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AVALIAÇÃO DA IMPLEMENTAÇÃO DO “PROJETO A HORA É AGORA”: TESTAGEM E TRATAMENTO DO HIV/AIDS EM CURITIBA, BRASIL: IMPLEMENTATION EVALUATION OF “A HORA É AGORA” PROJECT: TESTING AND HIV/AIDS TREATMENT IN CURITIBA, BRAZIL

Authors:

Abstract and Figures

Este trabalho tem por objetivo analisar a implementação do “Projeto A Hora é Agora” que desenvolveu, em 2015, diferentes estratégias para ampliar a testagem e tratamento do HIV para os homens que fazem sexo com homens residentes em Curitiba/PR. A análise partiu da perspectiva dos atores-chave envolvidos, utilizando uma abordagem qualitativa de investigação. A metodologia baseou-se em revisão documental, observações diretas, entrevistas semiestruturais e discussão em grupos focais. Os resultados centraram-se em quatro subcategorias de acesso: cobertura; adequação; qualidade e aceitabilidade. A melhoria da cobertura foi vista no aumento de pontos de testagem, na ampliação dos dias e horários da testagem e retirada de antirretrovirais. Na adequação, os preceitos dos direitos humanos foram refletidos no respeito à privacidade e na agilidade na marcação de consultas/exames. A qualidade indicou as barreiras enfrentadas, como estigma e discriminação por parte de alguns profissionais de saúde. Por fim, a aceitabilidade revelou como cada estratégia foi aceita pelos usuários. Conclui-se que o projeto foi uma intervenção bem-sucedida, ampliando a testagem e auxiliando os usuários a iniciarem o tratamento de HIV, incorporando novas tecnologias e abordagens no cuidado aos Homens que fazem Sexo com Homens.
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Revista Contexto & Saúde
Editora Unijuí
Programa de Pós-Graduação em Atenção Integral à Saúde
ISSN 2176-7114 – v. 21, n. 43, jul./set. 2021
hp://dx.doi.org/10.21527/2176-7114.2021.43.11077
COMO CITAR:
CRUZ, Marly Marques et al. Implementação do “Projeto a Hora é Agora”: testagem e
tratamento do HIV/AIDS em Curiba, Brasil. Revista Contexto & Saúde, v. 21, n. 43, p.
304-323, 2021.
PÁGINAS
304-323
Avaliação da Implementação
do “Projeto A Hora é Agora”:
Testagem e Tratamento do HIV/AIDS em Curiba, Brasil
Marly Marques da Cruz,1 Vanda Lúcia Cota,2
Carla Rocha Pereira,1 Adriana de Araújo Pinho3
RESUMO
Este trabalho tem por objevo avaliar a implementação do “Projeto A Hora é Agora” (PAHA) que desenvolveu, em 2015, diferen-
tes estratégias para ampliar a testagem e tratamento do HIV para os homens que fazem sexo com homens (HSH) residentes em
Curiba/PR. A análise paru da perspecva dos atores-chave envolvidos, ulizando uma abordagem qualitava de invesgação. A
metodologia baseou-se em revisão documental, observações diretas, entrevistas semiestruturadas e discussão em grupos focais.
Os resultados centraram-se em quatro subcategorias de acesso: cobertura; adequação; qualidade e aceitabilidade. A melhoria da
cobertura foi vista no aumento de pontos de testagem, na ampliação dos dias e horários da testagem e rerada de anrretrovi-
rais. Na adequação, os preceitos dos direitos humanos foram reedos no respeito à privacidade e na agilidade na marcação de
consultas/exames. A qualidade indicou as barreiras enfrentadas, como esgma e discriminação por parte de alguns prossionais
de saúde. Por m, a aceitabilidade revelou como cada estratégia foi aceita pelos HSH. Conclui-se que o PAHA foi uma intervenção
bem-sucedida, ampliando a testagem e auxiliando os usuários a iniciarem o tratamento de HIV precocemente, incorporando novas
tecnologias e abordagens no cuidado aos HSH.
Palavras-chave: avaliação em saúde; testes sorológicos; HIV; cuidado periódico; homossexualidade masculina.
IMPLEMENTATION ASSESSMENT OF “A HORA É AGORA” PROJECT:
TESTING AND HIV/AIDS TREATMENT IN CURITIBA, BRAZIL
ABSTRACT
This work aims evaluate the implementaon of the “A Hora é Agora” Project (PAHA) was developed, in 2015, dierent strategies
to expand HIV tesng and treatment for men who have sex with men (MSM) living in Curiba/PR. The analysis started from the
perspecve of the key actors involved, using a qualitave research approach. The methodology was based on document review,
direct observaons, semi-structural interviews and discussion in focus groups. The results focused on four access subcategories:
coverage; adequacy; quality and acceptability. The improvement in coverage was seen in the increase of tesng points, in the
extension of the days and mes of tesng and withdrawal of anretrovirals. In terms of adequacy, the precepts of human rights
were reected in respect for privacy and agility in making appointments/exams. The quality indicated the barriers faced, such as
sgma and discriminaon by some health professionals. Finally, acceptability revealed how each strategy was accepted by MSM.
It is concluded that PAHA was a successful intervenon, expanding tesng and helping users to start HIV treatment, incorporang
new technologies and approaches to MSM care.
Keywords: health evaluaon; serologic tests; HIV; episode of care; male homosexuality.
RECEBIDO EM: 3/7/2020
MODIFICAÇÕES SOLICITADAS EM: 4/8/2020
ACEITO EM: 26/4/2021
1 Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz). Rio de Janeiro/RJ, Brasil.
2 Autora correspondente. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz). Rua Leopoldo Bulhões, 1.480,
sala 6.010 – Bonsucesso. Rio de Janeiro/RJ, Brasil. CEP 21041-210. hp://laes.cnpq.br/6137119209692697. hps://orcid.
org/0000-0002-6823-9304. vanda.cota@ensp.ocruz.br
3 Instuto de Estudos em Saúde Coleva (IESC/UFRJ). Cidade Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro/RJ, Brasil.
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INTRODUÇÃO
No decorrer da epidemia de Aids, do começo da década de 80 do século
20 até os dias de hoje, acompanhamos o desenvolvimento de diversos avanços
na prevenção, testagem e tratamento para as Pessoas Vivendo com HIV/Aids
(PVHA), tanto no Brasil quanto no mundo (GRECO, 2016; MAEDA et al., 2019). O
Brasil tem um papel de destaque, historicamente, na formulação de polícas de
enfrentamento da epidemia e no uso de inovações tecnológicas (biomédicas e
sociais) para o diagnósco e tratamento das PVHA. Um dos pilares do programa
do governo é a oferta universal de testes de HIV gratuitos, principalmente para
promoção e ampliação de diagnósco precoce e tratamento (MORA; BRIGEIRO;
MONTEIRO, 2018).
Apesar da disponibilidade dos testes de HIV nas Unidades Básicas de Saú-
de (UBSs), dados divulgados em 2013 indicaram que apenas 36,1% da população
brasileira sexualmente ava relatou já ter feito o teste (BRASIL, 2016).
Em populações especícas, como os homens que fazem sexo com homens
(HSH), um estudo com amostragem realizada em 12 cidades do Brasil indicou
um aumento signicavo na infecção por HIV entre os HSH em comparação a
um estudo anterior, de 12,1% em 2009 para 18,4% em 2016 (KERR et al., 2018).
Segundo dados epidemiológicos brasileiros, os casos de infecção por HIV regis-
trados no Sistema de Informação de Agravos de Nocação (Sinan) nos úlmos
12 anos indicam que 52,3% foram decorrentes de exposição homossexual e bis-
sexual (BRASIL, 2019). Apesar da alta prevalência, a frequência de testagem do
HIV entre HSH no Brasil é baixa, ocasionando o diagnósco tardio (DE BONI et al.,
2018).
Esses dados revelam a importância de se concentrar esforços na testagem
de HIV entre os HSH, apontando para um potencial aumento na incidência do
HIV nesta população e que envolvem ambientes de vulnerabilidade, esgma e
discriminação para as populações-chave, como também mudanças de comporta-
mento, polícas e programas (KERR et al., 2018).
Alguns passos foram dados nessa direção, como a realização de seminá-
rios entre o Departamento de IST/Aids e Hepates Virais do Ministério da Saúde
(MS) e Organizações Não Governamentais (ONGs) entre 2005 e 2007; desenvol-
vimento do “Plano Nacional de Enfrentamento da Epidemia de Aids e das DST
entre Gays, HSH e Travess”, em 2007 (CALAZANS; PINHEIRO; AYRES, 2018), e
iniciavas mullaterais, como o “Projeto Quero Fazer”, em 2009, para garanr
acesso ao serviço de testagem do HIV em cinco cidades brasileiras (MONTEIRO et
al., 2019). Nesse escopo foi posto em práca o “Projeto A Hora é Agora” (PAHA),
na cidade de Curiba, Paraná, em 2014. Essa capital foi a escolhida em razão de
alguns fatores, como: descentralização do diagnósco do HIV para a atenção bá-
sica desde 2002, ampliando a realização do exame nas UBSs da rede municipal;
no mesmo ano começou a nocar todos os casos de HIV, tornando-se uma prá-
ca pelo MS somente em 2014, e ser signatária da Declaração de Paris, compro-
metendo-se a acelerar a resposta para o m da Aids. Esse projeto foi elaborado a
parr de protocolos de pesquisa e desenvolvido por meio de uma parceria entre
a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), o Departamen-
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to de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do
Ministério da Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Curiba, o Grupo
Dignidade (ONG que trabalha com a população LGBTI+ de Curiba) e os Centros
de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).
O PAHA contou com diferentes pos de estratégias para ampliar a testa-
gem rápida de HIV, seguindo a premissa de fornecer locais de fácil acesso e ho-
rários alternavos, tais como o Grupo Dignidade (ONG), o Centro de Orientação
e Aconselhamento (COA), o Consultório na Rua (CR) e a unidade móvel (trailer).
Também foi ofertado, especialmente para os jovens HSH, uma plataforma on-line
(hps://www.ahoraeagora.org/) com o objevo de fornecer informações sobre a
prevenção do HIV, um instrumento para o usuário realizar uma autoavaliação de
risco, além da possibilidade de os usuários com 18 anos ou mais, moradores de
Curiba, solicitarem por esta plataforma kits de testes rápidos de uido oral para
autotestagem (E-tesng) (DE BONI et al., 2018). O E-tesng foi uma das estraté-
gias do projeto, por meio da qual os HSH poderiam receber os testes em casa
(pelo Correio) ou rerar na farmácia popular.
Outra estratégia ulizada do PAHA foi a “navegação” por pares (SHACHAM
et al., 2018), também chamada de “linkagem” (LABHARDT et al., 2018). Nela, um
linkador, normalmente HSH treinado, era designado para auxiliar e acompa-
nhar cada HSH com teste reagente de HIV por até três meses (90 dias) nas UBSs
vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), desde o momento da marcação de
consultas médicas/exames até a sua aderência à terapia anrretroviral (Tarv). O
projeto também se propôs, em seu protocolo, a fornecer espaços livres de esg-
ma e discriminação para garanr um lugar acolhedor para os HSH, incenvando
e facilitando a testagem de HIV para o grupo.
O PAHA foi um projeto de ciência de implementação, desenvolvido duran-
te um período de dois anos e meio e, após 14 meses, foi iniciada a avaliação do
processo de implementação do programa no intuito de saber o quanto as estra-
tégias garanam o acesso e eram aceitas pela população HSH, se eram sustentá-
veis e replicáveis em outros contextos. Esta pesquisa avaliava visou à aplicação
sistemáca de diversos procedimentos para aprofundar a análise da intervenção,
por meio de bases teóricas e/ou processos operacionais nos contextos existen-
tes, levando-se em consideração a visão dos disntos atores envolvidos (SALCI;
SILVA; MEIRELLES, 2018).
A avaliação do PAHA foi composta por quatro objevos: 1) explicar as va-
riáveis-chave de implementação do programa – relevância e pernência, acei-
tabilidade, adoção, viabilidade, delidade, penetração e sustentabilidade dos
serviços e avidades; 2) avaliar a efevidade das diferentes estratégias para o
alcance das metas do programa; 3) idencar as principais barreiras e os fato-
res facilitadores para implementação e 4) idencar e comparlhar as principais
lições aprendidas. O presente argo, no entanto, tem por objevo avaliar a im-
plementação do PAHA a parr da perspecva dos atores-chave envolvidos neste
processo, ulizando uma abordagem qualitava de invesgação/análise e com
base: a) em quatro variáveis-chave de implementação selecionadas para o ar-
go; b) na idencação das principais barreiras e facilitadores das variáveis-chave
analisadas.
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MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa qualitava tem se consolidado no campo da saúde coleva
desde a década de 90, quando estudos referentes à sexualidade, Aids, corpora-
lidade, exclusão social e vulnerabilidade começaram a ser desenvolvidos (KNAU-
TH; LEAL, 2014). Essas pesquisas empregam metodologias das chamadas Ciên-
cias Sociais, como pesquisa documental, entrevistas em profundidade (também
chamadas de semiestruturais), observação direta, grupos focais, entre outros. Já
a pesquisa avaliava qualitava busca avaliar um programa, projeto ou mesmo
uma proposta políca, seja pública ou instucional, a parr das representações,
percepções, emoções e observação das relações e prácas envoltas na introdu-
ção e/ou desenvolvimento da ação (MINAYO, 2011).
A pesquisa avaliava ocorreu durante os meses de setembro a dezembro
de 2016. Uma equipe externa de avaliação composta por uma consultora inde-
pendente e três pesquisadoras-entrevistadoras foram responsáveis pela coleta e
análise dos dados qualitavos. Disntas técnicas foram ulizadas para a melhor
apreensão do objeto de invesgação em questão: a) revisão documental (memó-
rias das reuniões do Comitê Gestor, relatórios de supervisão, ocina de harmoni-
zação e documentos que foram publicados no período pré-instalação do projeto,
como normas, portarias, inquéritos, etc.); b) observações diretas das estruturas
e avidades nos serviços de Aconselhamento e Testagem Voluntária (ATV) do
PAHA (COA, CR, ONG e trailer – destacando-se que cada estratégia foi observada
três vezes); c) entrevistas semiestruturadas com informantes-chave (EIC) e d) dis-
cussão em grupos focais (DGF) com os prestadores de serviços do projeto e HSH,
sendo estes usuários ou não dos serviços ofertados pelo PAHA.
Foram desenvolvidos roteiros para a realização das observações diretas,
entrevistas e grupos focais, ressaltando-se que para os dois úlmos ainda foram
ulizadas chas sociodemográcas para descrever o perl dos parcipantes. Eles
foram selecionados por conveniência visando ao objevo de entrevistar casos
ricos de informação sobre o estabelecimento do PAHA (PATTON, 2015). Os rotei-
ros para as entrevistas e grupos focais abarcaram diversas questões do projeto,
como a qualidade da intervenção, os resultados não intencionais posivos e ne-
gavos, as barreiras e os facilitadores para o desenvolvimento do PAHA, entre
outros.
No que diz respeito à captação de HSH para parciparem da avaliação,
os gays/HSH (usuários e não usuários do PAHA) foram convidados por meio de
comunicação nas redes sociais (Fanpage no Facebook e Instagram), de parceiros
(Revista Lado A); por contato pessoal; divulgação em salas de bate-papo do site
UOL (consideradas salas de namoro ou “pegação” para o público gay/bissexual);
material de divulgação (yers e cartazes); disponibilização de telefone e e-mail e
ainda a produção de um vídeo com um educador de pares disponibilizado no site
do PAHA. Grande parte dos HSH parcipantes das entrevistas e grupos focais,
contudo, foi oriunda da própria rede da equipe do projeto. Os prestadores de
serviços foram selecionados por meio de indicações das equipes dos serviços; os
demais parcipantes, por exemplo, membros da sociedade civil, autoridades go-
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vernamentais, coordenadores locais dos serviços, aconselhadores, linkadores e
educadores foram recrutados diretamente pela equipe do estudo.
Ao todo, foram realizadas 18 entrevistas semiestruturadas com informan-
tes-chave, 14 entrevistas com gays/HSH residentes em Curiba, 4 grupos focais
e 12 dias de observação nas estratégias, 3 deles para cada estratégia (COA, CR,
ONG e trailer), nos horários de atendimento de cada estratégia, ulizando o mé-
todo etnográco para invesgar as estruturas e avidades de atendimentos dos
serviços prestados pelo PAHA. Entre os parcipantes havia gestores, prossionais
de saúde, avistas e HSH. Cinquenta pessoas parciparam da fase qualitava da
avaliação do projeto, entre entrevistas individuais e grupos focais, como descrito
no Quadro 1. O perl dos usuários do PAHA era de jovens, somente seis eram
maiores de 29 anos, todos se autodeclararam gays/bissexuais e possuíam Ensino
Médio e Superior completo, com exceção de um entrevistado com Ensino Médio
incompleto.
As entrevistas com os informantes-chave foram realizadas em uma sala
privava, com duração média de 60 minutos, gravadas em áudio e posteriormen-
te transcritas. Algumas entrevistas, contudo, foram conduzidas virtualmente, por
Skype, para aqueles que não residiam/trabalhavam na mesma cidade das entre-
vistadoras. Os grupos focais foram realizados com, no mínimo, quatro parcipan-
tes e, no máximo, dez, com a gravação de áudios que após foram transcritos. Eles
foram realizados em uma sala privava ou em outro local adequado/acessível e
conhecido pelos parcipantes, com uma duração média de duas horas.
Quadro 1 – Número total e perl de entrevistas e grupos focais da avaliação do
PAHA. Projeto AHA, Curiba, 2015-2017
Informantes-chave
Técnica Total de
parcipantes
EIC* DGF**
Gestores e implementadores (vigilância, direitos
humanos e pontos focais) 10 0 10
Prossionais de saúde prestadores de serviços do
PAHA
3 3 18
Prossionais de saúde não prestadores diretos de
serviços do PAHA
3 0 3
Integrantes de ONG (dirigentes e avistas voluntários) 2 0 2
HSH/Gays usuários das estratégias de ATV 8 0 8
HSH/Gays não usuários (nunca zeram o teste) 6 1 9
Total 32 4 50
* Entrevistas com Informantes-chave.
** Discussão em grupos focais (com disntos números de parcipantes em cada grupo).
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.
Para atender aos objevos de avaliação do PAHA foram criadas sete ques-
tões-chave (KEQs), com suas respecvas subquestões, e analisadas conjuntamen-
te com as variáveis de implementação (PROCTOR et al., 2011). Além disso, outros
componentes foram incluídos, como o nível ou unidade de análise, se por po de
estratégia (diferentes serviços e vinculação) ou recipientes (executores, prestado-
res de serviços e beneciários/usuários), como também o método de coleta uliza-
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do para responder a cada questão, descritos no Quadro 2. A triangulação dos dados
coletados foi realizada a parr de procedimentos narravos e de análise temáca,
permindo avaliar o contexto social como um todo em razão da experiência vivida
por todos os parcipantes, além de idencar temas e tópicos especícos rela-
cionados às questões-chave de avaliação. Foram elaboradas planilhas-resumo para
produzir colevamente um esquema de codicação temáca relacionado às ques-
tões-chave. Com base nas planilhas-resumo foram criadas manualmente matrizes
temácas em Microso Excel de modo a facilitar as comparações entre catego-
rias e parcipantes das entrevistas. Uma leitura transversal das matrizes foi, então,
conduzida a m de idencar as categorias de análise e os pontos de convergência
e divergência entre as diferentes narravas, agregando, a parr desta análise, in-
formações pernentes para responder às questões-chave de avaliação, juntamen-
te com o material proveniente das observações e revisão documental.
Quadro 2 – Questões e variáveis-chave de avaliação, unidade de análise
e método de coleta, Projeto AHA, Curiba, 2015-2017
Questão-chave
de avaliação
Subquestões Variáveis-chave de
implementação
Nível/unida-
de de análise
Método de coleta
KEQ1. Qual é
a relevância,
adequação e
qualidade da
estrutura da
intervenção?
a) A intervenção é condi-
zente com os compro-
missos e plano estratégi-
co do país para suprir as
necessidades dos HSH
relavas ao HIV?
b) A estrutura da interven-
ção é sólida do ponto de
vista técnico?
c) A estrutura da inter-
venção favorece os
preceitos de direitos
humanos?
Relevância
Adequação/per-
nência
Qualidade
Por po de
beneciário e
por estratégia
Revisão docu-
mental
Entrevistas se-
miestruturadas
Grupos focais
Observação dire-
ta da prestação
de serviços
KEQ2. Qual é o
nível de instui-
ção e adaptação
da intervenção
conforme a
necessidade?
a) Qual é o nível de ecácia
dos sistemas internos
para o controle do anda-
mento em relação aos
planos e para a modi-
cação da efevação con-
forme a necessidade?
b) A intervenção foi ajus-
tada durante o período
de introdução a m de
alinhá-la a novas neces-
sidades e evidências?
Fidelidade
Adoção
Penetração
Por po de
beneciário e
por estratégia
Entrevistas se-
miestruturadas
Grupos focais
Observação de
campo
Visitas de
supervisão
Observação di-
reta
da prestação de
serviços
KEQ3. A inter-
venção produziu
os resultados
pretendidos no
curto, médio e
longo prazo?
Os resultados pretendidos
foram alcançados? O que
deu certo para quem, em
que medida e de que ma-
neiras?
Efevidade
Cobertura
Por po de
beneciário e
por estratégia
Indicadores pro-
gramácos
Entrevistas se-
miestruturadas
Grupos focais
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KEQ4. Que
resultados não
intencionais (po-
sivos e nega-
vos) a interven-
ção produziu?
Houve alguma mudança
não intencional na vida dos
usuários da intervenção, no
ambiente de prestação de
serviços e na comunidade
em geral?
Viabilidade
Aceitabilidade
Por po de
beneciário e
por estratégia
Entrevistas se-
miestruturadas
Grupos focais
Visitas de super-
visão
Revisão de atas
de reunião do co-
mitê gestor
Pesquisa de saída
com usuários HSH
KEQ5. Quais fo-
ram as barreiras
e facilitadores
que zeram a
diferença entre
o sucesso e o
fracasso da efe-
vação e resul-
tados da inter-
venção? Quais
são as lições
aprendidas?
a) Quais foram os gargalos
que impediram o suces-
so de algum componen-
te da intervenção e se
houve formas ecazes de
superá-los?
b) Quais foram os facilitado-
res da introdução e se há
condições especícas em
que eles foram/podem
ser maximizados?
c) Quais foram os fracassos
ou processos que não
funcionaram ou não se
mostraram ecazes na
instauração?
Adoção
Penetração
Viabilidade
Por po de
beneciário e
por estratégia
Entrevistas se-
miestruturadas
Grupos focais
Visitas de super-
visão
Revisão de atas
de reunião do co-
mitê gestor
KEQ6. Qual foi
o valor dos re-
sultados para os
parcipantes,
prestadores
de serviços,
organizações
envolvidas e a
comunidade em
geral?
a) Em que medida as con-
quistas foram valorizadas
pelas diversas partes
interessadas do progra-
ma e pela comunidade
em geral?
b) Houve consensos/diver-
gências fundamentais
naquilo que foi valori-
zado, por quem? Quais
foram os movos?
Aceitabilidade
Adoção
Por po de
beneciário e
por estratégia
Entrevistas se-
miestruturadas
Grupos focais
Visitas de super-
visão
Revisão atas de
reunião do comi-
tê gestor
KEQ7. Os resul-
tados posivos
têm chances de
serem man-
dos?
a) Os resultados foram ob-
dos de forma sustentável?
b) Em que medida foram
criadas e instucionalizadas
apropriação e capacidades
locais?
c) Em que medida recursos
locais estão disponíveis
para manter as avidade e
resultados?
d) Alguma área da interven-
ção é claramente insusten-
tável?
Sustentabilidade Por po de
beneciário e
por estratégia
Entrevistas se-
miestruturadas
Grupos focais
Visitas de super-
visão
Revisão atas de
reunião do comi-
tê gestor
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.
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Para este argo, a estratégia de análise da avaliação foi centrada em qua-
tro categorias que englobam as dimensões de acesso ao PAHA: cobertura; ade-
quação; qualidade e aceitabilidade. Essas categorias fazem parte das variáveis-
-chave de implementação do PAHA, descritas no Quadro 2, sendo aquelas que
se destacaram para entender o acesso dos usuários aos serviços na testagem e
tratamento de HIV/Aids em Curiba. Os temas discudos, tanto nas entrevistas
quanto nos grupos focais, veram como base perguntas para responder às sete
questões-chave de avaliação.
Para cada categoria analisada foi desenvolvida uma descrição com base na
reexão conceitual de alguns autores, como também a parr de pesquisas empí-
ricas, tais como: a) Cobertura vinculada à amplitude e aos pos de serviços oferta-
dos aos usuários, além da experiência e informações sobre eles, podendo inuen-
ciar na demanda dos serviços; primordialmente na testagem de HIV para saber
se o público-alvo está conseguindo realizá-la em um dos locais do PAHA (MATIN
et al., 2019); b) Adequação relacionada à organização dos recursos da testagem
no PAHA, se atende ou não a todas as necessidades dos usuários do serviço, além
de entender a experiência deles com a organização do serviço de testagem (PEN-
CHANSKY; THOMAS, 1981; VIACAVA et al., 2012); c) Qualidade, correspondente à
qualidade da atenção/cuidado que está sendo ofertada no serviço e a percepção
de efevidade para ampliar o acesso, a capacitação prossional das equipes, a
percepção da sasfação dos usuários, além de fatores individuais dos prossio-
nais de saúde. Essa categoria informa se os direitos e dignidade dos usuários fo-
ram respeitados nos atendimentos, como também o cuidado prestado, a confor-
mação das instalações (estrutura sica) e os fatores contextuais (EMMERICK et
al., 2015); d) Aceitabilidade, refere-se à avaliação das atudes dos usuários diante
da aceitação do po de testagem disponibilizado no PAHA, ou seja, se o atendi-
mento está dentro das expectavas dos HSH (VIACAVA et al., 2012).
Apesar de a categoria sustentabilidade ser considerada central para a ma-
nutenção da estratégia em Curiba, fazendo parte das questões-chave, ela não
será aprofundada neste argo. A análise dos dados teve como base a literatura
em torno do campo da avaliação em saúde, sobretudo para a seleção das cate-
gorias discudas ao longo do argo e centrais nesse po de trabalho.
O projeto de pesquisa foi submedo ao Comitê de Éca em Pesquisa da Es-
cola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/Fiocruz, à Comissão Nacional de É-
ca em Pesquisa (Conep), e ao Comitê de Éca da Secretaria Municipal de Saúde de
Curiba – PR em 2016, tendo os pareceres no. 1.472.573, 1.707.476 e 125/2016,
respecvamente. Os Termos de Consenmento Livre e Esclarecido (TCLEs) foram
aplicados e obdos de todos os parcipantes da pesquisa, após explicação dos
propósitos, metodologia, riscos e benecios relacionados à parcipação.
RESULTADOS
Cobertura
A ampliação do acesso à testagem para o público-alvo a parr de disn-
tas abordagens e opções foi enfazada como fator posivo entre os prossionais
parcipantes do PAHA, que destacaram a oferta de vários pontos de testagem, o
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aumento de dias e horários nas estratégias (horário noturno e sábados, como no
trailer) e a vinculação precoce (acelerando o início do tratamento de HIV/Aids).
Igualmente, a ampliação de locais e horários para a rerada dos anrretrovirais
(ARV) foi uma questão reiterada pelos entrevistados, considerada fundamental
para a melhoria do acesso ao tratamento:
Outra coisa também que eu acho legal que o projeto fez assim, é dar uma
autonomia pro usuário, entendeu? Porque você pode ir na ONG, você pode ir
no trailer, você pode ir no COA e você pode fazer o teste em casa... isso é legal
porque assim, muitas pessoas não se testavam por conta de não querer ir no
serviço, entendeu? Pela questão da exposição [...] (educador de pares 2).
Para a população em situação de rua, houve a ampliação da testagem e
que conferiu certo acesso desses indivíduos às estruturas formais de cuidado à
saúde por meio do PAHA. Isso também possibilitou o acesso ao diagnósco pre-
coce de HIV para uma parte da população socialmente excluída, com base nas di-
retrizes do SUS e que embasavam as ações do Consultório na Rua do Município.
A despeito da ampliação da testagem para o HIV em Curiba apontada
pelos entrevistados, houve uma falta de conhecimento entre os HSH sobre os
serviços de testagem nas UBSs, mesmo após a descentralização da atenção ao
HIV/Aids, exigindo assim maior divulgação da testagem rápida. Para aqueles que
sabiam da possibilidade do teste rápido, ele foi preferencialmente realizado em
serviços especializados, como o COA, mesmo que o acesso a este para testagem
representasse exposição à preferência sexual dos usuários e a potencial associa-
ção com a soroposividade, como indica um entrevistado: “Então, eu passei
ali próximo com amigos e não sei, as pessoas, eu vejo preconceito também nas
pessoas, elas sempre falam quando alguém sai do prédio, aí está saindo do COA
(homem gay, usuário E-tesng, soroposivo, 33 anos).
Adequação
A estruturação do PAHA e a organização de suas avidades deu-se a par-
r da incorporação dos preceitos dos direitos humanos no processo de trabalho
das equipes, sendo visto como uma alternava de testagem mais acolhedora e
com um atendimento rápido, eciente e de qualidade na oferta da testagem e
tratamento. Nas entrevistas isso reeu-se em relatos sobre a humanização na
atenção das necessidades dos HSH, no respeito à privacidade (entre os prossio-
nais e os usuários do serviço), na ampliação de locais e horários de atendimento,
na maior agilidade de marcação de consultas e exames (por meio do papel do
linkador), na comunicação dos educadores de pares (jovens gays) e na divulga-
ção do projeto para diferentes pers de HSH. Em algumas estratégias o sigilo foi
incorporado na estrutura e na organização do espaço de atendimento, como na
existência de uma “porta de fundos” na saída do trailer, permindo discrição, no
reforço do isolamento acúsco na ONG, entre outras iniciavas:
[...] a estrutura que o projeto nos forneceu, por exemplo, no caso o equipa-
mento no trailer, ele trouxe assim mais um local de alternava para a popu-
lação-chave procurar, um local onde não tem esgma, não tem preconceito e
eles se sentem mais à vontade (ponto focal 2).
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Para alguns gestores e outros prossionais, a gura do linkador foi primor-
dial. Ele atuou como um agente-mediador com a UBS, tentando migar os efei-
tos das barreiras de acesso aos serviços de saúde e sinalizando a existência/per-
sistência delas para as unidades e à SMS. Segundo os informantes-chave, houve
diculdades dos usuários LGBTQI+ na rede pública de assistência relacionadas,
por exemplo, à persistência do esgma e da discriminação no atendimento. Em-
bora a estrutura e a organização do PAHA tenha visado à ampliação da capaci-
dade local para a prestação de testagem e vinculação ao tratamento do HIV de
qualidade para a população HSH, as capacitações realizadas para prossionais de
saúde (direitos LGBTQI+, esgma e discriminação) restringiram-se às equipes do
PAHA, não se estendendo à rede básica de saúde e reendo no atendimento
prestado.
No que se refere ao direito ao acesso do segmento mais vulnerável so-
cialmente, como a população de rua, a organização desse po de assistência
foi pensada para garanr o acesso aos usuários marginalizados, principalmente
àqueles sem documentação, a parr de estratégicas intersetoriais com a assis-
tência social, como referido por um dos informantes
[...] a gente tem trabalhado maciçamente junto com a assistência social no
sendo da confecção dos documentos deles, pra que não haja, então, um pre-
juízo ou um atraso no início do tratamento (ponto focal 4).
Como forma de aperfeiçoar a adequação das estratégias de testagem do
PAHA, foram providenciados, junto as equipes, os Procedimentos Operacionais-
-Padrão (POP), que foram colocados de forma visível em todas as estratégias, e
ajustes em relação aos uxos e processos de trabalho. Nas observações diretas
realizadas nas estratégias, percebeu-se que as equipes da ONG e do trailer se-
guiam os uxos dos atendimentos e os espaços eram limpos e acolhedores. A
ONG nha um lugar mais gay-friendly (cartazes voltados para esse público e
divulgação de ações de cidadania) e o trailer contava mais com a presença de
prossionais com idendade LGBTQI+.
A estratégia com maior diculdade de adequação à estrutura e à qualida-
de da atenção à população LGBTQI+ foi o COA. Lá foi observada a falta de padro-
nização do uxo dos usuários e procedimentos entre os prossionais do serviço,
além do pouco conhecimento da equipe sobre o projeto. A explicação para os
usuários sobre o PAHA era delegada, muitas vezes, aos linkadores. Houve tam-
bém pouca interação entre os prossionais do COA e a equipe do PAHA; ocor-
reu relato de atendimentos dos usuários sem discrição e privacidade; houve a
idencação de falas de aconselhadores com teor esgmazante e repasse de
informações técnicas com erros (discurso centrado no pânico e moralismo), en-
tre outros problemas.
Qualidade
Para os usuários do PAHA, de modo geral, a atenção em saúde ofertada
pelos serviços do programa foi realizada por prossionais qualicados tecnica-
mente e humanizados, sem prácas discriminatórias em relação às idendades
de gênero, sexualidade e ao HIV. Por outro lado, isso aparece nas barreiras en-
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frentadas pelos HSH no sistema de saúde local, presente no registro dos linkado-
res, referidos ao esgma e discriminação sofridos e também na organização dos
serviços, como demora na marcação de consultas e realização de exames; tempo
de espera para o atendimento; falta de prossionais nos serviços de saúde; des-
conhecimento de novas tecnologias de prevenção e tratamento, além da dicul-
dade em lidar com questões de sexualidade para o cuidado da saúde dessa po-
pulação. Outros fatores também foram ponderados e relacionados à qualidade,
como segurança, condencialidade e sigilo, importantes na garana do acesso
aos serviços para determinadas populações como os HSH, que não se iden-
cam como gays ou homossexuais:
Bastante preconceito, eu acho que a principal barreira é essa [...] alguns não
querem se expor e têm que se expor, e os que não se importam de serem
assumidos [como soroposivos] [...] sofrem um preconceito muito grande
também. Então, o que eu vejo é isso, barreira é o preconceito (homem gay,
usuário E-tesng, 21 anos).
De acordo com alguns informantes-chave da pesquisa, um melhor aco-
lhimento estaria dentro do modelo de cuidado integral para as PVHA, com dis-
cursos menos tecnicistas e não esgmazantes e o cuidado integral e integrado
desses sujeitos a outros serviços, numa perspecva muldisciplinar. Para isso,
além da capacitação das equipes, o processo de trabalho deveria ser baseado
na humanização, na integridade e nos direitos das PVHA. Sigilo e discrição tam-
bém fariam parte desse acolhimento, pois a forma como era realizada a rerada
dos medicamentos nas unidades dispensadoras contribuiu para o processo de
esgmazação dos HSH. Mesmo nos lugares considerados bons para a testagem,
como o COA, a estrutura sica não foi pensada para migar o esgma ou para
garanr a manutenção do sigilo durante o tratamento, como relatam os entre-
vistados:
[...] às vezes, você pega um atestado e está escrito COA embaixo, eu não
posso entregar lá porque se eu entregar o meu chefe vai falar, mas por que
treze atestados do COA? A minha médica inclusive ra aquela parte pra mim,
que eu solicito pra ela, pra não car escrito ali né, COA. Então, eu acho que o
COA é importante, porque eles são muito preparados, mas ao mesmo tempo
não é tão discreto (homem gay, usuário do PAHA, soroposivo, 35 anos).
[...] lá tem uma sala de espera e aí começa a chamar nomes, chamar pessoas
[...] a maior parte que estava lá pra pegar medicação sabia que eu [...] quase
todo mundo que estava lá estava pegando medicação de HIV (homem gay,
usuário do PAHA, 35 anos).
No que diz respeito à estrutura sica dos locais de testagem do PAHA, os
entrevistados senram a necessidade, sobretudo no COA, de espaços seguros e
acolhedores, com privacidade e prossionais capacitados e sensibilizados, com a
parcipação da população LGBTQI+, além da reciclagem técnica dos prossionais
de saúde, em parcular os médicos, para se apropriarem das novas diretrizes re-
lacionadas ao HIV. Ainda sobre a questão do cuidado, foi relatada a necessidade
de os serviços de saúde fornecerem um acompanhamento psicológico para as
PVHA, suprido pela gura do linkador, além da agilidade de consultas, exames e
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entrega dos resultados e forma de atendimento nas UBSs, principalmente para
não desesmular a vinculação e a connuidade no tratamento.
Aceitabilidade
Para os prossionais do PAHA, a testagem rápida ofertada em disntas
estratégias foi bem aceita, de forma geral, pelos HSH, porém com diferenças a
depender do perl e necessidades dos usuários. Para aqueles que acessaram o
Consultório na Rua, houve resistência na testagem pelo fato de muitos não que-
rerem ter conhecimento sobre o status sorológico diante da situação já bastante
vulnerável em que viviam. Isso tornou-se um desao para os prossionais, princi-
palmente para entenderem e respeitarem a decisão de cada indivíduo em situa-
ção de rua sem esse interesse:
[...] primeiro em não querer saber sobre a sua sorologia, o que é um direito
de cada um, então ele diz: ah eu não quero saber, minha vida tão des-
graçada que eu não quero ter nocias. Então, eu acho que isso é um primeiro
momento assim, que a gente precisa respeitar apesar de tentar fazer todo um
trabalho de sensibilização (ponto focal 4).
A demanda por testagem entre a população em situação de rua, mesmo
entre aqueles que têm prácas homoerócas, pode ser secundária diante das
necessidades de saúde mais prementes para aqueles que estão na rua. Ela ocor-
rendo, no entanto, pode acabar sendo reprimida devido a barreiras de acesso ao
cuidado que, muitas vezes, esta população encontra nos serviços de saúde por
conta do esgma e discriminação a que está sujeita ou por diculdades burocrá-
cas, como a falta de documentação que os impede de acessar o serviço de saú-
de, que desaam a universalidade do sistema. Para atender esta população de
forma integral e integralizada aos demais atendimentos, a equipe do Consultório
na Rua trabalhou com o conceito de “gestão de caso” e contou com um médico
contratado especialmente para atender esses indivíduos.
O E-tesng foi uma estratégia que surpreendeu em termos de kits de tes-
tes solicitados e entregues, mostrando-se uma tecnologia aceitável entre os HSH
e efeva para fazer a “ponte” entre os usuários e os serviços de saúde. Essa es-
tratégia foi ulizada, sobretudo, pelos HSH que não queriam exposição para rea-
lizar a testagem e conseguiram privacidade e comodidade por meio do kit, como
mencionado por um dos entrevistados:
[...] o desenho do projeto, pra mim, o mais importante foi o teste ir pra casa,
pois as pessoas começaram a se testar mais apesar de suas parcularidades,
medos, vergonhas e ans (linkador, parcipante de grupo focal).
Porque eu acho que o maior problema também que a gente enfrenta é a ver-
gonha de fazer o teste, então como eu, por exemplo, eu faço o que eu recebo
por correio, então ele, você elimina essa barreira de você ter que conversar
com as pessoas, você assumir que você precisa do teste (usuário do E-tesng).
O PAHA, segundo os informantes-chave e usuários, contribuiu para uma
maior visibilidade do trabalho realizado na ONG, tornando-a uma opção para o
cuidado da saúde dos HSH e desmiscando a testagem na visão de alguns pro-
ssionais de saúde. Embora esta estratégia tenha sido apontada como acolhe-
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dora e gay-friendly, foi um espaço com pouca visibilidade dentro das estratégias
de testagem para os usuários e houve preocupação com uma potencial quebra
de sigilo “no meio LGBTQI+”. Outro ponto destacado por alguns prossionais de
saúde foi o fato de esta estratégia ser mais adequada para alcançar um público
assumido com uma idendade LGBTQI+ e não aqueles com prácas homoeró-
cas, mas autodeclarados heterossexuais.
Eu acho que sim porque pelo menos aqui no Dignidade o que eu vejo é que
eles se sentem mais à vontade de vir porque sabem que é uma equipe que
tem pessoas, tem homens gays que estão fazendo testes, é um ambiente um
pouco mais acolhedor (usuário da ONG).
A gura do linkador foi referida como fundamental na maior aceitação
para testagem e tratamento, tanto na ONG quanto nas outras estratégias, servin-
do de escuta para muitos usuários sobre a descoberta da soroposividade e tam-
bém tornando-se o apoio na dicil tarefa de revelar o diagnósco para a família
e amigos. O suporte técnico e emocional reeu na demanda de alguns usuários
sabidamente soroposivos à nova testagem apenas para poderem contar com o
apoio do linkador do programa. Outro ponto mencionado foi o auxílio na nave-
gação pelo sistema de saúde, pelo maior conhecimento que o linkador passa a
ter sobre como a rede de saúde funciona, orientando melhor os usuários, e pelas
orientações sobre HIV/Aids comparlhadas pelos linkadores.
[...] eu acho que o projeto dá possibilidades maravilhosas, como linkador,
sabe? Tipo, se deu posivo chega alguém com uma certa experiência sa-
bendo do que está falando com uma abordagem mais tranquila e já te deixa
mais confortável dentro dessa situação e já te apresenta, digamos assim, o
leque de tratamentos e tudo o que a pessoa pode começar a fazer, e eu
acho que a parr disso é da pessoa dizer o que que ela quer, se sim ou se não,
e acho que esse, o apresentar o tratamento desse jeito, por exemplo, eu acho
que o linkador é uma das coisas mais legais, porque o que falta, tem muita
gente que não tem com quem conversar (usuário do E-tesng).
A mobilidade e acessibilidade do trailer foram fatores que permiram que
um maior número de pessoas vesse acesso ao serviço, mas, ao mesmo tempo,
o fato de estar num local aberto e público pode ter contribuído para que pessoas
não o ulizassem por preferirem maior privacidade e discrição, sendo apontado
como uma estratégia em que as pessoas “não assumidas” poderiam não ir.
De maneira geral, as estratégias de testagem no PAHA foram bem aceitas.
A proximidade dos serviços com a residência das pessoas, o grau de conança
no espaço em que era realizado o teste, o acesso a informações sobre o tempo
de espera, o apoio, o anonimato, o sigilo e a privacidade foram pontos impor-
tantes, segundo os usuários, para a escolha do serviço da testagem. O Quadro 3
procurou, de forma sintéca, apresentar os pontos posivos e negavos de cada
estratégia do PAHA, a parr das entrevistas e observações, importantes para o
desenvolvimento de melhorias no programa.
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Quadro 3 – Pontos posivos e negavos do PAHA em cada estratégia
Estratégia Pontos Posivos Pontos negavos
COA
Familiarização com o serviço
(referência municipal para testagem)
e equipe;
▪ Sigilo e privacidade;
▪ Maior suporte prossional;
Maior credibilidade por ser unidade
de saúde;
▪ Oferece outros pos de testagem;
▪ Acessa população de fora de Curiba;
▪ Opção para quem não tem plano de
saúde.
Acessibilidade limitada
(horários mais restritos);
▪ Dispensação de medicamento
no mesmo local da testagem
(esgmaza);
▪ Demora no atendimento;
▪ Embora haja preparo técnico da
equipe, houve relatos de esgma
e discriminação no atendimento
à população LGBTQI+.
ONG
▪ Serviço não discriminatório;
Ter membros gays na equipe do
PAHA;
Reconhecido pela comunidade
LGBTI;
▪ Oferece outros serviços, não apenas
testagem para HIV;
Mais acolhedora para gays/
homossexuais por ser mais direcionada
ao público LGBTQI+;
▪ Mais confortável;
Segurança/conança por “parecer
um laboratório”;
▪ Já tem experiência no atendimento à
população LGBTQI+.
▪ Acessaria apenas “população
assumida”;
Desconhecimento do serviço
de testagem oferecido na ONG;
▪ Potencial quebra de sigilo da
informação (resultado) no meio
LGBTQI+.
Trailer
▪ Oportunidade;
▪ Pracidade;
▪ Mobilidade;
▪ Localização estratégica (de passagem
das pessoas);
▪ Pessoas não são notadas em espaços
públicos de grande movimentação;
▪ Bom atendimento;
Segurança/conança por “parecer
um laboratório”.
▪ Espaço público – não acessa
HSH (“não assumidos”);
Falta de discrição, chama
atenção.
E-tesng
▪ Menos invasivo;
▪ Rapidez;
▪ Comodidade de se fazer em casa;
Discrição (“permite não ter contato
pessoal”);
▪ Agilidade no resultado;
▪ Elimina a vergonha de se fazer o teste
em algum lugar (não exposição);
▪ Uliza saliva e não sangue;
Confere privacidade ou não
(dependendo com quem a pessoa
mora, se escolhida entrega domiciliar).
Necessidade de maior apoio
em caso de resultados reagentes
para HIV;
▪ Adequado para quem já tem
informação sobre HIV e só quer
fazer o teste, para maiores
informações requer outro serviço
(presencial-relacional).
Consultório
na Rua
▪ Apoio de uma equipe sensibilizada
do projeto para essa estratégia
(contratação de um médico);
Acesso a outros pos de serviço de
saúde.
A falta de documentos dos
usuários pode barrar o acesso
deles aos serviços de saúde e
tratamento.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.
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DISCUSSÃO
A avaliação da instalação do PAHA idencou que a aceitabilidade a novos
modelos de atenção e a inovações em tecnologias diagnóscas e sociais é pos-
sível, como a vinculação por pares, é alta entre a população-chave, prossionais
de saúde e gestores em saúde. Além disso, buscou-se uma assistência humaniza-
da, não discriminatória e considerada eciente para ampliar o acesso à testagem
e aumentar a vinculação dos portadores de HIV à atenção em saúde.
A avaliação da práca da testagem em diferentes estratégias pode ser
composta por disntos componentes, observando-se que no contexto do PAHA
buscou-se também a melhoria de sua operacionalidade (ALVES; MAZON, 2016).
Na avaliação de intervenções de saúde dessa natureza é importante que diversos
atores sejam escutados para que, por meio de disntos pontos de vista sobre
o mesmo objeto, se possa aprimorar o funcionamento do serviço, qualicar os
prossionais, aperfeiçoar normas e ronas e proporcionar dignidade aos sujeitos
envolvidos (RIBEIRO; ROSA; FELACIO, 2015).
Todas as quatro categorias analisadas – cobertura, adequação, qualidade
e aceitabilidade – trouxeram elementos importantes sobre as conquistas e as
barreiras em torno da ampliação da testagem de HIV no PAHA. O sigilo, a con-
dencialidade, a segurança e a privacidade foram fundamentais na escolha da
estratégia para a realização da testagem entre os HSH, assim como outros fato-
res. Por isso, aquelas que forneciam esses elementos foram as mais procuradas
e veram maior aceitação. A proximidade com o local da testagem e o acesso
à informação sobre o tempo de espera também foram elementos importantes
na opção da estratégia, com esses fatores mostrando-se semelhantes em outras
partes do mundo. Como exemplo, um estudo realizado em Manila, Filipinas, ana-
lisou o acesso dos HSH à testagem de HIV e revelou diversas causas conitantes
para a sua realização, como a localização distante dos Centros de Testagem, o
tempo de espera muito longo, a abertura e o fechamento no horário de trabalho
dos indivíduos e os locais não equitavos (WIJNGAARDEN et al., 2018).
No PAHA, algumas estratégias forneciam horários alternavos para a tes-
tagem, como a ONG e o trailer, ampliando, desta forma, o acesso. O E-tesng,
com a entrega (via correio e farmácia popular) de kits de autotestagem foi uma
forma de os HSH manterem o sigilo, superando o receio de serem idencados
no momento da testagem. Há evidências da efevidade da testagem rápida de
HIV na captação de indivíduos que nunca se testaram, conforme indicado em
uma pesquisa realizada na Espanha, na qual seis em cada dez pessoas que se
testaram em unidade móvel, no período de 2008 a 2011, nunca haviam realizado
um teste de HIV na vida; entre aqueles com resultado reagente estavam os HSH
mais jovens (BELZA et al., 2015). A testagem rápida de HIV de fácil acesso tem
se mostrado bem recepva entre os jovens HSH, principalmente em estratégias
que se disnguem dos serviços de testagem convencionais e conjugadas com o
anonimato (LABHARDT et al., 2018).
Apesar de o COA ter sido a estratégia mais procurada pelos usuários do
PAHA para testagem, algumas barreiras de acesso foram relatadas, como o fato
de o prédio do COA ser reconhecido como um lugar de testagem e tratamento
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de HIV em Curiba, podendo esgmazar as pessoas que o procuram e houve
a falta, idencada por alguns usuários, de um maior acolhimento em relação
a questões singulares da população LGBTQI+ e às posturas moralistas em torno
destas. Essas percepções indicaram que atudes esgmazantes a esta popula-
ção em razão da orientação sexual e da vulnerabilidade à infeção pelo HIV ainda
se faz presente no COA, constuindo-se em uma forte barreira na busca pela tes-
tagem, cuidado e atendimento, sobretudo na atenção básica, podendo interferir
na vida dos HSH mediante as atudes negavas e discriminatórias, trazendo uma
série de consequências comportamentais (GARCIA; RAMOS, 2017).
O esgma e a discriminação relacionado ao HIV/Aids ainda podem ser
conjugados com outros marcadores sociais, como orientação sexual, cor/raça,
renda, moradia, nível educacional, entre outros, que se intersectam e exacerbam
nos processos de discriminação que esta população pode enfrentar em serviços
de saúde (UNAIDS, 2019). Essa questão veio à tona, em parcular, nas categorias
de avaliação do acesso adequação e qualidade. Para a superação dessa barreira
seria necessária uma sensibilização das equipes e treinamentos, tanto na oferta
da testagem do HIV quanto no cuidado para populações especícas (SHUBHA
RAO et al., 2016). Esse ponto foi idencado no PAHA, principalmente a necessi-
dade de sensibilização dos prossionais de saúde das UBSs e no acesso à testa-
gem em algumas estratégias.
Apesar de o PAHA ter sido bem aceito pelos prossionais/gestores e usuá-
rios, que o viram como alternava de testagem mais acolhedora e que incorpora
preceitos de direitos humanos em seu atendimento, mostrando-se rápido e e-
ciente, essa perspecva disngue-se quando comparada ao atendimento reali-
zado nas UBSs no acesso aos exames, tratamento e na relação direta com os
prossionais de saúde do serviço. No que diz respeito ao Consultório na Rua, a
preocupação da população atendida estava na diculdade em conseguir aten-
dimento e tratamento por falta de documentação. Entre os fatores que podem
prejudicar a realização da testagem de HIV na população em situação de rua está
o medo de receber um diagnósco posivo e o adoecimento (HINO; SANTOS;
ROSA, 2018), como também a diculdade de conseguir acesso aos serviços de
saúde e por barreiras em virtude da sua condição, como a impossibilidade de
comprovar moradia, uso de álcool, drogas e outras doenças.
Em relação às fragilidades da atenção em saúde aos HSH soroposivos, os
conceitos de cuidado e vulnerabilidade podem ser ulizados nas prácas de saú-
de. Eles trariam uma renovação para as formas de “construção de diagnóscos
de saúde” para os usuários do PAHA que acessam as UBSs, incorporando saberes
para “além daqueles biomédicos e epidemiológicos” e trazendo os das ciências
sociais, humanas e prácos”. Para o diagnósco ampliado, o cuidado deve ser
construído a parr de prácas de saúde que possam considerar a autonomia dos
indivíduos e incorporar seus saberes (CALAZANS; PINHEIRO; AYRES, 2018).
A gura dos linkadores, que acompanhavam os HSH com testes reagentes
nos serviços de saúde até o início do tratamento, foi importante para criar a liga-
ção entre a testagem e as UBSs, como também no acompanhamento de exames
e apoio psicológico a parr de novos saberes incorporados. Além do contato pes-
soal, as trocas de mensagens (via WhatsApp) trouxeram esclarecimentos sobre
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os próximos passos no processo de cuidado e tratamento e também em como
abordar as questões pessoais reduzindo, assim, a vulnerabilidade dos usuários
acompanhados. Essa noção parte do princípio de que a ulização de um con-
junto de saberes, como o uso da tecnologia, torna-se fundamental para a trans-
formação e o conhecimento das condições de saúde dos indivíduos (CALAZANS;
PINHEIRO; AYRES, 2018).
Diversos projetos de testagem que ulizaram os linkadores como forma
de aproximação e acompanhamento dos HSH com diagnósco posivo foram
bem aceitos por essa população e revelaram que esse método tem se mostrado
eciente na navegação após a testagem de HIV, ajudando a reduzir a ansieda-
de, esclarecendo dúvidas relacionadas ao tratamento, fornecendo mudanças no
comportamento sexual e contribuindo para ampliar o acesso dos usuários aos
serviços de saúde (BROWNRIGG et al., 2017).
As avaliações de implementação de um programa, conforme a que fora
realizada, visam a promover seu desenvolvimento e melhoria, destacando-se
que os avaliadores podem fornecer evidências que orientem os implementado-
res no desenvolvimento do programa e que possam ser ulizadas nas tomadas
de decisão sobre a connuidade ou expansão (SPIEGELMAN, 2016).
Apesar de todo avanço do PAHA em relação à ampliação da testagem do
HIV entre os HSH, como a vinculação dos casos posivos na atenção básica e
seu acompanhamento até o início da TARV (linkagem), ainda muito que se
avançar na atenção a essa população. Destacam-se as situações de esgma, dis-
criminação e violência homofóbica a que essa população está sujeita, tornando-a
vulnerável tanto a situações de exposição ao risco de adquirir HIV, quanto, uma
fez adquirido, a barreiras de acesso ao diagnósco e ao cuidado integral. Por
isso, torna-se fundamental invesgar as possíveis barreiras de acesso à testagem
e tratamento entre os HSH, como também entender as conexões entre as expe-
riências sexuais e a vulnerabilidade ao HIV desses indivíduos (MORA; BRIGEIRO;
MONTEIRO, 2018).
O atual desao do PAHA é encontrar formas para a sua sustentabilidade,
pois ele se mantém em Curiba em nova fase centrada no tratamento imediato
ao HIV, na assistência dos usuários e na prevenção ao vírus. Há alguns obstáculos
nesse campo, como questões de cunho políco (mudanças na gestão munici-
pal e crise políco-econômica nacional e local), custo para a manutenção dos
equipamentos e equipes, necessidade de autotestes mais baratos e de fácil ma-
nuseio para uso amplo na rede de saúde municipal, entre outros, para que seja
possível a connuidade das estratégias de testagem rápida de HIV introduzidas
pelo projeto em Curiba.
A despeito dos desaos ainda presentes para se encontrar mecanismos
efevos e ecientes de sustentabilidade das estratégias alternavas de aconse-
lhamento e testagem voluntária, o PAHA enfrentou desaos ao propor um novo
modelo de atenção para a resposta nacional e local à epidemia concentrada do
HIV entre a população HSH.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Projeto revelou como a aceitabilidade das inovações em tecnologias
diagnóscas e de cuidado (vinculação por pares) é alta entre a população-cha-
ve, prossionais e gestores em saúde por ser, ao mesmo tempo, de alta resolu-
vidade. A despeito das diculdades no processo de implementação do PAHA,
pode-se considerar que ele alcançou metas mais realíscas. Os prossionais
envolvidos acumularam vasta experiência e lições aprendidas que ajudarão na
connuidade do projeto e que poderão ser comparlhadas em sua adaptação a
outros contextos e cidades.
Apesar da ampla avaliação qualitava do PAHA na cidade de Curiba, cons-
tatou-se limitações no estudo. Houve diculdade na captação de usuários gays/
HSH para a composição do número almejado de grupos focais, a concentração
de entrevistados gays (usuários e não usuários do PAHA) em um segmento de
maior escolarização, Ensino Superior completo/incompleto e com melhor acesso
aos serviços de saúde, além da diculdade de atrair o público HSH sem idenda-
de gay/bissexual. Ademais, a avaliação do PAHA foi realizada por aqueles que o
colocaram em práca, ou seja, a parr de pessoas que estavam compromedas
com o seu êxito.
Com base no mapeamento dos pontos posivos e negavos da implemen-
tação do PAHA, os gestores e prossionais conseguiram ajustar os pontos ne-
gavos das estratégias para que o acesso à testagem rápida pudesse ter maior
aceitação entre os HSH, ampliando o número de pessoas testadas, além de forta-
lecer aquelas estratégias mais bem aceitas por esse público.
Como possíveis desdobramentos, há previsão da instalação de um modelo
semelhante de testagem em outras capitais do país, como Florianópolis e Cam-
po Grande, já em curso; a ampliação e diversicação de estratégias e pontos de
acesso à testagem de HIV para a diversidade do público HSH na Rede de Atenção
Básica à Saúde, com inclusão de áreas periféricas da cidade de Curiba, sobretu-
do em razão da saturação daquelas já existentes, bem como o comparlhamento
das experiências do PAHA para que a ampliação do acesso à testagem de HIV em
populações vulneráveis seja uma realidade no Brasil.
AGRADECIMENTOS
Arisdes Barbosa Júnior, Greet Peersman, Raquel Miranda, Nena Lenni,
Liza Rosso, David Harrad, Juliane Santos, Adriane Wollmann, Elina Sakurada,
Roberto de Jesus, Crisane Nakamura, Raquel Torres, Raquel de Boni, Leonardo
Lincoln, Bernardo Almeida, Carolina Ribeiro, Milena Costa, Paola Carriel, e a
todos os linkadores e educadores de pares.
FINANCIAMENTO
O projeto A Hora é Agora foi nanciado por meio do Acordo de Coopera-
ção entre a Ensp/Fiocruz-Fiotec e os Centros de Controle e Prevenção de Doen-
ças dos Estados Unidos da América – CDC, com recursos do Plano de Emergência
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do presidente dos EUA para Alívio da Aids – Pepfar. Seu conteúdo é responsabi-
lidade apenas dos autores e não representa necessariamente a visão ocial do
nanciador.
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... An exploratory study was conducted based on a documentary analysis of technical-scientific reports and search of indexed and unindexed literature on projects aimed at expanding rapid HIV testing in key populations, namely: Find Out, I Want to Get Tested, The Time is Now, Live Better Knowing, and Live Better Knowing Young -hereinafter the projects will be mentioned by their English translation. Technical-scientific reports were obtained by contacting (1) the Department of Chronic Conditions and Sexually Transmitted Infections (DCCI), Brazilian Ministry of Health; (2) technical areas on sexually transmitted infections (STI) and AIDS of the 26 states and Federal District health departments; and (3) 134 nongovernmental organizations (NGOs) identified by means of the repository of information on civil society organizations working with HIV/AIDS, available on the DCCI website (https://www. gov.br/aids/pt-br), the scope of which includes rapid HIV testing and/or serving the key population. ...
... We made four contact attempts via three different communication channels on alternating days, weeks, and hours, listed in order of priority: e-mails, telephone calls, and an instant message app from July 2021 to January 2022. Having made contact, we asked the following questions: (1) Have you conducted any actions/activities/campaigns/cooperative projects and/or research aimed at expanding HIV testing for travestis, transgender women and/or the MSM population from 2004 to 2021? (2) test results), with open access and that can be sent to our research team?, and (3) Is the technical area aware of any municipality or state NGO that has explicitly promoted rapid HIV testing expansion in the aforementioned populations? This last question was only addressed to the states and Federal District's technical areas. ...
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The HIV/AIDS epidemic remains a persistent and real issue, especially in key populations such as men who have sex with men (MSM), travestis and transgender persons. Projects for expanding rapid HIV testing are strategic initiatives aimed at the earliest possible identification of individuals’ serological status and thus early treatment, screening of sex partners, and upscaling of preventive actions to interrupt the transmission chain. This study thus maps, describes, and systematizes the projects for expanding rapid HIV testing implemented from 2004 to 2021 in Brazil, highlighting the on-going contribution of civil society organizations and discussing the interoperability and cooperation resulting from public governance processes. We selected 67 documents for analysis, including 30 scientific publications retrieved from electronic databases and 37 documents produced by government institutions and nongovernmental organizations (NGOs). Find Out (Fique Sabendo), I Want to Get Tested (Quero Fazer), The Time is Now (A Hora É Agora), Live Better Knowing (Viva Melhor Sabendo), and Live Better Knowing Young (Viva Melhor Sabendo Jovem) were the projects mapped. Results show that the projects have used strategies adapted to the key population, such as mobile testing units, peer education, and innovative community engagement approaches. Such actions were enabled by effective cooperation and interoperability between participating stakeholders, especially NGOs.
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The history of human immunodeficiency virus (HIV)/AIDS therapy, which spans over 30 years, is one of the most dramatic stories of science and medicine leading to treatment of a disease. Since the advent of the first AIDS drug, AZT or zidovudine, a number of agents acting on different drug targets, such as HIV enzymes (e.g. reverse transcriptase, protease, and integrase) and host cell factors critical for HIV infection (e.g. CD4 and CCR5), have been added to our armamentarium to combat HIV/AIDS. In this review article, we first discuss the history of the development of anti-HIV drugs, during which several problems such as drug-induced side effects and the emergence of drug-resistant viruses became apparent and had to be overcome. Nowadays, the success of combination antiretroviral therapy (cART), combined with recently-developed powerful but nonetheless less toxic drugs has transformed HIV/AIDS from an inevitably fatal disease into a manageable chronic infection. However, even with such potent cART, it is impossible to eradicate HIV because none of the currently available HIV drugs are effective in eliminating occult "dormant" HIV cell reservoirs. A number of novel unique treatment approaches that should drastically improve the quality of life (QOL) of patients or might actually be able to eliminate HIV altogether has also been discussed later in the review.
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Resumo Segundo as diretrizes globais atuais, a realização do teste anti-HIV é crucial para o sucesso da estratégia do ‘tratamento como prevenção’ (TcP) e controle da Aids. Dado o compromisso do Brasil com essa política, este artigo objetiva caracterizar os princípios e justificativas do TcP e discutir os desafios da sua implementação. A reflexão é orientada por uma revisão sistemática da literatura internacional de 2005 a 2015 sobre estratégias de captação e oferta do teste do HIV entre homens que fazem sexo com homens (HSHs). Tal escolha parte do pressuposto de que a produção acadêmica é uma fonte relevante para compreender os fundamentos e apropriações das políticas globais de Aids nos contextos locais. Segundo a análise dos 65 artigos selecionados, a TcP opera uma transformação no paradigma preventivo. Prevalece uma superposição entre prevenção e assistência, sugerindo maior peso aos conhecimentos e práticas biomédicos. Esse enfoque não contempla o enfrentamento de fatores estruturais associados à vulnerabilidade ao HIV e ao estigma da Aids e a participação de ativistas e PVHA como produtores autônomos de praticas preventivas. Argumentamos que a efetividades da TcP no Brasil requer uma discussão sobre a garantia dos direitos humanos e problemas estruturais e programáticos do sistema público de saúde.
Article
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This paper reports human immuno-deficiency virus (HIV) prevalence in the 2nd National Biological and Behavioral Surveillance Survey (BBSS) among men who have sex with men (MSM) in 12 cities in Brazil using respondent-driven sampling (RDS). Following formative research, RDS was applied in 12 cities in the 5 macroregions of Brazil between June and December 2016 to recruit MSM for BBSS. The target sample size was 350 per city. Five to 6 seeds were initially selected to initiate recruitment and coupons and interviews were managed online. On-site rapid testing was used for HIV screening, and confirmed by a 2nd test. Participants were weighted using Gile estimator. Data from all 12 cities were merged and analyzed with Stata 14.0 complex survey data analysis tools in which each city was treated as its own strata. Missing data for those who did not test were imputed HIV+ if they reported testing positive before and were taking antiretroviral therapy. A total of 4176 men were recruited in the 12 cities. The average time to completion was 10.2 weeks. The longest chain length varied from 8 to 21 waves. The sample size was achieved in all but 2 cities. A total of 3958 of the 4176 respondents agreed to test for HIV (90.2%). For results without imputation, 17.5% (95%CI: 14.7–20.7) of our sample was HIV positive. With imputation, 18.4% (95%CI: 15.4–21.7) were seropositive. HIV prevalence increased beyond expectations from the results of the 2009 survey (12.1%; 95%CI: 10.0–14.5) to 18.4%; CI95%: 15.4 to 21.7 in 2016. This increase accompanies Brazil's focus on the treatment to prevention strategy, and a decrease in support for community-based organizations and community prevention programs.
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Importance Home-based HIV testing is a frequently used strategy to increase awareness of HIV status in sub-Saharan Africa. However, with referral to health facilities, less than half of those who test HIV positive link to care and initiate antiretroviral therapy (ART). Objective To determine whether offering same-day home-based ART to patients with HIV improves linkage to care and viral suppression in a rural, high-prevalence setting in sub-Saharan Africa. Design, Setting, and Participants Open-label, 2-group, randomized clinical trial (February 22, 2016-September 17, 2017), involving 6 health care facilities in northern Lesotho. During home-based HIV testing in 6655 households from 60 rural villages and 17 urban areas, 278 individuals aged 18 years or older who tested HIV positive and were ART naive from 268 households consented and enrolled. Individuals from the same household were randomized into the same group. Interventions Participants were randomly assigned to be offered same-day home-based ART initiation (n = 138) and subsequent follow-up intervals of 1.5, 3, 6, 9, and 12 months after treatment initiation at the health facility or to receive usual care (n = 140) with referral to the nearest health facility for preparatory counseling followed by ART initiation and monthly follow-up visits thereafter. Main Outcomes and Measures Primary end points were rates of linkage to care within 3 months (presenting at the health facility within 90 days after the home visit) and viral suppression at 12 months, defined as a viral load of less than 100 copies/mL from 11 through 14 months after enrollment. Results Among 278 randomized individuals (median age, 39 years [interquartile range, 28.0-52.0]; 180 women [65.7%]), 274 (98.6%) were included in the analysis (137 in the same-day group and 137 in the usual care group). In the same-day group, 134 (97.8%) indicated readiness to start ART that day and 2 (1.5%) within the next few days and were given a 1-month supply of ART. At 3 months, 68.6% (94) in same-day group vs 43.1% (59) in usual care group had linked to care (absolute difference, 25.6%; 95% CI, 13.8% to 36.3%; P < .001). At 12 months, 50.4% (69) in the same-day group vs 34.3% (47) in usual care group achieved viral suppression (absolute difference, 16.0%; 4.4%-27.2%; P = .007). Two deaths (1.5%) were reported in the same-day group, none in usual care group. Conclusions and Relevance Among adults in rural Lesotho, a setting of high HIV prevalence, offering same-day home-based ART initiation to individuals who tested positive during home-based HIV testing, compared with usual care and standard clinic referral, significantly increased linkage to care at 3 months and HIV viral suppression at 12 months. These findings support the practice of offering same-day ART initiation during home-based HIV testing. Trial Registration clinicaltrials.gov Identifier: NCT02692027
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Interventions are needed to address each phase of the HIV care continuum in order to improve health outcomes and reduce likelihood of HIV transmission. The purpose of this study was to assess the impact of a community- and clinic-based intervention designed and implemented to reengage individuals who were lost to HIV care. Eligible participants had either never engaged in HIV care or had not had a medical visit for at least 12 months. Participants enrolled in a community- and clinic-based intervention that included intensive case management, access to a community nurse and peer navigator, as well as emergency stabilization funds. Data were collected at baseline and 6-month time points by the case managers; which included sociodemographics, general health, abstracted HIV viral loads and CD4 cell counts from their medical records. Descriptive and GEE analyses were conducted to assess changes from baseline to 6 months. A total of 322 participants enrolled over a 5-year period, of whom the majority were male (n = 250) and African American with a mean age of 42.0 years. After 6 months of the intervention, there was a significant increase of individuals who had undetectable HIV viral loads and their median CD4 cell counts increased (p < 0.01 for both). General health improved as well (p < 0.01). It is clear that this method of engagement, while staff intensive, is successful at engaging and retaining individuals in HIV care at least through 6 months.
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The 2015 National HIV/AIDS Strategy provides an updated plan to address health disparities in communities at high risk for human immunodeficiency virus (HIV) infection (1,2). Hispanics/Latinos* are disproportionately affected by HIV in the United States. In 2014, 23% of HIV diagnoses were among Hispanics/Latinos, who represented 16% of the U.S. population (3). To examine HIV testing services, CDC analyzed 2014 data from the National HIV Prevention Program Monitoring and Evaluation (NHM&E) system submitted by 60 CDC-funded health departments(†) and 151 community-based organizations. Among Hispanics/Latinos tested, gay, bisexual, and other men who have sex with men (MSM) had the highest percentage of HIV diagnoses (2%). MSM accounted for 19.8% of HIV test events conducted among Hispanics/Latinos and 63.8% of Hispanics/Latinos who received an HIV diagnosis in non-health care settings.(§) Approximately 60% of Hispanics/Latinos who received an HIV diagnosis were linked to HIV medical care within 90 days; this percentage was lower in the South than in other U.S. Census regions. HIV prevention programs that are focused on expanding routine HIV screening and targeting and improving linkage to medical care and other services (e.g., partner services) for Hispanics/Latinos can help identify undiagnosed HIV cases and reduce HIV transmission.
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The Brazilian response to AIDS started in 1985, with government, civil society and academic community coming together with common goals. This was strengthened with the establishment in 1988 of an universal public health system (SUS), pivotal to a comprehensive and human rights-based national STD/AIDS programme, aiming at achieving equality, integrality, inclusion and fighting prejudice and discrimination. In 1996 Brazil was a pioneer in providing treatment free-of-charge to all PLHA. This article depicts achievements and setbacks that occurred in these 30 years and the perspectives for controlling and eventually eliminating HIV/AIDS. It is fair to affirm that it is possible to defeat prejudice and discrimination and to confront the unacceptable levels of disparity, fertile ground for dissemination of HIV/AIDS and other epidemics. Tools to eliminate transmission, to adequately treat PLHA, to protect their rights, to eliminate discrimination and to end AIDS are already at hand. However, the needed changes for this to happen involve expansion of access to education, including sexual education and to quality public health care to all. It is also necessary to constant confront conservatism and to combat violence and discrimination. Brazil's track record in the confrontation of AIDS is an invaluable asset to achieve these goals.
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A expansão e consolidação da área das Ciências Sociais em Saúde possibilitaram a valorização e difusão da pesquisa qualitativa. O crescente número de artigos submetidos a revistas científicas da área da Saúde Coletiva, bem como de dissertações e teses, que utilizam a metodologia qualitativa em suas pesquisas tem chamado a atenção dos cientistas sociais. O presente artigo se propõe a levantar alguns elementos no sentido de aprofundar a reflexão sobre as implicações da expansão das Ciências Sociais em Saúde, particularmente no que concerne à pesquisa qualitativa. Nossa experiência na avaliação de trabalhos da área indica a baixa incorporação da perspectiva epistemológica da metodologia qualitativa e do referencial teórico das Ciências Sociais nas pesquisas em Saúde Coletiva, resultando em estudos sem consistência teórico-metodológica, empíricos e que pouco contribuem para a compreensão dos fenômenos da área da Saúde Coletiva.