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XLV Encontro da ANPAD - EnANPAD 2021
On-line - 4 - 8 de out de 2021
2177-2576 versão online
CloudGov: Aspectos Organizacionais, Institucionais e Contextuais da Computação em
Nuvem no Governo
Autoria
Luiz Pereira Pinheiro Junior - luizpinheirojunior@gmail.com
Prog de Mestr e Dout em Admin - PMDA - Universidade Positivo
Outro - Outra
Maria Alexandra Viegas Cortez da Cunha - alexandra.cunha@fgv.br
Mestr e Dout em Admin de Empresas - Fundação Getulio Vargas - Escola de Administração de Empresas de São Paulo
Mestr e Dout em Admin Pública e Governo - Fundação Getulio Vargas - Escola de Administração de Empresas de São
Paulo
Resumo
A computação em nuvem tem adentrado os processos organizacionais das empresas e
governos. Esta pesquisa tem como objetivo explicar como os aspectos organizacionais,
institucionais e contextuais configuram a computação em nuvem no governo (CloudGov). A
Teoria Institucional (TIS) foi utilizada para a explicação do fenômeno CloudGov por meio
dos pilares organizacionais de Scott (2013). Complementarmente, esta pesquisa também se
ancorou na Teoria da Difusão da Inovação (TDI) de Rogers (2010) utilizando tipos de
organizações inovadoras, seguidoras e tradicionais. Foi utilizado nesta pesquisa a
metodologia qualitativa selecionando (03) três casos para a construção de uma explicação.
Foram realizadas entrevistas, utilizados documentos e dados secundários e emergiram
categorias de análise voltadas para a explicação do fenômeno. Conclui-se que a computação
em nuvem pode ser configurada em três tipos de organizações, sendo elas inovadoras,
seguidoras ou tradicionais. Este estudo apresenta contribuições teóricas como o uso de duas
teorias (TIS x TDI) para a explorar um fenômeno organizacional e a explicação da
CloudGov no contexto governamental. Sugerem-se estudos futuros como a aplicação desta
proposta em outros países, especialmente no Sul global, ou análise do fenômeno com outras
vertentes teóricas.
CloudGov: Aspectos Organizacionais, Institucionais e Contextuais da
Computação em Nuvem no Governo
Resumo: A computação em nuvem tem adentrado os processos organizacionais das empresas e
governos. Esta pesquisa tem como objetivo explicar como os aspectos organizacionais,
institucionais e contextuais configuram a computação em nuvem no governo (CloudGov). A Teoria
Institucional (TIS) foi utilizada para a explicação do fenômeno CloudGov por meio dos pilares
organizacionais de Scott (2013). Complementarmente, esta pesquisa também se ancorou na Teoria
da Difusão da Inovação (TDI) de Rogers (2010) utilizando tipos de organizações inovadoras,
seguidoras e tradicionais. Foi utilizado nesta pesquisa a metodologia qualitativa selecionando (03)
três casos para a construção de uma explicação. Foram realizadas entrevistas, utilizados documentos
e dados secundários e emergiram categorias de análise voltadas para a explicação do fenômeno.
Conclui-se que a computação em nuvem pode ser configurada em três tipos de organizações, sendo
elas inovadoras, seguidoras ou tradicionais. Este estudo apresenta contribuições teóricas como o uso
de duas teorias (TIS x TDI) para a explorar um fenômeno organizacional e a explicação da
CloudGov no contexto governamental. Sugerem-se estudos futuros como a aplicação desta proposta
em outros países, especialmente no Sul global, ou análise do fenômeno com outras vertentes
teóricas.
Palavras chave: Cloud Computing, CloudGov, Governo, Nuvem.
1 Introdução
Esta pesquisa investiga o uso de computação em nuvem (cloud computing) pelo governo
(CloudGov). A justificativa teórica está relacionada à necessidade de uma explicação sobre os
aspectos que configuram este fenômeno nos governos. Por outro lado, existe a necessidade de uma
explicação prática de como o governo brasileiro está posicionado no uso dessa tecnologia.
O uso de tecnologia nas organizações públicas e privadas levou à adoção de tecnologias que
buscam agilizar e automatizar os processos, reduzir custos e aumentar o desempenho. A
computação em nuvem tem sido uma tecnologia de apoio com apara dos governos visando
melhorias da eficiência e eficácia governamental.
O tema CloudGov desperta inquietações em pesquisadores de todo o mundo. Na literatura é
possível observar estudos investigando fatores que impactam na adoção de nuvem no governo como
na China (Li et al., 2013), na Noruega (El-Gazzar, 2014b), na Austrália (Ali et al., 2015) e até em
países em desenvolvimento, como em Oman (Al-Kharusi & Al-Badi, 2016) e no Yemen
(Mohammed et al., 2018).
Os tipos de nuvem são categorizados na literatura como Software as a Service (SaaS),
Plataform as a Service (PaaS) e Infrastructure as a Service (IaaS) podendo ser estruturadas de
quatro formas, como nuvem privada, pública, comunitária ou híbrida (Yang & Tate, 2012).
Ainda na literatura de CloudGov, é possível verificar que os temas de discussão estão muito
associados a: fatores que levam os governos adotarem nuvem, desafios de uso, benefícios recebidos,
construção de arquiteturas, modelos e frameworks, migração de serviços públicos para a nuvem,
riscos identificados e a nuvem em contextos diversos tais como: nas cidades, na educação ou no
voto eletrônico.
Há iniciativas de nuvem nos governos (CloudGov) há aproximadamente uma década. Em
2010, Wyld publicou um texto a descrevendo como seria o futuro da nuvem nos governos (Wyld,
2010). O autor menciona iniciativas dos Estados Unidos em órgãos como: General Services
Administration (GSA), National Aeronautics and Space Administration (NASA) e White House. Na
Europa foi mencionado o caso do Reino Unido por meio do projeto Digital Britain e de outras
iniciativas na Suécia, França, Espanha e Dinamarca por meio do Projeto Nuvem da União Européia
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(UE). Nesse mesmo texto, no contexto latino americano, a utilização de CloudGov no Brasil ainda
estava em estágio inicial.
Em paralelo a essa discussão há um gap na literatura de CloudGov a ser explorado. Afinal,
quais são as configurações de computação em nuvem dos governos? (El-Gazzar & Wahid, 2015).
Quais aspectos estão relacionados a essa tecnologia? (Mohammed, Ibrahim & Ithnin, 2016). Neste
sentido, este artigo tem como pergunta de pesquisa: Como os aspectos organizacionais,
institucionais e contextuais configuram a computação em nuvem?
Cabe destacar que o termo configuração nesta pesquisa está voltado para explicar a forma de
uso e os modelos de compreensão da tecnologia cloud computing nas organizações, e não o nível
técnico de configuração da cloud. Neste sentido compreender os aspectos contextuais,
organizacionais, regulatórios ou institucionais relacionados com a nuvem nos governos é um gap na
literatura. Os autores Gil-Garcia (2006) e Criado, Rojas-Martín & Gil-Garcia (2017) investigaram
os aspectos organizacionais, institucionais e contextuais em governo eletrônico, analisando websites
governamentais nos Estados Unidos e mídias sociais na Espanha, estudos esses que podem ser
estendidos para a nuvem.
Sendo assim o objetivo do artigo é: explicar como os aspectos organizacionais,
institucionais e contextuais configuram a computação em nuvem (CloudGov) . O artigo está
estruturado com uma breve introdução, na sequência um referencial teórico para contextualizar
CloudGov citando publicações nacionais e internacionais. No item 3 descreve-se a metodologia
utilizada bem como os procedimentos para o levantamento dos dados e na sequência analisam-se os
casos em profundidade provendo explicações sobre o tema.
2 Computação em Nuvem no Governo - CloudGov
A computação em nuvem aplicada à esfera governamental (CloudGov) ainda se encontra em
fase de inicial, e as recentes pesquisas revelam esse panorama (Wyld 2009; Paquette et al., 2010;
Zissis & Lekkas, 2011; Shin, 2013; Ali et al., 2015; El-Gazzar & Wahid, 2015; Al-Kharusi & Al-
Badi, 2016; Pinheiro Junior & Cunha, 2017; Mohammed et al., 2018).
Apesar de haver uma década, Wyld (2009) desenvolveu um livro técnico em parceria com a
IBM para auxiliar gestores públicos na implementação da nuvem nos governos, com sugestões
técnicas e conceituais. Além disso, o autor lista as principais mudanças que ocorrem na organização
na execução dessa tecnologia, listando segurança dos dados, práticas de gestão e necessidades de
escalabilidade.
Para aprofundar o entendimento sobre o tema nesta literatura e avançar na discussão, foi
construída no tópico a seguir uma revisão sistemática da literatura, utilizando técnicas de
catalogagem, análise de conteúdo e clusters. A revisão sistemática visa compreender todos os temas
de investigação em CloudGov e elencar as sugestões de estudos futuros propostas pelos autores.
Na Revisão Sistemática da Literatura (RSL) sobre o tema Computação em Nuvem no
Governo (CloudGov), foi realizada uma busca bibliométrica de artigos publicados em revistas e
congressos nacionais e internacionais. Para isso, optou-se pela utilização das bases de dados Web of
Science, SCOPUS e Google Scholar por concentrarem uma parte relevante da literatura global, via
indexação de Journals (Chadegani et al., 2013). Além disso, as bases Web of Science e SCOPUS
são utilizadas para a mensuração do fator de impacto, o que as torna criteriosas e relevantes para
uma revisão da literatura. O Google Scholar além de ser uma grande base de dados possui os
indicadores h e h-index que visam indexar artigos de autores sobre diversos temas de pesquisa no
mundo (Harzing & Alakangas, 2016).
As palavras-chave utilizadas nessa busca foram: “cloud”, “cloud computing”, “gov*”,
“public sector” alternando entre elas e juntando-as. A palavra-chave “gov*” utiliza o símbolo * pois
ela trouxe textos relacionados a “gov”, “government”, “eGov”, “eGovernment” sendo uma
estratégia de busca refinada utilizada em bases de dados. Essas palavras-chave são as mais
frequentes nos textos que tratam de nuvem e governo.
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Além disso, optou-se pela utilização da base de dados AISeL por se tratar de um tema
relevante na área de sistemas de informação e com uma possível discussão nessa comunidade. Os
critérios da revisão da literatura requerem um mapeamento completo sobre quem são os principais
autores e em que instituições estão localizados (Webster & Watson, 2002). Além disso, requer saber
um estado da arte sobre tudo o que foi publicado sobre o tema CloudGov bem como analisar
insigths que possam trazer propostas futuras sobre um determinado tema ou assunto.
Foram identificados 72 artigos sobre a temática CloudGov e foram classificados em 07
temas que concentram essas pesquisas, sendo eles: arquiteturas, modelos e frameworks; benefícios;
desafios de uso; fatores de adoção; nuvem nos contextos; riscos e serviços públicos. O Quadro 1
mostra os 07 temas e os autores. Os temas foram obtidos por meio do tratamento de quotations dos
objetivos e perguntas de pesquisa.
Temas CloudGov Autores
Arquiteturas, Modelos
e Frameworks de
CloudGov
Ahmad & Hasibuan (2012); Ahn et al. (2015); Al-Rashedi
(2014); Cellary & Strykowski (2009); Chanchary & Islam
(2011); Gill et al. (2014); Khan (2011); Mreea et al. (2016).
Benefícios Adquiridos
com a CloudGov
Ali et al. (2015b); Hana (2013); Janssen & Joha (2011); Liang
(2012); Mohammed & Ibrahim (2014).
Desafios de Uso da
CloudGov Ali et al. (2016b); El-Gazzar (2014b); Hashemi et al. (2013).
Fatores que levam a
adoção de CloudGov
Albugmi et al. (2016); Ali et al. (2014); Ali et al. (2015a); Ali et
al. (2016a); AlKharusi & Al-Badi (2016); El-Gazzar (2014a);
Kuiper et al. (2014); Li et al. (2013); Mohammed & Ibrahim
(2015); Mohammed et al. (2016); Pinheiro Jr et al. (2020);
Polyviou & Pouloudi (2015); Shareef (2013); Wahsh & Dhillon
(2015).
Nuvem nos Contextos:
Cidades, Educação, ERP
e Eleições/Voto
Clohessy & Acton (2013); Clohessy et al. (2014); Maresova &
Kacetl (2014); Shafique et al. (2017); Zissis & Lekkas (2011).
Riscos & Segurança da
CloudGov Alassafi et al. (2016); Hana (2013); Paquettte et al. (2010).
Serviços Públicos que
Migraram para a
CloudGov
Mvelase (2014); Ruiz & Avila (2017); Sallehudin et al. (2015);
Shin (2013).
Quadro 1 - Temas de Pesquisa sobre CloudGov
Os fatores que levam os governos adotarem nuvem podem ser organizacionais,
institucionais, contextuais (Albugmi et al. 2016; Ali et al. 2016a; Mohammed et al. 2016) de
comportamento, técnico e até de mudanças, pois a tecnologia vem para instituir um novo formato
de serviços governamentais. Essas mudanças são explicadas por meio dos fatores de adoção de
CloudGov como o conhecimento da tecnologia, os benefícios, a escalabilidade e a busca por
redução de custos.
Em relação aos desafios de uso de CloudGov, existem obstáculos a serem superados. Um
dos contratempos, são as mudanças na legislação, pois os fornecedores de CloudGov não estão
prontos para as especificidades de cada nação (Hashemi et al., 2013). Outro desafio mencionado na
literatura é o alinhamento estratégico da tecnologia cloud com as necessidades específicas de cada
governo (El-Gazzar, 2014b; Ali et al. 2016b).
Os benefícios adquiridos da CloudGov apresentados no Quadro 1 estão ligados aos aspectos
de eficiência e redução de custos (Janssen & Joha, 2011; Liang et al. 2017; Mohammed & Ibrahim,
2014) além das possibilidades de escalabilidade conforme a demanda dos governos. Essa
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flexibilidade e escalabilidade da nuvem presente nos artigos são consideradass benefícios
adquiridos quando comparada a ambientes tradicionais.
Quanto à migração de serviços públicos para a nuvem, autores mencionam a implantação de
servidores virtuais e a transformação de aplicações em serviços. Essas aplicações podem ser
sistemas de gestão dos governos ou sistemas fiscais de recolhimento de tributos. Ao hospedar esses
sistemas na nuvem (Shin, 2013; Mvelase, 2014; Sallehudin et al. 2015; Ruiz & Avila 2017) eles
podem ser acessíveis e escaláveis a qualquer momento, propiciando efetividade aos serviços.
No tema de CloudGov existe uma preocupação com a segurança das informações e cuidados
com a integridadade dos dados (Paquettte et al. 2010; Hana 2014; Alassafi et al. 2016). Porém, esse
fato pode levar aos riscos tangíveis que conseguem ser controlados e riscos intangíveis, que fogem
do controle dos gestores da aplicação. A literatura, mesmo já mapeando o tema de segurança, ainda
menciona como um campo a ser futuramente investigado em profundidade.
Na literatura há diversos contextos de aplicação como nas cidades (Clohessy et al. 2014) que
propõe um roadmap de utilização de CloudGov no ambiente de cidades inteligentes ou como Zissis
& Lekkas (2011) falam sobre o uso de voto eletrônico por meio da transferência das informações
num ambiente cloud. Ainda em contexto diverso na área de educação, os autores Shafique et al.
(2017) apresentam um framework com fatores determinantes para a migração para cloud do
ambiente tradicional no ensino.
2.1 Teoria Institucional - TIS
As organizações estão em constantes mudanças e essas modificações podem ser analisadas
com a lente teórica institucional - TIS (Dimaggio & Powell, 1983; Scott 2013). Requer
compreender o que são instituições e como elas agem nas organizações (Zucker, 1977).
Scott (2013) define instituições como um conjunto de ações humanas organizadas que
podem ser reproduzidas e sobrevivem de acordo com os processos sociais em que estão inseridos.
Na vertente deste autor, as instituições consistem em processos culturais cognitivos, regulativos e
normativos. Para uma maior compreensão dos efeitos que acontecem nas instituições e
organizações, o autor Scott (2013) apresenta um trabalho contemporâneo da teoria institucional,
onde ele propõe um framework em que as instituições podem ser modificadas conforme os
elementos culturais cognitivos, normativos e institucionais. São definidos então os três pilares das
organizações sendo: o pilar social-cognitivo, o pilar normativo e o pilar regulativo.
O pilar social-cognitivo enfatiza a visão sociológica e na realidade social em que as
instituições estão inseridas (Scott, 2013). Esse pilar, configura uma concepção compartilhada entre
os indivíduos inseridos num campo organizacional em que se tem convicções comuns e lógicas
compartilhadas do funcionamento de um determinado processo ou ação. Os aspectos contextuais
das organizações relacionam-se diretamente com esse pilar, visto que as organizações estão
inseridas em ambientes distintos e podem sofrer alterações conforme a realidade social em que a
instituição está inserida (Gil-Garcia, 2005).
O segundo pilar, denominado regulador é composto por regras, leis e sanções que norteiam
os processos das organizações. Traz uma base de legitimidade para a execução dos processos nas
instituições, pois suas regras são claras e explícitas (Scott, 2013). Tais regras visam esclarecer a
ordem e regulação das ações dos indivíduos, como por exemplo, as regras de um jogo. É relevante
considerar os aspectos institucionais que no contexto governamental podem ser leis, regulações,
sistemas de governos, políticas de controle, culturais e estruturas sociais comportamentais que
podem levar a aceitação ou não de indivíduos nas organizações (Criado, Rojas-Martín & Gil-Garcia
2017).
O pilar normativo define as metas e os objetivos que as instituições pretendem alcançar
(Scott, 2013), que necessitam de ações sociais pelo conjunto dos indivíduos para alcançar um
determinado resultado (Selznick, 1996). Como por exemplo, a meta é ganhar um jogo, devem ser
seguidas as regras e objetivos para conquistá-lo. Este pilar propicia a divisão de papéis nas
organizações que visam atingir objetivos em comum. Os aspectos organizacionais estão
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relacionados diretamente com essa visão, Luna-Reyes e Gil-Garcia (2011) citam que tais aspectos
são as estruturas organizacionais e processos que gerenciam as estratégias de sucesso ou insucesso.
Essa contextualização do uso da TIS com pesquisas em governos, visa justificar o uso desse
arcabouço teórico para investigar o contexto de CloudGov. Recentemente Weerakkody et al. (2016)
utilizou a mesma vertente para explicar como são criadas estratégias de governo para responder as
pressões institucionais da digitalização dos serviços eletrônicos governamentais. Pesquisas
contemporâneas justificam que a mesma vertente teórica pode ser aplicada em contextos como o
uso de mídias sociais por parte do governo da Espanha (Criado, Rojas-Martín, & Gil-Garcia 2017)
ou até a utilização da computação em nuvem no contexto federal americano (Steele et al., 2017).
2.2 Teoria de Difusão da Inovação – TDI
A Teoria da Difusão da Inovação (TDI) de Rogers (2010) fornece uma explicação de que a
adoção de inovações não ocorre de forma linear nas organizações.
Como as organizações não adotam as tecnologias de forma simultânea, a TDI classifica-as
em categorias de adotantes. Rogers (2010) identifica cinco categorias de adotantes para a difusão de
uma determinada tecnologia, sendo elas: 1) inovadores, 2) adotantes iniciais, 3) maioria inicial, 4)
maioria tardia e 5) retardatários.
Nesta pesquisa se optou em utilizar apenas três categorias de adotantes da TDI (1, 2 e 5)
justificadas nas pesquisas de Kwon & Johnson (2013) e Cinicioglu et al. (2017) em que foram
realizadas no contexto de adoção de inovações em países e em indústrias. Nelas, os autores
explicam sobre as categorias Leaders, Followers e Laggers como clusters de classificação
conforme os adotantes estão a nível de determinadas inovações. Em ambos os estudos os Leaders
estão na categoria mais avançada, os Followers estão aprendendo como utilizar as inovações ou
seguindo os adotantes e os Laggers não adotaram ou não migraram ainda (Kwon & Johnson, 2013;
Cinicioglu et al., 2017).
A partir da Teoria de Difusão da Inovação (Rogers, 2010) combinada com a Teoria
Institucional (TIS) (DiMaggio & Powell, 1983; Scott, 2013) é possível estruturar categorias de
análise dos estágios da computação em nuvem implantadas no governo (CloudGov). A TDI com a
TIS se complementam na classificação dos estágios e na explicação organizacional por meio dos
aspectos contextuais, institucionais e organizacionais.
Os primeiros adotantes de uma tecnologia são conhecidos na literatura como inovadores
(Rogers, 2010). Liderar uma novidade na organização exige correr riscos e estar sempre atualizado
com o conhecimento de fronteira, e para isso o perfil desses inovadores geralmente contém
evidências de alta inteligência, competitividade e capacidade de lidar com incertezas, disposição e
aceitação de riscos.
O processo mimético pode ser classificado nos processos de adoção da TDI como
seguidores. Redmond (2003) cita na literatura que, depois que uma inovação é aceita socialmente
em uma organização, os seguidores geralmente imitam a adoção para não ficarem desatualizados.
Essa imitação é para que os seguidores continuem competitivos nos mercados em que operam e
minimizem as incertezas ou riscos que correriam se inovassem sem um modelo anterior para imitar.
O contexto em que as organizações estão inseridas pode contribuir para a adoção tardia,
denominados nesta pesquisa como tradicionais. A localização geográfica de uma organização onde
ela não tem acesso a recursos tecnológicos de ponta pode exigir que uma inovação leve tempo para
chegar a um determinado local (Redmond, 2003). Além disso, indivíduos que são delimitados para
uma região por razões socioeconômicas podem não ter acesso, conhecer e acompanhar
desenvolvimentos como em outros lugares mais propensos à inovação e tecnologia (Chandler &
Hwang, 2015).
Nesta pesquisa os tradicionais podem ser adotantes tardios que, devido a alguma influência,
não foram capazes de acompanhar os desenvolvimentos, ou podem não ser adotados por razões
específicas ao contexto em que operam (Rogers, 2010).
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2.3 Combinando a TIS com a TDI
A Teoria Institucional (TIS) quando combinada com a Teoria da Difusão da Informação
(TDI) nesta pesquisa visam se complementar para obter mais explicações sobre a computação em
nuvem no governo (CloudGov).
A partir da visão institucionalista de Scoot (2013), numa perspectiva de campo
organizacional da TIS, temos o pilar normativo, regulativo e social-cognitivo. O autor Gil-Garcia
(2005; 2006) utiliza esses pilares para uma análise dos aspectos organizacionais, institucionais e
contextuais com explicações específicas de aplicação de tecnologia em governos.
A TDI de Rogers (2010) pode ser utilizada neste contexto de nuvem e governo para explicar
como as organizações adotam novas tecnologias a partir das categorias dos adotantes (inovadores,
seguidores e tradicionais) e combinada com a TIS como os aspectos organizacionais, contextuais e
institucionais configuram essas adoções (DiMaggio & Powell, 1983; Rogers, 2010) A combinação
das teorias e o uso delas como lentes teóricas para a explicação da CloudGov são demonstradas no
Quadro 2.
Base
Teórica da
TDI
Tipos da TDI
Computação em Nuvem no
Governo
(CloudGov)
Como respondem e configuram?
Aspectos da TIS
Base
Teórica da
TIS
Inovadores,
Seguidores e
Tradicionais
Organizacionais,
Institucionais e
Contextuais
Quadro 2 - Combinando a TIS com a TDI
O Quadro 2 tem como objetivo sintetizar categorização das duas bases teóricas (TDI e TIS)
a partir de uma análise do fenômeno CloudGov com múltiplas visões. Essa utilização da
combinação das teorias poderá trazer contribuições futuras desta pesquisa pois se busca avançar nos
estudos de: Gil-Garcia (2005); Weerakkody, Dwivedi & Irani (2009) e Curado et al. (2017) na visão
institucionalista e de Redmond (2003); Rogers (2010); Lin & Chen (2012); Chandler & Hwang
(2015) e Mohammed et al. (2018) na visão da difusão da inovação.
3 Metodologia
Foi realizado uma pesquisa qualitativa na perspectiva objetivista a partir de três estudos de
casos (Yin, 2013) com o intuito de aprofundar a aplicação do framework de CloudGov. Nesta etapa,
explicou-se as tipologias de inovadores, seguidores e tradicionais evidenciando de forma qualitativa
quais são os aspectos organizacionais, institucionais e contextuais que configuram a adoção de
Cloud nesses casos.
O primeiro passo desta análise foi a seleção e justificativa dos casos, pois conforme Yin
(2013) para um caso ser investigado requer a necessidade de ser raro, específico e passível de
explicação. Como o modelo teórico proposto no item 2.3 desenvolve uma tipologia de 03 tipos de
organizações, consequentemente foram escolhidos 03 casos, descritos no Quadro 3 para serem
estudados em profundidade.
Estudo
de
Caso
Características
Demográficas do
estado da
federação
Coleta de
Dados
Relevância e Justificativa do Caso
(Eisenhardt & Graebner, 2007;
Yin, 2013)
Tipo de
Organização
Rogers
(2010)
C1 Qtd. Municípios
entre.: 150-200
Entrevistas,
dados
secundários &
Pioneiro na utilização de CloudGov a nível
estadual com regulamentação própria.
Possui uma gestão tecnológica mais ousada
Inovadores
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População aprox.:
9 milhões
PIB: R$ ≅150
bilhões
documentos e localizado estrategicamente num contexto
relevante (hub de tecnologia).
C2
Qtd. Municípios
entre:700-800
População aprox.:
20 milhões
PIB: R$ ≅550
bilhões
Entrevistas,
dados
secundários &
documentos
Possui um contexto relevante de tamanho,
cultural, porte e histórico de tecnologias
estaduais. Em 2019-20 o estado passa por
uma mudança de orientação política e há
mudanças relevantes na gestão da
organização de informática. Este caso se
definiu como forte utilizador da ferramenta
de melhores práticas de mercado.
Seguidores
C3
Qtd. Municípios
entre 50-80
População aprox.:
4 milhões
PIB: R$ ≅100
bilhões
Entrevistas,
dados
secundários &
documentos
Um estado da federação com características
locais e regionais. Possui uma empresa de
TI voltada para tecnologias internas e
limitações de recursos. Abertura para
compreender novidades e evoluções de
tecnologia.
Tradicionais
Quadro 3 – Informações dos Casos
O Quadro 3 descreve diferenças entre os Casos C1, C2 e C3. Conforme Eisenhardt &
Graebner (2007) justificam-se os três casos em sua relevância para a pesquisa, já que são oriundos
de contextos distintos, de tipos diferentes, permitindo discutir em profundidade os aspectos que
caracterizam cada um dos tipos de organizações que adotam CloudGov.
Justificar os casos e as entrevistas leva a garantia de rigor metodológico para a pesquisa e
possíveis replicações futuras (Creswell, 2003). Os entrevistados em cada caso foram gestores e
técnicos de relevância na implantação da iniciativa de CloudGov no estado. O Quadro 4 apresenta
como foram realizadas as entrevistas e a justificativa de seleção de cada entrevistado.
ID
Entrevistado
Cargo Duração
da
Entrevista
Justificativa de Seleção do
Entrevistado
Tipo de
Organização
E1 Diretor 1:31:00
Disseminador de nuvem no governo
nos estados brasileiros e publicou o
primeiro edital para contratação de
nuvem pública. Inovadores
C1
E2 Coordenador 51:30 Atuou na implantação da CloudGov na
empresa e possui certificações AWS.
E3 Analista 20:02
Atuou no projeto de implantação da
CloudGov e representa o governo
perante entidades do contexto.
E4 Superintentente 24:00 Atua diretamente com a secretaria de
planejamento do estado em relação com
a TI no Estado.
Seguidores
C2
E5 Diretor 25:00
Disseminador de nuvem no seu Estado
com experiência superior a 30 anos na
empresa.
E6 Diretor 46:00 Liderou um projeto no seu Estado na
migração de 1.000 servidores para o
ambiente de nuvem.
E7 Coordenador 46:38
Atua como líder de projetos de nuvem
na empresa e possui certificações AWS
e Azure.
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E8 Diretor 27:00 Lidera uma equipe com interesses em
migração para a nuvem pública.
Tradicionais
C3
E9 Gerente 28:00
Gestor de uma equipe de operações
com interesses em conhecimentos de
CloudGov.
E10 Coordenador 46:00
Coordena um time que tem atuação
com aplicações técnicas de nuvem no
Estado.
E11 Analista 26:00
Analista técnico de computação em
nuvem com conhecimentos de
CloudGov.
Quadro 4 – Informações das Entrevistas
Foram realizadas 11 entrevistas nos casos C1, C2 e C3 (Quadro 4) com o intuito de obter
maiores informações sobre os aspectos organizacionais, institucionais e contextuais que formam a
configuração da CloudGov dos três tipos de organizações. Foi utilizado o roteiro (Apêndice E) nas
entrevistas validado pelo comitê de ética e se buscou a saturação das evidências (Yin, 2013) para
delimitiar a quantidade de reuniões com os entrevistados.
ID
Docto Nome Documento Formato do
Documento
Justificativa para utilização do
Documento na Análise
Tipo de
Organização
C1D1
Termo de
Referência
Credênciamento
Edital
Foi utilizado para analisar/triangular com as
entrevistas como ocorreu a contratação de
nuvem pública no caso C1.
Inovadores
C1
C1D2
Portaria de
Comissão Especial
para Nuvem
Diário
Oficial do
Estado
Foi utilizado para analisar/triangular com as
entrevistas como houve a legitimação do
grupo de trabalho de nuvem no caso C1.
C1D3
Nota Técnica
referente ao
Credenciamento
Parecer
Foi utilizado para analisar/triangular com as
entrevistas como ocorreu a contratação de
nuvem pública no governo no caso C1.
C1D4 Resultado Final Edital
Foi utilizado para analisar/triangular com as
entrevistas como ocorreu a contratação de
nuvem pública no governo no caso C1.
C1DS
1Pronunciamento Notícia
Foi utilizado para analisar/triangular com as
entrevistas como ocorreu a apresentação
dos fornecedores externos para o estado no
caso C1.
C2D1 Chamada
Prova de Conceito Edital
Foi utilizado para analisar/triangular com as
entrevistas como ocorreu os testes de
nuvem pública no governo no caso C2.
Seguidores
C2
C2D2 Comunicado
Diário
Oficial do
Estado
Foi utilizado para analisar/triangular com as
entrevistas como houve a legitimação da
chamada para os fornecedores de nuvem no
caso C2.
C2D3
Seleção de
Empresa para
Nuvem (Sorteio)
Ata de
Reunião
Foi utilizado para analisar/triangular com as
entrevistas como ocorreu os testes de
nuvem pública no governo com o caso C2.
C2DS
1Pronunciamento Notícia
Foi utilizado para analisar/triangular com as
entrevistas como está ocorrendo a migração
dos ambientes para a nuvem no caso C2.
8
XLV Encontro da ANPAD - EnANPAD 2021
On-line - 4 - 8 de out de 2021 - 2177-2576 versão online
C3D1 Plano Diretor de TI Planejamento
Estratégico
Foi utilizado para analisar/triangular com as
entrevistas como a organização estava se
preparando para a CloudGov no caso C3.
Tradicionais
C3
C3DS
1Pronunciamento Notícia
Foi utilizado para analisar/triangular com as
entrevistas como a organização apresentava
as iniciativas de nuvem privada no caso C3.
C3DS
2Pronunciamento Notícia
Foi utilizado para analisar/triangular com as
entrevistascomo a organização apresentava
as iniciativas de nuvem privada no caso C3.
Quadro 5 – Informações sobre os Documentos e Dados Secundários
Estudo de caso requer triangulação (Eisenhardt & Graebner, 2007; Yin, 2013). Para isso, foi
utilizada a triangulação de fontes de dados para garantir a validade e confiabilidade da pesquisa.
Além das entrevistas, os documentos (D) e dados secundários (DS) foram utilizados nesta pesquisa,
analisados na íntegra, conforme o Quadro 5. A utilização dessas informações foi possível por meio
da coleta via internet com as palavras-chave “nuvem” + “nome da organização/estado investigado”
ou por solicitação direta a entrevistados e colaboradores das instituições analisadas. Toda essa
documentação secundária está disponível para acesso público. As informações e foram inseridas no
software Atlas.ti para categorização e explanação dos casos em profundidade.
Os documentos (D) e dados secundários (DS) coletados no Quadro 5, foram utilizados na
triangulação desta pequisa bem como validaram as argumentações evidenciadas nas entrevistas,
contribuindo para o avanço e validação dos casos inovadores, seguidores e tradicionais desta
pesquisa.
4 Análise e Discussão dos Resultados
Neste item são discutidos os aspectos da computação em nuvem no governo. Nesta pesquisa
foram identificados 19 sub-aspectos nos 03 estudos de caso (C1, C2 e C3) que atuam na
configuração da CloudGov nos governos podendo as partir das três categorias organizacionais,
institucionais e contextuais discutidas a seguir.
4.1 Aspectos Organizacionais - AO
Com relação aos aspectos organizacionais identificados neste estudo são o benchmarking,
compreender a necessidade dos clientes, conectividade, equipe de nuvem, estratégia definida,
modelo de gestão, ferramentas de cloud, necessidade de habilidades técnicas e superar a resistência
a mudanças.
O benchmarking é uma ferramenta de uso das melhores práticas em outras organizações.
Visa adotar práticas exitosas com o objetivo de seguir bons modelos de adoção e uso de tecnologias
(Wyld, 2009; Alzadjali & Elbanna, 2019). Nesta pesquisa foi possível atestar que nos casos C1 e C2
a utilização da do benchmarking leva as organizações a estarem na ponta de algumas tecnologias e
ferramentas de nuvem, bem como estando atualizadas as novidades e experiências exitosas do uso
de CloudGov. Já no caso C3 a não utilização do benchmarking mostra o quando a organização não
está aberta e novidades e visa <