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O Livro do Cais das Colunas: Memória e Identidade

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Abstract

[INTRODUÇÃO] O Cais das Colunas é um dos lugares mais simbólicos da cidade de Lisboa. É impossível dissociar os últimos 26 anos da minha vida deste cais de pedra, construído como entrada nobre da “sala de visitas” da cidade de Lisboa – a Praça do Comércio. A designação "caes das columnas" é empregada desde, pelo menos, Julho de 1800 – ainda se ultimava a construção do embarcadouro, uma obra tão complexa e demorada por depender dos humores da Natureza e do Homem. Ao longo dos seus primeiros dois séculos e meio, ali desembarcaram monarcas e plebeus, mercadorias e passageiros, gente nacional mas também estrangeiros. Deste modo se construiu a identidade histórico-patrimonial e o simbolismo do cais da Praça do Comércio, com as suas colunas de formas metamorfoseadas – de pedra ou de madeira – mas sempre Cais das Colunas. Quando, em 1996, foi definido que seria necessário desmontar parcialmente o embarcadouro (para a realização de obras de expansão do Metropolitano de Lisboa), como que num sinal de alerta, durante um temporal, a coluna oriental do Cais das Colunas partiu-se e mergulhou no Tejo. O jornal Público difundiu, jocosamente, o título – “Dão-se alvíssaras a quem indicar o paradeiro da coluna…” – que fazia lembrar outros, bem antigos, que evidenciavam a queda de uma das colunas (sendo amiúde referido como “Cais da Coluna”). O presente livro decorre da investigação sobre o Cais das Colunas, que iniciei em 1996 e creio nunca vir a terminar, e que é razão de uma sequência de títulos editoriais: "Cais Real de Belém e Cais da Pedra no Terreiro do Paço. Planos de D. João V para a Marinha de Lisboa" (Mazu Press, 2019; 2.ª ed. aumentada de "Cais da Pedra e Cais Real. Planos Joaninos para a Marinha de Lisboa", de 2016), "Plans for the Riverside of Lisbon. Ancient Quays at Terreiro do Paço and Belém" (Mazu Press, 2017) e "Plans pour la Rive de Lisbonne. Anciens Quais au Terreiro do Paço et à Belém" (Mazu Press, 2017). Prevê-se, à data presente, a publicação do Guia Essencial do Cais das Colunas (em versão trilingue) ainda em 2022. Apesar do seu título – "O Livro do Cais das Colunas" – que faz supor tratar-se de uma obra completa à qual nada mais, de relevante, haverá a acrescentar, é assumidamente um projecto em contínua construção. Este livro apresenta uma parcela das fontes recolhidas e dos temas pesquisados e amadurecidos nas últimas duas décadas e meia de trabalho – distribuído entre investigação académica, projecto e acompanhamento das obras de desmontagem parcial e de reposição. Durante a empreitada de desmontagem (em 1997), a importância deste cais – para a população – ficou evidente. Raro era o dia em que não se juntavam “interessados” junto aos tapumes, questionando a razão para tal “maldade”. Em 2008, com a conclusão dos trabalhos de reposição – que incluíram etapas de reforço, conservação e restauro – foi devolvido à fruição de todos um Cais das Colunas fortalecido, rejuvenescido, pronto para mais dois séculos de existência e deleite. Tendo como âmago permanente o Cais das Colunas – o "Novo Caes da Praça do Commercio", construído no âmbito da reconstrução da cidade de Lisboa após o terramoto de 1755 – e percorrendo a linha cronológica desde os tempos anteriores à catástrofe até aos nossos dias, este livro desenvolve-se em cinco capítulos. -- O capítulo I (Antecedentes) é dedicado à contextualização, a factos e acontecimentos anteriores à existência do Cais das Colunas, abordando, entre outros assuntos, os planos para a marinha (a faixa ribeirinha da cidade de Lisboa) traçados no reinado de D. João V designadamente o(s) cais traçado(s) por Carlos Mardel antes do terramoto de 1755. Destes, destaca-se o detalhe do embarcadouro designado Cais Real de Belém – um cais semelhante ao Cais das Colunas, embora com quase o dobro da dimensão – inaugurado em Belém, em frente ao Palácio Real de Belém (actual Palácio da Presidência da República), em 1753, e demolido em finais do século XIX. Reforço a minha tese de que o Cais das Colunas veio colmatar uma lacuna sentida desde, pelo menos, a década de 1610, bem como concretizar o que D. João V já havia recebido em plano. Parte deste tema foi explorado, de forma detalhada e territorialmente mais abrangente no livro "Cais Real de Belém e Cais da Pedra no Terreiro do Paço" (Mazu Press, 2019), antes citado. -- O capítulo II (Construção) versa, com as limitações que a análise das fontes documentais estabelece, a construção do Cais das Colunas, obra concluída na última década do século XVIII. São traçadas considerações acerca da sua morfologia (“meia-laranja”), apresentadas prospectivas do Terreiro do Paço e os limites cronológicos das principais etapas da construção do cais da Praça do Comércio. -- O capítulo III (Fruição, Usos e Sociabilidades) abrange todo o século XIX e culmina em 1957, com a visita da Rainha Isabel II de Inglaterra que ali granjeou do último desembarque de pompa do embarcadouro. São descritas as utilizações relacionadas com “as barcas de banhos”, as opiniões de portugueses e de visitantes estrangeiros acerca da Praça do Comércio e dos seus cais (o Cais das Colunas e os outros dois, menores, que o ladearam até finais de Novecentos). A iconografia que documenta parte das mais de duas dezenas de embarques e desembarques de “notáveis” – entre 1808 (com o “Embarque dos Franceses”) e 1957 (Rainha Isabel II de Inglaterra) – permitiu coadjuvar a definição da evolução das várias colunas (de configurações e materiais diferentes) que o Cais das Colunas assumiu desde a sua génese. É este um dos temas do capítulo seguinte. -- O capítulo IV (Identidade, Fantasia e Valor Simbólico) aborda a construção do valor patrimonial do Cais das Colunas e destaca a evolução das colunas que o distinguem e nomeiam, embora estas sejam mutantes (em formas e materiais). São documentadas as inscrições, sulcadas nas colunas, que registaram as viagens ultramarinas e deixaram as colunas assinadas "Carmona" e "Salazar" – cujos vestígios persistem. Como corolário é analisada a formação da identidade do lugar, através da sua estruturação enquanto referência colectiva (nacional e além-fronteiras), e que, desde os seus primórdios, justifica que o Cais das Colunas amiúde esteja presente como elemento simbólico na literatura e nas artes visuais. -- O capítulo V (Matéria e Estado de Conservação) documenta as linhas metodológicas das intervenções de 1996 a 2008 (empreitadas de desmontagem parcial, projecto de reposição e empreitada de reposição) e dos trabalhos de conservação preventiva que se realizaram de permeio. A caracterização de estado de conservação, em 1996, é o mote para o plano de conservação preventiva e a caracterização de materiais pétreos, argamassas e madeiras (de que se referem as publicações científicas resultantes dos ensaios laboratoriais realizados). Com este livro foi minha aspiração contribui para o melhor entendimento do Cais das Colunas e, como é minha obrigação cívica e enquanto investigadora, partilhar os conhecimentos reunidos. Procurei ser detalhada e clara mas, para não desencorajar o leitor, moderei a apresentação de informações, descrições e análises excessivas. Gostaria que todo o amante de Lisboa, do seu Património e da sua História, aqui descubra mais razões para admirar o Cais das Colunas e para se deixar encantar pela sua notável vida.
Alexandra de Carvalho Antunes
O LIVRO DO
CAIS DAS COLUNAS
Memória e Identidade
O LIVRO DO CAIS DAS COLUNAS: MEMÓRIA E IDENTIDADE
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 11
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........................................................................................ 15
1.1. Sobre a necessidade de um cais real no Terreiro do
Paço ................................................................................................ 16
1.2. Planos de D. João V para a marinha de Lisboa e os cais
de Carlos Mardel ....................................................................... 18
1.3. O Cais Real de Belém congénere do Cais das Colunas. 26
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2.1. Considerações: morfologia e singularidades ..................... 34
2.2. Prospectivas da nova Praça do Comércio ........................... 37
2.3. Obras de construção do Cais das Colunas .......................... 39
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................................................................................... 47
3.1. Primórdios: as colunas, razão de um nome ........................ 48
3.2. As barcas dos banhos e o cais ................................................. 50
3.3. Juízos acerca do caes e da nova praça.................................. 62
3.4. Embarques e desembarques, 1808-1957 ............................ 78
3.4.1. Embarque dos Franceses (1808, 15 de Setembro) e
desembarque de D. João VI, “regressando do Brasil” (1821,
4 de Julho) ............................................................................................... 81
3.4.2. “Desembarque” da imagem de Nossa Senhora da
Conceição da Rocha (1822, 5 de Agosto) e círios ...................... 83
3.4.3. Desembarque do Embaixador espanhol, Conde de
Casaflores (1825, 12 de Novembro) ............................................... 84
3.4.4. Recepção a D. Maria II (1833, 24 de Setembro) ................. 85
3.4.5. Recepção a D. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen
(1858, 18 de Maio) ................................................................................ 86
3.4.6. Recepção a D. Maria Pia de Sabóia (1862, 6 de
Outubro) ................................................................................................... 90
3.4.7. Desembarque de D. Pedro, II Imperador do Brasil (1872,
20 de Junho) ............................................................................................ 93
ALEXANDRA DE CARVALHO ANTUNES
8
3.4.8. Desembarque de Óscar II, Rei da Suécia e da
Dinamarca (1888, 13 de Junho) ....................................................... 94
3.4.9. Desembarque de Eduardo VII, Rei da Grã-Bretanha e
Irlanda (1903, 2 de Abril) ................................................................... 95
3.4.10. Desembarque de Afonso XIII, Rei de Espanha (1903, 13
de Dezembro) ......................................................................................... 97
3.4.11. Desembarque da Rainha Alexandra de Inglaterra
(1905, 22 de Março) ............................................................................. 98
3.4.12. Visita de Guilherme II, Imperador da Alemanha (1905,
27 de Março) ........................................................................................... 99
3.4.13. Embarque de Émile Loubet, Presidente da República
francesa (1905, 29 de Outubro) .................................................... 102
3.4.14. Desembarque e recepção à Rainha Isabel II de
Inglaterra (1957, 18 de Fevereiro) ................................................ 103
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....................... 107
4.1. O Cais das Colunas e as colunas do cais identidade e
mutação, 1793-1907 .............................................................. 108
4.2. A sátira às colunas de madeira e às colunas ausentes e
o cais fantasiado em 1906 ................................................... 117
4.3. As colunas intermitentes, os cacilheiros e as inscrições
assinadas por Carmona e por Salazar ............................. 124
4.4. Valor patrimonial do Cais das Colunas, identidade e
autenticidade ............................................................................ 134
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.................................... 141
5.1. Enquadramento e descrição ................................................... 142
5.2. Empreitadas de desmontagem parcial e de reposição,
1996-2008 .................................................................................. 146
5.3. Estado de conservação, biodeterioração,
vulnerabilidade e conservação preventiva em
ambiente marinho ................................................................... 158
5.3.1. Introdução ..................................................................................... 158
5.3.2. Estado de conservação (1996-2013) e padrão de
zonação de macroorganismos ....................................................... 159
O LIVRO DO CAIS DAS COLUNAS: MEMÓRIA E IDENTIDADE
9
5.3.3. Modelo de avaliação da vulnerabilidade para
monumentos em ambiente marinho .......................................... 166
5.3.4. Conservação preventiva do Cais das Colunas notas
preliminares ......................................................................................... 168
ANEXOS ........................................................................................................ 171
FONTES E BIBLIOGRAFIA ........................................................................ 183
1. Fontes Manuscritas ........................................................................ 183
2. Periódicos .......................................................................................... 185
3. Outras Fontes e Bibliografia ....................................................... 186
ÍNDICE DE FIGURAS, CRÉDITOS .......................................................... 202
O LIVRO DO CAIS DAS COLUNAS: MEMÓRIA E IDENTIDADE
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INTRODUÇÃO
O Cais das Colunas é um dos lugares mais simbólicos da ci-
dade de Lisboa. É impossível dissociar os últimos 26 anos da
minha vida deste cais de pedra, construído como entrada nobre
da “sala de visitas” da cidade de Lisboa – a Praça do Comércio.
A designação caes das columnas é empregada desde, pelo
menos, Julho de 1800 ainda se ultimava a construção do em-
barcadouro, uma obra tão complexa e demorada por depender
dos humores da Natureza e do Homem.
Ao longo dos seus primeiros dois séculos e meio, ali desem-
barcaram monarcas e plebeus, mercadorias e passageiros, gen-
te nacional mas também estrangeiros. Deste modo se construiu
a identidade histórico-patrimonial e o simbolismo do cais da
Praça do Comércio, com as suas colunas de formas metamorfo-
seadas de pedra ou de madeira mas sempre Cais das Colunas.
Quando, em 1996, foi definido que seria necessário desmon-
tar parcialmente o embarcadouro (para a realização de obras de
expansão do Metropolitano de Lisboa), como que num sinal de
alerta, durante um temporal, a coluna oriental do Cais das Co-
lunas partiu-se e mergulhou no Tejo. O jornal Público difundiu,
jocosamente, o título “Dão-se alvíssaras a quem indicar o pa-
radeiro da coluna…” que fazia lembrar outros, bem antigos,
que evidenciavam a queda de uma das colunas (sendo amiúde
referido como “Cais da Coluna”).
O presente livro decorre da investigação sobre o Cais das
Colunas, que iniciei em 1996 e creio nunca vir a terminar, e que
é razão de uma sequência de títulos editoriais: Cais Real de Be-
lém e Cais da Pedra no Terreiro do Paço. Planos de D. João V
para a Marinha de Lisboa (Mazu Press, 2019; 2.ª ed. aumentada
de Cais da Pedra e Cais Real. Planos Joaninos para a Marinha de
Lisboa, de 2016), Plans for the Riverside of Lisbon. Ancient Quays
at Terreiro do Paço and Belém (Mazu Press, 2017) e Plans pour la
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Rive de Lisbonne. Anciens Quais au Terreiro do Paço et à Belém
(Mazu Press, 2017). Prevê-se, à data presente, a publicação do
Guia Essencial do Cais das Colunas (em versão trilingue) ainda
em 2022.
Apesar do seu título O Livro do Cais das Colunas que faz
supor tratar-se de uma obra completa à qual nada mais, de re-
levante, haverá a acrescentar, é assumidamente um projecto em
contínua construção. Este livro apresenta uma parcela das fon-
tes recolhidas e dos temas pesquisados e amadurecidos nas
últimas duas décadas e meia de trabalho distribuído entre
investigação académica, projecto e acompanhamento das obras
de desmontagem parcial e de reposição.
Durante a empreitada de desmontagem (em 1997), a impor-
tância deste cais para a população ficou evidente. Raro era o
dia em que não se juntavam “interessados” junto aos tapumes,
questionando a razão para tal “maldade”. Em 2008, com a con-
clusão dos trabalhos de reposição que incluíram etapas de
reforço, conservação e restauro foi devolvido à fruição de to-
dos um Cais das Colunas fortalecido, rejuvenescido, pronto para
mais dois séculos de existência e deleite.
Tendo como âmago permanente o Cais das Colunas o No-
vo Caes da Praça do Commercio, construído no âmbito da re-
construção da cidade de Lisboa após o terramoto de 1755 e
percorrendo a linha cronológica desde os tempos anteriores à
catástrofe até aos nossos dias, este livro desenvolve-se em cin-
co capítulos.
O capítulo I (Antecedentes) é dedicado à contextualização,
a factos e acontecimentos anteriores à existência do Cais das
Colunas, abordando, entre outros assuntos, os planos para a
marinha (a faixa ribeirinha da cidade de Lisboa) traçados no
reinado de D. João V designadamente o(s) cais traçado(s) por
Carlos Mardel antes do terramoto de 1755. Destes, destaca-se o
detalhe do embarcadouro designado Cais Real de Belém um
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cais semelhante ao Cais das Colunas, embora com quase o do-
bro da dimensão inaugurado em Belém, em frente ao Palácio
Real de Belém (actual Palácio da Presidência da República), em
1753, e demolido em finais do século XIX.
Reforço a minha tese de que o Cais das Colunas veio colma-
tar uma lacuna sentida desde, pelo menos, a década de 1610,
bem como concretizar o que D. João V havia recebido em
plano. Parte deste tema foi explorado, de forma detalhada e
territorialmente mais abrangente no livro Cais Real de Belém e
Cais da Pedra no Terreiro do Paço (Mazu Press, 2019), antes ci-
tado.
O capítulo II (Construção) versa, com as limitações que a
análise das fontes documentais estabelece, a construção do Cais
das Colunas, obra concluída na última década do século XVIII.
São traçadas considerações acerca da sua morfologia (“meia-
-laranja”), apresentadas prospectivas do Terreiro do Paço e os
limites cronológicos das principais etapas da construção do cais
da Praça do Comércio.
O capítulo III (Fruição, Usos e Sociabilidades) abrange to-
do o século XIX e culmina em 1957, com a visita da Rainha Isa-
bel II de Inglaterra que ali granjeou do último desembarque de
pompa do embarcadouro. São descritas as utilizações relacio-
nadas com “as barcas de banhos”, as opiniões de portugueses e
de visitantes estrangeiros acerca da Praça do Comércio e dos
seus cais (o Cais das Colunas e os outros dois, menores, que o
ladearam até finais de Novecentos).
A iconografia que documenta parte das mais de duas deze-
nas de embarques e desembarques de “notáveis” entre 1808
(com o “Embarque dos Franceses”) e 1957 (Rainha Isabel II de
Inglaterra) permitiu coadjuvar a definição da evolução das
várias colunas (de configurações e materiais diferentes) que o
Cais das Colunas assumiu desde a sua génese. É este um dos
temas do capítulo seguinte.
ALEXANDRA DE CARVALHO ANTUNES
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O capítulo IV (Identidade, Fantasia e Valor Simbólico)
aborda a construção do valor patrimonial do Cais das Colunas e
destaca a evolução das colunas que o distinguem e nomeiam,
embora estas sejam mutantes (em formas e materiais). São do-
cumentadas as inscrições, sulcadas nas colunas, que registaram
as viagens ultramarinas e deixaram as colunas assinadas Car-
mona e Salazar cujos vestígios persistem. Como corolário é
analisada a formação da identidade do lugar, através da sua
estruturação enquanto referência colectiva (nacional e além-
-fronteiras), e que, desde os seus primórdios, justifica que o Cais
das Colunas amiúde esteja presente como elemento simbólico
na literatura e nas artes visuais.
O capítulo V (Matéria e Estado de Conservação) docu-
menta as linhas metodológicas das intervenções de 1996 a 2008
(empreitadas de desmontagem parcial, projecto de reposição e
empreitada de reposição) e dos trabalhos de conservação pre-
ventiva que se realizaram de permeio. A caracterização de esta-
do de conservação, em 1996, é o mote para o plano de conser-
vação preventiva e a caracterização de materiais pétreos, arga-
massas e madeiras (de que se referem as publicações científicas
resultantes dos ensaios laboratoriais realizados).
Com este livro foi minha aspiração contribui para o melhor
entendimento do Cais das Colunas e, como é minha obrigação
cívica e enquanto investigadora, partilhar os conhecimentos
reunidos. Procurei ser detalhada e clara mas, para não desenco-
rajar o leitor, moderei a apresentação de informações, descri-
ções e análises excessivas.
Gostaria que todo o amante de Lisboa, do seu Património e
da sua História, aqui descubra mais razões para admirar o Cais
das Colunas e para se deixar encantar pela sua notável vida.
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