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TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA SOBRE A PLANTA Anredera cordifolia

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Bibliotecária
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Luiza Alves Batista
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Natália Sandrini de Azevedo
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Edição de arte
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Copyright do texto © 2021 Os autores
Copyright da edição © 2021 Atena Editora
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A pesquisa em ciências biológicas: desafios atuais e perspectivas futuras 2
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P474
A pesquisa em ciências biológicas: desafios atuais e
perspectivas futuras 2 / Organizadores Clécio Danilo
Dias da Silva, Danyelle Andrade Mota. Ponta Grossa -
PR: Atena, 2021.
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Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5983-526-3
DOI: https://doi.org/10.22533/at.ed.263210410
1 Ciências biológicas. I. Silva, Clécio Danilo Dias da
(Organizador). II. Mota, Danyelle Andrade (Organizadora). III.
Título.
CDD 570
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escopo da divulgação desta obra.
APRESENTAÇÃO
As Ciências Biológicas, assim como as diversas áreas da Ciência (Naturais,
Humanas, Sociais e Exatas), passam por constantes transformações, as quais são
determinantes para o seu avanço cientíco. Nessa perspectiva, a coleção “A Pesquisa
em Ciências Biológicas: Desaos Atuais e Perspectivas Futuras”, é uma obra composta
de dois volumes com uma série de investigações e contribuições nas diversas áreas de
conhecimento que interagem nas Ciências Biológicas.
Assim, a coleção é para todos os prossionais pertencentes às Ciências Biológicas
e suas áreas ans, especialmente, aqueles com atuação no ambiente acadêmico e/ou
prossional. Cada volume foi organizado de modo a permitir que sua leitura seja conduzida
de forma simples e com destaque por área da Biologia.
O Volume I “Saúde, Meio Ambiente e Biotecnologia”, reúne 17 capítulos com estudos
desenvolvidos em diversas instituições de ensino e pesquisa. Os capítulos apresentam
resultados bem fundamentados de trabalhos experimentais laboratoriais, de campo e de
revisão de literatura realizados por diversos professores, pesquisadores, graduandos e pós-
graduandos. A produção cientíca no campo da Saúde, Meio Ambiente e da Biotecnologia
é ampla, complexa e interdisciplinar.
O Volume II “Biodiversidade, Meio Ambiente e Educação”, apresenta 16
capítulos com aplicação de conceitos interdisciplinares nas áreas de meio ambiente,
ecologia, sustentabilidade, botânica, micologia, zoologia e educação, como levantamentos
e discussões sobre a importância da biodiversidade e do conhecimento popular sobre
as espécies. Desta forma, o volume II poderá contribuir na efetivação de trabalhos nestas
áreas e no desenvolvimento de práticas que podem ser adotadas na esfera educacional e
não formal de ensino, com ênfase no meio ambiente e manutenção da biodiversidade de
forma de compreender e reetir sobre problemas ambientais.
Portanto, o resultado dessa experiência, que se traduz nos dois volumes
organizados, objetiva apresentar ao leitor a diversidade de temáticas inerentes as
áreas da Saúde, Meio Ambiente, Biodiversidade, Biotecnologia e Educação, como
pilares estruturantes das Ciências Biológicas. Por m, desejamos que esta coletânea
contribua para o enriquecimento da formação universitária e da atuação prossional,
com uma visão multidimensional com o enriquecimento de novas atitudes e práticas
multiprossionais nas Ciências Biológicas.
Agradecemos aos autores pelas contribuições que tornaram essa edição possível, e
juntos, convidamos os leitores para desfrutarem as publicações.
Clécio Danilo Dias da Silva
Danyelle Andrade Mota
SUMÁRIO
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 ................................................................................................................. 1
ANÁLISE DA DINÂMICA SEDIMENTAR ESPAÇO-TEMPORAL DOS ESTUÁRIOS DO
IPOJUCA E MEREPE (PE) COM BASE NOS COMPONENTES DA FRAÇÃO ARENOSA
(0,25MM E 0,50MM)
Thamiris Tárcila Veiga
Roberto Lima Barcellos
Luciana Dantas dos Santos
https://doi.org/10.22533/at.ed.2632104101
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................... 19
PRESERVAÇÃO DA SAÚDE AMBIENTAL E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE EM
AMBIENTE MARINHO E FLUVIAL: ÊNFASE NOS EFEITOS DA APLICAÇÃO DE TINTAS
VENENOSAS EM EMBARCAÇÕES NÁUTICAS
Fagner Evangelista Severo
Maria Cristina Pereira Matos
Tânia Cristina dos Santos Guedes Pinto
https://doi.org/10.22533/at.ed.2632104102
CAPÍTULO 3 ............................................................................................................... 30
SALINITY ASSESSMENT IN THE GERMINATION OF LAGUNCULARIA RACEMOSA (L.)
C. F. GAERTN. FOR SELECTING MANGROVE RESTORING SITES
Jacyara Nascimento Corrêa
James Werllen de J. Azevedo
Alexandre Oliveira
Flávia Rebelo Mochel
https://doi.org/10.22533/at.ed.2632104103
CAPÍTULO 4 ............................................................................................................... 45
BIOMONITORAMENTO DO RIO CATOLÉ GRANDE, BA, POR MEIO DA AVALIAÇÃO DE
DANOS GENÉTICOS NOS ERITRÓCITOS DE HOPLIAS MALABARICUS (BLOCH, 1794)
(CHARACIFORMES, ERYTHRINIDAE)
Hellen Karoline Brito da Rocha
Cláudia Maria Reis Raposo Maciel
Alaor Maciel Júnior
https://doi.org/10.22533/at.ed.2632104104
CAPÍTULO 5 ............................................................................................................... 55
GAMETOGÊNESE E REPRODUÇÃO DO INVASOR Auchenipterus osteomystax
(AUCHENIPTERIDAE, SILURIFORMES) NA PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DO ALTO RIO
PARANÁ, BRASIL
Claudenice Dei Tos
Herick Soares de Santana
Arthur Henrique de Sousa Antunes
Ana Luiza Faria Bernardes
https://doi.org/10.22533/at.ed.2632104105
SUMÁRIO
CAPÍTULO 6 ............................................................................................................... 72
INFLUÊNCIA DA ESTAÇÃO REPRODUTIVA SOBRE A QUALIDADE SEMINAL DE
TAMBAQUI E DE PIRAPITINGA
Mônica Aline Parente Melo Maciel
Carminda Sandra Brito Salmito Vanderley
Jordana Sampaio Leite
Felipe Silva Maciel
https://doi.org/10.22533/at.ed.2632104106
CAPÍTULO 7 ............................................................................................................... 84
ISOLAMENTO DE FUNGOS FILAMENTOSOS DE SOLOS DA UFAM E ESTERCO
BOVINO NO KM 12 BR 174, MANAUS-AM
Ana Eduarda de Aquino Veiga
Thalita Victoria Vieira Oliveira
João Raimundo Silva de Souza
Maria Ivone Lopes da Silva
https://doi.org/10.22533/at.ed.2632104107
CAPÍTULO 8 ............................................................................................................... 94
OCORRÊNCIA DO FUNGO SPOROTHRIX SPP. NAS GARRAS DOS MEMBROS
ANTERIORES DE ANIMAIS SELVAGENS
Flora Nogueira Matos
Sandra de Moraes Gimenes Bosco
Giselle Souza da Paz
Alana Lucena Oliveira
Arthur Carlos da Trindade
Luna Scarpari Rolim
Lorena Ortega Silvestre
Carlos Roberto Teixeira
https://doi.org/10.22533/at.ed.2632104108
CAPÍTULO 9 ............................................................................................................. 105
CRANIADOS SILVESTRES ATROPELADOS NA ERS 122 (Km 9 A Km 20), SÃO
SEBASTIÃO DO CAÍ, RS, BRASIL
Karina Seidel Gervasoni
Marcelo Pereira de Barros
https://doi.org/10.22533/at.ed.2632104109
CAPÍTULO 10 ........................................................................................................... 120
O MÉTODO RAPELD NA PADRONIZAÇÃO DE AMOSTRAGENS PARA ESTUDOS DE
ECOLOGIA DE MOLUSCOS TERRESTRES
Jaqueline Lopes de Oliveira
Mariana Castro de Vasconcelos
Sonia Barbosa dos Santos
https://doi.org/10.22533/at.ed.26321041010
SUMÁRIO
CAPÍTULO 11 ...........................................................................................................135
TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA SOBRE A PLANTA ANREDERA
CORDIFOLIA
Elisa Vanessa Heisler
Fernanda Trombini
Ivana Beatrice Mânica da Cruz
Marcio Rossato Badke
Juliano Perottoni
Nathália Cardoso de Afonso Bonotto
Thamara G. Flores
Neida Luiza Kaspary Pellenz
Jacqueline da Costa Escobar Piccoli
Fernanda Barbisan
Maria Denise Schimith
https://doi.org/10.22533/at.ed.26321041011
CAPÍTULO 12 ........................................................................................................... 148
PINHEIROS INVASORES NO CERRADO: ESTRUTURA DAS POPULAÇÕES E
SUGESTÃO DE MANEJO USANDO O MODELO MATRICIAL
Emilia Pinto Braga
https://doi.org/10.22533/at.ed.26321041012
CAPÍTULO 13 ........................................................................................................... 159
IMPACTOS DO USO DE ESPÉCIES EXÓTICAS NA ARBORIZAÇÃO DE VIAS PÚBLICAS:
A PERCEPÇÃO DOS MORADORES ACERCA DO NIM–INDIANO (Azadirachta indica A.
Juss.)
Antonia Rosizelia Martins Sampaio
Dan Vitor Vieira Braga
https://doi.org/10.22533/at.ed.26321041013
CAPÍTULO 14 ........................................................................................................... 171
MATERIAIS ALTERNATIVOS PARA PRODUÇÃO DE CANUDOS
Leticia de Oliveira Maia
Victor Dédalo Di Próspero Gonçalves
Karolini Buoro Araújo
Ana Gabrielle Rodrigues Pereira
Eliana Setsuko Kamimura
https://doi.org/10.22533/at.ed.26321041014
CAPÍTULO 15 ........................................................................................................... 185
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA COM ALUNOS DA
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Heric Maicon Almeida Mota
Janice Henriques da Silva Amaral
Elisângela Martins dos Santos
Iasmin Rabelo Queiroz
Eduarda Maria Silva de Souza
https://doi.org/10.22533/at.ed.26321041015
SUMÁRIO
CAPÍTULO 16 ........................................................................................................... 200
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA DE ATIVIDADE INVESTIGATIVA SOBRE
FORMIGAS COM ELABORAÇÃO DE MODELOS DIDÁTICOS
Francielle da Silva Mateus Costa
Angela Maria Muniz Gonçalves
Ilio Fealho de Carvalho
https://doi.org/10.22533/at.ed.26321041016
SOBRE OS ORGANIZADORES ............................................................................210
ÍNDICE REMISSIVO ................................................................................................. 211
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 1
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 1
ANÁLISE DA DINÂMICA SEDIMENTAR ESPAÇO-
TEMPORAL DOS ESTUÁRIOS DO IPOJUCA E
MEREPE (PE) COM BASE NOS COMPONENTES DA
FRAÇÃO ARENOSA (0,25MM E 0,50MM)
Data de submissão: 06/07/2021
Thamiris Tárcila Veiga
Departamento de Oceanografia, Universidade
Federal de Pernambuco. Recife, PE
ID Lattes: 9139628120762741
Roberto Lima Barcellos
Departamento de Oceanografia, Universidade
Federal de Pernambuco. Recife, PE
ID Lattes: 1440986556375674
Luciana Dantas dos Santos
Departamento de Oceanografia, Universidade
Federal de Pernambuco. Recife, PE
ID Lattes: 8805511945101477
RESUMO: O presente trabalho objetiva
compreender, por meio da análise dos
componentes da fração arenosa, as variações
espaço-temporais que regem a dinâmica
sedimentar do sistema estuarino-lagunar dos
rios Ipojuca e Merepe (PE). Foram coletados um
testemunho e 50 amostras superciais ao longo
do sistema estuarino, durante as estações seca e
chuvosa, nos anos de 2016 e 2017. Sedimentos
das frações granulométricas 1ø (Areia grossa)
e 2ø (Areia média) foram observados em
lupa binocular, na qual foram identicados os
componentes sedimentares e as características
morfométricas dos grãos minerais. Foi aplicado
também o índice de biogênicos marinhos (BM).
O testemunho é composto em sua maioria por
fragmentos de vegetais e rochas, com poucos
grãos de quartzo e de carapaças carbonáticas. Por
outro lado, amostras dos sedimentos superciais
são compostas principalmente por grãos
quartzosos, com poucos fragmentos de rochas,
de vegetais e de carapaças. Apenas alguns
pontos apresentam sedimentos carbonáticos em
sua composição, indicando a predominância de
sedimentos litoclásticos. A distribuição dos grãos
de origem marinha e continental não apresentou
diferenças signicativas entre as estações seca
e chuvosa. O índice de biogênicos marinhos
aplicado revelou valores negativos em quase
todas as amostras observadas, evidenciando
maior inuência de fontes continentais, o que está
diretamente relacionado ao fato dos estuários
dos rios Ipojuca e Merepe estarem localizados
no centro de uma área com extensa cobertura
de manguezais e inuência marinha restrita.
Quanto à forma e textura dos grãos minerais,
prevaleceram partículas com textura brilhante,
alta esfericidade e arestas subangulosas à
angulosas, típicos de transporte pelo aporte
uvial e retrabalhamento subaquoso estuarino
atual. No estudo temporal do testemunho, foram
observadas oscilações periódicas na composição
dos sedimentos, sendo a presença de grãos de
origem marinha inversamente proporcional aos
fragmentos continentais, indicando uma possível
associação entre tais utuações e períodos de
fortes chuvas ou variações no nível do mar.
PALAVRAS - CHAVE: Estuário; Fração arenosa;
Sedimentos; Sazonalidade; Ipojuca.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 2
ANALISYS OF SPATIO-TEMPORAL SEDIMENTARY DYNAMICS OF IPOJUCA-
MEREPE ESTUARIES BASED ON SANDY FRACTION COMPONENTS (0,25MM
AND 0,50MM)
ABSTRACT: This article aims to understand the spatiotemporal variations that governs the
sedimentary dynamics in the estuarine-lagoon system, in the estuaries of Ipojuca and Merepe
rivers (PE), by means of the analysis of the sand fraction components. One core and 50
surface samples were collected in the estuarine system, during the dry and the rainy season,
in the years 2016 and 2017. The grain-size fractions of 1ø (Coarse Sand) and (Medium
Sand) were analyzed under a binocular magnier, identifying the sediment components and
their morphometric characteristics. The marine biogenic (BM) index was also applied. The
core is mainly composed of plant and rock fragments, with few quartz minerals and carbonate
shells. In contrast, samples from the surface sediments contain mostly quartz, with few rocks,
vegetation, and shell fragments. Only some locations have presented carbonate sediments
in their composition, indicating the prevalence of lithogenic sediments. The distribution of
marine and continental sediments did not show signicant differences between the dry
and rainy seasons. The marine biogenic index revealed negative values in most samples,
showing the greater inuence of continental sources, which is directly related to the Ipojuca
and Merepe rivers estuaries being in the center of an area with extensive mangrove cover
and restricted marine inuence. The form and texture of the grains exhibited minerals with a
polished texture, high sphericity, and sub-angular to angular edges prevalence. In the core
were observed temporal oscillations in sediment composition, with the presence of biogenic
sediments being inversely proportional to continental fragments. Thus, indicating a possible
association between such uctuations and the periods of heavy rainfall or variations in the
sea level.
KEYWORDS: Estuary; Sandy Fraction; Sediments; Seasonality; Ipojuca.
1 | INTRODUÇÃO
Estuários são ambientes costeiros de transição amplamente variados e de denição
complexa. Segundo DYER (1995), podem ser denidos como corpos d’água semi-fechados,
diretamente ligados ao oceano, que percorrem o rio até o limite máximo de inuência da
maré, onde a água do mar é parcialmente diluída pela água doce que vem do continente.
Esses ambientes são formados quando há ocorrência de um processo de elevação relativa
do nível do mar (transgressão marinha), levando à inundação de um vale de rio pela
água do mar e a consequente mistura de águas doce e salgada (NICHOLS, 2009). Em
grande parte desses estuários a hidrodinâmica é regida por processos de mistura que
são gerados pela oscilação das marés e das descargas uviais, o que ocasiona grande
variabilidade temporal nos campos de velocidade e salinidade (FONTES, MIRANDA, &
ANDUTTA, 2014). Devido a tais processos hidrodinâmicos, o estuário é alimentado por
sedimentos contrastantes marinhos e continentais, que são trazidos pelo rio ou vindos
da plataforma continental adjacente através do movimento das marés (DALRYMPLE,
ZAITLIN, & RON BOYD, 1992). Algumas mudanças físicas no ambiente, decorrentes de
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 3
processos de erosão, sedimentação e transporte de sedimentos, podem causar alterações
na dinâmica local por contribuírem na modicação da batimetria e da morfologia em suas
margens, afetando os padrões das correntes locais e, consequentemente, o deslocamento
e a distribuição das partículas sedimentares (FONTES et al., 2014).
Grãos presentes em ambientes de sedimentação marinhos são compostos em sua
maioria por material detrítico vindo do continente (sedimentos terrígenos) e por sedimentos
formados no próprio ambiente marinho (sedimentos biogênicos). Sedimentos terrígenos
são gerados principalmente a partir do intemperismo de rochas continentais, o qual forma
partículas sedimentares que são carregadas por correntes de água que uem em direção ao
oceano, enquanto sedimentos biogênicos são originados a partir de substâncias extraídas
da água do mar, através de processos químicos, físicos e biológicos (TUREKIAN, 1996).
Sedimentos terrígenos são encontrados de duas formas nos depósitos sedimentares,
em forma inorgânica, tais como partículas de minerais e fragmentos de rocha, e de
forma orgânica, como micro-raízes, folhas, sementes e outras partículas vegetais. os
sedimentos de origem marinha (autóctones) são compostos por partículas bioquímicas,
em geral provenientes de estruturas carbonáticas excretadas por organismos marinhos,
e por partículas autigênicas, geradas a partir de reações químicas entre a água do mar e
determinados compostos minerais presentes no ambiente (BAPTISTA NETO et al. 2004).
A composição e as características dos sedimentos que são depositados reetem
diretamente as condições as quais o ambiente está submetido. O tamanho dos grãos,
por exemplo, está diretamente relacionado à energia do agente transportador e devido à
variedade de processos que os grãos podem sofrer. Assim, a análise desses sedimentos
permite a identicação e caracterização dos diferentes ambientes deposicionais (DAVIS,
2004).
O objetivo desse trabalho, portanto, visa compreender por meio da análise dos
componentes da fração arenosa, as variações espaço-temporais que regem a dinâmica
sedimentar do sistema estuarino-lagunar dos rios Ipojuca e Merepe (PE). Os resultados
obtidos também poderão contribuir ou auxiliar futuros estudos de dinâmica sedimentar e
caracterização ambiental realizados na área.
1.1 Área de estudo
O sistema estuarino-lagunar dos rios Ipojuca e Merepe está localizado a cerca de
40km da capital Recife (gura 1) e apresenta características climáticas típicas de regiões
tropicais costeiras, com duas estações bem denidas, uma seca (de setembro a fevereiro),
com precipitação média mensal de 70 mm e uma chuvosa (de março a agosto), com
precipitação média mensal de 250 mm (LINS, 2002).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 4
Figura 1. Localização do Sistema costeiro de Suape, mostrando a distribuição das estações de coleta
de sedimentos superciais e do testemunho (T10) no sistema estuarino-lagunar dos rios Ipojuca e
Merepe.
O baixo estuário do Ipojuca é um sistema bastante raso (< 4,5m) e heterogêneo,
classicado como tipo 1, segundo a classicação de Hansen & Rattray (1966), no qual a
temperatura e a salinidade variam sazonalmente em resposta às utuações no aporte de
água doce e à amplitude de maré. O estuário apresenta também um campo de temperatura
um pouco mais elevado devido à baixa profundidade, porém relativamente homogêneo ao
longo do sistema e estável nos ciclos de marés (LINS, 2002). Quanto à fauna local, são
encontrados diversos los, principalmente de zooplâncton e zoobentos, como é mostrado,
por exemplo, em NEUMANN-LEITÃO (1996) que encontrou 66 táxons de zooplâncton do
estuário do Ipojuca, incluindo os Filos Rotifera e Foraminifera.
O Complexo industrial do Porto de Suape (CIPS) é um dos mais importantes portos
do Brasil e o principal da Região Nordeste (BARCELLOS & SANTOS, 2018). Ele está
localizado 40km ao sul da cidade de Recife e se estende da foz do rio Ipojuca até o rio
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 5
Massangana, cobrindo uma área de 3.232,58 ha, entre os municípios de Ipojuca e Cabo
de Santo Agostinho (OLIVEIRA et al., 2020).
O rio Merepe é um rio costeiro, paralelo à costa, que possui aproximadamente 18km
extensão desde sua nascente até a desembocadura (MIRANDA, 2019). O rio Ipojuca, por
outro lado, nasce na cidade de Arcoverde, no interior do estado de Pernambuco, e se
estende por cerca 250 km, percorrendo 25 municípios e cobrindo uma área de 3435 km2
até chegar à costa (LINS & MEDEIROS, 2018). As águas dos rios Ipojuca e Merepe se
encontram no limite sul do Complexo industrial do Porto de Suape, onde estão submetidos
a impactos ambientais de diferentes fontes relacionadas ao Porto e ao transporte uvial,
resultando na aquisição de grande quantidade de contaminantes (SANTOS et al. 2019).
O sistema estuarino de Suape está submetido a um regime de mesomáres
semidiurnas (SCHETTINI et al. 2016), as quais atingem altura média por volta de 2m
durante a sizígia e 0,7m durante a quadratura (PORTO DE SUAPE, 2020). O regime de
marés, associado aos solos orgânicos da área inuenciam diretamente na diversidade das
orestas de mangues que cercam o sistema estuarino, essas comunidades, por sua vez,
também são responsáveis por uma variedade de serviços ambientais, como estabilização
do solo e fornecimento de habitats para a fauna local (PASSOS et al. 2021).
A geologia da área é caracterizada por rochas do embasamento cristalino, formados
por granitóides, aorantes e sedimentos meso-cenozóicos da Bacia de Pernambuco, a
região também é composta basicamente por sedimentos quaternários, sedimentos de
praia, recifes de arenito e predominantemente por sedimentos de mangue (CPRH, 2014).
O baixo estuário do Ipojuca também demonstra uma tendência à estraticação no sentido
lateral, onde possui alta concentração de silte e argila de origem uvial que se misturam
com areias mais nas na parte central e com areias médias em direção ao norte, até enm
se misturarem com cascalhos calcários (Neumann et al., 1998). No geral os sedimentos
variam bastante ao longo do sistema estuarino, mas os grãos arenosos são predominantes,
ainda que, em sua maioria, pobremente selecionados (SANTOS et al. 2019). Trabalhos
anteriores especicamente sobre a análise da fração arenosa na área estão restritos a
Barcellos et al. (2018) e Barcellos et al. (2019), realizados na porção norte do sistema
estuarino adjacente ao Porto de Suape, na Baía de Suape e Estuários do Massangana.
Impactos ambientais são observados na área estuarina e manguezais locais
associados ao incremento das atividades urbano-portuárias, tal qual observado nos
trabalhos de Oliveira et al. (2020), Oliveira et al. (2021) e Passos et al. (2021), que indicaram
enriquecimento de metais (Ga, Pb, V e Zn) e nutrientes em sedimentos de subsuperfície,
principalmente nos últimos 40 anos.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 6
2 | MÉTODOS
2.1 Etapa de Campo
Foram realizados 2 cruzeiros oceanográcos, em setembro de 2016 (nal da estação
chuvosa) e março de 2017 (nal da estão seca), nos quais foram coletadas, por meio de um
amostrador de mandíbulas, 50 amostras de sedimentos superciais em pontos obtidos, por
um GPS (Garmin Etrex-20), distribuídos ao longo dos estuários dos rios Ipojuca e Merepe,
durante o desenvolvimento do projeto FACEPE “Suape-Geosub” (APQ-0260-1.08/15). Em
dezembro de 2017 (estação seca), foi realizada uma nova amostragem no baixo estuário do
rio Merepe (8º24’59,4” 34º58’52,7”) (Figura 1), onde foi coletado também um testemunho
de sondagem com 2,08m de recuperação, utilizando um tubo de PVC por meio da técnica
de “push-core”.
2.2 Etapa de laboratório
Em laboratório, o perl sedimentar coletado foi fracionado verticalmente em porções
de 2 cm, gerando 104 amostras. Entre os sedimentos superciais foram selecionados os
13 pontos (ST2, ST4, ST6, ST8, ST9, ST10, ST13, ST16, ST17, ST19, ST20, ST23, ST25)
que melhor representavam o sistema estuarino estudado, para a realização das análises
da fração arenosa. Todos os sedimentos foram secos em estufa a 50°C e uma alíquota de
5 gramas foi retirada de cada amostra foi separada. A análise dos sedimentos da fração
arenosa seguiu a metodologia proposta por Shepard & Moore (1954), modicada por
MAHIQUES (1987).
Todas as amostras foram peneiradas separadamente de acordo com as técnicas de
peneiramento e pipetagem descritas em SUGUIO (1973) e os sedimentos de tamanho areia
grossa (1Ø) e areia média (2Ø) retidos nas peneiras de malha 0,707-0,500mm e 0,350-
0,250mm, respectivamente, foram separados e levados para análise em lupa binocular.
As porções de e 2Ø de cada amostra foram observadas com foco na identicação
dos componentes sedimentares e de suas características morfoscópicas. Após o
reconhecimento geral de cada amostra, foram selecionados aleatoriamente cerca de 300
grãos de sedimentos para a identicação dos seus componentes, a partir de modicação
proposta por HUBERT (1971).
Os sedimentos de quartzo e de outros minerais presentes nas amostras foram
submetidos a análise morfoscópica (Krumbein, 1941), na qual foram observadas as
características externas dos grãos, como o grau de arredondamento, nível de esfericidade e
textura supercial. Tais informações fornecem complemento para as análises, pois auxiliam
na determinação dos tipos de transporte e processos sofridos pelos sedimentos, bem como
seus prováveis agentes deposicionais.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 7
2.3 Tratamento dos dados
Os grãos identicados foram divididos em grupos, de acordo com as principais
classes observadas (fragmentos de rochas, quartzo, fragmentos vegetais, fragmentos
carbonáticos).
Após as contagens, foi aplicado o índice de biogênicos marinhos (BM) proposto por
MAHIQUES et al. (1998), que avalia estatisticamente a inuência marinha ou continental
na sedimentação local a partir da diferença entre as frequências relativas dos constituintes
biogênicos marinhos e dos constituintes terrígenos. Os valores variam de -1 a +1, sendo
as amostras com valores mais próximos de -1 aquelas com maior inuência continental na
composição dos sedimentos e as amostras com valores próximos de +1 aquelas com maior
inuência marinha. Amostras com BM igual a zero ou valores muito próximos a ele, indicam
de uma inuência equilibrada no aporte de sedimentos de ambas as fontes.
3 | RESULTADOS
3.1 Variações espaciais sazonais na composição da fração arenosa:
Os principais grupos de sedimentos superciais observados para as frações de
areia grossa e areia média,coletados na estação chuvosa(Set-16), estão representados
nas guras 2 e 3.
Figura 2. Gráco com porcentagem de cada grupo de
componentes observados nas amostras da estação
chuvosa da fração de 1 phi (areia grossa: 0,50mm)
analisadas em
Figura 3. Gráco com porcentagem de cada grupo de
componentes observados nas amostras da estação
chuvosa da fração de 2
As amostras superciais apresentaram predominância de grãos terrígenos quartzosos,
com menor ocorrência de fragmentos de rochas e de vegetais em ambos os períodos do
ano analisados. Foram encontrados fragmentos de estruturas carbonáticas oriundas de
organismos marinhos, como espículas de ouriço e fragmentos de conchas de moluscos,
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 8
além de quantidades signicativas de carapaças de foraminíferos e algumas estruturas
silicosas, como espículas de esponjas. Sedimentos antropogênicos, representados por
pedaços de linha de pesca e microplásticos, também foram encontrados em parte das
amostras, porém em quantidades inferiores a 1% da composição total dos sedimentos,
portanto foram somados a outros fragmentos de origem continental encontrados em menor
quantidade e descritos nos grácos como “outros terrígenos”.
Como pode ser observado, há predomínio de grãos de quartzo em grande parte
das amostras, e secundariamente há ocorrência de fragmentos de rochas e de fragmentos
carbonáticos. Os pontos 13, 16, 17 e 19 apresentaram maior quantidade de grãos de origem
marinha, em comparação com as outras amostras. Neste ponto, portanto, a Baía do Ipojuca
encontra-se submetida à maior inuência marinha no que diz respeito ao aporte e produção
de sedimentos biogênicos para o sistema. Isso ocorre devido à sua conexão direta com
o oceano, mesmo que limitada pela barreira de beachrocks, o que propicia essa maior
sedimentação de origem biogênica marinha observada para área da desembocadura da
baía (Sts 16 e 17) e, também para a laguna de Muro Alto (St 19). Por outro lado, os pontos
8, 9 (baixo estuário do Merepe) e 23 (alto estuário do Ipojuca) se destacam por exibirem
porções de fragmentos rochosos e de vegetais dominando as amostras, denotando essa
forte inuência continental.
As amostras coletadas na estação seca (Mar-17) apresentaram valores percentuais
similares aos da estação chuvosa, porém com a quantidade de fragmentos rochosos
reduzida, devido ao menor aporte uvial ocasionado pela baixa quantidade de chuvas. Com
a diminuição desse aporte há também o domínio de grãos quartzosos em alguns pontos,
como é demonstrado nos grácos das guras 4 e 5.
Figura 4. Gráco com porcentagem de cada grupo de
componentes observados nas amostras da estação seca
da fração 1 phi (areia grossa) analisadas em lupa.
Figura 5. Gráco com porcentagem de cada grupo de
componentes observados nas amostras da estação seca
da fração 2 phi (areia média) analisadas em lupa.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 9
Houve uma clara redução de fragmentos rochosos nas amostras durante a estação
seca. A estação 8, composta predominantemente pela mistura desses sedimentos com
fragmentos de vegetais passou a ser constituída quase unicamente por quartzo durante o
período de estiagem. A situação inversa ocorreu no ponto 20, no qual houve predomínio
de grãos quartzosos durante a estação chuvosa e aumento de fragmentos de vegetais e
de rochas durante a estação seca. O que é coerente com a localização desta amostra que
foi coletada no limite superior do alto estuário do rio Ipojuca, indicando que a inuência
terrígena caria limitada a esta porção do sistema nesta época do ano, devido ao baixo
aporte uvial (Lins e Medeiros, 2018) e, consequentemente, de sedimentos para o período.
As demais estações de coleta apresentaram composição em proporções semelhantes nos
dois períodos analisados.
3.2 Variações temporais na composição da fração arenosa:
Quanto às amostras do perl sedimentar do testemunho T-10, predominância
de sedimentos de origem vegetal e de fragmentos de rochas nos sedimentos de até
cerca de 1 metro de profundidade. A partir desse ponto verica-se um aumento súbito
de grãos minerais, principalmente grãos de quartzo, que se tornam os componentes
principais do sedimento em amostras do meio até a base do testemunho. Outros tipos
de sedimentos, como fragmentos de conchas, carapaças, foraminíferos, espículas,
espinhos, microplásticos, entre outros, também foram observados em sedimentos do
testemunho, porém em quantidades relativamente baixas, quando comparados aos demais
componentes. Variações periódicas no aporte de fragmentos rochosos foram observadas
até a metade superior do perl sedimentar, as amostras de profundidades maiores que 1
metro apresentaram redução gradativa no número de fragmentos rochosos e de fragmentos
vegetais, até quase desaparecem por completo entre os sedimentos mais próximos da
base.
3.3 Índice de Biogênicos Marinhos:
O cálculo do índice de biogênicos marinhos, tanto em amostras do testemunho
quanto em amostras superciais, apresentou maior quantidade de números negativos
e próximos de -1, indicando que o local sofre maior inuência do aporte de sedimentos
terrígenos, entre eles minerais (principalmente de quartzo), fragmentos de rochas,
fragmentos de vegetais, sedimentos antropogênicos e alguns fragmentos de metais que
foram observados em algumas amostras.
Entre as amostras superciais, o ponto 19 foi o único a obter um valor positivo no
índice de biogênicos marinhos, sendo este igual a 0,36 e 0,38 nas frações de areia média e
0,00 e 0,40 nas frações de areia grossa, para as estações chuvosa e seca, respectivamente.
Os demais pontos têm seus valores mostrados nas guras 6 e 7.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 10
Figura 6. Gráco do Índice de biogênicos marinhos
para as amostras superciais de tamanho 1 phi e 2
phi coletadas durante a estação seca.
Figura 7. Gráco do Índice de biogênicos marinhos
para as amostras superciais de tamanho 1 phi e 2 phi
coletadas durante a estação chuvosa.
Os sedimentos do testemunho são compostos, em sua maioria, por grãos de origem
continental, principalmente por vegetais e minerais de quartzo. O índice de biogênicos
marinhos aplicado (gura 8) evidenciou a baixa quantidade de amostras com valores
positivos ou próximos de zero, sendo estas apenas amostras mais próximas do topo,
que apresentaram muitas carapaças de foraminíferos. O maior valor do índice BM (0,22)
observado foi na fração de areia média, na amostra 3 (porção de 4 a 6 cm de profundidade),
que continha muitas carapaças de ostracodes, um organismo marinho. Outros valores
positivos foram observados nas amostras entre 60 cm e 70 cm de profundidade que também
apresentaram alta quantidade de carapaças de foraminíferos e de outros fragmentos
carbonáticos, inuenciando positivamente o índice BM calculado.
Figura 8. Gráco do Índice de biogênicos marinhos para as amostras das frações de 1 phi e 2 phi do
testemunho.
Obs.: Cada amostra descrita no eixo horizontal do gráco representa uma porção de 2 cm do perl
amostrado, sendo a amostra 1 equivalente aos sedimentos de 0 a 2 cm e a amostra 101 equivalente
aos sedimentos de 206 a 208 cm.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 11
3.4 Morfometria
As características morfométricas dos grãos minerais de todas as amostras analisadas
são semelhantes entre si e, no geral, apresentam sedimentos com textura polida, baixo
grau de arredondamento e alto nível de esfericidade. Em resumo, o arredondamento dos
grãos variou de angulosos a subarredondados, com poucos minerais apresentando arestas
bem arredondadas, já a esfericidade observada foi em grande parte alta e poucos grãos
exibiram maior excentricidade. Por m, quanto à textura dos grãos, todos os minerais
quartzosos apresentaram superfície bem polida ou levemente fosca.
As amostras do testemunho sedimentar apresentam sedimentos de tamanho
2 ɸ (areia média) com maior quantidade de grãos subangulosos, alta esfericidade e
textura polida. Enquanto as amostras de tamanho 1 ɸ (areia grossa) apresentam grãos
subarredondados, alta esfericidade e textura em geral polida, porém com alguns grãos de
textura supercial levemente fosca. Não foi identicado nenhum padrão de características
morfométricas relacionado às diferentes profundidades das amostras do perl sedimentar.
Os sedimentos superciais, tanto da estação seca quanto da estação chuvosa,
exibem tendência a ter grãos com arestas angulosas a subangulosas na fração de areia
média e arestas subangulosas a subarredondadas na fração de areia grossa. Foi observada
esfericidade predominantemente alta para as frações de areia média e grossa em ambas
as estações. A textura supercial dos grãos se apresentou polida nos grãos de tamanho 2
ɸ, porém no tamanho 1 ɸ algumas amostras apresentam minerais com textura levemente
fosca.
4 | DISCUSSÃO
4.1 Variações espaciais sazonais na dinâmica sedimentar:
Sedimentos de camadas superciais reetem as condições atuais do ambiente
no qual estão inseridos, podendo sofrer fortes variações em diferentes estações do ano,
por exemplo. Portanto o teor composicional encontrado em amostras superciais está
diretamente relacionado aos padrões de entrada da maré no sistema estuarino e às
chuvas, que inuenciam no uxo de água dos rios e na lixiviação de rochas emersas,
proporcionando maior aporte de sedimentos continentais para regiões oceânicas costeiras
(BAPTISTA NETO et al. 2004).
Os fragmentos carbonáticos encontrados nas amostras de tamanho 2 ɸ (areia
média) consistem principalmente em carapaças de foraminíferos, enquanto amostras com
grãos de tamanho 1 ɸ (areia grossa) são compostas majoritariamente por fragmentos de
conchas e esqueletos carbonáticos. As carapaças de foraminíferos observadas não exibem
danos em sua estrutura e, por se tratar de organismos pequenos, caram retidas apenas
na peneira de malha com menor abertura (250mm). Os demais fragmentos carbonáticos
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 12
pertenciam, em geral, a organismos maiores, como moluscos bivalves, por exemplo. Ao
contrário das carapaças de foraminíferos que são originalmente pequenas, as estruturas
carbonáticas maiores demandam tempo e energia para serem fragmentadas em partículas
nas. É esperado, portanto que tais sedimentos sejam encontrados com maior abundância
em classes granulométricas maiores, tal qual observado para a baía de Suape, na porção
norte do sistema Barcellos et al. (2018) e no Canal de São Sebastião (SP) por Barcellos e
Furtado (2001).
Entre as amostras superciais, o maior volume de sedimentos biogênicos foi
encontrado no ponto localizado na laguna de Muro Alto (St 19), onde não há ligação
direta com os rios, facilitando o transporte de material carbonático trazido perenemente
da plataforma continental pelas ondas durante as marés cheias. Também foi observada
grande quantidade de sedimentos biogênicos na estação 13, localizada próxima à TermoPE
(termelétrica) e à desembocadura do estuário na baía do Ipojuca, onde contato direto
com o mar e, consequentemente, maior abundância de grãos de origem marinha que são
transportados diariamente pelos uxos de maré.
Todo o sistema estuarino dos rios Ipojuca e Merepe é circundado por áreas de
manguezal, proporcionando acúmulo de partículas vegetais em algumas áreas, como
foi observado na composição de amostras superciais, que também continham grande
quantidade de partículas rochosas, relacionadas à presença nas proximidades da Suíte
Granítica do Cabo (Oliveira et al., 2020). De acordo com BAPTISTA NETO et al. (2004) e
TUREKIAN (1996) fragmentos de rochas muitas vezes são gerados por consequência do
intemperismo mecânico que desintegra porções e partículas contendo todos os minerais e
características da rocha original, esses fragmentos por sua vez são carregados por uxos
d’água em direção ao oceano, juntamente à grãos de minerais puros e lá são retrabalhados
pelas ondas. Porém, se não houver energia suciente no ambiente para continuar
transportando esses sedimentos para o oceano, eles podem acabar temporariamente
retidos nas regiões estuarinas, por isso, em alguns casos, coletas sedimentares apresentam
amostras com grande número de fragmentos rochosos em sua composição.
O índice de Biogênicos Marinhos (BM) aplicado nas amostras superciais maior
tendência à valores negativos e muito próximos de -1 em sedimentos coletados no nal
da estação chuvosa e valores ainda em maioria negativos, porém mais próximos de zero
em sedimentos da estação seca, o que denotaria uma maior inuência marinha para esta
época.
O índice BM varia de -1 a +1, sendo os valores negativos indicativos de maior
inuência continental na região e valores positivos indicativos maior inuência marinha
(MAHIQUES et al., 1998). Segundo os resultados obtidos, todos os sedimentos analisados
sofrem maior inuência do aporte continental, com a única exceção no ponto 19, o qual
está localizado dentro do ambiente da laguna de Muro Alto, a qual não sofre interferência
direta do aporte uvial.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 13
Sedimentos continentais chegam ao oceano principalmente através dos rios, que
por sua vez são abastecidos em grande parte através de uxos d’água gerados pelas
chuvas que carregam sedimentos provenientes da lixiviação da superfície de rochas e
solos. Deste modo esperava-se que as amostras coletadas durante a estação chuvosa
apresentassem a maior parcela de minerais e fragmentos de rochas, que são os principais
componentes dos sedimentos de origem continental, entretanto os resultados mostraram
a situação inversa, na qual a estação seca apresentou maior quantidade de componentes
terrígenos.
As amostras da estação chuvosa foram coletadas em setembro de 2016, no nal
do período de chuvas, e as amostras da estação seca foram coletadas em março de 2017,
no nal do período de estiagem. Apesar das estações, no município de Ipojuca, onde está
localizada a área de estudo, o volume de chuva acumulada para o mês de setembro de
2016 foi de 36 mm, enquanto para o mês de março de 2017 esse volume foi de 122,6
mm (APAC-PE), ou seja, a maior quantidade de chuvas na estação seca cou reetida
na composição dos sedimentos coletados nesse período, apresentando sedimentos
biogênicos mais adentro do estuário no nal do período chuvoso e mais retidos próximo à
desembocadura no nal do período estiagem.
Na gura 9 é ilustrada a representação das inuências marinha e continental sobre a
composição dos sedimentos, de acordo com os valores obtidos na aplicação do índice BM.
Figura 9. Mapa gerado a partir dos valores do índice de biogênicos marinhos aplicado às amostras
superciais de tamanho 2 phi (areia na), mostrando a distribuição dos pontos de coleta e das
inuências marinha e continental sobre as regiões do sistema estuarino-lagunar dos rios Ipojuca e
Merepe.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 14
4.2 Variações temporais na sedimentação:
Como sedimentos de amostras superciais reetem as características recentes
do ambiente em que estão inseridos, o perl sedimentar expõe, através de camadas,
registros de condições ambientais pretéritas, cujo estudo pode auxiliar no entendimento
da evolução da geologia e da dinâmica local (SUGUIO et al., 1985). A fração arenosa
do testemunho analisado apresentou grande variação na composição das amostras em
diferentes profundidades, o que está diretamente relacionado às diferentes características
ambientais das épocas em que os sedimentos foram depositados.
As amostras da metade ao topo do testemunho (T-10) são compostas principalmente
por fragmentos de rochas, vegetais e estruturas carbonáticas, com proporções alternadas
ao longo do perl. A abundância de fragmentos vegetais se pelo fato de o local estar
cercado por manguezais, o que proporciona suprimento constante deste tipo de sedimento
para a área. Já os fragmentos de rochas são trazidos pelo curso uvial e sua variação entre
as camadas do testemunho pode estar relacionado à ocorrência de períodos chuvosos,
que favorecem o aporte desses grãos, intercalados por períodos secos. Em relação aos
sedimentos carbonáticos, a quantidade elevada de grãos encontrados em algumas amostras
é devida principalmente ao grande número de carapaças de foraminíferos presentes
nos sedimentos de tamanho (areia média). Segundo NEUMANN-LEITÃO (1996)
foraminíferos da família Globorotaliidae ocorrem no estuário do rio Ipojuca principalmente
durante a época de chuva, com uma densidade de 12,57%, portanto o aumento desses
organismos em parte das amostras também pode ser consequência da ocorrência de um
período chuvoso no local.
Foi observado que até cerca da metade superior do testemunho existe uma mistura
entre fragmentos carbonáticos, vegetais e grãos rochosos. O que estaria associado
a condições ambientais mais estuarinas e lagunares, sob dinâmica mais restrita. Estas
características até 1m de profundidade reetiriam um ambiente sedimentar similar ao atual,
que é um baixio de intermarés areno-lamoso (Santos et al., 2019) adjacente à franja do
mangue no baixo estuário do Merepe. De fato, Oliveira et al. (2020; 2021) e Passos et
al. (2021) observaram o mesmo contato brusco entre areias na base do perl e lamas-
arenosas em direção ao topo, em 2 testemunhos coletados no estuário do rio Massangana
na porção norte do sistema estuarino-lagunar de Suape-Ipojuca. Esses mesmos autores
observaram taxas de sedimentação na casa de 0,75 cm.ano-1, o que daria uma idade de
cerca de 135 anos, em relação à formação e evolução do baixio sedimentar na área atual.
As camadas abaixo de 1 metro de profundidade do T-10 têm esses fragmentos
carbonáticos, vegetais e grãos rochosos substituídos quase completamente por minerais
quartzosos. O quartzo é um mineral resistente à degradação química e, embora possa
ser fragmentado ou desgastado durante o transporte, pode permanecer intacto por longos
períodos e distâncias (NICHOLS, 2009), por este motivo pode suportar mais facilmente
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 15
condições desfavoráveis à preservação de partículas mais frágeis, desta forma o aumento
deste mineral nos sedimentos mais próximos à base do testemunho pode ser devido à
sua maior resistência. Por outro lado, areias de ambientes marinhos rasos são geralmente
dominadas por quartzo (NICHOLS, 2009), podendo indicar que esse local do T-10 já foi
uma paleopraia ou paleolaguna, em uma época que o nível do mar estava mais alto que
o atual. Isso corrobora o observado por Martins et al. (2020) para o rio Formoso (PE),
localizado 60km a sul, com testemunhos indicando esta curva descendente do nível do
mar nos últimos 3000 anos. A presença de sedimentos essencialmente arenosos do meio
para base dos testemunhos de Oliveira et al. (2020; 2021) e Passos et al. (2021) são
igualmente indicativos de um ambiente pretérito praial/lagunar segundo os autores, similar
aos sedimentos arenosos litoclásticos encontrados na Baía de Suape atualmente (Barcellos
et al., 2018).
Por m, a análise morfoscópica das amostras superciais e do perl sedimentar
mostraram que os grãos de tamanho 2ɸ tendem a apresentar arestas angulosas e
subangulosas, indicando que os sedimentos têm origem mais recente ou não foram
sucientemente retrabalhados durante o transporte ao ponto em que suas arestas
fossem suavizadas. E, também apresentam textura polida, típica de sedimentos que
foram trabalhados em meio aquoso, pois, segundo CAILLEUX (1945), grãos de quartzo
em ambientes marinhos costumam apresentar superfície polida. Os sedimentos maiores
(1ɸ), assim como os grãos menores, também apresentam textura polida, porém com leve
tendência a apresentar sedimentos um pouco mais foscos, já suas arestas variam entre
subangulosas e subarredondadas, indício de que esses grãos foram trabalhados por um
período de tempo maior ou, por serem mais pesados, sofreram um retrabalhamento mais
intenso, modelando suas arestas.
5 | CONCLUSÕES
Sedimentos das amostras sazonais são compostas principalmente por grãos de
quartzo em ambas as classes de tamanho analisadas, o que foi evidenciado pelo índice BM
que apresentou valores negativos para grande maioria das amostras superciais, indicando
maior inuência continental na sedimentação do ambiente estuarino-lagunar do Ipojuca-
Merepe.
O testemunho apresenta maior variação entre os componentes nas amostras de
até 1 metro de profundidade e predominância de grãos de quartzo em camadas mais
profundas. O índice BM também apresentou valores em geral negativos para maioria das
amostras do testemunho, excluindo-se apenas algumas amostras nas quais os fragmentos
carbonáticos (carapaças de foraminíferos) aparecem em maior quantidade.
A análise morfoscópica evidenciou grãos variando de angulosos a subarredondados,
sendo os grãos subangulosos predominantes entre sedimentos de areia na e os grãos
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 1 16
subarredondados predominantes entre os sedimentos de areia média, devido a diferença
nos seus respectivos tipos de transporte. Os grãos também apresentam alta esfericidade
e textura supercial em geral polida, indicando retrabalhamento em meio aquoso,
principalmente uvial, mas também transicional estuarino.
Em resumo, observou-se uma variação tanto espacial sazonal quanto temporal
dos parâmetros analisados. Há maior inuência continental dos rios Ipojuca e Merepe
na sedimentação de grãos terrígenos no período chuvoso e maior inuência marinha no
período seco, o que está relacionado diretamente à menor inuência uvial na área neste
período. No caso da evolução temporal, os dados dos sedimentos subsuperciais indicam
um processo regressivo, com aumento da inuência terrígena e condições de connamento
para o topo do testemunho. Já na base do testemunho a forte presença sedimentos
arenosos quartzosos indica um ambiente praial/lagunar que progressivamente vai dando
lugar a condições mais abrigadas e de menor dinâmica sedimentar, evidenciadas pelo
aumento de fragmentos vegetais, carbonatos e lamas que, por sua vez, são indicativos do
ambiente sedimentar atual, um terraço de intermarés localizado em uma franja de mangue
do baixo estuário do rio Merepe.
REFERÊNCIAS
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Capítulo 2 19
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 2
PRESERVAÇÃO DA SAÚDE AMBIENTAL E
CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE EM
AMBIENTE MARINHO E FLUVIAL: ÊNFASE NOS
EFEITOS DA APLICAÇÃO DE TINTAS VENENOSAS
EM EMBARCAÇÕES NÁUTICAS
Fagner Evangelista Severo
Universidade Santa Cecilia – Unisanta
Santos – São Paulo
http://lattes.cnpq.br/5784104598398461
Maria Cristina Pereira Matos
Universidade Santa Cecilia – Unisanta
Santos – São Paulo
http://lattes.cnpq.br/3282306738175328
Tânia Cristina dos Santos Guedes Pinto
Universidade Santa Cecilia – Unisanta
Santos – São Paulo
http://lattes.cnpq.br/8540128335364730
RESUMO: O presente trabalho busca chamar a
atenção para a conservação da biodiversidade
em ambiente marinho, em função da utilização
de tinta venenosa nos cascos das embarcações
náuticas. Este tipo de tinta é composta por
microplásticos e material organoestânicos, como
o Tributilestanho (TBT) ou Trifenilestanho (TPhT)
presentes nas tintas utilizadas nas embarcações
de madeira. Para analisar os efeitos da poluição
marinha causadas por microplásticos, este
estudo empregou uma metodologia exploratória,
de cunho qualitativo, utilizando o método da
pesquisa de campo junto aos pescadores e
proprietários de embarcações de pesca na Vila
da Barra do Una, Peruíbe/SP, no Entreposto
de Pesca de Santos/SP e de embarcações
de passeio no píer do Clube Saldanha da
Gama, também em Santos. Os resultados
obtidos permitiram observar que são utilizadas
tintas venenosas para coibir a ação de micro-
organismos incrustantes que se xam aos cascos
das embarcações e resultam em problemas para
os usuários e para a vida marinha. Além disso,
identicou-se que no processo de raspagem dos
barcos para procedimentos de novas pinturas,
partículas de plástico derivadas das tintas
removidas são descartadas no mar, favorecendo
a contaminação das áreas. A constatação de
que esses tipos de embarcações marítimas são
cobertas, em sua maioria, por tintas venenosas
que deixam resíduos de plástico tóxico no
ambiente, indicam a necessidade de novas
pesquisas que visem desenvolver tintas anti-
incrustantes para os cascos de embarcações
que não contribuam para a poluição marinha.
PALAVRAS - CHAVE: Embarcações de madeira;
Tinta venenosa; Microplático.
PRESERVATION OF ENVIRONMENTAL
HEALTH AND BIODIVERSITY
CONSERVATION IN MARINE AND
FLUVIAL ENVIRONMENT: EMPHASIS ON
THE EFFECTS OF THE APPLICATION
OF POISONOUS PAINTS IN NAUTICAL
VESSELS
ABSTRACT: The present work seeks to draw
attention to the conservation of biodiversity
in the marine environment, due to the use of
poisonous paint on the hulls of nautical vessels.
This type of paint is composed of microplastics
and organotin materials, such as Tributyltin
(TBT) or Triphenyltin (TPhT) present in the paints
used on wooden boats. To analyze the effects of
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 2 20
marine pollution caused by microplastics, this study employed an exploratory methodology,
qualitative in nature, using the method of eld research with shermen and owners of shing
vessels in Vila da Barra do Una, Peruíbe, SP, in Fishing warehouse in Santos/SP and boats
on the pier of Clube Saldanha da Gama, also in Santos. The results obtained allowed us to
observe that poisonous paints are used to curb the action of incrusting microorganisms that
attach themselves to the hulls of vessels and result in problems for users and for marine
life. In addition, it was identied that in the process of scraping the boats for new painting
procedures, plastic particles derived from the removed paints are discarded into the sea,
favoring the contamination of the areas. The nding that these types of maritime vessels
are mostly covered by poisonous paints that leave toxic plastic residues in the environment,
indicates the need for further research aimed at developing anti-fouling paints for the hulls of
vessels that do not contribute to marine pollution.
KEYWORDS: Wooden vessels; Poisonous paint; Microplastic.
INTRODUÇÃO
O maior desao da atualidade, imposto à sociedade em geral, às organizações
empresariais e aos governantes se direciona para as temáticas sobre questões ambientais,
biodiversidade e sustentabilidade. Dessa forma, vem se tornando cada vez mais constante
e exigido, a aplicação dos conceitos destas temáticas no cotidiano dos indivíduos, dos
prossionais e dos empresários quer sejam suas áreas de atuação ou não.
A preocupação com as questões ambientais já vem demonstrando seus resultados,
pois a legislação ambiental se consolida a cada estudo das políticas públicas. No âmbito
da biodiversidade, a legislação dá resguardo para as áreas protegidas, principalmente a
fauna e a ora. Todavia, há que se destacar que em áreas não protegidas também reside a
necessidade de conservação.
Já no que tange à sustentabilidade, os variados conceitos para esta temática
promovem conitos na interpretação e entendimento destes. No entanto, é possível
observar um ponto em comum nestes conceitos, que é a preocupação com o futuro da
humanidade, a qual depende e sempre dependerá dos recursos naturais, principalmente,
se as condições climáticas e a escassez dos recursos hídricos não forem afastadas com
os desgastes exacerbados.
Portanto, esse pano de fundo teórico e conceitual permite a reexão de que questões
ambientais, biodiversidade e sustentabilidade caminham juntas e, é nesse contexto que o
presente trabalho se inclina, jogando luz aos efeitos causados pela aplicação de tintas
venenosas, também chamadas de envenenadas, nos cascos das embarcações náuticas,
como é caso dos navios, iates, canoas, barcos e outros, ou seja, em qualquer tipo e
tamanho de embarcações. Esse tipo de tinta é aplicado com a nalidade de servir como
um anti-incrustante, impedindo que organismos se acoplem nos cascos das embarcações.
A busca constante do ser humano por métodos que possam facilitar a sua vida,
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 2 21
enquanto espécie, sempre foi um desao. Ao longo das eras e com os avanços na área
do conhecimento, muitas estratégias foram empregadas, objetivando o alcance de metas
que pudessem facilitar as atividades do cotidiano das pessoas ou mesmo lhes oferecer
vantagens. No entanto, alguns efeitos desta busca promovem graves problemas ambientais
e nesse contexto, se insere a poluição do mar e dos rios, em função da deposição de
resíduos sólidos, questões estas que são debatidas com relevância pela comunidade
cientíca.
Assim, é possível inferir que a tinta envenenada, usada nos cascos das embarcações
náuticas, possam ocasionar problemas de poluição, uma vez que pelo fato de servir como
anti-incrustante, em sua composição está presente os grânulos de plásticos, os chamados
microplásticos, os quais constituem a principal forma de produzir resina plástica e assim,
poder ser comercializada.
Apesar da existência da Norma da Autoridade Marítima - NORMAM-23/DPC que
trata do Controle de Sistemas Anti-incrustantes Danosos em Embarcações, é possível
questionar se esta é cumprida na prática, uma vez que biólogos e estudiosos que atuam
pesquisando sobre a bioincrustação armam que ocorrências dessa natureza não são
saudáveis para as embarcações, uma vez que comprometem o seu desempenho. Além de
comprometer o desempenho das embarcações, também, se apresentam como danoso
para a biodiversidade das espécies do mar e dos rios.
Um exemplo de dano que pode ser causado, se dá com a colônia de corais-sol, os
quais vem sendo objeto de estudo na atualidade, por colocar em risco muitas espécies
nativas ou em extinção. Todavia, este não é o objeto de estudo do presente trabalho, pois o
interesse no mesmo se justica em analisar o impasse ou conito entre a legislação vigente
e a prática do uso de tinta venenosa em cascos de embarcações de madeira.
Considerando os problemas ambientais decorrentes do contato direto dos materiais
derivados de plásticos e seus componentes químicos nas águas brasileiras e internacionais,
este estudo tem por objetivo analisar os efeitos da poluição marinha e uvial causadas por
microplásticos, incluindo as tintas marítimas anti-incrustantes como vetor de contaminação
nestes ambientes, na região Metropolitana da Baixada Santista (RMBS), localizada no
Litoral do Estado de São Paulo.
Para o atingimento do objetivo proposto, o presente estudo empregou uma
metodologia exploratória, de caráter qualitativo, utilizando como método a pesquisa
bibliográca, para ns de embasamento teórico e que pudessem dar conta de contextualizar
sobre a composição da tinta venenosa e seus efeitos no ambiente de águas marinhas e
uviais. Além desse método, este estudo fez uso também de uma pesquisa de campo, junto
aos proprietários de embarcações voltadas para pesca e para o turismo em Santos e em
Barra do Una, Peruíbe, ambas localizadas no litoral de São Paulo.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 2 22
COMPOSIÇÃO DA TINTA VENENO E SEUS EFEITOS
Para falar da composição da tinta veneno e seus efeitos, se faz necessário reforçar
que os grânulos de plásticos, ou microplásticos, que constituem a forma principal com que
as resinas plásticas são produzidas e comercializadas, são chamados de pellets e servem
de matéria prima nas indústrias de transformação, originando os mais variados objetos, que
são produzidos após o seu derretimento e moldagem do produto nal (MANZANO, 2009).
Os microplásticos, materiais derivados do petróleo e que possuem particularidades
em relação ao aspecto e tamanho, constantemente contribuem para a poluição dos
mares, haja vista que podem ser facilmente conduzidos pelo vento e águas, ou mesmo
derramados em oportunidade das movimentações e resultam em grandes quantidades de
micropartículas espalhadas pelos oceanos.
Por outro lado, e numa vertente tão poluidora quanto aquela deixada pelos
microplásticos, estão também as tintas anti-incrustantes, utilizadas na pintura externa
das embarcações, visando minimizar o ataque constante de micro-organismos. Estes se
acoplam aos cascos das embarcações, e causam efeitos que podem ir desde a morosidade
nas movimentações, até mesmo, chegar ao ponto de inutilização desses itens. Dentre
os principais componentes químicos utilizados nessas tintas, encontram- se, compostos
organoestânicos como o Tributilestanho (TBT) ou Trifenilestanho (TPhT).
Nos esclarecimentos de Martins e Vargas (2013), compactuado por Nakanishi
(2008) estudos apontam que concentrações de TBT e/ou TPhT podem promover alterações
sexuais em fêmeas de algumas espécies gastrópodes. Reforçando esses esclarecimentos,
Garaventa, et al. (2006) relata que o principal efeito dessas concentrações se dá com
a masculinização das fêmeas, fato este que resulta em deciências reprodutivas e
podem colocar em extinção as espécies. Esse efeito também é conhecido como Imposex
(GARAVENTA, et al., 2006).
No entender de Godoi et al. (2003), este composto está entre os mais tóxicos já
introduzidos propositalmente no ambiente aquático. Um dos principais efeitos do uso de
tais substâncias é o envenenamento do sistema biológico, principalmente de moluscos e
ostras, originando mutações e condenando espécies à extinção. Destaca- se que entre os
efeitos mais signicativos, estão os do TBT sobre a reprodução de ostras e neogastrópodes.
Nesse contexto, Martins e Vargas (2013) informam que este problema chamou a
atenção do Comitê de Proteção do Ambiente Marinho (MEPC) da Organização Marítima
Internacional (IMO), interessada na segurança da navegação e prevenção da poluição
marinha. Nesse mesmo direcionamento, Falcão e Souza (2011) reforçam que na atualidade,
os níveis de poluição marinha e costeira devidos à deposição de resíduos sólidos são
questões debatidas com relevância pela comunidade cientíca.
Assim, Pedruzzi e Tagliani (2013) também destacam que em 2001, por intermédio
da Convenção Internacional sobre Controle de Sistemas Antifouling Danosos em Navios, a
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 2 23
Organização Marítima Internacional (IMO) aprovou o banimento global do uso do TBT e de
outros compostos organoestânicos na composição de tintas antifouling. A aplicação desta
medida estava prevista para janeiro de 2003, porém só passou a vigorar em setembro de
2008, acarretando assim, atraso sobre a previsão inicial.
No âmbito legal, a aplicação de tintas venenosas é regulada pela Norma da Autoridade
Marítima - NORMAM-23/DPC que trata do Controle de Sistemas Anti- incrustantes Danosos
em Embarcações. Essa Norma foi aprovada pela Portaria nº 76/2007, Diretoria de Portos e
Costas (DPC) e publicada no Diário Ocial da União 151, na página 6, no dia 07 de agosto
de 2007, porém, entrando em vigor a partir de 01 de novembro do mesmo ano, sendo
de caráter obrigatório para as embarcações brasileiras cujas obras vivas necessitam ser
pintadas com sistemas anti-incrustantes.
Essa legalidade serve igualmente para as embarcações estrangeiras que docarem
no Brasil para pintura das obras vivas, ou que forem afretadas em regime de Atestado de
Inscrição Temporária (AIT) (DPC, 2014, ON LINE).
No parecer da Diretoria de Portos e Costas (DPC), a NORMAN-23/DPC considera
como Sistemas Anti-incrustantes danosos ao meio ambiente e à saúde humana, apenas
aqueles que possuem compostos orgânicos de estanho como biocida.
Nas orientações da Marinha do Brasil (2016, ON LINE), as embarcações
brasileiras com comprimento maior que 24 metros e Arqueação Bruta (AB) menor que 400
e as embarcações com comprimento menor que 24 metros, excluindo-se as embarcações
miúdas, devem portar um documento chamado Declaração sobre Sistema Anti-incrustante,
observando-se as seguintes considerações:
1) as embarcações com comprimento maior que 24 metros e que possuam
AB menor que 400, bem como as embarcações com comprimento menor que
24 metros que são sujeitas a vistorias pela NORMAM-01/DPC, devem portar
“Declaração sobre Sistema Antiincrustante” validada pela organização que
tiver feito a Vistoria;
2) as embarcações de esporte e recreio com comprimento maior que 24
metros, que são sujeitas a vistorias pela NORMAM-03/DPC, devem portar
“Declaração sobre Sistema Anti-incrustante” assinada pelo Armador ou
Proprietário da embarcação;
3) as embarcações de esporte e recreio, bem como as demais embarcações
não sujeitas a vistorias pela NORMAM-01/DPC, que possuam comprimento
inferior a 24 metros, com exceção das embarcações miúdas (menor de 5
metros), devem portar “Declaração sobre Sistema Anti-incrustante” assinada
pelo Armador ou Proprietário da embarcação.
Após a entrada em vigor desta NORMAM, nenhum Sistema Anti-incrustante
danoso pode ser aplicado em embarcações objetos desta NORMAM.
Mesmo com a legislação ambiental vigente, é possível reetir a armativa da
professora Andrea Junqueira, do Departamento de Biologia Marinha da (Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ), (in: MILHORANCE, 2016, ON LINE) que “a incrustação
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 2 24
não interessa em nada ao navio, pois aumenta o atrito e o consumo de combustível.”
A bióloga, trata em seus estudos, da bioincrustação, que segunda ela, é um tema
relativamente novo nas esferas ambientais e argumenta que a tecnologia para limpar o
casco das embarcações não evoluiu muito.
Esse posicionamento de Junqueira remete à reexão de que esta dicotomia entre a
aplicação da legislação vigente e a prática da limpeza dos cascos das embarcações é um
fato gerador de conito, merecendo, portanto, luz à situação, conforme propõe o presente
estudo.
Compactuando com Junqueira, Milhorance (2012) acrescenta que a bioincrustação
é uma ameaça à biodiversidade marinha e uvial, pois se não monitorada ou controlada,
poderá trazer espécies consideradas daninhas ou invasoras, que podem comprometer
o ecossistema de maneira acidental. Esse tipo de bioincrustação ocorre nos cascos das
embarcações nacionais ou internacionais e, de acordo com os estudiosos desta temática,
um exemplo de efeito que pode gerar invasões danosas se dá com o foco de colonização
de Coral-sol, pertence ao gênero Tubastraea, o qual segundo os autores, se expande
rapidamente, gerando transtornos, como os já identicados em Ilha Grande, Paraty e outros
locais do Brasil.
Entretanto, a conduta e procedimento de remoção das colônias de Coral-sol, por si
só, gera um empasse, pois a retirada de corais de seus ambientes naturais é considerada
crime ambiental, de acordo com a legislação vigente no país. Assim, o professor do
Laboratório de Ecologia Marinha da (Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ),
Joel Creed (in: MILHORANCE, 2016, ON LINE), arma que somente com licença do IBAMA
(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) é possível
fazer o processo de remoção dos corais. Nesse contexto, é possível observar mais um
impasse que envolve a aplicação da legislação ambiental, frente à prática de remoção da
bioincrustação oriunda dos cascos das embarcações.
Finalizando, é possível inferir que o uso da tinta venenosa pode também comprometer
o ambiente marinho e uvial, quando é realizada a manutenção para conservação dos
cascos das embarcações náuticas, uma vez que no processo de raspagem da tinta velha,
procedimento habitualmente utilizado pelos donos de embarcações, os microplásticos
acumulados na resina, caem ou são jogados ao mar. Por sua vez, estes resíduos de
plásticos atraem os peixes, os quais acabam ingerindo esse material venenoso, que pode
gerar anomalias e o comprometimento de espécies futuras, bem como, causar a morte dos
mesmos.
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho adotou uma metodologia exploratória, de caráter qualitativo,
empregando como método, além da pesquisa bibliográca, uma pesquisa de campo,
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 2 25
aplicando a técnica do questionário. O instrumento de coleta de dados foi aplicado junto
aos proprietários de embarcações náuticas com cascos de madeira, aos marinheiros de
embarcações turísticas e aos pescadores.
O lócus da pesquisa se deu em dois municípios da Região Metropolitana da Baixada
Santista (RMBS), sendo: Barra do Uma em Peruíbe e na cidade de Santos/SP. Esses locais
foram eleitos por concentrarem embarcações com cascos de madeira, facilitando assim, a
vericação do uso de tintas anti-incrustantes, ou seja, tinta venenosa. No caso da opção por
Barra do Una, se deu também, pela prática comum de pesca em rios, além da marítima.
Os convidados a participar da pesquisa de campo foram abordados pessoalmente
em áreas de concentração de atividades pesqueiras e turísticas como o Entreposto de
Pesca e o Píer do Clube de Regatas Saldanha da Gama, em Santos. Em Barra do Una, a
abordagem aos pescadores se deu no retorno das atividades diárias destes.
Dessa forma, os respondentes da pesquisa de campo foram os pescadores e
proprietários das embarcações de pesca artesanal na Barra do Una, os pescadores
comerciais de embarcações que desembarcam no entreposto de pesca da cidade de
Santos e, os marinheiros de embarcações turísticas do Píer do Saldanha da Gama também
em Santos.
Esta pesquisa que se apresenta como de pequeno alcance, atingiu oito respondentes,
os quais foram convidados aleatoriamente a participar. A coleta de dados ocorreu durante
os intervalos de retorno das embarcações do mar e/ou rios, no período de 5 a 15 de setembro
de 2015, iniciando sempre na parte da tarde, quando então, os pescadores têm por rotina,
trazer o pescado para as localidades onde são comercializados.
Convém ressaltar que esta pequena amostra de participantes se deve ao fato de
que de forma unânime, os pescadores são também os donos das embarcações.
O instrumento de coleta de dados foi organizado com perguntas fechadas,
relativas ao: perl do respondente; tipos das embarcações; tintas utilizadas nas pinturas;
conhecimento do respondente sobre a tinta veneno no que tange aos efeitos dos compostos
organoestânicos na natureza e, locais para aquisição desses produtos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da coleta de dados, foi possível observar os seguintes resultados conforme
a organização do instrumento:
Perfil do Respondente:
O perl dos respondentes é composto na maioria de homens entre 22 e 61 anos de
idade, não sendo identicada atuação feminina nessa atividade. Outro aspecto relevante,
em relação aos respondentes é o tempo de atuação desses prossionais, uma vez que
trabalham com a pesca e turismo aquático há mais de 25 anos.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 2 26
Por intermédio da pesquisa, foi possível apurar também que os respondentes
são em sua grande maioria, os proprietários das embarcações que utilizam no dia a dia
operacional. Os respondentes alegaram também ser proprietários de outras embarcações
utilizadas nas atividades pesqueiras ou turísticas por terceiros.
Tipos das Embarcações:
Os respondentes indicaram possuir embarcações de diferentes metragens
e modelos, entretanto, ao nal, apurou-se que estas possuíam a média de 10m x 3m,
exceto as embarcações de turismo, ou seja, aquelas que possuíam formatos diferenciados
e consequentemente destacavam-se das embarcações pesqueiras tanto em extensão,
quanto em largura, possuindo 21 metros, 72 pés.
Um dos detalhes mais destacado pelos respondentes foi o modelo de embarcações
mais utilizado por estes, em oportunidade das atividades comuns. O modelo mais citado foi
o bote de madeira, seguido pelo modelo escuna.
Esse resultado converge para as orientações da Marinha do Brasil, a qual isenta
embarcações com comprimento inferior a 24 metros e Arqueação Bruta (AB) de portar o
documento chamado de Declaração sobre Sistema Anti-incrustante.
Sendo assim, é possível inferir que o uso de tintas venenosas seja praticado de
forma comum entre as embarcações de pequeno porte.
Sobre os Procedimentos de Manutenção das Pinturas das Embarcações:
Os pescadores da Barra do Una destacaram que em razão da localização dos
estaleiros em municípios vizinhos, como é o caso de Peruíbe, distante 25 km, bem como,
pelas manobras de puxada, a manutenção das pinturas das embarcações passa a ser
morosa e onerosa, haja vista os altos valores com o aluguel diário destes estabelecimentos.
Em razão disto, algumas vezes as embarcações são encalhadas na maré baixa,
em barrancos de terra no próprio rio Una, onde são realizadas as raspagens dos micro-
organismos grudados e novas pinturas são realizadas ali mesmo, resultando no despejo de
microplásticos no leito do rio, que consequentemente são levados pelas águas.
Em relação aos pescadores e proprietários das embarcações de turismo em Santos,
estes relataram que o mais comum é a condução dos barcos para estaleiros nas cidades
vizinhas para realização da raspagem das tintas e consequentemente, a realização de
novas demãos de tinta. Cabe salientar ainda que os respondentes indicaram também, ser
os responsáveis pelos custos com tais operações que costumam ser onerosas. Assim, caso
não realizem esses procedimentos em um período máximo de seis meses, correm sérios
riscos de perder a embarcação por causa dos micro-organismos que vão se alojando nos
cascos das embarcações, podendo danicá-las.
Os respondentes informaram também que é comum duas demãos de tinta, em média,
para cada ocasião de puxada e raspagem, bem como, não souberam especicar um único
nome para as tintas que são conhecidas mais comumente como tinta veneno.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 2 27
Esse resultado é coerente com o posicionamento da professora e bióloga da UFRJ
Andrea Junqueira, (in: MILHORANCE, 2016, ON LINE) quando arma que a incrustação
não interessa em nada ao navio, pois aumenta o atrito e o consumo de combustível.
Conhecimento do Respondente Sobre a Tinta Veneno no que Tange aos Efeitos
dos Compostos Organoestânicos na Natureza:
Os resultados mostram que de forma unânime, os respondentes armaram utilizar as
tintas anti-incrustantes venenosas nas suas embarcações e quando questionados sobre o
conhecimento dos efeitos do uso dessas tintas na natureza, ambos armaram desconhecer
qualquer reação direta dessas inuências sobre a vida nos ambientes marinhos e uviais.
Contudo, dentre as informações apuradas em relação às tintas, os respondentes
indicaram não conhecer outro produto que seja capaz de minimizar os ataques contínuos
das espécies grudentas. Também foi citado que o uso dessas tintas para embarcações é parte
da história deles há muitos anos, haja vista que alguns participantes da pesquisa disseram
que desde a época de seus avós, o método de proteção dos cascos das embarcações,
ocorre mediante o uso desse tipo de material.
Locais Para Aquisição dos Produtos:
Em se tratando das localidades para aquisição das tintas veneno em Santos e Barra
do Una, os respondentes indicaram lojas de tintas náuticas tanto em Santos, como na
cidade de Peruíbe, como sendo as localidades mais fáceis para aquisição de materiais com
essas qualicações.
Quando questionados sobre os nomes das marcas, os respondentes não souberam
citar os nomes, todavia, também foram unânimes armando que solicitam nas localidades
que comercializam os produtos como tinta veneno ou tinta venenosa, onde prontamente são
atendidos e conseguem adquirir produtos para proteção dos cascos das embarcações de
madeira.
Além das localidades onde ocorreu a pesquisa, foi realizada visita a uma das lojas
de tintas para embarcações na cidade de Santos, com a nalidade de identicar os tipos de
produtos mais comercializados, assim como, os seus componentes principais e valores
praticados nesse mercado consumidor.
Assim, em visita feita a uma destas lojas, na região do Entreposto de Pesca em
Santos, foi constatado que o preço médio de um galão de tinta de 3.600 ml varia de preços,
os quais podem ir desde R$ 218,00 a R$ 287,00. Esses valores oscilam de acordo com as
marcas, sendo que todas as tintas são fabricações nacionais.
Convém destacar que ao visitar o comércio de tintas náuticas, foi possível
observar que nas embalagens das tintas utilizadas pelos respondentes, havia mensagens
estampadas no produto, sinalizando que o uso do mesmo era prejudicial à vida marinha.
Nesse mesmo contexto, é preciso destacar também que apesar da legislação vigente
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 2 28
proibir o uso de tintas venenosas desde 2007 e, com base no relato dos proprietários e
marinheiros de embarcações, assim como dos pescadores, foi possível constatar que essas
tintas continuam sendo utilizadas e comercializadas na atualidade. Esta situação se dá, pois
até o momento, proprietários ou responsáveis pelas embarcações não têm conhecimento
da existência de nenhum outro produto no mercado consumidor, que seja semelhante
e sucientemente capaz de suprir a necessidade de manutenção das embarcações de
madeira.
Dessa forma, realizar a manutenção das embarcações de maneira politicamente
correta no que tange às questões ambientais de preservação da biodiversidade e de
sustentabilidade, torna-se um grande desao.
CONCLUSÃO
A raspagem das tintas venenosas dos cascos das embarcações náuticas nas
cidades de Santos e Peruíbe/SP tem resultado na geração de microplásticos, que
consequentemente, afetam e impactam a biodiversidade existente nessas localidades.
Cabe ressaltar que, apesar da NORMAM 23/DPC nortear sobre o uso de tintas
venenosas nos cascos das embarcações náuticas, muitos desses itens continuam sendo
utilizados e em oportunidade de suas raspagens para novas demãos, deixam resíduos de
plástico tóxico no ambiente. Esse fato sinaliza a necessidade de maior investimento em
novas pesquisas que levem ao desenvolvimento de produtos anti- incrustantes para os
cascos de embarcações, os quais não sejam nocivos e que não contribuam para a poluição
marinha e uvial.
Portanto, são recomendáveis políticas públicas ambientais que sejam mais
consistentes e que possam controlar e monitorar mais efetivamente o uso das tintas
venenosas. Recomenda-se também, uma campanha de conscientização que envolva os
atores sociais como: proprietários, pescadores e, comunidade em geral para que se possa
levar maior conhecimento, quanto aos efeitos malécos que podem ser desencadeados
nos ambientes e nos ecossistemas marinho e uvial.
REFERÊNCIAS
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Toxicological Sciences. v. 33, n. 3, p. 269 - 276, 2008.
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IV Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental Salvador/BA – 25 a 28 de novemebro de 2013.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 3 30
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 3
SALINITY ASSESSMENT IN THE GERMINATION OF
LAGUNCULARIA RACEMOSA (L.) C. F. GAERTN.
FOR SELECTING MANGROVE RESTORING SITES
Data de submissão 30/08/2021
Jacyara Nascimento Corrêa
Postgraduate Program in Oceanography
(PPGOceano), Federal University of Maranhão,
Av. dos Portugueses, 1966, Maranhão, Brazil
James Werllen de J. Azevedo
Federal University of Maranhão, Estrada de
Pacas, Km 04, Maranhão, Brazil.
ORCID 0000-0002-7034-4592
Alexandre Oliveira
Federal University of Alagoas, Campus
Arapiraca, Penedo Educational Unit, Av. Beira
Rio s/n, Alagoas, Brazil.
ORCID 0000-0002-9076-3524
Flávia Rebelo Mochel
Federal University of Maranhão, Av. dos
Portugueses, 1966, Maranhão, Brazil.
ORCID 0000-0001-5911-3171
ABSTRACT: The aim of this work was to identify
and analyze the saline tolerance throughout
the white mangrove propagules of L. racemosa
germination, a halophyte and monotypic species,
to contribution to the mangrove restoration.
A total of 450 propagules were subjected to
different salinities. The propagules were divided
into three replicates (r) of 30 propagules for
each salinity treatment (t) of 0, 15, 25, 40 and
60. Germinability (G), Germination Velocity
Index (GVI), Germination Mean Time (GMT),
Germination Mean Velocity (GMV) and Root
Formation (RF) were applied to the experiment.
The results showed that G and GVI tend to be
very sensitive to the concentration of high salinity
(salinity of 60). In spite of this, the germination of
the propagules was successful up to the salinity
of 40. The mangrove is composed of halophytic
plants, capable to support and grow in saline
environments. The present experiment identied
the white mangrove species Laguncularia
racemosa as fully capable of germinating in
freshwater, presenting a variation in germination
depending on different salinity. In this way,
this species contributes to development and
improvement of the techniques, used in the
germination of propagules to produce seedlings
for the restoration of mangroves.
KEYWORDS: Salinity stress, white mangrove,
propagule germination, ecological restoration.
AVALIAÇÃO DA SALINIDADE NA
GERMINAÇÃO DE LAGUNCULARIA
RACEMOSA (L.) C. F. GAERTN.
VISANDO A SELEÇÃO DE SÍTIOS DE
RECUPERAÇÃO DE MANGUEZAIS
RESUMO: Identicou-se e analisou-se a
tolerância salina na germinação em propágulos
de mangue branco L. racemosa, uma espécie
halóta e monotípica, para contribuir para a
restauração do manguezal. Um total de 450
propágulos foram submetidos a diferentes
salinidades. Os propágulos foram divididos
em três réplicas (r) de 30 propágulos para
cada tratamento de salinidade (t) de 0, 15, 25,
40 e 60. Os índices de Germinabilidade (G),
Velocidade de Germinação (GVI), Tempo Médio
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 3 31
de Germinação (GMT), Velocidade Média de Germinação (GMV) e Formação de Raizn (RF)
foram aplicados ao experimento. Os resultados mostraram que G e GVI tendem a ser muito
sensíveis à concentração de alta salinidade (salinidade de 60). Apesar disso, a germinação
dos propágulos foi bem sucedida até a salinidade de 40. O manguezal é composto por plantas
halótas, capazes de suportar e crescer em ambientes salinos. O presente experimento
identicou a espécie de manguezal branco Laguncularia racemosa como totalmente
capaz de germinar em água doce, apresentando uma variação na germinação dependendo
de diferentes salinidades. Dessa forma, essa espécie contribui para o desenvolvimento e
aperfeiçoamento das técnicas, utilizadas na germinação de propágulos para produzir mudas
para a restauração de manguezais em áreas sob inuência de diferentes salinidades.
PALAVRAS - CHAVE: Estresse de salinidade, mangue branco, germinação de propágulos,
restauração ecológica.
INTRODUCTION
Mangroves are part of the most threatened coastal ecosystems in the tropical
and subtropical regions of the world. At least 35-50% of these coastal forests have been
destroyed, with an annual loss of 0.4% of the total remaining mangroves in the world (Along
2002; FAO 2007; Ferreira and Lacerda 2016; Hamilton and Casey 2016). López-Portillo et
al. (2017) report that the main causes of mangrove degradation may be of natural origin,
such as erosion and indirect effects caused by tsunamis, or of anthropogenic origin caused
by pollution, aquaculture, etc.
According to Paula et al. (2012) and Mochel (2016), there are several reasons for
the importance of mangroves, besides being nurseries for many species of ecological and
economic value: they inuence the local and global climate, assist in the control of oods,
act in the production of oxygen and in the sequestration of carbon in the coastal zone. The
mangrove ecosystem works like a biological lter retaining pollutants, produces organic
matter and protects the coastline from erosion, reducing the energy of tides, waves and
winds (Tang et al. 2020).
Ecological recovery of mangroves therefore is of fundamental importance, it repaires
losses and restoring functions in areas subject to human intervention, as well as it renovates
the socio-environmental benets mangroves provide to the coastal zone. Ecological
restoration, according to the Society for Ecological Restoration (SER 2004) and McDonald
et al. (2016), assists in the recovery of an ecosystem that has been degraded. Viana (1990)
has described recovery as divided into two categories: restoration and rehabilitation. The
restoration seeks to recover the original form of the ecosystem, in the phytosociological
sense. The term rehabilitation deals with the reestablishment of ecosystem functions,
independent of species and their structure after environmental impact.
The ecological restoration of mangroves can be performed involving basically two
procedures: natural recovery and articial recovery (Clough et al. 1997). For the natural
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 3 32
restoration, Mochel (2016) considers the establishment of propagules and seedlings,
starting with their distribution by natural processes, as the circulation of the tides in the
ecosystem. Articial recovery requires procedures induced by human actions, such as
assessment of propagules and their distribution, or planting of nursery seedlings and
seedling transplantation.
In degraded mangroves, the ecosystem can suffer various imbalances, such as
saline, hydric, climatic, biological and sedimentary. To reverse the damage caused by
mangrove degradation, a number of ecological recovery processes and techniques are
developed. One of these processes is the production of nursery seedlings and, for this, the
germination of propagules is necessary (Mochel and Fonseca, 2019).
In Brazil, mangroves are distributed from the northern tip of Amapá (N 4º 20’) to the
county of Laguna-SC (S 28º 30’) (Schaeffer-Novelli 1989). The coastal Amazon has the
largest continuous area of mangroves in the world (8,900 km²), 50% of this total belong
to the Maranhão coastline (Kjerfve et al. 2002). On the island of Sao Luis, in the state of
Maranhão, the mangroves are distributed in an area of 18,895 hectares on the coast as
fringes, behind beaches, coastal strands and sandy dunes, or bordering rivers and streams
(Silva and Mochel 1994). Although the mangrove areas of Maranhão state are preserved,
Mochel et al. (2002) emphasize that there was a loss in mangroves of about 10,000 ha
between 1972 and 2002.
On the Brazilian Amazon coast are found the species Avicennia schaueriana Stapf &
Leechm. ex Moldenke and Avicennia germinans (L.) L. (black mangrove or siriba), the red
mangrove species Rhizophora mangle L., Rhizophora harisonii Leechm. and Rhizophora
racemosa G. Mey, the buttonwood mangrove Conocarpus erectus L. and the white mangrove
Laguncularia racemosa (L.) C. F. Gaertn (Mochel 2011).
The white mangrove Laguncularia racemosa (Combretaceae) is a monotypic
species occurring in mangroves of West Africa and the Americas, in fringes close to the
land (Tomlinson 1986). The tree can reach a height up to 20 m, although it is common to
be found in a bush form (Schaeffer-Noveli and Cintron 1986). This species, like the other
mangrove species, is subject to diverse natural and anthropogenic environmental stresses.
Clewell and Aronson (2012) dened stress as a normally occurring condition or a periodic
event, that may be more detrimental to some species than others. The author also points out
that there are factors such as saline water shock and anoxia that cause stress conditions
in mangroves.
Although the vegetal species of mangroves are facultative halophytes, which means
plants capable of completing their reproductive cycle and presenting optimal growth in low
salinity environments, their seedlings are sensitive to the presence of sodium chloride, and
a saline substrate can affect many aspects of the its growth and physiology (Tomlinson
1986; Parida and Jha 2010).
The germination plant analysis is the one of the most used processes for the
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 3 33
determination of tolerance to water and saline stress (Larcher 2000). Plants that live
in a brackish environment, such as those living in mangroves, have morphological and
physiological adaptations to tolerate constant hydric and saline stress. These adaptations
vary with species, and those with high salinity tolerance tend to grow more slowly than
less tolerant species (Sobrado 2004). Therefore, salinity plays important roles in regulating
mangrove growth and distribution (Wang et al. 2011).
This research aimed to analyze the effect of different concentrations of salinity on the
germination of L. racemosa propagules, and the identication of its salt tolerance, in order to
contribute to the selection of the most suitable areas of mangrove to be recovered.
METHODS
Study area
The Maranhão Island is formed by the municipalities of São Luis, São José de
Ribamar, Paço do Lumiar and Raposa, located in the Coastal Region of the State of
Maranhão (IMESC 2011). The propagules were collected between the mangroves of Raposa
and São José de Ribamar, in the Mangue Seco beach northeast of the municipality of São
Luis, Maranhão (S 2º 27’ 06.86”, W 44° 09’ 20.33” and S 2º 27’ 21.81”, W 44° 09’ 45.76” (Fig.
1). The site features a variety of coastal ecosystems such as mangroves, sandbank, dunes
and salt marshes. Mangrove forests are relatively homogeneous and are concentrated in
the mouths of rivers and streams. The salinity of the Igarapé Mangue Seco is high, with an
average of 40.
According to Koppen and Geiger (1928) classication, the region between the
municipalities of São José de Ribamar and Raposa presents a Aw climate which ts in
between equatorial and tropical patterns, with two well marked seasonal periods, a rainy
(January to June) and drought (July to December).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 3 34
Fig. 1 Area of São José de Ribamar and Raposa municipalities where propagules were carried out
(Images Landsat 8 Sensor OLI sensor - United States Geological Survey).
Field sampling
A total of 450 ripe propagules of Laguncularia racemosa were collected manually
directly from the branch of the tree and placed into a straw basket to avoid dehydration
during the fruiting season between April and May 2016. The healthy propagules were
selected according to the recommendations of Goforth and Thomas (1979), to achieve the
greatest possibility of success in their development. The propagules were then transported
to the Mangrove Laboratory/CERMANGUE - Mangrove Recovery Center in Department of
Oceanography and Limnology, Federal University of Maranhao.
Experimental design
The total of 450 propagules were divided into three replicates (r) of 30 propagules for
each treatment (t) of salinity. For each salinity treatment the propagules were placed to soak
until the primary root emission, in sterile plastic trays, previously labeled with the identied
different salinities.
The estuarine water, used in the experiment, was collected in the Mangue Seco
Channel, in the same region where the propagules were collected, and the salinity was
veried with a Q767-3 Quimis refractometer. The water was transported in plastic bottles to
the laboratory CERMANGUE-UFMA, where dilutions and concentrations were carried out
from the salinity control of the collection site, for the execution of the experiment. To obtain
the salinity 60, sea water was subjected to controlled evaporation until the desired salt
concentration was reached. In all treatments the salinity was obtained with a refractometer.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 3 35
The experiment was divided into ve trays containing treatments with concentrations
of salinities 0, 15, 25, 40 and 60. In each tray were placed 30 propagules. Three replicates
of salinity concentrations were performed for each treatment.
The inuence of salinity on germination of the propagules was monitored daily at
the same time for 10 days. The salinity was checked and corrected daily to avoid salinity
increase due to evaporation. The propagules were considered germinated when the primary
root emission reached 2 mm.
Germination tests
To analyze the inuence of salinity on the germination of Laguncularia racemosa
propagules, the following variables were evaluated: Germinability (G%) to inform the amount
of propagules that germinated in the experiment; Germination Mean Velocity (GMVdays -1)
to measure velocity of germination (Maguire 1962; Santana and Ranal 2000); Germination
Mean Time (GMT days) to measure time of germination (Ranal and Santana 2006, 2009);
and the beginning of root formation (RF days) refers to the date the rst root appeared.
The G, GMT and GMV variables were processed using the GerminaQuant 1.0
software used for germination calculations (Marques et al. 2015), whose formulas are:
Germinability: G = x100
with: N = number of seedlings germinated at the end of the experiment
Germination Mean Time: GMT = /
with: ni = number of germinated propagules per day; ti = incubation time;
Germination Mean Velocity: GMV =
The Germination Velocity Index (GVI) was calculated using the formula:
GVI = + + +
with: G1 to Gi = number of seedlings germinated each day; T1 to Ti = time (days)
Statistical analyses
The comparison of the germination tests between the different saline concentrations
was carried out using the Analysis of Variance (ANOVA One-Way) and Tukey test, considering
the homogeneity presuppositions of variances. Kruskall-Wallis non-parametric analysis (p
<0.05), followed by Mann-Whitney test, was used in case of absence of these assumptions.
The homogeneity of the variances was analyzed by the Levene test (Levene 1960).
Statistical data were processed in Statistica 6.0 and PAST 3.14 software (Hammer
2001). The statistical analyzes were evaluated for a critical level of signicance of α = 0.05
(Zar 1998).
A Cluster analysis, using the Euclidean distance by the mean binding method,
was applied to evaluate the similarity between the salinity treatments in relation to the
physiological measures of germination. The similarity prole (SIMPROF) was used to test the
statistical signicance of the formed groups (Clarke and Warwick 2001). For this evaluation,
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 3 36
PRIMER 6.0 software was used. The Multidimensional Scaling (MDS) was applied to verify
the level of similarity or dissimilarity between the different concentrations of salinity and the
physiological measures of germination.
A Principal Component Analysis (PCA), based on a variance-covariance matrix,
was used to verify the association of different physiological measurements with salinity
concentrations. The signicance of the axes was tested by randomization in the randomized
Broken Stick model with 9,999 replicates per bootstrap (Jackson 1993). The sorting analyzes
(MDS and PCA) were performed using the PAST software 3.14 (Hammer 2001).
RESULTS
The results of the difference between the treatments and the comparison of means
of the physiological measurements regarding the germination of the Laguncularia racemosa
propagules under the effect of different salinities, are presented in Table 1.
Salinity
Concentration Variables
G (%) GVI GMT (days) GMV (days-1)RF
(days)
095.50 a5.41 a 6.23 a0.161 a* 2.67 a
15 96.60 a5.01 a6.47 a0.155 a* 2.67 a
25 87.80 a4.36 a6.69 a0.151 a* 3.67 a
40 80.00 a3.95 a6.59 a0.152 a* 3.33 a
60 17.78 b0.99 b6.00 a0.167 a* 3.66 a
Table 1. Germination values for Laguncularia racemosa propagules submitted to different salinity
treatments (G-germinability; GVI-germination velocity index; GMT-germination mean time; GMV-
germination mean velocity; RF-root formation; Same letter does not differ from each other at the 0.05%
probability level).
* Applied nonparametric Kruskal-Wallis test, with later Mann-Whitney test.
The treatment with the highest germination rate (G) was the treatment with salinity
of 15, followed by salinity 0 with 96.6% and 95.5%, respectively. The lowest germinability
occurred at salinity of 60. There was a signicant difference between germinability (p =
0.0002) and salinities.
The germination velocity index (GVI) was similar to germinability. The results showed
signicant differences between the lowest and highest salinities (p = 0.0007). The highest
value of GVI occurred in the salinity of 0 with 5.41 and the lowest salinity of 60 with 0.99,
showing that lower salinities result in higher germination speed and germination capacity.
Regarding the variable germination mean time (GMT), the results did not present
signicant differences between the treatments (p = 0.6), in this way, a 6-day pattern was
found for all treatments.
For the mean germination mean velocity (GMV) no signicant difference was
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 3 37
observed (p = 0.134) in the interaction between germination and the salinities 0, 15, 25, 40
and 60.
Root formation (RF) was faster throughout the treatments with concentrations of
salinity 0 and 15, appearing within two days. With salinities from 25 on the root appeared
on the third day. However, there were no signicant differences between all treatments and
root formation (p = 0.54).
Based on salinity and physiological measurements represented in cluster analysis, a
large group could be identied, consisting of saline concentrations of 0, 15, 25 and 40, being
dissimilar to the salinity of 60. The SIMPROF test conrmed the established group and their
difference in relation to the highest salinity used in the experiment (Fig. 2). Thus, the results
indicate that salinity of 60 tends to be less similar between physiological measurements than
other salinities, with less expressive concentrations.
Fig. 2 Cluster analysis of the salinity treatments in relation to the physiological measures of
Laguncularia racemosa propagules germination.
Similar to clustering, Multidimensional Scaling (MDS) grouped the most similar
salinity treatments among physiological measures (Fig. 3). The graph shows a tendency to
form two groups. The most similar group consists of salinities of 0, 15, 25 and 40 and the
other group with only 60. Lower salinities tend to have different rates when compared to
higher salinities.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 3 38
Fig. 3 Multidimensional Scaling (MDS) of different salinities levels and physiological measures of
Laguncularia racemosa propagules germination.
The rst two axes of the Principal Component Analysis (PCA) explained 98.1%
of the total data variability, with axis 1 (68.8%) and axis 2 (29.3%), thus being sufcient
to represent the factorial variance. The PCA veried the association of the physiological
measurements with the salinity treatments (Fig. 4).
Fig. 4 Principal Component Analysis (PCA) between physiological measures (G-germinability, GVI-
germination velocity index, GMT- germination mean time, GMV-germination mean velocity and RF-root
formation) in different salinities.
Analyzing the association of physiological measurements in relation to salinity levels
from the point of view of component 1, salinities 25, 40 and 60 show a tendency to associate
with RF and GMT.
Considering component 2, GMV, GVI and % G showed a tendency to be associated
with lower salinities 0 and 15, however, GMV showed a tendency to associate with salinity
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 3 39
60 . The GVI and % G tend to be lower in concentrations of 25, 40 and 60.
DISCUSSION
For some plant species the ability to enter estuarine environments depends on
their tolerance to the salinity level throughout the germination (Krauss et al. 1998). The
increase of salinity leads to a reduction and/or delay in the germination of both halophytic
and glycophytic species (less salt tolerant) (Khan and Ungar 1984; Katembe et al. 1998).
Although mangrove species have adapted to tolerance salinity, they are sensitive to higher
salinities in the germination process (Ungar 1996; Khan and Abdullah 2003; Debez et al.
2004).
Studies have shown that young seedlings grow best under low salinity, while adults
are affected in their growth both by high salinity and total absence of dissolved salts (Baskin
and Baskin 2014). Possibly due to the salinity affecting the propagules variability, most
mangrove species release their fruits in the rainy season, to increase the chances of
survival under conditions of low salinity in the ecosystem (Bunt et al. 1982). River estuaries
with high and medium salinity soils have been shown to be good habitats for mangrove
forest growth. (Kantharajan et al. 2018). According to this Fernandes et al. (2005) observed,
that the owering and fruiting of L. racemosa occurs from January to March with greater
intensity, and from June to August with lower intensity.
Considering the results, the germinability and the rate of germination were very
sensitive to the concentration of high salinity (60), when they were signicantly affected by
the different salt concentrations. This effect can be justied, since with the passage of time
the propagule loses the potential of germination due to the high saline content.
The growth of many halophyte species is optimal under relatively low salinities
(Flowers et al. 2008). Laguncularia racemosa is rarely dominant, except when salinity is
low (Jiménez 1985). In general, L. racemosa propagules, collected in the São José de
Ribamar/Raposa region, are strongly subjected to stress conditions, mainly high salinities,
as observed in the estuarine salinity used as control (40). In spite of this, the germination of
the propagules was successful until the salinity of 40, possibly indicating that the propagules
of the region are adapted to the adverse local conditions. The germination performance of
the propagules was reduced considerably in the highest salinity (60), the germination rate
and germination speed index decreased. There is research indicating the importance of salt
to some mangroves, as well as evidencing that distinct species show different tolerances to
salinity (Pezeshki et al. 1989).
Santana and Ranal (2004) described that a higher the germination speed index leads
to greater germination capacity of the seeds, which means, if the germination occurs at the
beginning of the experiment, this value will be higher than if it occurs late. In the experiment
with propagules of L. racemosa from São José de Ribamar/Raposa, GVI values showed a
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 3 40
signicant variation throughout the treatments with a salinity of 60.
As for the germination mean time and the mean velocity, the data showed that the
lower the mean time, the higher grows the germination speed of the seeds, thus conrming
that the mean germination time and mean germination velocity are two inversely proportional
quantities (Ranal 2000).
In relation to the beginning of the root formation, Ye et al. (2005), studying the effects
of salinity on the germination of mangrove plants of the genus Acanthus, Aegiceras and
Avicennia, showed, that the beginning of the root formation varied from 3 to 7 days in low
and high salinities, respectively. In this experiment, the root formation start ranged from 2
days for low salinity to 3 days for salinity from 25.
Some experiments have shown, that the optimum salinity concentration for mangrove
species is much lower than that of seawater (Clough 1993). Moreover, the increase in salinity
causes the plant to reach a tolerance limit, in which the adaptations to stress are limited and
can cause its death (Larcher 2000, Oliveira 2005). Salt is generally not a requirement for
growth, since most mangroves can grow in freshwater (Tomlinson 1986; Ball 1988).
Mangroves do not develop in exclusively sweet regions due to competition with
freshwater species. Salinity is a limiting factor for species that are not adapted to the
saline environment. In addition to be a limiting factor, Lichtenthaler (1996) has shown, that
salinity in the mangrove can be considered a factor of stress (stimulating stress) in low
concentrations and stress (negative stress) until it exceeds the limit of tolerance of the
species. However, some mangrove forests are located far from estuaries in areas of low
salinity soil (Jayatissa et al. 2008).
Although the mangrove grows and supports saline environments, the present
experiment identied that the Laguncularia racemosa mangrove species is fully capable of
germinating in fresh water and presents a variation in germination as a function of salinity.
CONCLUSIONS
In conclusion, our results indicate that the most efcient germination occurred with
propagules submitted to concentrations ranging from fresh water to salinity of 15. In order
to stimulate a more efcient germination, Laguncularia racemosa seedlings should be kept
soaked in concentrations ranging from freshwater to salinity of 15 during the production
process of seedlings for the recovery of degraded mangroves.
The present study generated relevant information, regarding the impact of saline
stress on the germination of L. racemosa propagules. In this way, it contributes to the
development and improvement of the techniques used in the germination of propagules for
the production of seedlings, aiming the ecological recovery of mangroves.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 3 41
FUNDING
This research was funded by the Maranhão Foundation for Scientic and Technological
Research and Development - FAPEMA.
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A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 4 45
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 4
BIOMONITORAMENTO DO RIO CATOLÉ
GRANDE, BA, POR MEIO DA AVALIAÇÃO DE DANOS
GENÉTICOS NOS ERITRÓCITOS DE HOPLIAS
MALABARICUS (BLOCH, 1794) (CHARACIFORMES,
ERYTHRINIDAE)
Data de submissão: 03/08/2021
Hellen Karoline Brito da Rocha
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
- UESB/ Núcleo de Estudos de Organismos
Aquáticos - NEOAQUA
Itapetinga-BA
http://lattes.cnpq.br/8595797761649010
Cláudia Maria Reis Raposo Maciel
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
- UESB/Departamento de Ciências Exatas
e Naturais - DCEN/ Núcleo de Estudos de
Organismos Aquáticos - NEOAQUA
Itapetinga-BA
https://orcid.org/0000-0001-6641-807X
Alaor Maciel Júnior
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
- UESB/ Departamento de Tecnologia Rural
e Animal - DTRA/ Núcleo de Estudos de
Organismos Aquáticos - NEOAQUA
Itapetinga-BA
https://orcid.org/0000-0002-1432-3930
RESUMO: O rio Catolé Grande banha o
município de Itapetinga, na região Sudoeste da
Bahia, sendo a principal fonte de abastecimento
hídrico da população. Apesar da sua importância,
o rio vem sofrendo os impactos negativos ao
longo do seu percurso, o que compromete
a qualidade da sua água. Assim, objetivou-
se realizar o biomonitoramento do rio Catolé
Grande, através da avaliação de danos genéticos
nos eritrócitos de Hoplias malabaricus, por meio
do teste de micronúcleo e alterações nucleares.
Foram amostrados exemplares de traíra, na
porção urbana do rio que atravessa Itapetinga.
Destes animais, foram coletadas amostras de
sangue periférico e realizada a confecção dos
esfregaços sanguíneos. Para a contagem de
micronúcleos, examinou-se um total de mil
eritrócitos por peixe. As análises dos esfregaços
sanguíneos revelaram alta frequência média
de células micronucleadas em comparação
com dados encontrados em literatura. Foram
registradas, também, anormalidades nucleares
do tipo “Notched”, Lobed” e “Blebbed”, as quais
podem ser explicadas por uma ação de reparo
da célula ao detectar uma região cromossômica
afetada iniciando um processo de reparação e/
ou eliminação. A análise do teste do micronúcleo
e das alterações morfológicas nucleares
indicaram que a traíra, Hoplias malabaricus,
está respondendo aos efeitos de xenobióticos
presentes na água do rio Catolé Grande, BA.
PALAVRAS - CHAVE: Bioindicador; Micronúcleo;
Peixe; Sangue; Traíra.
BIOMONITORING OF THE CATOLÉ
GRANDE RIVER, BA, THROUGH THE
ASSESSMENT OF GENETIC DAMAGE
IN THE ERYTHROCYTES OF HOPLIAS
MALABARICUS (BLOCH, 1794)
(CHARACIFORMES, ERYTHRINIDAE)
ABSTRACT: The Catolé Grande river ows
through the municipality of Itapetinga, in the
Southwest region of Bahia, and is the main
source of water supply for the population. Despite
its importance, the river has been suffering
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 4 46
negative impacts along its course, which compromises the quality of its water. Thus, the
objective was to carry out the biomonitoring of the Catolé Grande river, through the evaluation
of genetic damage in the erythrocytes of Hoplias malabaricus, through the micronucleus test
and nuclear alterations. Specimens of trahira were sampled in the urban part of the river
that crosses Itapetinga. From these animals, peripheral blood samples were collected and
blood smears were made. For the micronucleus count, a total of one thousand erythrocytes
per sh were examined. Nuclear abnormalities such as “Notched”, “Lobed” and “Blebbed”
were also recorded, which can be explained by a repair action of the cell when detecting an
affected chromosomal region, initiating a repair and/or elimination process. The analysis of
the micronucleus test and the nuclear morphological alterations indicated that the trahira,
Hoplias malabaricus, is responding to the effects of xenobiotics present in the water of the
Catolé Grande river, BA.
KEYWORDS: Bioindicator; Blood; Fish; Micronucleus; Trahira.
1 | INTRODUÇÃO
O rio Catolé Grande é fonte de água doce para as populações das cidades de
Itapetinga, Caatiba e Barra do Choça, atendendo as necessidades hídricas das comunidades
rurais e urbanas dos municípios baianos, além de ser também utilizado para pesca, lazer,
limpeza de objetos e outras atividades (BARRETO; ROCHA; OLIVEIRA, 2009). Apesar
da sua importância, o rio sofre impactos negativos ao longo do seu percurso, como a
degradação da sua mata ciliar, o que compromete a qualidade da sua água.
Os ecossistemas aquáticos são componentes críticos do ambiente global, uma vez
que apresentam essencial contribuição para a biodiversidade e produtividade ecológica, e
proporcionam grande variedade de serviços essenciais para a população humana (POFF,
BRINSON, DAY, 2002).
Segundo Vasconcelos (2012), a ação humana, principalmente por meio da expansão
e intensicação das atividades econômicas e do adensamento populacional de forma
desordenada, vem ocasionando crescentes problemas para os recursos hídricos, alterando
o regime hidrológico, a qualidade e a quantidade das águas. Nessa perspectiva, de acordo
com Gouveia et al. (2014), ambientes aquáticos como rios, estuários, lagoas e oceanos,
principalmente próximos às cidades, recebem, de forma crescente, inúmeros compostos
poluentes como resultado da atividade antropogênica.
A habilidade de proteger os ecossistemas depende da capacidade de distinguir
os efeitos das ações humanas das variações naturais, buscando categorizar a inuência
dessas ações sobre os sistemas biológicos (CAIRNS JR. e PRATT, 1993). Conforme
Ferreira et al. (2017), estudos realizados por parâmetros físico-químicos representam as
transformações ambientais especícas e momentâneas da qualidade da água, tendo pouca
habilidade constatação de alterações nas comunidades biológicas.
O uso de parâmetros biológicos para analisar a qualidade da água baseia-se nas
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 4 47
respostas dos organismos em relação ao meio onde vivem. Desta forma, algumas agências
ambientais têm apresentado propostas para o uso do biomonitoramento. Porém, estudos
que determinam regras que limitam a aplicação dessas propostas são escassos.
Os peixes são excelentes organismos sentinelas no biomonitoramento de
ecossistemas aquáticos, uma vez que estão diretamente expostos aos agressores
ambientais e reagem sensivelmente a quaisquer alterações no meio (LEMOS et al.,
2007). Além do seu importante papel na nutrição humana, esses animais apresentam
potencial de bioacumulação de substâncias genotóxicas, bem como sensibilidade a baixas
concentrações de agentes mutagênicos (DEUTSCHMANN et al., 2016).
Considerando que bioindicadores são organismos que apresentam respostas
biológicas às condições ambientais de longo prazo e reagem a mudanças súbitas dos
fatores intrínsecos ao ambiente, os peixes são frequentemente os mais convenientes
para o monitoramento da poluição em ecossistemas aquáticos (RAMSDORF et al., 2012).
Desta forma, para Gouveia et al. (2014), trabalhos com genotoxicidade em peixes são
considerados uma importante ferramenta na avaliação da qualidade da água, dos efeitos
de poluentes e da ação antrópica no ambiente aquático.
Dentre as espécies de peixes de água doce, a traíra (Hoplias malabaricus) apresenta
potencial bioindicador, pois segundo Novais (2019), a espécie bioacumula os compostos
tóxicos lançados no rio. A presença de Hoplias malabaricus no rio Catolé Grande, Bahia,
foi registrada por Pinto (2013).
Segundo Arslan et al. (2015), o teste de micronúcleos (MN) vem sendo utilizado
para detectar a presença dos agentes genotóxicos no ambiente, por ser considerada uma
técnica conável, rápida e menos exigente tecnicamente para o registro de aberrações
cromossômicas. Este teste tem se tornado recorrente em estudos ambientais para
determinar alterações genéticas nos organismos em águas contaminadas e misturas
complexas, sendo bastante aplicado para realizar medições de impactos ambientais.
Esse estudo teve como objetivo realizar o biomonitoramento do rio Catolé Grande,
no trecho urbano que atravessa o município de Itapetinga, BA, através da avaliação de
danos genéticos nos eritrócitos de Hoplias malabaricus, por meio do teste de micronúcleo
e alterações nucleares.
2 | METODOLOGIA
O estudo foi realizado obedecendo aos Princípios Éticos para o Uso de Animais
de Laboratório, publicado pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal – SBCAL/
COBEA, e foi aprovado pela Comissão de Ética de Uso Animal da Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia – CEUA/UESB, registro no 129/2016.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 4 48
2.1 Área de estudo
As coletas foram realizadas no rio Catolé Grande, em dois trechos urbanos na porção
urbana que atravessa o município de Itapetinga, BA, considerando avaliações preliminares
visuais dos aspectos de preservação e degradação do ambiente.
Itapetinga é um município baiano, localizado na região Sudoeste, entre as cidades
de Vitória da Conquista (a 100 km) e Itabuna (a 130 km), sendo que o principal rio que
banha o município é o Catolé Grande, auente do rio Pardo. Apresenta um clima tropical
com temperatura média de 23,6°C, que pode variar em 4,3°C no decorrer do ano, e a
pluviosidade média anual é de 857 mm (CLIMATE DATA, 2019).
2.2 Material utilizado
Os exemplares utilizados neste trabalho foram capturados com o consentimento
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)
e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para pesquisa
com aplicação cientíca, nº 30820-1, emitida pelo SISBIO – Sistema de Autorização e
Informação de Biodiversidade.
Foram utilizados exemplares de Hoplias malabaricus, coletados em 2018, que foram
triados e preparados para coleta do sangue das brânquias para aplicação da técnica de
esfregaço sanguíneo, conforme Bücker, Carvalho e Alves-Gomes (2006). O sangue foi
colocado nas lâminas e procedeu-se o esfregaço. Logo após, as mesmas foram secas
em temperatura ambiente e, em sequência, a desidratação com álcool metílico 99,8%
(metanol). Assim, realizou-se a coloração do tecido sanguíneo com solução Giemsa, na
proporção de 3 gotas do corante para cada 2ml de água destilada, aguardando 20 minutos.
Por m, as lâminas foram lavadas em água corrente e, então, analisadas.
As lâminas contendo os esfregaços encontram-se armazenadas no Laboratório
de Biologia, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia / UESB, no campus Juvino
Oliveira, em Itapetinga, BA.
2.3 Coleta de dados
A coleta de dados foi feita pela análise das lâminas, realizadas com auxílio de
microscópio de luz acoplado a um microcomputador contendo um software de análise de
imagem (Image PRO PLUS ®), no Laboratório de Biologia da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia/UESB, Campus Juvino Oliveira.
2.4 Análise dos dados
O reconhecimento do micronúcleo e das alterações morfológicas nucleares foi feito
de acordo com Gonçalves (2015), que considerou como micronúcleos, os corpúsculos
formados e visivelmente separados do núcleo principal, com bordas distinguíveis e com a
mesma refringência do núcleo principal.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 4 49
Para a contagem de micronúcleos (MNs), foram examinados mil (1.000) eritrócitos
por esfregaço sanguíneo, analisando um total de três mil (3.000) eritrócitos (OLIVEIRA e
VALDES, 2019).
Após o material ser coletado e fotografado, as imagens foram colocadas no Image
PRO PLUS onde foram detectados e analisados os micronúcleos e as anomalias nucleares.
As alterações encontradas foram registradas e discutidas de acordo com a literatura.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Presença de micronúcleos
Os micronúcleos encontrados nos eritrócitos de Hoplias malabaricus apresentaram-
se como um fragmento citoplasmático de cromatina com aparência arredondada ou ovalada
localizado próximo ao núcleo (Figura 1). Estas estruturas formam-se devido ao atraso dos
fragmentos cromossômicos acêntricos ao longo da anáfase e não se juntam nos núcleos
das células lhas na etapa da divisão celular (OBIAKOR et al., 2012).
Figura 1. Micronúcleo no eritrócito (seta) de traíra, Hoplias malabaricus, coletada no rio Catolé Grande,
BA, em 2018.
De acordo com Goes et al. (2016), são considerados micronúcleos as partículas que,
em relação ao núcleo principal, não excedem 1/3 do seu tamanho, estando nitidamente
separadas, com bordas distinguíveis e com mesma cor e refringência do núcleo.
No presente estudo, o teste de micronúcleos se mostrou eciente na identicação
de eritrócitos micronucleados de Hoplias malabaricus. Entretanto, foi registrada uma
frequência média de MNs que alertou para contaminação ambiental em reexo à presença
de compostos genotóxicos na água, sendo encontrados 4 MNs/ 1.000 eritrócitos, 0,4%.
Isso pode indicar, como as traíras estão presentes no topo da cadeia alimentar, uma
bioacumulação de substâncias genotóxicas que podem causar mutagênese e até mesmo
carcinogênese. Este fato também foi registrado por Rezende (2011), em tilápias do Nilo
(Oreochromis niloticus), que vericou o aumento da frequência média de micronúcleos de
0,34%, em amostras da Represa Billings, SP.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 4 50
Segundo Thomé, Silva e Santos (2016), a ocorrência de micronúcleos por origem
endógena é amplamente relatada e não ultrapassa valores iguais a 1 por 1.000 células.
Para os autores, os MNs aparecem devido a uma quebra cromossômica ou de disfunções
dos fusos mitóticos e eventualmente pode ser normal, mas o aumento da frequência é
indubitavelmente inuenciado pela exposição a substâncias clastogênicas (quebra
cromossômica) e/ou aneugênicas (segregação cromossômica anormal) sendo, assim,
um claro sinal de perturbação no ambiente. Este fato permite considerar que, nos peixes
avaliados, houve inuência da ação de xenobióticos presentes na água do rio Catolé, em
concentrações capazes de produzir danos ao material genético dos organismos aquáticos.
Desta forma, sugere-se que as altas frequências de MNs detectadas são devidas à ação
antropogênica exercida no curso do rio.
Resultados semelhantes foram registrados por outros autores, em outros locais
e datas. Santos (2015) avaliou a frequência de micronúcleos em tambaquis (Colossoma
macropomum) de pisciculturas da região de Presidente Médici, RO, e vericou que, em uma
delas, os animais apresentaram a maior frequência de MN: de 120.000 células analisadas
foi encontrado um total de 3.070 MNs. O autor correlacionou o uso do agrotóxico ao número
de eritrócitos micronucleados nesses peixes, cujos tanques recebiam, por lixiviação, água
contaminada de culturas agrícolas, evidenciando que substâncias poluentes são capazes
de causar dano ao material genético do tambaqui.
Bueno et al. (2017) utilizaram os parâmetros físico-químicos da água e teste de
micronúcleo em tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) para avaliarem a qualidade da água
da represa Cocais, em Patrocínio, MG. Eles observaram uma maior frequência de MNs
nas células dos peixes capturados na represa: período de seca, 33 em 24.000 células
analisadas e período chuvoso, 26 em 24.000 células analisadas, sugerindo que a água está
contaminada por genotóxicos que alteraram o material genético desses bioindicadores.
Nesse caso, o teste de MNs também se mostrou adequado para a avaliação a qualidade
da água.
Para Goes et al. (2016), o teste do micronúcleo mostrou-se rápido e prático para o
monitoramento da poluição do rio Tapajós, PA, demonstrando que a presença de poluentes
no rio provocou alterações genéticas nas células dos peixes, pela grande quantidade
de micronúcleo encontrada. A partir da análise, constatou que os dois pontos de coleta
localizados na orla da cidade de Santarém, PA, apresentaram um número signicativamente
superior de micronúcleos nas células analisadas (31 e 54 48 MNs) em comparação ao
ponto adotado como controle (11 MNs).
Mota, Barboni e Jesus (2009) realizaram teste de micronúcleos em peixes dos
rios da Bacia do Paraguaçu, em Feira de Santana, BA. Eles utilizaram tilápias do Nilo
(Oreochromis niloticus) como bioindicadores de poluição ambiental e do total de 20.000
células analisadas encontraram 119 MNs, indicando a ação de genotóxicos nas células
dos peixes.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 4 51
Em estudo no rio Catolé Grande, BA, Alves (2017) registrou a frequência média
de 0,1, 0,12 e 0,25 MNs em tilápia do Nilo (Orechromis niloticus), acará (Geophagus
brasiliensis) e apaiari (Astronotus crassipinnis), respectivamente. O autor armou que os
dados evidenciaram o potencial toxicológico das substâncias xenobióticas presentes na
água.
No presente estudo vericou-se uma frequência média de 4 MNs em traíra (Hoplias
malabaricus), que, em comparação ao estudo de Alves (2017), é uma frequência mais
elevada.
3.2 Alterações nucleares
Além dos micronúcleos, também foram registradas alterações morfológicas
nucleares nos eritrócitos de trára, Hoplias malabaricus, dos tipos: Notched (Figura 2),
Lobed (Figura 3) e Blebbed (Figura 4).
Figura 2. Alteração morfológica no núcleo do eritrócito de traíra, Hoplias malabaricus, coletada no rio
Catolé Grande, BA, em 2018 – tipo Notched (seta).
Segundo Thomé, Silva e Santos (2016), além dos micronúcleos, outras anormalidades
nucleares presentes nos eritrócitos dos peixes são consideradas biomarcadores
citogenéticos de impacto ambiental, que podem ser utilizadas numa análise complementar
à frequência de micronúcleo. Eles deniram as alterações como células binucleadas,
invaginadas e lobuladas. Para os autores, essa correlação indica que as alterações
nucleares podem ser respostas primárias, isto é, antes da formação de micronúcleos.
As alterações morfológicas nucleares do tipo Notched (Figura 2) são originadas
quando o núcleo apresenta um corte exato em sua forma (CARRASCO et al., 1990). Esses
cortes não apresentam materiais nucleares e possuem aparência marcada pela membrana
nuclear.
As alterações morfológicas nucleares do tipo Lobed (Figura 3) apresentam núcleos
com projeções da membrana celular para fora da célula (evaginações) expandidas
(CARRASCO et al., 1990).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 4 52
Figura 3. Alteração morfológica no núcleo do eritrócito de traíra, Hoplias malabaricus, coletada no rio
Catolé Grande, BA, em 2018 – tipo Lobed (seta).
Nas alterações morfológicas nucleares do tipo Blebbed (Figura 4), o núcleo também
possui evaginação da membrana nuclear, porém em tamanho reduzido e ainda presa ao
núcleo (CARRASCO et al., 1990).
Figura 4. Alteração morfológica no núcleo do eritrócito de traíra, Hoplias malabaricus, coletada no rio
Catolé Grande, BA, em 2018 – tipo Blebbed (seta).
4 | CONCLUSÃO
As análises do teste do micronúcleo e das alterações morfológicas nucleares nos
eritrócitos demonstrarm que a traíra, Hoplias malabaricus, está respondendo aos efeitos de
xenobióticos presentes na água do rio Catolé Grande, BA, indicando que esta espécie seja
adequada em estudos de biomonitoramento de qualidade de água.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 4 53
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A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 55
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 5
GAMETOGÊNESE E REPRODUÇÃO DO
INVASOR AUCHENIPTERUS OSTEOMYSTAX
(AUCHENIPTERIDAE, SILURIFORMES) NA
PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DO ALTO RIO PARANÁ,
BRASIL
Data de submissão: 09/07/2021
Claudenice Dei Tos
Universidade Estadual de Maringá,
Departamento de Biologia, Centro de Ciências
Biológicas, Maringá, PR
http://lattes.cnpq.br/2435074577273002
Herick Soares de Santana
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Goiás, Departamento de Áreas
Acadêmicas, Águas Lindas de Goiás, GO
https://orcid.org/0000-0001-8138-5261
Arthur Henrique de Sousa Antunes
Universidade Estadual de Maringá, Colégio de
Aplicação Pedagógica, Maringá, PR
https://orcid.org/0000-0002-9374-0993
Ana Luiza Faria Bernardes
Universidade Estadual de Maringá, Colégio de
Aplicação Pedagógica, Maringá, PR
https://orcid.org/0000-0002-2381-2760
RESUMO: Auchenipterus osteomystax tem
ocorrência nos rios de la Plata, Tocantins e baixo
Amazonas. Esta espécie invadiu e colonizou o
alto rio Paraná após a inundação dos Saltos de
Sete Quedas e a formação do reservatório de
Itaipu. Alimenta-se principalmente de insetos,
um recurso abundante nos rios e lagoas da
planície de inundação do alto rio Paraná. Este
estudo, com base na microscopia de luz, tem por
objetivos: i) caracterizar as células germinativas
de fêmeas e machos desta espécie; ii) reconhecer
as fases reprodutivas das gônadas e iii) vericar
os locais de reprodução na planície de inundação
do alto rio Paraná. As coletas foram realizadas
nos meses março, junho, setembro, dezembro
de 2015, 2016, 2018, março e setembro/2017
e março de 2020. Foi registrado o comprimento
padrão (cm), peso total (g), peso das gônadas (g)
e a fase reprodutiva com base nas caraterísticas
macroscópicas da gônada. As gônadas foram
xadas com solução de Bouin ou de Karnovsky
por 48h e depois transferidas para álcool 70%.
As gônadas foram desidratadas em etanol e
incluídas em historesina. Os cortes foram corados
em Ácido Periódico de Schiff + Hematoxilina
Férrica + Metanil Yellow. Um total de 276 fêmeas
e 95 machos foi avaliado em microscopia de
luz, permitindo registrar as células germinativas
e caracterizar as fases reprodutivas. Estas
fases mostraram que esta espécie tem sucesso
reprodutivo especialmente na lagoa das Garças e
no rio Baia, ainda se reproduz, porém, em menor
número na lagoa dos Patos e rio Ivinheima.
Esses resultados comprovam as predições
iniciais sobre a importância que os aspectos
reprodutivos possuem no estabelecimento
de espécies invasoras. Fica evidente que a
distribuição de indivíduos ao longo de todos
os ambientes é um fator decisivo para sua alta
abundância e dispersão, justicando sua ampla
distribuição, inclusive em locais e tributários
acima da planície de inundação, como no rio
Paranapanema e ambientes associados.
PALAVRAS - CHAVE: fases reprodutivas,
gametogênese, peixes de água doce, peixes
invasores, reprodução de peixes.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 56
GAMETOGENESIS AND REPRODUCTION OF THE INVADER AUCHENIPTERUS
OSTEOMYSTAX (AUCHENIPTERIDAE, SILURIFORMES) ON THE UPPER
PARANÁ RIVER FLOODPLAIN, BRAZIL
ABSTRACT: Auchenipterus osteomystax occurs in the La Plata, Tocantins and lower
Amazonas rivers. This species invaded and colonized the upper Paraná River after the
ooding of Guaíra Falls (Saltos de Sete Quedas) and the formation of the Itaipu Reservoir.
It feeds primarily on insects, an abundant resource in the rivers and lagoons of the upper
Paraná oodplain. This light microcopy-based study aims to i) characterize the female and
male germ cells of the species; ii) recognize the reproductive phases of its gonads; iii) verify
its reproduction sites on the upper Paraná River oodplain. Sampling was carried out in
March, June, September and December of 2015, 2016, 2017 (only March and September),
2018 and 2020 (only March). Standard length (cm), total weight (g), gonad weight (g) and
reproductive phase (based on macroscopic characteristics of the gonad) were recorded. The
gonads were xed in a Bouin or Karnovsky solution for 48h and later transferred to 70%
alcohol. They were dehydrated in ethanol aand embedded in historesin. The sections were
stained using Periodic Acid-Schiff + Iron Hematoxylin + Metanil Yellow. A total of 276 females
and 95 males were evaluated under light microscopy, which enabled the recording of the
germ cells and the characterization of the reproductive phases. These phases showed that
the species reproduces most successfully in Garças Lagoon and the Baia River, and less
successfully in Patos Lagoon and the Ivinheima River. The results conrm initial predictions
about the importance of reproduction on the establishment of invasive species. It is clear that
the distribution of individuals in every environment is a decisive factor for its high abundance
and dispersion, explaining its wide distribution, including sites and tributaries (e.g. the
Paranapanema River and associated environments) above the oodplain.
KEYWORDS: reproductive phases, gametogenesis, freshwater sh, invasive sh, sh
reproduction.
1 | INTRODUÇÃO
O equilíbrio dos ecossistemas, sejam terrestres ou aquáticos, tem sido
constantemente alterado devido às inúmeras pressões exercidas pela ação humana.
Dentre as principais ameaças à biodiversidade, pode-se citar o desmatamento, a poluição,
o aquecimento global e as altas taxas de invasão de espécies, principalmente nas regiões
tropicais. Considerando os ecossistemas aquáticos, existe um enorme desao não apenas
para minimizar as invasões biológicas, mas de compreender o real impacto que as espécies
invasoras causam nos habitats invadidos (SIMBERLOFF, 2000; AZEVEDO-SANTOS,
2019).
Várias são as causas que podem levar a uma invasão biológica em ambientes
aquáticos, por exemplo, as práticas de peixamento, escapes de pisciculturas, eliminação
de barreiras naturais ou mesmo soltura de animais antes criados em cativeiros, causando
prejuízos desde ambientais a econômicos (LIMA JR et al., 2018; RIBEIRO et al., 2018).
Levando em consideração as características biológicas das espécies invasoras, os
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 57
parâmetros reprodutivos são primordiais, pois a chave para se estabelecer em um novo
habitat é ter condições de se reproduzir e povoar o novo ambiente.
O alto rio Paraná (UPPER PARANA Ecoregion, sensu ABELL et al., 2008) sofreu uma
massiva invasão de espécies após a construção do reservatório de Itaipu (JULIO JR et al.,
2009) e dentre as espécies invasoras está o Auchenipterus osteomystax (Miranda-Ribeiro,
1918). Esta espécie foi identicada na bacia do rio La Plata como Auchenipterus nuchalis
(Spix & Agassiz, 1829) e após a revisão taxonômica recebeu o nome A. osteomystax
(FERRARIS JR; VARI, 1999; BRITSKI et al., 2007; GRAÇA; PAVANELLI, 2007; OTA et
al., 2018). Sua distribuição inclui as bacias dos rios de La Plata, Paraná, Paranapanema,
Tocantins e baixo Amazonas (FERRARIS JR; VARI, 1999; OTA et al. 2018). Nesta
ecorregião, essa espécie distribui-se nos rios Paraná, Ivinheima, Piquiri, Iguatemi, canais e
lagoas permanentes da planície de inundação do alto rio Paraná (AGOSTINHO et al., 2004)
e baixo rio Paranapanema (GARCIA et al., 2018).
A avaliação das estratégias e táticas reprodutivas de A. osteomystax na planície
de inundação do alto rio Paraná mostram que tem fecundação interna, com desova
parcelada e comprimento em que todos os indivíduos estão aptos a se reproduzir de
11,8 cm e com duração do período reprodutivo sazonal de setembro a novembro sendo
favorecida pelo período de cheia, apresenta diâmetro máximo dos oócitos maduros de
1315,9µm e fecundidade de 14950 oócitos (VAZZOLER, 1996). Outra avaliação das táticas
reprodutivas desta invasora realizada na planície de inundação do alto rio Paraná, revela
que as fêmeas alcançam a maturidade sexual com 15,3 cm e os machos com 14,7 cm e
as avaliações macroscópicas das gônadas mostram que a reprodução ocorre de outubro
a dezembro, com frequência reprodutiva ≥10 e < que 30% nos rios Paraná, Ivinheima,
Baia, Iguatemi e nas lagoas do Guaraná e Fechada e < que 10% nas lagoas dos Patos
e Pousada das Garças (SUZUKI et al. 2004). A abundância avaliada de várias espécies
invasoras entre 1986 a 2015 mostra que A. osteomystax é a sexta espécie mais abundante
na planície de inundação do alto rio Paraná (TONELLA et al., 2018). Os principais recursos
alimentares explorados por esta invasora, no alto Paraná, são insetos terrestres e
aquáticos e outros invertebrados (HAHN et al., 2004). A avaliação dos hábitos alimentares
no rio Paranapanema em habitats lênticos e lóticos encontraram populações planctívoras
e insetívoras terrestres, respectivamente (GARCIA et al., 2018). Na bacia do rio Cuiabá
(área nativa) e na planície de inundação do Upper Paraná (área invasora) foi relatada
uma dieta composta exclusivamente por insetos com uma especialização tróca para
Ephemeroptera, um item alimentar abundante nas bacias (TONELLA et al., 2018). Assim,
considerando a relevância de conhecer os parâmetros e características reprodutivas das
diferentes espécies, esta investigação tem por objetivo i) descrever as células germinativas
de fêmeas e machos de A. osteomystax; ii) caracterizar as fases reprodutivas para ambos
os sexos e iii) vericar, com base na avaliação gametogênese, quais são as áreas de
reprodução desta espécie na planície de inundação do alto rio Paraná.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 58
2 | MATERIAL E MÉTODOS
Os indivíduos foram amostrados em três rios (Paraná 22o45’39.96”S; 53o15’7.44”W,
Baía 22o43’23.16”S; 53o17’25.5”W e Ivinheima 22o47’59.64”S; 53o32’21.3”W), quatro
lagoas abertas (Patos 22º49’33.66”S; 53º33’’9.9”W, Guaraná 22º43’16.68”S; 53º18’9.24”W,
Pousada das Garças 22o43’27.18”S; 53o13’4.56”W e Ressaco do Pau Véio 22o44’50.76”S;
53o15’11.16”W) e duas lagoas fechadas (Fechada 22º42’37.92”S; 53º16’33.06”W e Ventura
22º51’23.7”S; 53º36’1.02”W) (Fig. 1).
Figura 1. Áreas de amostragem de A. osteomystax na planície de inundação do alto rio Paraná nos
subsistemas dos rios: Ivinheima [(lagoa dos Patos (Lpat) (5), lagoa Ventura (Lven) (9), rio Ivinheima
(Rivi) (2)], Baía [(lagoa Fechada (Lfec) (8), lagoa do Guaraná (Lgua) (4), rio Baía (Rbai) (1)] e Paraná
[(lagoa Pousada das Garças (Lgar) (6), lagoa do Ressaco do Pau Véio (Lpve) (7), rio Paraná (RPar)
(3)].
As amostragens foram conduzidas nos meses de março, junho, setembro, dezembro
de 2015, 2016, 2018, março e setembro de 2017 e março de 2020. As amostragens foram
realizadas com redes de espera simples com malhagens de 2.4, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 12, 14,
16 cm, medidas entre nós opostos e redes de espera tipo tresmalho com malhagens 6 e 8
cm. As redes caram expostas durante 24 h e foram inspecionadas às 8:00, 16:00 e 22:00
horas.
Os peixes vivos foram eutanasiados em solução de benzocaina, seguindo as
diretrizes da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) protocolo no. 1420221018
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 59
(ID 001974). Em seguida, foram registradas para cada espécime as informações de
comprimento total (cm) e comprimento padrão (cm) com um ictiômetro e peso total (g) e
peso das gônadas (g) com balança de precisão de 0,01g. As fases reprodutivas de fêmeas
e machos foram atribuídas de acordo com as características macroscópicas da gônada
como tamanho, cor, vascularização, turgescência e visualização dos oócitos nas fêmeas
e seguiram as terminologias de Brown-Peterson et al. (2011) para fêmeas e Quagio-
Grassiotto et al. (2013) para machos. As gônadas foram xadas com solução de Bouin ou
solução Karnovsky por 48 horas e após foram colocadas em solução de álcool etílico 70%.
As amostras das gônadas passaram por um processo de desidratação em concentrações
crescentes de etanol (70 a 95%) em dois banhos por 30 minutos. Em seguida foram
embebidas em uma mistura na proporção de 1:1 de (álcool etílico 95% + historesina) por 12
horas e depois incluídas e inltradas em historesina (metacrilato glicol). Os ovários foram
seccionados transversalmente e os testículos longitudinalmente a 5 µm de espessura em
micrótomo. Os cortes foram corados com ácido Periódico de Schiff + Hematoxilina Férrica
+ Metanil Yellow (QUINTERO-HUNTER et al., 1991).
A terminologia e características utilizadas para descrever as células germinativas
registradas na foliculogênese e oogênese seguem Grier et al. (2009); Quagio-Grassiotto
et al. (2011) e Mazzoni et al. (2020) e da espermatogênese segue a proposta de Grier e
Uribe-Aranzábal (2009).
A terminologia para a caracterização das fases reprodutivas segue as propostas de
Brown-Peterson et al. (2011), Quagio-Grassiotto et al. (2013) e Mazzoni et al. (2020).
O número de indivíduos em diferentes fases reprodutivas foi avaliado para os
ambientes da lagoa dos Patos, lagoa Ventura e rio Ivinheima; lagoa Fechada, lagoa do
Guaraná e rio Baía; lagoa Pousada das Garças, lagoa do Ressaco do Pau Véio e rio
Paraná.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período de estudos foram amostradas 477 fêmeas e 326 machos de A.
osteomystax e deste total foi avaliado histologicamente em nível de microscopia de luz 276
fêmeas e 95 machos.
Nos ovários de A. osteomystax foram registrados oogônias indiferenciadas e
diferenciadas (Fig. 2A, B, C) que entraram em meiose e originaram oócitos. Os oócitos
têm um núcleo que exibe um padrão distinto de organização da cromatina em diferentes
fases (QUAGIO-GRASSIOTTO et al., 2013; MAZZONI et al., 2020) e foram encontrados
oócitos em zigóteno, paquíteno e diplóteno (Fig. 2C, D). Os oócitos de crescimento primário
apresentam o ooplasma basólo e núcleo central cujo número de nucléolos variam (Fig.
2E, F, G) e iniciaram o desenvolvimento dos alvéolos corticais na periferia do ooplasma e
formação da a zona pelúcida (Fig. 2H). Os oócitos de crescimento secundário apresentam
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 60
um aumento no número de alvéolos corticais e surgimento de glóbulos de vitelo (Fig. 2I).
Os oócitos de crescimento secundário durante o processo de vitelogênese aumentam a
quantidade de glóbulos de vitelo e diminuem o número alvéolos corticais (Fig. 2J, K). Os
oócitos na fase de crescimento completo alcançam seu diâmetro máximo, o ooplasma é
abundante em glóbulos de vitelo e agregam poucos os alvéolos corticais (Fig. 2L). Nos
oócitos maduros tem um núcleo excêntrico (Fig. 2 M) e foram registrados o surgimento no
polo animal de uma ou duas micrópilas (Fig. 2N). Durante o processo de ovulação apenas
os oócitos maduros são liberados no lúmen ovariano deixando o complexo folículo pós-
ovulatório (Fig. 2O). Os oócitos que não ovularem entram em atresia (Fig. 2P, Q, R).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 61
Figura 2. Células germinais registradas durante a foliculogênese (A - D) e oogênese (E - N) em
A. osteomystax. Microscopia de luz, Ácido Periódico de Shiff (PAS)/Hematoxilina/Metanil Yellow.
(A) Oogônia diferenciada (ADOG) isolada na borda do epitélio germinal e cercada por células pré-
foliculares. (A) Barra = 25 µm. (B) Cisto de oogônias diferenciadas na borda do epitélio germinal.
(B) Barra = 25 µm. (C) Oogônias indiferenciadas (AUOG) cercada por células epiteliais na borda
do epitélio germinal e mais internamente cistos com oócitos em paquíteno. (C) Barra = 25 µm. (D)
Oogônia diferenciada (ADOG) na borda do epitélio germinal, cisto de oócitos em zigóteno e um
oócito em diplóteno. (D) Barra = 25 µm. (E) Oócito de crescimento primário com nucléolo único com
ooplasma basólo. (E) Barra = 25 µm. (F) Oócito de crescimento primário com múltiplos nucléolos e
ooplasma basólo. (F) Barra = 25 µm. (G) Oócito de crescimento primário com nucléolos perinucleolar
e ooplasma basólo. (G) Barra = 62,5 µm. (H) Oócito em início do crescimento secundário com núcleo
com nucléolos perinucleolar, a basolia ooplasmática diminuiu e iniciou a formação dos alvéolos
corticais, a zona pelúcida e células foliculares evidentes. (H) Barra = 125 µm. (I) Oócito em crescimento
secundário com nucléolos arranjados na face interna do núcleo irregular, ooplasma em vitelogênese
inicial e aumento do número de alvéolos corticais. (I) Barra = 125 µm. (J) Oócito de crescimento
secundário com núcleo irregular, aumento dos alvéolos corticais e em vitelogênese intermediária, a
zona pelúcida e células foliculares cercam o oócito. (J) Barra = 250 µm. (K) Oócito de crescimento
secundário com núcleo irregular e em vitelogênese avançada. (K) Barra = 250 µm. (L) Oócito de
crescimento completo com núcleo central, ooplasma repleto de vitelo e os alvéolos corticais na periferia
do ooplasma, zona pelúcida e células foliculares bem desenvolvidas. (L) Barra = 250 µm. (M) Oócito
maduro com núcleo excêntrico, ooplasma preenchido com glóbulos de vitelo e a borda do ooplasma
com pouco alvéolo cortical. (M) Barra = 250 µm. (N) Vista parcial do oócito maduro com duas micrópilas
e os alvéolos corticais dispõem-se na periferia do ooplasma em pequeno número. (N) Barra = 125
µm. (O) Após a ovulação forma-se o complexo folicular pós-ovulatório, formado por células foliculares
e teca. (O) Barra = 125 µm. (P, Q, R) Folículo atrésico em processo de absorção em diferentes fases
mostrando a desorganização do vitelo, zona pelúcida e camada de células foliculares. (P) Barra = 62,5
µm. (Q) Barra = 250 µm. (R) Barra = 62,5 µm. OL, lúmem ovariano; AUOG, oogônia indiferenciada; EC,
célula epitelial; ADOG, oogônia diferenciada; PF, célula pré-folicular; ZO, oócito em zigóteno, PO, oócito
em paquíteno; DO, oócito em diplóteno; N, núcleo; Nu, nucléolo, PG, oócito de crescimento primário;
SZ, espermatozoide; AC, alvéolo cortical; F, células foliculares; ZP, zona pelúcida; Y, vitelo, SG, oócito
de crescimento secundário; FG, oócito de crescimento completo; OM, oócito maduro; Mi, micrópila; T,
teca; POC, complexo folicular pós-ovulatório; AF, folículo atrésico.
As fases de reprodutivas das fêmeas de A. osteomystax estão caracterizadas na
(Tab. 1 e Figs. 3 e 4).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 62
Fase Características
Imaturo Ovários pequenos repletos de oócitos de crescimento primário, oogônias e
cistos de oócitos em diferentes fases da meiose, sem atresia (Fig. 3A, B, C).
Desenvolvimento
No desenvolvimento inicial nos ovários em expansão encontram-se oócitos
de crescimento primário maiores com zona pelúcida formada (Fig. 3D, E, F).
Nos ovários em desenvolvimento avançado são abundantes os oócitos
de crescimento secundário com alvéolos corticais e vitelo (Fig. 3G, H, I).
Sem oócitos de crescimento completo ou oócitos maduros e folículos pós-
ovulatórios. Os folículos atrésicos podem ocorrer, porém raros.
Apto à desova
No ovário prevalecem os oócitos vitelogênicos nais, oócito de crescimento
completo e oócitos maduros (Fig. 3J, K, L). Na subfase desova ativa
registra-se oócitos maduros e folículos pós-ovulatórios com vestígios de
espermatozoides (Fig. 4A, B, C).
Regressão Ovários com folículos atrésicos e folículos pós-ovulatórios presentes (Fig. 3M,
N, O), além de oócitos de crescimento primário.
Regeneração Nesta fase prevalecem os oócitos de crescimento primário, e ocorrem folículos
atrésicos e pós-ovulatórios em fase nal de degeneração (Fig. 3P, Q, R).
Tabela 1. Fases reprodutivas das fêmeas de A. osteomystax amostradas na planície de inundação do
alto rio Paraná.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 63
Figura 3. Fases de desenvolvimento dos ovários de A. osteomystax. Microscopia de luz, Ácido
Periódico de Shiff (PAS)/Hematoxilina/Metanil Yellow. Fases: (A, B, C) Imaturo, repleto de oócitos de
crescimento primário. (A) Barra = 615 µm. (B) Barra = 250µm. (C) Detalhe de cistos de oócitos em
paquíteno e oogônias indiferenciadas e diferenciadas. (C) Barra = 25 µm. (D, E, F) Desenvolvimento
inicial, registra-se oócitos com o desenvolvimento da zona pelúcida (F) Detalhe de oogônias
diferenciadas e cistos de oogônias. (D) Barra = 615 µm. (E) Barra = 125 µm. (F) Barra = 62,5 µm.
(G, H, I) Desenvolvimento avançado possui oócitos de crescimento secundário com vitelo, alvéolos
corticais e zona pelúcida. (G) Barra = 615 µm. (H) Barra = 250 µm. (I) Barra = 125 µm. (J, K, L) Apto
à desova com oócitos de crescimento secundário, oócitos de crescimento completo e oócitos maduro.
(J) Barra = 1230 µm. (K) Barra = 615 µm. (L) Barra = 250 µm. (M, N, O) Regressão, mostrando o
complexo pós-ovulatório e folículos em atresia. (M) Barra = 615 µm. (N) Barra = 125 µm. (O) Barra
= 125 µm. (P, Q, R) Regeneração, repleta de oócitos de crescimento primário e alguns folículos
atrésicos. (P) Barra = 615 µm. (Q) Barra = 250 µm. (R) Barra = 62,5 µm. OL, lúmen ovariano; PF, célula
pré-folicular; ADOG, oogônia diferenciada, OW, parede ovariana; N, núcleo; Nu, nucléolo, ZP, zona
pelúcida; PG, oócito de crescimento primário; AC, alvéolo cortical; F, células foliculares; Y, vitelo, SG,
oócito de crescimento secundário; OM, oócito maduro; POC, complexo folicular pós-ovulatório, AF,
folículo atrésico.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
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Figura 4. Fase de desenvolvimento de A. osteomystax. Microscopia de luz, Ácido Periódico de Shiff
(PAS)/Hematoxilina/Metanil Yellow. (A, B, C) Subfase desova ativa, com oócitos maduros e folículo
pós-ovulatório com vestígios de espermatozoides. (A) Barra = 615 µm. (B) Barra = 250 µm. (C) Barra
= 62,5 µm. OL, lúmen ovariano; OW, parede ovariana; N, núcleo; PG, oócito de crescimento primário;
AC, alvéolo cortical; ZP, zona pelúcida; F, células foliculares; Y, vitelo, SG, oócito de crescimento
secundário; OM, oócito maduro; SZ, espermatozoide; POC, complexo folicular pós-ovulatório.
Durante a espermatogênese em todos os teleósteos, as espermatogônias
estão associadas com as células de Sertoli (GRIER; URIBE-ARANZÁBAL, 2009).
As espermatogônias primárias envoltas pelas células de Sertoli (Fig. 5A) proliferam
mitoticamente, e originam as espermatogônias secundárias que são menores e cercadas
pelas células de Sertoli (Fig. 5B) se organizam e formam cistos (Fig. 5G). No interior dos
cistos as espermatogônias secundárias passam por meiose e formam espermatócitos
primários (Fig. 5 C, G) que após completar a primeira divisão da meiose (GRIER; URIBE-
ARANZÁBAL, 2009) formam os espermatócitos secundários (Fig. 5D, G). Nos cistos os
espermatócitos secundários se dividem e formam as espermátides (Fig. 5E, G) que se
diferenciam por um processo de espermiogênese (GRIER; URIBE-ARANZÁBAL, 2009;
QUAGIO-GRASSIOTTO et al., 2013) e formam-se os espermatozoides (Fig. 5F, G).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 65
Figura 5. Microfotograa de luz da espermatogênese dos machos de A. osteomystax. (A)
Espermatogônia primária são únicas e as maiores células germinais, com um núcleo central,
esférico, ooplasma granular e cercado de células de Sertoli formando cistos de espermatogônias.
(B) Espermatogônia secundária em grupos, são células esféricas, menores que as espermatogônias
primárias e são cercadas pelas células de Sertoli. (C) Espermatócitos primários são células esféricas,
com tamanhos levemente menores que as espermatogônias secundárias e sem as células de Sertoli.
(D) Espermatócitos secundários são esféricos e levemente menores que os espermatócitos primários.
(E) Espermátides são esféricas na forma e menores que os espermatócitos secundários, não se
dividem e se diferenciam em espermatozoides. (F) Espermatozoides com o agelo visível. (G) Visão
geral das células germinativas nos cistos dos túbulos seminíferos. SG1 = espermatogônia primária;
SG2 = espermatogônia secundária; SE = células de Sertoli; PS = espermatócitos primário; SS =
espermatócitos secundário; ST = espermátides; SZ = espermatozoides. (A – F) Barra = 25 µm. (G)
Barra = 62,5.
As fases reprodutivas dos machos de A. osteomystax estão registradas na (Tab. 2
e Fig. 6).
Fase Características
Imaturo Testículo pequeno e repleto de espermatogônias e o lúmen dos túbulos não
é visível (Fig. 6A, B, C).
Desenvolvimento
Testículo em desenvolvimento inicial, através do processo de
espermatogênese registram-se túbulos com cistos contendo
espermatogônias primárias e secundárias, espermatócitos primários e
secundários abundantes e início da formação de espermatozoides (Fig. 6D,
E, F). Em fase de desenvolvimento avançada, os cistos são abundantes
em espermatozoides (Fig. 6G, H, I).
Apto a liberar
esperma O lúmen dos túbulos seminíferos é repleto de espermatozoides (Fig. 6J, K,
L).
Regressão O lúmen dos túbulos tem poucos espermatozoides (Fig. 6M, N, O).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 66
Regeneração O lúmen dos túbulos seminíferos está vazio e inicia-se a proliferação de
espermatogônias e formação de espermatócitos primários (Fig. 6P, Q, R).
Tabela 2. Fases reprodutivas dos machos de A. osteomystax amostrados na planície de inundação do
alto rio Paraná.
Figura 6. Células germinais registradas durante a espermatogênese nos testículos de A. osteomystax.
Microscopia de luz, Ácido Periódico de Shiff (PAS)/Hematoxilina/ Metanil Yellow. (A, B, C) Imaturo,
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 67
os túbulos não são visíveis, mas estão repletos de espermatogônias. (A) Barra = 125 µm. (B) Barra =
62,5 µm. (C) Barra = 25 µm. (D, E, F) Desenvolvimento inicial, túbulos repletos de espermatócitos
primários, secundários, espermátides e inicia-se a formação de espermatozoides. (D) Barra = 250
µm. (E) Barra = 125 µm. (F) Barra = 62,5 µm. (G, H, I) Desenvolvimento avançado, os cistos estão
repletos de espermatozoides. (G) Barra = 615 µm. (H) Barra = 250 µm. (I) Barra = 62,5 µm. (J, K, L)
Apto a liberar esperma, os túbulos seminíferos são anastomosados e repletos de espermatozoides.
(J) Barra = 250 µm. (K) Barra = 125 µm. (L) Barra = 62,5 µm. (M, N, O) Regressão, os túbulos
tem o lúmen vazio ou com poucos espermatozoides. (M) Barra = 615 µm. (N) Barra = 250 µm. (O)
Barra = 125 µm. (P, Q, R) Regeneração, os túbulos seminíferos com o lúmen vazio. (P) Barra =
250 µm. (Q) Barra = 62,5 µm. (R) Barra = 25 µm. SG1 = espermatogônia primária; SE = células de
Sertoli; PS = espermatócitos primários; SS = espermatócitos secundários; ST = espermátides; SZ =
espermatozoides; Tu = Túbulo seminífero; lu = lúmen; Ta = Túbulos anastomosados.
A caracterização das fases reprodutivas de fêmeas e machos A. osteomystax
permitiram avaliar a atividade reprodutiva nos diferentes ambientes da planície de inundação
do alto rio Paraná (Fig. 7). Verica-se a ocorrência desta espécie em todos os locais de
amostragem. A reprodução é mais intensa na lagoa das Garças, no rio Baia e ainda ocorre
na lagoa dos Patos e rio Ivinheima (Fig. 7). A maior quantidade de jovens foi encontrada na
lagoa das Garças e rio Ivinheima.
Figura 7. Número de machos e fêmeas em diferentes fases de desenvolvimento gônadal de A.
osteomystax nos subsistemas dos rios: Ivinheima [(lagoa dos Patos (Lpat), lagoa Ventura (Lven), rio
Ivinheima (Rivi)], Baía [(lagoa Fechada (Lfec), lagoa do Guaraná (Lgua), rio Baía (Rbai)] e Paraná
[(lagoa das Garças (Lgar), lagoa do Pau Véio (Lpve), rio Paraná (RPar)].
A maioria dos teleósteos tem um ciclo anual reprodutivo bem denido. A morfologia do
epitélio germinal dos ovários e testículos muda durante o ciclo reprodutivo anual reetindo
a sazonalidade reprodutiva (GRIER; URIBE-ARANZÁBAL, 2009; QUAGIO-GRASSIOTTO
et al., 2013). As alterações gonadais através da renovação das células germinativas,
sua diferenciação, desenvolvimento, maturação e liberação dos gametas caracterizam
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 68
diferentes fases reprodutivas. Assim, o reconhecimento destas fases é importante para
compreender com acurácia a estrutura reprodutiva da espécie para poder avaliar a
reprodução. A captura desta espécie exótica nesta região da área de proteção ambiental
com reprodução em ambientes lóticos (rios Baia e Ivinheima) e lênticos (lagoas das Garças
e dos Patos) assim como o registro de jovens imaturos nestes ambientes mostra sucesso
de reprodução ao longo dos anos de avaliação.
Esta espécie de curta migração, fertilização interna, insetívora, não possui restrição
por ambientes lênticos ou lóticos para se reproduzir ao longo destes anos tornou-se
constituinte da fauna com sucesso reprodutivo, proliferou-se e migrou para rios acima no
alto rio Paraná, como o rio Paranapanema e outros tributários.
Esses resultados comprovam as predições iniciais sobre a importância que os
aspectos reprodutivos possuem no estabelecimento de espécies invasoras. Fica evidente
que a distribuição de indivíduos ao longo de todos os ambientes é um fator decisivo para
sua alta abundância e dispersão, justicando sua ampla distribuição, inclusive em locais e
tributários à montante da planície de inundação, como no rio Paranapanema e ambientes
associados.
O potencial impacto que A. osteomystax pode causar sobre o restante das espécies
ainda é vago, mas uma vez que sua capacidade reprodutiva é alta, pode-se prever que há
uma grande possibilidade de dominância em números de indivíduos em vários ambientes,
com um grande poder competitivo junto às espécies nativas. Nesse sentido, essa
competição pode ser tanto por locais de crescimento, reprodução ou alimentar, com claros
prejuízos para indivíduos que possuem ciclo reprodutivo similar, como muitas espécies que
habitam a planície de inundação do alto rio Paraná (VAZZOLER, 1996).
Finalmente, esses resultados reforçam o grande desao que a comunidade
acadêmica possui em conhecer melhor as espécies e ambientes, para que medidas efetivas
de mitigação possam ser implementadas. Monitoramentos contínuos, como os Estudos
Ecológicos de Longa Duração (PELD), que têm sido realizados ao longo dos anos na área
estudada, são fundamentais para essa compreensão e percepção de como os serviços
ecossistêmicos são impactados a longo prazo pelas diversas ações antrópicas.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a coordenadora do PELD professora Claudia Costa Bonecker pelo
suporte nanceiro parcial; aos pesquisadores e técnicos do Núcleo de Pesquisas em
Limnologia, Ictiologia e Aquicultura pelo suporte técnico em campo; aos professores
Eder Paulo Belato Alves (coordenador de área), Marli Aparecida Defani (Chefe) e aos
representantes do Departamento de Ciências Morfológicas da Universidade Estadual de
Maringá pelo apoio com equipamentos. A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da
Universidade Estadual de Maringá (PPG) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 5 69
Cientíco e Tecnológico (CNPq) pelas bolsas de Iniciação Cientíca no Ensino Médio
concedidas aos acadêmicos Ana Luiza Faria Bernardes e Arthur Henrique de Sousa
Antunes.
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A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 6 72
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 6
INFLUÊNCIA DA ESTAÇÃO REPRODUTIVA SOBRE
A QUALIDADE SEMINAL DE TAMBAQUI E DE
PIRAPITINGA
Data de submissão: 05/09/2021
Mônica Aline Parente Melo Maciel
Universidade Estadual do Ceará – UECE
Fortaleza – Ceará
http://lattes.cnpq.br/2786691790286612
Carminda Sandra Brito Salmito Vanderley
Universidade Estadual do Ceará – UECE
Fortaleza – Ceará
http://lattes.cnpq.br/3415249014153800
Jordana Sampaio Leite
Universidade Estadual do Ceará – UECE
Fortaleza – Ceará
http://lattes.cnpq.br/9531596627991299
Felipe Silva Maciel
Universidade Estadual do Ceará – UECE
Fortaleza – Ceará
http://lattes.cnpq.br/1796785917524623
RESUMO: O tambaqui e a pirapitinga são peixes
Characiformes, reofílicos, de interesse econômico
que podem ser manejados para a reprodução em
cativeiro. No entanto, para que haja um controle
e sucesso na reprodução desses animais, são
necessários conhecimentos básicos sobre a
qualidade seminal em animais de cativeiro.
Dessa forma, o objetivo desse estudo foi vericar
se há inuência da estação reprodutiva sobre
as características físicas, químicas, cinéticas e
bioquímicas do sêmen dessas espécies. Além
disso, objetivou-se correlacionar as variáveis do
sêmen de ambas as espécies. Nove machos de
tambaqui e 12 de pirapitinga foram induzidos à
espermiação com extrato hiposário de carpa
em dois períodos: dentro e fora da estação
reprodutiva. Após a coleta do sêmen de ambas
as espécies, foram avaliados os parâmetros
físicos e químicos como: concentração, volume,
pH e osmolaridade; os parâmetros cinéticos:
motilidade, velocidade curvilinear (VCL),
velocidade em linha reta (VSL), velocidade média
do percurso (VAP) utilizando um software Sperm
Class Analyzer; e a bioquímica do plasma:
glicose, frutose, triglicerídeo, cálcio (Ca2+) e
cloretos (Cl-) utilizando kits comerciais. Houve
uma redução signicativa (p<0,05) do volume
seminal e da VSL espermática para tambaqui
fora da estação reprodutiva. As concentrações
de triglicerídeos foram signicativamente
inferiores (p<0,05) dentro da estação reprodutiva
para ambas as espécies e a concentração de
glicose foi signicativamente inferior (p<0,05)
fora da estação reprodutiva para a pirapitinga.
Em relação aos parâmetros físicos, químicos,
cinéticos e bioquímicos do sêmen de tambaqui
e pirapitinga, houve correlação apenas dos
parâmetros cinéticos entre si em ambas as
espécies (VSLxVAP e VSLxVCL). Dessa forma,
pode-se concluir que os semens de tambaqui e
de pirapitinga sofrem variação estacional, sendo
o tambaqui a espécie mais afetada.
PALAVRAS - CHAVE: Sêmen. Sazonalidade.
Reprodução. Piaractus brachypomus. Colossoma
macrompomum.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 6 73
INFLUENCE OF THE BREEDING SEASON ON THE SEMINAL QUALITY OF
TAMBAQUI AND PIRAPITINGA
ABSTRACT: Tambaqui and pirapitinga are sh Characiformes, rheophilic, of economic interest
that can be managed for captive breeding. However, for there to be a control and success in the
reproduction of these animals, basic knowledge about the seminal quality in captive animals is
necessary. Thus, the objective of this study was to verify if there is inuence of the reproductive
season on the physical, chemical, kinetic and biochemical characteristics of the semen of
such species. In addition, it was aimed to correlate such semen variables of both species.
Nine tambaqui and 12 pirapitinga males were induced to sperm with pituitary carp extract in
two moments: in reproductive season and non-reproductive season. After semen collection of
both species, were evaluated the physical and chemical parameters such as concentration,
volume, pH, osmolarity; the following parameters kinetic: motility, curvilinear velocity (VCL),
straight line velocity (VSL), mean velocity (VAP) using the Sperm Class Analyzer; and
plasma biochemistry: glucose, fructose, triglyceride, calcium (Ca2+) and chlorides (Cl-) using
commercial kits. There was a signicant reduction (p<0.05) in seminal volume and sperm VSL
for tambaqui in the non-reproductive season. Triglyceride concentrations were signicantly
lower (p <0.05) in the breeding season for both species. The glucose concentration was
signicantly lower (p<0.05) in the non-reproductive season for pirapitinga. In relation to the
physical, chemical, kinetic and biochemical parameters of tambaqui and pirapitinga semen’s,
only kinetic parameters were correlated in both species (VSLxVAP and VSLxVCL). Thus, it
can be concluded that the semen of tambaqui and pirapitinga undergoes seasonal variation,
being tambaqui the species most affected.
KEYWORDS: Semen. Seasonality. Reproduction. Piaractus brachypomus. Colossoma
macrompomum.
1 | INTRODUÇÃO
O tambaqui (Colossoma macropomum) e a pirapitinga (Piaractus brachypomus)
são teleósteos, da ordem Characiformes. São peixes reofílicos, têm hábitos onívoros, boa
qualidade de carne e conversão alimentar, docilidade, resistência a doenças, mostrando
assim, excelentes condições de cultivo (RAMIREZ-MERLANO et al., 2011; ARAÚJO-LIMA;
GOMES, 2005).
Segundo Lowe-McConnel (1975), os teleósteos de regiões tropicais e subtropicais
possuem estreita relação entre o período reprodutivo e as estações chuvosas. O tambaqui
e pirapitinga se comportam dessa forma e se reproduzem entre novembro e março, período
das cheias dos rios (VIEIRA et al., 1999; HERNANDEZ, 1994). Diferenças sazonais são
reetidas na qualidade da água, na capacidade do animal de se alimentar e na maturidade
sexual, os quais podem afetar as variáveis seminais mesmo em condições de cativeiro
(NASCIMENTO et al., 2010).
As principais variáveis observadas nas amostras de sêmen são volume, pH,
osmolaridade, concentração espermática e motilidade espermática subjetiva (MELO-
MACIEL et al., 2015; OLIVEIRA et al., 2016). Além dessas variáveis, a composição do
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 6 74
plasma seminal tem inuência sobre a qualidade do sêmen (BOZKURT et al., 2011) e um
importante papel no metabolismo, na sobrevivência e na motilidade espermática (BILLARD
et al., 1995). Além disso, alguns autores relatam que a composição do plasma seminal
está sujeita a variações sazonais (ARAMLI; KALBASSI; NAZARI, 2013; LEITE et al., 2018).
Apesar da importância natural e econômica dessas espécies, existem poucos
trabalhos sobre sua biologia reprodutiva e nenhum trabalho que avalie a composição
bioquímica do plasma seminal e se inuência da estação reprodutiva sobre o sêmen
de ambas as espécies. Dessa forma, o objetivo desse estudo foi observar a inuência da
estação reprodutiva sobre os aspectos físicos e químicos do sêmen, cinética espermática
e a composição bioquímica do plasma seminal de ambas as espécies e vericar se há
correlação entre tais parâmetros.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Coleta de Sêmen
Nove machos de tambaqui (C. macropomun) e 12 de pirapitinga (P. brachypomus)
que apresentavam liberação de sêmen após leve pressão abdominal foram selecionados
de tanques do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) na cidade de
Pentecoste-Ceará, Brasil. Esse trabalho foi aprovado pelo CEUA (Comitê de Ética para o
Uso de Animais da Universidade Estadual do Ceará) com protocolo número 11518754-5/74
(C. macropomun) e 1278971-1 (P. brachypomus).
Os machos receberam dose única (2 mg/kg de peso corporal) por via intracelomática
de extrato hiposário de carpa (LEITE et al., 2013). Após 448 horas-grau, os animais foram
anestesiados em uma solução a base de óleo de cravo (MYLONAS et al., 2005). A papila
urogenital foi cuidadosamente seca e o sêmen foi coletado com o uso de seringas para
evitar contaminação com água, urina, sangue ou fezes. A coleta seminal foi realizada em
temperatura ambiente (27-29 °C) e, logo após a coleta, os tubos contendo o sêmen foram
colocados em caixa térmica com gelo (5 °C) e os animais foram devolvidos ao tanque.
As coletas ocorreram em fevereiro (dentro da estação reprodutiva/período chuvoso) e em
agosto (fora da estação reprodutiva/período de seca) (FARIAS et al., 1999).
Imediatamente após essa etapa, uma alíquota de cada amostra de sêmen foi
colocada sobre lâmina e avaliada com auxílio de microscópio de luz (100x de magnicância).
A motilidade espermática (autoativação) observada foi atribuída a contaminação por urina
ou água e a amostra foi descartada. A motilidade foi estimada subjetivamente como a
porcentagem de espermatozoides móveis. Amostras selecionadas de tambaqui (n = 9) e
pirapitinga (n=12) foram ativadas com solução de ativação (água do tanque) a uma taxa
de diluição nal de 1:50 (sêmen:solução de ativação; v:v). Todas as amostras de sêmen
utilizadas neste estudo tinham, no mínimo, 80% de motilidade espermática.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 6 75
2.2 Análise dos Parâmetros Físicos e Químicos do Sêmen
Os parâmetros analisados nas amostras de sêmen foram o volume (mL), diretamente
observado nos tubos graduados; osmolaridade do plasma seminal (mOsm/kg), mensurado
em osmômetro digital de refrigeração Peltier; concentração (número de espermatozoides
por mL) diluindo as amostras em solução de citrato formolizada a 4% e analisando em
câmera hematocitométrica de Neubauer. O pH do sêmen foi mensurado por meio do uso
de tas colorimétricas.
2.3 Análise Cinética dos Espermatozoides
Os parâmetros cinéticos dos espermatozoides observados foram: taxa de motilidade
(%), velocidade curvilinear (VCL, mm/s), velocidade de linha reta (VSL, mm/s) e velocidade
média do percurso (VAP, mm/s). Estes parâmetros foram capturados após a adição de
solução de ativação usando 2 mL de cada amostra de sêmen diluído em 100 mL de NaCl
50 mM (100 mOsm/kg) em uma câmara de Makler e avaliadas sob microscópio óptico
(400x), utilizando o Sperm Class Analyzer (SCA; Microptics, Espanha). O espermatozoide
foi considerado imóvel quando a velocidade foi < 10 mm/s.
2.4 Análise da Composição Bioquímica do Plasma Seminal
O plasma seminal foi coletado após centrifugação (5810r, Eppendorf, Alemanha) a
2500g/15min a 4°C e armazenado em tubos eppendorf a -80°C até o início das análises.
As concentrações de glicose, triglicerídeo, frutose, cálcio (Ca2+) e cloretos (Cl-) do
plasma seminal foram mensuradas por espectrofotometria (SP-22, Biospectro) usando
procedimento colorimétrico através de kits de análise comercial (Labtest, Liquiform, Brasil)
seguindo as recomendações do fabricante. As análises foram realizadas em duplicata.
2.5 Análise Estatística
Para cada parâmetro físico, químico, cinético e bioquímico avaliado, foram calculadas
as médias dos resultados de cada amostra e estas foram avaliadas quanto à normalidade
pelo teste de Shapiro-Wilk. As médias obtidas para triglicerídeos e glicose foram submetidas
à normalização por radiciação e transformação logarítmica, respectivamente. Após
normalização, as médias para cada parâmetro avaliado foram comparadas dentro e fora
da estação reprodutiva com uso do teste T de Student, com nível de signicância de 5%.
As associações entre os parâmetros bioquímicos (concentração de Ca2+, Cl-, triglicerídeos,
glicose e frutose no plasma seminal), os parâmetros físicos e químicos do sêmen (pH,
osmolaridade, volume e concentração) e espermáticos (motilidade, VCL, VSL e VAP) foram
analisadas pelo teste de Correlação de Pearson ao nível de signicância de 5%. Todas
as análises estatísticas foram realizadas com uso do programa estatístico Systat 12 para
Windows®.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 6 76
3 | RESULTADOS
Os resultados dos aspectos físicos, químicos, cinéticos e bioquímicos do sêmen de
tambaqui dentro e fora da estação reprodutiva estão apresentados na Tabela 1. Comparado
o período dentro e fora da estação reprodutiva, o volume do sêmen de tambaqui foi
signicativamente menor fora da estação reprodutiva, assim como a VSL e a concentração
de Cl-. Já a concentração de triglicerídeo foi signicativamente menor dentro da estação
reprodutiva.
Características Parâmetro Dentro da ER Fora da ER
Físicas e
químicas
pH 8,500±0,433a8,389±0,417a
Osmolar. (Osm/kg) 323,111±48,940a313,333±16,194a
Volume (mL) 3,556±1,230a2,233±0,49b
Concentração (x109)5,564±2,677a5,278±1,815a
Cinéticas
Motili. Objetiva (%) 94,633±2,628a96,656±3,160a
VCL (mm/s) 108,839±10,824a106,460±23,251a
VSL (mm/s) 69,037±7,744a41,552±9,055b
VAP (mm/s) 98,683±10,610a86,819±20,580a
Bioquímicas
Ca+ (mg/dl) 3,897±1,807a5,632±1,696a
Cl- (mEq/L) 123,271±6,975a112,407±2,613b
Triglicerídeo (mg/dl) 45,380±9,962b87,826±35,917a
Frutose (mg/dl) 13,093±5,657 a11,427±7,033a
Glicose (mg/dl) 3,077±1,251 a5,348±7,767a
Tabela 1 - Características físicas, químicas, cinéticas e bioquímicas do sêmen de tambaqui dentro e
fora da estação reprodutiva (ER).
Obs: letras minúsculas diferentes entre estações (dentro e fora) em um mesmo parâmetro, diferem
estatisticamente (p<0,05). ER = Estação reprodutiva
Os resultados dos aspectos físicos, químicos, cinéticos e bioquímicos do sêmen de
pirapitinga dentro e fora da estação reprodutiva estão apresentados na tabela 2. Não houve
inuência da estação reprodutiva sobre as características físicas, químicas e cinéticas do
sêmen de pirapitinga. A concentração de triglicerídeos foi signicativamente menor dentro
da estação reprodutiva, assim como para tambaqui. Já a glicose apresentou concentrações
signicativamente menores fora da estação.
Após realizada a correlação de Pearson entre todos os parâmetros (físicos,
químicos, cinéticos e bioquímicos do sêmen de pirapitinga e de tambaqui) foi observado
que houve correlação apenas entre os parâmetros cinéticos. Foi observada uma correlação
signicativa (p<0,05) alta e positiva entre VCL x VAP (r =0,914 e r =0,940 para pirapitinga
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 6 77
e tambaqui, respectivamente) e VSL x VAP (r=0,749 e r=0,687 para pirapitinga e tambaqui,
respectivamente).
Características Parâmetro Dentro da ER Fora da ER
Físicas e
químicas
pH 8,458±0,144a8,417±0,195a
Osmolar. (mOsm/kg) 306,667±15,622a307,417±15,412a
Volume (mL) 4,000±1,492a4,050±0,988a
Concentração (x109)4,600±2,857a4,917±1,109a
Cinéticas
Motilidade (%) 85,350±15,572a90,450±10,061a
VCL (mm/s) 90,216±18,095a100,397±18,997a
VSL (mm/s) 57,259±16,560a53,896±14,296a
VAP (mm/s) 78,401±20,087a88,436±15,371a
Bioquímicas
Ca+ (mg/dl) 4,140±1,055a4,304±1,346a
Cl- (mEq/L) 106,015±18,597a104,330±10,329a
Triglicerídeo (mg/dl) 25,721±10,358b113,413±8,188a
Frutose (mg/dl) 21,063±10,969a23,543±12,671a
Glicose (mg/dl) 20,266±14,109a9,399±9,845b
Tabela 2 - Características físicas, químicas, cinéticas e bioquímicas do sêmen de pirapitinga dentro e
fora da estação reprodutiva (ER).
Obs: letras minúsculas diferentes entre estações (dentro e fora) num mesmo parâmetro, diferem
estatisticamente (p<0,05). ER = Estação reprodutiva.
4 | DISCUSSÃO
A variação estacional na composição iônica do plasma seminal tem sido reportada
em diversas espécies entre elas a truta arco-íris, Oncorhynchus mykiss (MUNKITTRICK;
MOCCIA 1987), salmão, Salmosalar m. Sebago (PIIRONEN, 1985), salmão do atlântico,
Salmosalar (AAS; REFSTIE; GJERDE, 1991), Zoarces americanus (WANG; CRIM, 1997),
bacalhau do atlântico (ROUXEL et al., 2008), carpa comum, Cyprinus carpio, e tilápia,
Oreochromis mossambicus (KRUGER et al., 1984) e Prochilodus brevis (LEITE et al.,
2018). Assim como a correlação entre a composição do plasma seminal e a qualidade
dos parâmetros do sêmen de peixes (BUTTS; LITVAK; TRIPPEL, 2010; BOZKURT, et
al., 2011). No entanto, esse é o primeiro trabalho que avalia a composição bioquímica do
plasma seminal de tambaqui e pirapitinga, bem como a inuência da estação reprodutiva
sobre diversos aspectos do sêmen de tais espécies em cativeiro.
Em relação às características físicas e químicas do sêmen de tambaqui, o pH e a
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 6 78
osmolaridade apresentaram valores similares a trabalhos anteriores (VIEIRA et al., 2011;
LEITE et al., 2011), no entanto, o volume e a concentração do sêmen de tambaqui foram
menores que os valores encontrados na literatura (VIEIRA et al., 2011; LEITE et al., 2013;
VARELA-JUNIOR et al., 2012; MELO-MACIEL et al., 2015; OLIVEIRA et al., 2016). Para
a pirapitinga, o pH e a osmolaridade também apresentaram valores similares a trabalhos
anteriores (FRESNEDA et al., 2004; NASCIMENTO et al., 2010). Já a concentração
espermática encontrada nesse estudo foi menor que os valores encontrados na literatura
(RAMIREZ-MERLANO et al., 2011; NASCIMENTO et al., 2010).
O volume de sêmen de pirapitinga foi de, aproximadamente, 4 ml cando dentro da
média encontrada na literatura (MELO-MACIEL et al., 2015) que é bastante variável, entre
0,83 ml (FRESNEDA et al., 2004) e 13,4 ml (NAVARRO; SANTAMERIA; CASALLAS, 2004).
Essa diferença de valores desse parâmetro pode estar relacionada a dieta do animal,
ao estágio de maturação gonadal, as condições ambientais, quantidade de (Adenosina
Trifosfato) ATP, atividade enzimática, regulação hormonal da espermiação, estresse, entre
outros (CIERESZKO, 2008).
As características físicas, químicas e cinéticas do sêmen de pirapitinga não sofreram
inuência da estação reprodutiva. No entanto, o volume seminal de tambaqui foi menor fora
da estação reprodutiva, sendo esse parâmetro inuenciado pela sazonalidade, assim como
a VSL dessa espécie. A redução no volume seminal de tambaqui pode estar relacionada
com a atividade secretora dos órgãos reprodutores masculinos (testículos, ductos principais
testiculares e ductos espermáticos) (ALAVI et al., 2004).
Os resultados encontrados em relação as características físicas, químicas e cinéticas
do sêmen de tambaqui mostraram que mesmo recebendo tratamento hormonal, o tambaqui
tem sua capacidade responsiva a indução hormonal reduzida, fora da estação reprodutiva
e os espermatozoides coletados nesse período tem sua motilidade em linha reta reduzida.
Segundo Valdebenito (2008), para os peixes criados em cativeiro, algumas estimulações
externas podem estar ausentes, provocando redução de uma resposta endócrina
apropriada, resultando na redução do volume do sêmen e da qualidade espermática.
No trabalho de Kruger et al. (1984), houve utuações estacionais na concentração
espermática, motilidade, pH, pressão osmótica, e alguns componentes bioquímicos do
sêmen de carpa (Cyprinus carpio L.) e de tilápia (O. mossambicus).
Mudanças na velocidade espermática durante todo o período de desova foram
relatadas em várias espécies de teleósteos (BABIAK et al., 2006; ROUXEL et al., 2008;
ALAVI et al., 2008). Trabalhos futuros irão surgir com a necessidade de determinar os
fatores que são responsáveis por afetar a velocidade do espermatozoide.
Em relação a composição bioquímica, foram avaliados a presença de Ca2+, Cl-,
triglicerídeo, glicose e frutose no plasma seminal de tambaqui e pirapitinga. As concentrações
de Ca2+ e frutose não sofreram inuência da estação reprodutiva em ambas as espécies.
As concentrações de triglicerídeos fora da estação reprodutiva, em ambas as
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 6 79
espécies, foram mais elevadas do que dentro da estação, estando esse resultado de
acordo com o encontrado em Prochilodus brevis (LEITE et al., 2018). Esse achado se
deve, provavelmente, ao fato de várias classes de lipídeos, como também de triglicerídeos,
servirem como fontes de energia para os espermatozóides durante o período de
armazenamento (LAHNSTEINER et al. 1993), prevalente fora da estação reprodutiva. Além
disso, geralmente os lipídeos têm papel protetor contra mudanças ambientais que ocorrem
quando o sêmen é liberado no meio (BOZKURT et al., 2008).
Lahnsteiner et al. (2009) mostraram que os ácidos graxos são compostos importantes
para prolongar a viabilidade de espermatozoides durante o armazenamento de curto prazo
à medida que afeta positivamente a motilidade dos espermatozoides e a fertilidade. As
concentrações de triglicerídeos do plasma seminal de tambaqui e pirapitinga, dentro e fora
da estação reprodutiva, foram mais elevadas que as relatadas para A. persicus (15,02 mg/
dl, ARAMLI et al., 2013), O. mykiss (8 mg/dl, SECER et al., 2004) e C. idella (14.58 mg/dl,
BOZKURT et al., 2008). Tais diferenças podem estar relacionados à condição ambiental,
a frequência de remoção, a estimulação hormonal, período e métodos de amostragem
(BILLARD et al., 1995; LINHART et al., 2002), além da espécie animal.
Foi possível observar uma maior concentração de glicose no plasma seminal de
pirapitinga dentro da estação reprodutiva, esse fato pode estar relacionado à alta demanda
de energia dos testículos durante o processo de espermatogênese (SOENGAS et al.,
1993). Além disso, a glicose é um importante parâmetro bioquímico, pois provê proteção a
membrana do espermatozoide e serve como crioprotetor externo (MAISSE, 1996).
A maior quantidade de Cl- dentro da estação reprodutiva para tambaqui pode estar
vinculada ao fato do Cl- ser relacionado com a motilidade espermática (HAMILI et al., 2014),
sendo sua presença em grande quantidade mais necessária dentro da estação reprodutiva
quando os espermatozoides precisam de boa taxa de motilidade para alcançar o oócito.
Além disso, a maioria dos íons presentes no plasma seminal de peixes estão envolvidos
na regulação da motilidade espermática contribuindo, ou na composição iônica intracelular
ou na osmolaridade (LINHART; SLECHTA; SLAVIK, 1991; BILLARD; COSSON et al., 1995;
ALAVI; COSSON, 2006).
5 | CONCLUSÃO
Os semens de tambaqui e pirapitinga sofrem variação estacional sendo o tambaqui a
espécie mais afetada com essa variação. Não existe correlação entre os parâmetros físico,
químicos, cinéticos e bioquímicos no sêmen de pirapitinga, nem no sêmen de tambaqui.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 6 80
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A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 7 84
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 7
ISOLAMENTO DE FUNGOS FILAMENTOSOS DE
SOLOS DA UFAM E ESTERCO BOVINO NO KM 12
BR 174, MANAUS-AM
Data de submissão: 06/07/2021
Ana Eduarda de Aquino Veiga
Laboratório de Micologia, Departamento de
Parasitologia, Instituto de Ciências Biológicas
(ICB), Universidade Federal do Amazonas
(UFAM)
Manaus – Amazonas.
http://lattes.cnpq.br/0982766400971931
Thalita Victoria Vieira Oliveira
Laboratório de Micologia, Departamento de
Parasitologia, Instituto de Ciências Biológicas
(ICB), Universidade Federal do Amazonas
(UFAM)
Manaus – Amazonas.
http://lattes.cnpq.br/7090177880939958
João Raimundo Silva de Souza
Laboratório de Micologia, Departamento de
Parasitologia, Instituto de Ciências Biológicas
(ICB), Universidade Federal do Amazonas
(UFAM)
Manaus – Amazonas.
http://lattes.cnpq.br/3287054950911518
Maria Ivone Lopes da Silva
Docente do Laboratório de Micologia,
Departamento de Parasitologia, Instituto
de Ciências Biológicas (ICB), Universidade
Federal do Amazonas (UFAM)
Manaus – Amazonas
http://lattes.cnpq.br/4169112948312043
RESUMO: Os fungos podem ser encontrados
em uma grande diversidade de ambientes e
desempenham papel na formação do solo,
juntamente com outros microrganismos. Dentre
os vários los do Reino Fungi, o lo Zygomycota
tem como principais características hifas
cenocíticas e a formação de zigosporângio,
por reprodução sexuada; e esporângio, por
reprodução assexuada. Enquanto o lo forma
Deuteromycota (mitospóricos), é caracterizado
pela produção de esporos assexuados (conídios)
formados a partir de células conidiógenas,
contidas ou não em estruturas especializadas.
A pesquisa teve como objetivo isolar e identicar
os fungos Zigomicetes e os Mitospóricos
(Deuteromycota) encontrados em solos do
Campus da Universidade Federal do Amazonas-
UFAM e esterco bovino coletado no KM 12 da BR
174. No isolamento dos fungos foram utilizados
as técnicas de Clark e o método de Warcup.
Os meios de cultura utilizados foram: Ágar
Sabouraud, Ágar Batata Dextrose e meio Martin,
todos em duplicata. As placas foram incubadas
a temperatura ambiente, aproximadamente
28°C, por 3 a 10 dias, com observações diárias
de crescimento micelial. Após crescimento das
colônias, as mesmas foram contadas (77) e em
seguida isoladas, puricadas e identicadas.
Os resultados obtidos foram: doze (12) colônias
pertencentes a classe Zigomicetes: Absidia
corymbifera, Cunninghamella elegans, Mucor
hiemalis, Mucor mucedo, Pilobous sp., Rhizopus
microsporus e Zygorhynchus moelleri; em relação
aos Mitospóricos foram observadas 65 colônias
distribuídos dentro dos gêneros Acremonium
sp., Aspergillus sp., Fusarium sp., Microsporum
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 7 85
sp., Penicillium sp., Trichoderma sp. Destes foram identicadas as seguintes espécies
Aspergillus niger, A. avus, A. glaucus, Microsporum gypseum, Penicillium chrysogenum, P.
expansum, P. glaucum. O estudo proporcionou maior conhecimento sobre a biodiversidade
da Amazônia de fungos Mitospóricos e Zigomicetos em solos e esterco no Amazonas, onde
foi constatado que a maioria das espécies são cosmopolitas.
PALAVRAS - CHAVE: fungos lamentosos, Zigomicetes, Mitospóricos, diversidade, solo.
ISOLATION OF FILAMENTOUS FUNGI FROM SOILS OF UFAM AND COW
MANURE AT KM 12 BR 174, MANAUS-AM
ABSTRACT: Fungi can be found in a wide variety of environments and play a role in soil
formation, along with other microorganisms. Among the several phyla of the Kingdom Fungi,
the phylum Zygomycota has as main characteristics cenocytic hyphae and the formation of
zygosporangium, by sexual reproduction; and sporangium, by asexual reproduction. While
the form-phylum Deuteromycota (mitosporic), it is characterized by the production of asexual
spores (conidia) formed from conidiogeneous cells, contained or not in specialized structures.
The research aimed to isolate and identify the Zygomycetes and Mytosporic (Deuteromycota)
fungi found in soils from the Campus of the Federal University of Amazonas-UFAM and cow
manure collected at KM 12 of BR 174. In the isolation of the fungi, Clark’s techniques and
Warcup method were used. The growth media used were: Sabouraud Agar, Potato Dextrose
Agar and Martin media, all in duplicate. The plates were incubated at room temperature,
approximately 28°C, for 3 to 10 days, with daily observations of mycelial growth. After colony
growth, they were counted (77) and then isolated, puried and identied. The results obtained
were: 12 colonies belonging to the Zygomycetes class: Absidia corymbifera, Cunninghamella
elegans, Mucor hiemalis, Mucor mucedo, Pilobous sp., Rhizopus microsporus and
Zygorhynchus moelleri; in relation to the Mitosporic ones, 65 colonies distributed within the
genera Acremonium sp., Aspergillus sp., Fusarium sp., Microsporum sp., Penicillium sp.,
Trichoderma sp. Of these, the following species were identied: Aspergillus niger, A. avus,
A. glaucus, Microsporum gypseum, Penicillium chrysogenum, P. expansum, P. glaucum.
The study provided greater insight into the Amazonian biodiversity of Mitosporic fungi and
Zygomycetes in soils and manure in the Amazon, where most species were found to be
cosmopolitan.
KEYWORDS: lamentous fungi, Zygomycetes, Mitosporic, diversity, soil.
1 | INTRODUÇÃO
Os microrganismos são um dos principais seres vivos encontrados e a sua atividade
afeta diretamente os fatores químicos e físicos do solo, contribuindo para sua produtividade
(PEREIRA et al., 2007). Os fungos podem ser encontrados em uma grande diversidade de
ambientes e estão entre os organismos mais importantes do mundo, desempenhando um
papel vital em funções do ecossistema e tem efeitos de grande alcance (MUELLER et al.,
2004).
O uso industrial de fungos tem sido amplamente utilizado devido as suas vantagens,
tais como a ecácia de custo, consistência, menor tempo e espaço necessário para a
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 7 86
produção, facilidade de modicação e otimização de processos (SUNITHA et al., 2012).
Nos últimos 20 anos métodos moleculares aumentaram o conhecimento da
diversidade desses organismos. Ainda, estimativas recentes elevaram o número de 1,5
para 5,1 milhões de espécies de fungos existentes e aproximadamente 100 mil espécies
descritas (BLACKWELL, 2011).
Os fungos lamentosos são formados por lamentos denominados hifas, que, em
conjunto, formam o micélio septado. O micélio pode ter duas funções distintas: promover
a xação do fungo (micélio vegetativo) e promover a reprodução, produção de esporos
(micélio reprodutivo). (GOCK et al., 2003).
Dentre os vários los do Reino Fungi, o lo Zygomycota tem como principais
características: hifas cenocíticas e a formação de zigosporângio, por reprodução sexuada; e
esporângio, por reprodução assexuada (LENNARTSSON et al., 2012). Os zigomicetos tem
despertado grande interesse na ciência quanto à composição da biomassa. Principalmente
em razão de sua utilização na produção de alimentos fermentados e devido ao grande
potencial para o estabelecimento de uma plataforma para a produção de produtos químicos
nos, enzimas, fungos da biomassa para ns alimentares e lipídios (FERREIRA et al., 2013).
Enquanto o lo forma Deuteromycota (mitospóricos), é caracterizado pela reprodução
assexuada por produção de conidióforos e conídios. Nesse tipo de reprodução só está
presente divisões celulares por mitose. As espécies desse grupo também designados
fungos imperfeitos ou fungos Deuteromicetos. (SILVA; COELHO, 2006).
Visto que alguns desses organismos possuem interesse econômico, a presente
pesquisa teve como objetivo isolar e identicar fungos Zygomycetes e os Mitospóricos
(Deuteromycota) encontrados em solos do Campus da Universidade Federal do Amazonas-
UFAM e esterco bovino coletado no KM 12 da BR 174. E, dessa forma, avaliar a sua
diversidade nos dois ambientes.
2 | MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Local de Coleta do Solo
A coleta das amostras de solo foi realizada em áreas adjacentes e nas sementeiras
do projeto Sauim de coleira, Universidade Federal do Amazonas – ICB/UFAM-Manaus e
em excremento bovino coletados em baia de criação do sítio JC localizado no Ramal do
Pau Rosa, KM 12, BR 174.
Foram coletados em sacos plásticos, aproximadamente, 300g de amostras de solo
de oresta, solo das sementeiras e de excremento bovino, durante o período de estiagem
(Agosto) e durante o período chuvoso (Fevereiro).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 7 87
2.2 Técnica de Isolamento dos Fungos
Após a coleta de dezesseis amostras: de solo (12) e de excremento (4), os mesmos
foram encaminhados ao laboratório de Micologia/DP/ICB onde realizou-se o isolamento
dos fungos, segundo técnica de Warcup (1950) modicado onde foi realizada pesagem
de alíquotas de 0,015g de cada amostra e distribuídas nas placas de Petri estéreis. A
amostra foi desagregada em partículas menores no fundo das placas com o auxílio de
espátula na de aço inoxidável. Posteriormente, verteu-se cerca de 15 mL de meio de
cultura (meio Martin) com temperatura em torno dos 43 a 45°C. As amostras de cada ponto
foram semeadas em duplicata.
Com o material de solo ou fezes restante, foi realizada também a técnica de diluição
sucessiva (CLARK, 1965) modicada, em que se utilizou 1,0g de cada amostra diluída em
10 mL de água destilada (10-¹). Após agitação em vortex, foram retirados alíquota de 1 mL
e incorporado a 9ml de água destilada. Repetiu-se até a diluição 10-4.
Em seguida, foi realizada a semeadura de 0,5 mL da suspensão (10-4) em placas
de Petri contendo meios Martin e Sabouraud. As amostras de cada ponto foram semeadas
em duplicata.
Posteriormente, as placas foram incubadas à temperatura ambiente, de
aproximadamente 28°C, por 3 a 7 dias, com observações diárias do crescimento micelial
Após o desenvolvimento, as colônias foram contadas e, em seguida, isoladas para
meio de cultura (Agar Sabouraud e BDA) contido em tubos de ensaio.
2.3 Técnica de Puricação das Colônias Microbianas Isoladas
As colônias que apresentaram contaminação foram puricadas segundo a técnica
da cultura monospórica. Com o auxílio de uma alça de platina retirou-se um pequeno
fragmento de inóculo, e o transferiu para tubo contendo 1,0 mL de solução Tween 80,
agitando em vórtex (SÃO JOSÉ et al., 1994). Foi feita a diluição em série, retirando-se 100
µL da suspensão da amostra, transferindo-a para um tubo contendo 900 µL de concentração
de solução salina estéril (diluição 10-1), a diluição então foi homogeneizada e a operação
repetida em diluições sucessivas até a diluição de 10-3.
Ao nal da série de diluições, inoculou-se 100 µL das diluições 10-3, em triplicata,
nas placas contendo meio de cultura Ágar Sabouraud e Ágar Batata Dextrose (BDA), pH
6.8. As placas devidamente identicadas foram incubadas à temperatura de 28ºC por um
período de 48-72 horas. Após este período, iniciou-se a separação das colônias para tubos
identicados contendo os mesmos meios de isolamento e incubados por oito dias.
As amostras puras foram repicadas em placas de Petri contendo Ágar Sabouraud
e BDA com pH 6.8, por oito dias para posterior identicação a nível genérico e especico.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 7 88
2.4 Técnica de Microcultivo Em Lâmina
Para identicação morfológica dos fungos utilizou-se a técnica de microcultivo em
lâmina, segundo Riddell (1950), modicada, colocando-se inicialmente uma porção circular
de papel ltro sobre o fundo de uma placa de Petri, a qual recebeu sobre o papel um
par de lâmina 76 x 26 mm e lamínulas e em seguida, foi esterilizada em autoclave. Para
inoculação, dois blocos de meio de cultura (BDA ou Ágar Sabouraud), de aproximadamente
5 mm, foram transferidos com uma espátula para a superfície central da lâmina estéril
contida na placa. Nas quatro extremidades do bloco de meio foi inoculada uma porção da
colônia. Duas lamínulas estéreis foram depositadas sobre a superfície dos blocos de meio
de cultura. Com uma pipeta, depositou-se uma pequena quantidade de água destilada
esterilizada no fundo da placa para umedecer o papel de ltro, suciente para manter
umidade por cinco a sete dias.
Após o crescimento fúngico mostrar-se visualmente suciente, as lamínulas
foram cuidadosamente removidas e dispostas sobre uma gota do corante Azul-de-
lactofenol na superfície de uma lâmina de 76 x 26 mm e analisadas em microscopia óptica
(ONIONS et al., 1981). As colônias que não desenvolveram estruturas reprodutivas foram
reinoculadas e submetidas à variação na temperatura, pH, luz e nutrientes para estimular
o desenvolvimento reprodutivo.
2.5 Identicação dos Fungos
Para identicação em nível de gênero e espécie os fungos foram identicados por
meio de observações macro (caracteres da colônia) e microscópicas (lâminas), com o auxílio
de bibliograa especializada (ALVES et al., 2002b; DOMSCH, ELLIS, 1971; O’DONNELL,
1979; SCHIPPER, 1978; SEIFERT et al., 2011; TEIXEIRA et al., 2011;).
2.6 Análise Estatística dos Dados
Foram utilizadas duas metodologias para determinar a diversidade e frequência com
que esses organismos se desenvolveram:
a) Frequência de ocorrência (%) – a frequência de ocorrência (LOBO & LEIGHTON,
1986) foi expressa em porcentagem e calculada para cada espécie durante o período de
estudo. As espécies foram consideradas:
Constantes: quando F>50%
Comuns: quando 10%≤F≤50%
Raras: quando F<10%
F= PA/P*100 onde
PA = nº de meses onde a espécie esteve presente
P = nº total de meses coletados
b) Índice de Similaridade de SØRENSEN (MÜLLER-DOMBOIS e ELLEMBERG,
1974) – foi utilizado para vericação da similaridade entre as micotas isoladas nas áreas
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 7 89
de estudo.
IS = 2C / (A+B) *100 (%)
A= Número de táxons na área 1
B= Número de táxons na área 2
C= Número de táxons em comum para ambas as áreas
2.7 Preservação dos Fungos
Os fungos identicados e devidamente puricados e esporulados estão sendo
preservados no laboratório de Micologia da UFAM, cada um dos isolados foram armazenadas
duplicatas das colônias conforme o método de preservação de Castellani (ARAÚJO et al.,
2002) e mantidos em temperatura ambiente.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisadas 48 placas, 24 de sementeiras, 16 de solo de oresta e 8 de
esterco em várias diluições, que obtiveram uma amostragem da diversidade de fungos
nesse ambiente após 7 dias de observação. Foram realizadas as contagens das colônias
desenvolvidas em cada placa, totalizando 77. Foram observadas as principais características
macroscópicas, sendo identicadas em nível genérico e posteriormente algumas à nível de
espécies.
De acordo com o Gráco 1, vericou-se o desenvolvimento dos representantes de
Zygomycetes em 12 colônias. E em relação aos fungos Mitospóricos foram observadas 65.
Gráco 1: Percentual de gêneros isolados e identicados em amostras de solo e esterco bovino, AGO
2017 e FEV 2018, Manaus, AM.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 7 90
O Gráco 2 apresenta os resultados obtidos das colônias pertencentes a classe
Zigomicetes: Absidia corymbifera, Cunninghamella elegans, Mucor hiemalis, Mucor mucedo,
Pilobolus sp., Rhizopus microsporus e Zygorhynchus moelleri. Enquanto os Mitospóricos
foram distribuídos dentro dos gêneros Acremonium sp., Aspergillus sp., Fusarium sp.,
Microsporum sp., Penicillium sp., Trichoderma sp. Destes últimos foram identicadas as
seguintes espécies: Aspergillus avus, Aspergillus glaucus, Aspergillus niger, Microsporum
gypseum, Penicillium chrysogenum, Penicillium expansum e Penicillium glaucum.
Gráco 2: Percentual de espécies isolados e identicados em amostras de solo e esterco bovino, AGO
2017 e FEV 2018, Manaus, AM.
Conforme os resultados obtidos, destacaram-se os gêneros Absidia sp., Aspergillus
sp., Mucor sp. e Penicillium sp., que foram representados com maior frequência por Absidia
corymbifera, Aspergillus niger, Mucor hiemalis e Penicillium chrysogenum.
Em relação as amostras coletadas, as de solo apresentaram menor diversidade de
Zygomycetes que no esterco, isto pode ter ocorrido devido à alta competitividade de outros
fungos do solo. Até mesmo Mucor spp., em que foi observado crescimento rápido, portanto
pode ter interrompido o crescimento de outros Zygomycetes.
Estudos anteriores de Cunha e Silva (2007) identicaram os gêneros Cunninghamella
sp., Mucor sp., Rhizopus sp. e Syncephalastrum sp. em amostras de solo do Campus
da UFAM, sendo os três primeiros também isolados neste trabalho. No entanto, ambos
trabalhos obtiveram diversidade de Zygomycetes inferior se comparado com trabalhos
realizados em outras regiões do Brasil (AZEVEDO et al., 2014; ALVES et al, 2015).
De acordo com a Análise Estatística dos Dados, as espécies que apresentaram
frequência de ocorrência constante, com 100% de frequência, foram Aspergillus niger,
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 7 91
Mucor hiemalis e Penicillium chrysogenum. As espécies Absidia corymbifera, Aspergillus
avus, Aspergillus glaucus, Cunninghamella elegans, Mucor mucedo, Penicillium expansum
e Pilobolus sp. apresentaram frequência de ocorrência comum, com 50% de frequência
cada. A espécie Rhizopus microsporus também apresentou frequência de ocorrência
comum, porém com 25%.
De acordo com o índice de similaridade do Zigomicetes, foi vericado semelhança
entre as micotas nas áreas de estudo em torno de 50%. As espécies que foram isoladas nas
duas áreas foram: Absidia corymbifera e Mucor hiemalis. Enquanto para os Mitospóricos,
foram utilizados os fungos Aspergillus niger e Penicillium chrysogenum, pois foram
observados em ambas coletas, no qual o índice apresentou aproximadamente 20% de
similaridade.
4 | CONCLUSÃO
Os estudos relacionados à taxonomia de microrganismos são bastante signicativos
para o fortalecimento das coleções existentes, durante este projeto, se buscou ampliar as
informações existentes sobre a classe de fungos Zygomycetes e Mitospóricos.
As espécies mais frequentemente observadas foram Absidia corymbifera, Aspergillus
niger, Mucor hiemalis e Penicillium chrysogenum
Dentre os isolados, os gêneros Pilobolus sp. e Zygorhynchus (Z. moelleri) foram
isolados pela primeira vez na área.
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A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 8 94
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 8
OCORRÊNCIA DO FUNGO SPOROTHRIX SPP.
NAS GARRAS DOS MEMBROS ANTERIORES DE
ANIMAIS SELVAGENS
Data de submissão: 29/06/2021
Flora Nogueira Matos
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (UNESP), Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ)
Botucatu – São Paulo
http://lattes.cnpq.br/6307844201787535
Sandra de Moraes Gimenes Bosco
Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (UNESP), Depto. De
Microbiologia e Imunologia
Botucatu – São Paulo
http://lattes.cnpq.br/7501337050010455
Giselle Souza da Paz
Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” (UNESP), Depto. De
Microbiologia e Imunologia
Botucatu – São Paulo
http://lattes.cnpq.br/1707645998428134
Alana Lucena Oliveira
Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho (UNESP), Depto. De
Microbiologia e Imunologia
Botucatu – São Paulo
http://lattes.cnpq.br/0500984832107456
Arthur Carlos da Trindade
Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP), Centro de Medicina e
Pesquisa em Animais Selvagens (CEMPAS)
Botucatu – São Paulo
http://lattes.cnpq.br/5806423701063005
Luna Scarpari Rolim
Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP), Centro de Medicina e
Pesquisa em Animais Selvagens (CEMPAS)
Botucatu – São Paulo
http://lattes.cnpq.br/8376328649922382
Lorena Ortega Silvestre
Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP), Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ)
Botucatu – São Paulo
http://lattes.cnpq.br/7374326096473858
Carlos Roberto Teixeira
Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP), Depto. de Cirurgia
Veterinária e Reprodução Animal - FMVZ
Botucatu – São Paulo
http://lattes.cnpq.br/8560913137958850
RESUMO: O presente estudo teve como
objetivo, avaliar a ocorrência do fungo Sporothrix
spp. nas garras dos membros anteriores dos
animais selvagens atendidos no Centro de
Medicina e Pesquisa em Animais Selvagens
(CEMPAS/UNESP Botucatu). Foram utilizados
swabs umidecidos em solução siológica
para a realização da coleta de amostras dos
membros anteriores de um total de 41 animais
de diferentes espécies. Posteriormente, estas
eram encaminhadas para o laboratório de
Micologia Médica do Depto. De Microbiologia
e Imunologia, IBB/ UNESP – Botucatu para o
cultivo em agar Mycosel a 25°C, e análise diária
durante 30 dias. Cladosporium spp. foi o gênero
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 8 95
mais frequentemente isolado, correspondendo a 14,89%, seguido por Candida spp. 12,76%,
Penicillium spp. 12,76%, Rhodotorula spp. 8,51%, Malassezia spp. 8,51%, Aspergillus spp.
4,25%, Scopulariopsis spp. 2,13% e Trichophyton spp. 2,13%. Apesar do uso do Mycosel®,
Sporothrix schenckii não foi isolado em nenhuma das amostras avaliadas. Nosso estudo
contribui para o conhecimento dos fungos isolados nas garras de animais silvestres, um
assunto pouco explorado no Brasil. Chamou nossa atenção a frequencia de Cladosporium
spp. Esse fungo merece atenção, pois nesse gênero encontram-se espécies causadoras de
micoses subcutâneas em humanos. Destaca-se também o isolamento de Trichopytom spp.,
Candida spp. e Malassezia spp., os quais são frequentes causadores de micoses em animais
e humanos. Cuidados devem ser tomados no momento da contenção física desses animais
pelos médicos veterinários, biólogos e tratadores, fazendo o uso correto de Equipamentos de
Proteção Individual (EPIs).
PALAVRAS- CHAVE: Esporotricose; Selvagem; Zoonose; Fungos.
OCCURENCE OF THE FUNGUS SPOROTHRIX SPP. IN THE FORELIMB
CLAWS OF WILD ANIMALS
ABSTRACT: The present study aimed to evaluate the occurrence of the fungus Sporothrix
spp. in the forelimb’s claws of the wild animals attended at the Medicine and Research in
Wildlife Center (CEMPAS / UNESP – Botucatu, SP/ Brazil). Samples were collected from the
claws of 41 wild animals of different species, using swabs moistened in sterilizing solution.
These samples were sent to the Medical and Mycology Laboratory at the Microbiology and
Immunology Department – Bioscience Institute IBB / UNESP – Botucatu, Brazil, for their
cultive on Mycosel agar plates and daily analysis for a month. The most isolated genus was
Cladosporium spp. 14,89%, followed by Candida spp. 12,76%, Penicillium spp. 12,76%,
Rhodotorula spp. 8,51%, Malassezia spp. 8,51%, Aspergillus spp 4,25%, Scopulariopsis spp.
2,13% and Tricophyton spp. 2,13%. Despite the use of Mycosel agar, Sporothrix schenckii
was not isolated in any samples. However, this sudy shows other tipes of fungi that can be
isolated in the claws of wild animals. A subject that has been not explored in Brazil. Fungi
from the genus Cladosporium spp. deserve our attention, since they are responsible for
subcutaneous mycoses in humans, as well as Trichopytom spp., Candida spp and Malassezia
spp., which are responsible for mycosis both in animals and humans. Therefore, handling os
these animals must be carefuly executed by veterinarians, biologists, and animal’s keepers,
using Personal Protective Equipments.
KEYWORDS: Sporotrichosis, Wildlife, Zoonosis,Fungi
1 | INTRODUÇÃO
A esporotricose é uma enfermidade que acomete tanto animais quanto seres
humanos e tem como agente etiológico os fungos do gênero Sporothrix spp. Ela tem sido
muito relatada em gatos domésticos, tendo estes um importante papel na transmissão para
os seres humanos e para outros animais (CRUZ, 2013).
Este fungo pertence ao lo Ascomycota, da classe Sordariomycetes, ordem
Ophiostomatales e da família Ophiostomataceae. Atualmente, a partir das técnicas de
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 8 96
sequenciamento de DNA, sabe-se que o gênero Sporothrix spp. é dividido nas seguintes
espécies: S. schenckii, S. brasiliensis, S. globosa, S. mexicana, S. luriae e S. albicans
(MARIMON et al., 2007, CRUZ, 2013).
Os fungos desse gênero são termo-dimórcos, podendo se apresentar na sua
forma micelial ou leveduriforme, dependendo da temperatura em que se encontram. À
temperatura ambiente de cerca de 25°C, com umidade relativa ambiental superior a 92%,
o fungo tem crescimento micelial. Nessa fase ele se encontra na sua forma não parasitária.
Microscopicamente, observa-se hifas hialinas, ramicadas e septadas, com conídios
que se organizam em forma de “margarida”. Já quando observado macroscopicamente,
tem aspecto membranoso, superfície enrugada e coloração creme, que escurece
gradativamente até car cinza escuro e, nalmente, negra, graça à melanina que é capaz
de produzir (CRUZ, 2013). A uma temperatura de aproximadamente 37°C, o fungo passa
para sua fase de levedura, fase parasitária cujo cultivo pode ser feito após o isolamento
micelial, em meios ricos. Microscópicamente, pode ter forma arredondada ou de charuto,
com pequenas células em brotamento (LARSSON, 2011). Macroscopicamente, o fungo
tem consistência cremosa/pastosa e com coloração esbranquiçada a creme.
A esporotricose tem distribuição universal e teve alta prevalência na França e
Estados Unidos no início do século (ALMEIDA, 2013). No nal do Século XX começaraLOm
a ocorrer surtos epidêmicos e enzooóticos de esporotricose envolvendo carnívoros
domésticos e seres humanos na região sudeste do Brasil, sendo responsável até hoje, por
0,5% de todas as doenças de pele do estado de São Paulo (LOPES et al., 2011).
Atualmente, sabe-se que ela ocorre com maior frequência em regiões com clima
tropical e subtropical, sendo a micose subcutânea mais comum da América Latina
(BARROS et al.,2011).
Por ser um fungo geofílico, o Sporothrix spp. tem como habitat natural, materiais de
origem vegetal, e como reservatório, o solo, sendo estes, fontes de infecção para seres
humanos e animais. A contaminação com o fungo se dá pela inoculação direta de seus
conídeos na pele. No ser humano a transmissão pode se dar através do material vegetal,
estando associada a atividades ocupacionais, ou ainda, por transmissão zoonótica da
doença, podendo ocorrer por arranhadura, mordedura (LOPES et al., 1999) ou pelo contato
com exsudato da lesão (SILVA et al., 2008) de animais enfermos ou assintomáticos (CRUZ,
2013). Sendo assim, veterinários e proprietários de animais domésticos estão inclusos no
grupo de risco da doença (LARSSON, 2011).
Nos animais, a infecção pode se dar pelo contato com o solo. Nesse caso acomete,
principalmente, os membros anteriores de felinos e outros animais, como os tatus, que
tem o hábito inato de escavar o solo. Outras possibilidades de infecção seriam: através de
lesões com material vegetal, e de arranhaduras e mordeduras de animais comprometidos
(BORGES et al., 2013, CRUZ, 2013). No Uruguai, mais de 80% dos casos de esporotricose
humana foram vericados em caçadores de tatus que entraram em contato com a terra da
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 8 97
toca desses animais ou diretamente com suas unhas (MACKINNON et al., 1969). Após este
estudo, outro foi realizado analisando dez casos de caçadores de tatu no Rio Grande do Sul
com feridas cutâneas e subcutâneas e a esporotricose pôde ser conrmada em todos os
casos, através da utilização de testes microbiológicos (ALVES et al., 2010). Rodrigues et al.
(2014) isolaram S. Schenckii em amostras de solo obtidas de tocas de tatus no interior do
estado de São Paulo. O isolado mostrou-se altamente virulento aos hamsters inoculados
com as amostras de solo (RODRIGUES et al., 2014).
Estudos epidemiológicos no Brasil sobre a infecção pelo Sporothrix spp. em animais
silvestres são escassos. Costa et al. (1994) avaliaram, por meio de testes intradérmicos
com antígeno esporotriquina, 96 animais saudáveis provenientes do Parque Zoológico de
São Paulo (33 macacos-prego, Cebus apella; 16 saguis Callithrix jacchus; 37 quatiss Nasua
nasua e 10 felídeos: jaguar, Panthera onca; gato-do-mato, Felis pardalis; gato-maracajá,
Felis wiedii; gato-do-mato-pequeno, Felis tigrina) e observaram 30,21% de positividade,
sendo esta maior nos quatis (64,86%), seguido pelos felídeos (30,0%) e cebídeos (6,06%)
(COSTA et al., 1994).
Uma vez no tegumento o período pré-patente da doença é de, em média, 21 dias
dependendo da forma de infecção. Se a transmissão se dá pelo contato direto da levedura
com o tecido lesionado, o período pré-patente é menor. A partir daí, gera lesões polimórcas
ulcerosas características que podem involuir espontaneamente ou permanecer no local de
inoculação (esporotricoma), afetando pele, tecido subcutâneo e, frequentemente, vasos
linfáticos adjacentes, sendo rara sua disseminação para vísceras e camadas internas do
tecido (LOPES et al., 1999).
Análises epidemiológicas do município do Rio de Janeiro, realizadas pela Fundação
Oswaldo Cruz, indicam que a esporotricose se torna mais presente em populções de baixa
renda e em áreas metropolitanas, acometendo principalmente mulheres de meia idade com
trabalhos domésticos e estudantes que possuem contato frequente com animais acometidos.
O mesmo estudo relata que a carência de atendimento e diagnóstico veterinário para a
doença ainda é muito grande, dicultando o controle da doença (BARROS et al., 2010).
Para o diagnóstico correto é preciso diferencia-la das demais doenças que causam
lesões úlcero-gomosas, doenças essas, que geram a sigla “LECMN”: Leismaniose (L),
esporotricose (E), criptococose (C), micobacteriose (M) e neoplasias (N) (BORGES et al.,
2013).
O itraconazol é o medicamento de escolha para o tratamento da esporotricose
cutânea e linfocutânea, no entanto, casos de resistência a este fármaco têm sido relatados,
provocando remissão da doença tanto em seres humanos como em animais. A partir
disso, estudos in vitro foram realizados em busca de uma nova alternativa, e os resultados
indicaram que o fungo Sporothix spp. é também sensível a terbinana (MEINERZ et al.,
2007).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 8 98
2 | MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Animais Amostrados
Foram coletadas amostras das garras dianteiras de 41 animais selvagens de diferentes
espécies, atendidos no Centro de Medicina e Pesquisa em Animais Selvagens (CEMPAS/
UNESP – Botucatu). As coletas foram realizadas no próprio Centro de Medicina e Pesquisa
em Animais Selvagens (CEMPAS/UNESP – Botucatu), priorizando a coleta no momento de
manejo dos animais enquanto contidos adequadamente pelos residentes locais. O registro
dos animais foi anotado para o acesso do histórico dos mesmos.
Todos os procedimentos adotados estavam de acordo com a aprovação da Comissão
de Ética No Uso De Animais, Protocolo n°1047-CEUA – 06 de Outubro de 2017.
2.2 Coleta de Amostras
As amostras foram coletadas com swabs umedecidos em solução salina estéril 0,85%
e, em seguida, friccionados na garra anterior esquerda e direita, separadamente. Estes foram
colocados em suas embalagens de origem e fechados com ta adesiva. A seguir, foram
identicados com a espécie do animal e o respectivo membro e registro do animal. Além
das amostras dos membros torácicos, foram coletadas amostras dos membros pélvicos
de cinco animais. Estas foram processadas da mesma maneira e entraram no estudo para
mais informações sobre os fungos presentes nestes animais. As amostras foram levadas
imediatamente para o Laboratório de Micologia Médica do Depto. de Microbiologia e
Imunologia, Instituto de Biociências de Botucatu, UNESP.
2.3 Processamento Laboratorial
No Laboratório de Micologia Médica, cada swab foi semeado em uma placa de Petri
contendo ágar Mycose®l. Cada placa foi identicada com caneta permanente, indicando
o número do animal, o membro correspondente (esquerda ou direita) e a data. As placas
foram protegidas por lme plástico e mantidas em estufa de 25°C para serem avaliadas
semanalmente.
Todas as colônias foram avaliadas macro e microscopicamente, corando as
lâminas com Lactofenol Azul Algodão. As colônias com aspecto leveduriforme observadas
microscopicamente foram cultivadas em CROMAgar Candida Medium e mantidas a 37°C. As
colônias com suspeita de Sporothrix spp. foram cultivadas individualmente e foram realizados
microcultivo das mesmas para uma melhor análise macro e microscópica.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletadas amostras de 47 animais selvagens de diferentes espécies, dentre
elas: Gambás (Didelphis virginiana 7,32%, n=3), Pica-Pau (Celeus avescens – 2,13%,
n=1), Coruja Orelhuda (Asio clamator – 2,13%, n=1), Seriemas (Cariama cristata – 4,88%,
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 8 99
n=2), Suindaras (Tyto furcata – 12,20%, n=5), Araras (Ara ararauna 12,20%, n=2), Irara
(Eira barbara – 2,13%, n=1), Tamanduá Bandeira (Myrmecophaga tridactyla - 14,63%, n=6),
Bugio (Alouatta caraya – 12,20%, n=5), Onça Parda (Puma concolor – 2,13%, n=1), Raposa
do Campo (Lycalopex vetulus 7,32%, n=3), Veado Catingueiro (Mazama gouazoubira
4,88%, n=2), Cachorro do Mato (Cerdocyon thous – 7,32%, n=3), Gato do Mato (Leopardus
tigrinus2,13%, n=1), Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris 2,13%, n=1), Quiriquiri (Falco
sparverius 4,88%, n=2), Onça pintada (Panthera onca – 2,13%, n=1), Ouriço Cacheiro
(Coendou prehensilis – 2,13%, n=1). Todos estes animais tinham histórico de contato com
solo e/ou material vegetal.
Foram identicadas colônias de Cladosporium spp. (14,89%), Candida spp. (12,76%),
Penicillium spp. (12,76%), Rhodotorula spp. (8,51%), Malassezia spp. (8,51%), Aspergillus
spp. (4,25%), Scopulariopsis spp. (2,13%), suspeita de Trichophyton spp. (2,13%). Do total
dos animais avaliados, evidenciaram crescimento apenas bacteriano e 16,67% não foi
possível a identicação morfológica dos fungos devido ao crescimento de fungos zigomicetos.
Figura 1. Aspecto macro e microscópico de Penicillium sp. isolado na amostra 32E. A: Macroscopia
em placa de Agar Mycosel. B: Microscopia de lâmina corada com Lactofenol Azul Algodão (40X).
Figura 2. Aspecto macro e microscópico de Cladosporium spp. isolado na amostra 14D. A:
Macroscopia em placa de Agar Mycosel. B: Microscopia de lâmina corada com Lactofenol Azul Algodão
(40X).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 8 100
Figura 3. Aspecto macro e microscópico de Malassezia spp. isolada na amostra 8D. A: Macroscopia
em placa de Agar Mycosel. B: Microscopia de lâmina corada com Lactofenol Azul Algodão (20X).
Figura 4. A: Aspecto macroscópico de Scopulariopsis spp. em Agar Mycosel da amostra 33D. B:
Microscopia da colônia de Scopulariopsis sp. em lâmina corada com Lactofenol Azul Algodão (40X).
Os resultados aqui obtidos se mostraram semelhantes ao estudo realizado em
Pelotas, Rio Grande do Sul, por ALBANO (2009), que isolou do pêlo e tegumento de 83
animais silvestres, os fungos dos seguintes gêneros: Aspergillus sp., Candida sp., Penicillium
sp., Geotrichum sp., Malassezia sp., Trichophyton sp., Fusarium sp. e Scopulariopsis sp.
Ressalta-se que no nosso estudo não foi possível o isolamento do gênero Geotrichum sp.
De forma semelhante aos nossos achados, BORGES et. al (2013), ao analisarem as garras
de gatos domésticos e não domésticos, obtiveram o isolamento dos seguintes gêneros:
Penicillium sp. (21,2%), Microsporum canis (12,1%), Aspergillus sp. (9,8%), Malassezia
pachydermatis (5,3%), Rhodotorula sp. (3,8%), Candida sp. (3,8%), Trichoderma sp. (0,7%)
e Acremonium sp. (0,7%). Os autores obtiveram o isolamento de Sporothrix schenckii das
unhas de um gato doméstico que apresentava clínica de esporotricose, sendo que este
ainda transmitiu o fungo para a veterinária que o tratava (BORGES et al., 2013).
Schubach et al. (2001) e Souza et al. (2006) mostram o isolamento do fungo
Sporothrix spp. em frequencias de 39,5% e 29,1%, respectivamente, muito superiores aos
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 8 101
estudos anteriormente citados. Tal superioridade nos resultados é explicada pelo fato de
que, diferente dos demais, esses dois últimos estudos tiveram como amostragem felinos
diagnosticados com esporotricose ou que conviviam com indivíduos contaminados.
Os fungos mais frequentemente isolados no presente estudo pertenciam aos gêneros
Candida spp. e Cladosporium spp. Dentre as espécies do gênero Cladosporium, quatro estão
associadas à doenças em humanos: C. cladosporioides, C. herbarum, C. oxysporum e C.
sphaerospermum. Fungos do gênero Cladosporium caracterizam-se por serem dematiáceos,
ou demáceos, isto é, possuem melanina na parede celular. A melanina é um importante fator
de virulência para os fungos. Como manifestações clínicas, os pacientes podem apresentar
infecções de pele, tecidos moles, como pneumonia e abcessos cerebrais, e sepse com alta
mortalidade. Além disso por serem aero-alérgenos, estão relacionados também à doenças
alérgicas. O tratamento das infecções é prolongado e o diagnóstico correto é essencial para
para um bom prognóstico do paciente (MENEZES et al., 2017). Em um estudo realizado por
Sandoval-Denis et al. (2015), em 92 isolados do gênero Cladosporium obtidos de pacientes
humanos, destacam-se as espécies C. halotolerans (14,8%), C. tenuissimum (10,2%),
C. subuliforme (5,7%) e C. pseudocladosporioides (4,5%). Chama a atenção que 39,8%
dos isolados não foram possíveis de serem identicados pelas técnicas morfológicas e
moleculares, correspondendo a pelo menos 17 novas linhagens de Cladosporium. Os sítios
anatômicos mais frequentemente acometidos foram trato respiratório (54,5%), tecidos
superciais (28,4%) e tecidos profundos (14,7%) (SANDOVAL-DENIS et al., 2015). Em se
tratando de infecção por Cladosporium em animais, são poucos os relatos. Spano et al.
(2018) relataram um caso de infecção grave em uma cadela sem raça denida de 3 anos
de idade. O animal apresentava severo histórico de dispnéia, tosse, letargia, anorexia e
discreta claudicação em membro anterior direito. Dentre os diversos exames realizados, a
punção aspirativa com agulha na permitiu o isolamento de colônias enegrecidas em meio
Sabouraud e essas foram identicadas por biologia molecular, resultando em complexo
Cladosporium cladosporioides (SPANO et al., 2018).
Os fungo do gênero Candida spp. estão relacionados à manifestações que vão desde
infecções cutâneas superciais até infecções sistêmicas. Em casos graves a identicação
do patógeno é essencial para conduzir o tratamento e para a recuperação do paciente.
Mesmo sendo um fungo considerado oportunista, apresenta alta taxa de mortalidade,
sendo esta de 10-49% (MÍMICA et al. 2009). São inúmeras as publicações sobre infecções
causadas por Candida spp. em humanos e atualmente o número de casos em Medicina
Veterinária envolvendo a Candida sp. vem crescendo, provocando candidose em diversas
espécies animais. A levedura, inclusive, já foi detectada no trato digestório de variadas
aves. Essas por sua vez, acabam carreando o fungo em sua cloaca e facilitando a sua
dispersão no ambiente. A candidose em animais é relatada por todo o mundo, porém o seu
quadro clinico é muito variado. No Brasil, casos já foram relatados em associação à otite
e dermatomicose em cães. Quanto à infecções sistêmicas, estas são pouco frequentes
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 8 102
mas podem ser manifestadas dependendo do estado do animal. Em relação à área de
produção animal, a Candida sp. causa prejuízos por estar relacionada à inamações da
glândula mamária em bovinos de leite. A ecácia da droga anti-fúngica contra a Candida
sp. depende da sensibilidade da cepa, que pode se mostrar tanto sensível, quanto muito
resistente a algumas drogas, dicultando o andamento do tratamento (BRITO et al., 2009).
Em um estudo realizado por Campos et al. (2001), foram analisadas 1.310 amostras,
coletadas de 1995 até o ano 2000, de lesões cutâneas de animais com suspeita de micoses.
Destas, 865 amostras foram positivas para dermatótos, seguidas por Cladosporium
sp.(12,44%); Aspergillus sp. (5,19%); Malassezia pachydermatis (3,51%); Scopulariopsis
sp. e Penicillium sp. (2,44%), gêneros que são compatíveis ao presente estudo, mesmo
que envolvendo as garras de animais selvagens. Estes fungos estão muito presentes
no ambiente e oferecem risco a saúde humana e veterinária, especialmente quando se
considera o estado de imunossupressãqo dos indivíduos (CAMPOS et al., 2001).
Nosso estudo contribui indicando que os animais selvagens representam um risco
aos prossionais da área e à população ao seu redor. Seu manejo deve ser realizado com
cautela, de acordo com as normas de biossegurança utilizando, inclusive, os equipamentos
de proteção individual (EPIs), como luvas de couro, máscaras, óculos de proteção, além de
instrumentos para a correta contenção física desses animais. Investigações epidemiológicas
da fauna silvestre são realizadas nos países europeus e da América do Norte para o auxilio
do manejo da mesma, enquanto que em outros países, tais estudos são, muitas vezes,
negligenciados (ALBANO, 2009). É essencial que políticas públicas de controle de doenças
e de saúde pública mantenham os animais selvagens em perspectiva para maior ecácia
de suas ações. Assim como é de grande importância que a população seja informada
devidamente sobre as zoonoses e seus possíveis riscos.
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Capítulo 9 105
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 9
CRANIADOS SILVESTRES ATROPELADOS NA ERS
122 (KM 9 A KM 20), SÃO SEBASTIÃO DO CAÍ, RS,
BRASIL
Karina Seidel Gervasoni
Estudante do curso de Ciências Biológicas,
Universidade Feevale, Novo Hamburgo-RS,
Brasil
http://lattes.cnpq.br/1072434182768764
Marcelo Pereira de Barros
Professor Adjunto do Curso de Ciências
Biológicas, Universidade Feevale, Novo
Hamburgo- RS, Brasil
http://lattes.cnpq.br/8026056478519647
RESUMO: O uxo de veículos nas rodovias
apresentou um grande acréscimo nos últimos
anos implicando no aumento dos índices de
atropelamento de animais silvestres que utilizam
as vias para se deslocarem entre as áreas verdes,
uma vez que estas áreas estão cada vez mais
escassas pela construção de novos loteamentos
e empreendimentos. O presente estudo teve por
objetivo inventariar as espécies de craniados
atropelados em um trecho da ERS 122, no
município de São Sebastião do Caí. RS. Onze
quilômetros foram percorridos quinzenalmente,
com um automóvel em baixa velocidade, para
o registro das carcaças. Ao longo de doze
meses de monitoramento da rodovia, foram
registradas 23 espécies e 65 atropelamentos de
anfíbios, répteis, aves e mamíferos. O Didelphis
albiventris (gambá-de-orelha-branca) foi a
espécie mais frequente e concentra 37% dos
registros de atropelamentos da fauna estudada.
Foi registrado um atropelamento do Leopardus
guttulus (gato-do-mato-pequeno), espécie
ameaçada de extinção no estado do Rio Grande
do Sul.
PALAVRAS - CHAVE: Fauna silvestre,
Mortalidade de estradas, Ecologia de estradas
WILD CRANIATES CRUSHED IN
THE ERS 122 (KM 9 TO KM 20), SÃO
SEBASTIÃO DO CAÍ, RS, BRAZIL
ABSTRACT: The ow of vehicles on the
highways has shown a large increase in recent
years, implying the increase in the rates of
running over wild animals that they use as routes
to travel between green areas since these areas
are increasingly scarce due to the construction of
new subdivisions and enterprises. The present
study aimed to inventory the species of cranial
that were run over in a stretch of the ERS 122,
in the city of São Sebastião do Caí. RS. Eleven
kilometers were covered fortnightly, with a car at
low speed, to record the carcasses. Over twelve
months of monitoring the highway, 23 species
and 65 roadkills by amphibians, reptiles, birds,
and mammals were recorded. The Didelphis
albiventris (white-eared Opossum) was the most
frequent species and concentrates 37% of roadkill
records in the studied fauna. A running over of
Leopardus guttulus (wild cat), an endangered
species in the state of Rio Grande do Sul, was
recorded.
KEYWORDS: Wild fauna, Road Mortality, Road
ecology.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 9 106
1 | INTRODUÇÃO
Há muito deixou de ser novidade que o Brasil é um país megadiverso, detentor
da maior biodiversidade do planeta. Nossos números são superlativos e, também,
surpreendentes. Mesmo que saibamos que há muito o que conhecer, que há muitas
espécies desconhecidas aguardando serem descritas, ainda surpreende ver emergir do
desconhecimento novas formas taxonômicas, o que torna a conservação desse imenso
patrimônio de biodiversidade algo verdadeiramente muito importante (ICMBio, 2018).
Entre os problemas que ameaçam a fauna silvestre, o atropelamento de animais é
uma importante causa de mortalidade para várias espécies (OLIVEIRA e SILVA, 2012). É
um problema pouco ressaltado entre as questões que envolvem a ameaça das espécies da
fauna brasileira, e como já destacavam Rosa e Mauhs (2004), com o constante aumento
da linha viária e do uxo de veículos no país este é um impacto que deve ser considerado.
Conforme Lima e Obara, (2004), os atropelamentos ocorrem em função de dois
aspectos principais: - a rodovia corta o habitat de determinado táxon, interferindo na faixa
de deslocamento natural da espécie, o mesmo acontecendo para uma rodovia estabelecida
em área de migração; - a disponibilidade de alimentos ao longo das rodovias, atuando
como atrativo para fauna. Neste último caso, a presença de alimentos (grãos, sementes,
frutas, plantas herbáceas, e mesmo carcaças de animais mortos) na pista ou próxima dela,
atua como atrativo para os animais silvestres que têm estes hábitos alimentares, criando-
se um ciclo de atropelamento.
Identicar os impactos das estradas sobre a fauna pode contribuir para o
estabelecimento de ações que promovam a conservação (CUNHA et. al., 2015). Uma
abordagem importante para mitigar efetivamente os atropelamentos em rodovias é localizar
os pontos onde as mortes são concentradas (DORNELES, 2015). O monitoramento da
fauna atropelada nas estradas se tornou uma ferramenta importante para determinar
a perda da biodiversidade faunística, revelando aspectos da forma de deslocamento e
dinâmica sazonal de populações de algumas espécies (STEIL et. al., 2016).
Estimativas mostram que mais de 15 animais morrem nas estradas brasileiras
a cada segundo. Diariamente, devem morrer mais de 1,3 milhões de animais e ao nal
de um ano, até 475 milhões de animais selvagens são atropelados no Brasil (PORTAL
CBEE, 2020). Os mamíferos pelas características comportamentais, tamanho e carisma
são um dos grupos de vertebrados que necessitam mitigações para a mortalidade, visto
que também estão entre os que mais morrem em rodovias (DORNELES, 2015), o que deve
estar relacionado com a sua necessidade de amplas áreas de vida e capacidade de realizar
grandes deslocamentos (LEHN e LEUCHTENBERGER, 2009).
Na última década o estudo sobre as espécies atropeladas em rodovias e seus
impactos têm crescido consideravelmente, trabalhos como: HEGEL (2012), REIS (2015),
PINHEIRO (2016), ZANETTI (2016), CRAVO (2018) e MEDEIROS (2019) tratam sobre o
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 9 107
assunto. Há uma busca incessante dos pesquisadores pelo conhecimento dos principais
fatores na causa desses atropelamentos, bem como pela adequação das metodologias
utilizadas para estudá-los e denição de medidas mitigadoras (SANTOS, 2017).
Embora muitas rodovias do Brasil apresentem sinalização indicando a travessia de
animais, isso parece não ser suciente (LEHN e LEUCHTENBERGER, 2009). O presente
estudo tem por objetivo inventariar as espécies de vertebrados atropelados em um trecho
da ERS 122, no município de São Sebastião do Caí. RS.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Área de Estudo
O estudo foi realizado em um trecho da rodovia estadual ERS - 122, entre os
quilômetros nove e vinte no município de São Sebastião do Caí, que ca 60 km distante da
capital Porto Alegre. São Sebastião do Caí apresenta uma área territorial de 112,334 km² e
população estimada em 25.685 habitantes (IBGE,2019).
Figura 1: Localização do município de São Sebastião do Caí, RS, Brasil.
Fonte: Wikipedia
Segundo a classicação climática de Köppen-Geiger, o clima no município é
considerado subtropical úmido onde a temperatura média é 19.7°C com uma pluviosidade
média anual de 1425 mm (Climate-data.org, 2019). Seu território é composto de 79%
pelo bioma Mata Atlântica e 21% pelo bioma Pampa (INFOSANBAS, 2019). A área de
estudo pertence ao tipo de vegetação Floresta Estacional Semidecidual, inserida no bioma
Floresta Atlântica.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 9 108
Ao longo do trecho podemos observar a planície de inundação que se forma durante
as cheias do rio Caí, assim como trechos de mata preservada e áreas de campo, que são
utilizadas para atividades como agricultura e agropecuária. Durante o trajeto também se
observam muitos prédios comerciais e moradias próximos a rodovia.
O trajeto de onze quilômetros entre o limite sul (29°37’0.45”S, 51°19’42.91”W) e o
limite norte (29°31’57”S, 51°21’23”W), é formado por pista dupla, onde a velocidade máxima
permitida é de 80km/h, com variações de trechos com velocidade permitida de 60km/h. No
mês de Outubro de 2020, foi instalado entre os quilômetros 15 e 16 um controlador de
velocidade nos dois sentidos da pista. Próximo ao quilômetro onze da rodovia, os veículos
se deslocam através de uma ponte sobre o arroio Cadeia, o que acontece da mesma forma
no quilômetro dezenove, onde existe a passagem do arroio Paradiso, ambos auentes do
rio Caí.
Figura 2: Imagem de satélite demarcando o trajeto que compõem o estudo.
Fonte: Google Earth.
2.2 Métodos Amostrais e Análise de Dados
O trecho entre os quilômetros nove e vinte, foi percorrido com um automóvel em
velocidade reduzida de 60 Km/h possibilitando uma melhor visualização das carcaças, os
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 9 109
dados dos vertebrados silvestres foram coletados durante as manhãs de domingo, com a
periodicidade de duas vezes ao mês. As amostragens ocorreram entre os meses de abril
de 2020 a março de 2021, abrangendo um ano de inventariamento.
Os animais atropelados observados ao longo do trajeto foram fotografados com
máquina digital NIKON COOLPIX S5300 e com smartphone Iphone 6s, de modo a permitir
a identicação deles com o uso de bibliograa especializada. Foram contabilizados apenas
os indivíduos que não apresentam estado avançado de putrefação e quando possível foi
anotada a medida corporal total para cada grupo taxonômico. Também foram registrados
dados como: data, hora, quilômetro em que ocorreu a amostragem e através de aplicativo
de GPS tomadas às coordenadas geográcas do ponto.
Os dados de registro dos exemplares foram anotados em uma planilha de campo,
para posterior análise e controle dos dados. Os vertebrados domésticos atropelados não
foram amostrados no presente trabalho. Após os registros em campo, os animais foram
retirados para fora da pista de rolamento de modo a evitar uma nova amostragem.
Os dados coletados em campo e as imagens obtidas foram transferidos para uma
planilha eletrônica (Microsoft Excel), a m de organizar melhor as informações.
Posteriormente, foi realizada a identicação dos exemplares com o uso de
bibliograa especializada tais como: DEIQUES, et al. (2007), HADDAD (2008) e KWET
e DI-BERNARDO (1999) para os anfíbios. MARQUES, et al. (2001), FREITAS (2003) e
DEIQUES, et al. (2007) LEMA (2002) para os répteis. ACHAVAL, et al. (2004), EMMONS
(1997), OLIVEIRA e CASSARO (2005) e SILVA (2014) REIS, et al. (2006), WEBER, et
al. (2013) para os mamíferos. BELTON (1982), BENCKE (2010), FRANZ, et al (2018) e
NAROSKY e YZURIETA (2006) para as aves. Também foram consultados taxônomos e
chaves dicotômicas para auxiliar na identicação dos exemplares.
Para estabelecer a variação no número de atropelamentos ao longo das estações
do ano e a ocorrência de uma provável sazonalidade nos acidentes, foi calculada uma
distribuição de frequência mensal de exemplares atropelados, contabilizando o total de
indivíduos por espécie registrada. Também foi contabilizado o total de espécimes das
várias espécies registradas por atropelamento para cada um dos meses durante o período
de estudo, para estabelecer-se qual a espécie é mais atingida (SOUZA, 2011). Com os
dados das coordenadas geográcas de cada incidente, foram estabelecidos os trechos
onde ocorrem os maiores números de atropelamentos, sendo estes dados registrados na
plataforma do Google Earth, para observar as áreas onde há maior impacto sobre a fauna.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
Após os 12 meses de amostragens e 24 incursões pela estrada, foram registrados
65 atropelamentos e identicadas 23 espécies de craniados (Tabela 1), distribuídos nas
quatro classes tradicionais de tetrápodes: uma espécie de Amphibia, uma de Reptilia, 14
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 9 110
de Aves e sete de Mammalia.
Meses
Espécie Nome popular A M J J A S O N D J F M Total de
indivíduos
Amphibia
Rhinella icterica Sapo-cururu 1 1
Reptilia
Salvator merianae Lagarto-teiú 1 1 2
Aves
Piaya cayana Alma-de-gato 1 1
Ortalis squamata Aracuã-escamoso 1 1 1 3
Crotophaga ani Anu-preto 1 1
Turdus ruventris Sabiá-laranjeira 1 2 3
Columba livia Pomba-doméstica 1 1
Columbina picui Rolinha-picui 1 1
Sicalis aveola Canário-da-terra 1 1
Vanellus chilensis Quero-quero 2 1 3
Tangara sayaca Sanhaçu-cinzento 1 1
Columbina talpacoti Rolinha-roxa 1 1
Milvago chimango Gavião-chimango 2 1 3
Furnarius rufus João-de-barro 1 1
Milvago chimachima Gavião-carrapateiro 1 1
Progne chalybea Andorinha-doméstica-
grande 1 1
Mammalia
Didelphis albiventris Gambá-de-orelha-branca 35 1212 3231 1 24
Dasypus novemcinctus Tatu-galinha 2 1 3
Leopardus guttulus Gato-do-mato-pequeno 1 1
Sphiggurus villosus Ouriço-cacheiro 1 1 1 1 1 1 6
Cerdocyon thous Graxaim-do-mato 1 1 2
Cavia aperea Preá 1 1 1 3
Conepatus chinga Zorrilho 1 1
Total de espécies 23
Total de indivíduos/mês 99134310 13 17 3 2 65
Tabela 1: Espécies de vertebrados silvestres, nomes populares, número de atropelamentos mensais e
totalizações, entre os meses de abril de 2020 e março de 2021, na ERS-122.
Durante todo o período uma variável que não estava prevista para o trabalho foi
a pandemia mundial de Coronavírus (SARS-CoV-2), que direta ou indiretamente teve
impacto no número de animais atropelados. Com isso ocorreram grandes variações nas
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 9 111
amostragens durante todo o período de um ano.
Pertencente a classe dos anfíbios, foi registrado apenas um indivíduo, Rhinella
icterica (sapo-cururu), sua classicação é considerada pouco preocupante pela IUCN
(União Internacional para Conservação da Natureza). O site da ONG Amphibia Web (2021),
traz a informação sobre a espécie que ocorre na Mata Atlântica, no sul e sudeste do Brasil,
vivendo próximo a cursos de água, principalmente no seu período de reprodução, que
acontece entre os meses de agosto e janeiro. O mesmo, foi observado no mês de agosto
em um trecho próximo ao Arroio Cadeia. A observação de espécies de anfíbios atropelados
é reduzida devido ao seu tamanho corpóreo e a diculdade de identicação das carcaças,
que acabam por muitas vezes descaracterizadas.
Salvator merianae (lagarto-teiú), possui hábitos diurnos, de alimentação generalista,
que vai desde pequenos roedores a serpentes, é considerado o maior lagarto do Rio
Grande do Sul, chegando a 50 cm de comprimento (Fauna Digital do RS, 2021). Possui
atividade sazonal, hibernando entre os meses de abril a julho. Souza (2011) registrou três
indivíduos, nos meses de janeiro, novembro e dezembro, período de maior atividade da
espécie. No estudo atual os dois indivíduos foram encontrados nos meses de novembro e
janeiro, conrmando a maior movimentação da espécie durante o verão.
O grupo com maior riqueza foi as Aves, com 14 espécies diferentes registradas,
totalizando 22 indivíduos atropelados. Para quatro espécies foram registradas três
carcaças ao longo de um ano: Ortalis squamata, Turdus ruventris, Vanellus chilensis e
Milvago chimango. Estas espécies adaptaram-se bem a áreas urbanas e antropizadas,
aproveitando a atividade humana para se alimentar, costumam coletar grãos na beira das
estradas, insetos ou como no caso do M. chimango, a carcaça de outros animais.
A maioria dos registros de aves ocorreu entre a primavera e o verão, época típica
de acasalamento da maioria das espécies. A primavera é a época marcada pelo maior
número de registro de modo geral. Todas as espécies registradas no presente estudo são
consideradas pouco preocupantes segundo a IUCN, em relação à ameaça de extinção.
Em um dos primeiros estudos sobre o impacto dos veículos na avifauna do Brasil,
Rosa e Mauhs (2004), consideram que a mortalidade seja decorrente das concentrações
da vegetação arbórea-arbustiva às margens das rodovias, considerando que grande parte
dos ambientes contíguos foram transformados em áreas de cultivo e pastagens, reduzindo
a disponibilidade de locais de pouso para a avifauna. Soma-se a isto a coincidência do
maior uxo de veículos durante o dia, período de maior atividade da maioria das espécies
de aves.
No que diz respeito à classe Mammalia foram registradas sete espécies diferentes,
porém, totalizando 40 atropelamentos, ou seja, 61,5% do total de carcaças. A espécie
que apresentou o maior número de registros (24) foi o Didelphis albiventris (gambá-de-
orelha-branca), representando 37% do total de animais atropelados e dentro do grupo dos
mamíferos, concentra 60% dos atropelamentos. Seu grau de ameaça, segundo a IUCN, é
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 9 112
considerado pouco preocupante.
Assim como o gambá, o Sphiggurus villosus (ouriço-cacheiro), sofre muito com a
antropização do seu habitat, sendo a segunda espécie de Mammalia mais atingida pelos
atropelamentos, com seis carcaças, totalizando 9,2% do total de animais. Apresenta hábitos
noturnos e arborícolas, e sua principal fonte de alimentação são folhas, ores e frutos. Seu
grau de ameaça é pouco preocupante pela IUCN.
O Dasypus novemcinctus (tatu-galinha) foi registrado três vezes durante toda a
amostragem. Segundo a classicação da IUCN o tatu-galinha é avaliado como menos
preocupante, é considerada a segunda maior espécie do gênero e sendo a que apresenta a
maior distribuição geográca dentre as espécies de Xenarthra, segundo dados do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (2015).
Em maio de 2020, foi registrado o atropelamento de Leopardus guttulus (gato-do-
mato-pequeno). Segundo a IUCN é classicado como espécie Vulnerável, e apresenta
uma ampla distribuição geográca pelo Brasil, O Instituto Pró-Carnívoros (2020) esclarece
que seus hábitos são tanto diurnos como noturnos, sendo muito semelhante a um gato
doméstico, vivem solitários e de alimentação carnívora.
Em um estudo anterior, desenvolvido no mesmo trecho da rodovia, Souza (2011)
registrou 118 exemplares de craniados silvestres atropelados (Tabela 2). A espécie
mais impactada também foi Didelphis albiventris, representando 47,5% do total de
atropelamentos. Portanto, o presente estudo (com 24 registros de atropelamentos do
gambá-de-orelha-branca), corrobora os dados anteriores e conrma o atropelamento como
forte ameaça à espécie.
Souza (2011) observou dez espécies que não foram registradas no presente
estudo, porém, foram apontados oito novos registros. No somatório dos dois trabalhos,
183 exemplares foram atropelados e 33 espécies sofrem o impacto direto do trânsito na
rodovia.
Fontes dos dados
Souza, 2011 Gervasoni, 2021
Espécie Nome popular Total de
indivíduos Total de
indivíduos
Amphibia
Rhinella ictérica Sapo-cururu 1 1
Leptodactylus ocellatus Rã-manteiga 3-
Reptilia
Salvator merianae Lagarto-teiú 3 2
Aves
Piaya cayana Alma-de-gato 1 1
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 9 113
Ortalis squamata Aracuã-escamoso 1 3
Crotophaga ani Anu-preto 2 1
Turdus ruventris Sabiá-laranjeira 3 3
Columba livia Pomba-doméstica - 1
Columbina picui Rolinha-picui 1 1
Sicalis aveola Canário-da-terra - 1
Vanellus chilensis Quero-quero 23
Tangara sayaca Sanhaçu-cinzento - 1
Columbina talpacoti Rolinha-roxa - 1
Milvago chimango Gavião-chimango - 3
Furnarius rufus João-de-barro 1 1
Milvago chimachima Gavião-carrapateiro - 1
Progne chalybea Andorinha-doméstica-grande - 1
Pitangus sulphuratus Bem-te-vi 1 -
Guira guira Anu-branco 1 -
Chloroceryle americana Martim-pescador-pequeno 1 -
Coragyps atratus Urubu-de-cabeça-preta 1 -
Podager nacunda Corucão 1 -
Nyctidromus albicollis Bacurau 1 -
Mammalia
Didelphis albiventris Gambá-de-orelha-branca 56 24
Dasypus novemcinctus Tatu-galinha 8 3
Leopardus guttulus Gato-do-mato-pequeno - 1
Sphiggurus villosus Ouriço-cacheiro 6 6
Cerdocyon thous Graxaim-do-mato 92
Cavia aperea Preá 10 3
Conepatus chinga Zorrilho 1 1
Lepus capensis Lebre 1 -
Galictis cuja Furão 1 -
Procyon cancrivorus Mão-pelada 2 -
Total de espécies por ano 25 23
Total de espécies 33
Total de indivíduos por ano 118 65
Total de indivíduos 183
Tabela 2: Espécies de vertebrados silvestres atropeladas por fonte de dados, nomes populares, número
de atropelamentos e totalizações, na ERS-122.
Os trechos da ERS 122 que mais registram atropelamentos foram os Km15-Km16,
Km13-Km14, Km09-Km10 e Km16-Km17 que justos somam 35 mortes, representando
53,8% do total (Fig.3). Em comparação os trechos subsequentes, Km18-Km19 e Km19-
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 9 114
Km20 tem os menores registros, respectivamente 01 e 02 indivíduos encontrados no
trajeto, destes, o L. guttulus é a única espécie entre os quilômetros 18 a 19.
Figura 3: Número total de animais silvestres atropelados por quilômetro monitorado entre os meses de
abril de 2020 e março de 2021, na ERS-122.
No estudo de Souza (2011), os trechos mais críticos eram os Km10-Km11, Km12-
Km13, Km17-Km18 e Km18-Km19 que compreendiam 48% do total de atropelamentos,
atualmente os mesmos quilômetros representam apenas 25% do total. Portanto, temos uma
alteração nos trechos com incidências de atropelamentos, o que pode estar relacionado as
mudanças estruturais nas margens da rodovia, alterando pontos de passagens de fauna.
No local, podemos observar entre os quilômetros 18 a 20 trechos remanescentes
de mata preservada próximo à rodovia, assim como no trecho entre os quilômetros 11 a
13. A preservação destes trechos pode se explicar pela presença de curso de água, o
arroio Paradiso próximo ao quilômetro 19 e entre o trecho dos quilômetros 11 e 12 percorre
o arroio Cadeia. Com o crescimento da urbanização das cidades, os pequenos trechos
preservados acabam por concentrar a fauna local.
Os trechos mais críticos em número de atropelados cam próximos a áreas mais
urbanizadas da cidade ou com grandes construções próximo à rodovia, possuindo poucos
fragmentos de mata preservada. São trechos com maior movimento de carros e pessoas
que indiretamente podem contribuir para o número elevado de mortes.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 9 115
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo dados da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), o número de veículos
registrados no posto de pedágio do município de Portão, 681.326 veículos deixaram de
passar pelo local de 2019 para 2020, uma redução 12,7% no tráfego. O principal motivo para
esta redução é mudança do comportamento humano, em função da pandemia, conforme
noticiado no jornal NH, a região teve um decréscimo de 90% do seu tráfego, no início da
proliferação do vírus em 2020, que se deve ao decreto estadual que proíbe a aglomeração
de pessoas e a circulação de veículos de transporte coletivo interestadual.
Durante os primeiros meses do ano de 2021 o tráfego de veículos houve um pequeno
aumento de circulação de automóveis, mas não alcançando os números de registros no
período anterior a pandemia.
O isolamento social, inuenciou na diminuição do tráfego de veículos nas estradas,
desta forma, a presença da fauna nas ruas e rodovias se intensicou. Segundo o jornal
Correio Braziliense (2021), a redução do tráfego de veículos pode ter se reetido em menos
acidentes, mas aumentou consideravelmente o risco, pois, os animais acabam por sair de
suas tocas e realizar a travessia nas estradas.
O Sistema Urubu, desenvolvido pelo Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de
Estradas, mostra dados de registros de atropelamentos realizado por usuários em todo
o território brasileiro, e dentre as espécies mais afetadas se encontra o Cerdocyon thous
(Graxaim-do-mato), que de 2000 a 2020 foram encontrados 2.049 indivíduos atropelados.
As espécies de gambá (D. aurita e D. albiventris) vem logo na sequência, que juntos
somam 4.000 atropelamentos (2.032 registos para D. aurita e 1.968 para D. albiventris)
nesse período de vinte anos.
O número de atropelamentos tente a se elevar em determinadas épocas, como
períodos de acasalamento, no artigo de Rebelato (2010) sobre a Avifauna atropelada em
São Gabriel, RS, arma-se que o número de casos de acidentes com as aves aumenta
no verão, devido a maior atividade das espécies e reduzindo gradativamente nos meses
mais frios. Em espécies ameaçadas de extinção, que normalmente apresentam populações
reduzidas, mesmo a perda de poucos indivíduos pode ter reexos negativos na manutenção
da população (CUNHA ET AL., 2015).
Entretanto, o número de espécies afetadas pode ser ainda maior, pois se tem uma
diculdade grande em se observar espécies de pequeno porte de dentro do veículo em
movimento, além da possibilidade de alguns indivíduos terem saído dos limites da estrada,
não sendo visualizados e por consequência não foram registrados.
A imprudência dos motoristas com a retirada dos radares de velocidade na ERS-122
é um fator que contribui para os números atuais de atropelamentos, em 2011 o trecho de
estudo contava com quatro radares eletrônicos e somente em outubro de 2020 foi ativado
novamente um dos radares entre os Km 15-16, os demais radares foram retirados.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 9 116
Não somente os animais silvestres sofre das consequências dos atropelamentos,
mas também os domésticos, como gatos e cachorros, que durante as amostragens foram
observados mortos na estrada, mas não foram registrados neste trabalho.
Com dados obtidos pelo Comando Rodoviário da Brigada Militar (2021), durante
o período de amostragem se registram 27 acidentes no mesmo trecho, envolvendo 46
veículos, 26 pessoas feridas e 2 mortes e podemos observar que um dos trechos com mais
acidentes também é um dos que mais possui atropelamentos. No quilômetro 9 ocorreu oito
acidentes entre os meses de abril de 2020 e março de 2021 e o quilômetro 10 ocorreram
quatro incidentes, neste trecho o número de feridos foi de 14 indivíduos. O quilômetro 16
registrou uma das duas mortes que aconteceram neste período e três acidentes.
Através dos dados obtidos neste estudo podemos concluir a importância de se
aplicar medidas mitigadoras para a proteção tanto da vida silvestre como dos humanos que
utilizam a ERS 122 no seu dia a dia. A EGR, responsável pelo gerenciamento da rodovia,
possui entre o seu Projeto Básico de Gestão Ambiental (PBA) o Programa de Proteção e
Monitoramento de Fauna, que visa monitorar os impactos dos atropelamentos e propor
medidas para a diminuição ou eliminação da mortalidade da fauna silvestre, o programa é
responsável por realizar o levantamento da fauna que é atropelada, reformular e adequar
as margens das rodovias, passagens e cursos de água, além de executar atividades de
educação ambiental.
Após 10 anos pouco foi realizado para que a vida silvestre no local fosse preservada,
se faz necessário mais estudos para identicar trechos de passagem de animais para
aplicar medidas mitigatórias, como, por exemplo, túneis subterrâneos de passagem,
cercas teladas para direcionar a passagem de animais e uso de sinalização com placas
nos trechos com maior incidência de atropelamentos.
Estas ações mitigatórias precisam ser testadas e a longo prazo, assim como a
educação ambiental, apresentam excelentes resultados, porém aplicando medidas de
redução de velocidade os resultados são mais imediatos conforme Bagatini (2006). Outra
medida que parece evitar alguns atropelamentos, seria manter a vegetação baixa a margem
da rodovia, pois se amplia o campo de visão.
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A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 10 120
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 10
O MÉTODO RAPELD NA PADRONIZAÇÃO DE
AMOSTRAGENS PARA ESTUDOS DE ECOLOGIA DE
MOLUSCOS TERRESTRES
Data de submissão: 21/07/2021
Jaqueline Lopes de Oliveira
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Departamento de Zoologia. Programa de Pós-
Graduação em Ecologia e Evolução (UERJ)
Rio de Janeiro, RJ
http://lattes.cnpq.br/5006130976640524
Mariana Castro de Vasconcelos
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Departamento de Zoologia. Programa de Pós-
Graduação em Ecologia e Evolução (UERJ)
Rio de Janeiro, RJ
http://lattes.cnpq.br/8660617419665021
Sonia Barbosa dos Santos
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Departamento de Zoologia. Programa de Pós-
Graduação em Ecologia e Evolução (UERJ)
Rio de Janeiro, RJ
http://lattes.cnpq.br/0960981759851965
RESUMO: A metodologia RAPELD (Inventários
Rápidos em Projetos Ecológicos de Longa
Duração) é considerada extremamente
importante para a consolidação de pesquisas
ecológicas de longo prazo no Brasil, pois ao usar
um delineamento amostral padronizado permite
a comparação de diferentes áreas e biomas;
além da instalação rápida e relativamente de
baixo custo, esta metodologia proporciona a
investigação dos processos ecológicos que
moldam a biodiversidade em uma escala
temporal de longo prazo. O objetivo deste texto
é apresentar a metodologia desenvolvida pelo
Laboratório de Malacologia Límnica e Terrestre
da UERJ, segundo nossa experiência em uma
grade RAPELD instalada na Ilha Grande, Rio de
Janeiro, visando a padronização de coletas de
moluscos terrestres. Propusemos a utilização
de 10 pontos de coleta em cada parcela de
250m. Em cada ponto se realiza a coleta direta
durante 15min por quatro coletores buscando
por conchas e animais vivos em microhabitats
favoráveis como troncos caídos e perto de
pedras; também se recolhe a serapilheira
contida em quadrats de 25x75 cm. Em cada
ponto de coleta se obtêm dados abióticos como
a profundidade e umidade da serapilheira,
temperatura e pH do solo, temperatura e umidade
do ambiente, luminosidade e fechamento do
dossel. Esperamos que este trabalho seja um
estímulo para que outros grupos efetuem estudos
de ecologia de moluscos terrestres utilizando a
metodologia RAPELD.
PALAVRAS - CHAVE: Ecologia de moluscos,
inventários, Mata Atlântica, pesquisas de longa
duração
THE RAPELD METHODOLOGY IN THE
STANDARDIZATION OF SAMPLES FOR
ECOLOGY STUDIES OF TERRESTRIAL
MOLLUSCS
ABSTRACT: The RAPELD methodology (Rapid
Inventories in Long-Term Ecological Projects)
is considered extremely important for the
consolidation of long-term ecological research in
Brazil, because the use of a standardized sample
design allows the comparison of different áreas
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 10 121
and biomes; in addition to the rapid and relatively low-cost installation, this methodology
provides research about ecological processes that shape biodiversity in the long term temporal
scale. The aim of this text is to present the methodology developed by the Laboratory of Limnic
and Terrestrial Malacology of UERJ, according to our experience in a RAPELD grid installed in
Ilha Grande, Rio de Janeiro, aiming the standardization of collections of terrestrial snails. We
proposed the use of 10 collection points in each plot of 250m. At each point, four collectors
searching for shells and live animals, for 15 min, in favorable microhabitats such as fallen
trunks and near stones; the leaf litter contained in quadrats of 25x75 cm is also collected. At
each collection point, abiotic data such as leaf litter depth and humidity, soil temperature and
pH, ambient temperature and humidity, luminosity and canopy closure are obtained. We hope
this study could be a stimulus for other groups to carry out studies of ecology of terrestrial
snails using the RAPELD methodology.
KEYWORDS: Land snails ecology, inventories, Atlantic Forest, long-term researchs
1 | INTRODUÇÃO
Os gastrópodes terrestres formam um dos grupos de invertebrados mais ameaçados
especialmente pela destruição de habitats, introdução de espécies exóticas e alterações
climáticas (LYDEARD et al., 2004; COWIE et al., 2017); no entanto, as pesquisas sobre estes
animais ainda são insucientes, sendo de extrema importância o investimento em estudos
sobre composição, taxonomia e efeitos dos fatores ambientais sobre as comunidades de
moluscos nas regiões tropicais (NUNES; SANTOS, 2012).
Um dos fatores que dicultam a comparação de dados procedentes de diversas
regiões é a falta de padronização de metodologias de coleta, tanto em relação ao amanho
das áreas trabalhadas como em relação aos métodos de coleta utilizados. Uma revisão da
literatura mostra que cada autor trabalha com áreas diferentes e utiliza vários parâmetros
para relacionar a riqueza e abundância de moluscos em uma determinada área com as
características ambientais. Uma sugestão de padronização de coleta dos dados abióticos
foi proposta por Menez (2002).
No sentido de desenvolver uma padronização que permita a comparação da fauna
de moluscos terrestres em diferentes biomas, o Laboratório de Malacologia da UERJ iniciou
em 2012 estudos com a aplicação da metodologia RAPELD (Levantamentos Rápidos em
Pesquisas de Longa Duração) na Ilha Grande, município de Angra dos Reis, Rio de Janeiro,
situada no domínio da Mata Atlântica.
O RAPELD (componente RA inventário rápido; componente PELD – pesquisas
ecológicas de longa duração) é uma modicação do método de parcelas de 0,1 ha elaborado
por Gentry (1982), proposta por Magnusson et al. (2005) para utilização em pesquisas de
longo prazo na Amazônia brasileira, de forma a permitir inventários rápidos. A principal
modicação é que as parcelas de amostragem são longas e estreitas, com o maior eixo
orientado ao longo das curvas de nível do terreno (Figura 1). Assim, é possível minimizar
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 10 122
a variação interna de topograa e solo em cada parcela, permitindo o uso destas variáveis
como preditoras das distribuições de espécies (MAGNUSSON et al., 2005).
Figura 1: Esquema de um Sítio RAPELD conforme proposto por MAGNUSSON et al. (2010). Sistema
trilhas em forma de grade de 5 km x 5 km sobre a qual parcelas permanentes de 250m são distribuídas
sistematicamente, seguindo as curvas de nível..
Fonte: MAGNUSSON et al (2010)
O método RAPELD foi desenvolvido principalmente para o desenvolvimento de
programas de monitoramento da biodiversidade, permitindo a comparação dos mesmos
grupos biológicos em diferentes biomas brasileiros e, entre grupos diferentes em uma
mesma região. Através da metodologia RAPELD é possível fazer o inventário rápido da
fauna e da ora e obter dados padronizados, que vão atender a diferentes projetos, além de
possibilitar a integração entre diferentes estudos (pedologia, topograa, meteorologia, etc.).
A outra vantagem é a redução dos custos para a obtenção de dados, pois várias equipes
podem utilizar as mesmas parcelas e os mesmos dados, além de otimizar as coletas de
organismos (MAGNUSSON et al., 2005, 2010, 2013). Esta metodologia garante a execução
de estudos integrados que oferecem mais e maior conabilidade das informações sobre as
comunidades biológicas, fornecendo subsídios para melhorar projetos de monitoramento e
manejo para a conservação.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 10 123
As pesquisas que utilizam a metodologia RAPELD estão inseridas no Componente
Inventários do Programa de Pesquisas em Biodiversidade (PPBio), criado pelo Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em 2004 (ROSA et al., 2021) e nanciado
pelo CNPq. Atualmente existem por volta de 130 sítios de coleta instalados no Brasil, que
utilizam a metodologia RAPELD, a maioria localizada na Amazônia e na Mata Atlântica
(BERGALLO et al., 2021). Uma lista e mapa de localização de alguns dos sítios RAPELD
pode ser acessada em https://ppbio.inpa.gov.br/sitios.
“Na Ilha Grande foram instalados a partir de 2010, com a aprovação do
edital Pensa Rio (E-26/110.284/2010) da FAPERJ, com o projeto “Diversidade
Biológica na Ilha Grande: uma análise sintética dos processos e base para
pesquisas de longa duração”, concedido à Helena de Godoy Bergallo,
envolvendo uma equipe de 15 pesquisadores de seis instituições parceiras
(UERJ, PUC-Rio, JBRJ, UFF, UFRRJ, Embrapa Agrobiologia) e com o apoio do
INEA (Instituto Estadual de Ambiente). Cada módulo mede 5km², subdividido
em áreas de 1Km2. O módulo leste possui 10 parcelas (5 km2) e está inserido
no PEIG, em áreas de Floresta Ombróla Densa Submontana e Montana. O
módulo oeste possui 9 parcelas e abrange áreas de Formação Pioneira de
inuência marinha (restinga), uvio-marinha (mata alagadiça e manguezal) e
de Floresta Ombróla Densa Submontana. (PPBIO, 2021).
Atualmente a rede PPBio Mata Atlântica conta com o Núcleo regional Sudeste com
Sítios RAPELD localizados no Rio de Janeiro (Sítio Ilha Grande, Reserva Biológica do
Tinguá e Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba) e Espírito Santo (Reserva Natural
Vale e Reserva Biológica Sooretama).
Os resultados obtidos pelos diferentes sítios que utilizam a metodologia RAPELD
em grande parte focam organismos como as plantas, fungos, peixes, anfíbios, répteis,
aves, mamíferos e alguns invertebrados, especialmente os artrópodes (MAGNUSSON et
al., 2003; BERGALLO et al., 2021). Uma lista de publicações (artigos, livros, guias de
identicação entre outros), muitas delas com acesso livre disponível, é permanentemente
atualizada na página https://ppbio.inpa.gov.br/en/Publications.
2 | ESTUDOS COM MOLUSCOS UTILIZANDO A METODOLOGIA RAPELD
O Laboratório da Malacologia da UERJ foi o pioneiro na realização de levantamentos
de moluscos terrestres utilizando a metodologia RAPELD. (SANTOS et. al., 2014; OLIVEIRA;
SANTOS, 2013, 2016). Nossos estudos foram realizados no Sítio Ilha Grande, onde foram
instalados dois módulos RAPELD, um no Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG) e outro
na Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul, nomeados como Módulos Leste e Módulo
Oeste, respectivamente (Fig. 2, 3). Os trabalhos por ora foram desenvolvidos apenas no
módulo Leste. Desses estudos resultaram duas dissertações de mestrado (OLIVEIRA,
2015; VASCONCELOS, 2015), cujos resultados estão sendo organizados para publicação.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 10 124
Figura 2 - Mapa da Ilha Grande com a localização dos Módulos Leste (ML, destacado em vermelho) e
Oeste (MO), instalados segundo a metodologia RAPELD, na Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ, Brasil
Fonte: SANTOS; OLIVEIRA; VASCONCELOS (2014) - modicado.
Figura 3 – Detalhe do Módulo Leste indicando a localização das parcelas (círculos vermelhos)
instaladas segundo a metodologia RAPELD, na Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ, Brasil
Fonte: SANTOS; OLIVEIRA; VASCONCELOS (2014) - modicado
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 10 125
Em 2018, o Núcleo Regional PPBio em Humaitá – AM, realizou uma testagem de
um protocolo para coletas de moluscos terrestres e dulceaquícolas nas parcelas PPBio,
localizadas na reserva orestal de Humaitá – ACRE, com intuito de atestar a ecácia do
método. Concluíram que o protocolo garante resultados através do registro de ocorrência
de algumas espécies de gastrópodes terrestres para a região, no entanto, indicaram que
as coletas ainda não foram nalizadas (LIMA et al., 2018).
Mais recentemente Esteves et al. (2020) desenvolveram levantamento da
malacofauna terrestre, associando a riqueza, abundância e composição aos fatores
ambientais em 24 parcelas RAPELD instaladas na Reserva Biológica de Sooretema,
Espírito Santo, cujos dados, ainda não publicados, serão objeto de Tese de Doutorado do
primeiro autor.
3 | METODOLOGIA PARA COLETA DE MOLUSCOS TERRESTRES EM
PARCELAS RAPELD
3.1 Estabelecimento das parcelas
Cada parcela apresenta 250m de comprimento, seguindo as curvas de nível,
marcadas a cada 10 metros com um piquete feito com cano de PVC, para melhor
orientação (Fig. 4). As parcelas apresentam uma faixa para amostragens múltiplas, um
corredor central, uma faixa sensível e uma faixa para amostragem de árvores (Figura 5). As
coletas dos moluscos terrestres foram realizadas na faixa de amostragens múltiplas. Nas
parcelas que cruzaram terreno inapropriado como presença de rochas, leito de rio, ou muita
inclinação, aumentamos a distância entre os pontos, até que fosse possível uma boa área
para a busca dos moluscos, buscando uniformidade na amostragem. Os trechos subtraídos
foram adicionados ao nal da parcela.
Figura 4: Aspecto de trecho de corredor central de uma parcela. As setas brancas indicam os piquetes
usados para a marcação dos segmentos.
Fonte: VASCONCELOS (2015)
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 10 126
3.2 Pontos de coleta
Estipulamos os pontos de coleta a cada 25 metros, a partir do segmento zero da
parcela, totalizando 10 pontos (Figura 5). Com a trena, estabelecemos a distância de cinco
metros do corredor central para dentro da faixa para amostragens múltiplas (para reduzir o
efeito do pisoteamento do solo) e, a partir dessa distância, iniciamos a coleta dos moluscos.
Figura 5 - Esquema geral de uma parcela RAPELD. A trilha de acesso localizada a esquerda; corredor
central representado pela linha tracejada; faixa sensível representada pela cor vermelha; faixa para
amostragens múltiplas indicada pelos retângulos verdes. Posicionamentos dos quadrats para a
coleta da serapilheira representado pelos retângulos marrons. Linha preta abaixo da gura indica o
comprimento total da parcela. O colchete ao lado direito indica a distância do corredor central até a
área para a coleta direta dos moluscos. O colchete entre os quadrats indicam a distância entre eles.
Fonte: OLIVEIRA (2015)
3.3 Coleta dos moluscos
Utilizamos dois métodos distintos, a coleta de serapilheira e a coleta direta, utilizando
protocolos de coleta baseados em Monteiro e Santos (2001); Nunes e Santos (2012) e
Nunes (2013) tendo em vista ampliar a probabilidade de encontrar os moluscos.
A coleta de serapilheira tem como objetivo a detecção de microgastrópodes (COWIE
et al. 1995; MONTEIRO; SANTOS, 2001). Para isso, utilizamos um quadrat de 25 x 75cm
aplicado sobre o solo exatamente na mesma direção do segmento de marcação da parcela
(Fig. 5). Segundo Krebs (1998) os quadrats retangulares são mais ecientes em áreas
não uniformes (caso da Mata Atlântica) ou para coletar animais que não se distribuem de
modo homogêneo (caso da maioria dos gastrópodes terrestres) pois abarcam diferentes
microambientes. Toda a serrapilheira contida na área do quadrat foi removida com auxílio
de um ancinho, até que o solo casse exposto (Fig. 6).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 10 127
Figura 6 – Aspecto do quadrat após a retirada da serapilheira.
Fonte: VASCONCELOS (2015)
A serapilheira deve ser acondicionada em sacos plásticos resistentes, bem vedados,
para evitar a perda de umidade das folhas, identicados com o número do ponto e parcela
para posteriormente serem levados ao laboratório para triagem dos moluscos e secagem
da serapilheira.
Após a coleta da serapilheira, realizada em cada ponto, iniciamos a coleta direta.
Segundo Cowie et al. (1995) e Santos e Monteiro (2001) esta metodologia é a mais
eciente na captura de macrogastrópodes (dimensões maiores que 5 mm). É importante
estabelecer o número de coletores em cada campanha de coleta, determinar o tempo
para a sua amostragem e o espaçamento para a distribuição dos coletores no ponto de
busca (Figura 7). O ideal é contar sempre com os mesmos coletores, para evitar variações
no sucesso das coletas devido à inexperiência do coletor. Nós trabalhamos sempre com
quatro coletores, cada um buscando por moluscos durante 15 minutos (Fig. 7, 8).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 10 128
Figura 7.- Esquema de um segmento de 25 m da parcela demonstrando a metodologia de coleta de
direta e de serapilheira. As carinhas representam o posicionamento dos coletores
Fonte: OLIVEIRA (2015) - modicado
Figura 8: Coleta direta de moluscos. Quatro coletores buscando os moluscos vivos e conchas em um
dos pontos de coleta em uma parcela.
Fonte: VASCONCELOS (2015)
Procure os espécimes em locais preferenciais para moluscos terrestres (solo, entre a
serapilheira, galhos em decomposição, arbustos, troncos das árvores, e próximo às rochas).
Os animais vivos e conchas encontrados foram acondicionados em recipientes identicados
com o número do ponto, parcela e nome do coletor. Nós utilizamos com sucesso frascos
plásticos com tampa rosqueada, que são usados para exames laboratoriais. Cada frasco
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 10 129
foi previamente rotulado com o número da parcela e ponto, e levados em embalagens
separadas por segmento, para economia de tempo no campo. A triagem e identicação
taxonômica foram feitas no laboratório, com auxílio da bibliograa (catálogos e artigos).
3.4 Triagem e curadoria
Para a triagem dos moluscos utilizamos bandejas brancas, pincéis, pinças, placas-
de-Petri e lupa. A serapilheira armazenada nos sacos plásticos foi distribuída nas bandejas
e com auxílio das pinças, pincéis e a lupa, vistoriamos minuciosamente folhas, galhos
e cascas, para a busca dos micromoluscos (vivos ou somente conchas). Enquanto essa
triagem é realizada, folhas e galhos já vão sendo separados em sacos distintos.
Os espécimes encontrados eram colocados em placas-de-Petri identicadas com
o número da parcela e do ponto. Os espécimes vivos devem ser anestesiados, xados
e preservados em álcool a 70º GL, segundo a técnica básica descrita por Thomé (1975).
As conchas vazias, após uma lavagem prévia em água pura, dependendo do tamanho
podem ser levemente escovadas com pincel macio para retirar resíduos de terra. Após, são
individualmente inseridas em um saco plástico pequeno com água, e colocadas na cuba
de ultrassom (sonicador), durante intervalos de um minuto, a m de remover as impurezas
aderidas em sua superfície. Posteriormente, são colocadas em placa-de-Petri, forrada com
papel absorvente, protegida da poeira, para que sequem completamente. Após a secagem
total, que leva de um a quatro dias, dependendo do tamanho da concha, são armazenadas
em frascos ou eppendorfs de tamanhos adequados, e etiquetadas com os dados da coleta.
A triagem e a curadoria são etapas que exigem o máximo de atenção, para que não se
dissocie os dados de campo de cada exemplar, sob o risco de se invalidar o dispêndio de
trabalho e dinheiro realizados em uma expedição.
Ao nal, todo o material coletado deve ser depositado em uma Coleção Cientíca.
Mesmo que não estejam todos os exemplares plenamente identicados, eles servirão
para estudos futuros. Não tem sentido, e não é ético, retirar material da natureza se não
houver cuidado na destinação do mesmo. No nosso estudo, as conchas e partes moles
foram depositadas na Coleção Cientíca de Moluscos da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro (UERJ).
4 | COLETA DOS DADOS ABIÓTICOS
É fundamental que a expedição de campo seja bem planejada, com a preparação
prévia das planilhas de campo (Fig. 9). A correta obtenção e anotação dos dados vão
permitir a obtenção de resultados dedignos. Utilize papel de boa qualidade e lápis preto
de traço forte.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 10 130
Figura 9. Exemplo de uma planilha de campo
Os dados abióticos devem ser obtidos antes da retirada da serapilheira (Fig, 10).
Dentro da área do quadrat faça as mensurações da temperatura do solo e do ambiente,
umidade do ar, profundidade da serapilheira, pH do solo, fechamento do dossel,
luminosidade e percentual de umidade da serapilheira.
4.1 Temperatura do solo
Utilizamos termômetro de solo digital inserido totalmente no solo durante 10 minutos.
4.2 Umidade e temperatura do ar
Utilizamos higrotermômetro digital. O aparelho foi colocado ao lado do quadrat
durante o tempo de coleta estabelecido; mensuramos os valores máximo, médio e mínimo
da temperatura do ambiente e da umidade do ar.
4.3 Profundidade da serapilheira
As medidas de profundidade foram feitas com um profundímetro (palito de churrasco
marcado a cada 0,5cm). O palito deve ser inserido na serapilheira depositada na área do
quadrat até que encontre a resistência do solo. Faça cinco medidas, uma em cada ângulo
do quadrat e outra no ponto central, para calcular a média.
4.4 Fechamento do dossel
Utilizamos o densiômetro esferoidal, aparelho que possui um espelho côncavo com
uma grade de 24 quadrados, os quais reetem a copa das árvores. Com o observador
posicionado sobre o quadrat, após retirada a serapilheira, foram obtidas quatro medidas, com
o observador se direcionando aos pontos cardeais (norte, sul, leste e oeste). Posteriormente
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 10 131
os valores foram somados, divididos por quatro (média) e o resultado multiplicado pelo
fator de correção do aparelho (1,04) para se obter o percentual de fechamento do dossel
para cada ponto. Esta medida exige treinamento, pois é necessário que o aparelho que
nivelado em relação ao observador e, o ideal é que seja sempre a mesma pessoa a tomar
os dados. Consulte Freitas et al. (2017).
4.5 Luminosidade
Utilizamos um luxímetro digital, posicionado cerca de 50 cm acima do quadrat.
4.6 PH do solo
Após a retirada da serapilheira, este foi obtido utilizando um pHmêtro digital de solo.
4.7 Percentual de umidade da serapilheira
Após a triagem dos moluscos, colocamos a serapilheira em sacos de papel
identicados e previamente pesados (utilize balança de precisão), para o desconto no
peso total. Durante a triagem dos moluscos, as folhas e os galhos foram separados em
sacos de papel diferentes para uma secagem mais eciente. Pesamos a serapilheira úmida
e levamos para a estufa. Vericamos o processo de secagem a cada duas horas até a
estabilização do peso, o que leva cerca de 48 horas. A diferença entre o peso úmido e o
seco nos fornece o percentual de umidade da serapilheira.
Figura 10: Obtenção dos dados dos fatores abióticos dentro da área dos quadrats. Uma coletora
obtendo a profundidade do folhiço, enquanto o termohigrômetro está apoiado no quadrat. Outra
coletora anota os dados na planilha.
Fonte: VASCONCELOS (2015)
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 10 132
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esperamos que este trabalho possa estimular outros grupos a desenvolverem
pesquisas em ecologia de moluscos utilizando a metodologia RAPELD não em outras
áreas de Mata Atlântica, mas também em outros biomas. Esta metodologia tem um papel
fundamental na realização de inventários, os quais são necessários para um reconhecimento
da real diversidade de moluscos em nosso país, cuja malacofauna terrestre seguramente
é subestimada. Outra relevância é compreender melhor os fatores, tanto bióticos como
abióticos, que determinam a distribuição dos diversos grupos de moluscos.
Para estes estudos, contamos com excelentes obras de estatística e análise de
dados ecológicos que devem ser consultados, como por exemplo os clássicos Magurran
(1988, 2013), Underwood (1997) e Zar (1998). Na página do PPBIO (https://ppbio.inpa.gov.
br/inicio) os leitores podem encontrar abundante bibliograa que serve de inspiração para
a construção de hipóteses diversas.
AGRADECIMENTOS
Nossos agradecimentos à FAPERJ pelo suporte nanceiro à SBS para os
trabalhos na Ilha Grande (E-26/110.430/2007, E-26/110.402/2010, E-26/110.362/2012
e E-26/111.573/2013) e também como parceira do E-26/010.0011639/2014-PPBIO Mata
Atlântica; ao Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADES/PR2/
UERJ) pelo suporte e infraestrutura; à Capes pelas bolsas de mestrado concedidas à JLO
e MCV; à Profa. Dra. Helena de Godoy Bergallo, Coordenadora do PPBio-Mata Atlântica
pelo incentivo à adoção da metodologia RAPELD; a todos os estagiários que ao longo do
tempo colaboraram com a pesada rotina de campo e laboratório durante as expedições,
em especial a Luis Eduardo Lacerda, Igor C. Miyahira, Renata Ximenes, Renata Braga
e Isabela Gonçalves. Todo o trabalho foi desenvolvido sob as licenças INEA 18/2007 e
SISBIO 10812-1.
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ZAR, J. H. Biostatistical Analysis. New Jersey: Prentice-Hall. 663 p., 1999.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 11 135
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 11
TENDÊNCIAS DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA
BRASILEIRA SOBRE A PLANTA ANREDERA
CORDIFOLIA
Data de submissão: 06/09/2021
Elisa Vanessa Heisler
Universidade Federal de Santa Maria,
Doutoranda em Enfermagem, Santa Maria, RS.
https://orcid.org/0000-0001-5438-0983
Fernanda Trombini
Universidade Federal de Santa Maria,
Mestranda em Enfermagem, Santa Maria, RS.
https://orcid.org/0000-0003-0240-9726
Ivana Beatrice Mânica da Cruz
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Morfologia, Santa Maria, RS.
https://orcid.org/0000-0003-3008-6899
Marcio Rossato Badke
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Enfermagem
Santa Maria, RS.
https://orcid.org/0000-0002-9459-1715
Juliano Perottoni
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Zootecnia e Ciências
Biológicas
Palmeira das Missões, RS
https://orcid.org/0000-0003-3115-6203
Nathália Cardoso de Afonso Bonotto
Universidade Federal de Santa Maria,
Programa de Pós-Graduação em Gerontogia
Santa Maria, RS.
https://orcid.org/0000-0003-3733-3549
Thamara G. Flores
Universidade Federal de Santa Maria,
Programa de Pós-Graduação em Farmacologia,
Santa Maria, RS.
https://orcid.org/0000-0002-2748-1612
Neida Luiza Kaspary Pellenz
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Enfermagem, Santa Maria,
RS.
https://orcid.org/0000-0001-6373-9249
Jacqueline da Costa Escobar Piccoli
Universidade Federal do Pampa
Uruguaiana, RS
https://orcid.org/0000-0003-0328-446X
Fernanda Barbisan
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Patologia, Santa Maria, RS.
https://orcid.org/0000-0002-2960-7047
Maria Denise Schimith
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Enfermagem, Santa Maria,
RS.
https://orcid.org/0000-0002-4867-4990
RESUMO: A Anredera cordifolia é uma espécie
nativa do Brasil, de ocorrência em vários estados,
mas não endêmica. É reconhecida como uma
Planta Alimentícia Não Convencional (PANC)
e utilizada pela medicina popular para ns
terapêuticos. Esta revisão de literatura teve como
objetivo desenvolver a análise das tendências
cientícas nacionais acerca da planta Anredera
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 11 136
cordifolia. A presente revisão caracteriza-se como um estudo de natureza descritiva,
desenvolvido por meio de uma revisão narrativa de literatura. Os resultados foram obtidos
por meio de busca online, realizada de julho a agosto de 2021 no Catálogo de Teses e
Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e
na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD). Foram selecionadas, conforme critérios
de inclusão, quatro produções. Os resultados dos estudos analisados apontam que a área do
conhecimento que vêm desenvolvendo estudos brasileiros sobre a planta Anredera cordifolia
é as Ciências Agrárias. Resultando em tendências relacionadas a importância alimentar da
espécie e potencialidades agronômicas da planta. Este estudo evidenciou como principal
lacuna do conhecimento a falta de estudos nacionais com interesse nas propriedades
medicinais da Anredera cordifolia, demonstrando ausência de teses e dissertações
provenientes de Programas de Pós-Graduação da área da saúde. A tese e as dissertações
analisadas contribuíram com conhecimentos cientícos e inferências importantes para
a construção epistemológica de objetos de pesquisa úteis ao desenvolvimento de novos
estudos sobre a planta Anredera cordifolia.
PALAVRAS - CHAVE: Anredera cordifolia. Propriedades, Plantas.
TRENDS IN BRAZILIAN SCIENTIFIC PRODUCTION ABOUT THE PLANT
ANREDERA CORDIFOLIA
ABSTRACT: Anredera cordifolia is a plant species native to Brazil, that grows in several states,
but not endemically. It is recognized as a Non-Conventional Food Plant (PANC) and is used
for therapeutic purposes in folk medicine. The aim of this review is to establish the general
trend in scientic research focusing on Anredera cordifolia. This review is characterized
as a descriptive study, developed through a narrative literature review. The results were
obtained through an online research, carried out from July to August 2021 in the Theses
and Dissertations Catalog of the Coordination for the Improvement of Higher Education
Personnel (CAPES) and in the Digital Library of Theses and Dissertations (BDTD). According
to inclusion criteria, four publications were selected. The results of the included studies show
that the work exploring the Anredera cordifolia plant has been focused specically on agrarian
sciences, resulting in trends related to the importance of the species as a food crop and it’s
agronomic potential. This review highlights critical knowledge gap, a lack of national studies
with interest in the medicinal properties of Anredera cordifolia as shown by the absence of
theses and dissertations from graduate programs in the medical eld. The analyzed theses
and dissertations contributed to scientic knowledge and provided important inferences for
the epistemological construction of research projects benecial for the development of novel
studies on the Anredera cordifolia plant.
KEYWORDS: Anredera cordifolia. Properties. Plants.
1 | INTRODUÇÃO
A utilização da natureza com ns terapêuticos e nutricionais são práticas intrínsecas
a história humana, com destaque para as plantas, as quais são historicamente importantes
como toterápicos e amplamente utilizadas no desenvolvimento de novos fármacos. Segundo
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 11 137
a Organização Mundial de Saúde (OMS), 85% da população mundial faz uso de plantas ou
preparações destas, nos seus cuidados básicos à saúde (BRASIL, 2012). Neste sentido,
o Brasil é o país detentor da maior biodiversidade mundial, somando aproximadamente 50
mil espécies de plantas nativas. Os potenciais terapêuticos e nutricionais destas espécies
são reconhecidos pela medicina tradicional e cientíca (BRASIL, 2012; FIORAVANTI,
2016). Tal qual, a planta Anredera cordifolia (Ten.) Steenis, uma espécie nativa do Brasil,
de distribuição geográca conrmada nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste,
não sendo caracterizada como endêmica por ser naturalizada também em outros países
(PELLEGRINI & IMIG, 2020).
Pertencente à família Basellaceae, a planta Anredera cordifolia é uma espécie
perene, se apresenta como uma trepadeira rizomatosa e ramicada. Seu caule é suculento,
no, atinge até 6,0 metros de comprimento e produz estruturas vegetativas em sua haste,
denominadas bulbilhos aéreos que são responsáveis pela dispersão dessa espécie
(GREGORIO, 2020, SOUZA, 2014). Suas folhas são alternas, de cor verde-escuro-brilhante
e formato largo-ovaladas ou em forma de coração (Figura 1). As ores são pequenas,
numerosas e de coloração esbranquiçada ou creme e são intensamente perfumadas. A
produção de frutos é muito rara e esta espécie se propaga, quase que exclusivamente, de
modo vegetativo (KINUPP et al., 2013; CORDEIRO, 2021). É cultivada na sua grande parte
por agricultores familiares que conservam o conhecimento popular sobre o seu cultivo e
consumo com intuito medicinal e nutricional (BRASIL, 2012; HEISLER, 2012).
Figura 1: Anredera cordifolia. O gênero Anredera origina-se do espanhol enredadera, que signica
trepadeira. O epiteto especíco, cordifolia, provém da junção das palavras latinas cordis (coração) e
fólium (folha), e é uma referência direta ao formato em coração de suas folhas (CORDEIRO 2021).
Fonte - Arquivo pessoal da autora, Santa Maria, 2021.
A espécie é de crescimento rápido e se alastra facilmente, o que faz com que
seja considerada uma espécie daninha, invasiva e nociva ao ambiente pois ela utiliza
outras árvores e vegetações como suporte, inviabilizando o crescimento destas. Pode
provocar também sombreamento em grandes áreas, o que pode impedir a germinação e o
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 11 138
desenvolvimento da vegetação (ALBA, 2019; CORDEIRO 2021).
A Anredera cordifolia é mundialmente conhecida por “Madeira vine” (CORDEIRO,
2021). No entanto, pode receber diversos outros nomes, como os encontrados em estudos
nacionais e internacionais: “Madeira vine” (América do Sul), “Binahong” (Indonésia) e “Dhen
San Chi” na China. No Brasil a espécie é reconhecida popularmente por “Bertalha coração”,
“Folha-gorda” e “Madeira Vine” (HEISLER et al., 2012; KINUPP et al., 2013).
No Brasil, a espécie é reconhecida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento como uma Planta Alimentícia Não Convencional (PANC), que pode ser
utilizada na alimentação humana por se tratar de uma espécie com alto valor nutricional
(BRASIL, 2017). Suas folhas podem ser consumidas in natura, refogadas, ou secas e
trituradas, usadas como farinha na produção de pães, pois é considerada um alimento
nutracêutico. Não possui toxidez e pode ser usada sem restrições, com alto valor nutritivo
devido aos altos percentuais de ferro, cálcio e zinco. Os tubérculos, tanto aéreos como
subterrâneos, podem ser cozidos, picados e adicionados em alimentos comuns, como
suplemento nutricional (CORDEIRO 2021; MARTINEVSKI et al., 2013).
Na medicina popular, a Anredera cordifolia é utilizada para o cuidado e tratamento
de lesões de pele, por meio de suas folhas que são aquecidas e utilizadas de modo tópico
(HEISLER et al., 2012). Sabe-se também que apresenta comprovada atividade anti-
inamatória, antibacteriana, anti-úlcera e cicatrizante (YUNIARTI & LUKISWANTO, 2017;
SOUZA et al., 2014; NXUMALO et al., 2020).
Destarte, torna-se importante a vericação de tendências das produções cientícas
brasileiras, em teses e dissertações, acerca da espécie Anredera cordifolia, considerando
os possíveis potenciais terapêuticos da planta e os benefícios da biodiversidade brasileira
para a saúde humana. A identicação de lacunas existentes pode colaborar com a
construção de projetos, que possam ser desenvolvidos pela enfermagem e outros cursos
da área da saúde, que possibilitem a utilização segura desta planta no contexto terapêutico
e nutricional da saúde humana. A partir do exposto, o presente estudo tem como objetivo
desenvolver a análise das tendências cientícas nacionais acerca da planta Anredera
cordifolia.
2 | MÉTODO
A presente revisão caracteriza-se como um estudo de natureza descritiva,
desenvolvido por meio de uma revisão narrativa de literatura que buscou as tendências
nacionais da planta Anredera cordifolia. Optou-se pela revisão narrativa tendo em vista,
que os artigos com esta abordagem metodológica almejam fundamentar estudos futuros,
descrever e discutir o desenvolvimento ou o “estado da arte” de um determinado assunto,
constituindo-se de análise da literatura, análise crítica e interpretativa dos autores (MATTOS,
2015; ROTHER, 2007).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 11 139
A busca das produções e análise dos resultados foram realizadas por dois revisores,
de modo duplo independente, e considerou-se a seguinte questão: quais são as tendências
das produções cientícas nacionais acerca da planta Anredera cordifolia? O levantamento
bibliográco ocorreu de julho a agosto de 2021, no Catálogo de Teses e Dissertações da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e na Biblioteca
Digital de Teses e Dissertações (BDTD). Para as buscas foram testadas várias estratégias,
contudo, o nome cientíco da planta demonstrou melhor resultado, sendo elencado como
estratégia o termo “Anredera cordifolia”. Após a busca realizou-se a exclusão dos estudos
duplicados nas duas bases de dados.
Para a seleção das produções, foram estabelecidos como critérios de inclusão:
resumos completos das teses e dissertações, estudos disponíveis na íntegra e online, que
abordassem no título ou no resumo a planta Anredera cordifolia. Não se elencou um recorte
temporal no intuito de realizar um levantamento geral das produções cientícas brasileiras
sobre a temática, nestas bases de dados.
Para a extração dos dados pertinentes ao estudo foi desenvolvido um quadro
sinóptico, constituído pelas seguintes variáveis: autor/ano e grau acadêmico, título,
instituição de ensino/programa de pós-graduação, objetivo do estudo/principais achados,
delineamento metodológico e contexto do estudo.
A análise crítica das produções compreendeu a leitura dos estudos na íntegra,
exploração do material, tratamento dos resultados e interpretação por meio de discussão
com materiais de referência na área. Os resultados foram apresentados de maneira
descritiva, explicitados por meio de um uxograma (Figura 1) e de um quadro (Quadro 1)
para melhor compreensão pelo leitor.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados de teses e dissertações emergentes das buscas estão sumarizados
no uxograma a seguir (Figura 1).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 11 140
Figura 1 – Fluxograma representativo do resultado das buscas, Santa Maria, RS, 2021.
Fonte: próprio autor, Santa Maria, 2021
A partir da extração e análise de dados nos quatro estudos selecionados, foi possível
evidenciar as tendências da produção cientíca a respeito da planta Anredera cordifolia. A
tese e dissertações encontradas estão sumarizadas no Quadro 1.
Autor/ano/Grau
acadêmico Título Objetivo e principais resultados Delineamento
metodológico/
contexto
VIANA, M.M.S
(2013)
Dissertação
Potencial nutricional,
antioxidante e
atividade biológica
de hortaliças não
convencionais
Avaliar o conteúdo de compostos bioativos
e o potencial nutricional de hortaliças não
convencionais e a capacidade antioxidante
e atividade biológica de extratos toquímicos
provenientes de hortaliças não convencionais.
Componentes proteicos, minerais e compostos
bioativos encontrados nas hortaliças não
convencionais, caracterizam-nas como de
elevado potencial nutricional, podendo o seu
consumo trazer benefícios à saúde.
Estudo
experimental,
com análise
quantitativa.
Laboratorial
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 11 141
SOUZA, L.F. (2014)
Tese
Aspectos totécnicos,
bromatológicos
e componentes
bioativos de Pereskia
aculeata, Pereskia
grandifolia E
Anredera cordifola
Gerar conhecimento básico e aplicado sobre
Pereskia aculeata Miller, Pereskia grandifolia
(Haw) e Anredera cordifolia (Ten.) Steenis,
possibilitando a utilização destas plantas
em programas de Segurança Alimentar e
Nutricional.
Anredera cordifolia apresentou alto valor
proteico (21,05%) em base seca; apresentou
signicativo teor de potássio; bom aporte
de vitamina C; o óleo essencial estimulou a
germinação de S. arvensis; o óleo essencial
mostrou atividade inibitória contra agentes
Gram-positivos.
Estudo
experimental,
com análise
estatística/
quantitativa.
Laboratorial
TEIXEIRA,B.A
(2018)
Dissertação
Bioprodução de
toquímicos em
plantas alimentícias
não convencionais
(PANC) nas quatro
estações do ano
Avaliar a inuência da época de colheita
na bioprodução de toquímicos e nas
características físico-químicas das plantas
alimentícias não convencionais e realizar uma
análise do perl de toquímicos durante as
quatro estações.
Houve interação signicativa entre as estações
do ano e as plantas em quase todas as variáveis
analisadas.
Estudo
experimental,
com análise
estatística/
quantitativa.
Laboratorial
GREGORIO, J.P.R.S.
(2020)
Dissertação
Propagação e
controle de Anredera
cordifolia (Ten.)
Stennis
Gerar conhecimento sobre a espécie Anredera
cordifolia, possibilitando a utilização dos
resultados para descrição e caracterização de
aspectos da propagação, como também o seu
controle quando uma planta invasora.
Foi demonstrada ecácia de cerca de 80% de
controle das plantas A. cordifolia submetidas à
mistura de herbicidas glifosato + saufenacil.
A ecácia dos herbicidas testados em pré-
emergência não mostrou controle.
Estudo
experimental,
com análise
quantitativa.
Laboratorial
Quadro 1 – Caracterização da tese e dissertações brasileiras referente a planta Anredera cordifolia.
Santa Maria, RS, 2021.
Fonte: próprio autor, Santa Maria, 2021
Ao analisar o Quadro 1, observa-se que das quatro produções, uma tese e três
dissertações, abordando a temática Anredera cordifolia. Tais pesquisas foram desenvolvidas
em três universidades brasileiras, sendo as três universidades públicas. Com destaque
para a Universidade Federal de São João Del-Rei (Sete Lagoas-MG) com dois estudos,
seguida pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre-RS) e Universidade
Federal de São Carlos (Araras-SP) que apresentaram uma dissertação cada, sobre o tema.
O que evidência que os estudos estão sendo desenvolvidos nas regiões Sul e Sudeste do
país.
Em relação à área do conhecimento, em sua totalidade, as produções cientícas
foram desenvolvidas por Programas de Pós-Graduação em Ciências Agrárias (VIANA,
2013; SOUZA, 2014; TEIXEIRA, 2018; GREGORIO, 2020). Constatou-se ausência de
produções no âmbito dos programas de Pós-Graduação da área da saúde.
Quanto ao ano de publicação, observou-se que os primeiros estudos foram
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 11 142
publicados nos anos de 2013 (VIANA, 2013) e 2014 (SOUZA, 2014), após um lapso de
tempo (três anos), houve publicações de dissertações em 2018 e 2020 (TEIXEIRA, 2018;
GREGORIO, 2020). Apesar de ser um tema pouco pesquisado em teses e dissertações
brasileiras, observa-se que nos últimos cinco anos vêm crescendo o interesse sobre a
Anredera cordifolia por pesquisadores de outros países, como Indonésia e África do Sul,
os quais estão evidenciando a efetividade das propriedades da planta na cicatrização de
lesões de pele, no tratamento de catarata, indicando atividades antibacterianas e anti-
inamatória (FERIYANI et al., 2021; NXUMALO et al., 2020; YUNIARTI & LUKISWANTO,
2017).
No que se refere ao delineamento metodológico, os estudos, na totalidade,
apresentaram delineamento experimental com foco em análise estatística/quantitativa e
foram desenvolvidos em ambiente laboratorial. Evidenciando-se que os estudos relacionados
a planta Anredera cordifolia seguiram a corrente epistemológica do pensamento positivista,
a qual refere-se ao que é descoberto por meio de experiências atendo-se a aspectos
objetivos e racionais que podem ser generalizados. Tais parâmetros da corrente positivista
são amplamente utilizados nos estudos cientícos tendo por base métodos estatísticos e
testes de hipóteses (GALVÃO et al., 2016).
3.1 Tendências Cientícas Sobre a Planta Anredera Cordifolia
A partir da análise realizada na tese e dissertações selecionadas para o estudo,
é possível armar que a tendência cientíca nacional sobre a planta Anredera cordifolia
está centrada em pesquisas sobre: propriedades nutricionais e antioxidantes, atividade
biológica e química, caracterização morfológica e manejo da espécie no Brasil (VIANA,
2013; SOUZA, 2014; TEIXEIRA, 2018; GREGORIO, 2020).
O interesse pelo potencial nutricional da Anredera cordifolia se justica pelo fato
da espécie ser reconhecida como uma Planta Alimentícia Não Convencional (PANC)
(BRASIL, 2017). As PANC são espécies nativas ou cultivadas cujas partes consumidas
não são comuns ou convencionalmente utilizadas na alimentação humana. As mesmas
possuem grande importância ecológica e econômica, por serem adaptadas a condições de
solo e clima local, características importantes para o melhoramento genético (BIONDO et
al., 2018).
Em relação às propriedades da Anredera cordifolia, os estudos evidenciam potencial
nutricional e antioxidante. Em estudo desenvolvido por Souza (2014), a planta apresentou
alto teor proteico (21,05%) quando comparada a outras espécies como P. aculeata (14,38%)
e a P. grandifolia (14,96% ). O autor reforça, que diante da importância da proteína para
o organismo humano e da necessidade de se descobrir novas fontes de proteína vegetal,
as folhas de Anredera cordifolia demonstran-se como fontes promissoras. A espécie
apresenta ainda, altos teores de fósforo, magnésio, ferro e potássio, podendo contribuir
para a formação óssea, controle hidroeletrolítico e na formação de hemoglobina, por meio
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 11 143
do ferro (SOUZA, 2014). Os estudos também destacam o elevado teor de cinzas, que está
relacionado com a concentração de minerais nas plantas, e percentual considerável de
bra e carboidratos, podendo assim contribuir na melhoria da dieta dos brasileiros, tendo
em vista a maioria consomem poucas frutas, verduras e legumes e que mais da metade
tem escassez de bras alimentares em suas dietas (SOUZA, 2014; VIANA, 2013). Esses
dados corroboram com os apresentados por Martinevski et al. (2013), em que as folhas da
Anredera cordifolia também apresentam signicativo teor de cinzas, bras e carboidratos.
Em seu estudo, Souza (2014), relata que os teores de vitamina C encontrados em
suas folhas foram satisfatórios, sendo superior ao de outras plantas pesquisadas, resultado
este divergente ao observado por Teixeira (2018).
Quanto ao seu poder como agente antioxidante, três produções evidenciaram o
potencial (VIANA, 2013; SOUZA 2014; TEIXEIRA, 2018). A Anredera cordifolia apresenta
também, um dos maiores valores de β-caroteno comparando a outras hortaliças não
convencionais (VIANA, 2013). Esse dado vai ao encontro do estudo realizado por Batista et
al. (2006), no qual a planta pesquisada recebeu destaque pelo seu teor de β-caroteno. Além
disso, quanto à presença de compostos bioativos, que inuenciam diretamente na atividade
antioxidante, Souza (2014) evidencia que a planta se apresentou satisfatória como agente
antioxidante nas suas diferentes concentrações, extrações e formas de armazenamento.
Dentre os compostos fenólicos totais, o ácido caféico foi o composto predominante em
suas folhas (TEIXEIRA, 2018). O ácido caféico atua como antioxidante e anti-inamatório,
além de melhorar a sensibilidade à insulina e possuir propriedades anti-obesidade, reduzir
a síntese de colesterol e de ácidos graxos (BOCCO, 2013).
Frente às comprovadas propriedades nutricionais da planta Anredera cordifolia,
Souza (2014), reforça a importância do incentivo ao consumo alimentar da espécie tendo
em vista que são culturas de baixo custo, fácil disponibilidade e valor nutritivo.
Outra linha de interesse sobre a espécie Anredera cordifolia evidenciada na tese
e dissertações analisadas, está relacionada ao seu interesse agronômico, pois a mesma,
por suas características de disseminação e crescimento, vem se tornando uma possível
ameaça para a agricultura brasileira, sendo considerada uma erva daninha, sinalizando
prejuízos econômicos aos agricultores (GREGORIO, 2020).
A partir desta problemática observada nas regiões Sul e Sudeste do país, Gregorio
(2020) e Souza (2014), investigaram características de propagação e controle da planta.
Os estudos evidenciaram que, quanto ao crescimento e desenvolvimento da planta, a
profundidade do plantio está diretamente relacionada com a emissão de novas plantas e que
a sua propagação pode ser tanto por tubérculos aéreos, quanto por estacas (GREGORIO,
2020; SOUZA, 2014).
Para a produção de mudas, Souza (2014) concluiu que substrato comercial, como
a turfa fértil, e adição de casca de arroz, mostrou-se efetivo para o maior desenvolvimento
das mesmas, e que para o controle pós-emergência das plantas, uma mistura com glifosato
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 11 144
e saufenacil tem ecácia no seu controle (GREGORIO, 2020).
Quanto aos fatores que inuenciam no desenvolvimento e crescimento da planta
após o plantio, Teixeira (2018) que estudou as PANC nas quatro estações do ano, concluiu
que a Anredera cordifolia apresenta intensicação na coloração das folhas no inverno.
Esse dado pode estar relacionado aos resultados do estudo desenvolvido por Alba (2020),
em que vericou que as folhas da planta coletadas nas estações mais frias do ano (outono/
inverno) apresentaram maiores concentrações de compostos fenólicos e maior capacidade
sequestradora de radical livre (ALBA, 2020).
Referente a colheita, o estudo de Teixeira (2018) concluiu que a época em que é
realizada pode inuenciar na produção de metabólitos secundários dependendo da estação
do ano em que for realizada. Além disso, a planta apresenta alto teor de umidade, sendo
esse conhecimento fundamental, visto que acaba interferindo diretamente na conservação,
prolonga a vida na pós colheita e mantém a qualidade da matéria, já que as mesmas são
vendidas e/ou consumidas in natura (SOUZA, 2014).
Souza (2014) evidenciou que o óleo essencial da Anredera cordifolia mostrou
atividade inibitória contra agentes patogênicos Gram-positivos, como Bacillus subtilis
e Staphylococcus epidermidis. Esse dado corrobora com os resultados de uma revisão
bibliográca realizada sobre as propriedades da Anredera cordifolia, na qual evidenciou-se
que o extrato obtido por meio das raízes ou das folhas da planta inibiram o crescimento
de várias bactérias, incluindo as identicadas por Souza (2014) (ALBA, PELEGRIN,
SOBOTTKA, 2020).
Por m, apesar da planta Anredera cordifolia ser utilizada pela cultura popular com
ns medicinais (HEISLER et al., 2012) e de haver estudos nacionais e principalmente
internacionais, conrmando propriedades farmacológicas da espécie, com destaque para a
Indonésia, onde inclusive estão sendo desenvolvidos medicamentos de uso tópico com o
extrato da planta (FERIYANI et al., 2021; SOUZA et al., 2014; YUNIARTI & LUKISWANTO,
2017), esta revisão demonstrou a lacuna existente em estudos nacionais com nalidade
medicinal, bem como, estudos desenvolvidos por cursos da área da saúde, em teses e
dissertações. Enfatizando a importância de novos projetos de pesquisa sobre a espécie, que
possam contribuir na promoção da saúde e no desenvolvimento de práticas populares. Além
disso, a produção de novos toterápicos pode abranger maior acesso aos medicamentos,
como também exploração sustentável dos recursos naturais (ALBA, 2020).
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo das tendências de dissertações e tese brasileira sobre a planta Anredera
cordifolia, possibilitou compreender os avanços e lacunas das pesquisas cientícas sobre a
temática, apontando que as tendências brasileira sobre a espécie estão direcionadas para
a importância alimentar e manejo agronômico da planta no Brasil, observando-se como
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 11 145
principal lacuna do conhecimento a falta de estudos nacionais com interesse nas propriedades
medicinais da Anredera cordifolia, resultando na ausência de teses e dissertações
provenientes de Programas de Pós-Graduação da área da saúde. A tese e as dissertações
analisadas contribuíram com conhecimentos cientícos e inferências importantes para a
construção epistemológica de objetos de pesquisa úteis ao desenvolvimento de novos
estudos sobre a temática. Aponta-se como limitação desta revisão a pequena amostra de
teses e dissertações disponíveis para análise, o que não permitiu inferências conáveis de
ordem quanticável a respeito dos resultados. Por m, acreditando no potencial terapêutico
da espécie Anredera cordifolia, reiteramos a importância da realização de estudos por
prossionais da enfermagem e outras áreas da saúde, na busca de evidências cientícas
para o uso seguro e racional da mesma, aproximando o saber cientíco do conhecimento
tradicional.
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Capítulo 12 148
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 12
PINHEIROS INVASORES NO CERRADO:
ESTRUTURA DAS POPULAÇÕES E SUGESTÃO DE
MANEJO USANDO O MODELO MATRICIAL
Data de submissão: 20/09/2021
Emilia Pinto Braga
Universidade de Brasília
Brasília – Distrito Federal
http://lattes.cnpq.br/3243231920364239
RESUMO: No Brasil, espécies do gênero Pinus
tem atuado como invasoras em diferentes
ecossistemas, inclusive em Unidades de
Conservação. No Jardim Botânico de Brasília
(JBB), que faz parte de uma Área de Proteção
Ambiental de Cerrado, duas espécies de
pinheiros, Pinus caribaea e Pinus oocarpa, tem
se disseminado em vegetação nativa, tendo
estabelecidas populações autossustentáveis,
das quais se desconhecem suas dimensões
e seus efeitos. O objetivo desta pesquisa
foi descrever as estruturas das populações
invasoras de Pinus caribaea e Pinus oocarpa
e propor manejo para controle e exclusão.
As populações foram amostradas utilizando
transecões perpendiculares às plantações e
os indivíduos encontrados foram marcados,
medidos e identicados. Foram realizados
dois levantamentos para descrever estruturas
populacionais e montar uma matriz de transição
dos estágios de vida de cada população. As
matrizes foram utilizadas para simular ações de
manejo das populações invasoras. A população
de P caribaea teve um incremento de 9% no
intervalo de um ano (λ=1,09), enquanto P.oocarpa
cresceu 7% no mesmo intervalo de tempo
(λ=1,07). A simulação das matrizes resultou em
populações de 82570 indivíduos de P.caribaea e
220478 de P.oocarpa em 22 anos ao redor das
plantações. A simulação de cenário futuro com
intervenção nas fases mais sensíveis vericadas
na matriz de sensibilidade mostrou que, com
manejo de exclusão de Imaturos e Adultos, as
populações de P.caribaea e P.oocarpa teriam,
respectivamente, 2117 e 12482 indivíduos. Este
é o primeiro relato de populações invasoras de
P. caribaea e P. oocarpa e suas projeções de
manejo. O envolvimento de pesquisadores e
o empenho dos gestores do JBB na busca de
alternativas para o controle efetivo das invasões
melhora a perspectiva futura da área, podendo
até ser um caso de sucesso na erradicação de
espécies invasoras.
PALAVRAS - CHAVE: Invasão biológica; Plantas
invasoras; Pinus oocarpa; Pinus caribaea;
Ecologia de população.
INVASIVE PINES IN BRAZILIAN
SAVANNA: POPULATION STRUCTURES
AND MANAGEMENT STRATEGIES
USING MATRIX MODELS
ABSTRACT: Some Pinus species have acted as
invasive in different ecosystems in Brazil, including
Conservation Units. In Brasília Botanical Garden
(JBB), which is part of a Cerrado Protection Area,
two species of pine trees, Pinus caribaea and
Pinus oocarpa, have spread seedlings in native
vegetation, with self-sustainable populations
already established, of which dimensions and
effects are unknown. The objective of this research
was to describe the structures Pinus caribaea and
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 12 149
Pinus oocarpa invasive populations and to propose management to control and exclusion.
The populations were sampled using transects starting at the border of the plantation borders
and all individuals of P. caribaea and P. oocarpa found were marked, measured and identied
for two consecutive years, providing information to describe its population structures and build
a transition matrix with life stages of each population. The matrices were used to simulate
management actions over invasive populations. The P. caribaea population had an increase
of 9% in the interval of one year (λ=1.09), while P.oocarpa grew by 7% in the same period
of time (λ=1.07). 22-year projections of recursive matrix simulation resulted in populations of
82,570 individuals of P.caribaea and 220,478 of P.oocarpa around the plantations. Another
22-year simulation of a scene with intervention in the most critical population development
phases – veried by the highest sensitivity matrix values – showed that, with management of
exclusion of Immature and Adults, the populations of P.caribaea and P.oocarpa would have,
respectively, 2,117 and 12,482 individuals. This is the rst report of P. caribaea and P. oocarpa
invasive populations and its management projections. The involvement of researchers and the
commitment of JBB managers seeking alternatives for effective control of invasions improves
the future prospect of the area, and may even be a case of success in the eradication of
invasive species.
KEYWORDS: Biological invasions; Invasive plants; Pinus oocarpa; Pinus caribaea; Population
ecology.
1 | INTRODUÇÃO
Plantas coníferas vem sendo plantadas fora de seu ambiente natural em muitas
partes do globo centenas de anos, e por várias razões, sendo a produção orestal
a mais importante (RICHARDSON et al., 2008). No Brasil, a introdução de espécies de
coníferas, predominantemente do gênero Pinus, aconteceu massivamente na década de
1960 com forte incentivo scal do governo e tinha o objetivo de exploração da madeira
(ROSOT et al., 2004).
Diferente de registros de introdução de Pinus em outros lugares do mundo, no Brasil
as plantações ocorreram em extensas áreas (RICHARDSON et al., 2008), facilitando um
comportamento invasor até para espécies com menor tendência a tal comportamento
(RICHARDSON, REJMANÉK, 2004; BRAGA, ZENNI, HAY, 2014). Adicionalmente à grande
pressão de propágulos das extensas plantações (COLAUTTI, GRIGOROVICH, MACISAAC,
2006; SIMBERLOFF et al., 2010), sionomias de dossel mais aberto, como as encontradas
no Cerrado, estão mais suscetíveis à invasão (HIGGINS, RICHARDSON, 1998). Outro
ponto desfavorável para as áreas naturais é que, por apresentarem crescimento lento
(LAMBERS, POORTER, 1992), plantas do Cerrado podem perder possíveis espaços livres
para plantas de desenvolvimento mais rápido, como a maioria das espécies do gênero
Pinus, impactando negativamente as comunidades de árvores nativas (CAZETTA, ZENNI,
2019).
Ainda que mais 100 espécies potencialmente invasoras tenham sido introduzidas
no país (ZENNI, ZILLER, 2011), são escassos os estudos de controle e erradicação das
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 12 150
invasões (PETENON, PIVELLO, 2008), reduzindo as ações a diagnóstico e monitoramento
ao invés de adotar uma abordagem prática e pró-ativa de eliminação precoce das
populações em processo de invasão (ZILLER, DECHOUM, 2013). Uma estratégia ecaz
para descrever populações invasoras é a de matrizes populacionais, pois constroem uma
descrição simples do ciclo de vida, com todas as suas taxas vitais, a saber: sobrevivência,
crescimento e fecundidade (CASWELL, 2001). Ainda que modelos matriciais careçam de
alguns componentes importantes da história de vida das plantas e das próprias mudanças
demográcas ao longo do tempo (GIBSON, 2014), adotar modelos inexatos em detrimento
de estudos de longo prazo pode ser vantajoso (SILVERTOWN, FRANCO, MENGES, 1996),
principalmente em estágios iniciais de invasão, quando seu controle é menos oneroso.
O objetivo dessa pesquisa foi descrever como estão estruturadas as populações de
pinheiros que estão estabelecidos em área nativa de Cerrado, desenvolver suas matrizes
populacionais e simular estratégias de manejo de mitigação à invasão das duas espécies
de pinheiros, Pinus caribaea Morelet e Pinus oocarpa Schiede ex Schltdl., que atualmente
ocupam áreas de Cerrado no Jardim Botânico de Brasília (BRAGA, ZENNI, HAY, 2014).
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O Jardim Botânico de Brasília (JBB) está localizado na área centro-sul do Distrito
Federal, faz parte da Área de Proteção Ambiental do Gama-Cabeça de Veado e possui
área total de 5000 ha: 500 ha de área aberta ao público e 4500 ha de Estação Ecológica,
área de proteção integral de Cerrado. O clima local de acordo com a classicação climática
de Köppen é Aw (savana tropical). Na área de visitantes existem, desde antes da criação
do JBB, em 1985, plantações de Pinus que têm se disseminado naturalmente nas áreas
de cerrado preservado (BRAGA, ZENNI, HAY, 2012). São 3,2 ha plantados com Pinus
oocarpa, 3,09 ha com Pinus caribaea e 1,5 ha com outras espécies de Pinus, em uma
densidade aproximada de 306 indivíduos*ha-1 (Fig. 1). Amostras de madeira obtidas com
trado de incremento retiradas do caule sugerem que as plantações tenham cerca de 44
anos, tendo sido estabelecidas no início da década de 1970 (dados não apresentados).
As amostragens foram realizadas em dois anos consecutivos, 2013 e 2014, dentro
de 11 transeções de 5 m de largura e comprimentos variando entre 63 e 560 m, dependendo
do pinheiro mais distante encontrado. As transeções partiam da margem das plantações
em diferentes direções, como mostrado na Figura 2.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 12 151
Fig. 1 (A) A área de estudo encontra-se no Planalto Central do Brasil, (B) na área central do Distrito
Federal, evidenciado em cinza escuro. (C) Centro de Visitantes do Jardim Botânico de Brasília e
plantações de espécies do gênero Pinus em cinza.
Fig. 2 Transeções instaladas em torno das plantações de Pinus caribaea (1) e Pinus oocarpa (2) no
Jardim Botânico de Brasília. As áreas em cinza e tracejada representam a área de inuência imediata
de cada uma das espécies.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 12 152
As transeções posicionadas a norte e a leste das plantações estão em áreas de
cerrado com maior densidade de árvores e dossel mais fechado, com cobertura de 85±4%,
e as posicionadas a oeste e a sul das plantações estão em área de cerrado típico, com
menor densidade de copas e cobertura de 72±5%.
2.1 Estruturas das populações
Em 2013 todos os indivíduos de Pinus encontrados foram marcados com lacres
numerados e tiveram diâmetro ao nível do solo (DNS) medido, exceto plântulas que foram
apenas marcadas. A identicação de jovens imaturos foi feita pela contagem de acículas
em cada fascículo. No segundo levantamento, em dezembro de 2014, os indivíduos
previamente marcados foram novamente medidos e reclassicados quando necessário.
Os novos pinheiros encontrados, todos plântulas recrutadas neste período, receberam
lacres numerados para acompanhamento futuro. Como plântulas ainda não possuem
acículas diferenciadas, as que não se diferenciaram no intervalo de um ano e as que foram
recrutadas no segundo ano foram contadas e distribuídas dentro das populações usando
como critério a proporção de indivíduos de cada espécie que se diferenciaram no intervalo
de um ano. Lacres caídos no chão ou soltos, e indivíduos mortos em pé foram considerados
mortos. Indivíduos inicialmente marcados que foram cortados por intervenção humana
foram desconsiderados nesta pesquisa.
2.2 Análise dos dados e sugestão de estratégia de manejo
Para cada população foi construído um modelo matricial baseado nos estágios de
vida, com projeção do intervalo de um ano (2013-2014). A matriz de transição é uma matriz
quadrática que contém as probabilidades de um indivíduo, no caso um pinheiro, sobreviver,
crescer ou reproduzir no intervalo de tempo determinado (CASWELL, 2001).
A abundância das populações em cada simulação foi projetada como
onde A é a matriz de transição da espécie e n(t) representa o vetor de abundâncias
dos estágios no tempo t.
Após criadas as matrizes de transição e de sensibilidade, foram calculadas
as taxas de crescimento da população (λ), onde valores de λ > 1 indicam população
em crescimento; valores de λ < 1 indicam declínio populacional (CASWELL, 2001). As
matrizes de sensibilidade foram calculadas para perceber o estágio de desenvolvimento
mais sensível a mudanças em ambas as espécies, com o intuito de propor, assim, um
manejo de controle populacional objetivando obter valores de λ que prevejam o declínio
das populações invasoras.
Como a idade estimada das plantações em 2014 foi de cerca de 44 anos, e
as populações invasoras possuem indivíduos reprodutivos, assumiu-se que em
aproximadamente 22 anos os indivíduos apresentem desenvolvimento completo, de
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 12 153
plântula a adulto, para ambas as espécies, e esse tempo foi usado como referência
para realizar as projeções das matrizes de transição. Para estimativas de tamanho das
populações futuras, foram multiplicadas a matriz de transição de cada população com o
respectivo vetor contendo as quantidades de indivíduos de cada classe.
Foram criados, então, cenários de manejo de controle das espécies invasoras.
Estes cenários simularam a retirada anual de todos os indivíduos das categorias que
apresentaram maiores valores de sensibilidade por igual período da simulação do
crescimento da população, 22 anos. O cenário de manejo tem o objetivo de avaliar o
quanto uma intervenção poderia reetir nas populações futuras, usando como referência
as densidades populacionais atuais e suas respectivas matrizes de transição. Em termos
práticos, após simulação dos tamanhos das populações no tempo , o número encontrado
para os estágios de maior valor de sensibilidade foi substituído por 0, e depois foi simulado
o tamanho da população para o tempo +1, e assim sucessivamente, por 22 anos.
Para os cálculos das matrizes e parâmetros das populações, foi utilizado o pacote
popbio (STUBBEN, MILLIGAN, 2007) do software estatístico R 4.0.5 (R CORE TEAM,
2021).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A plantação de Pinus caribaea, disseminou o indivíduo mais distante a 350 m da
borda da plantação, enquanto o indivíduo mais distante de Pinus oocarpa estava a 500
m. P. oocarpa obteve valores de densidade próximos a 0 ind*ha-1 nas transeções com
Cerrado de copas mais adensadas; já em áreas de Cerrado com copas menos adensadas,
a densidade de P. oocarpa foram maiores, chegando ao valor máximo de 1305 ind*ha-1.
Para P. caribaea, as densidades variaram entre 6 e 491 ind*ha-1, e esteve presente tanto
em áreas com dossel mais fechado quanto no mais aberto. À distância de 30 m da borda da
plantação, as densidades de P. oocarpa alcançam mais de 5500 ind*ha-1 (BRAGA, ZENNI,
HAY, 2014).
As populações invasoras são de 14 a 51 vezes maiores do que as populações
inicialmente plantadas, estando na categoria D1 do esquema unicado proposto por
Blackburn et al. (2011): população livre na natureza, autossustentável, com indivíduos
sobrevivendo e reproduzindo a uma distância signicativa do ponto de introdução.
3.1 Análises das matrizes populacionais
Utilizando os valores demográcos de cada estágio nos dois anos, foram calculadas
as taxas vitais referentes à sobrevivência, crescimento e reprodução das duas populações
(Fig. 3).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 12 154
Fig. 3 Ciclos de vida de Pinus caribaea (verde) e Pinus oocarpa (azul) mostrando transições usadas
para construir o modelo populacional. As setas indicam os caminhos possíveis no desenvolvimento da
espécie e o recrutamento de plântulas; os números são as probabilidades de aquele evento acontecer
no espaço de 1 ano.
O valor de λ para P. caribaea foi 1,092, ou seja, a população cresce 9,2% ao ano.
Com a projeção da matriz de transição de P. caribaea por 22 anos, a população alcançaria
a marca de 82570 indivíduos, uma população seis vezes maior que a atual. Para P.
oocarpa, o valor de λ também cou acima de 1, com taxa de crescimento anual de 7,3%
da população (λ = 1,073). Na projeção da matriz de transição de P. oocarpa pelo mesmo
período, a população teria 220478 indivíduos, quase 4,5 vezes maior que a atual.
As matrizes de sensibilidade calculadas foram
para a população de P. caribaea e
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 12 155
para a população de P. oocarpa.
Em ambas as populações, o valor de sensibilidade que teve maior inuência na
variação da taxa de crescimento da população foi referente ao crescimento do indivíduo do
estágio Imaturo para o Adulto, e segundo valor mais importante foi a taxa de sobrevivência
de indivíduos adultos (ambos destacados em negrito). Isso signica que qualquer mudança
no número de indivíduos que entram no estágio reprodutivo tem maior impacto no
crescimento das populações do que a mesma mudança proporcional em qualquer outra
taxa vital (BENTON, GRANT, 1999).
3.2 Sugestão de Manejo
A proposta de manejo simulou a intervenção direta da exclusão dos indivíduos de
maior porte das populações, mas que ainda não se encontravam no estágio reprodutivo,
que este foi o estágio com maior valor de sensibilidade na matriz (0,372 para P. caribaea
e 1,380 para P. oocarpa). No entanto, esta ação seria útil como controle da população
invasora, mas não faria a população entrar em declínio, já que a exclusão dos maiores
indivíduos de P. caribaea reduz o valor de λ para 1,007. Semelhante ao observado na
simulação de P. caribaea, a população invasora de P. oocarpa teria seu tamanho controlado
com o manejo, sem declínio, com λ = 1,01.
Uma simulação que emula uma intervenção mais incisiva mostra que pode ser ecaz
na tentativa de erradicar as populações invasoras. Na simulação seriam excluídos todos
os indivíduos de grande porte das populações, justamente os estágios que apresentaram
maiores valores de sensibilidade: imaturos e adultos. Com a retirada dos indivíduos
imaturos e adultos, a população entraria em declínio nas simulações para ambas as
espécies. P. caribaea teria, ao nal de 22 anos de constante extração e acompanhamento,
uma população igual a 2117 em toda a área invadida, ou densidade de 1196 indivíduos*ha-1
e valor de λ = 0,88. Para P. oocarpa, os valores de população total e de densidade obtidos
na simulação foram 12482 e 7052 ind*ha-1, com λ = 0,94.
4 | DISCUSSÃO
Muitas plantas invasoras se tornam dominantes na comunidade que invadem devido
à sua superioridade competitiva sobre espécies nativas vizinhas. Craine e Orians (2004)
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 12 156
vericaram diminuição da frequência e cobertura de herbáceas que estiveram sob inuência
de indivíduos de Pinus halepensis, observando que, sob a copa, houve a completa exclusão
das espécies nativas e registro de facilitação de entrada de espécies ruderais. Outro estudo
realizado em torno das plantações do Jardim Botânico de Brasília registrou que áreas
com maior presença de Pinus apresentam valores menores na densidade e na riqueza da
comunidade lenhosa de Cerrado (CAZETTA, ZENNI, 2019). Provavelmente os Pinheiros
não excluíram outros indivíduos lenhosos previamente existentes, mas podem, por efeito
de ocupação de espaço aéreo ou mesmo acúmulo de acículas, impedir o recrutamento de
espécies nativas.
Ações que busquem excluir indivíduos de pinheiros adultos irão reetir no
crescimento das populações, podendo promover um maior controle do avanço da invasão.
Mesmo alcançando distâncias de mais de 450 m, aproximadamente 85% dos indivíduos de
P. oocarpa que ocupam as áreas de Cerrado são encontrados em distâncias inferiores a 100
m da borda da plantação (BRAGA, ZENNI, HAY, 2014). Uma ação de exclusão de pinheiros
de grande porte deve priorizar inicialmente a exclusão de indivíduos mais distantes, para
evitar que a dispersão de propágulos seja ainda maior (BUCKLEY et al., 2005). O ideal
seria, preferencialmente, excluir os indivíduos de grande porte mais distantes mesmo antes
de que se tornem reprodutivos (BUCKLEY et al., 2005).
O corte dos indivíduos adultos das populações invasoras do Jardim Botânico de
Brasília não representaria de fato uma diminuição da chuva de sementes dispersas no
Cerrado, já que a principal fonte de propágulos ainda permaneceria intacta. Atualmente a
diretoria do JBB tem buscado substituir aos poucos as áreas plantadas por jardins temáticos,
mas enquanto as plantações não são totalmente excluídas, uma estratégia para amortecer
a entrada de plântulas na população invasora seria retirar os cones das plantações. A
retirada de cones é uma prática silvicultural comum para a colheita de sementes (LOPEZ-
MATA, 2013; PEREIRA et al., 2015). A retirada de cones das plantações deve priorizar a
extração dos cones dos indivíduos que se encontram mais externos da plantação, já que
estes expõem mais os cones ao sol, provocando sua abertura (DVORAK, 2002), e não
possuem barreiras físicas à disseminação. Importante também realizar essa extração em
período antes da maior liberação de sementes que, em área de Cerrado, deve acontecer
no período mais quente e seco do ano, entre os meses de agosto e outubro.
A diminuição do povoamento de Pinus certamente afetará a dinâmica das populações
invasoras, mas ações mais contundentes são necessárias. Esforços de monitoramento e
controle dos focos de invasão no Jardim Botânico de Brasília são necessários para que
se possa ao menos começar a mitigar os impactos em curso e fazer com que o JBB seja
ecaz na sua missão de preservar o Bioma Cerrado. O envolvimento de pesquisadores
e o interesse dos administradores do JBB em buscar alterativas para controle efetivo
das invasões melhora, e muito, o prospecto futuro da área, podendo até ser um caso de
sucesso na erradicação de espécies invasoras. Uma outra área de aproximadamente 15
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 12 157
hectares dentro da área de Proteção Integral está exposta a plantações externas à Estação
Ecológica (Lat: -15,878269581808924, Long: -47,86522415615354). Esta área teve todos
os indivíduos retirados em 2019 e segue em monitoramento (Aline De Pieri, comunicação
pessoal).
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A invasão que está acontecendo no Jardim Botânico de Brasília é de possível controle
e, melhor ainda, seus administradores tem interesse de lidar com ela. Esta pesquisa propôs
algumas estratégias de manejo que podem funcionar como direcionadores para ações de
combate. No entanto, independente da decisão da direção do Jardim Botânico, faz-se
necessário monitorar e periodicamente quanticar as populações invasoras a m de serem
geradas informações que subsidiem uma simulação mais realista da invasão.
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Capítulo 13 159
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 13
IMPACTOS DO USO DE ESPÉCIES EXÓTICAS NA
ARBORIZAÇÃO DE VIAS PÚBLICAS: A PERCEPÇÃO
DOS MORADORES ACERCA DO NIM–INDIANO
(AZADIRACHTA INDICA A. JUSS.)
Data de submissão: 06/08/2021
Antonia Rosizelia Martins Sampaio
Faculdade de Ciências Humanas do Sertão
Central
Serrita – Pernambuco
http://lattes.cnpq.br/3015612144084537
Dan Vitor Vieira Braga
Faculdade de Ciências Humanas do Sertão
Central
Salgueiro – Pernambuco
http://lattes.cnpq.br/1630002177734117
RESUMO: A ausência de legislação especíca
inuencia no processo de arborização em
vias públicas e urbanas, haja vista que a ação
do poder público é crucial para o crescimento
e desenvolvimento sustentável. A pesquisa
objetivou analisar a ocorrência de A. indica e
a percepção da população local acerca dos
impactos causados pelo seu emprego na
arborização de vias públicas em uma cidade
do sertão central pernambucano. O estudo foi
realizado na cidade de Serrita-PE. Teve com
área foco de estudo a Avenida Rogério Canejo,
no centro da cidade. Este trabalho deu-se através
de uma pesquisa de campo, com duração de três
meses (março a maio de 2021), teve abordagem
de cunho quanti-qualitativo, distribuindo-se
em duas etapas. Inicialmente, realizou-se um
levantamento orístico das espécies presentes
na área. Em seguida, ocorreu uma entrevista com
13 moradores da localidade. No levantamento
orístico foram identicados 70 indivíduos,
distribuídos em quatro espécies e quatro famílias
botânicas. Foi possível constatar que a avenida
possui baixa equitatividade de espécies e uma
alta dominância de A indica, que destacou-se
com 92,86% do total registrado. Com relação
à percepção acerca de A. indica, todos os
informantes armaram conhecer, salientando
que às estruturas da planta que causam mais
impactos são folhas, raízes e frutos, sendo que
as duas primeiras possuem a mesma frequência
relativa. No tocante aos danos acometidos pela
espécie citada, os entrevistados destacaram
calçadas estouradas por raízes, folhas soltas
e diminuição da fauna local. Desta forma,
percebeu-se que a comunidade estudada se
apropria de conhecimentos superciais, sem um
embasamento cientíco acerca da problemática.
Portanto, torna-se primordial o acesso as
informações sobre os impactos que podem
ser acarretados pela implantação de espécies
exóticas, para que as interações ecológicas da
região e as infraestruturas da cidade não sejam
prejudicadas.
PALAVRAS - CHAVE: Espécies Exóticas.
Degradação ambiental. Plano de arborização.
URBAN AFFORESTATION: THE
PERCEPTION OF RESIDENTES ABOUT
THE IMPACTS CAUSED BY INDIAN–
NEEM (AZADIRACHTA INDICA A. JUSS.)
ABSTRACT: The absence of specic legislation
inuences the afforestation process on public
and urban roads, given that the action of public
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 13 160
authorities is crucial for sustainable growth and development. The research aimed to analyze
the occurrence of A. indica and the perception of the local population about the impacts caused
by its use in the afforestation of public roads in a city in the central hinterland of Pernambuco.
The study was carried out in the city of Serrita-PE. Its focus of study was Avenida Rogério
Canejo, in the center of the city. This work was carried out through a eld research, lasting
three months (March to May 2021), using a quanti-qualitative approach, divided into two
stages. Initially, a oristic survey of the species present in the area was carried out. Then,
there was an interview with 13 local residents. In the oristic survey, 70 individuals were
identied, distributed in four species and four botanical families. It was possible to verify that
the avenue has low species equality and a high dominance of A indica, which stood out with
92.86% of the total registered. Regarding the perception of A. indica, all informants said they
knew, noting that the plant structures that cause the most impacts are leaves, roots and fruits,
with the rst two having the same relative frequency. Regarding the damage caused by the
mentioned species, the interviewees highlighted sidewalks bursting with roots, loose leaves
and a decrease in the local fauna. In this way, it was noticed that the studied community
appropriates supercial knowledge, without a scientic basis about the problem. Therefore, it
is essential to access information about the impacts that can be caused by the implantation
of exotic species, so that the ecological interactions of the region and the city’s infrastructure
are not harmed.
KEYWORDS: Exotic Species. Ambiental degradation. Afforestation plan.
1 | INTRODUÇÃO
A implantação de árvores em vias urbanas tem como denição a palavra “orestar”,
que está ligada à atividade da silvicultura. Esse tipo de arborização não chega a formar
ecossistemas orestais e mesmo sendo de grande aplicação em projetos paisagísticos, na
maioria das vezes, é feito com espécies inadequadas para a região (MAGALHÃOS, 2006).
É indubitável que uma cidade bem arborizada, além de auxiliar na diminuição da
poluição, ajuda na ornamentação das ruas e avenidas, melhora o microclima, ou seja,
é de suma importância para o desenvolvimento da paisagem urbana (CASTRO, 2017).
Conquanto, para Salviano (2019), quando não há um planejamento adequado para esse
processo e ocorre o plantio de espécies vegetais inadequadas, uma série de impasses são
causados à população e ao meio ambiente.
A ausência de legislação especíca inuencia no processo de arborização em vias
públicas e urbanas em detrimento do uso de espécies de vegetações exóticas, ressaltando
o Nim-Indiano (Azadirachta indica A. Juss.), pois devido à falta de conhecimento da
população, sua utilização ainda é muito presente, havendo o cultivo contínuo da espécie,
acarretando em desequilíbrios ecológicos (CRISPIM et al., 2014; SILVA, 2019).
Segundo Silva et al. (2018), é perceptível que há muito para ser constatado sobre
os impactos ambientais acerca de A. Indica, haja vista que essa planta tem provocado
reexões pertinentes. Contudo, deve ser problematizada pela ciência de modo que
obtenha cada vez mais ferramentas de discussão sobre a importância da preservação dos
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 13 161
ecossistemas com relação a esta.
Tendo em vista a crescente inserção da espécie supracitada no contexto urbano, é
primordial o acesso às informações acerca dos danos causados por essa planta ao meio
ambiente, uma vez que a população ao desconhecer seus aspectos morfosiológicos faz
o cultivo exacerbado, interferindo nas interações ecológicas a nível local. Ademais, sendo
notórios os problemas que o cultivo inadequado pode acarretar, torna-se imprescindível
a execução de trabalhos de educação ambiental com a comunidade estudada, a m de
conscientizá-la dos efeitos ocasionados pela referida planta (RODRIGUES et al., 2017).
Mediante o exposto, a presente pesquisa objetivou analisar a ocorrência de A. indica
e a percepção da população local acerca dos impactos causados pelo seu emprego na
arborização de vias públicas em uma cidade do Sertão Central Pernambucano.
2 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A ação do poder público é crucial para o crescimento e desenvolvimento sustentável
da arborização urbana, pois muitos impactos ambientais resultam dessa ausência. No
entanto, a população possui sua parcela de responsabilidade, visto que as necessidades
e obrigações são inerentes aos habitantes, ou seja, a sociedade deve cobrar e também
participar do processo de desenvolvimento sustentável (PINHEIRO; SOUZA, 2017).
Para Soares e Pellizzaro (2019), é fundamental a elaboração de um Plano de
Arborização, a m de nortear decisões sobre quaisquer aspectos relacionados ao plantio
de árvores, sendo elaborado de acordo com a realidade de cada cidade e, assim, tornando-
se importante para a ocorrência do planejamento e implantação de um manejo adequado.
Esteves e Corrêa (2018), acrescentam que o planejamento do espaço a ser
arborizado deve considerar a adaptação da espécie à zona climática, a área disponível
para o seu desenvolvimento, a perda de folhas, a morfologia das raízes e prováveis
interferências que poderão ser causadas as edicações e a infraestrutura.
A incidência do elevado número de espécies exóticas utilizadas no processo de
arborização indica pouca valorização da ora nativa pela população, reetindo nas atitudes
de preservação da vegetação existente no entorno da cidade. Visto isso, em decorrência
da falta de conhecimento da grande diversidade de plantas nativas do país, é comum
que haja predominantemente a introdução de espécies estrangeiras, muitas dessas sendo
invasoras, gerando não só modicações nos ciclos ecológicos naturais como também
desinformações acerca da ora regional (RUFINO; SILVINO; MORO, 2019).
De acordo com Nascimento e Guedes (2015), existe a substituição gradativa de
árvores em vias públicas, destacando a implantação de A. indica, onde ruas e avenidas
inteiras estão sendo arborizadas apenas com essa espécie, não havendo planejamento
ou critério tossanitário. Vale frisar as suas propriedades naturais que, por um lado,
apresentam benefícios, mas se não houver um plantio e manuseio adequado, podem
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 13 162
causar danos ambientais.
A espécie mencionada, pertencente à Família Meliaceae, é originária da Ásia,
onde por séculos se utilizava tradicionalmente para ns medicinais. Todavia, no Brasil, foi
introduzida de forma ornamental tendo grande aceitação, porém não eram percebidos seus
potenciais impactos ao meio ambiente (BORGES, 2017).
Para Moura et al. (2020), o predomínio elevado de A. indica no meio urbano não é
uma problemática presente apenas no Nordeste, estendendo-se pelas diversas regiões
do Brasil, podendo ser observado que os indivíduos dessa espécie possuem alto poder
adaptativo em inúmeras cidades.
Coelho Junior et al. (2019), complementam que o uso dessa planta na arborização
urbana tornou-se popular devido às suas características morfológicas, rápido crescimento
e potencial de sombreamento, evidenciando, ainda, a resistência às condições adversas
de solo e clima.
3 | METODOLOGIA
O estudo foi realizado na cidade de Serrita – Pernambuco (Figura 1), distante
a 544 km da capital estadual, Recife. O município está localizado no Sertão Central
Pernambucano, apresentando uma população de aproximadamente 18.331 habitantes,
distribuídos em uma área territorial de 1.535,190 km2 (IBGE, 2010).
Figura 1 – Localização geográca da área de estudo onde foi desenvolvida a pesquisa.
Fonte: Modicado de Google (2021) e IBGE (2021).
A área foco do estudo situa-se na Avenida Rogério Canejo, no centro da cidade
(Figura 2), possuindo uma extensão de dois quilômetros por 50 m de largura, com população
de aproximadamente 337 habitantes (INFORMAÇÕES DO BRASIL, 2010). Vale salientar,
ainda, que a Avenida apresenta faixa dupla, com arborização no canteiro central, na lateral
direita e esquerda, sendo parcialmente iluminada nas laterais.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 13 163
Figura 2 – Localização da área onde foi realizada a coleta de dados. A. Avenida Rogério Canejo; B.
Cidade de Serrita-PE.
Fonte: Modicado de Google Maps (2021).
Este trabalho foi uma pesquisa de campo, com duração de três meses (março a
maio de 2021), teve uma abordagem de cunho quanti-qualitativo e deu-se em duas etapas.
Inicialmente, foi realizado o levantamento orístico de todos os indivíduos ocorrentes na
área, sendo identicados de acordo com o percurso da Avenida (lateral esquerda, parte
central e lateral direita). Foram incluídas no levantamento todas as espécies que estavam
inseridas nas áreas, assim tornou viável determinar parâmetros orísticos como a riqueza
de espécies, as frequências relativas e a dominância.
Em seguida, ocorreu uma entrevista com 13 moradores da localidade, através de
um questionário semiestruturado que constou com oito perguntas, tendo como nalidade a
obtenção de dados. Cabe ressaltar que o questionário foi em formato digital, elaborado na
plataforma Google Formulários e enviado o “link” pelas redes sociais, onde cada informante
externou a sua percepção acerca dos impactos advindos da inserção de A. indica no
processo de arborização da Avenida mencionada.
4 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
No levantamento orístico foram identicados 70 indivíduos, distribuídos em quatro
espécies e quatro famílias botânicas (tabela 1). Foi possível constatar que a avenida possui
baixa equitatividade de espécies e uma alta dominância de A indica, que se destacou
com 92,86% do total registrado, não atendendo as recomendações feitas por Ransan e
Figueiredo (2015) ao frisarem que não é recomendado uma área exceder os valores de
10% de uma mesma espécie.
Os dados obtidos corroboram com estudos realizados por diversos autores, os quais
observaram o mesmo padrão de predominância de espécies exóticas introduzidas em vias
públicas e urbanas (CAVALCANTE NETO et al., 2020; FIGUEIRA et al., 2020; PEREIRA et
al., 2012; RICHTER et al., 2012; SILVA et al., 2019).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 13 164
Família/Espécie Nome Vernáculo Origem N.I F.R%
Fabaceae
Enterolobium maximun Ducke Tamboril Nativa 2 2,86
Meliaceae
Azadirachta indica A. Juss Nim-indiano Exótica 65 92,86
Maraceae
Ficus benjamina L. Ficus-benjamin Exótica 2 2,86
Moringaceae
Moringa oleífera Lam Acácia-branca Exótica 1 1,43
Total 70 100%
Tabela 1 – Relação de espécies encontradas na arborização da área foco de estudo, segundo a família,
espécie, nome vernáculo, origem, número de indivíduos e frequência relativa.
Legenda: N.I = número de indivíduos; F.R = frequência relativa (%).
Fonte: Própria (2021).
Além da elevada quantidade de A. indica, também se constatou a disposição
inadequada da espécie no percurso da avenida, visto que algumas estão inseridas nas
calçadas dos moradores e sob a rede de energia (gura 3). Todavia, Rodrigues et al. (2018)
explicam que, sem ter consciência dos prejuízos que podem ser gerados, muitas vezes
os próprios habitantes fazem esse plantio justicando o benefício climático ou o fato de
morarem do lado da rua com alta incidência solar e, assim, serviria para gerar sombra.
Figura 3 – Visão geral da disposição de A. indica presente na Avenida Rogério Canejo.
Fonte: Própria (2021).
Com relação à percepção acerca do uso de A. Indica na arborização, todos
os informantes armaram conhecer. Brasil (2013) e Lago (2019), explicam que essa
popularidade dá-se em decorrência da ampla implantação nas propriedades da população e
nos centros urbanos, associado ao interesse da comunidade de desenvolvimento cientíco
que, nas últimas duas décadas, destinaram-se ao estudo dessa espécie, tornando-a ainda
mais conhecida.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 13 165
De acordo com 61,54% dos entrevistados, a avenida alvo do estudo possui uma
ocorrência média de A indica, mesmo esta espécie presentando uma frequência relatica
acima de 90%. Essa prevalência obserava para a espécie em questão é explicado por
Runo, Silvino e Moro (2019), onde apontam que, não obstante os riscos à biodiversidade
ocasionados pelas espécies invasoras, à percepção popular ainda é precária, já que não
há homogeneidade em reconhecer a predominância exacerbada de uma única espécie.
Para 53,84% dos respondentes está correta o uso de A. indica, pois armaram
que contribui para uma boa arborização, ajudando a melhorar a umidade relativa do ar e
tornando a via pública mais bonita. Silva et al. (2015), enfatizam que o aceite dessa planta
é embasado na sua grande adaptabilidade, alto potencial para sombreamento, fácil manejo
e rapidez no crescimento, fatores estes que não demandam muitos cuidados por parte dos
moradores.
Em contrapartida, 46,15% declararam ser contra o uso desta espécie, armando
que a planta é incompatível com a fauna e ora da Caatinga, causando danos ambientais
e danicando paredes e calçadas. Essas armações são corroboradas por Silva e Sousa
(2018), os quais apontam que o plantio de árvores exóticas, resultantes da falta de
planejamento, afeta não apenas o meio ambiente como também a infraestrutura urbana.
Com relação aos órgãos da planta que causam mais impactos, os moradores
citaram folhas, raízes e frutos, sendo que as duas primeiras obtiveram a mesma frequência
relativa (gráco 1). Essas mesmas observações foram feitas pelos entrevistados de Pinto
e Lima (2019), que também destacaram tais estruturas como as principais causadoras
de problemas à paisagem e, em virtude disso, tornando a arborização descontínua e
inapropriada.
Gráco 1 – Frequência relativa dos órgãos vegetais do Nin Indiano que causam impactos à paisagem.
Fonte: Própria (2021).
No tocante aos danos causados pela espécie em questão, os informantes destacaram
a quebra do pavimento e das calçadas pelo cescimento das raízes, diminuição da fauna
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 13 166
local, que apresentaram a mesma frequência relativa, e a grande geração de resíduos
(folhas mortas liberadas pela planta)(gráco 2).
Esses resultados conrmam a colocação de Batista (2017), o qual arma que
arborização não é apenas a implantação de árvores, é necessário ter conhecimento a cerca
das espécies que serão implantadas e quais interferências estas poderão causar ao bem-
estar dos moradores, ao ecossistema e as edicações, ou seja, uma arborização correta
também consiste em pensar antecipadamente sobre ações futuras.
Gráco 2 – Frequência relativa dos danos ocasionados pela emrego de A. indica na arborização da via
pública.
Fonte: Própria (2021).
No que tange aos possíveis danos causados aos animais pelo cultivo demasiado
de A. indica na arborização da via pública, 61,54% dos informantes demonstraram ter
um conhecimento prévio. Dentre estes, foram citados efeitos abortivos e esterilidade em
pássaros (46,15%), prejuízos ao desenvolvimento dos insetos (30,77%) e toxidade a
algumas abelhas (gráco 3).
A partir destes dados, torna-se necessário enfatizar o argumento de Coelho Junior
et al. (2015), que constataram nos seus estudos os inúmeros problemas acarretados pela
priorização dessa espécie no meio urbano, destacando as interferências nas interações
ecológicas, uma vez que plantas invasoras alteram a biota local.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 13 167
Gráco 3 – Danos que podem ser causados aos animais pela implantação demasiada de A indica na
arborização.
Fonte: Própria (2021).
Entretanto, 38,46% dos informantes nunca ouviram falar que essa planta causasse
malefícios aos animais. Pessôa (2017), aponta que em razão de A. indica ser uma exótica
naturalizada, muitas pessoas não buscam um conhecimento cientíco sobre ela, levando
em consideração apenas os saberes empíricos. Em virtude disso, Fischer et al. (2017)
ressaltam que é de fundamental relevância promover a educação ambiental como uma
forma de conscientizar os moradores sobre os danos que as espécies exóticas podem
ocasionar ao serem inserida de maneira desordenada.
Todos os entrevistados armaram que outras espécies poderiam substituir
gradativamente A. indica na arborização. Houve uma diversidade quanto às sugestões,
sendo que a maioria citou o ipê-amarelo (Handroanthus chrysotrichus (Mart. Ex DC.)
Mattos) (38,46%), seguido de cassia-do-nordeste (Senna spectabilis (DC.) H. S. Irwin &
Barneby) (23,08%), pau-brasil (Caesalpinia echinata Lam.) (15,38%). Também foram
mencionadas árvores frutíferas, sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides Benth) e plantas do
bioma Caatinga, que alcançaram o mesmo percentual (gráco 4).
Gráco 4 – Sugestões de espécies para uma possível substituição de A. indica na arborização.
Fonte: Própria (2021).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 13 168
Esses resultados corroboram com Castro (2017), que arma a necessidade de
substituição das espécies invasoras por espécies compatíveis com a vegetação existente
no semiárido do país, a m de que os impactos ambientais oriundos de um paisagismo
inadequado possam ser parcialmente compensados e, consequentemente, a qualidade
ecológica e cultural no ambiente urbano seja melhorada.
5 | CONCLUSÕES
A partir do observado, cou evidenciado que a popiulação local possui uma
maior prefereência por A. indica na arborização de vias na cidade. Percebeu-se que a
comunidade local se apropria de conhecimentos superciais, sem um embasamento
cientíco acerca da problemática, para denir as espécies que serão implantadas nas vias,
sem acompanhamento técnico, nem planejamento prévio.
Diante do exposto, foi possível constatar que arborização urbana não consiste
somente na implantação de árvores nas ruas, é necessário que haja um planejamento
adequado, ou seja, estudos que envolvam as áreas disponíveis para o desenvolvimento da
planta e se esta será compatível com a fauna e ora local.
Portanto, torna-se primordial o acesso as informações sobre os impactos que podem
ser acarretados pela implantação de espécies exóticas na arborizaçao urbana, para que
as interações ecológicas da região e as infraestruturas da cidade não sejam prejudicadas.
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A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 14 171
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 14
MATERIAIS ALTERNATIVOS PARA PRODUÇÃO DE
CANUDOS
Leticia de Oliveira Maia
Universidade de São Paulo, USP.
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos, FZEA
Pirassununga/SP
Victor Dédalo Di Próspero Gonçalves
Universidade de São Paulo, USP.
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos, FZEA
Pirassununga/SP
Karolini Buoro Araújo
Universidade de São Paulo, USP.
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos, FZEA
Pirassununga/SP
Ana Gabrielle Rodrigues Pereira
Universidade de São Paulo, USP.
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos, FZEA
Pirassununga/SP
Eliana Setsuko Kamimura
Universidade de São Paulo, USP.
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
Alimentos, FZEA
Pirassununga/SP
RESUMO: Dentre os itens de higiene pessoal,
como escovas de dente e cotonetes, até
utensílios de cozinha, como copos, canudos,
talheres e sacolas, os plásticos têm ocupado um
espaço cada vez maior no cotidiano de todas
sociedades. Essa ampla utilização se deve,
principalmente, à praticidade que os utensílios
plásticos proporcionam, sendo utilizados e,
logo em seguida, descartados. Neste sentido,
os canudos plásticos são um exemplo muito
comum, sendo amplamente distribuídos em
bares, restaurantes e lanchonetes fast-food
para consumo de bebidas. Porém, o plástico
leva mais de 100 anos para se decompor, sendo
extremamente prejudicial para o meio ambiente.
Desta forma, o objetivo deste estudo foi reunir
as principais informações acerca de materiais
alternativos e biodegradáveis para a produção
de canudos.
PALAVRAS - CHAVE: Plástico; canudos; meio
ambiente; biodegradáveis.
ABSTRACT: Among personal hygiene items,
such as toothbrushes and cotton swabs, to kitchen
utensils, such as cups, cutlery and bags, plastics
have occupied an increasing space in the daily
lives of all societies. This wide use is mainly due to
the practicality that plastic utensils provide, being
used and then discarded. In this sense, plastic
straws are a very common example, being widely
distributed in bars, restaurants and fast-food
restaurants for beverage consumption. However,
plastic takes over 100 years to decompose and
is extremely harmful to the environment. Thus,
the objective of this study was to gather the main
information about alternative and biodegradable
materials for the production of straws.
KEYWORDS: Plastic; straws; environment;
biodegradable.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 14 172
1 | UM BREVE HISTÓRICO DO PLÁSTICO
Segundo Miranda et al. (2018), a palavra plástico é proveniente do grego plástikos
cujo signicado é “exível”. Logo, trata-se de todo material que pode ser trabalhado por
pressão e calor para confecção de outros objetos. Dessa forma, os diversos objetos
presentes no nosso cotidiano não são provenientes diretamente da natureza, mas passaram
por uma série de transformações para sua confecção.
Em 1839, o químico Charles Goodyear (1800-1860) cou conhecido por ter criado
o processo de vulcanização da borracha, que consiste na adição de enxofre, tornando o
material mais resistente a variações de temperatura e pressão. Já em 1862, Alexander
Parkes contribuiu para a descoberta de um material orgânico chamado parkesina, que é
derivado da celulose. A parkesina era exível, resistente à água e facilmente trabalhada,
bem como possuía cor opaca. Era uma ótima opção para diminuir a dependência da
indústria em relação à borracha. Entretanto, seu custo de produção era muito elevado, o
que fez com que ela perdesse importância e não fosse amplamente utilizada. Em 1907,
Leo Hendrik Baekeland, um químico belga, criou um composto que cou conhecido pelo
nome de baquelita, sendo a primeira resina totalmente sintética já inventada. Para criá-
la, foi necessário o controle de variações de calor e pressão do composto. Isso tornou-
se possível graças à combinação de fenol e aldeído (MIRANDA et al., 2018). Em pouco
tempo, a baquelita ganhou espaço em diversos cenários. De modo geral, a resina teve
notoriedade em aplicações de isolamento elétrico, mas também foi aplicada na produção
de discos, tomadas e telefones. Em 1916, a Rolls Royce, fabricante de carros, passou
a utilizar o produto em seus automóveis e, posteriormente, laminados fenólicos também
estavam sendo produzidos. A baquelita foi largamente produzida até o falecimento de seu
criador. No entanto, até hoje é produzida em boa escala (GILBERT, 2017).
Em 1920, Hermann Staudinger iniciou seus estudos sobre polímeros naturais
e sintéticos, bem como suas composições. Staudinger mostrou que os polímeros são
constituídos de moléculas menores que formam longas cadeias por meio de uma reação
chamada polimerização. por volta dos anos 30, nasceu o poliestireno, que tem como
base o eteno e o benzeno. Mas foi só em 1936, na Europa, que ele começou a ser
comercializado. A primeira fábrica de poliestireno no Brasil foi inaugurada ocialmente em
1949, no Estado de São Paulo. Logo foi iniciada a produção comercial do poliestireno de
alto impacto. F. H. Lambert, também cientista, em meados dos anos 60, contribuiu para o
desenvolvimento do processo de moldagem de poliestireno expandido (MIRANDA et al.,
2018).
A década de 1940-1950 foi marcada pelo desenvolvimento de novos tipos de
plásticos, criados a partir da necessidade pós-guerra. Diversos materiais, como a borracha
natural, estavam em escassez, o que provocou o estudo de alternativas para substituí-
los. Nos Estados Unidos, em especial, a pesquisa sobre a formação de polímeros foi
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 14 173
notória, resultando na produção de diversos materiais em larga escala. Poliamida 66,
Politetrauoroetileno (PTFE) e Teon são exemplos de produtos que passaram a ser
produzidos a partir de então. Ademais, produtos como Polietileno (PE) e Poliestireno
(PS) também ganharam nova perspectiva. Antes, a produção destes produtos era cara
e, portanto, utilizados para ns especícos. Posteriormente, a produção desses produtos
em larga escala barateou seu valor, o tornando mais acessível e, consequentemente,
competitivo com os plásticos tradicionais, que já estavam sendo ultrapassados por diversos
fatores (GILBERT, 2017).
A utilização do plástico possui diversas vantagens e, por isso, ele ocupa o lugar de
uma série de materiais utilizados pelo homem há muitos séculos, como vidro, madeira,
algodão, celulose, metais, lã, marm, dentre outros. Isso facilitou o acesso aos objetos
antes produzidos com essas matérias-primas pela população de baixa renda da época. Por
exemplo: há algumas décadas, a utilização de sacolas plásticas era algo bastante comum.
Hoje, descobriu-se o grande impacto que estas causam para o meio ambiente e para a
sociedade. No mundo inteiro, as sacolas plásticas são consumidas de 500 bilhões a 1
trilhão de unidades por ano. Como estão associadas à facilidade e ao conforto das pessoas,
na maioria dos casos, são utilizadas apenas uma vez e logo descartadas – normalmente,
de forma incorreta (ALMEIDA et al., 2020).
Entretanto, a descoberta do poliestireno, polietileno, PVC, poliamidas (nylon) e
poliéster, aliada aos conhecimentos das técnicas de polimerização contribuiu, nos últimos
anos, para a criação de outros materiais plásticos com ótimas características físicas e
mecânicas além de alta resistência ao calor. Esses materiais são amplamente usados nos
projetos de engenharia e também pela indústria para diversas nalidades (MIRANDA et al.,
2018).
A partir de 1945, os materiais produzidos a partir do plástico passaram a fazer
parte do cotidiano de todos, independentemente de condição social, fazendo com que a
utilização do aço cedesse lugar ao plástico. Com a ampla utilização e comercialização
do plástico em todo o mundo, novas demandas surgiram, como produtos descartáveis,
utensílios para o lazer, eletrodomésticos, entre outros. Em todos estes setores, os estudos
e técnicas de melhoramento e aprimoramento dos compostos plásticos têm sido uma
constante preocupação. Os plásticos estão presentes no cotidiano de todos, além de
terem sido responsáveis por grandes avanços e benefícios para a sociedade moderna. Na
indústria, por exemplo, geram milhões de empregos e estão presentes em diversos setores
da economia. Desde sua descoberta, o plástico se tornou um material importante e tem
diferentes aplicações em diversos setores: automobilístico, de embalagens, de eletrônicos,
de informática, de saúde, de construção civil e de tecidos (MIRANDA et al., 2018).
A produção de plástico disparou nas últimas cinco décadas e continua aumentando
devido à crescente demanda, como pode ser observado na Figura 1. Desde 1950, o
crescimento médio anual da fabricação de plástico foi de 8,5 %. Estima-se que 4 % do
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 14 174
petróleo global é usado para produzir plásticos e outros 4 % são usados para executar os
processos de fabricação de plásticos. Com o aumento da população e padrões de vida
mais elevados, o uso global projetado dessa matéria-prima aumentará de 90 Gt para 167
Gt até 2060 (ROY et al., 2021).
Figura 1: Produção global de plástico em diferentes anos.
Fonte: Roy et al. (2021).
Contudo, em meados dos anos 90 os plásticos biodegradáveis começaram a ganhar
mais espaço no cenário mundial: a Warner Lambert, empresa norte-americana, criou o
Novon, que se tratava de uma resina cuja base é o amido. Além disso, a Eastman 9 Chemical
Co. e a Goodyear reciclaram garrafas de PET (politereftalato de etileno), transformando-
as em um monômero puro. Estes dois eventos ocasionaram uma nova forma de pensar
sobre os compostos plásticos, principalmente no que diz respeito a sua comercialização e
produção no âmbito mundial, tanto que, no ano de 1991, as empresas Coca-Cola e Hoechst
começaram a utilizar as primeiras embalagens feitas com plástico reciclável para envase de
seus produtos. Também podiam ser encontrados em lojas e centros comerciais camisetas
feitas de bras, cuja produção era feita por meio da reciclagem do PET. Para atender
às novas demandas e visando se adequar à nova mentalidade sustentável em constante
difusão, as empresas começaram a estudar a criação de plásticos cujas bases eram por
exemplo, o amido e a cana-de-açúcar, cuja decomposição ocorre pelo menos vinte vezes
mais rápido que os plásticos normais (entre 80 e 120 dias) além de sua decomposição
resultar em CO2 e água (MIRANDA et al., 2018).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 14 175
2 | IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELO PLÁSTICO
Atualmente, a principal categoria de uso de plástico é a embalagem, seguida por
produtos de consumo domésticos. Na Europa, por exemplo, as embalagens representam
40 % dos plásticos produzidos, seguidos dos produtos de consumo doméstico (22 %) e da
construção (20 %). A embalagem é responsável por uma grande quantidade de resíduos (61
% dos resíduos de plástico gerados na Europa, em 2018, foram de embalagens), porque
as embalagens de plástico muitas vezes têm uma vida curta e descartável. A redução
dos resíduos de plástico gerados pelas embalagens terá, portanto, um grande impacto na
poluição global do plástico (FLURY; NARAYAN, 2021).
Reduzir o desperdício de plástico nas embalagens é uma tarefa difícil, pois existe a
necessidade de um novo paradigma para a economia do plástico. Esse novo paradigma,
baseado no modelo de economia circular, foi proposto e implementado por Ellen MacArthur
Foundation. A visão desse modelo é que o plástico nunca se torne resíduo e é baseado em
cinco pontos-chave: eliminação de embalagens de plástico desnecessárias, reutilização
sempre que possível, embalagens feitas 100% reutilizáveis, recicláveis, ou compostáveis,
produção de plásticos a partir de recursos renováveis e embalagens plásticas livres de
aditivos perigosos (FLURY; NARAYAN, 2021).
Quando os plásticos não são descartados corretamente, eles se fragmentam em
partículas menores, que são chamadas microplásticos. Essa decomposição pode ser
resultante de fatores de ordem química, biológica ou física. Em uma pesquisa realizada no
ano de 2017, constatou-se que a quantidade de canudos plásticos que foram comercializados
no Brasil foi de cerca de 8,862 bilhões de unidades (MAILES NETO, 2019).
A organização Ocean Conservancy, em 2018, realizou um estudo e compilou dados
a respeito de um mutirão voluntário para coleta de lixo ao redor do mundo, em um único
dia especíco (International Coastal Cleanup). No total, foram coletados 20,8 milhões de
objetos. De todos os itens recolhidos, constatou-se que nove dentre dez produtos eram
fabricados a partir do plástico e eram descartáveis, mostrando que esse tipo de material
é largamente encontrado no lixo marinho e costeiro. Como se não bastasse, ainda nesse
mesmo estudo, os canudos plásticos ocuparam a sétima posição dentre os lixos mais
recolhidos no ano de 2018 (MAILES NETO, 2019).
Além de ser constantemente encontrado como lixo marinho e costeiro, o plástico
pode causar danos físicos aos animais e, quando presente nos oceanos, pode liberar
substâncias químicas que são cancerígenas (KRIMSKY, 2008). Ademais, o lixo plástico
pode aumentar a incidência de doenças em corais, causando-os sérios danos e até
levando-os à morte (LAMB et al., 2018). Cerca de 700 espécies de animais marinhos são
ameaçadas pela ingestão ou entrelaçamento de detritos plásticos. Recentes descobertas
sugerem que os animais marinhos podem ser atraídos por detritos plásticos não só pelo
aspecto, mas também pelo cheiro (PFALLER et al., 2020). Na literatura consta que mais
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 14 176
de 260 espécies já tiveram contato com resíduos plásticos descartados incorretamente.
Tartarugas, peixes e outros mamíferos ingeriram ou caram emaranhados em detritos,
sendo que este contato pode causar lacerações, úlceras e cortes nos animais, além de
poderem prejudicar a movimentação, alimentação e reprodução dos mesmos (THOMSON
et al., 2009).
Identicar fontes e sumidouros de plásticos marinhos pode ser difícil porque as
fontes de poluição em terra e no mar são frequentemente desconhecidas e o transporte
de partículas de plástico e os processos de envelhecimento são altamente dinâmicos e
complexos. No entanto, pesquisas recentes sugerem que as principais fontes são litorais,
rios e atividades marítimas, como por exemplo a pesca. (GALGANI; PHAM; REISSER,
2017)
Os impactos negativos do lixo plástico não se restringem aos danos à biodiversidade,
mas também geram poluição visual, afetam atividades econômicas – como o turismo e a
pesca, além de gerar danos às embarcações, quando se encontram em corpos hídricos
(MAILES NETO, 2019).
3 | OS CANUDOS PLÁSTICOS E O IMPACTO AMBIENTAL
Conforme o estudo de Miranda et al. (2018), os primeiros canudos surgiram por
volta de 3.000 a.C. Esses objetos eram confeccionados pelos sumérios para evitar os
subprodutos sólidos da fermentação da cerveja, que se depositavam no fundo do copo. Eles
eram feitos de ouro e pedras preciosas azuis, e se assemelhavam a bombas para consumo
de chimarrão e tererê. em meados de 1800, o canudo tinha como base o centeio (ou
palha) e era de baixo custo e macio, por isso se tornou muito utilizado. No entanto, ele se
desfazia facilmente quando entrava em contato com a água, conferindo sabor de centeio
a todas as bebidas no qual era utilizado. Como alternativa a esse problema, o canudo de
papel surgiu em 1888. Porém, com a difusão e ampla utilização do plástico pelas indústrias,
os canudos começaram a ser confeccionados com esse tipo de material.
Embora haja uma ampla gama de materiais para confecção dos canudos, a maior
parte deles ainda é feito a partir do plástico. Canudos plásticos são criados por meio do
processo de moldagem em máquinas extrusoras (MAILES NETO, 2019).
Os canudos de plástico geram cerca de 4 % de todo o lixo plástico do mundo e, por
serem criados a partir do polipropileno e poliestireno, não são biodegradáveis, podendo
levar até mil anos para sua completa decomposição. Mesmo se forem corretamente
descartados, os canudos podem escapar pela ação do vento (principalmente por serem
leves e pequenos) ou serem carregados pelas chuvas para mares e rios, ameaçando a
fauna e ora. Estima-se que 90 % das espécies marinhas já tenham ingerido produtos de
plástico em algum momento durante seu ciclo de vida (MIRANDA et al., 2018; ROY et al.,
2021).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 14 177
4 | OS CANUDOS BIODEGRADÁVEIS
Atualmente, em virtude da crescente preocupação ambiental e tendo em vista
os danos causados ao meio ambiente, fauna e ora, estudos têm sido realizados para
confecção de canudos a partir de outras bases, principalmente as de origem natural, ou
seja, a partir de fontes biodegradáveis (FERREIRA et al., 2019).
Os materiais chamados biopolímeros (ou bioplásticos) podem ser confeccionados
tendo como base alimentos frescos (como resíduos da fabricação de sucos ou de outros
processos industriais). Desses resíduos são obtidos polissacarídeos, considerados polímeros
naturais. Eles são formados por macromoléculas de longas cadeias de carboidratos, assim
como os compostos plásticos feitos com derivados do petróleo. A maioria dos biopolímeros
é também biodegradável, ou seja, se deterioram rápida e naturalmente (FERREIRA et al.,
2019).
Os polímeros que possuem bases naturais em sua composição apresentam diversas
aplicações. Farias et al. (2016) realizou uma pesquisa e observou as principais fontes e
aplicações dos biopolímeros, como consta na Tabela 1.
Biopolímeros Fonte Aplicações
Amido
Plantas Melhoramento de gel, nanocompósito/
nanopartícula/nanobra, polióis e espumas
Celulose
Lignina
Ágar
Algas marinhas Gel/hidrogel, nanocompósito/nanopartícula e
lmes
Alginato
Carragena
Gelatina Desnaturação do colágeno Gel, nanobras e lmes
Quitosana Exoesqueleto de crustáceos Filmes, nanopartículas, nanocompósitos e
nanocarreador
Tabela 1. Principais biopolímeros, suas fontes e aplicações.
Fonte: Adaptado de Farias et al. (2016).
Ferreira et al. (2019) descreve canudos que foram criados pelos espanhóis Víctor
Sánchez, Enric Juviña, Michael Baraffé e Carlos Zorzano, que são chamados de “sorbos”. A
criação deles serve como alternativa aos canudos de plástico, que estão causando muitos
danos ao meio ambiente. Os sorbos, ao entrarem em contato com bebidas, resistem cerca
de 25 minutos sem se dissolver. Depois de usá-los, é possível ingeri-los, uma vez que são
feitos de gelatina, açúcar e amido, nos sabores limão, canela, lima, maçã-verde, chocolate,
gengibre e morango. Em caso de descarte, este tipo de canudo causa menos impacto ao
meio ambiente, por ser biodegradável, tendo sua decomposição completa em poucos dias.
Segundo Pisco (2019), a produção de diferentes bioplásticos a partir de amido
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 14 178
(da tapioca e da batata) e a partir da gelatina, com a utilização de glicerol e óleo de
girassol como agentes plasticantes teve um resultado satisfatório, além de ambas serem
provenientes de fontes renováveis e de baixo custo. Para os polímeros feitos a partir
do amido, vericou-se que a maior resistência e maleabilidade ocorreu para as maiores
quantidades de plasticante testadas. Já para os polímeros de gelatina, vericou-se a
formação de biolmes mais rígidos e frágeis se comparados aos de amido.
De acordo com Bertotto (2019), o desenvolvimento de lmes ativos com coprodutos
da extração comercial de própolis (CP) e coproduto de suco de maçã (CM) para elaboração
de embalagens plásticas biodegradáveis para uso em alimentos foi satisfatória no quesito
de propriedades mecânicas de exibilidade, resistência e rigidez, nas concentrações
adicionadas de coproduto em comparação ao lme controle.
Bomm (2019) estudou a produção de um lme biodegradável a partir do amido do
arroz vermelho com alginato de sódio e glicerol foi satisfatória, em comparação aos lmes
produzidos somente com alginato e glicerol. Os lmes provenientes do amido apresentaram
uma boa continuidade e excelente manuseabilidade. Com relação aos resultados, vericou-
se que a espessura dos lmes elaborados apenas com alginato de sódio possuíram o menor
valor quando comparados com as demais formulações. No parâmetro de luminosidade, a
adição do amido deixou o lme com uma coloração avermelhada. No entanto, no quesito de
biodegradabilidade, foi possível notar de forma lenta a decomposição dos biolmes.
Segundo Costa e Oliveira (2020), a adição de queratina (0, 10 e 20 % em relação
à quantidade de amido), oriunda de penas de frangos, aos biolmes de amido de milho-
glicerol, mostrou-se promissora, pois os valores da transparência, espessura, gramatura e
densidade não foram afetados com os tratamentos, enquanto que os da solubilidade em
água e da taxa de permeação ao vapor de água dos lmes reduziram com o aumento da
quantidade de queratina, sendo uma característica importante para que o material não se
dissolva na presença de água, conferindo maiores possibilidades de aplicação.
De acordo com Fialho (2019), a preparação de lmes biodegradáveis de amido de
mandioca contendo celulose bacteriana parcialmente puricada apresentaram resultados
positivos. Para tanto, o método casting foi utilizado para preparar lmes contendo ácido
cítrico e glicerol e diferentes quantidades do hidrolisado de celulose bacteriana parcialmente
puricada. O hidrolisado de celulose bacteriana possui potencial para melhorar as
características mecânicas de alguns lmes, já que houve aumento na resistência à tração
e elongação em relação ao material controle sem o hidrolisado de celulose bacteriana. Isso
mostra que estes lmes são compostos potenciais para a produção e desenvolvimento de
biopolímeros.
Segundo Rosas (2019), o desenvolvimento de embalagens biodegradáveis ativas
formuladas com amido de mandioca, glicerol e extratos das cascas de Euphorbia umbellata
(conhecida como Janaúba) foi satisfatório. Isso porque os resultados demonstraram que
os lmes apresentam propriedades bioativas e características físico-químicas adequadas.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 14 179
Quando houve incorporação da fração acetato das cascas da E. umbellata aos lmes,
houve melhoramento das seguintes características: espessura, solubilidade, densidade,
opacidade e índice de brancura. Portanto, eles são uma alternativa interessante para a
produção e aplicação em embalagens para alimentos.
Filipini (2019) estudou a elaboração de lmes utilizando colágeno (COL),
metilcelulose (MC) e proteínas de soro de leite (PSL), bem como a produção de lmes
de metilcelulose ativos e com potencial uso para embalagens inteligentes com adição de
extrato de jambolão (Syzygium cumini) foi satisfatória. Na produção dos lmes foi utilizado
o método casting. Vericou-se que a utilização de colágeno, soro de leite e metilcelulose
se mostraram aplicáveis na produção de lmes e blendas para uso em embalagens
biodegradáveis para alimentos. Dentre os lmes produzidos, os lmes de MC foram os que
apresentaram as melhores propriedades, sendo então utilizado para a adição de extrato
de jambolão, o que acarretou na melhoria das propriedades mecânicas e de barreira, bem
como propiciou funcionalidade aos lmes. Todos os lmes produzidos apresentaram rápida
biodegradação em solo e em água do mar, estando estes totalmente degradados em 15
dias no solo e 5 dias na água do mar, demonstrando grande potencial como material para
embalagens sustentáveis.
Segundo Menezes Filho, Souza e Castro (2019), a análise das características
poliméricas do biolme produzido a partir do resíduo do fruto de Citrullus lanatus (melancia)
foi satisfatório. O biopolímero foi produzido a partir de uma suspensão aquosa de farinha
do albedo e apresentou importantes resultados nos testes físico-químicos, mecânicos
e de atividade antioxidante, importante quantitativo de fenóis totais e boa eciência nas
características estruturais. Logo, este novo biopolímero a partir do resíduo de melancia
se revela um grande potencial para aplicação no desenvolvimento de embalagens
biodegradáveis, bem como no revestimento de certos alimentos.
Tendo em vista o exposto por Almeida et al. (2019) a utilização da casca de
mandioca e de batata, que possuem alto teor de amido, para a produção de bioplástico
apresentou bons resultados. Na produção, além das cascas, também foram utilizados
água, glicerina e ácido acético. Ao nal do procedimento, o bioplástico apresentou boa
consistência e elasticidade. Foi feita a análise da resistência, que também apresentou
resultados satisfatórios. As vantagens da produção desse bioplástico são inúmeras, devido
ao seu baixo custo de produção, pois sua matéria-prima é o resíduo que normalmente seria
descartado. Além disso, ele não é tóxico e apresenta fácil degradação. Outra vantagem
seria tornar o país menos dependente de petróleo.
Kubaski e Ito (2017) estudaram o desenvolvimento de uma embalagem biodegradável
com a utilização de resíduos agroindustriais provenientes da indústria da batata e da cerveja
por meio do método foam-mat (um processo rápido e de baixo custo) foi satisfatória. Os
resíduos agroindustriais adicionados foram o trub e o bagaço de malte, ricos em proteínas
e bras, respectivamente. Apesar da embalagem apresentar aspecto esfarelado, após a
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 14 180
adição de aditivos como a pectina e o glicerol, foi conferida maior maleabilidade e rigidez,
fazendo com que ela não se quebrasse facilmente. A obtenção de uma embalagem
constituída por estes componentes oferece um custo menor, baixa toxicidade e um tempo
de biodegradabilidade de aproximadamente 14 dias.
De acordo com Dias e Reis (2019), o desenvolvimento de lme a base do biopolímero
quitosana, com utilização de resíduos da indústria vinícola, apresentou ótimos resultados,
visto que a adição das cascas inuenciou signicativamente nas propriedades do lme.
Segundo as análises realizadas, os lmes de quitosana possuem espessura homogênea,
boa característica de solubilidade, baixa resistência a permeabilidade ao vapor d’água e a
análise colorimétrica indica que o lme pode apresentar atividade de cor. Por se tratar de
um resíduo industrial e um polímero biodegradável, tendo em vista o baixo custo associado
à produção do lme, pode-se inferir que existe viabilidade na aplicação de resíduos da
indústria vinícola em materiais de embalagem.
Silva (2018) estudou a produção de polímeros biodegradáveis a partir da polpa
extraída do pseudocaule da bra de bananeira apresentou-se promissora e satisfatória.
No processo de produção do bioplástico foram utilizadas diferentes proporções de amido
de milho e polpa de bra de bananeira, de suco de limão, glicerina e água destilada. A
temperatura máxima que os lmes suportaram foi de 80 ºC, após essa temperatura
começaram a queimar. Dos quatro lmes produzidos e avaliados, constatou-se que os
melhores resultados foram obtidos nos lmes em que foram adicionadas as maiores
quantidades de bra de bananeira tanto no teste de resistência quanto no teste de
biodegradação, o que leva a concluir que quanto maior a quantidade de bra de bananeira,
maior será sua resistência.
Segundo Brito (2019), a obtenção de lmes biodegradáveis produzidos a partir do
amido extraído do caroço de abacate e do bagaço de mandioca apresentou resultados
satisfatórios, dependendo da proporção a qual certos materiais são colocados. Inicialmente,
foram testadas três diferentes formas de extração: aquosa, alcalina e ácida. A partir disso,
foram formadas diferentes formulações de lmes: misturas de amido e bra, somente bra
e somente amido. Dentre essas, a amostra que continha amido extraído de forma ácida foi
a que apresentou melhores resultados entre todas. Logo, o amido extraído do caroço de
abacate pode ser aplicável na formação de lmes biodegradáveis, porém, a proporção de
bras adicionadas, seu tamanho e origem botânica devem ser aferidos para que haja uma
melhora nas propriedades do material.
Elhussieny et al. (2020) estudaram a formação de lmes compostos de quitosana
com reforços de palha de arroz e de bras de palha de nano arroz apresentou ótimos e
potenciais resultados. Os lmes foram produzidos por meio de técnicas de mistura úmida e
fundição com vários conteúdos de reforço (25-35 % em peso). Os resultados experimentais
mostraram que as bras de palha de arroz e as bras de palha de nano-arroz melhoraram
a resistência ao rendimento, a resistência à fratura e o módulo de Young em comparação
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 14 181
com o material não reforçado e com referência ao material de sacos plásticos egípcios. A
temperatura de degradação térmica da quitosana também foi melhorada pela adição de
palha de arroz e nano palha de arroz em comparação com compostos de quitosana, que
indica que as películas nas compostas podem talvez competir com os polímeros sintéticos
termoplásticos atuais fabricados por técnicas de fusão e servir como uma alternativa para
plásticos sintéticos.
Conforme Sun et al. (2019), a formação de compósitos à base de copolímeros
biodegradáveis produzidos a partir de bra de palha (SF) com isolado de proteína
de soja hidrolisada/ureia/formaldeído (HSPI/U/F) à base de copolímero indicou que
a resina copolímero foi preparada com sucesso. O material preparado apresentou boa
biodegradação, e a introdução do HSPI aumentou a taxa de degradação do compósito, que
foi de quase 50 % aos 24 meses. Após 30 dias de compostagem controlada, o acúmulo de
liberação de CO2 do material pode chegar a 24 g.
Alharbi et al. (2020) estudaram o desenvolvimento de biopolímeros lignocelulósicos
explorando resíduos de biomassa de lignina de palmeiras apresentou ótimos resultados.
Os resultados mostraram que os biopolímeros pré-tratados de bra bruta e alcalina
apresentaram resistência à exão, resistência à água e estabilidade térmica (~ 200 °C)
superior às dos biopolímeros à base de folhas. Além disso, biopolímeros lignocelulósicos
preparados a partir de partículas menores apresentaram propriedades térmicas e de exão
melhoradas, em comparação com aquelas preparadas a partir de partículas grandes.
Por propriedades mecânicas e térmicas, os melhores resultados foram observados para
biopolímeros pré-tratados com 1 % de NaOH, exceto para biopolímeros à base de folhas de
coco. Os resultados foram correlacionados à composição química e tamanho de partícula
da biomassa lignocelulósica moída, permitindo a condensação eciente da lignina.
Segundo Amorim (2019), o desenvolvimento de lmes plásticos a partir do
polibutilieno adipato co-tereftalato (PBAT), um copolímero biodegradável, produzidos por
extrusão, apresentou resultados animadores. Foram realizadas análises de biodegradação
por perda de massa de três formulações diferentes e em tempos de 35 e 60 dias. Sendo
assim, os melhores resultados foram obtidos com cerca de 34 % de massa perdida foram
das formulações de PBAT com 20 % de bras e de PBAT-TPF (20 %), demonstrando ser
uma solução plausível ao plástico na indústria.
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste estudo, conclui-se que, mesmo o plástico ter contribuído
imensamente com o avanço da ciência e das tecnologias, os utensílios de plástico
ocasionam diversos danos ao meio ambiente. Visando à sustentabilidade, urge o
desenvolvimento de estudos na área de biopolímeros para os biocanudos, objetivando
diminuir a dependência mundial em relação ao plástico e a sua consequente substituição
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 14 182
por materiais biodegradáveis.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem as bolsas nanciadas pelo Programa de Educação Tutorial
(PET) do MEC ao nosso grupo PET Engenharia de Alimentos da Faculdade de Zootecnia
e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de São Paulo (USP) do campus USP
Fernando Costa, em Pirassununga/SP.
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A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 15 185
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 15
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA: UMA PROPOSTA
PEDAGÓGICA COM ALUNOS DA EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS
Data de submissão: 13/09/2021
Heric Maicon Almeida Mota
Instituto de Ciência Biológicas - Universidade
Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte - Minas Gerais
http://lattes.cnpq.br/2970565065067299
Janice Henriques da Silva Amaral
Instituto de Ciências Biológicas - Universidade
Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte - Minas Gerais
http://lattes.cnpq.br/3220505504503017
Elisângela Martins dos Santos
Instituto de Ciências Biológicas - Universidade
Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte - Minas Gerais
http://lattes.cnpq.br/0087570000468449
Iasmin Rabelo Queiroz
Instituto de Ciências Biológicas - Universidade
Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte - Minas Gerais
http://lattes.cnpq.br/0982414263612057
Eduarda Maria Silva de Souza
Instituto de Ciências Biológicas - Universidade
Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte - Minas Gerais
http://lattes.cnpq.br/1517704924263474
RESUMO: As políticas públicas para o
favorecimento da Educação de Jovens e Adultos
(EJA) iniciaram-se no Brasil a partir dos anos 40. A
EJA é uma modalidade de ensino particularmente
desaadora, por atender estudantes com os
mais diversos pers educacionais e níveis de
motivação. O estudo do histórico da EJA no Brasil
aponta para uma gradativa descentralização
da educação, que possibilitou a iniciativa dos
educadores da educação popular, trazendo
formas de aprendizado diferenciadas, valorizando
cada vez mais os conhecimentos prévios dos
estudantes e, consequentemente, promovendo
uma aprendizagem mais signicativa. A Teoria da
Aprendizagem Signicativa, elaborada por David
Ausubel na década de 60, se consolidou como um
valioso norteador para intervenções pedagógicas.
Em sua teoria, Ausubel destaca a importância
de estabelecer conexões entre os novos
conhecimentos e aqueles já pré-estabelecidos
na estrutura cognitiva do sujeito aprendiz.
Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é
elaborar uma sequência didática e avaliar o uso
de práticas e estratégicas com potencial para
promover a aprendizagem signicativa no âmbito
da EJA. O presente trabalho é uma proposta de
sequência didática transversal para o público da
EJA. Serão desenvolvidas diferentes atividades,
sobre a neurobiologia da memória. A avaliação
da utilização das metodologias e ferramentas
eleitas no processo de ensino-aprendizagem
será feita de forma qualitativa e contínua.
Vislumbra-se um maior entendimento dos
estudantes sobre a neurobiologia relacionada
ao processo de memória, em especial, o sistema
nervoso central, e maior compreensão sobre o
processo de memorização de longo prazo.
PALAVRAS - CHAVE: Sequência Didática;
Aprendizagem Signicativa; Mapas Conceituais;
Memória.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 15 186
MEANINGFUL LEARNING: A PEDAGOGICAL PROPOSAL WITH YOUTH AND
ADULT EDUCATION STUDENTS
ABSTRACT: Public policies to favor Youth and Adult Education started in Brazil in the 1940s.
EJA is a particularly challenging teaching modality, as it serves students with the most
diverse educational proles and levels of motivation. The study of the history of EJA in Brazil
points to a gradual decentralization of education, which enabled the initiative of educators
in popular education, bringing differentiated forms of learning, increasingly valuing students’
prior knowledge and, consequently, promoting more meaningful learning . The Meaningful
Learning Theory, developed by David Ausubel in the 60s, has consolidated itself as a valuable
guide for pedagogical interventions. In his theory, Ausubel highlights the importance of
establishing connections between new knowledge and those already pre-established in the
learning subject’s cognitive structure. In this sense, the objective of this work is to elaborate
a didactic sequence and evaluate the use of practices and strategies with the potential to
promote meaningful learning in the context of EJA. The present work is a proposal for a
transversal didactic sequence for the EJA public. Different activities will be developed on
the neurobiology of memory. The evaluation of the use of methodologies and tools chosen
in the teaching-learning process will be carried out in a qualitative and continuous way. A
greater understanding of students about the neurobiology related to the memory process,
in particular, the central nervous system, and a greater understanding of the long-term
memorization process is envisioned.
KEYWORDS: Following teaching; Meaningful Learning; Concept Maps; Memory.
1 | INTRODUÇÃO
Na década de 40, ocorreram medidas efetivas de políticas públicas, atentando em
oferecer educação para todas as classes da sociedade, lembrando-se dos historicamente
negligenciados. Essa inclinação do Estado efetivou-se em medidas e projetos que
transcorreram até a década de 50. Um marco importante neste período foi a formação
do Fundo Nacional de Ensino Primário, tendo desdobramento na fundação do Serviço de
Educação de Adultos e da Campanha de Educação de Adultos, estabelecidos no ano de
1947 (STEPHANOU, 2005; DI PIERRO, 2007). A Campanha Nacional de Educação de
Adultos, idealizada pelo pedagogo brasileiro Lourenço Filho e promovida no governo Dutra,
fundamentava a educação de adultos como item essencial para melhorar os índices de
educação da nação (BEISIEGEL, 1997; STEPHANOU, 2005).
Em 1952, a Campanha de Educação Rural também teve atuação importante
em regiões afastadas (BEISIEGEL, 1997). Essas campanhas viabilizaram a criação e
permanência do ensino supletivo, sendo incorporado às bases dos sistemas estaduais
de ensino em vários estados do Brasil. Em alguns estados como São Paulo, esta política
funcionou até a década de 70, quando foi substituída pelo Movimento Brasileiro de
Alfabetização (Mobral) (DI PIERRO, 2007).
O movimento de 1947 gerou uma reexão pedagógica sobre o analfabetismo e as
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 15 187
consequências psicossociais, contudo, não proporcionou uma metodologia especíca para
educação de jovens e adultos. Fato que só vem ocorrer na década de 60, com trabalho de
Paulo Freire (DI PIERRO, 2007). Freire elabora os programas do Movimento de Educação
de Base (MEB), que era parte do Movimento de Cultura Popular do Recife (MCP), ambos
iniciados em 1961 nos Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes.
A metodologia que se iniciava priorizava o diálogo como princípio educativo, primando
por uma aula propositiva, com protagonismo dos alunos nas atividades educacionais, uma
quebra de paradigma na época (DI PIERRO, 2007). Em 1964, o governo João Goulart
criou o Programa Nacional de Alfabetização de Adultos, recebendo grande inuência de
Paulo Freire, mas sua implementação foi interrompida em decorrência do golpe militar.
Após ser exilado, Paulo Freire continuou a desenvolver uma metodologia pedagógica para
educação de jovens e adultos, utilizando palavras geradoras, que direcionam a reexão
sobre o contexto cotidiano dos educandos, esta aproximação facilitava o aprendizado
(STEPHANOU, 2005; DI PIERRO, 2007).
O Mobral, programa do governo militar criado para atingir todo país, priorizou
alfabetizar as camadas populares das diferentes regiões. Com alta adesão de municípios
brasileiros, esse programa foi importante para o aumento da popularidade do regime militar
iniciado em 1964 (DI PIERRO, 2007). Entretanto, no ano de 1985, o Mobral sofria com
críticas do meio político e educacional. Combinando com processo de abertura
política, que pleiteava mudanças na sociedade, nesse mesmo ano, foi criada a Fundação
Educar, que dava apoio pedagógico e nanceiro para governos estaduais e municipais,
nalizando o Mobral como plano do governo federal de alfabetização (STEPHANOU, 2005).
Por meio da promulgação da constituição de 1988, foi garantido que todas as
pessoas tenham acesso à educação, sendo regulamentada e sedimentada pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394/96 (BRASIL, 1988; BRASIL, 1996).
A lei determina que o Plano Nacional de Educação seja feito respeitando a Declaração
Mundial de Educação para todos. Embasada nesta, foi erguida a Educação de Jovens e
Adultos (EJA), um modelo de ensino garantido pelo Conselho Nacional de Educação pela
resolução CNB/CEB 1/2000, estabelecendo os pilares do currículo da Educação de Jovens
e Adultos. A lei destacou o direito à EJA, tendo o estado o dever de oferecê-la de forma
gratuita (STEPHANOU, 2005).
No primeiro ano do governo Lula, em 2003, foi feito o Programa Brasil Alfabetizado,
projeto que continha uma proposta inicial de trabalho voluntário, com uma perspectiva
de erradicar o analfabetismo em 4 anos, incidindo em 20 milhões de pessoas. Já entre
os anos de 2005 a 2011, foi desenvolvido o Programa Nacional de Inclusão de Jovens
(PROJOVEM Urbano), voltado para inserção de jovens em situação de vulnerabilidade
social e desempregados. Na mesma perspectiva, a Secretaria de Educação Prossional e
Tecnológica do MEC criou, em 2006, a Educação Prossional na Modalidade de Educação
de Jovens e Adultos (Proeja), oferecendo recursos para criação de turmas para conclusão
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 15 188
da escolaridade com uma formação prossional, programa que se propagou pela rede
federal de educação tecnológica (CARVALHO, 2011).
Em 2007, durante a gestão de Fernando Haddad à frente do Ministério da Educação
(MEC), a EJA começa a integrar os programas de assistência aos estudantes, com livro
didático, merenda escolar, transporte escolar e passa receber recurso do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Prossionais da
Educação - FUNDEB (CARVALHO, 2011).
De forma geral, é possível observar, ao longo deste levantamento histórico sobre
EJA no Brasil, que a gradativa descentralização da educação possibilitou a iniciativa dos
educadores da educação popular, trazendo formas de aprendizado diferenciadas (DI
PIERRO, 2007). Valorizando cada vez mais os conhecimentos prévios dos alunos, e,
consequentemente, a aplicação de uma aprendizagem signicativa - AS (FIORENTINI e
LORENZATO, 2009).
A didática baseada na teoria da AS apareceu na educação como uma nova maneira
de ensinar. No início dos anos 60, David Ausubel propôs que a aprendizagem signicativa
ocorre a partir da interação entre o novo conhecimento e o conhecimento preexistente
na estrutura cognitiva do aprendiz (AUSUBEL, 2003). Esse autor também defende a
consolidação da informação por meio da tradução da aprendizagem em signicado de
cognição e/ou psicológico para o aluno (MOREIRA et al., 2001; AUSUBEL, 2003).
No pensamento do ensino signicativo, o objeto de estudo é apresentado em
um material instrucional potencialmente signicativo, que possibilita a interação com os
conhecimentos prévios do aprendiz e a ressignicação da nova informação (AUSUBEL,
2003; MASINI; MOREIRA, 2009).
Este movimento dos anos 80 culminou com uma predominância teórica da AS,
promovendo uma modicação nas instituições e em seus docentes, promovendo uma nova
perspectiva do desenvolvimento laboral na educação. Tal momento possibilitou também a
promoção e readequação pedagógica nas instituições educacionais, priorizando a qualidade
em detrimento da quantidade, estimulando atividades em grupo, revendo a meritocracia
pura sem o retorno com as contribuições pedagógicas. Nesta nova visão, o aluno assume
papel central na construção do conhecimento, e o professor auxilia e estimula o aluno no
processo de aprendizado. O aprender se faz por meio da interlocução de novos conceitos e
um arcabouço cognitivo, gerando dados signicativos absorvidos com leveza, sem pressão
do conteúdo completo, ou da gura arbitrária do professor (MOREIRA et al., 2001).
Após o desenvolvimento inicial da AS por David Ausubel, na década de 1960, este
teve contribuição Joseph Novak na década de 1980, dando continuidade e aprofundando
alguns pontos da teoria Ausubeliana. Novak propaga a AS, como uma nova maneira
absorver o conhecimento, este novo paradigma foi importante para uma nova maneira
de ver as coisas ao redor, a relação interpessoal, tornando se uma teoria importante
atualmente (MASINI; MOREIRA, 2009).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 15 189
Joseph Novak e Gowin elaboram a construção do chamamos de Mapa Conceitual
(MC), no ano de 1984. Por meio desta ferramenta foi possível aperfeiçoar outras
possibilidades de linguagem signicativa, tendo como base os conhecimentos prévios dos
alunos, juntamente com os signicados que são relacionados entre os diferentes conceitos
(NOVAK, 2010; NOVAK et al., 1984).
Os MCs são representações grácas que, por meio da relação entre os conceitos e
utilizando palavras de ligação, produzem proposições que tenha um sentido lógico. Os MC
atribuem uma estrutura que contempla desde conceitos especícos até os mais genéricos
(MOREIRA et al., 2001).
No seu processo de construção, os MCs são individuais, mas é importante explicar
que é necessário que sejam explicados por quem os faz, tanto para o docente quanto para
os para colegas de classe. Uma forma de aperfeiçoar as explicações de um conceito é
deixar observações nas linhas, escrever entre as linhas que unem os conceitos uma ou
duas palavras que segundo Cordeiro (2010), priorizar o desenvolvimento de atividades de
AS, como a metodologia de MC, contribui para a melhoria da aprendizagem, estimulando
a memória de longo prazo dos alunos, colaborando para autoestima e diminuindo a evasão
escolar (CORDEIRO, 2010).
Na perspectiva da EJA, no Brasil e no mundo, temos como referência o educador
Paulo Freire, em que muito se aproxima com a abordagem da AS. A base freiriana é a
pedagogia crítica, tendo como premissa dessa teoria pedagógica que uma formação
crítica deve conduzir ao desenvolvimento dos indivíduos estando aptos a reetir sobre
sua realidade social, histórica e cultura, desenvolvendo um arcabouço de transformações
palpáveis (FREIRE, 2003; GOMES; NATÁRIO, 2017).
Dialogando com Paulo Freire, entre outros que defendem a formação crítica do
estudante dentro da sociedade, Moreira (2005) desenvolveu a Aprendizagem Signicativa
Crítica (ou subversiva):
(..) Aprendizagem Signicativa crítica: é aquela perspectiva que permite ao
sujeito fazer parte de sua cultura e, ao mesmo tempo, estar fora dela. Trata-
se de uma perspectiva antropológica em relação às atividades de seu grupo
social que permite ao indivíduo participar de tais atividades mas, ao mesmo
tempo, reconhecer quando a realidade está se afastando tanto que não está
mais sendo captada pelo grupo (MOREIRA, 2005, p7).
(...) É através da Aprendizagem Signicativa crítica que o aluno poderá fazer
parte de sua cultura e, ao mesmo tempo, não ser subjugado por ela, por seus
ritos, mitos e ideologias. É através dessa aprendizagem que ele poderá lidar
construtivamente com a mudança sem deixar-se dominar por ela, manejar
a informação sem sentir-se impotente frente a sua grande disponibilidade
e velocidade de uxo, usufruir e desenvolver a tecnologia sem tornar-se
tecnólo. Por meio dela, poderá trabalhar com a incerteza, a relatividade, a
não-causalidade, a probabilidade, a não-dicotomização das diferenças, com
a idéia de que o conhecimento é construção (ou invenção) nossa, que apenas
representamos o mundo e nunca o captamos diretamente (MOREIRA, 2005,
p7).
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 15 190
Esse trecho do texto contextualiza de forma robusta a percepção da pedagogia
crítica defendida e aperfeiçoada por Paulo Freire, na fundamentação da Aprendizagem
Signicativa Crítica (LÓPEZ, 2019; SANTANA, 2013).
Quando lidamos com EJA, é importante diminuir planos de aulas, centrados
em esgotar conteúdos do livro didático fornecido pelo PNDE, carregadas de termos e
conceitos técnicos, dentro do conteúdo de biologia. Observamos conceitos introjetados
mecanicamente para realização de provas, exames, sem a oportunidade dialógica de
acordar em um subsunçor de conhecimentos prévios. Portanto, é importante aos alunos
aprenderem o conteúdo técnico-teórico de forma consolidada, contextualizada, valorizando
seus conhecimentos prévios. (DE MORAES, 2017; SANTANA, 2013). Observe o trecho
abaixo:
Não basta saber ler mecanicamente ‘Eva viu a uva’. É necessário compreender
qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para
produzir uvas e quem lucra com esse trabalho (FREIRE, 1978, p70).
Segundo Brügger (1999), o adestramento educacional consiste em uma perspectiva
onde não se dialoga, se promove a repetição, competição e principalmente a punição dos
que não se enquadram neste modelo da meritocracia pura e simples. Segundo Foucault
(2014), na microfísica do poder, somos doutrinados a sermos corpos sem a criticidade
no ambiente escolar, obedecendo e calando sempre, para o superior, dispondo toda
atmosfera escolar, um aperitivo de uma prisão, sendo assim este aprendiz, egresso da
escola será um cidadão passivo, pacato acrítico descontextualizado com a realidade,
gerando desconformidade com a LDB/1996. As consequências por não termos uma
formação crítica, com uma abordagem do letramento cientíco, culminam em movimentos
negacionistas, como antivacina ou pessoas contrárias ao uso de máscaras durante a
pandemia de COVID-19 (NEVES, 2020; FERRARI, 2021). Nesse sentido, é necessário
priorizar abordagens que promovem o debate de ideias, entendendo o erro como uma
forma pedagógica de aprendizagem, não como uma punição, descentralizando a gura
docente, dando protagonismo ao estudante (FREIRE, 2003; SANTOS, 2007; NETO, 2020).
Essa forma de trabalhar dialogicamente são arcabouços teóricos que encontramos em
diversas abordagens do ensino de Ciências e Biologia, seja investigativo, de Aprendizagem
Signicativa crítica ou na pedagogia da libertação.
Durante a aprendizagem de biologia, devemos buscar não somente memorizar,
nomes de doenças, parasitas e medidas proláticas, é saber contextualizar, confrontar
supondo hipóteses, que devem ser discutidas à luz da ciência, confrontadas, refutadas,
aceitas, sem solução. A educação bancária ou mecânica, não educa na plenitude promove
o adestramento educacional (BRÜGGER, 1999).
Por outro lado, no cotidiano docente, nos deparamos com conteúdos extensos na
disciplina de biologia, que, ao serem trabalhados, evidenciam diculdades e defasagens
de aprendizagem dos estudantes em suas trajetórias escolares, entretanto, temos uma
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 15 191
política de Estado que privilegia o conteúdo em detrimento da aprendizagem, é difícil para o
docente implementar pedagogias ativas que favoreçam a aprendizagem, situação frente a
cobrança de governantes, da direção escolar, dos próprios alunos que querem se preparar
e prestar exames pré-universitários (DOS SANTOS et al., 2020; MORAES, 2017). Por outro
lado, inovar com metodologias dinâmicas é uma forma de promover o interesse do aluno
na atividade, favorecendo a aprendizagem de forma efetiva. Sendo essas intervenções
de Aprendizagem Signicativa Crítica essenciais para trabalhar temas relevantes como
educação sexual, uso de drogas, soberania alimentar, violência de gênero, dentre outros
(SILVA, 2020; KREUZ e ANDRADE, 2020).
Além disso, o aprimoramento das abordagens pedagógicas para a formação de
uma população de jovens e adultos críticos contribui indiretamente na melhora dos índices
sociais, de saúde e econômicos, pois a população consciente busca a transformação para
uma sociedade melhor (DA SILVA; GOMES; NATÁRIO, 2017; DA SILVA, 2017).
Os docentes da EJA observam que seus alunos possuem algumas diculdades no
processo ensino e aprendizagem. Acredita-se que tais diculdades podem ser justicadas
pela idade mais avançada. É conhecido que na fase senil o metabolismo siológico
diminui e algumas doenças associadas ao envelhecimento surgem com maior frequência
(DORNELES et al, 2012; BRAGA, 2014; BORGES et al., 2015). Contudo, como já exposto,
é importante uma mudança pedagógica, explorando as perspectivas positivas relacionadas
a maturidade e experiências de vida, bem como seus conhecimentos prévios, facilitando
uma AS (BRAGA, 2014; GOMES et al., 2014).
Outro aspecto importante, refere-se ao processo de evasão escolar na EJA. A
EJA apresenta um número expressivo de alunos que se matriculam e não concluem o
período letivo. Desta maneira, o professor tem papel importante para motivar estes alunos
a permanecerem na trajetória discente (GADOTTI, 2003; BRASIL, 2006).
É fundamental entender que os discentes da EJA são oriundos dos mais diversos
setores da sociedade. Sendo importante entender e compreender as expectativas e
inseguranças, para contornar possíveis desistências dos alunos (GADOTTI, 2003; BRASIL,
2006; BORGES et al., 2015).
Os alunos da EJA têm como uma das principais características uma baixa autoestima,
muitas vezes herança de um fracasso escolar, sentimento que gera insegurança no seu
retorno a vida educacional. Os estudantes que geralmente já estão afastados deste ambiente
a algum tempo, quando retornam trazem, os traumas e desconanças, sentimentos que
estão relacionados consigo e com os educadores. Por isso estes alunos se caracterizam
por terem um comportamento comedido e um temor constante com a reprovação (BRASIL,
2006; BORGES et al., 2015).
Neste contexto, um fator preponderante na permanência discente na EJA é
a metodologia usada pelos professores, (GADOTTI, 2003), por isso a escola deve
sempre buscar práticas docentes, que priorize aulas críticas e reexivas, por meio de
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 15 192
aulas propositivas, que de liberdade e valorize os conhecimentos prévios do estudante,
promovendo resultados positivos na comunidade escolar. Sendo assim o aluno melhora
sua autoestima, sedimentando a gana de estudar e não desistir (GOMES et al., 2014).
Diante das especicidades do público-alvo da EJA e as potencialidades da AS,
propõe-se a uma sequência didática transversal acerca de uma temática pertinente para
trabalhar os desaos apresentados.
2 | DESENVOLVIMENTO
O presente trabalho consiste no desenvolvimento de uma proposta de sequência
didática transversal para o público da EJA, com a temática “Memória e Saúde do Cérebro”,
apoiada nos conceitos de AS, termos geradores e considerando as especicidades do
público-alvo da EJA.
A sequência foi proposta como produto de uma pesquisa desenvolvida no âmbito do
Mestrado Prossional de Ensino em Biologia (PROFBIO). Nesse sentido, buscou-se atender
alguns estágios citados pelos autores Fiorentini e Lorenzato (2009) para investigações no
âmbito da docência, procurando um tema originado do cotidiano do educador, com um
embasamento teórico que justique, uma revisão de bibliográca, a pergunta geradora,
uma referência metodológica, uma prática pedagógica e, subsequentemente o tratamento
e análise dos dados, com as conclusões do pesquisador-professor. Buscando por meio
destes estágios a formação de um produto didático-pedagógico.
2.1 Sequência didática
Fundamentada nos norteadores teóricos, metodológicos e dados das etapas
apresentados anteriormente, a sequência didática a é composta por duas aulas que foram
descritas a seguir. Ademais, buscou-se apresentar alternativas para implementação da
sequência didática de forma presencial, híbrida e a distância.
2.1.1 Aula 01 - atividade com aspectos investigativos
A aula 01 é composta de 04 atividades, a serem desenvolvidas com o auxílio de um
ambiente virtual gratuito, o Google Sala de Aula.
2.1.1.a Atividade 1 - Levantamento de conhecimentos prévios
Considerando a importância dos conhecimentos preexistentes na estrutura cognitiva
do aprendiz para a oportunização da Aprendizagem Signicativa (AUSUBEL, 2000), o
primeiro momento tem o objetivo de fazer o levantamento dos conhecimentos prévios
sobre: a memória, funcionamento do cérebro, saúde neurológica.
Além disso, a atividade busca estimular os estudantes a levantar informações sobre
fatores que favorecem a memória, quais fatores desfavoráveis como: idade e doenças da
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 15 193
memória; qual a importância da memória no cotidiano. Ainda que a atividade funcione como
diagnóstico de conhecimentos prévios, a própria troca de informações e compartilhamento
dos diversos conhecimentos prévios extraídos do conjunto de estudantes gera aprendizado
(CALLEJO, 2001).
Na impossibilidade de implementar a atividade de forma virtual, o professor deverá
dispor a turma em círculo, levar objetos para que correlacionem seus efeitos com a memória.
No viés de Aprendizagem Signicativa, trabalharemos como questões geradoras objetos
que serão: réplica do cérebro, toga (chapéu de formatura) e diploma, revista de jogo da
memória, quebra cabeça, alimentos saudáveis, alimentos não saudáveis, travesseiro e
despertador, folha de ponto do trabalho, bebidas alcoólicas (cachaça), cigarro, garrafa de
água mineral, bengala, fralda. Esses objetos trazem signicados inerentes, por exemplo:
um diploma remete a aprendizagem, a bengala remete ao envelhecimento, o travesseiro e
o despertador remetem ao sono, folha de ponto ao trabalho e seu estresse, as bebidas e
drogas ao desgaste da saúde neurobiológica.
Já no AVA, a atividade pode ser disponibilizada como uma atividade que permite o
registro dos comentários dos estudantes. Nesse caso, representações grácas dos objetos
seriam utilizadas.
Após observarem estes objetos é lançada a pergunta: “qual a relação destes
objetos com o cérebro?” Em seguida, permitir que estes estudantes respondam, de forma
organizada para evitar conversas paralelas e que se perca opiniões na discussão, com
seus conhecimentos prévios, por meio desta tempestade de ideias são retirados conceitos
que a maioria responde ou concorda anotados no quadro.
Não haverá, para as perguntas, respostas corretas ou erradas, mas o professor dará
o direcionamento da discussão do tema para assuntos no tocante a memória saudável
(BATISTA, 2010).
Após esta tempestade de ideias, mediada pelo professor, interferindo de forma
pontual, promovendo novos questionamentos críticos, organizando as discussões para que
todos exponham suas ideias. Sendo que, a importância desse momento é apresentada no
trabalho de Callejo (2001).
2.1.1.b Atividade 2: Criação de hipóteses
Na atividade seguinte, baseada nas etapas do ciclo investigativo de Pedaste
e colaboradores (2015), essas fases são: orientação, conceitualização, investigação,
conclusão e discussão. Propõe-se que a turma seja dividida em grupos de 5 pessoas,
conforme orientações de Cohen e Lotan (2017), fragmentando as discussões, autogeridas
em cada grupo, deixamos em cada grupo uma folha para formulação de hipóteses sobre
hábitos que favorecem a memória, que evitam a demência. Nesse momento, serão
deixados 3 objetos, em cada grupo para fazerem uma correlação entre eles e o cérebro.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 15 194
É importante salientar que também é viável realizar essa atividade no AVA. Por meio de
separação dos grupos, inserindo os objetos de forma virtual por imagens ou vídeos para
cada grupo fazer a correlação e criar as 3 hipóteses. Os grupos podem desenvolver as
hipóteses no meio virtual por meio do google docs. As discussões podem ser conduzidas
via chat ou videochamada por meio do google meet.
2.1.1.c Atividade 3: confrontando as hipóteses
Adiante, após a atividade de elaboração de hipóteses propõe-se a apresentação do
vídeo “Como Cuidar melhor da memória.” juntamente com material escrito de apoio sobre o
tema saúde do cérebro. Mais uma vez, considerando os princípios de inclusão pedagógica
e digital, essa atividade poderá ser realizada na sala de aula, com a projeção do vídeo, ou
no AVA.
Em seguida, será solicitado para os grupos, que façam uma confrontação das
hipóteses com os conteúdos fornecidos, falarem se foram conrmadas, parcialmente
conrmadas, ou refutadas, e o porquê? Este momento é importante para que o aluno
construa de forma autônoma a ressignicação das suas ideias pregressas, com as
informações fornecidas no vídeo.
O objetivo é promover o protagonismo do estudante. Aqui, o papel do professor
é propor questionamentos, mediar o debate e direcionar a atividade e as discussões,
conforme contribuições de Sá (2007).
2.1.1.d Atividade 4: apresentação de hipóteses
Para oportunizar a aprendizagem dos conhecimentos construídos pelos estudantes,
cada grupo será orientado a expor como foi a confrontação das hipóteses, relatando se estão
conrmadas ou refutadas, dando suas explicações, sendo as mesmas complementadas
pelo professor para fechamento e consolidação dos conceitos. (AZEVEDO, 2004).
2.1.2 Aula 2: elaboração de mapas conceituais
2.1.2.a Atividade 1: mapas conceituais
A primeira atividade da segunda aula consiste na apresentação da ferramenta MC.
No contexto da sala de aula, o professor deve orientar para que a turma trabalhe no
formato de semicírculo, para favorecer discussões, escrevendo o tema no quadro: “Mapas
Conceituais”. Em seguida, o docente deve iniciar uma discussão sobre o que são mapas
conceituais. Nesse momento, os conhecimentos e concepções prévias dos estudantes
devem ser observados. Então, os conceitos devem ser anotados no quadro. Adiante, o
professor deverá propor segunda pergunta: Por que os mapas conceituais favorecem a
aprendizagem? Nesse momento, deve ser incentivado o uso do celular pelos discentes
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 15 195
para consulta sobre o tema ou buscar informações na biblioteca da escola. Os conceitos,
novamente, deverão ser anotados. Os estudantes serão orientados que voltem a formação
de grupo, formulem um MC, com os conceitos anotados no quadro em uma folha A4 Branca.
No AVA, a atividade pode ser conduzida por meio da criação de um tópico e o uso de
um aplicativo de videochamada gratuito. Essa atividade possui o intuito de promover uma
reexão sobre os MCs.
2.1.2.b Atividade 2: materiais de apoio
Após o primeiro mapa conceitual confeccionado, deverá ser apresentado um
vídeo e texto de apoio sobre a elaboração do mapa conceitual, de fontes conáveis, com
embasamento cientíco.
2.1.2.c Atividade 3: refazendo o MC
Nessa atividade, os grupos terão oportunidade de refazer os MCs feitos
anteriormente, e fazer anotações dos motivos das correções. Em seguida, os MC serão
entregues ao professor. Então, é debatido sobre como pesquisar informações na internet e
a importância de informações seguras baseadas em dados cientícos. Logo após, deverá
ser realizada a construção do MC no quadro, em conjunto com os estudantes, utilizando
os conceitos existentes anotados no quadro e aumentando a aprendizagem sobre o tema.
Adiante, propõe-se passar a atividade para cada grupo elaborar um mapa conceitual, sobre
o tema: “Memória e Saúde do Cérebro”.
3 | RESULTADOS ESPERADOS
Vislumbra-se um maior entendimento dos estudantes sobre neurobiologia relacionada
ao processo de memória, em especial o sistema nervoso central e maior compreensão
sobre o processo de memorização de longo prazo. Acredita-se que, a autonomia dos
estudantes quanto ao processo de ensino-aprendizagem pode ser melhorada por meio da
elaboração de MC.
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS.
O presente trabalho visou contribuir para reexão sobre as especicidades do
processo de ensino e aprendizagem no âmbito da EJA. Além disso, buscou-se produzir uma
sequência didática referenciada na Aprendizagem Signicativa. Espera-se que a pesquisa
bibliográca apresentada forneça subsídios para outros estudos voltados para a inovação
do processo de ensino e aprendizagem da EJA. Ainda, espera-se que a sequência didática
possa ser apropriada por docentes, incentivando a adoção da perspectiva da Aprendizagem
Signicativa.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 15 196
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A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 16 200
Data de aceite: 21/09/2021
CAPÍTULO 16
EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA DE
ATIVIDADE INVESTIGATIVA SOBRE FORMIGAS
COM ELABORAÇÃO DE MODELOS DIDÁTICOS
Francielle da Silva Mateus Costa
Mestre em Ensino de Biologia
Professora na SEDUC- MT
Diamantino - MT
http://lattes.cnpq.br/1911353431033241
Angela Maria Muniz Gonçalves
Mestre em Ensino de Biologia
Professora na SEDUC - MT
Glória D’Oeste - MT
http://lattes.cnpq.br/6149587041155109
Ilio Fealho de Carvalho
Dr. em Biotecnologia
Professor Adjunto da UNEMAT - MT
Tangará da Serra - MT
http://lattes.cnpq.br/1387428884350456
RESUMO: A formação dos estudantes deve
contribuir para que estes sejam cidadãos
responsáveis pelos seus atos, que tenham
opiniões críticas, exigentes e que possam
promover o bem-estar da sociedade. A educação
ambiental é uma área do ensino que possibilita
atingir esses objetivos ao indagar sobre esta
área das interações entre os seres vivos e o seu
meio. Assim, a sequência didática teve como
proposta de trabalho uma atividade investigativa
para promover a construção do conhecimento
cientíco através da introdução de conceitos
relacionados à preservação ambiental, tendo
como foco o estudo da diversidade de formigas
que habitam o pátio da escola e a elaboração
de modelos didáticos. A proposta foi realizada
em duas escolas de Mato Grosso com alunos
do 3º ano do Ensino Médio regular e do 1º ano
da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em
quatro etapas totalizando 10 horas/aulas. A
atividade foi dividida em várias etapas, a saber:
problematização, levantamento de hipóteses,
visita a campo para observação e coleta do
material de estudo, análises e pesquisas
bibliográcas, organização das descobertas
através de debates, produção de textos,
confecção de modelos didáticos das formigas
amostradas, montagem de murais e socialização
para a comunidade escolar. Através do estudo
sobre as formigas foi observado o protagonismo
dos estudantes para construção dos saberes
cientícos relacionados à Educação Ambiental
que, até então, era vista pelos discentes mais
como “pragas” no ambiente.
PALAVRAS - CHAVE: Educação Ambiental,
Proposta Investigativa, Formigas.
ENVIROMENTAL EDUCATION: A
PROPOSAL OF INVESTIGATIVE
ACTIVITIES ABOUT ANTS WITH
ELABORATION OF DIDATIC MODELS
ABSTRACT: The formation of students should
contribute to these citizens to be responsible for
their acts, so that they have critic and demanding
opinions, and that they can promote the well-
being of the society. The environmental education
is an area of teaching that enables to achieve
these goals when inquiring about this area of
interaction between the living beings and their
environment. Therefore, the didactic sequence
had as work proposal an investigative activity to
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 16 201
promote the construction of scientic knowledge through the introduction of concepts related
to de environmental preservation, having as it focus the study of ants diversities that live in
the school yard and the elaboration of didactic models. The proposal was made in two schools
in Mato Grosso with students from the third year of the regular High School and from de rst
year of Young and Adult Education (YAE), in four phases totalizing 10 hours/classes. The
activity was divided in several phases, like problematization, hypothesis raising, eld visits
for observation and data collect of the study material, analysis and bibliographic searches,
organization of the discoveries through the debates, text productions, confection of didactic
models of the sampled ants, mounting the murals and socialization of the school community.
Through the studies about the ants was observed the protagonism of the students to the
construction of scientic knowledge related to the Environmental Education, that, until then,
were seen, by the teachers, more like “pests” in the environment.
KEYWORDS: Environmental Education, Investigative Proposal, Ants.
1 | INTRODUÇÃO
Se o professor tem a nalidade de auxiliar os seus alunos a serem mais autônomos,
criativos, organizados, adaptáveis a novas situações e a trabalharem de maneira ecaz,
deve propor diversas atividades que sejam signicativas, como a resolução de problemas
(GUIMARÃES, 2009). Os problemas são situações que envolvem diculdades que não há
uma resposta previamente conhecida, nos quais os estudantes devem buscar soluções
para as questões propostas, estimulando, assim, a autonomia durante o processo ensino-
aprendizagem (MALHEIRO; TEXEIRA 2011).
Segundo Sasseron (2015), a alfabetização cientíca se constrói à medida que
os estudantes passam a ter capacidade para análises e avaliações de situações que
permitam chegar a determinadas conclusões. A elaboração e execução de atividades que,
necessariamente, estão ligadas a uma investigação-ação deve ser um ato de transformação
que ao nal se torna uma produção (PORTO; PORTO, 2012).
Conforme Zompero e Laburú (2016), o ensino por investigação apresenta
diversas nalidades, como o desenvolvimento de habilidades cognitivas, realização
de procedimentos, anotação, análise de dados e o desenvolvimento da capacidade de
argumentação, presente em todas as etapas do trabalho e, principalmente, no momento de
socializar para o outro. Dessa forma, o trabalho, com questões problematizadoras, estimula
os alunos a desenvolverem atitudes cientícas.
Nesse sentido, a Educação Ambiental (EA) é um instrumento importante na
aquisição de conceitos cientícos. O estudo dos conceitos ecológicos é fundamental para
compreensão da dinâmica dos ecossistemas e, portanto, entender de fato a necessidade
e importância da preservação (FARIA et al., 2012). Para Candiani et al. (2004), a EA tem
o objetivo de proporcionar aos indivíduos a compreensão da natureza complexa do Meio
Ambiente, ou seja, levá-los à percepção das interações entre os aspectos socioculturais e
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 16 202
políticos, físicos e econômicos que compõem a relação homem/meio.
As formigas são grupos de insetos presentes em praticamente todos os ambientes
terrestres. Por essa razão, associam as formigas somente a aspectos negativos, como
vetores de doenças, prejuízos econômicos, sendo a EA uma ferramenta educacional para
desmisticar e/ou acrescentar saberes relacionados à ecologia e suas interações e buscar,
através do conhecimento, compreender sobre as diferentes formas de vida e buscar o
equilíbrio.
Com base nesses preceitos, a sequência didática teve como proposta uma atividade
investigativa para promover a construção do conhecimento cientíco através da introdução
de conceito preservação ambiental, tendo como foco de estudo a diversidade de formigas
presentes no pátio da escola e elaboração de modelos didáticos.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
2.1 As escolas
A sequência didática, com vistas para investigação cientíca, foi realizada em quatro
etapas, totalizando 10 horas/aulas para as turmas do ano do Ensino Médio regular e
do 1º ano da Educação de Jovens e Adultos (EJA), com aproximadamente 30 alunos,
oriundos de duas escolas da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso, nos municípios de
Diamantino e Glória D’Oeste no ano de 2019.
2.2 Primeiro Momento
Foram apresentadas aos estudantes as seguintes questões problematizadoras: 1 -
“No pátio da escola existem formigas?”; 2 - “Quais as espécies presentes?”; 3 - “As formigas
apresentam alguma importância para o meio ambiente?”. As hipóteses foram discutidas e
anotadas em cadernos. Logo após, os estudantes formaram grupos e seguiram até o pátio
da escola para fotografar e coletar amostras de formigas com armadilhas de sardinha em
óleo comestível em diferentes pontos (Figura 1), pois segundo Cordeiro et al. (2010), esse
tipo de isca é a mais eciente na coleta desses insetos. As sardinhas foram amassadas
em pequenas porções e colocadas em guardanapos de papel. As iscas foram distribuídas
em diferentes pontos no pátio da escola e, depois de 30 minutos, foram recolhidas e
armazenadas em saquinhos plásticos. As formigas coletadas foram observadas através
de lupas e xadas em recipientes contendo álcool 70% para posteriormente realizar a
identicação.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 16 203
Figura 1 – Atividade de coleta das formigas no pátio das respectivas escolas.
2.3 Segundo Momento
Através da revisão bibliográca em diferentes fontes (Figura 2), após discussões
sobre o tema, os estudantes buscaram respostas para as perguntas problematizadoras.
Também foi apresentado o documentário “Formigas: o poder secreto da natureza”, que
discorre sobre como vivem esses insetos e sua importância ecológica para o meio ambiente.
Nesta etapa, foi possível realizar a identicação das formigas coletadas ao nível de gênero,
utilizando a chave de Baccaro et al. (2015).
Figura 2: Momentos de pesquisa e identicação das subfamílias e gêneros amostrados.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 16 204
2.4 Terceiro Momento
Foram confeccionados pelos alunos modelos didáticos de biscuit dos espécimes
coletados no pátio da escola e montagem de painéis com as informações sobre o tema
(Figura 3).
Figura 3: Confecção de modelos didáticos e montagem de painel para socialização.
2.5 Quarto Momento
Etapa da socialização dos trabalhos desenvolvidos para a comunidade escolar
(Figura 4), e para nalização foi aplicado aos estudantes um questionário aberto sobre a
aula ministrada.
Figura 4: Socialização para a comunidade escolar.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 16 205
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A sequência didática apresentou resultados satisfatórios, pois foi possível constatar
o entusiasmo e participação dos discentes em cada etapa. As hipóteses levantadas
demonstram os conhecimentos prévios dos discentes, evidenciando noções básicas de
conceitos relacionados à ecologia e de taxonomia ao citarem alguns nomes populares de
formigas. Os alunos também relacionaram as formigas ao fato de apenas cortarem folhas
e trazer prejuízos, demonstrando desconhecer o papel ecológico delas no ambiente. As
hipóteses mais comentadas foram:
No pátio da escola existem inúmeras formigas vivendo em harmonia com o
espaço, trabalham sempre em grupo”.
As formigas coletadas e observadas num primeiro momento foram identica-
das através de seu nome popular e de outras características como sua forma,
habitat ou comportamento, sendo elas: “boca-de-cisco”, “lava-pés”, “foguinho”,
“cabeçuda”, “saúva”, “cabeçuda pequena”, “formiga doceira”, “cortadeira”, “car-
pinteira”, “fantasma”, “quenquéns”, “corredeira” e “pretinha da árvore”.
Vivem em sociedade e se alimentam conforme a oferta do ambiente, podendo
ser carnívoras, onívoras ou herbívoras. As formigas podem diminuir a quantida-
de de insetos e serem polinizadoras e contribuem na decomposição”.
“As formigas não apresentam nenhuma importância para o meio ambiente, elas
apenas fazem seu trabalho de cortar folhas para sua alimentação”.
“As formigas são pragas e destroem plantações”.
Segundo Lopes (1999), o papel da escola é investigar, primordialmente, o
conhecimento dos alunos e trabalhar com base no resultado dessa investigação, sendo
o professor mediador desse processo, para que se possa raticar e/ou complementar os
aprendizados corretos e reticar/desmisticar aqueles conhecimentos equivocados ainda
arraigados nos estudantes.
Com o método adotado, foi possível realizar a coleta de vários exemplares distribuídos
em três subfamílias e 7 gêneros na escola José Bejo e uma subfamília e 1 gênero na
escola EJA (Tabela 1). A coleta na escola José Bejo apresentou maior diversidade, pois foi
realizada durante o dia, enquanto na escola EJA, foi realizada no período noturno, mas o
gênero coletado apresentou maior abundância.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 16 206
Subfamílias Gêneros
Myrmicinae
Solenopsis
Atta
Acromyrmex
Monomorium
Pheidole
Formicinae Camponotus
Ponerinae Neoponera
Tabela 1: Subfamílias e gêneros de Formicidae encontradas no pátio das escolas.
A maior abundância do gênero Atta foi encontrada na escola EJA, e tudo indica
que este resultado pode ser em função da presença de uma elevada vegetação no pátio
da escola, pois esse gênero de cortadeiras necessita de disponibilidade de folhas para o
cultivo de um fungo. Segundo Mello (2014), um sauveiro maduro chega a cortar 8 toneladas
de folhas por ano, por isso podem destruir lavouras inteiras e competir com o gado por
gramíneas. Essas formigas estão associadas, positivamente, a um papel fundamental
no dinamismo dos ciclos biogeoquímicos, uma vez que participam de muitas etapas
ecológicas desses processos, caso elas desapareçam, centenas de milhares de espécies
serão extintas e muitos ecossistemas poderão car, perigosamente, desestabilizados. Além
disso, participam da regeneração de orestas, pois auxiliam na decomposição de vegetais,
na fragmentação da matéria orgânica e ciclagem dos nutrientes (ENDRINGER, 2015).
Ao longo do processo de intervenção, foi possível debater sobre o dinamismo da
família Formicidae, a diversidade, adaptação, distribuição, organização social, nicho,
habitats e sua importância ecológica, desmiticando, assim, a má fama desses insetos
pelos estudantes.
A construção dos modelos didáticos foi muito prazerosa para os alunos, demonstraram
habilidades e caram mais encantados com as experiências que estavam vivenciando,
na qual culminou com a produção de textos, mural e a socialização para a comunidade
escolar. Esses modelos didáticos caram disponíveis para as escolas participantes.
Socializar as aprendizagens é fundamental para o processo de construção do
conhecimento. Só é possível a socialização a partir do momento em que o indivíduo
se apropria da informação. Conforme Santiago (2018), para reforçar essa ideia merece
destaque a teoria proposta pelo psiquiatra norte-americano William Glasser, através da sua
pirâmide da aprendizagem, que segundo o autor, aprendemos 95% quando ensinamos aos
outros; 80% quando fazemos; 70% quando discutimos com alguém; 50% quando vemos
e ouvimos; 30% quando observamos; 20% quando ouvimos e somente 10% quando lemos.
Os depoimentos na tabela 2 foram resultados do questionário aberto aplicado no
término da sequência e reforçam o sucesso e a aplicabilidade deste formato de aula.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 16 207
Questão 1 – O que você achou dessa proposta de aula?
“Foi a primeira vez que utilizamos este meio para compreender e aprofundar no conceito e como as
“formigas” em geral vive, teve um resultado excelente, compreendi bem o modo de vida que elas
possuem e mudei meu ponto de vista relacionado a formiga, foi um método que faz a turma focar
mais e aumentar a participação em sala de aula.” (3º ano)
“Muito interessante, pois não há este tipo de aula com frequência, e isso acabou nos motivando a ir
fundo nas coletas, nas análises etc. Enm, foi um grande aprendizado para mim como aluno e creio
que para todos.” (3º ano)
“Interessante uma forma mais dinâmica de ensino onde você aprende e ensina sobre a vida de
algumas formigas, onde você precisa entender para poder explicar.” (3º ano)
“Eu achei muito importante, pois possibilitou aprender muitas coisas que não sabia a respeito das
formigas.” (EJA)
Questão 2 – Como você avalia a sua aprendizagem ao longo desses conteúdos?
“Acredito que as aulas investigativas chamam mais a atenção dos alunos, há um interesse maior em
aprender. Eu gosto de Biologia, sendo utilizado o livro ou a aula investigativa, mas às vezes a rotina
cansa e essas aulas me fazem aprender muito mais. Porque há a contribuição de todos.” (3º ano)
“Para mim foi muito importante, descobri coisas que não sabia, Ecologia para mim é uns dos
melhores conteúdos de Biologia, descobri que as formigas não se alimentam das folhas e sim do
fungo que é formado no ninho delas a partir das folhinhas. Aprendi muito com essa aula, além de
especial, tivemos muitas ideias nas quais, discutimos sobre e conseguimos chegar a resultados
maravilhosos.” (3º ano)
“Aprendi de uma ampla sobre as formigas, parece que minha mente se abriu, com o trabalho em
grupo, pude compreender melhor a matéria.” (EJA)
Questão 3 – Como você descreve a vida das formigas no ambiente e qual a sua importância
para o mesmo?
“Elas vivem de forma organizada (o que é incrível), cada formiga possui seu papel em sua
sociedade, o que antes por mim era desconhecido. Seu papel no ambiente está relacionado com
a dispersão de sementes, fazem decomposição, elas fazem a limpeza no meio ambiente, além de
participarem da cadeia alimentar, e entre outras qualicações.” (3º ano).
“Devemos levar em consideração seus benefícios ao meio, principalmente, através de seu
comportamento social. Isso evidencia sua importância ao meio através do equilíbrio ecológico. Em
contrapartida, os malefícios apresentados nos mostram que o desequilíbrio ecológico causado pelo
homem as faz ter que se readaptar e contra-atacar para sobreviver.” (3º ano)
“São importantes para formação das orestas, fertilização do solo e sua organização no sauveiro é
algo impressionante.” (EJA)
Tabela 2: Depoimentos dos alunos das duas escolas após o término da sequência didática.
Este último instrumento da sequência didática, possibilitou um feedback importante
para que os educadores pudessem avaliar a aplicabilidade da aula proposta.
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização de sequências didáticas voltada ao ensino por investigação foi de
extrema importância, visto que deu a oportunidade para os discentes atuarem de forma
mais ativa durante todo o processo de ensino e aprendizagem, tornando-se agentes e
construtores do conhecimento através das etapas do método cientíco, permitindo, assim,
uma didática diferenciada no contexto escolar.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
Capítulo 16 208
Portanto, é muito relevante uma mudança na educação que o professor possa se
tornar o mediador do conhecimento e o aluno o protagonista das situações de aprendizagem
vivenciadas. Neste contexto, as sequências didáticas investigativas são aliadas em
potencial do professor (MARQUES, 2016).
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A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
210
Sobre os Organizadores
SOBRE OS ORGANIZADORES
CLÉCIO DANILO DIAS DA SILVA - Doutorando em Sistemática e Evolução pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Mestre em Ensino de Ciências Naturais e
Matemática pela UFRN. Especialista em Ensino de Ciências Naturais e Matemática pelo
Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). Especialista em Educação Ambiental e
Geograa do Semiárido pelo IFRN. Especialista em Gestão Ambiental pelo IFRN. Especialista
em Tecnologias e Educação a Distância pela Faculdade São Luís (FSL). Graduado em
Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Facex (UNIFACEX). Graduado em Pedagogia
pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER). É membro do corpo editorial da Atena
Editora; Aya Editora, Editora Amplla. Tem vasta experiência em Zoologia de Invertebrados,
Ecologia aplicada; Educação em Ciências e Educação Ambiental. Áreas de interesse: Fauna
Edáca; Taxonomia e Ecologia de Collembola; Ensino de Biodiversidade e Educação para
Sustentabilidade.
DANYELLE ANDRADE MOTA - Mestra e Doutorada em Biotecnologia Industrial pela
Universidade Tiradentes (UNIT), com internacionalização com o Doutorado Sanduíche no
Instituto Superior de Agronomia pela Universidade de Lisboa. Especialista em Docência no
Ensino de Ciências pela Faculdade Pio Décimo. Especialista em Neurociência pela Faculdade
de Ciências da Bahia (FACIBA). Especialista em Recursos Hídricos e Meio Ambiente pela
Universidade Federal de Sergipe (UFS). Graduada em Ciências Biológicas Licenciatura
pela UFS. Durante a graduação desenvolveu pesquisas na área de Botânica (Taxonomia
de Líquens), Microbiológica e Educacional. Durante o mestrado e doutorado desenvolveu
trabalhos no Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) atuando especialmente pesquisas
focadas nas interações entre as áreas de biologia, bioquímica e engenharia química. Visando
a melhoria do uso e transformação de recursos agroindustriais da região. Sendo assim, tem
experiência na área de Biologia Celular, Microbiologia, Bioquímica, Química e Biocatálise
com ênfase em imobilização de enzimas para aplicações em bioprocessos. Atualmente,
é colaboradora no grupo de pesquisa do ITP, professora na Rede Estadual de Sergipe,
professora na Uniplan Centro Universitário e professora voluntária na Universidade Federal
de Sergipe.
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
211
Índice Remissivo
ÍNDICE REMISSIVO
A
Ambiente Marinho 10, 3, 19, 24
Aprendizagem Signicativa 12, 185, 188, 189, 190, 191, 192, 193, 195, 197, 198, 209
Arborização 12, 159, 160, 161, 162, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 170
B
Biodegradáveis 171, 174, 176, 177, 178, 179, 180, 181, 182, 183, 184
Biodiversidade 9, 10, 19, 20, 21, 24, 28, 43, 46, 48, 56, 85, 106, 112, 117, 120, 122, 123,
133, 134, 137, 138, 158, 165, 169, 176, 208, 210
Biologia Reprodutiva 74
Biomassa 17, 86, 181
Biomonitoramento 10, 45, 47, 52
C
Canudos 12, 171, 175, 176, 177, 183
D
Degradação ambiental 159
Diversidade 9, 5, 43, 84, 85, 86, 88, 89, 90, 116, 123, 132, 134, 145, 146, 161, 167, 169,
170, 200, 202, 205, 206
E
Ecologia de moluscos 11, 105, 120, 132
Ecossistemas Aquáticos 46, 47, 56
Educação Ambiental 13, 116, 161, 167, 169, 200, 201, 208, 210
Embarcações de madeira 19, 21, 27, 28
Ensino por investigação 196, 201, 207
Espécies Exóticas 12, 121, 159, 161, 163, 167, 168
Estação reprodutiva 11, 72, 74, 75, 76, 77, 78, 79
Estresse de salinidade 31
Estuário 1, 2, 4, 5, 6, 8, 9, 12, 13, 14, 16, 17, 18, 43
F
Fases reprodutivas 55, 57, 59, 62, 65, 66, 67, 68
Fauna silvestre 102, 105, 106, 116, 119
Fração arenosa 10, 1, 3, 5, 6, 7, 9, 14, 16
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
212
Índice Remissivo
Fungos Filamentosos 11, 84, 85, 86
G
Gametogênese 10, 55, 57, 70
Germinação de propágulos 31, 43
I
Impactos ambientais 5, 16, 47, 160, 161, 168, 175
Insetos 55, 57, 111, 166, 202, 203, 205, 206
Interações Ecológicas 159, 161, 166, 168
Inventários 120, 121, 123, 132
M
Mangue Branco 30, 31
Mapas Conceituais 185, 194, 196, 199
Mata Atlântica 107, 111, 120, 121, 123, 126, 132, 134
Medicina Popular 135, 138
Meio Ambiente 9, 23, 160, 161, 162, 165, 170, 171, 173, 177, 181, 202, 203, 205, 207, 208
Microrganismos 84, 85, 91
Mitospóricos 84, 85, 86, 89, 90, 91
Modelos Didáticos 13, 200, 202, 204, 206
Mortalidade de estradas 105
P
Peixes de água doce 47, 55
Peixes invasores 55
Plano de arborização 159
Plantas 31, 106, 123, 136, 137, 141, 143, 145, 146, 148, 149, 150, 155, 158, 161, 166,
167, 177
Plástico 19, 28, 98, 129, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 181
Propriedades 136, 142, 143, 144, 145, 161, 164, 178, 179, 180, 181, 182
R
RAPELD 11, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 132, 133, 134
Reprodução de peixes 55, 71
Restauração ecológica 31, 44
A pesquisa em ciências biológicas: Desaos atuais e perspectivas futuras 2
213
Índice Remissivo
S
Saúde Ambiental 10, 19
Sazonalidade 1, 67, 72, 78, 109
Sedimentos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 54
Sequência Didática 185, 192, 195, 200, 202, 205, 207
Solo 5, 53, 84, 85, 86, 87, 89, 90, 91, 92, 96, 97, 99, 120, 122, 126, 128, 130, 131, 142,
152, 162, 179, 207
Sustentabilidade 9, 20, 28, 43, 169, 181, 210
T
Teleósteos 64, 67, 71, 73, 78
Z
Zigomicetes 84, 85, 90, 91
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In this study, we provide the first data regarding seasonal variation and patterns along a fine-scale humidity gradient on the land snail community, including parameters such as richness and abundance, in the Sooretama Biological Reserve, Espírito Santo, Brazil. Our study was conducted from January 2017 to December 2018, covering all four seasons (summer, autumn, winter and spring). We used 24 plots of 250 m each, combined with subplots of 25 x 75 cm (to sample leaf-litter), following the RAPELD methodology. We collected 440 live specimens belonging to 35 species from 11 families. The snail species richness varied among seasons, with the highest mean values in summer and spring. The highest variation of richness occurred between summer and autumn, and the smallest variation occurred between spring and summer. Soil temperature, relative air moisture and soil moisture affected significantly the overall land snail abundance. The rainy season was hotter and wetter than the dry season and showed highest richness and abundance of species. Our results showed a clear compositional change along the moisture gradient, suggesting differences in species preference for moisture conditions even at a fine-scale.
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O processo de avaliação quali-quantitativa da arborização, depende da realização de inventários que forneçam informações sobre os seus componentes. Diante disto, este estudo se propõe a diagnosticar o estado fitossanitário e dendrológico das árvores, assim como indicar os possíveis conflitos existentes entre a arborização local e as estruturas urbanas, em duas praças do bairro Noé Trajano na cidade de Patos-PB, avaliando os seguintes parâmetros, diversidade florística, frequência de espécies, porte dos indivíduos e estado fitossanitário. Com relação ao aspecto do troco, foi observado apenas (um) indivíduo tortuoso em cada praça e referente a exposição de raízes, apenas uma única árvore, apresentou este conflito. Com relação as injúrias foram observados de danos nos caules das árvores causados pelo excesso de tempo do tutor acarretando seu estrangulamento e também identificou-se a presença de pregos. Quanto ao porte, a maior parte dos indivíduos foram classificados de porte pequeno (55,55%), com predomínio de Azadirachta indica (Nim indiano). As duas praças totaliza-se 99 árvores, demontram adequado manejo na maioria dos indivíduos.
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Cataracts are one of the most causes of blindness in the world. Oxidative stress can form pathological conditions such as cataracts. This oxidative stress ability can be measured by the malondialdehyde (MDA) biomarker. Binahong leaves (Anredera cordifolia (Tenore) Steenis) are native plants from Indonesia that are used to treat various diseases including cataract treatment. Binahong leaf (Anredera cordifolia (Tenore) Steenis) has a high amount of flavonoids and is rich in antioxidants that can be used to treat cataracts. Objective. The purpose of this study was to assess the effect of binahong leaf extract on the levels of MDA in a goat lens with cataract-induced material. Method. As many as possible, 40 goat eye lenses were divided into several groups, namely, group I normal lenses as controls (glucose 5.5 mM), group II lenses were cataract induced with glucose concentration of 55 mM, group III lenses with glucose 55 mM + binahong leaf extract (100 μg/ml), group IV lens with glucose 55 mM + binahong leaf extract (200 μg/ml), and group V lens with glucose 55 mM + quercetin (positive control). Biochemical parameters measured in the lens homogenate are malondialdehyde lens morphology in all groups’ observations and comparisons made. Results. The results of the study found that the lens group with the addition of binahong extract showed more results transparency compared to lens groups induced by glucose concentrations of 55 mM). This shows that the diabetic cataract group experienced high oxidative stress due to the accumulation of sorbitol compounds derived from glucose which caused turbidity in the goat eye lens and increased levels of lens MDA. Binahong levels at concentrations of 100 or 200 can inhibit MDA production. Conclusion. Binahong (Anredera cordifolia (Tenore) Steenis) extract has the ability to inhibit the production of MDA levels. In glucose-induced goat lenses, binahong extract and quercetin show antioxidant and anticataract properties.
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O trabalho teve por objetivo avaliar as características poliméricas do biofilme a partir do resíduo do fruto de Citrullus lanatus. O biopolímero foi produzido a partir de uma suspensão aquosa farinácea do albedo e avaliado quanto às características físico-químicas, antioxidantes, mecânicas e por análises em microscopia óptica e eletrônica por varredura. O biofilme do resíduo de melancia apresentou importantes resultados nos testes físico-químicos, mecânicos e de atividade antioxidante, importante quantitativo de fenóis totais e boa eficiência nas características estruturais. Este novo biopolímero a partir do resíduo de melancia poderá ser aplicado no desenvolvimento de embalagens biodegradáveis, bem como no revestimento de salames defumados na indústria alimentícia.
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The Program for Biodiversity Research (PPBio) is an innovative program designed to integrate all biodiversity research stakeholders. Operating since 2004, it has installed long-term ecological research sites throughout Brazil and its logic has been applied in some other southern-hemisphere countries. The program supports all aspects of research necessary to understand biodiversity and the processes that affect it. There are presently 161 sampling sites (see some of them at Supplementary Appendix), most of which use a standardized methodology that allows comparisons across biomes and through time. To date, there are about 1200 publications associated with PPBio that cover topics ranging from natural history to genetics and species distributions. Most of the field data and metadata are available through PPBio web sites or DataONE. Metadata is available for researchers that intend to explore the different faces of Brazilian biodiversity spatio-temporal variation, as well as for managers intending to improve conservation strategies. The Program also fostered, directly and indirectly, local technical capacity building, and supported the training of hundreds of undergraduate and graduate students. The main challenge is maintaining the long-term funding necessary to understand biodiversity patterns and processes under pressure from global environmental changes.
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The potential of a plant with medicinal and nutritional properties, Anredera cordifolia, is reviewed. Its common names include “Bertalha” and “folha gorda” and it is popularly used for wound healing and against fungal infections and other types of infection. Its pharmacological properties have been widely investigated and acknowledged, especially with regard to its antibacterial activity, which improves the healing of wounds infected by Staphylococcus aureus, and to its antifungal activity against Candida albicans. It is an unconventional food plant, with leaves and aerial tubers used as food prepared in varied ways. It is also considered an invasive plant in several countries and thus classified as a weed. Its characteristics of a Brazilian native plant, with proven medicinal properties and unconventional use as food, underlie our study on its ecology and botanical classification, as well as the pharmacological assays and screening of chemical constituents.
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Biodegradable plastics are promising alternatives to conventional, persistent plastics. In this opinion article, we explain the benefits of biodegradable plastics in combination with appropriate disposal systems. We argue that the most beneficial environmental value of biodegradable plastics is in the areas of packaging and agricultural plastic mulches. While biodegradable plastics need to be an integral component of strategies to minimize plastic pollution of the environment, they have to be used and managed with specific end-of-life scenarios. Disposal in the environment, except for agricultural plastic mulches, must never be an end-of-life option. International standards ensure the “intrinsic biodegradability” in compost, anaerobic digesters, or soil, but additional test methods are needed to verify rates of biodegradation in natural environments. Further, attention needs to be paid to additives used in biodegradable plastics to ensure these additives do not pose an environmental hazard.