectiva que tende a privilegiar o
aspecto funcional das inovações. No entanto, os produtos intelectuais criados no contexto das
rotinas produtivas midiáticas (e por vezes, com grau de originalidade) são resultados de processos
criativos e autorais que, muitas vezes, estão respondendo a um cenário de mudança, comumente
vinculados ao conceito de novidade. Por este motivo, as inovações em mídia e jornalismo estão
vinculadas usualmente a soft-innovation (STONEMAN, 2008; 2010) e a inovação de processo e
produto cultural (CPP) (JAANISTE, 2009): “inovação soft é inovação em bens e serviços que afetam
principalmente o apelo estético ou intelectual, e não o desempenho funcional” (STONEMAN, 2010,
6Descontando os projetos indicados mais de uma vez e as iniciativas internacionais.
p. 22, tradução nossa).
A partir disso é importante perceber o conceito a partir da própria natureza do
jornalismo. As inovações jornalísticas não estão limitadas rigorosamente a produtos ou serviços
disponíveis para o público. Os processos de produção com medidas inovadoras podem, por sua vez,
afetar a própria configuração do meio em sua totalidade (SALAVERRÍA, 2015). Quando destacamos o
conceito de inovação no jornalismo, percepções adicionais sobre o tema emergem com foco na
origem destas inovações. Independentemente de seu grau de manifestação, parece-nos consenso
que a inovação está condicionada a um padrão processual e contínuo. Ferramentas e tecnologias
com uso popularizado são comumente apropriadas para o jornalismo, configurando o que pode ser
entendido tanto como inovação no jornalismo (NUNES, 2020) como jornalismo de inovação (FLORES,
2019).
A abordagem da inovação no jornalismo relaciona essas instâncias através da discussão
da apropriação das tecnologias para o jornalismo e as consequências destas transformações
externas ao campo, seja no conteúdo, na produção, na distribuição ou na recepção (NUNES, 2020).
Ainda, com a popularização das tecnologias digitais, essas inovações se tornam também centrais na
estratégia de sobrevivência, de experimentação, de inovação. Para não serem sobrepujadas pelo
ritmo das inovações, as organizações jornalísticas precisam ser parte da transformação. Em
consonância, Küng (2013, p. 9) afirma que tecnologia é um dos motores da inovação e que e as
organizações precisam inovar para responder a essa mudança.
Já se considerarmos o conceito do jornalismo de inovação (KAUHANEN & NOPPARI, 2007;
FLORES, 2019), que tem uma abordagem mais ampla, este não se trata de um tipo especializado de
jornalismo, tampouco um gênero jornalístico, mas, sim, um movimento possível em qualquer esfera
da atividade e um fluxo orgânico da prática jornalística. Kauhanen e Noppari (2007) entendem o
jornalismo de inovação como uma atitude que pode ser aplicada em todas as áreas do jornalismo.
Além disso, o jornalismo de inovação percebe a própria inovação como processo circular e
complexo, em multicamadas e socialmente condicionado (KAUHANEN & NOPPARI, 2007).
Compreendendo a multiplicidade do jornalismo de inovação, recorremos ao conceito de
García-Avilés et al (2019) que compreende que inovação para o jornalismo é a capacidade de reação
a mudanças que resultam em novos produtos, processos e serviços. O modo como se produz
inovação no jornalismo sugere agregar valor ao público e gerar valor à organização, como resultado
de habilidades criativas. O jornalismo de inovação é, portanto, aquele que passa necessariamente
por modificações nas técnicas, tecnologias, processos, linguagens, formatos e dispositivos
destinados a potencializar a produção, consumo e sustentabilidade das informações e/ou das
organizações jornalísticas.
Estabelecidos os principais pontos sobre o conceito e a relação da inovação com o
jornalismo, partimos à discussão da inovação jornalística no contexto da pandemia da COVID-19,
assim como da caracterização do ecossistema de notícias brasileiro.
2. Jornalismo no Brasil, inovação e pandemia COVID-19
A inovação em jornalismo ganha representatividade a partir de um cenário de reestruturação
midiática, popularizado pelas tecnologias digitais. Anderson, Bell e Shirky (2012) comentam que o
período do jornalismo pós-industrial foi marcado por momentos tanto de catástrofe como de
renascimento das organizações jornalísticas. Isso trouxe um incremento da necessidade de mudança
vinculado a um discurso de sobrevivência. De fato, como veremos, nem toda a inovação em
jornalismo tem um caráter estratégico de longo prazo, sendo, pelo contrário, muitas vezes marcado
por experimentos de excepcional curto prazo7. Independente disso, a inovação passou a ser um
objetivo estratégico para organizações, profissionais e acadêmicos da área, como resposta aos
desafios da reorganização do ecossistema midiático. Este novo ecossistema é marcado pela
fragmentação e pela entrada de novos incumbentes, conforme a teoria da disrupção (BOWER e
CHRISTENSEN, 1995). Este novos atores já nascem a partir de um modelo de negócio e paradigma de
distribuição e produção digitais, os nativos digitais (NICHOLLS et al., 2018).
No Brasil, a diminuição das barreiras de entrada propiciada pelas tecnologias combinadas
com oportunidades de mercado impulsionaram o aparecimento de iniciativas de âmbito nacional
como o Nexo, em 2015; de estratégias de nicho como o Jota, em 2014, e de organizações
alternativas impulsionadas por um objetivo social como a Ponte, estabelecida em 2014 e focada em
Direitos Humanos. Esta reestruturação do fluxo de notícias do Brasil foi tema de pesquisa sobre os
Empreendimentos digitais do Jornalismo brasileiro8. A pesquisa apontou que a maioria das
iniciativas teve investimentos iniciais menores do que R$10.000 e foi impulsionada por um objetivo
social ou uma causa. Entre estas causas, estavam: jornalismo e informação de qualidade,
8Investigação realizada realizada por Interatores.com, com apoio do Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS) que mapeou
mais de 200 novas iniciativas jornalísticas no país e analisou as 64 que visavam algum tipo de arrecadação financeira.
7Posetti (2018, p. 8, tradução nossa) destaca que a percepção de longo, médio e curto na indústria midiática tem uma percepção
diferenciada: “Reconhece-se que ‘estratégias de longo prazo’ em um setor propenso a mudar de direção em resposta a mudanças
implacáveis têm mais probabilidade de serem entendidas como 6-24 meses, em vez de 5-10 anos”. Igualmente,Boczkowski (2005)
também discute o pragmatismo da cultura midiática, em que tende a se focar em projetos de curto prazo para a manutenção do negócio
estabelecido.
sustentabilidade, direitos humanos e justiça social, diversidade sexual, igualdade de gênero e
empoderamento feminino, inclusão digital, combate ao racismo e democratização da informação.
De fato, os desafios de um país em desenvolvimento como o Brasil são muitos e estas
novas iniciativas apontam uma vinculação com características que podem ser relacionadas com o
propósito social do jornalismo. Em âmbito internacional, Storsul e Krumsvik (2013, p. 17, tradução
nossa) vão identificar a inovação social como um componente particular da inovação em mídia. Da
mesmo forma, Dogruel (2017) também aponta que a inovação midiática costuma atender a
objetivos econômicos e sociais.
Criar um novo negócio em jornalismo não é por si só inovador, mas a disrupção
provocada por novas iniciativas competindo pela atenção das audiências ou necessidade social
tende a impulsionar novas estratégias, tanto destes novos atores como das mídias de legado,
aquelas já estabelecidas. Percebe-se que a inovação surge deste desconforto: um desconforto que
pode ser propiciado pela competitividade ou por alterações contextuais, sociais, econômicas ou
sanitárias, como a própria pandemia da COVID-19. Isso porque, como afirmam, Dodgson e Gann
(2018, p. 15, tradução nossa): “A inovação pode ser concebida como uma forma de oferecer opções
diante de um futuro incerto”. Este tema também foi identificado por Flores (2019), a partir dos
Estudos de Tendências. A autora propõe a emergência da força Discomfort Innovation, como uma
potência que envolve, em alguma instância, todas as diferentes tendências da inovação em
jornalismo: ela representa o mal-estar, crise, incômodo ou desconforto que está na base da inovação
em jornalismo, seja como causa ou efeito.
Este desconforto, no entanto, é apenas um primeiro passo na busca de novas fontes de
receita. A principal fonte dos nativos digitais latino-americanos segue sendo a publicidade9. Esta é a
principal fonte de renda principal dos empreendimentos com mais de 20 milhões de sessões por
mês. Os menos populares, experienciam fontes de receitas variadas, como consultorias, eventos,
treinamentos, subvenções, financiamento coletivo, entre outros (BREINER, LAFONTAINE, 2017). A
dependência da publicidade também é parte do contexto brasileiro (LÜDTKE, 2016). Por isso, o
impacto da pandemia da COVID-19 teve tanto reflexo na sustentabilidade do jornalismo no Brasil e
no mundo. Como comentado anteriormente, o primeiro semestre de 2020 foi marcado pela redução
da compra de mídia em cerca de 30% no país. Assim, a pandemia provoca um cenário de urgência
9Pesquisa realizada pela Sembra Media com 100 nativos digitais da Argentina, Brasil, Colômbia e México. Foram investigadas 25
iniciativas de cada país. Na parte de receita financeira, foram considerados apenas 90, visto que 10 deles se recusaram a divulgar dados
financeiros privados.
por novas estratégias, com um viés catalisado principalmente pela necessidade de sustentabilidade
econômica.
Para além do empreendedorismo, a inovação em jornalismo se materializa também a
partir de projetos ou iniciativas dentro de empresas já estabelecidas, em estratégias
intraempreendedoras, em contexto integrado ou não às rotinas produtivas. Neste sentido, é
importante destacar que o jornalismo faz parte do segmento de produtos de mídia de criação
contínua, ou continuous creation media products, que se diferencia daqueles de criação única, ou,
single creation products. No primeiro tipo, estão a indústria literária, do cinema, e jogos, por
exemplo. Os últimos possuem uma criação de conteúdos em contínua atualização, como revistas,
jornais e séries de televisão (PICARD, 2005). Esta particularidade influencia o processo de inovação,
tendo a indústria de criação contínua uma ênfase na seleção e compactação do conteúdo (Dal Zotto
e Van Kranenburg, 2008). Estas atividades costumam nascer das operações diárias e não têm os
mesmos riscos de negócio e falhas (PICARD, 2005).
A inovação em jornalismo durante a pandemia do COVID-19 tem como característica uma
urgência econômica e uma pressão imediata por soluções, de curto, médio ou longo prazo,
necessitando de investimentos e colaboração para ocorrer. A partir desta percepção, este artigo
avalia, a seguir, as inovações indicadas pela percepção dos profissionais e acadêmicos da área.
3. Procedimentos metodológicos
Esta pesquisa tem como objetivo identificar as características das inovações em jornalismo oriundas
do início da Pandemia do Covid-19 no Brasil (março a agosto de 2020), compreendendo também a
origem desta inovações (mídias de legado, nativos digitais, universidades, consórcios ou
Associações, Sindicatos e ONGs). Para tanto, realizamos um estudo qualitativo (YIN, 2011) de
natureza exploratória (GIL, 2002) e descritiva (MATTAR, OLIVEIRA e MOTTA, 2014; PEROVANO,
2014). A pesquisa qualitativa é comprometida em objetivar e apreender fenômenos amplos e
complexos, como a inovação no jornalismo. Assim, optamos pela investigação exploratória baseada
nos pressupostos de Gil (2002) que aplica este tipo de pesquisa quando há o objetivo de
proporcionar familiaridade com uma questão, além de torná-la mais explícita e constituir hipóteses.
Já a pesquisa descritiva foi priorizada por caracterizar os fenômenos encontrados, além de
sistematizar o registro e análise das características, fatores ou variáveis que se relacionam com as
iniciativas inovadoras.
Figura 1 - Protocolo metodológico aplicado à pesquisa
Fonte: própria (2020).
O fluxo dos procedimentos metodológicos contemplou três fases: 1) Conexão teórica, 2)
Criação e divulgação do mapeamento coletivo e 3) Análise exploratória de casos. (Fig. 1). A primeira
etapa teve como foco o levantamento e cruzamento de discussões acerca dos conceitos
fundamentais para a pesquisa, nomeadamente inovação em jornalismo e mídia (KAUHANEN &
NOPPARI, 2007; MACHADO, 2010; ANDERSON, BELL E SHIRKY, 2012; STORSUL & KRUMSVIK, 2013;
SALAVERRÍA, 2015; DOGRUEL, 2017; FLORES, 2019; GARCÍA-AVILÉS et al., 2019; NUNES, 2020) com a
peculiaridade do contexto de crise sanitária frente à pandemia de COVID-19. Para tornar a amostra
de casos mais diversa e colaborativa, foi criado um formulário digital10 com informações gerais sobre
os respondentes (perfil, país e região em que mora) e perguntas abertas para a inserção de links ou
resumo de iniciativas inovadoras realizadas no primeiro semestre de 2020. Ao considerar a natureza
10 Disponível em: <bit.ly/Inovacao-Jornalismo>.
transdisciplinar dos estudos de jornalismo no contexto da inovação, elegemos a proposta de
pesquisa crowdsourcing de Wechsler (2014). Criou-se uma estratégia de divulgação da pesquisa
principalmente nas esferas acadêmica e profissional, mesmo integrando consumidores de produtos
jornalísticos. Entre 18 de agosto e 08 de setembro de 2020, somaram-se 82 indicações de projetos,
com 37 submissões de formulário de participantes residentes em 12 estados brasileiros. O perfil dos
respondentes foi majoritariamente de acadêmicos, pesquisadores, professores ou profissionais de
mídia e jornalismo (83% ou 31 respostas) o que vai ao encontro do método de Crowdsourcing
(WECHSLER, 2014, p. 15, nossa tradução): "apesar de se dirigirem a um amplo grupo-alvo, são
principalmente orientadas para especialistas e cientistas". A pesquisa foi divulgada nas principais
listas acadêmicas do país (SBPJor, Compós, Grupo Comunicação e Cultura Digital Intercom, GrupoJol,
Nephi-Jor, entre outras) e em grupos de professores e de inovação em jornalismo no Facebook
(Orbital, PPGCOM Famecos, PPGJOR UFSC, entre outros). Também foi divulgada no LinkedIn,
Instagram e grupos temáticos no WhatsApp e contatos profissionais. Além disso, foi noticiada em
canais midiáticos: Coletiva.net, Farol Jornalismo e ComunicoLog.
Como critérios de descrição e análise das iniciativas recorremos a uma matriz que mescla
as categorias de jornalismo de inovação desenvolvida por Flores (2020) aos pontos da dimensão de
iniciativa inovadora de Nunes (2020), além de tópicos inseridos especialmente para este estudo
(QUADRO 1).
QUADRO 1 - Matriz de critérios de análise para iniciativas inovadoras em jornalismo.
Fonte: própria (2020).
No âmbito do jornalismo de inovação (FLORES, 2019) as iniciativas são classificadas, seja
em processo ou produto, em: Conteúdo & Narrativa, quando a inovação está presente na forma de
apurar e investigar, evidenciada pela narrativa final11.Tecnologia & Formato, que reúne exemplos de
quando o avanço tecnológico é, de fato, a centralidade da inovação, perpassando os processos do
conteúdo jornalístico e sua formatação para o consumo e circulação; Newsgames, jornalismo
automatizado, jornalismo experiencial, jornalismo imersivo, jornalismo de dados e jornalismo
ubíquo representam esta instância. Modelos de Negócio, relacionadas a medidas de
sustentabilidade financeira e estratégia para além do tradicional padrão de assinaturas e
publicidade, a exemplo do paywall,crowdfunding, microfinanciamento, diversificação de receita,
branded content, filiação (clubes) e eventos.
Quanto à materialidade da inovação (NUNES, 2020), delimitam-se seis grupos:
ferramentas digitais; mídia, tecnologia e arte; novas formas narrativas; novos negócios; plataformas
ou canais de acesso e soluções amplas e contextuais. As ferramentas digitais intermediam ações
operacionais como em extração de dados ou automatização, resultando em melhorias de processos
produtivos, comerciais, de engajamento e conhecimento de audiência, com replicabilidade. A
categoria mídia, tecnologia e arte aparece em casos de projetos que integram essas instâncias em
um ambiente único. Em novas formas narrativas classificam-se a experimentação com grau de
novidade na forma de contar uma história, a partir do enfoque, estilo de texto, combinação entre
elementos multimídia, entre outros. Em novos negócios a atenção está no uso de diferentes
oportunidades de empreendimentos que podem ser baseados em conteúdo. Em plataformas ou
canais de acesso, estão soluções que se relacionam a novas formas de distribuição de conteúdo, e as
soluções amplas e contextuais reúnem projetos de pesquisa aplicada ou estratégias que vão
responder a problemas contextuais específicos.
Já o tipo de inovação (NUNES, 2020) está segmentado em quatro frentes: criativo
(impacta exclusivamente o conteúdo e o consumo das narrativas jornalísticas), reflexivo (inovações
de processos sem alterações mediadas por novas tecnologias), exploratório (apropriação de
tecnologias pré-existentes para produção, distribuição e/ou consumo de jornalismo) e generativo
(desenvolvimento e implementação de inovação funcional para produção, distribuição e/ou
consumo de jornalismo). Por fim, em alcance, delimitamos se a iniciativa é local, regional, nacional
ou internacional. Quanto à origem, identificamos o responsável pelo produto ou processo indicado:
mídia de legado,nativo digital,universidades,consórcio — a união de empresas, iniciativas e
11 O jornalismo longform e as Grandes Reportagens Multimídia (GRM) são casos ilustrativos dessa categoria.
associações para um mesmo objetivo, ou Associações, Sindicatos e ONGs. Também observamos se a
iniciativa estava de fato relacionada ao contexto da COVID-19 e qual aspecto inovador se sobressai
no caso indicado. Entre as características inovativas destacamos: Dados e Mapeamento, Enfoque,
Intervenção Urbana, Checagem e Verificação, Automação e Interatividade, Colaboração e Canal de
Distribuição.
4. Análise das iniciativas
A análise das iniciativas reafirmou a amplitude do entendimento do que é inovação em
jornalismo, mesmo entre especialistas, profissionais e pesquisadores. Dentre as 67 indicações únicas
de iniciativas brasileiras12, uma é de um catalisador de inovação (Laboratório de Emergência13), três,
de iniciativas de incentivo à inovação e/ou enfrentamento das transformações impulsionadas pela
COVID-19 (seminários online da Associação Nacional dos Jornais, Projeto Credibilidade do ProJor e
Seminário de Jornalismo e Educação do Jornal Joca) e onze, de mudanças de processo ou
organizacionais. As 50 indicações únicas restantes relacionam-se a projetos específicos surgidos nos
meses iniciais da epidemia do Coronavírus no Brasil (de março a agosto de 2020), ou motivados por
este contexto.
É interessante observar como a inovação pode se materializar tanto a partir de iniciativas
específicas, como em projetos que catalisam a inovação na área. O Laboratório de Emergência, por
exemplo, funciona como um media lab que incentiva a materialização de uma diversidade de
projetos inovadores de modo sistemático e em contexto experimental (alheio às rotinas produtivas
da indústria criativa), com projetos interdisciplinares que endereçam, entre outros, os desafios da
mídia e do jornalismo (NUNES, 2020). As três edições do Laboratório de Emergência COVID-19
geraram projetos relacionados à arte, difusão cultural, divulgação científica e também iniciativas
midiáticas, entre outros. Além dele, as indicações de processo evidenciaram as mudanças amplas
demandadas pelo isolamento social como: a maior adoção de dispositivos móveis para produção de
conteúdo, a maior apropriação de gráficos e análises estatísticas pelo jornalismo e a adoção do
trabalho remoto.
Para além das transformações amplas, em uma análise específica dos projetos indicados,
evidencia-se um protagonismo dos nativos digitais (Fig. 2). A liderança destas organizações
midiáticas pode ser conectada ao seu dinamismo intrínseco e capacidade (ou necessidade) de reagir
13 https://labdeemergencia.silo.org.br
12 Foram indicadas quatro iniciativas internacionais (realizadas na Colômbia, em Portugal, na Polônia e nos Estados Unidos). Como o
objetivo aqui era analisar as inovações no Brasil, estes foram desconsiderados da amostra.
a mudanças de forma mais rápida: “Marcas globais estabelecidas podem ser capazes de se permitir
períodos sustentados de reflexão, enquanto as organizações nascidas no mundo digital podem não
ter tempo para fazer uma pausa” (POSETTI, 2018, p. 13, tradução nossa). Além disso, se relaciona
com a acelerada transformação de ecossistema de notícias brasileiro, marcada pela entrada de
novos incumbentes digitais, discutida anteriormente.
Figura 2 - Visualização relacionando a origem da iniciativa e a materialidade da inovação.
Fonte: Raw Graphs/própria (2020).
Além dos nativos digitais, a pesquisa evidenciou um conjunto de iniciativas universitárias.
Este ponto é interessante considerando o impacto que o isolamento social provocou na educação
mundial e no Brasil. Em maio de 2020, apenas seis das 69 universidades federais haviam adotado o
ensino remoto, autorizado em março. Ainda, 22% das universidades privadas também estavam com
aulas suspensas (PAIXÃO, 2020). As inovações mostram, no entanto, que a pesquisa e o trabalho não
pararam. A segunda maior origem das inovações foi a universitária, mostrando alguma reação
pragmática neste momento de crise e uma possível tendência da academia a abarcar também
projetos aplicados e experimentais (OCDE, 2015).
Relacionado a materialidade da inovação, os dados corroboram a pesquisa de Evans
(2018) que destacou uma forte tendência de a inovação ser vista como um novo meio de contar
histórias ao investigar organizações de rádio e televisão nos Estados Unidos. Da mesma forma,
evidencia-se uma apropriação das tecnologias como ferramentas de produção e distribuição de
conteúdo. Ou seja, utilizar novos recursos e artefatos em prol de criar novas narrativas ou formatos.
Isso se relaciona ao destacado por Nunes (2020) ao investigar as inovações de media labs: a
inovação em contexto das rotinas produtivas tende a se apropriar da tecnologia como ferramenta de
produção ou distribuição, de forma espontânea (não sistematizada) e com ênfase no curto prazo,
diferente da em contexto experimental que parte de affordances tecnológicas ocultas, criando uma
solução com potencial de replicabilidade. Este fatos, podem ser relacionados também com o tipo de
inovação.
Neste sentido, é interessante destacar a recorrência da inovação criativa,
independentemente de estar ou não relacionado à temática da pandemia do novo coronavírus. A
inovação criativa pode ser compreendida como um estágio habitual para o setor jornalístico,
evidenciado também neste estudo pela ênfase da perspectiva inovadora centrada no enfoque dado
às pautas (Fig. 3).
Figura 3 - Visualização relacionando tipo de inovação, COVID-19 e o aspecto inovador das iniciativas
Fonte: Raw Graphs/própria (2020).
Um caso não relacionado à pandemia pode ser ilustrado com Bocado14, nativo digital que
reúne uma rede de jornalistas com o propósito de repensar os sistemas alimentares, baseado na
ciência e no respeito aos direitos humanos. Já o exemplo de Inumeráveis15 traz o enfoque inovador
com o tratamento da morte por coronavírus no Brasil para além dos dados. Um memorial dinâmico
e colaborativo procura humanizar o crescente número de mortes no país. Para além da inovação
dada à perspectiva de reportagens, destacamos a importância da inovação quanto à Colaboração,
Checagem e Verificação, Dados e Mapeamento (Fig. 3) na conjuntura pandêmica, o que não
acontece nas iniciativas não relacionadas à COVID-19. Estes três aspectos estão estreitamente
ligados, pois indicam que o atual encadeamento pressiona o campo jornalístico a tecer mais
parcerias em projetos colaborativos, especialmente com o objetivo de combater ou mitigar a onda
de desinformação que circunda a crise sanitária. Os resultados do mapeamento colaborativo
realçam que, dentre as possibilidades existentes, o jornalismo de dados se encaixa nesse cenário,
pois lida com uma miríade de informações atualizadas diariamente e com fontes de acesso variadas.
Há uma imbricação que sugere definir como a inovação tomou forma na circunstância pandêmica.
Três casos podem representar esse amálgama inovativo: no Epicentro16 (Agência Lupa),
Rede CoVida17 (UFBA) e Mapa Coronavírus18 (G1). O primeiro, introduz a questão "e se todos os
mortos por Covid19 no Brasil fossem seus vizinhos?" e é resultado de uma colaboração entre
Agência Lupa, Google News Initiative, profissionais e pesquisadores de visualização da informação e
jornalismo de dados. A peça explora a dimensão das mortes no país, trazendo para mais perto
(geograficamente) a devastação simulada com os números reais de morte no país. A Rede CoVida é
uma colaboração científica multidisciplinar entre Universidade Federal da Bahia, FioCruz e Centro de
Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs). A ideia é basear os conteúdos em
evidências científicas para combater a desinformação. Já o mapa de casos e mortes do novo
coronavírus desenvolvido pelo G1 facilita o acesso a dados recentes em cada cidade brasileira,
traduzindo o conteúdo de uma forma mais amigável e interativa. A chancela de empresas
jornalísticas, universidades, órgãos científicos manifestam uma maneira de validar o discurso para o
público que se encontra imerso em informação.
18 Disponível em: < https://especiais.g1.globo.com/bemestar/coronavirus/mapa-coronavirus>
17 Disponível em: <https://covid19br.org>
16 Disponível em <https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/epicentro>
15 "Não há quem goste de ser número. Gente merece existir em prosa". Disponível em: <https://inumeraveis.com.br>.
14 Disponível em: <https://bocado.lat/pt>.
5. Considerações Finais
A inovação tem como característica a amplitude, especialmente na indústria criativa. Isso porque
“onde traçar a linha entre inovação e produção rotineira de mídia não é óbvio” (LINDMARK et al.,
2013, p. 130, tradução nossa). Por isso, importa discutir termos como soft-innovation (STONEMAN,
2008; 2010) e CPP (JAANISTE, 2009), em que aspectos estéticos e autorais são também privilegiados.
A análise das iniciativas demonstrou esta percepção, com indicações de casos que catalisam
inovações, mudanças de processos impulsionadas pelo isolamento social na pandemia da COVID-19
e ações de educação e treinamento, além de projetos específicos.
Esta investigação endereçou os seguintes problemas de pesquisa: quais as características
das inovações em jornalismo oriundas do início da Pandemia (março a agosto de 2020) no Brasil?;
quem liderou estas inovações no Brasil (mídias de legado, nativos digitais, universidades, consórcios
ou Associações, Sindicatos e ONGs)?. Neste sentido, o fato das categorias de Conteúdo & Narrativa
(66%), Novas formas narrativas (62%) e inovação criativa (70%) apresentarem maior recorrência
corrobora a característica habitual do jornalismo de enfocar o conteúdo. A origem das inovações ter
partido dos nativos digitais, também ratifica o dinamismo e maior rapidez de adaptação destes
novos incumbentes. Além disso, logo após as inovações de enfoque, os dados demonstram que as
transformações da pandemia, relacionadas à força Discomfort innovation (FLORES, 2019) foram
catapultadas por medidas mais intensas de colaboração. Ainda, metade das iniciativas relacionadas
à cobertura da pandemia de 2020 surgem com alcance nacional, embora exemplos regionais (24%) e
locais (10%) também tenham emergido, especialmente com propostas experimentais.
O procedimento metodológico escolhido para esta investigação tem aspecto inovador,
mas também possui limitações: as indicações têm representatividade de 12 estados19 e, mesmo
amplamente divulgada, a pesquisa pode ter um viés quanto à diversidade de iniciativas jornalísticas
brasileiras. Outro pormenor é que o estudo parte das perspectivas coletivas do que se entende
como inovação no jornalismo, de uma base de respondentes inserida no campo acadêmico (embora
nem sempre na comunicação ou jornalismo) e profissional.
Percebemos que a inovação no jornalismo pode ser acelerada por um momento como a pandemia,
que suscita novas estratégias e iniciativas: a maioria dos projetos estava relacionado a esta temática.
No entanto, esta força também pode ser (mais um) catalisador do imediatismo, com iniciativas que
19 Nomeadamente: Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, São Paulo, Bahia, Piauí, Maranhão, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
Paraná, Mato Grosso e Pernambuco.
encerram-se em um projeto ou narrativa experimental com começo, meio e fim, com impacto de
exploração de seleção ou compactação de conteúdo, mas não necessariamente respondendo aos
desafios de sobrevivência da indústria de notícias.
Como possibilidades futuras, esta pesquisa suscitou interesse em entender iniciativas
oriundas de fundos e editais de fomento à inovação durante a pandemia ou alheias a ela. Isso
porque a crise sanitária e econômica fomentou ainda este tipo de auxílio para a sustentabilidade do
mercado de notícias: o International Press Institute20 criou inclusive um site para reunir as
oportunidades de financiamento para o jornalismo durante a pandemia. Em setembro de 2020, o
site já reunia mais de uma dezena de oportunidades ao redor do mundo e afirmava que uma série
de plataformas de tecnologia, fundações de mídia e outros estavam disponibilizando fundos para
jornalistas e organizações de mídia de notícias para ajudar a administrar o impacto da COVID-19
para os negócios da mídia, apoiar jornalistas em necessidade e ampliar a capacidade de reportar.
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Thesis
Full-text available
This research stems from the appearance, resurgence and revitalization of media labs around the world (PLOHMAN; BUTCHER, 2010; SALAVERRÍA, 2015; TANAKA, 2011), especially those focused on media and journalism, as a means to investigate media innovation, particularly when related to journalism, in an experimental context. To that end, this thesis addresses the following research problems: what is the context of emergence and the characteristics of media labs focused on media and journalism?; what are the premises of the innovation processes of these labs?; what are the characteristics of the innovation in media and/or journalism in an experimental context through the perception of the leaders of these labs?; and, finally, what are the characteristics of media innovation, particularly when connected to the journalism industry, in an experimental context through these labs? Authors such as Lavine and Wackman (1988), Fergusson (1991), Lindmark et al., (2013), Storsul and Krumsvik (2013) and Dogruel (2013; 2014; 2015) guide this research regarding already-mapped particularities of media and journalism innovation. The relation with journalism is grounded on authors such as Deuze (2008), Boczkowski (2005), Salaverría (2015), García-Avilés et al., (2019) and Posetti (2018). From a theoretical standpoint, this investigation is based on the building of a media labs database, a survey with lab leaders and a documental analysis of their projects. This research has been conducted in partnership with the World Association of Newspapers and News Publishers (WAN-IFRA), through the Global Alliance for Media Innovation (GAMI), and has identified 123 active labs, mainly in Latin America, North America and Europe. Besides that, 54 media labs leaders from 15 countries answered the survey. As a result, the thesis proposes the emergence of four types of media innovation: (1) Creative Innovation: based on creative-intellectual strategies, exclusively impacting journalistic content/narrative and consumption; (2) Reflective innovation: organizational or process innovation without technological mediation; (3) Exploratory innovation: appropriation of technologies for production, distribution and/or consumption, and (4) Generative innovation: development and implementation of functional innovation for production, distribution and/or consumption. Still, it argues that media innovation, particularly journalistic, demands specific axes of analysis that start from five dimensions: (1) assumptions of innovation, (2) innovative initiative, (3) organizational culture and structure (4) appropriation of innovation and (5) contribution / results.
Research
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How are digital news sites learning to survive in a tough online media environment? This report examines 13 digital-born news media organisations across four European countries: France, Germany, Spain, and the UK building on a report on this sector two years ago. It analyses both editorial and business strategy in order to understand the unique but shifting set of challenges faced by online news outlets without legacy operations.
Article
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This paper explores how innovation emerges in the media through the views of journalists who are leading the process of newsroom change in Spain. Data were collected from semi-structured interviews with 20 journalists working in some of the most innovative outlets, according to the 2014 Index of Journalism Innovation in Spain (García-Avilés, Carvajal- Prieto, De Lara-González, & Arias-Robles, 2018). The results highlight the importance of innovations in content production, internal organization, distribution, and commercialization as the drivers of change in the media industry. Our study also reveals several factors that shape both the practice and implementation of innovations in newsrooms. We draw on these factors to outline a model of diffusion of media innovation.
Article
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ABSTRACT This study analyzes the characteristics, activities and results of the laboratories –also known simply as labs– promoted in recent years by certain high-quality international news companies. A comparative study of 31 labs was performed, based on the corporate information offered on their websites and on their Twitter accounts. This analysis identifies the prototypical structure, tasks, operations and results of the media-promoted labs as of January 2015. The research identifies four main models: 1) labs that develop applications and digital technologies; 2) labs that explore multimedia news storytelling and data journalism formats; 3) labs that promote business projects and startups; and finally, 4) labs focused on training activities and media literacy programs. RESUMEN Se analizan las características, actividades y resultados de los laboratorios –también conocidos como labs– promovidos en los últimos años por empresas periodísticas de prestigio, a escala internacional. Se realiza un estudio comparado sobre una muestra de 31 labs, en base a la información corporativa que ofrecen en sus respectivos sitios web y en sus cuentas en Twitter. Ese análisis permite identificar la estructura prototípica, tareas, funcionamiento y resultados de los labs en los medios. Se identifican cuatro modelos principales: 1) dedicados al desarrollo de aplicaciones y tecnologías digitales; 2) centrados en la exploración de nuevas narrativas multimedia y el periodismo de datos; 3) destinados a promover proyectos empresariales y startups; y 4) orientados a actividades de formación profesional y programas de alfabetización mediática.
Chapter
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In order to understand and explain current developments in the media landscape, using the lens of innovation and innovation theory adds value to media research. This chapter gives a theoretical introduction to the concept of innovation. It argues that media innovations may be related to product innovation, process innovation, position innovation, paradigmatic innovation and social innovation, and that innovation may involve different degrees of novelty. The chapter also highlights key influences on innovation in the media: (1) technology, (2) market opportunities and user behaviour, (3) behaviour of competitors, (4) regulation, (5) industry norms, (6) company strategy, (7) leadership and vision, (8) organisational structure, (9) capacity and resources, and (10) culture and creativity.
Book
In this study of how daily newspapers in America have developed electronic publishing ventures, Pablo Boczkowski shows that new media emerge not just in a burst of revolutionary technological change but by merging the structures and practices of existing media with newly available technical capabilities. His multi-disciplinary perspectives of science and technology, communication, and organization studies allow him to address the connections between technical, editorial, and work facets of new media. This approach yields analytical insights into the material culture of online newsrooms, the production processes of new media products, and the relationships between offline and online dynamics. Boczkowski traces daily newspapers' early consumer-oriented non-print publishing initiatives, from the now-forgotten videotex efforts of the 1980s to the rise of the World Wide Web in the mid- 1990s. He then examines the formative years of news on the Web during the second half of the 1990s, when the content of online newspapers varied from simple reproduction of the print edition to new material with interactive and multimedia features. With this picture of the recent history of non-print publishing as background, Boczkowski provides ethnographic, fly-on-the-wall accounts of three innovations in content creation: the Technology section of the New York Times on the Web, which was initially intended as the newspaper's space for experimentation with online news; the Virtual Voyager project of the HoustonChronicle.com, in which reporters pushed the envelope of multimedia journalism; and the Community Connection initiative of New Jersey Online, in which users became content producers. His analyses of these ventures reveal how innovation in online newspapers became an ongoing process in which different combinations of initial conditions and local contingencies led publishers along divergent paths of content creation.
Article
This paper examines the place of the creative sector - the arts, design, media and communications - within the framework of contemporary innovation. The historical focus on science-and-technology by innovation policy makers has spurred many within the creative sector to argue how and why it also contributes to innovation. Drawing on a wide range of English-speaking research and policy documents, the full gamut of places for the creative sector in innovation is surveyed. The paper ends by scoping out the conceptual and empirical research that is required if ideas about innovation in the creative sector are to take up a mature position within innovation studies and related policy.
Article
Within the scope of citizen science projects, crowdsourcing has already expanded into scientific application areas. In this, its scientific potential is only partly exhausted, however. It will be shown that transdisciplinary research is made up in content and structural aspects in such a way that crowdsourcing can fully unfold as a research method through varied participation possibilities, reflective processes and use of contemporary technical possibilities. Furthermore, mutual learning, understanding and the dissemination of knowledge strongly profits from effects that even result automatically in this context. The scientific application of crowdsourcing represented here makes high demands on project management, but it is expected to turn out as an effective research method precisely in the area of transdisciplinary research.
Article
To date, in Economics, innovation has largely been considered to relate to changes in the functionality of products and processes. The aim of the research partially reported upon in this paper is to explore innovation in goods and services that primarily impacts upon sensory perception and aesthetic appeal. This is labeled soft innovation. The nature of such innovation is addressed and some means by which it may be measured are introduced. The argument is made that such innovative activity is extensive, especially in the creative sector, and it may be more widespread than the commonly analysed technological product and process innovation. From some examples there is evidence that such innovation proceeds at a fast rate and may be getting faster.