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A Economia Política nas Ciências Sociais no Brasil: escopo, trajetória e perfil dos artigos

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RESUMO Introdução: O artigo resgata a trajetória da Economia Política, para definir essa área e disciplina. Em seguida, analisa a produção de artigos acadêmicos, no decênio 2009-2018, na subárea de Economia Política nas Ciências Sociais no Brasil. Busca evidenciar o relativo enfraquecimento dessa subárea nas últimas décadas. Os objetivos foram definir critérios de inclusão dos artigos na área de economia política; identificar os temas específicos que têm sido pesquisados e os recursos metodológicos adotados; avaliar os resultados encontrados e sugerir caminhos institucionais e de pesquisa para o desenvolvimento da Economia Política nas Ciências Sociais. Materiais e Métodos: A metodologia identifica, quantifica e distingue os conteúdos de artigos de Economia Política publicados em nove periódicos nacionais A1, A2 e B1, conforme a classificação em vigor do Qualis Periódicos da Capes para a Ciência Política e Relações Internacionais. Resultados: Conclui que os economistas lideram a produção, especialmente das temáticas do desenvolvimento e da macroeconomia. Na economia política internacional, há uma distribuição equilibrada de artigos entre o periódico diretamente vinculado à subárea analisada e as revistas mais próximas das ciências sociais stricto sensu, nas quais, por outro lado, predominam conteúdos das políticas sociais e das instituições políticas. Discussão: O desenvolvimento da subárea passa pela construção de pontes teórico-metodológicas e redes institucionais entre a economia e a política.
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AEconomia Política nas Ciências Sociais
no Brasil: escopo, trajetória e perfil dos
artigos
Marcus IanoniI, Alexandre Queiroz GuimarãesII ,
Felipe Maruf QuintasIII
IPrograma de Pós-Graduação em Ciência Política, Univervidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil.
IIFundação João Pinheiro, Belo Horizonte, MG, Brasil.
IIIPrograma de Pós-Graduação em Ciência Política, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil.
Palavras-chave: economia política; ciências sociais; ciência política; artigos; Brasil.
RESUMO Introdução: O artigo resgata a trajetória da Economia Política, para definir essa área e disciplina. Em seguida, analisa a
produção de artigos acadêmicos, no decênio 2009-2018, na subárea de Economia Política nas Ciências Sociais no Brasil. Busca
evidenciar o relativo enfraquecimento dessa subárea nas últimas décadas. Os objetivos foram definir critérios de inclusão dos artigos
na área de economia política; identificar os temas específicos que têm sido pesquisados e os recursos metodológicos adotados;
avaliar os resultados encontrados e sugerir caminhos institucionais e de pesquisa para o desenvolvimento da Economia Política nas
Ciências Sociais. Materiais e Métodos: A metodologia identifica, quantifica e distingue os conteúdos de artigos de Economia Política
publicados em nove periódicos nacionais A1, A2 e B1, conforme a classificação em vigor do Qualis Periódicos da Capes para a
Ciência Política e Relações Internacionais.Resultados: Conclui que os economistas lideram a produção, especialmente das temáticas
do desenvolvimento e da macroeconomia. Na economia política internacional, há uma distribuição equilibrada de artigos entre o
periódico diretamente vinculado à subárea analisada e as revistas mais próximas das ciências sociais stricto sensu, nas quais, por
outro lado, predominam conteúdos das políticas sociais e das instituições políticas. Discussão: O desenvolvimento da subárea passa
pela construção de pontes teórico-metodológicas e redes institucionais entre a economia e a política.
Recebido em 18 de Julho de 2019. Aprovado em 14 de Setembro de 2020. Aceito em 14 de Dezembro de 2020.
I. Introdução
Em 2015, a ciência política completou seis décadas de institucionalização
no Brasil. Na ocasião, a efeméride ensejou eventos e publicações para
avaliar a trajetória dessa subárea das ciências humanas. Em uma delas,
uma coletânea pluralista na abordagem e na temática, organizada por Avritzer,
Milani e Braga (2016), todos então diretores da Associação Brasileira de
Ciência Política (ABCP), principal entidade acadêmica dos politólogos no país,
não há nenhum capítulo especificamente dedicado à área temática Política e
Economia (ATPE) ou à Economia Política (EP).
No início da década passada, a Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), principal organização acadêmica das
Ciências Sociais (CS), também havia publicado uma obra panorâmica do cam-
po da ciência política (Martins & Lessa, 2010). Nela, a mesma ausência da
temática Política e Economia/Economia Política só não se deu por completo
por um dos artigos da coletânea abordar as relações entre democracia e Estado
de bem-estar social no Brasil, subtema que, nas instituições das ciências sociais,
especialmente na Ciência política, transita entre a área de políticas públicas e a
interface aqui abordada.
Um rápido exame do percurso institucional da Economia Política nos
grupos de trabalho da ANPOCS e da ABCP pode ampliar a evidência de que,
desde meados dos anos 2010, ela parece perder importância para outras áreas
temáticas. Infelizmente, não temos dados completos sobre os Encontros da
ABCP, uma vez que essa entidade não arquivou informações sobre os sete
DOI 10.1590/1678-987321297704
Rev. Sociol. Polit., v. 29, n. 77, e004, 2021
Artigos Originais
primeiros encontros, apenas dos quatro últimos (8º ao 11º), ocorridos entre
2012 e 2018. Sabemos que a área de Política e Economia existe desde a
fundação dessa associação, tendo sido liderada por Eduardo Kugelmas até
2006, mas, nos últimos anos, aparenta ter importância institucional relativa-
mente menor do que já teve no passado.
A ANPOCS foi criada em 1977. Em seu 2º Encontro Anual (1978), já houve
o Grupo de Trabalho (GT) Elites Políticas, que, até meados dos anos 1990,
abrigou trabalhos e pesquisadores da ATPE, embora seu temário também
contemplasse instituições e partidos. Esse GT foi liderado pelos seguintes
pesquisadores: Aspásia Camargo (UERJ), Eli Diniz (UFRJ), Maria Antonieta
Leopoldi (UFF), Renato Lessa (UFF) e Sergio Micelli (USP). De modo parale-
lo, mas também com algumas seções conjuntas e circulação de pesquisadores
entre um e outro grupo, funcionou, de 1982 a 2000, o GT Política e Economia,
liderado por Brasílio Sallum Junior (FESP-SP e USP), Eduardo Kugelmas
(USP), José Luiz Fiori (UFRJ) e Lourdes Sola (USP)1. Após o ano 2000, esse
GT passou por sucessivas mudanças de denominação, até desaparecer em 2016:
Empresariado e Ação Coletiva (2002-2003, Eli Diniz e Otávio Dulci); Desen-
volvimento, Democracia e Instituições (2005-2006, Eli Diniz, Jorge Tápia
[UNICAMP] e Maria Antonieta Leopoldi); Desafios e Dimensões Contempo-
râneas do Desenvolvimento (2008-2009, Eduardo Condé [UFJF] e Wagner
Pralon Mancuso [USP]); Desenvolvimento em Perspectiva – Teorias, Desen-
volvimentos e Projetos Políticos (2011-2012, Eduardo Condé e Francisco
Fonseca [FGV-SP]); Desenvolvimento: Debate Contemporâneo, Experiências
e Projetos (2013, Eduardo Condé e Francisco Fonseca); Desenvolvimento:
Caminhos e Descaminhos de um Debate Contemporâneo (2014-2015, Eduardo
Condé e Francisco Fonseca). Ou seja, na ANPOCS, a trajetória da ATPE parte,
por assim dizer, de uma supersafra (anos 1980 até meados de 1990), para uma
safra normal, desde o final dos anos 1990 até a primeira década desse século, até
entrar em decadência e desaparecer na segunda década. Por outro lado, consta-
tamos que, desde 1980, temas de EP também aparecem em uma miríade de GTs
e STs, como os que tratam de políticas públicas,desociologia econômica ede
trabalho.
Na década atual, no entanto, houve considerável expansão da pós-gra-
duação em Ciência Política e Relações Internacionais no Brasil (Marenco,
2016). Esse mesmo autor fez um levantamento da produção de artigos da revista
Dados por áreas temáticas, desde seu surgimento, em 1966, até 2014. Na
década de 1960 (1966-1969), a Economia Política (EP) ocupava a primeira
posição (26,8% das publicações), secundada por Atores e Ação Coletiva (AT) e
por Instituições Políticas (IP), ambas com 19,5%. Na década de 1970, IP passou
à liderança, com 23,5%; EP caiu para a segunda posição, com 21%, vindo logo
em seguida a área AT, com 20,2% dos artigos. Nos anos 1980, EP seguiu em
queda, descendo para a terceira posição, com 13,8%. Recuperou o segundo
posto nos anos 1990, com 17,9%, quando Políticas Públicas (PP) passou a
liderar (19,3%). A queda da EP prosseguiu nos anos 2000, alcançando o piso de
8,4%. O último registro fornecido por Marenco é de 2010, quando a EP estava
em quinto lugar, com 11,4%.2
A expansão do Sistema Nacional de Pós-Graduação tem a ver com as
políticas públicas executadas pelo Ministério da Educação entre 2003 e 2016,
nas administrações federais encabeçadas pelo PT, visando ampliar o acesso às
universidades públicas, melhorar a qualificação dos docentes e aproximar
pesquisa científica e setor produtivo.3O objetivo governamental com a expan-
são da pós-graduação foi servir ao desenvolvimento, um tema simultaneamente
de política e de economia, um tema de Economia Política. Nesse período,
também emergiu, acoplada à perspectiva do desenvolvimento, a questão da
justiça social, do combate às desigualdades, que ensejou uma safra inédita de
2/23 Revista de Sociologia e Política v. 29, n. 77
1A relação de siglas que
aparece ao final do artigo não
inclui os nomes destas
Universidades, visto que são
instituições bastante
conhecidas pela comunidade
acadêmica (N. E.).
2Apesar do título da tabela de
Marenco (2016) referir-se ao
período 1966-2014, o último
dado fornecido é de 2010.
3Consultar Capes (2010).
políticas sociais e de direitos, bem como de pesquisas acadêmicas. Apesar da
área de EP nas CS ter navegado nessa temática ampliada do desenvolvimento,
parece não tê-lo feito com o impacto necessário à sua maior expansão institucio-
nal, com exceção do que se passa na economia acadêmica, nos seus cursos,
centros de pesquisa e periódicos. A despeito da emergência de uma onda de
novos trabalhos relacionando desenvolvimento e Estado, instituições políticas,
burocracia e políticas públicas (sobretudo as econômicas e sociais), tal produ-
ção, em certa medida, fragmentou-se na ANPOCS e na ABCP.
Essas informações evocam um balanço amplo da área de EP nas CS brasilei-
ras. Quais as causas de seu enfraquecimento? Os rumos teóricos e institucionais
da especialização ocorrida nas CS e na Ciência política em particular, que têm
relação, entre outros, com a influência acadêmica externa, explicam as suas
tendências temáticas e metodológicas? Aparentemente, sim. Qual é a influência
das exigências das instituições de fomento? Embora essa abordagem do proble-
ma seja essencial, ela não será explorada aqui.
Nossa proposta é dar uma contribuição modesta ao referido balanço, anali-
sando a produção recente de EP nas CS no Brasil, com especial foco na Ciência
política, na Sociologia e, naturalmente, nos trabalhos de economia situados
nessa interface. O procedimento metodológico aqui usado para alavancar essa
contribuição ao referido balanço envolve a identificação, a quantificação e a
classificação temática de artigos de EP publicados por pesquisadores brasileiros
em nove periódicos nacionais de classificação A1, A2 e B1, segundo o Qualis
Periódicos da Plataforma Sucupira da Capes correspondente à Ciência Política
e Relações Internacionais.4O período selecionado é o decênio 2009-2018,
quando temas de EP, em diversas perspectivas teóricas, estiveram no centro do
debate público brasileiro (e. g. Lara Resende, 2017; Bresser-Pereira, 2018). Os
A1 são: Revista Dados,Revista de Economia Política,Revista Opinião Pública
eRevista de Sociologia Política; A2: Revista Lua Nova, Revista Novos Estudos,
Revista Brasileira de Ciências Sociais eBrazilian Political Science Review; por
fim, o periódico B1 é a Revista Brasileira de Ciência Política.
Além desta introdução, o artigo está dividido da seguinte forma. Na seção II,
delimitamos a área e estabelecemos critérios para a inclusão dos artigos sele-
cionados na referida área temática. Na seção III, identificamos tanto os temas
específicos que têm sido objeto de pesquisa como os recursos metodológicos
utilizados. Por fim, na seção IV, avaliamos, em termos gerais, os resultados
encontrados e sugerimos alguns caminhos institucionais e de pesquisa visando
ao desenvolvimento da EP no Brasil.
II. A economia política como disciplina e campo de estudos
II.1 Do surgimento da economia política à cisão metodológica do século XIX
Esta seção faz uma incursão na trajetória da EP, narrando as abordagens que
emergiram. Visamos mostrar que, embora a ruptura operada pela revolução
marginalista, na segunda metade do século XIX, tenha implicado em que a
abordagem original da disciplina passasse a ser uma entre outras perspectivas,
ela persistiu e preservou sua relevância com a abertura de novos campos de
pesquisa ao longo do século XX.5Isso se explica por que, ao lidar com a
interseção da economia e da política, ela investiga questões que a especialização
disciplinar e apartada uma da outra não dá conta de fazê-lo. As instituições
interligam-se aos processos políticos e econômicos, constituindo uma totali-
dade, o que justifica seu tratamento inter-relacionado. Mencionaremos aqui
diferentes paradigmas teóricos marcantes na EP, para delimitar seu conceito e,
na seção seguinte, identificar e classificar os conteúdos temáticos da produção
de artigos acadêmicos nessa subárea no Brasil.
AEconomia Política nas Ciências Sociais no Brasil 3/23
4Escolhemos periódicos A1,
A2 e B1, pois, pertencendo
aos extratos superiores do
Qualis, têm especial
importância na avaliação da
produção científica dos
programas de pós-graduação
realizada pela Capes.
5No processo da revolução
marginalista, a disciplina
passou a ser chamada de
economics (ciência da
economia).
O surgimento da EP remonta à obra de Adam Smith (1937) [1776], que
apresentou, de modo sistêmico, integrado e claro, vários dos temas que consti-
tuíam, há alguns séculos, o debate sobre economia. Smith mobilizou amplo
conhecimento histórico para abordar conceitos e temas fundamentais, incluindo
divisão do trabalho, produtividade, capital, moeda, valor, preço, distribuição e
comércio. Ele concebe a EP “como um ramo da ciência de um estadista ou
legislador” e seus dois objetivos são propiciar “uma renda ou subsistência
abundante para o povo”, além de “fornecer ao Estado ou à comunidade uma
receita suficiente para os serviços públicos”.6
Em sua obra máxima, Smith dialoga com um conjunto de pensadores, aos
quais denomina mercantilistas, que haviam escrito sobre questões práticas,
como comércio, tarifas, proteção, moedas e juros. Não compunham uma escola
de pensamento. Havia diferenças entre eles, mas todos se preocupavam com o
fortalecimento econômico e a riqueza dos reinos, países, nações e, para tanto,
propunham intervenção estatal, criação de fábricas e políticas para garantir uma
balança comercial positiva (Magnusson, 2003).
Por sua vez, Smith enfatiza que a indústria e o trabalho são a base da riqueza.
Concebe a divisão do trabalho como essencial para explicar a diferença de
riqueza entre as nações, uma vez que, propiciando a produção mais eficiente e
barata de bens, torna-os acessíveis às diversas classes sociais. Por isso, um
trabalhador inglês vive melhor que um príncipe africano.7
Influenciado pela física, Smith argumenta que as fontes da prosperidade
estão no universo econômico, regido pelo interesse, pelo empreendedorismo e
pela divisão do trabalho.8Giannetti (1993) enfatiza que a principal contribuição
de Smith foi argumentar que a interação das atividades de um grande número de
indivíduos e empresas, cada qual buscando defender seu próprio interesse,
conduz à formação de uma ordem espontânea, que, ao alocar eficientemente os
recursos produtivos (terra, capital e trabalho), gera prosperidade. Cabe ao poder
público preservar e, com algumas ações complementares, aperfeiçoar o funcio-
namento dessa ordem.
Há em Smith uma junção entre a moral e a economia. Rosanvallon (1979)
avalia que o pai da economia política apreende a esfera econômica como a fonte
explicativa da ordem social estável, questão cara aos pensadores modernos
desde Thomas Hobbes. A economia é uma esfera espontânea e de sociabilidade,
pela qual as pessoas alcançam a prosperidade e o bem-estar material. Segundo
Cerqueira (2004), tal concepção foi a condição para esta área do conhecimento
emancipar-se da moral e da ciência do Estado. A orientação das ações econô-
micas para o bem da sociedade fornece uma consistente justificativa para a
autonomia disciplinar da economia.
Para Gamble (1995), o mérito de Smith foi menos ofertar teorias novas do
que combinar, com inovação, três diferentes discursos que passarão a constituir
o campo da EP. Um discurso científico visando entender o funcionamento do
sistema social e econômico. Havia muitos estudos sobre moeda, comércio,
fontes da riqueza, mas nenhum aproximou-se da sistematização existente na
obra do pensador escocês. Outro discurso de Smith foca nas políticas práticas e
reflete sobre o melhor modo de regular e promover a riqueza e de aumentar a
arrecadação. Enfim, há o discurso normativo das formas exitosas do sistema so-
cial e da relação entre o Estado e o mercado.
A reflexão de Smith delimitou uma linguagem, ideias, conceitos e objetivos
para economistas de toda a Europa, estimulando o debate ao longo do século
XIX (Screpanti & Zamagni, 2005). A EP clássica era abordada a partir das
relações socioeconômicas entre os homens e conservava o diálogo entre os três
discursos: o entendimento das leis de funcionamento da economia, a identifi-
4/23 Revista de Sociologia e Política v. 29, n. 77
6Os autores traduziram as
citações, que estão em
bit.ly/2TNchIi. Acesso: 26 de
ago. 2021.
7A divisão do trabalho põe
em primeiro plano a
produtividade, considerada
essencial, dois séculos depois,
pelos modelos de explicação
do crescimento econômico.
8Segundo Domingues (1991),
ao buscar entender os
princípios responsáveis pelo
bom funcionamento do
sistema econômico, Smith
influenciou-se pelo modelo de
ciência de Isaac Newton. Se
este encontrou a gravitação
universal, Smith viu no
interesse individual a força de
caução do sistema econômico.
cação dos processos e políticas que tornam os países mais ricos e promovem o
bem geral e os contornos que o sistema social deveria ter.
Outro economista clássico importante foi David Ricardo, sendo sua teoria
das vantagens comparativas uma das mais conhecidas e influentes em toda a
história da ciência econômica. Ela teve grande impacto no acirrado processo
decisório de extinção, em 1846, dos protecionismos comerciais das Corn Laws,
vigentes desde 1815. O primeiro ministro Robert Peel, do Partido Conservador,
assim como o industrial Richard Cobden, de orientação liberal, fizeram explí-
citas referências a Smith e Ricardo em sua campanha política pela revogação
dessa legislação (Irwin, 1989). Esse capítulo da história do Reino Unido, que
envolveu debate de ideias, conflitos de interesses e decisões do Estado, ilustra a
interdependência da relação entre a economia e a política.
Mas abre-se na década de 1870 um processo de inflexão na ciência econô-
mica. A economia política clássica, que encontrara seu auge com John Stuart
Mill, perde força como paradigma de pesquisa (Deane, 1980). O cenário crítico
não garantia que o paradigma seria automaticamente substituído por outro e
tampouco antecipava o que sucederia. Entretanto, diversos fatores confluíram
para a ascensão do pensamento marginalista, que trazia em seus fundamentos o
repúdio à teoria clássica e a defesa de uma abordagem subjetiva do valor.
Arevolução marginalista destaca-se principalmente pelo método e pela
nova forma de se fazer ciência. Edifica-se uma visão diferente da ciência
econômica, fundada em uma teoria da escolha e no conceito de equilíbrio,
tomado emprestado da física. A economia é abordada a partir do comporta-
mento maximizador dos agentes, vistos como sujeitos inseridos em contextos
de restrições. Isso ensejará a sistematização (expressão) das questões em termos
matemáticos. A economia torna-se a mecânica da utilidade e do interesse indi-
vidual, para usar a expressão de Jevons; abstrai as classes e foca nas relações
psicológicas entre atores e bens (Deane, 1980). Torna-se uma ciência abstrata,
que dispensa a história; conflitos de classe e diferenças institucionais são vistos
como exógenos e relacionados a disciplinas como a História e a Sociologia
econômicas. O centro da investigação é também voltado ao equilíbrio parcial e a
economia torna-se essencialmente microeconômica. Apenas com Keynes a
macroeconomia emergirá e somente no pós-guerra a estática jevoniana será
substituída pela economia do crescimento, também alavancada pelos princípios
neoclássicos.
Mesmo abrindo mão de questões-chave, o marginalismo promoveu um
avanço considerável na ciência econômica. Ofereceu uma análise estática que,
nas palavras de Marshall (1997), garantiu melhor fixidez às ideias e melhor
compreensão de certas relações ou objetos, sendo um primeiro passo para se
entender realidades mais complexas. Mostrou-se também muito útil à forma-
ção de profissionais para as empresas que se fortaleciam e forneceu a base
teórica nos cursos emergentes de Economia. A nova abordagem tratava de
questões com apelo prático; por meio dessa ciência, profissionais dos negó-
cios dialogavam com problemas que desafiavam sua própria empresa (Deane,
1980).
A compreensão da particularidade da abordagem neoclássica marginalista e
de sua influência no curso da ciência econômica é muito bem ilustrada pelo
contraste com outro paradigma, também presente na segunda metade do século
XIX, a Escola histórica alemã. Ela possuía uma abordagem metodológica muito
diferente, crítica da ciência econômica britânica e da tríade utilitarismo, indivi-
dualismo, liberalismo. Em contraposição, defendia o historicismo, o institucio-
nalismo, o intervencionismo, o pragmatismo e criticava teorias abstratas.
Apoiando-se na história, buscava constatar regularidades, mas atribuía grande
importância às instituições existentes, uma vez que também valorizava o con-
AEconomia Política nas Ciências Sociais no Brasil 5/23
texto. O adequado à Inglaterra poderia não sê-lo à Alemanha. Os alemães dessa
escola discordavam da ordem natural harmônica e espontânea imaginada pelo
liberalismo inglês. Viam a intervenção estatal como essencial para comple-
mentar a economia de mercado e promover o desenvolvimento. Colocavam os
homens e suas necessidades no centro da teoria. Seu objetivo normativo central
era ampliar a produção e o emprego. Para tanto, rejeitavam as teorias abstratas,
como a do livre comércio. Propunham políticas para fomentar a indústria local e
ampliar a produção de bens de maior valor agregado (Fonseca, 2000).9
O ponto-chave do argumento é que a revolução marginalista causou uma
cisão metodológica na disciplina entre uma abordagem mais dedutiva e abstra-
ta, que se tornou dominante; e outra mais histórica e institucional. O termo
economia política perdurou até a revolução marginalista. Marshall usa-o para se
referir à disciplina. Mas, desde então, ele ganha outro significado, sendo visto
como arte e relacionado à política econômica. O nome associa-se a questões
aplicadas, ao protecionismo, ao planejamento e às políticas em geral, sendo
adotado também por Schumpeter (1986) em sua história da análise econômica.
Em síntese, o termo economia política sobrevive, mas restrito a contextos
específicos (Almeida, 2018).
A economia mais abstrata ganhou espaço e tornou-se dominante, ocupando
os principais departamentos de economia nos Estados Unidos e em outros
países desenvolvidos. Passou a se desinteressar pela tradição clássica e por sua
abordagem integrada entre análise científica e prescrições normativas. Mas a
abordagem histórico-institucionalista resistiu, assim como outras, apoiadas em
paradigmas que rejeitam a cisão metodológica mencionada acima. Enfim,
consolidaram-se abordagens distintas, com pouco diálogo entre si, baseadas em
concepções intelectuais adotadas nos distintos departamentos de pesquisa.
Schumpeter, autor com formação ortodoxa, mas que também conhecia e
dialogava com outras disciplinas das CS, tentou superar essa cisão.10 Ele via a
economia como uma ciência social inseparável da Sociologia e da Ciência
política. A teoria econômica não deveria ignorar as condições sociais, políticas
e históricas, pelo contrário. Schumpeter também contribuiu para a discussão
metodológica da economia, enfatizando a impropriedade de direcionar políticas
extraídas de análises abstratas.11 Não obstante, as disciplinas continuaram
separadas. A principal contribuição desse autor foi tornar a Ciência política
mais econômica, e não o contrário (Gamble, 1995; Schumpeter, 1986).
II.2 Mudanças no capitalismo e o retorno da economia política
Apesar dos rumos seguidos pela ciência econômica, a necessidade de uma
disciplina que tratasse das interações entre a economia e a política e que também
fosse científica e normativa sobreviveu. Essa demanda intelectual aumentou
com a ampliação do papel econômico do Estado, a partir da Grande Depressão e
das transformações ocorridas nos anos 1930. A imensa crise econômica, o
desemprego e os riscos que ameaçavam a democracia induziram à ampliação do
envolvimento do Estado com a economia, regulando o sistema financeiro,
adotando políticas contra o desemprego, propiciando seguridade social etc.12
Essa inovadora postura econômica do Estado é indissociável da obra teórica
máxima de Keynes (1936) e da defesa do gerenciamento das economias nacio-
nais. Esse autor revolucionou o pensamento econômico do século XX. Fundou
a macroeconomia, enfatizou o caráter monetário da economia moderna e
criticou a formulação ortodoxa do equilíbrio de longo prazo. A demanda
agregada, influenciada pelas políticas monetária e fiscal, foi considerada decisi-
va para a determinação do nível de emprego e do produto e para o enfrenta-
mento das crises. Keynes também tirou o foco no indivíduo, dirigindo-o às
6/23 Revista de Sociologia e Política v. 29, n. 77
11 Schumpeter cunhou o termo
vício ricardiano em referência
às exortações de políticas
traçadas por David Ricardo a
partir de tratamentos
extremamente abstratos da
teoria das vantagens
comparativas. Apesar da
importância dos modelos
abstratos, a defesa de direções
políticas deveria incluir
diversas mediações, incluindo
as relacionadas às condições
específicas dos respectivos
países (Silveira, 1991).
12 As novas configurações do
capitalismo foram respostas à
crise de 1930. Um exemplo
político importante é a
coalizão do New Deal,
10 Schumpeter foi, inclusive,
uma referência para teorias de
cunho heterodoxo na ciência
econômica.
9Marginalistas (dedutivistas)
e históricos (indutivistas)
chegaram a travar grande
contenda metodológica no
final do século XIX, da qual
participaram Carl Menger,
Max Weber, Gustav
Schmoller etc.
macrovariáveis, e relativizou a racionalidade dos agentes ao incluir as ideias de
incerteza e de espírito animal.
Formado na tradição ortodoxa, Keynes foi decisivo por formular ideias que
consolidaram uma vertente crítica e alternativa ao mainstream, mas, apesar de
atribuir um papel fundamental ao Estado e às politicas econômicas, não desa-
fiou a separação entre economia e política. Devido ao grande impacto de sua
teoria, os neoclássicos incorporaram-na, mas subordinando-a aos princípios do
marginalismo. Daí resultou a síntese neoclássica, produzida pelo neokeynesia-
nismo e profundamente influente nos estudos de macroeconomia.13 Nela, a
abordagem de Keynes foi enquadrada como uma condição particular em uma
situação mais geral de equilíbrio.
Já os keynesianos críticos da ortodoxia neoclássica abrigam-se no pós-
keynesianismo. Empenham-se em problemas teóricos como a demanda efetiva,
o papel das convenções e o potencial de instabilidade dos mercados. Segundo
Oreiro (2012), essa escola é bastante forte e ativa no Brasil; influencia as duas
principais correntes de pensamento desenvolvimentistas atuais: o novo-desen-
volvimentismo, corrente teórica liderada por Luiz Carlos Bresser Pereira, e o
social-desenvolvimentismo, aparentemente menos desenvolvido teoricamente,
no qual a perspectiva distributivista e a influência marxista estão mais presen-
tes. Prado (2001) avaliou haver um grande equilíbrio de orientação teórica na
pós-graduação em economia no Brasil, entre, de um lado, os neoclássicos e, de
outro, os estruturalistas cepalinos, os marxistas, os heterodoxos keynesianos
etc.14
Retomando, a economia e a política continuavam a ser tratadas por discipli-
nas distintas e abordagens relativamente dissociadas. O termo EP passou a
referir-se principalmente a paradigmas alternativos, que rejeitava a separação
das duas disciplinas. No entanto, as transformações ocorridas nos países e no
mundo desde os anos 1970 e a consolidação da crítica à hegemonia keynesiana
e social-democrata, ambas ensejarão a emersão de abordagens que combinam
os diferentes discursos originalmente presentes no campo da EP.
É interessante notar que o resgate da abordagem integrada foi em parte
efetuado por autores ortodoxos, que, mesmo compartilhando o método neoclás-
sico, incomodavam-se com a incapacidade da teoria econômica prover um
tratamento endógeno para a política. Discordavam dos modelos que concebiam
o Estado como exógeno e benevolente, pronto para sanar as dificuldades do
sistema econômico. Defendiam assim a necessidade de tratar a política como
parte do problema econômico (Almeida, 2018).
Durante a hegemonia keynesiana e a vigência do compromisso histórico do
pós-guerra, as críticas liberais perderam força, mas nunca desapareceram
(Gamble, 1988). Em muitos países, os partidos conservadores também incorpo-
raram os avanços liderados pelos partidos social-democratas ou afins, afastan-
do-se das direções liberais prevalecentes antes de 1930. No pós-guerra, houve
uma combinação única entre crescimento econômico, expansão do comércio
internacional, aumento da produtividade e dos salários, fortalecimento da
democracia e expansão das políticas de bem-estar social (Judt, 2005). Esses
resultados positivos marcaram uma fase rara na história do capitalismo. Mas
tudo começaria a ruir no final dos anos 1960, pela combinação, entre outros, de
efeitos internos às economias nacionais e de fatores ligados à regulação do
sistema monetário e financeiro internacional (Gamble, 1988). A desaceleração
econômica dificultaria que os governos nacionais administrassem os substan-
ciais e crescentes estados de bem-estar social, ao passo que mudanças interna-
cionais, destacando-se a desregulamentação dos fluxos de capital financeiro,
desafiariam as políticas econômicas dos países, particularmente as que visavam
propiciar o pleno emprego.
AEconomia Política nas Ciências Sociais no Brasil 7/23
13 Nos anos de 1970,
despontaria uma nova geração
neokeynesiana, com
formulações que, fundadas na
microeconomia, incorporaram
noções como expectativas
racionais, falhas de mercado e
competição imperfeita,
visando aprimorar o
mainstream.
14 Consultar Oreiro (2012),
Ferrari Filho & Fonseca
(2013) e Prado (2001).
constituída a partir de
Roosevelt (Gourevitch, 1986).
As dificuldades enfrentadas pelos governos social-democratas favoreceram
a emergência de um discurso crítico ao keynesianismo e à intervenção estatal,
que resgatou traços aparentemente submersos do Liberalismo. Uma particula-
ridade desse discurso foi a combinação, até então incomum, da defesa da
economia de mercado e de um Estado forte, considerado necessário para
enfrentar, segundo essa abordagem, os grupos de interesse que teriam se
apropriado do Estado. Consolidaria-se um discurso alternativo bem articulado,
batizado de the new right, que fornecerá a dois partidos conservadores funda-
mentais, na Inglaterra e nos EUA, os Tories e os Republicanos, uma base
ideológico-argumentativa para empreender, exitosamente, um ataque ao con-
senso social-democrata do pós-guerra, com impacto internacional.
A emersão com força da New Right é explicável por ela oferecer uma
direção de políticas que atendiam interesses-chave insatisfeitos com o referido
consenso, começando pelos empresariais (Blaug, 2003). Mas essa força deve-se
também à forma como a nova direita combinou, com sucesso, discursos diferen-
tes. A New Right incorporava uma teoria do funcionamento da economia,
enraizada no monetarismo e em concepções do supply side economics. Havia
nela também uma teoria do funcionamento do Estado e da determinação das
políticas públicas, apoiada na aplicação da teoria microeconômica à Ciência
política: era a teoria da escolha pública, que visava compreender as decisões
coletivas e o sistema político a partir do individualismo metodológico edo
mercado econômico. Por fim, a New Right possuía avaliações e prescrições
sobre o sistema social e as melhores instituições, que exaltavam o mercado, in-
clusive em bases morais. Concebia os políticos e os burocratas como agentes
motivados por seus próprios interesses e a democracia como um sistema em que
os grupos de interesse influenciavam as decisões públicas, causando ineficiên-
cia.15
Assim, a New Right retoma as três dimensões dos discursos que acompanha-
ram o nascimento da disciplina EP. Aplicando modelos econômicos aos fenô-
menos políticos, a teoria da escolha pública, sobretudo, reintroduziu no debate
uma versão abrangente e conservadora de EP, que embutia uma teoria de
Ciência econômica, um regime alternativo de políticas públicas e um ideal
normativo para organizar a economia, fundado na primazia dos mercados
desregulados e na limitada intervenção estatal.16
II.3 International Political Economy
O resgate da economia política, chamada por muitos de Nova Economia
Política (NEP), não se restringiu ao campo da ortodoxia. É importante enfatizar
que o debate sobre as políticas econômicas e as teorias macroeconômicas
(keynesianismo versus monetarismo) foi muito influenciado pelo contexto
internacional. O keynesianismo funcionou na vigência do sistema de Bretton
Woods, que provia grande autonomia para os Estados praticarem políticas de
pleno emprego. Mas o colapso desse sistema, o fim do regime de taxas de
câmbio fixas e a desregulamentação financeira trouxeram novos constrangi-
mentos aos governos nacionais. A resposta aos efeitos desestabilizadores da
volatilidade do capital, que amplificava os riscos de crise no balanço de
pagamentos, foi o estabelecimento do controle da inflação como o objetivo
essencial da política monetária e macroeconômica em geral, em prejuízo da
promoção de políticas de pleno emprego. Esse quadro evoca a necessidade de
análises mais abrangentes, que combinem não apenas a política e a economia,
mas também aspectos ligados à organização do sistema econômico internacio-
nal (Eichengreen, 2008).17
Com a maior integração econômica e financeira, a dimensão internacional
ganhou relevância, ampliando-se o interesse por teorias da ordem econômica
8/23 Revista de Sociologia e Política v. 29, n. 77
15 O pensamento conservador
da New Right também
combinava o resgate do
nacionalismo, a proteção
contra o comunismo e a
preservação dos valores da
família tradicional contra
certas mudanças relacionadas
às transformações do
Pós-Guerra.
16 O discurso neoliberal
penetrou também no debate do
desenvolvimento econômico.
No pós-guerra, uma geração
de economistas defendeu o
planejamento e a intervenção
do Estado para suprir os
limites do mercado. Desde os
anos 1970, consolida-se uma
nova geração, que critica a
intervenção estatal e retoma a
defesa dos mercados
17 Em outras palavras, a
globalização econômica e
financeira complicou a chance
de Estados soberanos,
global, sobre sua evolução, características e impactos nas economias nacionais.
É necessário tanto entender as razões do bom desempenho internacional du-
rante o período da Pax Americana, como os desequilíbrios e desafios inerentes à
nova ordem global.
As teorias anteriores, inclusive no campo das relações internacionais, eram
muito centradas no papel de Estados relativamente autônomos. Destacava-se o
paradigma realista, que enfatizava os cálculos de Estados soberanos visando
poder e segurança. O aprofundamento de uma economia global que reduz a
margem de autonomia decisória dos Estados fortalece abordagens mais centra-
das na estrutura, para entender os constrangimentos impostos pelo funciona-
mento da economia mundial unificada.
Emerge, então, a International Political Economy (IPE), elaborando aná-
lises voltadas às interações entre Estado, mercado e relações internacionais, mas
que buscam evitar determinismos, como o que marcou algumas abordagens da
teoria da dependência.18 A IPE desenvolve teorias que consideram tanto a
estrutura como a agência, mas sem submeter uma dimensão à outra. Apesar de o
Estado continuar central, é visto como um ator fragmentado, influenciado pelos
grupos internos de poder e pelas estruturas de investimento, finanças, produção,
inovação e comércio (Gamble, 1995). Incorporam-se outros atores, destacan-
do-se as empresas multinacionais e os agentes do sistema financeiro interna-
cional, e valoriza-se o papel das ideias para a consolidação de uma economia
global.19 Ao invés de tratar a economia internacional como uma arena de trocas
entre Estados soberanos e maximizadores, a IPE a concebe como um sistema
global de empresas controlado pelas corporações internacionais e busca com-
preender o contexto de sua internacionalização, suas decisões e seus impactos
nas economias nacionais, bem como a atuação dos Estados nesse ambiente
complexo de atores e interesses.
II.4 Economia política comparada: neoinstitucionalismo histórico e variedades de capitalismo
Nas últimas décadas, fortaleceram-se também análises comparadas da organi-
zação institucional dos países. Elas, em geral, investigam a relação entre Estados
ou governos e indústria, recuperando a história das instituições e de políticas
específicas. Um importante predecessor é a abordagem institucional pioneira de
Thorstein Veblen, o velho institucionalismo,doiníciodoséculoXXnosEUA,
que destacou os aspectos culturais e históricos da evolução da economia.20 Outro
predecessor são as análises de história econômica das diferenças nos modelos de
industrialização (Gershenrkon, 1962). No pós-guerra, tais análises foram apro-
fundadas, buscando explicar os melhores resultados obtidos por países que
contaram com um Estado mais forte e com sistemas de planejamento (Shonfield,
1968). A partir de autores como Barrington Moore, Charles Tilly e Theda
Skocpol, o institucionalismo histórico renovou-se, tornou-se menos preocupado
com as instituições formais e menos normativo, configurando o neoinstitucio-
nalismo histórico. Essa abordagem busca entender por que há variações na
configuração de diferentes economias nacionais, nos setores de atividade e nas
políticas públicas e quais são suas principais implicações.
Aplicado à economia, o neoinstitucionalismo histórico busca responder a
duas questões: por que países reagem diferentemente a desafios econômicos
relativamente similares? E por que há padrões nacionais de política econômica?
A política econômica não é apenas uma resposta técnica a problemas especí-
ficos. Geralmente, as políticas públicas são muito influenciadas por variáveis
políticas, incluindo o contexto e o legado institucional do país (Hall, 1986).
Essa abordagem dedica-se à explicação de diferenças na política econômica,
considerando também aspectos destacados por outras teorias, como as ideias, os
grupos de interesse e o grau de autonomia do Estado. Enfatizam, no entanto, que
AEconomia Política nas Ciências Sociais no Brasil 9/23
19 A IPE incorpora o impacto
das formas de organização da
economia-mundo sobre os
Estados nacionais
(Wallerstein, 1979), mas deixa
também campo aberto para
entender o papel das ideias na
consolidação de uma
hegemonia global.
20 O estudo das legislações,
desenvolvido por John R.
Commons foi uma das
contribuições dessa escola.
18 Na medida em que essa
teoria considerava a sorte dos
países em desenvolvimento
em grande parte determinada
pela estrutura e organização da
economia internacional,
algumas de suas formulações
deixaram pouco espaço para a
autonomia nacional.
relativamente insulados,
regularem a economia e
perseguirem políticas de
promoção do pleno emprego.
tais variáveis são influenciadas e filtradas por elementos institucionais consoli-
dados na trajetória histórica de cada país. As instituições resultam de acordos,
competições, conflitos e decisões do passado. Ao se estabilizarem, balizam o
curso dos eventos, inclusive a capacidade dos grupos influenciarem a política
econômica.
Duas conclusões são essenciais: a política é mais que uma resultante das
variadas pressões dos grupos sociais e há consistências estruturais por trás da
persistência de padrões nacionais de política econômica. É, pois, fundamental
entender o contexto institucional que infuencia o poder de ação dos grupos e
suas preferências. Definido por Hall de forma ampla, esse ambiente estrutural,
diz respeito, por um lado, à configuração organizacional da sociedade, com
destaque para a organização do capital (empresarial e financeiro) e dos trabalha-
dores (sindicatos). Por outro lado, está também ligado à organização do Estado,
ao conflito inter-burocrático e aos instrumentos de promoção das políticas
públicas. Por fim, diz respeito aos canais de relação e interação entre Estado e
sociedade, destacando-se a natureza e a organização do sistema político e o
conjunto dos mecanismos e canais de acesso dos grupos sociais ao poder
público. Tal quadro institucional é também muito influenciado pela posição do
país na ordem internacional, o que abre o diálogo com as teorias das relações
internacionais.
Em Hall, o neoinstitucionalismo histórico explora a interação entre a econo-
mia e a política e preocupa-se com o entendimento dos resultados das políticas
econômicas, considerados essenciais para explicar a persistência ou não de
certa trajetória. Preocupa-se também em entender os determinantes políticos e
institucionais de certas políticas. Não raramente, o desenvolvimento não ocorre
devido às decisões serem criticamente influenciadas pelas forças e instituições
em interação.
Na chave do neoinstitucionalismo histórico, desenvolveu-se a abordagem
das variedades de capitalismo (Varieties of Capitalism – VoC). Ela ocupa-se da
estrutura regulatória e institucional dos países, que constrange e influencia a
ação dos atores econômicos. E enfatiza bastante o papel das empresas, vistas
como organizações que estabelecem padrões variáveis de coordenação com os
atores-chave para o seu desempenho: trabalhadores, fornecedores, clientes,
outras firmas, financiadores e governo. Parte considerável dessas relações
ocorre no mercado, na compra de produtos e serviços pelo melhor preço. Mas a
coordenação se dá também por meio de hierarquias, como ilustrado pela
produção em fábricas ou pela organização das corporações multidivisionais
(Coase, 1937; Williamson, 1975). Esse ponto foi muito explorado pela vertente
do institucionalismo econômico, fonte teórica de certos conceitos-chave, como
custo de transação, direitos de propriedade, racionalidade limitada, informação
assimétrica. Um intuito dessa literatura foi mostrar que significativos avanços
organizacionais ocorreram no sentido de reduzir não apenas os custos de
produção, mas também as incertezas e os custos de transação.
A rigor, a nova economia institucional é uma linha de pesquisa importante
da nova economia política, que usa métodos afins à teoria econômica, incluindo
a teoria dos jogos, para investigar a história e a política econômicas. Ela
apreende o Estado como o campo de batalha para influenciar o processo de pol-
icy making. Instituições que garantem direitos de propriedade e reduzem os
custos de transação são vistas como suficientes para promover o desenvol-
vimento econômico (Almeida, 2018). Essa abordagem influencia bastante a
economia política positiva eoneoinstitucionalismo da escolha racional, que é
forte na Ciência política dos EUA e do Brasil.21
Uma contribuição central da abordagem das VoC foi evidenciar que, além
dos tipos de coordenação pelo mercado e o hierárquico, há também o modelo de
10/23 Revista de Sociologia e Política v. 29, n. 77
21 Consultar Hall & Taylor,
2003; Alt & Alesina, 1996;
Weingast & Wittman, 2006;
Limongi, 1994.
networks, com relações baseadas em redes de cooperação, que podem conduzir
a resultados positivos. Assim, a concessão de canais de participação aos traba-
lhadores pode estimular seu engajamento em práticas de treinamento e aumento
da produtividade, enquanto a participação dos bancos nos conselhos de decisão
das firmas tende a favorecer a oferta de capital mais paciente, disposto à
maturação de longo prazo do investimento. Na mesma direção, o fortalecimento
de relações de temporalidade estável com os fornecedores tende a favorecer
projetos de produção em parceria de peças e componentes e certas interações
com outras empresas e com o governo podem estimular práticas conjuntas de
inovação e desenvolvimento do produto.
Um ponto central da abordagem é apontar as diferenças entre os países, pois
as decisões tendem a ser condicionadas pela estrutura institucional de cada
economia, destacando-se a organização do sistema financeiro, a governança
corporativa, as relações de trabalho e as práticas educacionais e de treinamento.
Esse enfoque comparativo conclui que prevalecem em alguns países formas de
coordenação centradas em processos de mercados e em hierarquias, que são
qualificadas como economias de mercado liberais. Em outros países, predomi-
nam economias de mercado coordenadas, onde, além das estruturas institu-
cionais típicas da coordenação de mercado, há mecanismos de governança por
networks (Guimarães et al., 2016).
A abordagem das VoC também mostra que há complementaridades entre as
instituições. Países que possuem um sistema financeiro mais centrado no
mercado de capitais tendem, por exemplo, a ter estruturas de governança
corporativa que dão grande autonomia aos gerentes e relações de trabalho
menos regulamentadas. Em contraposição, tende também a haver correlação
entre sistemas financeiros mais baseados nos empréstimos bancários e uma
governança corporativa mais centrada em mecanismos de cooperação e em
relações de trabalho com maior regulamentação e direitos (Hall & Soskice,
2001). A perspectiva das VoC explora também a relevância dessas relações
para explicar questões como as fontes de vantagens comparativas, as diferenças
nas políticas sociais e o posicionamento dos países em negociações internacio-
nais.
Essa abordagem mostrou-se profícua para explicar o comportamento dos
países na ordem internacional dos Trinta Gloriosos (1945-1975), quando havia
protecionismo, regulação dos fluxos de capital, insulamento das instituições e
maior autonomia dos Estados nacionais. Parte das diferenças institucionais, no
entanto, diluiu-se com a intensificação da globalização produtiva, financeira e
comercial e da integração regional (União Europeia etc). Mas as diferenças
institucionais continuam relevantes; alguns países ainda mantêm parte impor-
tante de suas formas de coordenação na governança por networks.
Em anos recentes, a VoC se viu desafiada em duas direções. Uma delas veio
da International Political Economy, que destaca como a constituição de uma
economia global tende a diminuir as diferenças institucionais entre os países. A
outra é a teoria das policy networks, que desagrega o Estado e enfatiza que as
diferenças institucionais e em capacidades estatais ocorrem principalmente em
nível setorial (Smith, 1993). Apesar dessas considerações, a abordagem das
VoC mostrou-se fértil, formulando tipos ideais que, usados com cautela, servi-
ram como ferramentas analíticas importantes.
Enfim, outra abordagem similar é a dos diferentes modelos de welfare state,
que também capta semelhanças e regularidades entre tipos de países, resultantes
de diferentes condições políticas e de processos distintos de nation building
(Esping-Andersen, 1990). Destacam-se também análises comparativas que
exploram, por exemplo, a maior capacidade do Estado para guiar programas
AEconomia Política nas Ciências Sociais no Brasil 11/23
bem-sucedidos de desenvolvimento (Amsden, 1989; Evans, 1995; Chang,
2002).
II.5 O campo da economia política: distintos paradigmas e a abordagem do artigo
No percurso aqui resgatado, a EP passou por diferentes fases e abordagens,
exibindo uma pluralidade de perspectivas teóricas e metodológicas (indução,
dedução, comparação, estatística etc). Nós a abordamos como área de estudos
interdisciplinar e de interseção entre economia e política, que examina a
influência da política e da sociedade na economia e a influência da economia e
da sociedade na política.
Uma dificuldade apontada por Almeida (2018) é que a NEP, usando o termo
desse autor, pode significar várias coisas. Devido ao grande número de referên-
cias cruzadas entre as duas disciplinas, ela possui diferentes nomes e definições.
Algumas abordagens surgiram visando endogeneizar o político e adotaram,
para tanto, a abordagem utilitarista do pensamento marginalista. O referido
autor vê a NEP como uma síntese imperfeita de vários approaches, que usam a
metodologia da economia para a análise do comportamento político e das insti-
tuições. Como destacado nesse artigo, essa definição, apesar de reunir várias e
importantes linhas de estudos, não esgota o campo da Economia Política.
Assim, na delimitação do campo da EP aqui proposta, não adotamos uma
concepção exclusivamente metodológica, que a define como “the methodology
of economics applied to the analysis of political behavior and institutions”
(Weingast & Wittman, 2006, p. 3). Nosso critério de delimitação é temático,
abarca trabalhos com diferentes perspectivas teóricas e métodos, que abordam
temas de interseção entre a economia e a política, incluindo o enfoque socioló-
gico.
Compreendemos então EP como uma área interdisciplinar com dois vetores
focais, que abarcam tanto a economia da política quanto a política da economia.
A EP estuda relações entre, por um lado, a produção e a distribuição e, por outro
lado, o Estado ou o governo, as leis, os interesses e os costumes. Por implicarem
em alocação de recursos nos setores privados e público mediante mecanismos
não exclusivamente de mercado e por interferirem nos resultados da ordem so-
cial competitiva, as decisões do Estado sobre política econômica e outras áreas
de política mobilizam um complexo jogo de interesses e visões ideológicas,
cuja análise é um dos principais objetos da EP.
Nessa direção, Gamble (1995) aborda algumas possibilidades abertas por
esses distintos paradigmas. Destaca, por exemplo, o potencial do neokeynesia-
nismo, que, para entender as políticas, incorpora aos modelos econômicos as
assimetrias de informação. Esse paradigma pode fazer pontes com a economia
institucional, com a teoria dos jogos e com a literatura sobre cooperação entre
governos e relações industriais.22 Tudo isso reforça a importância de um
programa de pesquisa interdisciplinar de EP, que mobilize as CS, para evitar o
tratamento fragmentado de uma totalidade multidimensional.
Gamble destaca também a relevância que a teoria da escolha pública pode
ter para a EP,por contribuir para esclarecer a agência. Ela oferece microfunda-
mentos que outras abordagens da EP não possuem. Mas, para isso, essa teoria
precisaria liberar-se da rigidez do laissez faire; em outras palavras, o método da
escolha racional pode ser útil, ainda que seus pressupostos devam ser revistos.
Em síntese, a EP permite pensar conceitos e processos pertinentes à intera-
ção entre Estado e mercado, reflexão que a especialização em disciplinas iso-
ladas não pode dar conta. Um grande potencial é sua diversidade metodológica,
que inclui análises mais micro e centradas no agente, como a escolha racional, e
12/23 Revista de Sociologia e Política v. 29, n. 77
22 Ateoria dos jogos estuda
os diferentes resultados das
escolhas, institucionalmente
mediadas, dos agentes
econômicos em interação nos
mercados, conforme suas
preferências (utilidades).
análises mais gerais, centradas nas instituições nacionais ou nos impactos que a
economia global tende a ter sobre os governos e as economias. Combinando a
análise histórica e institucionalista da estrutura à análise racional da agência, a
EP talvez possa superar as velhas disputas metodológicas. Paradigmas como a
international political economy, as teorias do Estado, o neomarxismo, as
análises comparativas dos governos e das relações industriais e a escolha públi-
ca podem não ser excludentes, mas combinarem-se, quando necessário e de mo-
do apropriado, para a construção de análises mais abrangentes e fidedignas.
A seção seguinte identifica, mensura e classifica o temário de artigos
acadêmicos sobre EP publicados no Brasil, no último decênio, por cientistas
sociais (incluindo economistas).
III. Artigos de Economia Política nas ciências sociais no Brasil
De 2009 a 2018, publicaram-se 2541 artigos nos nove periódicos seleciona-
dos (Tabela 1). Desse total, consideramos 332 (13%) como trabalhos de Econo-
mia Política, sendo que 45,5% (151) estão na REP, periódico mais importante
dessa área temática. Apesar desses artigos da REP terem sido escritos por
pesquisadores de várias áreas das CS, predomina a autoria dos economistas, que
lideram a publicação acadêmica de EP no universo das revistas selecionadas,
todas representativas e qualificadas. O predomínio da REP manifesta-se, tam-
bém, na proporção de seus artigos na amostra: 35% são de EP. Ela é secundada à
distância pela BPSR (19,8%).
O dado mais relevante é que apenas 13% das publicações são de EP. Se
excluíssemos a REP da amostra, por não ser uma publicação das CS no stricto
sensu, teríamos, em um universo de 2110 artigos, apenas 181 (8,6%) pertinen-
tes à EP. Esse dado confirma a percepção, abordada na introdução, de que essa
área tem perdido fôlego entre os cientistas políticos e sociólogos. Vimos, por
exemplo, que, nos anos 1960, 26,8% das publicações da Dados eram de EP. Por
fim, em relação à metodologia utilizada, 63% dos artigos são Quali-Quanti
(Qualitativos e Quantitativos) e 37%, exclusivamente qualitativos. O critério
quali-quanti aqui adotado é bem elástico. Consideramos como quantitativos
artigos que recorrem minimamente a dados quantitativos, sem levar em conta a
sofisticação do tratamento desses dados.
AEconomia Política nas Ciências Sociais no Brasil 13/23
Tabela 1 - Total de artigos da amostra, artigos de Economia Política por periódico e metodologia utilizada (2009-2018)
Periódicos Total Artigos de EP Porcentual Quali-Quanti Porcentual Quali Porcentual
1. BPSR 151 30 19,8 16 53,3 14 46,7
2. Dados 300 17 5,6 9 53 8 47
3. Lua Nova 248 20 8 11 55 9 45
4. Novos Estudos 283 40 14,1 24 60 16 40
5. Opinião Pública 219 9 4,1 7 77,7 2 22,2
6. RBCPI251 9 3,5 2 22,2 7 77,7
7. REP 431 151 35 108 71,5 43 28,5
8. RSP 351 37 11,1 18 48,6 19 51,4
9. RBCS 307 19 6,1 14 73,7 5 26,3
Total 2.541 332 13 209 63 123 37
Fonte: elaborada pelos autores.
IEntre 2009 e 2016, as edições da RBCP foram temáticas, trataram de teoria política atual, gênero e política, partidos políticos,
ações afirmativas etc. Esse direcionamento desfavoreceu a publicação de conteúdos de EP, conforme mostram os dados
apresentados.
A Tabela 2 é um esforço de identificação e classificação intratemática dos
objetos de pesquisa em EP no decênio analisado. Usamos o termo esforço
devido ao inelutável empenho de contraposição à fragmentação, único meio de
propiciar, ao preço de alguma agregação excessiva, a visualização, no ecossis-
tema da EP, de suas principais temáticas, as vegetações arbóreas basilares da
floresta. A metodologia usada para a classificação envolveu dois grandes
passos: a leitura dos títulos, resumos e da conclusão dos 2541 artigos e, em
vários casos, também de trechos do corpo dos trabalhos, visando sanar dúvidas;
e a indexação de duas palavras-chave, em regra, para cada artigo.23 Ademais,
em várias situações, o procedimento contra a fragmentação implicou em sacri-
ficar a indexação dos artigos com múltiplas palavras-chave possíveis, para que,
no máximo, duas prevalecessem para a definição do conteúdo temático.
Assim, definimos 12 subtemas, aos quais, para fins didáticos e generaliza-
dores, nos referiremos agora com base na primeira palavra-chave mencionada
na primeira coluna à esquerda na Tabela 2, e em ordem decrescente de freqüên-
cia na amostra: 1) Desenvolvimento; 2) Política Macroeconômica; 3) Economia
Política Internacional; 4) Instituições Políticas; 5) Políticas Sociais; 6) Compe-
tição Política; 7) Modelos de Capitalismo; 8) História do Pensamento Econômi-
co; 9) História Econômica; 10) Opinião Pública; 11) Relações Trabalhistas; 12)
Outros. Faremos um breve comentário sobre cada um desses grupos temáticos.
O temário mais freqüente, o de desenvolvimento, envolve a política indus-
trial, a industrialização, as políticas de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e o
desenvolvimento regional. O carro-chefe é a palavra-chave desenvolvimento,
que foi atribuída em 110 casos, em um total de 144, correspondendo a 73,4%.
As outras duas palavras-chave mais freqüentes foram política de P&D (16) e
política industrial (15), seguidas por desenvolvimento regional (2) e industria-
lização (1). Quanto à distribuição desse temário nos periódicos selecionados,
secundados à distância pela prevalência da REP (86), estão a NE (21) e a RSP
(16). 59,7% desse temário foram publicados na REP.
O segundo grupo temático, capitaneado pela palavra-chave política macro-
econômica, totalizou 85 atribuições, das quais 65 (76,4%) estão na REP. O fato
desse temário ser mais tecnicamente dependente de conhecimento de ciência
econômica explica essa distribuição concentrada na REP, pouco presente nos
demais periódicos.
O temário sobre economia política internacional (EPI) apresenta um equilí-
brio distributivo menos desfavorável às publicações mais afins às CS stricto
sensu. Do total de 80 palavras-chave relacionadas à EPI, 41 situam-se na REP e
39 nas demais publicações, destacando-se a BPSR, onde elas aparecem em 23
casos.
O temário quatro é o das instituições políticas, conteúdo caro às CS no
sentido estrito, nas quais tem havido nas últimas décadas, sobretudo na Ciência
política, uma presença crescente das abordagens neoinstitucionalistas, que
focam nas instituições com visões lastreadas nas três variantes do neoinsti-
tucionalismo: o da escolha racional, o histórico e o sociológico (Hall e Taylor,
2003). A palavra-chave instituições políticas aparece 58 vezes em um total de
73. As demais palavras-chave desse temário – Federalismo (2), Direito e
Economia (1), Estado Nacional (1), Capacidades Estatais (1), Partidos (1),
Reforma Administrativa (1), Instituições Participativas (1) e Política Regula-
tória (1) – foram atribuídas, no máximo, em dois casos, com exceção de
Participação Política (5). Quando se considera o total de palavras-chave desse
grupo temático, a REP abriga apenas 20,5% delas, expressando a maior impor-
tância relativa das instituições políticas no temário das CS stricto sensu,
presente nos demais periódicos pesquisados. Ademais, a distribuição desse
tema no conjunto dos periódicos é menos díspare, mais equilibrada.
14/23 Revista de Sociologia e Política v. 29, n. 77
23 Quando isso não foi
possível, atribuiu-se ao menos
uma palavra-chave.
AEconomia Política nas Ciências Sociais no Brasil 15/23
Tabela 2 - Temas de Economia Política Definidos por Palavras-chave
Grupos Temáticos REP NE RSP BPSR RBCS LN DAD OP RBCP TOT. %
1. Desenvolvimento/ Política Industrial/ Industrialização/
Política de P&D/ Desenvolvimento Regional
86211675180014423,8
2. Política Macroeconômica/ Política Econômica/ Política
Cambial/ Política Monetária/ Economia Pública/ Política
Financeira/ Crise Econômica
65871310008514,1
3. Economia Política Internacional/ Relações
Internacionais/ Política Comercial/ Crise Financeira
Internacional
412423134028013,2
4. Instituições Políticas/ Direito e Economia/ Estado
Nacional/ Capacidades Estatais/ Federalismo/ Partidos/
Reforma Administrativa/ Instituições Participativas/
Participação Política/ Política Regulatória
1561710871547312,1
5. Políticas Sociais/ Desigualdade/ Estado de Bem-Estar
Social/ Economia Solidária/ Distribuição de Renda/
1114710668256911,4
6. Competição Política; Coalizões; Elites/ Movimentos
Sociais/ Interesses/ Sindicalismo/ Protestos de Rua
573246260355,8
7. Modelos de Capitalismo/ Modelos de
Desenvolvimento/ Neoliberalismo
10011220300284,6
8. História do Pensamento Econômico/ Pensamento
Econômico/ Teoria Econômica / Filosofia da Economia
Política/ Teoria do Estado
1500010001172,8
9. História econômica 1501000000162,6
10. Opinião Pública/Cultura Política/
Ideologia/Comunicação Política
022100340122
11. Relações Trabalhistas/Política Trabalhista/Mercado de
Trabalho
121014201122
12.Outros 6101247003335,4
Total 270 72 70 58 35 35 31 17 16 604
Fonte: elaborada pelos autores.
Uma proporção e uma distribuição semelhantes também ocorrem no temá-
rio cinco, sobre as políticas sociais, palavra-chave que, isoladamente, aparece
43 vezes e que foi agrupada junto com desigualdade (12), Estado de bem-estar
social (8), economia solidária (4) e distribuição de renda (2). Somadas,
alcançam 69 menções, sendo que apenas 11 delas (16%) situam-se na REP. Nos
demais periódicos, as palavras-chave desse temário destacam-se na NE (20,3%)
e na BPSR (14,5%). Isso expressa a importância das políticas sociais nas
pesquisas das CS stricto sensu, destacando-se a área de políticas públicas, que,
conforme mencionado na introdução, vem crescendo desde os anos 1990
(Marenco, 2016; Marques & Souza, 2016).
O grupo temático seis, capitaneado pela palavra-chave Competição Política
(10), abrange um conteúdo que, na classificação do temário da Ciência Política
brasileira presente em Marenco (op. cit.), denomina-se Atores e Ação Coletiva.
As demais palavras-chave que formulamos e incluímos nesse grupo foram:
Elites (8), Coalizões (6), Movimentos sociais (4), Interesses (3), Sindicalismo
(3) e Protestos de Rua (1). Com exceção da RBCP (ver nota 23), onde esse
temário não apareceu em nenhum artigo, sua distribuição nos periódicos tam-
bém foi equilibrada.
O temário sete aborda os Modelos de Capitalismo e de Desenvolvimento,
assunto que emergiu em reação às reformas do Consenso de Washington,
ensejando abordagens institucional-comparativas críticas ao modelo neoliberal
e nas quais a perspectiva histórica é importante (Evans, 1995). Das 28 pala-
vras-chave sobre esse tema, modelos de capitalismo,10 estão na REP e 11 na
RSP (totalizando três quartos da temática), certamente por essas revistas ade-
rirem mais que as outras ao temário clássico da EP.
Os temas oito e nove, respectivamente liderados pelas palavras-chave histó-
ria do pensamento econômico ehistória econômica, apareceram quase que
exclusivamente na REP. Já o tema 10, encabeçado pela palavra-chave opinião
pública, não consta na REP, predominando, como esperado, na revista OP,
especializada nesse conteúdo. O temário 11, encimado pela palavra-chave
relações trabalhistas, totaliza, tal como o anterior, apenas 12 ocorrências. É
curioso que um conteúdo tão central para a EP ocupe espaço tão limitado nos
periódicos selecionados, sobretudo considerando o período histórico de preca-
rização das condições de trabalho vigente na economia internacional.
Por fim, o temário 12, que denominamos “Outros”, agrupa uma miscelânea
de palavras-chave, totalizando 33 ocorrências, entre elas, políticas urbanas (9),
política de infraestrutura (3), política microeconômica (3), estrutura fundiária
(3), teoria social (3), teoria da modernidade/modernidade (2) etc. Apesar de
agregar temas com frequência minoritária, essa categoria reforça o caráter
diversificado dos objetos de pesquisa no campo da EP no Brasil e a complexi-
dade interdisciplinar da área.
O uso do software Iramuteq como recurso metodológico para analisar
conteúdo, discurso e produzir lexicometria evidenciou que as palavras mais
destacadas em segmentos de texto dos resumos dos artigos amostrais (Figura 1)
remetem aos assuntos e vocabulário clássicos da EP, como “política(o), econô-
mico/economia, desenvolvimento, governo, público, social, internacional, cres-
cimento, mercado, instituição”, entre outros. Tais termos aludem à preocupação
da obra originária da EP clássica, A riqueza das nações, que delimitou a dis-
ciplina.
Por outro lado, desagregando os resumos da REP dos demais e formando
duas nuvens distintas (Figura 2 e Figura 3), alcança-se um maior deta-
lhamento analítico sobre as distintas especificidades da produção, por um
lado, de artigos de EP nesse periódico, mais organicamente vinculado à
16/23 Revista de Sociologia e Política v. 29, n. 77
ciência econômica, e, por outro lado, nos oito periódicos restantes, todos eles
mais afins às demais CS.
Na Figura 2, que retrata segmentos de texto dos resumos amonstrais da REP,
destacam-se palavras como econômico/economia, política(o), desenvolvimen-
to/crescimento e Brasil(eiro). Na Figura 3, correspondente aos demais perió-
dicos, as palavras sobressalentes são política(o), Estado/Governo, Brasil(eiro) e
Econômico/Economia.
A Tabela 3 permite comparar a ênfase distinta contida nesses dois agrega-
dos, elucidando as diferentes especificidades temáticas. Obtivemos os índices
calculando a razão entre a incidência das palavras sobressalentes nas nuvens e o
número de resumos do agregado em questão. Nota-se que, no agregado dos
periódicos das CS stricto sensu, a presença de segmentos de texto onde há
palavras caras à Ciência política, como Política(o), Estado/Governo, Social e
Instituição, é maior que na REP. Por outro lado, a REP lidera os segmentos de
texto mais consagrados no campo acadêmico da economia, a começar pelo tema
Desenvolvimento/Crescimento, conforme já havia sido observado.
IV. Considerações finais
Diante do relativo desprestígio da Economia Política nas organizações
acadêmicas (ANPOCS e ABCP) e publicações das CS, em comparação com os
trinta anos de 1960 a 1990, o principal objetivo desse artigo foi, mirando no
AEconomia Política nas Ciências Sociais no Brasil 17/23
Fonte: elaborado pelos autores.
Figura 1 - Nuvem de palavras de todos os resumos amostrais
esforço de construção institucional dessa subárea temática, avaliar a sua pro-
dução em nove periódicos nacionais no decênio 2009-2018.
Nesse sentido, procuramos identificar e delimitar o campo de estudos da EP,
explorando momentos importantes de sua trajetória, desde Adam Smith, e as
diferentes abordagens surgidas. Trata-se de uma disciplina cuja existência se
explica e justifica pela interdependência do fenômeno econômico-político e
cuja apreensão extrapola os limites das disciplinas mais especializadas que
constituíram as CS desde o século XIX. Argumentamos que a EP é uma área de
estudos pluralista, com várias teorias e metodologias; seu temário desenrola-se
na interseção entre a economia e a política e mobiliza conceitos, processos e
argumentos pertinentes ao entendimento da interação entre Estado, mercado e
sociedade.
18/23 Revista de Sociologia e Política v. 29, n. 77
Fonte: elaborado pelos autores.
Figura 2 - Nuvem amostral da REP
AEconomia Política nas Ciências Sociais no Brasil 19/23
Fonte: elaborado pelos autores.
Figura 3 - Nuvem amostral sem a REP
Tabela 3 - Índices de palavras predominantes em dois agregados amostrais de resumos
Temas Rep(1) Todos Menos
Rep(2)
Relação
(1)/(2)
Política(o) 188/151 = 1,24 380/181 = 2,1 59%
Estado/Governo 112/151 = 0,74 249/181 = 1,38 53,6%
Desenvolvimento/Crescimento 159/151 = 1,05 119/181 = 0,65 161,5%
Econômico/Economia 206/151 = 1,36 182/181 = 1,0 136%
Brasil(eiro) 136/151 = 0,9 212/181 = 1,17 76,9%
Social 42/151 = 0,28 129/181 = 0,71 39,4%
Instituição 34/151 = 0,22 50/181 = 0,27 81,5%
Fonte: elaborada pelos autores.
Uma primeira constatação é que, em relação ao passado das CS no Brasil,
conforme evidencia Lynch (2016), aumentou a concentração da produção da
EP no campo acadêmico dos economistas, pois, como evidenciado, ela perdeu
espaço, fragmentou-se e diluiu-se no temário geral da Ciência Política e da
Sociologia. Isso indica que a contribuição do conjunto das CS para o processo
de desenvolvimento, apreendido amplamente, ou seja, nas dimensões econô-
mica, social, política e de sustentabilidade, retrai-se e especializa-se regressi-
vamente. A segmentação do conhecimento e o déficit em abordagens que lidem
mais prontamente com fenômenos de dimensões simultaneamente políticas,
econômicas e sociológicas, tal como o olhar da economia política busca abar-
car, tende a limitar a pesquisa sobre questões e temas-chave das CS.
Tal tendência contrasta com o ocorrido nas décadas de 1960 e 1970, quando
a modernização industrial do Brasil era significativa, mesmo tendo sido acom-
panhada da concentração de renda, fato, contudo, identificado, analisado e
criticado por cientistas sociais de então. Naquela época, a temática do desenvol-
vimento impactava com mais consistência as CS como um todo. A trajetória
neoinstitucionalista da ciência política, que, em parte, a afasta da sociologia e da
economia, parece relacionar-se com sua mudança temática. Como é possível
escapar de determinismos e considerar a autonomia da política, mas sem
apartá-la das demais ciências sociais (Almeida et al., 2016)? Já mencionamos
na introdução que essa discussão é necessária.
A especialização regressiva, à custa da apreensão interdisciplinar das CS,
expressa-se no amplo predomínio da REP sobre os temas do desenvolvimento e
da política macroeconômica, que são essenciais para a compreensão das rela-
ções entre Estado, economia e interesses em geral, particularmente no Brasil,
onde os fatos, processos e conflitos políticos dos últimos anos revelam a
centralidade dessas áreas decisórias na realidade nacional.
Observamos também que a presença relativa das políticas sociais é maior
nos oito periódicos de CS stricto sensu do que na REP. Essa aparente divisão do
trabalho entre, de um lado, o desenvolvimento econômico e, de outro, o desen-
volvimento social é problemática. Na medida em que os cientistas sociais stricto
sensu especializam-se em políticas sociais e nas instituições do Estado por elas
responsáveis, tendem a isolá-las da produção material, que, no limite, fornece a
sustentabilidade intertemporal da redistribuição de renda pelo poder público.
Por outro lado, o predomínio da abordagem do desenvolvimento pelos econo-
mistas implica, na perspectiva do mainstream, em limitar esse processo funda-
mental a um fenômeno de mercado, desconsiderando a dinâmica política e
social que lhe é inerente, e/ou em atribuir a causa dos insucessos ao Estado e à
classe política. Mas cabe enfatizar que a maioria da produção de EP na REP di-
verge da ortodoxia de raiz neoclássica.24
Por outro lado, em relação à EPI, a distribuição mais igualitária entre a
produção desse conteúdo na REP e nos demais periódicos parece explicar-se
pelo atual processo de fortalecimento acadêmico das relações internacionais na
Ciência política brasileira.25
A opção metodológica aqui adotada poderá ser complementada com avalia-
ções da área de EP que incorporem outros dados e fontes das CS, como teses,
dissertações, livros, financiamento, instituições de pesquisa, perfis dos pesqui-
sadores, um período de tempo mais amplo etc.
Por fim, o desenvolvimento da pesquisa em EP no Brasil requer o empenho
das organizações acadêmicas, grupos de pesquisa e pesquisadores das CS lato
sensu na construção de pontes teórico-metodológicas e redes institucionais en-
tre a economia e a política, ou seja, entre, de um lado, as instituições e os
processos sociais e econômicos e, de outro, as instituições e processos políticos.
20/23 Revista de Sociologia e Política v. 29, n. 77
24 Selecionamos esse
periódico por ele possuir um
padrão editorial afim à
tradição interdisciplinar da EP,
tanto que abre espaço para
autores não economistas. As
principais revistas nacionais
do mainstream neoclássico
são: Estudos Econômicos
(FEA-USP), Pesquisa e
Planejamento Econômico
(PPE-IPEA) e a Revista
Brasileira de Economia
(FGV-RJ).
25 Não levantamos dados
sobre a economia política na
Associação Brasileira de
Relações Internacionais
(ABRI).
Essa aproximação já ocorre nos EUA há algumas décadas, mas em uma
perspectiva de subordinação da Ciência política aos pressupostos do individua-
lismo metodológico e do homo economicus, que tem restringido a expansão de
abordagens alternativas. Quanto às referidas pontes e redes, as pós-graduações,
organizações e eventos acadêmicos precisariam apostar em renovação temática,
curricular e bibliogrática, parcerias e diálogos interdisciplinares, grupos e
projetos de pesquisa, publicações, enfim.
Marcus Ianoni (marcusianoni@id.uff.br) é Doutor em Ciências Sociais: Sociologia Política pela PUC-SP e Professor do
Departamento de Ciência Política da UFF.
Alexandre Queiroz Guimarães (pop97aqg@hotmail.com) é Doutor em Politics – Political Economy pela University of Shef-
field e Professor da Fundação João Pinheiro.
Felipe Maruf Quintas (maruf.felipe09@gmail.com) é Mestre em Ciência Política e doutorando do Programa de Pós-Graduação
em Ciência Política (PPGCP) da Universidade Federal Fluminense (UFF).
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<https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/livros-pnpg-volume-i-mont-pdf>. Acesso em: 27 de Jul. 2021.
Glossário de siglas
ABCP - Associação Brasileira de Ciência Política
ABRI - Associação Brasileira de Relações Internacionais
ANPOCS - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais
AT - Atores e Ação Coletiva
ATPE - Área Temática Política e Economia
BPSR - Brazilian Political Science Review
CS - Ciências Sociais
DAD - Revista Dados
EP - Economia Política
EPI - Economia Política Internacional
22/23 Revista de Sociologia e Política v. 29, n. 77
GTs - Grupos de Trabalho
IP - Instituições Políticas
IPE - International Political Economy
LN - Revista Lua Nova
NE - Revista Novos Estudos
NEP - Nova Economia Política
OP - Revista Opinião Pública
P&D - Pesquisa e Desenvolvimento
PP - Políticas Públicas
PT - Partido dos Trabalhadores
RBCP - Revista Brasileira de Ciência Política
RBCS - Revista Brasileira de Ciências Sociais
REP - Revista de Economia Política
RSP - Revista de Sociologia Política
STs - Sessões Temáticas
VoC - Varieties of Capitalism
Political Economy in Social Sciences in Brazil: scope, trajectory and profile of papers
Keywords: political economy; social sciences; political science; papers; Brazil.
ABSTRACT Introduction: The article rescues the trajectory of Political Economy, to define this area and discipline. Then, it analyzes
the production of academic papers, in the decade 2009-2018, in the subarea of Political Economy in Social Sciencesin Brazil. It seeks
to show the relative weakening of this subarea in recent decades. The objectives were to define criteria for inclusion of papers in the
area of political economy; identify the specific themes that have been researched and the methodological resources adopted; evaluate
the results found and suggest institutional and research paths for the development of Political Economy in Social Sciences. Materials
and Methods: The methodology identifies, quantifies and distinguishes the content of papers of Political Economy published in nine
national journals A1, A2 and B1, according to the current classification of Capes Qualis Periodicals for Political Science and Interna-
tional Relations. Results: It concludes that economists lead production, especially on the themes of development and macroeconom-
ics; in international political economy, there is a balanced distribution of papers between the journal directly linked to the subarea
analyzed and the journals closest to the social sciences stricto sensu, in which, on the other hand, content of social policies and politi-
cal institutions predominates. Discussion: The development of the subarea involves the construction of theoretical-methodological
bridges and institutional networks between economics and politics.
This is an Open Access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution Non-Commercial License which permits
unrestricted non-commercial use, distribution, and reproduction in any medium provided the original work is properly cited.
AEconomia Política nas Ciências Sociais no Brasil 23/23
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The article is concerned with the change of trajectory of the Japanese economic model. It intends to understand why a model which was very successful in the decades from 1950 to 1980 has faced serious difficulties since the 1990s. The article explores the inter-relations between institutional, economic and political factors, giving special attention to the institutions which were typical of the Japanese model of capitalism, including labor relations, corporate governance, organization of the financial system and the role of the state. It emphasizes the role played by those institutions in the phase of prosperity, but also the pressures which they came to suffer in result of international and domestic transformations. A key aspect is to evaluate the degree in which the Japanese model is still able to preserve the features typical of a “coordinated market capitalism”.The article employs a political economy approach centred on historical institutionalism and varieties of capitalism theories. This approach, showing how domestic institutions condition national responses, offers a powerful referential to interpret the changes and increases our understanding about the interactions among institutions, politics and the economy. Besides historical institutionalism, the article employs specific theories to understand the economic crisis and other challenges faced by the Japanese economy. The article finds that Japan has been facing many institutional changes, but has also preserved many features of its traditional model. The result is the emergence of a hybrid model. In addition to the macroeconomic problems, related to insufficiency of effective demand, to the aging population and to the fiscal difficulties, Japan has also faced other political and social challenges. They include a dual labor market and few opportunities to women and young people. In face of all these challenges, the political system has failed to offer a package of reforms. In brief, the effort to explore different dimensions permits a wide comprehension of many challenges faced by Japanese economy and society.
Chapter
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Applying the new economics of organization and relational theories of the firm to the problem of understanding cross‐national variation in the political economy, this volume elaborates a new understanding of the institutional differences that characterize the ‘varieties of capitalism’ found among the developed economies. Building on a distinction between ‘liberal market economies’ and ‘coordinated market economies’, it explores the impact of these variations on economic performance and many spheres of policy‐making, including macroeconomic policy, social policy, vocational training, legal decision‐making, and international economic negotiations. The volume examines the institutional complementarities across spheres of the political economy, including labour markets, markets for corporate finance, the system of skill formation, and inter‐firm collaboration on research and development that reinforce national equilibria and give rise to comparative institutional advantages, notably in the sphere of innovation where LMEs are better placed to sponsor radical innovation and CMEs to sponsor incremental innovation. By linking managerial strategy to national institutions, the volume builds a firm‐centred comparative political economy that can be used to assess the response of firms and governments to the pressures associated with globalization. Its new perspectives on the welfare state emphasize the role of business interests and of economic systems built on general or specific skills in the development of social policy. It explores the relationship between national legal systems, as well as systems of standards setting, and the political economy. The analysis has many implications for economic policy‐making, at national and international levels, in the global age.
Book
This book picks up where Karl Polanyi's study of economic and political change left off. Building upon Polanyi's conception of the double movement, Blyth analyzes the two periods of deep seated institutional change that characterized the twentieth century: the 1930s and the 1970s. Blyth views both sets of changes as part of the same dynamic. In the 1930s labor reacted against the exigencies of the market and demanded state action to mitigate the market's effects by 'embedding liberalism.' In the 1970s, those who benefited least from such 'embedding' institutions, namely business, reacted against these constraints and sought to overturn that institutional order. Blyth demonstrates the critical role economic ideas played in making institutional change possible. Great Transformations rethinks the relationship between uncertainty, ideas, and interests, achieving profound new insights on how, and under what conditions, institutional change takes place.
Article
For over one hundred years, the British economy has been in decline relative to other industrialized countries. This book explores the origins of Britain's economic problems and develops a striking new argument about the sources of decline. It goes on to analyze the evolution of economic policy in postwar Britain from the development of Keynesianism to the rise of monetarism under Margaret Thatcher. France, by contrast, experienced an economic miracle in the postwar period. Hall argues that the French state transformed itself and then its society through an extensive system of state intervention. In the recent period, however, the French system has encountered many difficulties, and the book locates their sources in the complex interaction between state and society in France culminating in the socialist experiment of Francois Mitterrand. Through his insightful, comparative examination of policy-making in Britain and France, Hall develops a new approach to state-society relations that emphasizes the crucial role of institutional structures.
Book
The slow-down in the pace of accumulation has provided the opportunity for a widespread rejection of Keynesian political economy and an onslaught on the policies, values and organizations of social democracy. There has always been an element among British intellectuals which has never required much inducement to join a collective stampede to the right. We are constantly being told that 'intellectuals' are finally losing faith in socialism (this follows their previous final rejection of it in the early 1950s). They have been converted, even at this late hour, to the need to resist totalitarianism and the British Labour Party, and to reject the beliefs in collectivism and equality that were enshrined in the policies and institutions established in the 1940s. Aside from these 'men who have changed their minds', swayed by the populist clamour of the new right, there has also been in recent years a real intellectual change, a remarkable revival of liberal political economy through the elaboration of the doctrine of the social market economy, a doctrine which, under different labels, has made increasing headway within the Conservative party in the last ten years. The Conservative Government elected in 1979 had a group of ministers in the crucial economic ministries (Treasury, Industry, Trade, Energy), who were all adherents of the doctrine and prepared to govern in accordance with its prescriptions. The term social market economy originated in Germany from the neo-liberal ideas that were current there after 1945. In Britain and America similar ideas have been put forward by a number of theorists including F.A. Hayek and Milton Friedman, and popularized in Britain by organizations like the Institute for Economic Affairs and the Centre for Policy Studies, by lead writers in the Times and Daily Telegraph, by economic commentators such as Peter Jay, Samuel Brittan, and Patrick Hutber, and by Conservative politicians (Enoch Powell at first; more recently, Keith Joseph).