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SANTANA, E.A.; BRAZ, C.L.M.; VITAL, T.; GURGEL, H. Cobertura vacinal da poliomielite na região nordeste do Brasil no primeiro ano de
pandemia por Covid-19. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das
pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p. 674-683. Disponível em
https://www.anaisgeosaude.com. ISSN 1980-5829
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COBERTURA VACINAL DA POLIOMIELITE NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL NO
PRIMEIRO ANO DE PANDEMIA POR COVID-19
SANTANA, Eucilene Alves
1
BRAZ, Carmen Lucia Muricy
2
VITAL, Tamires
3
GURGEL, Helen
4
RESUMO
A Poliomielite foi eliminada no Brasil, desde a década de 90, atribuído ao sucesso das
campanhas de vacinação no país, tendo o último caso registrado em 1989. Porém uma baixa cobertura
vacinal é um dos fatores de alerta, para a volta da circulação do vírus selvagem no país e das sequelas
permanentes provocadas pelo vírus, exigindo assim um monitoramento continuo no território. Este
trabalho teve como objetivo analisar a distribuição espacial da cobertura vacinal (CV) da poliomielite na
região Nordeste do Brasil em 2020 quanto a meta de CV ≥ 95%. Os dados públicos do indicador da
Taxa de CV foram obtidos do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações no site do
DATASUS. Os resultados até o momento da extração mostram a Região Nordeste com cobertura de
71,8% inferior à meta, sendo a menor taxa de CV registrada, no estado do Maranhão (59,9%) e a maior,
no Ceará (86,8%). O Estado do Maranhão, também apresentou um maior número de municípios em
situação crítica (23,5%),) com cobertura vacinal ≤ 50%. Os dados espaciais mostram uma tendencia
de agrupamento de municípios com alta cobertura vacinal em alguns estados da região, porém não
altera a conclusão de que em 2020 a população menor de um ano esteve em situação de
vulnerabilidade quanto a reintrodução do vírus selvagem na maior parte dos municípios dos estados
dessa região e nos demais estados brasileiros.
Palavras-chave: Análise de espacial, indicador, paralisia flácida
ABSTRACT:
Poliomyelitis has been eliminated in Brazil since the 1990s, attributed to the success of
vaccination campaigns in the country, with the last case recorded in 1989. However, low vaccination
coverage is one of the warning factors for the return of wild virus circulation in the country and the
permanent sequelae caused by the virus, thus requiring continuous monitoring in the territory. This study
aimed to analyze the spatial distribution of polio vaccination coverage (VC) in the Northeast region of
Brazil in 2020 in terms of the VC target ≥ 95%. The public data for the VC Rate indicator was obtained
from the Information System of the National Immunization Program on the DATASUS website. The
results up to the time of extraction show the Northeast Region with coverage of 71.8% below the target,
with the lowest VC rate recorded in the state of Maranhão (59.9%) and the highest in Ceará (86.8%).
The State of Maranhão, also presented a greater number of municipalities in a critical situation (23.5%),
with vaccination coverage ≤ 50%. Spatial data show a tendency to group municipalities with high
vaccination coverage in some states in the region, but it does not alter the conclusion that in 2020 the
population under one year of old was in a vulnerability situation regarding the reintroduction of the wild
virus in most of the countries, municipalities in the states of that region and in the other Brazilian states.
Keywords: Spatial analysis, indicator, flaccid paralysis
1
Doutoranda em Geografia - Universidade Federal do Paraná; eucilene.alvessantana@gmail.com
2
Epidemiologista; Mestre em Medicina Tropical pela UNB; clucia.muricy@gmail.com
3
Biomédica; Doutora; Apoiadora da Secretaria de Vigilância em Saúde; tamires.silva@saude.gov.br
4
Profª Drª do Dept. de Geografia da UnB e Coordenadora do LAGAS; helengurgel@unb.br
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SANTANA, E.A.; BRAZ, C.L.M.; VITAL, T.; GURGEL, H. Cobertura vacinal da poliomielite na região nordeste do Brasil no primeiro ano de
pandemia por Covid-19. In. Simpósio Nacional de Geografia da Saúde: dimensões geográficas dos impactos e desafios das
pandemias. X., 2021, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande: UFCG, 2021. p. 674-683. Disponível em
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INTRODUÇÃO
A Poliomielite, doença altamente contagiosa, caracterizada por um quadro clínico de
paralisia flácida com início súbito, tem como agente etiológico o poliovírus, pertencente ao
gênero Enterovírus, família Picornaviridae, composto por três sorotipos 1, 2 e 3, tendo como
reservatório, o homem. A transmissão ocorre principalmente, por contato direto, pessoa a
pessoa, pelas vias fecal-oral, ou por objetos, alimentos e água contaminada por fezes de
doentes ou de portadores e ainda, pela via oral-oral, por gotículas de secreções da orofaringe
ao falar, tossir ou espirrar (Ministério da Saúde, 2010). Não há cura para a doença, apenas a
prevenção por vacinas
Essa doença encontra-se eliminada no Brasil, desde a década de 90, tendo seu
último caso em 1989, como resultado do sucesso das campanhas de vacinação no país. A
circulação do vírus selvagem foi eliminada, porém fatores como, más condições habitacionais,
higiene pessoal precária e o elevado número de crianças em uma mesma habitação podem
favorecer a transmissão do poliovírus (Ministério da Saúde, 2010).
A baixa cobertura vacinal, também é um fator de alerta, na volta da circulação do
vírus selvagem no país e/ou surgimento de Poliovírus Derivado Vacinal (PVDV). Segundo a
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, em um informe sobre o perigo da reintrodução da
poliomielite, pesquisadores chamam a atenção para a baixa cobertura vacinal, a qual favorece
ao vírus vivo enfraquecido das vacinas orais, a continuar a se multiplicar no intestino humano
(raro, mas possível), mudar geneticamente até o ponto de recuperar a capacidade de causar
paralisia e se espalhar naqueles que não foram vacinados. Os surtos registrados em países
da África do Sul, por exemplo tiveram como origem o poliovírus derivado da vacina, diferente
dos dois únicos países Paquistão e Afeganistão que ainda possuem em seu território, cepas
remanescentes do poliovírus selvagem (SBMT, 2020).
O Brasil em 2015, publicou o “Plano de Erradicação da Poliomielite: Estratégia no
Brasil” com o objetivo geral de atingir a meta global de erradicação da poliomielite, contendo
seis objetivos específicos: Criar o Comitê Nacional de Certificação da Erradicação da
Poliomielite; Fortalecer a Vigilância Epidemiológica das Paralisias Flácidas Agudas (VE PFA);
Substituir a vacina oral atenuada trivalente pela bivalente; Realizar a contenção laboratorial
do poliovírus; Implantar gradualmente a Vigilância Ambiental do poliovirus; e mobilizar os
profissionais de saúde e sociedade civil de forma eficaz para a divulgação da nova estratégia
(Ministério da Saúde, 2015).
Além da possível interação e mudança genética, pesquisas epidemiológicas sugerem
que vacinas vivas atenuadas como a vacina oral contra poliomielite (VOP), podem resultar na
indução de efeitos não específicos no sistema imunológico (Bloket al., 2015). mas também
pode proteger contra outros tipos de vírus (Higgins et al., 2016; Aaby e Benn 2017; Upfill-
Brown et. al., 2017).
O Brasil, no entanto, introduziu a vacina inativada contra poliomielite (VIP) para todos
os bebês que iniciam sua série de vacinação primária, desde 2012, com o objetivo de
prevenção de casos raros de poliomielite paralítica, associada à vacina, garantindo o acesso
equitativo à VIP e preparando-se para a futura cessação da VOP após a erradicação global,
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com o devido monitoramento contínuo para o alcance da alta cobertura vacinal (Domingues
et al., 2016).
Porém, os estados e os municípios brasileiros apresentam características
particulares que vão desde culturas, barreiras geográficas, econômicas, ambientais e sociais
distintas em único país, e ouvi-los é o primeiro passo para o sucesso na implementação e
operacionalização de ferramentas de monitoramento e avaliação em relação ao Plano de
Erradicação da Poliomielite: Estratégia no Brasil”
Nesse contexto, este trabalho de natureza exploratório, com foco no território, teve
como objetivo a análise do indicador da cobertura vacinal da poliomielite, no período de janeiro
a dezembro de 2020, na região Nordeste, para verificação do alcance da meta de cobertura
vacinal igual ou maior que 95% nesta região.
METODOLOGIA
Utilizou-se como fonte de dados o Sistema de Informação do Programa Nacional de
Imunizações (SI-PNI) do Ministério da Saúde, com consulta dos dados públicos, disponíveis
no link (http://sipni.datasus.gov.br/si-pni-web/faces/inicio.jsf),selecionando a opção Tabnet
(cobertura vacinal) e as variáveis de interesse: Município- linha; Ano- coluna; Coberturas
vacinais- conteúdo; Ano 2020 –Período; Poliomielite – opção do Imuno.
O indicador Cobertura Vacinal de Poliomielite é calculado pela equipe do Ministério
da Saúde, a partir do número de doses aplicadas do imunobiológico para poliomielite
registrado no SI-PNI dividido pela população menores de um ano do banco de dados do
Sistema de Nascidos Vivos (SINASC) multiplicado por 100. Foi utilizada a meta de 95%,
preconizada pela OMS e adotada pelo PNI, para se considerar baixa cobertura (< 95%) ou
alta (>95%)
As possíveis inconsistências e/ou missing foram verificadas por meio do software Epi
InfoTM do Center of Disease Control and Prevention (CDC) e do editor de planilhas Microsoft,
Excel, os quais analisaram as frequências das coberturas para cada município. Os mapas
com os resultados da cobertura vacinal de poliomielite foram elaborados com RStudio,
software livre de ambiente de desenvolvimento integrado para R e com os pacotes: geobr,
ggplot, ggspatial, ggrepe.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A cobertura vacinal de poliomielite no Brasil em 2020, até a data de 20 de abril de
2021, estava em 75,8%, menor do que a cobertura vacinal alcançada no ano de 2019 (84,2%).
Segundo dados de nascidos vivos, disponibilizados pelo Ministério da Saúde em 2020,
nasceram 1.722.907 crianças (Ministério da Saúde, 2020), destas possivelmente 416.943
crianças não foram vacinadas para poliomielite no país.
Entre as 27 Unidades da Federação do país (Figura 1), a menor cobertura vacinal
registrada foi de 41,8% no Amapá (tom de azul mais escuro), a máxima de 88,2% no estado
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de Rondônia (azul quase cinza) e uma mediana de 72,8% entre os estados do país. O estado
do Ceará (Região Nordeste) e o estado de Santa Catarina (Região Rio Grande do Sul)
apresentaram valores próximos ao de Rondônia, porém nenhum estado alcançou a cobertura
vacinal igual ou maior que 95%.
Figura 1. Cobertura Vacinal de Poliomielite nas Unidades Federativas do
Brasil 2020. Fonte: SI-PNI.
A região Nordeste alcançou uma cobertura de 71,76%, inferior à registrada em 2019
(82,7%). Entre os estados, a variação da cobertura, em 2020, foi de 59,9% a mínima, no
estado do Maranhão e de 86,8% a máxima para o Estado do Ceará, a mediana entre os
estados, foi de 71,4%, abaixo da mediana brasileira.
A tabela 1 apresenta a síntese da situação dos municípios por estados da região
Nordeste. O Estado com maior número de municípios é a Bahia (417) e, o menor, Sergipe
com 75 municípios. Os estados da região Nordeste apresentaram municípios com cobertura
vacinal menor que 50%, considerado de alto risco para a recirculação do vírus selvagem. O
Estado com maior número de municípios nessa situação é o Maranhão: 23,5% dos seus
municípios estão com cobertura inferior ou igual a 50%, e o menor percentual de municípios
nesta situação foi registrado nos estados do Ceará (6,0%) e Paraíba (7,2%).
Observou-se, também, que em todos os estados, houve municípios com registro de
cobertura vacinal superior a 100%. O estado de Alagoas teve menor percentual de municípios
(10,8%) com cobertura superior a 100%, enquanto o estado da Paraíba o maior percentual de
municípios nesta situação (34,5%).
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Tabela 1. Análise descritiva das informações da cobertura vacinal dos 1.794 municípios por
estado, da região Nordeste do Brasil, ano de 2020.
Estado Número de municípios Dados de cobertura vacinal n(%)
Por Com Sem ≤ 50% 51% a
94% 95% a
100% > 100%
Estado dados dados
Maranhão 217 217 0 51(23,5) 132(60,8) 11(5,1) 23(9,8)
Piauí
224 224 0 20(8,9) 130(58,0) 12(5,4) 62(27,7)
Ceará
184 184 0 11(6,0) 114(62,0) 16(8,7) 43(23,4)
Rio Grande do
Norte
167 166 1 14(8,4) 105(63,2) 2(1,2) 45(27,1)
Paraíba 223 223 0 16(7,2) 111(49,8) 19(8,5) 77(34,5)
Pernambuco
185 185 0 20(10,8) 112(60,5) 16(8,6) 37(20,0)
Alagoas
102 102 0 11(10,8) 71(69,6) 9(8,8) 11(10,8)
Sergipe 75 75 0 8(10,7) 45(60) 6(8,0) 16(21,3)
Bahia 417 417 0 35(8,4) 294(70,5) 26(6,2) 62(14,9)
Elaboração própria. Fonte: SI-PNI.
A figura 1 apresenta uma sequência da análise análise da distribuição espacial da
cobertura vacinal dos municípios por estado.
No estado de Alagoas, poucos municípios com cobertura superior a 95%, restrito a
37 municípios (20%), alguns destes de área fronteiriça com outros estados. No estado da
Bahia a maior concentração de municípios, com cobertura igual ou maior que 95%, estão
localizados próximos aos limites dos estados de Minas Gerais, Tocantins, Goiás e para
municípios limítrofes, totalizando 88 (21%) dos 417 municípios do estado.
Um dos estados com maior distribuição de municípios com cobertura vacinal igual ou
maior que 95%, em 2020, tanto no interior do estado quanto na sua região litorânea e em
municípios limítrofes, foi o Ceará, dos 184 municípios, 59 (32%) estão com cobertura ≥ 95%.
Enquanto o Maranhão com 217 municípios, apenas 36 (16%) dos seus municípios alcançaram
cobertura vacinal igual e/ou superior a 95%. Na figura, esses municípios estão distribuídos de
forma aleatória no estado ou são municípios limítrofes
1
.
No estado da Paraíba, os municípios com cobertura igual ou maior que 95% estão
distribuídos em todo o estado, no entanto, chama atenção o agrupamento de municípios
limítrofes com boa cobertura vacinal, dos 223 municípios do estado (43%) apresentaram
cobertura vacinal igual ou maior que 95%. O estado da Paraíba desse modo, apresentou
maior percentual de municípios com boa cobertura vacinal para poliomielite em 2020 quando
comparado aos demais estados na região nordeste do país
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Figura 2. Cobertura Vacinal de Poliomielite dos municípios por Estado da Região Nordeste,
Brasil em 2020. Elaboração própria.
Fonte: SI-PNI.
Dos 185 municípios do estado de Pernambuco, 53% (29%) apresentaram uma boa
cobertura vacinal para poliomielite igual ou superior a 95%. Estes são visualizados no tom de
azul-escuro, formando pequenos agrupamentos no estado, por serem municípios limítrofes
em sua maioria e/ou municípios próximos dos estados do Ceará e Paraíba.
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Municípios vizinhos (Resolução Normativa nº 259, 17 de junho de 2011-ANS).
No estado do Piauí com 224 municípios, 74(33%) destes em 2020, apresentaram
cobertura igual ou maior que 95%, formando agrupamentos de municípios limítrofes em todo
o estado.
O estado do Rio Grande do Norte foi o único estado com município (Pedra Preta)
sem informação sobre a cobertura vacinal de Poliomielite em 2020 (área branca no mapa).
Dos 167 municípios, 47(28%) atingiram uma boa cobertura, igual ou maior que 95% de sua
população de menores de um ano vacinados. As melhores coberturas foram observadas em
municípios limítrofes no estado.
Sergipe é o estado dessa região com menor número de municípios (75), destes 22
(29%) dos municípios tiveram em 2020, uma cobertura vacinal para poliomielite igual ou
superior a 95%. As melhores coberturas são predominantes em municípios limítrofes no
estado com exceção de três municípios: Nossa Senhora de Lourdes, Boquim e General
Maynard. A distribuição espacial do indicador cobertura vacinal de Poliomielite por municípios
e estados da região Norte é apresentado na Figura 2.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados de 2020, para a região Nordeste, mostram a acentuada queda da
cobertura vacinal da poliomielite, que pode ter sido agravada em consequência da pandemia
que o país e o mundo vivenciam desde fevereiro de 2020. Todas as ações de saúde estão
voltadas para conter o avanço do vírus SARS-CoV-2 e ao tratamento oportuno dos casos
graves, e, consequentemente, com a interrupção ou diminuição das ações e serviços de
saúde, desenvolvidos pela atenção básica/primária.
Os resultados óbitos para o ano de 2020, evidenciam a necessidade do
fortalecimento das ações e das campanhas referentes à poliomielite nesta região. Ações ou
campanhas com a oferta de todas as vacinas do calendário do SUS, sugerem uma boa
estratégia para o alcance de grande parte da população alvo. Segundo gestores de saúde do
estado da Paraíba, o “Dia D” realizado em outubro de 2020, favoreceu o aumento da cobertura
de Poliomielite nesse ano no estado (Governo do Estado da Paraíba, 2020). O estado do
Ceará na Região Nordeste também foi um dos estados que aderiram ao “Dia D” Campanha
de vacinação que ocorreu, também em outubro de 2020, conforme notícias na mídia digital.
No entanto, não foram localizadas informações sobre o “Dia D” nos demais estados da região
nordeste do país.
Em 2020, em torno de 214.490 (28,2%) dos nascidos vivos na região Nordeste
não receberam a dose para a prevenção da poliomielite. Sendo necessário verificar se o não
acesso teve como determinante o ano pandêmico que se iniciou com a circulação do SARS-
CoV2, ou se outros fatores como, a falta de infraestrutura nos municípios, localidades remotas,
nascidos vivos de imigrantes ou a resistência à vacinação contribuíram com a baixa cobertura
na região.
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A baixa cobertura vacinal observada na região, pode favorecer o ressurgimento
da doença, pois ainda, há um alto quantitativo de municípios nos estados dessa região, com
cobertura abaixo de 50%. A realização de investigação e diagnóstico dessa baixa cobertura
nestes municípios são necessários com o objetivo de verificar quais os fatores e as causas
destes municípios estarem no grupo de risco para o ressurgimento da doença.
Segundo Fugitaet al. (2018), no Brasil várias razões podem estar contribuindo
para a baixa cobertura, a exemplo de desinformação sobre a importância das vacinas, do
calendário administrativo e da hesitação vacinal. Um problema que vem ocorrendo com
nações desenvolvidas, e que pode também estar ocorrendo no Brasil, com um grande alcance
por meio das redes e mídias sociais maior do movimento antivacina nas em relação à não
importância das vacinas preconizadas na saúde pública brasileira.
Os municípios com cobertura vacinal acima de 100%, identificados na região
nordeste sugerem o possível uso do somatório de doses aplicadas por imunobiológico, ao
invés da contagem do número de crianças vacinadas, ou ainda imprecisões do registro de
dose de vacinas aplicadas, principalmente quando das realizações de campanhas de
vacinação.
Os dados espaciais sugerem que em alguns estados tem cluster de municípios
com altas coberturas enquanto outros estados, os municípios estão dispersos, e que tanto no
interior quanto as capitais estão com problemas em alcançar a cobertura vacinal para
poliomielite. Autores como Fugita et al. (2018), destacam a necessidade de medidas urgentes
para incluir o aumento das taxas de cobertura vacinal e ainda, o uso da sorologia de doenças
preveníveis por vacinas, como ferramenta de triagem para identificar pacientes que precisam
de vacinação.
Para alcançar os objetivos especificados no Plano desde 2015, diante do cenário
do indicador de cobertura vacinal, anos com pandemia de SARS-Cov-2, um diagnóstico prévio
deve ser realizado com a participação dos gestores municipais e/ou estaduais para a
identificação de experiências bem sucedidas e/ou das dificuldades encontradas para o
alcance da meta de cobertura pactuada. Uma das formas de permitir que todos os 5.570
municípios brasileiros possam oferecer a sua população o acesso à vacina em tempo
oportuno e proporcionar a barreira necessária para a não recirculação do vírus selvagem no
Brasil.
Destacamos, ainda que a elaboração de um plano de mitigação, uma matriz de
risco e o plano de monitoramento sem a participação dos gestores dos municípios, local onde
as ações de saúde acontecem, poderão apresentar dificuldades quanto a implementação e a
operação dessas ferramentas pelos municípios. Pois, segundo Minayo, (1995), o Brasil é
formando por vários “Brasis”. E essas particularidades devem ser consideradas na elaboração
de um plano de mitigações e de uma matriz de risco em relação a doença.
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AGRADECIMENTOS
Ao Grupo de Técnico da Poliomielite do Ministério da Saúde pelas orientações
quanto a forma de obtenção de dado e detalhamento das variáveis de análise e ao apoio do
Laboratório de Geografia Ambiente e Saúde da Universidade de Brasília (LAGAS/UnB) e do
LMI-Sentinela (UnB/FIOCRUZ/IRD).
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