A vistar um animal silvestre atropelado é um cenário comum a quem trafega por muitas rodovias brasileiras. No entan-to, o atropelamento de animais silvestres é uma das prin-cipais ameaças a muitas espécies da fauna brasileira. O núme-ro de animais mortos todos os anos em nossas rodovias ultra-passa os milhares e, até então, nada se tem feito para minimi-zar os impactos dos atropelamentos sobre as populações naturais. Uma das rodovias brasileiras com grande incidência de ani-mais silvestres atropelados é a BR-262, especialmente o trecho que liga Campo Grande ao município de Corumbá no Mato Gros-so do Sul. Este trecho corta um dos biomas com maior riqueza de es-pécies do Brasil, o Pantanal. A partir de 1986 a rodovia recebeu pavimentação em toda a sua extensão, o que consequentemen-te promoveu um aumento do tráfego e da velocidade dos veículos. No entanto, para os animais a rodovia continua sendo o mesmo obstáculo que eles necessitam ultrapassar para chegar ao outro lado da sua área de vida. O que mais impressiona, é que sempre que se faz este per-curso é possível observar animais atropelados. Dentre eles, es-pécies ameaçadas de extinção e que já são consideradas extin-tas em outras regiões do Brasil como o Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), Cervo-do-Pantanal (Blastocerus dicothomus) e Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus). Ao que tudo indica, o problema se agrava muito durante a estação seca, já que devido à falta de água, os animais pre-cisam se movimentar muito até encontrar locais onde não houve a diminuição do fluxo dos mananciais, como também para fugir de queimadas, freqüentes entre maio e setembro. Entre os animais atropelados, observa-se que os mamíferos de médio e grande porte, em geral, sofrem muito com os atrope-lamentos, o que deve estar relacionado com a sua necessida-de de amplas áreas de vida e capacidade de realizar grandes deslocamentos. Estradas que percorrem áreas com um certo grau de preser-vação apresentam um maior índice de atropelamentos. Além dis-so, recursos alimentares ao longo da estrada, são atrativos para A VIDA PEDE SOCORRO NAS ESTRADAS Nada tem sido feito para evitar os milhares de atropelamentos de animais silvestres nas rodovias brasileiras muitas espécies e podem aumentar o risco dos atropelamentos. O atropelamento de animais silvestres em rodovias é um pro-blema que acontece em todo o mundo. Entretanto, muitos paí-ses já buscaram alternativas para adaptar suas rodovias à pre-sença de animais silvestres, minimizando os efeitos do tráfego intenso sobre as populações naturais. No Canadá, a maior parte das rodovias possui os chamados "underpass", que nada mais são do que passagens instaladas sob a rodovia, utilizadas por diversos animais. Esses pequenos tú-neis, de certa forma, mantém a conectividade entre as áreas na-turais, isoladas pela passagem da rodovia. Em muitos países eu-ropeus como em Portugal, foram adaptadas cercas ao longo das rodovias, que acabam direcionando os animais para pontos ex-clusivos de passagem. Bons exemplos também podem ser encontrados aqui no Brasil. Na região da Estação Ecológica do Taim, uma região per-manentemente alagada no sul do Rio Grande do Sul, a utiliza-ção de cercas e túneis ao longo de 40 km de uma rodovia que cru-za a Unidade de Conservação, fez com que o número de atrope-lamentos caísse de 300/mês para praticamente nenhum. Antes de se propor qualquer medida mitigadora buscando-se reduzir o impacto dos atropelamentos sobre as populações na-turais são necessários alguns estudos prévios, como verificar quais espécies de animais são atropeladas com mais freqüência e identificar os pontos críticos de atropelamentos. A partir daí, conhecendo-se as espécies, fica mais fácil determinar qual me-todologia será utilizada e em que local ela deverá ser implantada. Embora muitas rodovias do Brasil apresentem sinaliza-ção indicando a travessia de animais, isso parece não ser suficiente. É impressionante como rodovias que cruzam áreas com tanto valor para conservação de espécies, como o Pan-tanal, ainda não estejam adaptadas a elas. Precisamos urgen-temente repensar em uma maneira de adaptar nossas estra-das para os animais e não esperar que eles se adaptem às nos-sas atividades.V&A C Ca ar rl lo os s R Ro od dr ri ig go o L Le eh hn n é biólogoe e escreve para o Portal Educação. C Ca ar ro ol li in ne e L Le eu uc ch ht te en nb be er rg ge er é bióloga, doutoranda em Ecologia INPA Divulgação