Content uploaded by Marina Pastore
Author content
All content in this area was uploaded by Marina Pastore on Nov 09, 2021
Content may be subject to copyright.
471
Rev. Interinst. Bras. Ter. Ocup., 4(5), 471-474, 2021. DOI: 10.47222/2526-3544.rbto43923
Interinstitutional Brazilian Journal of Occupational Therapy
Pastore, M. D., Jurdi, A. P., & Silva, C. C. B. (2021). Crianças, saberes e ações práticas:
como a Terapia Ocupacional tem dialogado com as infâncias. Rev. Interinst. Bras. Ter.
Ocup., 4(5), 471-474. DOI: 10.47222/2526-3544.rbto43923
CRIANÇAS, SABERES E AÇÕES PRÁTICAS: COMO A
TERAPIA OCUPACIONAL TEM DIALOGADO COM AS
INFÂNCIAS
Children, knowledge, and practice: how occupational therapy has
dialogued with childhoods
Niños, conocimientos y acciones prácticas: cómo la terapia
ocupacional ha dialogado con las infancias
Marina Di Napoli Pastore
https://orcid.org/0000-0002-5924-8719
Instituto Superior de Ciências de Saúde,
Maputo, Moçambique
Andrea Perosa Saigh Jurdi
http://orcid.org/0000-0002-1111-5562
Universidade Federal de São Paulo.
Campus baixada santista. Curso de Terapia
Ocupacional. Santos, São Paulo, Brasil.
Carla Cilene Baptista Silva
http://orcid.org/0000-0001-9250-6065
Universidade Federal de São Paulo.
Campus baixada santista. Curso de Terapia
Ocupacional. Santos, São Paulo, Brasil.
Editorial
Resumo
Estudar as infâncias têm sido, nos últimos anos, pontos de diversas disciplinas. Na Terapia
Ocupacional, o campo das infâncias e o trabalho com crianças constituem um leque abrangente de
áreas em comum e formas distintas de se pensar e colocar em prática os diversos seguimentos de
atuação da profissão. Pensando em modos plurais de se trabalhar com crianças, este dossiê
condensa em seus textos alguns trabalhos, pesquisas e abordagens de terapeutas ocupacionais
com a população infantil, cujo objetivo é criar um caleidoscópio de referências para ampliar o
desenvolvimento de ações, saberes e fazeres com crianças em seus múltiplos contextos.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional. Crianças. Infâncias
Abstract
Studying childhoods have been, in recent years, points of various disciplines. In Occupational
Therapy, the field of childhood and work with children constitute a wide range of common areas
and distinct ways of thinking and putting into practice the various segments of the profession's
performance. Thinking about plural ways of working with children, this dossier condenses in his
texts some works, research and approaches of occupational therapists with the child population,
whose objective is creating a kaleidoscope of references to expand the development of actions,
knowledge and do with children in their multiple contexts.
Keywords: Occupational Therapy. Children. Childhood.
Crianças, saberes e ações práticas 472
Rev. Interinst. Bras. Ter. Ocup., 4(5), 471-474, 2021.
1. Editorial
Os estudos das infâncias têm avançado, ao longo dos últimos tempos, no desenvolvimento de questões
sobre a diversidade e pluralidade de infâncias, levando em consideração as crianças e seus contextos,
baseado em situações reais, adversas e com variações territoriais. Há se questionado os modelos
universais e hegemônicos de uma infância única, bem como das normativas sobre ser criança, em um
entendimento sobre o que é a criança e o que é a infância (Cohn, 2005; Punch, 2015; 2019; Esser et
al., 2019; Pastore, 2020).
Ao compreendermos a infância enquanto categoria geracional, estrutural e como construção social,
heterogênea e plural, de acordo com a sociedade a qual se insere, seja por razões econômicas, culturais,
sociais, políticas, de gênero, entre outras, abrimos o leque de entendimentos também de uma prática
que considere a criança como sujeito de direitos e agente participativo de seu processo.
Dentro da terapia ocupacional, a discussão sobre a cultura e os aspectos socioculturais nas práticas e
ações de terapeutas ocupacionais também têm avançado ao longo dos anos, a partir de princípios e
declarações oficiais da Federação Mundial de Terapeutas Ocupacionais (WFOT, 2010), em que se
destacam, entre outros, a diversidade, a cultura e os direitos humanos. Embora não específicos sobre
as produções e práticas com crianças, os princípios têm sido considerados nas estratégias e práticas de
intervenção dentro da categoria, em perspectivas nacionais e internacionais, que trazem a compreensão
territorial e de partilhamento de saberes, na qual as vozes das crianças, enquanto sujeitos de direito e
agentes participativos na construção de seus processos e histórias de vida.
Considerar as crianças e suas vozes é, também, reforçar o respeito aos valores, crenças e diversidade
cultural, em consonância com aspectos sociais, psicológicos, biológicos, econômicos, políticos e
espirituais de cada indivíduo e sua participação social, como colocado diante do cenário mundial (WFOT,
2010), bem como no nacional. Como discute Cohn, “a experiência da criança e do ser criança é cultural
e só pode ser apreendida em contexto” (Cohn, 2005, p. 14), sendo que o esforço aqui é o de trazer
contribuições para um debate que possa compreender as crianças enquanto produtoras de cultura,
protagonistas de suas histórias e modos de agir no mundo ao qual pertencem, partilham, transformam
e são transformadas, em relação com os terapeutas ocupacionais e nas relações que estabelecem entre
si, entre os contextos e as formas de viver em sociedade, situadas em espaços-tempos singulares e
plurais, convocando terapeutas ocupacionais a refletirem e discutirem sobre os cenários de atuação, a
relação com o brincar e a produção de saberes pelas crianças, em relações dialógicas e territoriais.
Este dossiê tem o propósito de estabelecer um diálogo entre pesquisas, ações e práticas de terapeutas
ocupacionais, que estejam ou tenham trabalhado com as crianças e suas produções, a partir das
diversidades existentes entre elas e a constituição de uma pluralidade de infâncias possíveis. A partir da
ideia de registrar os múltiplos saberes da terapia ocupacional, que compõem trabalhos práticos e
reflexivos sobre as infâncias diversas, este dossiê está longe de estabelecer uma normativa ou consenso
Crianças, saberes e ações práticas 473
Rev. Interinst. Bras. Ter. Ocup., 4(5), 471-474, 2021.
sobre as noções de infâncias ou modos de atuar com crianças, mas sim problematizar os modos distintos
que terapeutas ocupacionais têm trabalhado com esta população, bem como reunir experiências distintas
do leque de possibilidades de atuação dentro da nossa área, em que a criança, enquanto sujeito social
e de direitos, seja entendida a partir de perspectivas socioculturais e de interface com o mundo, num
diálogo constante com seus contextos, potências e criatividade, ampliando os modos de fazer de
terapeutas ocupacionais a partir de experiências reais.
Propomos, neste dossiê, o debate dentro da nossa área sobre as infâncias, alteridades e suas culturas,
entendendo as ações e relações constituídas por elas, enquanto parte das culturas existentes, num
processo contínuo, construído através da partilha e da ação coletiva, que possua significado e não seja
alienante, e que nós, enquanto terapeutas ocupacionais, possamos ser capazes de abordar as crianças
e suas práticas em si mesmas, possibilitando formas de ação que busquem também diálogos com outras
disciplinas, na interface de saberes, e na mediação de mundos e possibilidades em comum.
As propostas recebidas discutiram sobre experiências práticas, de pesquisa e reflexivas de terapeutas
ocupacionais que têm trabalhado com crianças e com questões que envolvem as infâncias, em cenários
e narrativas diversas, expressando noções como criação, participação, criatividade, ludicidade, oralidade,
religiosidade, espiritualidade, questões de gênero e/ou raça, em interface com outras disciplinas e entre
outras possibilidades, trazendo para a discussão uma abertura e amplitude no caleidoscópio de
possibilidade e ações da terapia ocupacional com as crianças no Brasil e em Moçambique.
Referências
Cohn, C. (2005). Antropologia da criança. Jorge Zahar Ed.
Punch, S. (2015). Possibilities for learning between childhoods and youth in the Minority and Majority
worlds: Youth transitions as an example of cross-world dialogue. In: Wyn, J.; Cahill, H. (Eds.),
Handbook of Children and Young Adulthood (pp. 689-701). Springer
Punch, S. (2019). Exploring children’s agency across majority and minority world contexts. In: Esser,
F. et al. (Eds.), Reconceptualising Agency and Childhood: New perspectives in Childhood Studies (pp.
183-196). Routledge
Esser, F. et al. (2019). Reconceptualising agency and childhood. An introduction. In: Esser, F. et al.
(Eds.), Reconceptualising Agency and Childhood: New perspectives in Childhood Studies (pp. 1.15).
Routledge
Pastore, M. N. (2020). Brincar-brinquedo, criar-fazendo: entrelaçando pluriversos de infâncias e
crianças desde o sul de Moçambique. [Tese de Doutorado. Universidade Federal de São Carlos, São
Carlos].
Crianças, saberes e ações práticas 474
Rev. Interinst. Bras. Ter. Ocup., 4(5), 471-474, 2021.
WFOT - World Federation of Occupational Therapists. (2010). Position Statements. Diversity and
Culture. https://www.wfot.org/resources/diversity-and-culture.
Contribuição dos autores: todas as autoras foram responsáveis pela elaboração, formatação e revisão
do texto.
Recebido em: 25/05/2021
Aceito em: 28/06/2021
Publicado em: 09/11/2021
Editor(a): Ana Carollyne Dantas de Lima