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* Universität Zürich (Suíça); Universität
Bern (Suíça)
Pós-doutorando em Estudos da Religião
E-mail: silasklein@gmail.com
Sotaques do poder: recombinações
visuais e os fundamentos do
imaginário régio judaíta
Accents of power: visual recombination and the
foundations of the Judahite royal imaginary
Acentos de poder: recombinaciones visuales
y los fundamentos del imaginario real judío
Silas Klein Cardoso*
Submetido em: 28-6-2021
Aceito em: 23-8-2021
RESUMO
A partir da análise iconográca dos selos de estampar da região do platô de Benjamin no
Ferro I-IIB, o artigo examina a presença de conceitos de realeza. Reconhecida na literatura
política no decorrer da história pelas personalidades “bíblicas” que abrigou, a região ainda
não viu um estudo dedicado à ideologia real feito exclusivamente com fontes visuais pri-
márias em recorte. O estudo cresce em importância uma vez que se note que, mesmo no
contexto judaíta, a iconograa da região fronteiriça de Benjamin provavelmente serviu de
elo entre o imaginário real de Israel e Judá. Argumenta-se que no Período do Ferro I-IIA,
a iconograa realça aspectos de vigor e liação divina dos reis, estes criados à sombra do
domínio egípcio, enquanto, no Ferro IIA tardio-IIB, ela passa a enfatizar a agressividade e
perl vitorioso dos reis.
Palavras-chave: Realeza; Benjamin; antigo Israel e Judá; iconografia; Bíblia Hebraica/
Antigo Testamento.
ABSTRACT
Based on the iconographic analysis of stamp seals from the Benjamin Plateau region in
Iron I-IIB, the paper examines the presence of kingship concepts. Recognized in political
literature throughout history for the “biblical” personalities it housed, the region has not
seen a dedicated study of royal ideology done exclusively with primary visual sources from
the constrained area. The study grows in importance once it is noted that, even in the
Judaic context, the iconography of the border region of Benjamin likely served as a link
between the royal imagery of Israel and Judah. It is argued that in the Iron I-IIA period, the
iconography emphasizes aspects of vigor and divine sonship of the kings, these created in
the shadow of Egyptian rule, while in late Iron IIA-IIB, it shifts to emphasizing the kings’
aggressiveness and victorious prole.
Keywords: Kingship; Benjamin; ancient Israel and Judah; iconography; Hebrew Bible/Old
Testament.
RESUMEN
A partir de la interpretación iconográca de sellos de la región de la Meseta de Benjamín
en el Hierro I-IIB, el artículo examina de conceptos de realeza. Reconocida en la literatura
política a lo largo de la historia por las personalidades “bíblicas” que albergó, la región aún
Sotaques do poder: recombinações visuais e os fundamentos do imaginário régio judaíta:
Silas Klein CARDOSO
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no ha visto un estudio dedicado a la ideología real realizado exclusivamente con fuentes
visuales primarias en recorte. El estudio adquiere mayor importancia una vez que se observa
que, incluso en el contexto judaico, la iconografía de la región fronteriza de Benjamín pro-
bablemente sirvió de enlace entre la imaginería real de Israel y Judá. Se argumenta que en el
periodo Hierro IIA, la iconografía enfatiza aspectos de vigor y liación divina de los reyes,
estos creados a la sombra del dominio egipcio, mientras que a nales del Hierro IIA-IIB,
pasa a enfatizar la agresividad y el perl victorioso de los reyes.
Palabras clave: Realeza; Benjamín; antiguo Israel y Judá; iconografía; Biblia hebrea/Antiguo
Testamento.
Introdução
Por algum motivo que só podemos conjecturar – do qual a canoni-
zação judaico-cristã de suas histórias certamente exerce seu papel–, even-
tos da região montanhosa central de Canaã no Período do Ferro I–IIA
antigo (c. sécs. 12–10 aEC) continuam a reverberar na literatura política
três mil anos depois. Personagens do imaginário ocidental, Saul, Davi e
Salomão figuraram no discurso de influentes pensadores e pensadoras
políticas nos últimos séculos. Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes, Baru-
ch Spinoza e Hanna Arendt, para citar alguns, têm em comum o fato de
tomarem essas figuras “bíblicas” para argumentar contra ou a favor das
estruturas de poder de seu tempo (KIPFER; HUTTON, 2021, p. 17-19;
KIPFER, 2015, p. 317-19; além da literatura política, veja EHRLICH, 2016).
Aqui não é importante definir o grau de historicidade das personagens,
mas notar como narrativas do período foram capazes de ecoar por
séculos, remodelando-se e traduzindo-se para novas culturas. Tratar,
portanto, da “Realeza no Mundo Antigo Oriental”, tema deste dos-
siê, não implica pensar apenas num passado longínquo e descone-
xo, mas em um que, de alguma maneira – e, com certeza, sob mui-
tos vieses – ainda nos atinge. Minha contribuição lida com a região
que possivelmente foi palco das sementes históricas de um desses per-
sonagens, Saul. Assim, embora talvez insignificante territorial e eco-
nomicamente no grande quadro do Mediterrâneo antigo oriental,
ela é seminal para compreender imaginários reais antigos. Meu objetivo é
acessar, mesmo com parcas evidências, conceitos monárquicos presentes
na cultura visual do “platô de Benjamin” nos períodos do Ferro IB–IIB.
Para tanto, após apresentar o escopo do estudo, apresentarei a configuração
sociopolítica e econômica da região, aspectos de representação monárquica
no chamado “antigo Israel” para, depois, estudar as fontes visuais arran-
jadas cronologicamente.
Escopo e objetivos
Mapa 1. Platô de Benjamin (amarelo), Judá (azul) e Efraim (vermelho). Os círculos são apenas reforços ilustrativos, não representam os limites exatos dessas unidades políticas. Fonte: Autor.
Revista Caminhando v. 26, p. 1-21, jan./dez. 2021 • https://doi.org/10.15603/2176-3828/caminhando.v26 e021025 3
no ha visto un estudio dedicado a la ideología real realizado exclusivamente con fuentes
visuales primarias en recorte. El estudio adquiere mayor importancia una vez que se observa
que, incluso en el contexto judaico, la iconografía de la región fronteriza de Benjamín pro-
bablemente sirvió de enlace entre la imaginería real de Israel y Judá. Se argumenta que en el
periodo Hierro IIA, la iconografía enfatiza aspectos de vigor y liación divina de los reyes,
estos creados a la sombra del dominio egipcio, mientras que a nales del Hierro IIA-IIB,
pasa a enfatizar la agresividad y el perl victorioso de los reyes.
Palabras clave: Realeza; Benjamín; antiguo Israel y Judá; iconografía; Biblia hebrea/Antiguo
Testamento.
Introdução
Por algum motivo que só podemos conjecturar – do qual a canoni-
zação judaico-cristã de suas histórias certamente exerce seu papel–, even-
tos da região montanhosa central de Canaã no Período do Ferro I–IIA
antigo (c. sécs. 12–10 aEC) continuam a reverberar na literatura política
três mil anos depois. Personagens do imaginário ocidental, Saul, Davi e
Salomão figuraram no discurso de influentes pensadores e pensadoras
políticas nos últimos séculos. Nicolau Maquiavel, Thomas Hobbes, Baru-
ch Spinoza e Hanna Arendt, para citar alguns, têm em comum o fato de
tomarem essas figuras “bíblicas” para argumentar contra ou a favor das
estruturas de poder de seu tempo (KIPFER; HUTTON, 2021, p. 17-19;
KIPFER, 2015, p. 317-19; além da literatura política, veja EHRLICH, 2016).
Aqui não é importante definir o grau de historicidade das personagens,
mas notar como narrativas do período foram capazes de ecoar por
séculos, remodelando-se e traduzindo-se para novas culturas. Tratar,
portanto, da “Realeza no Mundo Antigo Oriental”, tema deste dos-
siê, não implica pensar apenas num passado longínquo e descone-
xo, mas em um que, de alguma maneira – e, com certeza, sob mui-
tos vieses – ainda nos atinge. Minha contribuição lida com a região
que possivelmente foi palco das sementes históricas de um desses per-
sonagens, Saul. Assim, embora talvez insignificante territorial e eco-
nomicamente no grande quadro do Mediterrâneo antigo oriental,
ela é seminal para compreender imaginários reais antigos. Meu objetivo é
acessar, mesmo com parcas evidências, conceitos monárquicos presentes
na cultura visual do “platô de Benjamin” nos períodos do Ferro IB–IIB.
Para tanto, após apresentar o escopo do estudo, apresentarei a configuração
sociopolítica e econômica da região, aspectos de representação monárquica
no chamado “antigo Israel” para, depois, estudar as fontes visuais arran-
jadas cronologicamente.
Escopo e objetivos
Mapa 1. Platô de Benjamin (amarelo), Judá (azul) e Efraim (vermelho). Os círculos são apenas reforços ilustrativos, não representam os limites exatos dessas unidades políticas. Fonte: Autor.
Ocupo-me da área que os textos da Bíblia Hebraica associaram ao lendário
patriarca Benjamin (binyāmîn, cf. Js 18.11-18), esta que prosperou sempre que o
poder de seus vizinhos Siquém (Tel Balâṭah) e Jerusalém (Al-Quds) desvaneceu,
algo evidente no registro bíblico1 e arqueológico.2 Devido à extensão cronológi-
ca do estudo, não utilizo fronteiras políticas, mas as fronteiras naturais e limites
de assentamentos do período inicial do Ferro. Assim, o que chamo “platô de
Benjamin” se limita pelo Vale de Rift à leste, pela descendente que vai em
direção à Sefelá à oeste, pelos limites de Beitin (Betel3) e et-Tell (Ai?) à norte
e, à sul, pela depressão que antecede Jerusalém. Os sítios que divisam a região
1 No texto bíblico, p.ex., isso pode ser visto no momento da “Conquista da Terra” (Js 2–9), no início da
monarquia (1Sm 8–13), no exílio judaíta (2Rs 25.22-23; Jr 40.6) e na reestruturação de Jerusalém (Ed 4).
2 Modelos gravitacionais foram aplicados duas vezes na região: (1) Miller II (2005, p. 20, 29-30, 81-
82) testou a hipótese de “chefaturas complexas” usando a mobilidade de produtos e transferência
de tributos entre sítios da região; e (2) Lehmann (2004, p. 158-164) analisou a relação entre as vilas
sob o conceito de endogamia. Ambos assinalaram a gravidade populacional maior ao redor do platô.
Os levantamentos arqueológicos na região também demonstram o aumento de assentamentos nas
cercanias de Betel e Gibeão (FINKELSTEIN; MAGEN, 1993, p. 13-79, 447-52; FINKELSTEIN;
LEDERMAN, 1997, p. 891-902).
3 Enquanto prero tratar os sítios arqueológicos pelos nomes contemporâneos, assinalo entre parên-
teses as identicações com sítios bíblicos. Enquanto alguns são tomados por certo pela toponímia
(p.ex., Beitin/Betel), evidências epigrácas (p.ex., Tell el-Jîb/Gibeão) ou histórico-geográcas (p.ex.,
Tell en-Nasḅeh/Mispa; et-Tell/Ai), outros são incertos e, por esse motivo, deixo uma interrogação
em suas prováveis identicações.
Mapa 1: Platô de Benjamin (amarelo), Judá (azul) e Efraim (vermelho).
Os círculos são apenas reforços ilustrativos, não representam
os limites exatos dessas unidades políticas.
Fonte: Autor.
Sotaques do poder: recombinações visuais e os fundamentos do imaginário régio judaíta:
Silas Klein CARDOSO
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são: Jeba (Geba?; 9,6 km NE-Jerusalém) ao leste; Tell en-Nasḅeh (Mispa; 12
km NO-Jerusalém) ao norte; el-Jîb (Gibeão; 9,6 km NO-Jerusalém) ao oeste;
Tell el-Fûl (Gibeá?; 4,8 km N-Jerusalém) (cf. Mapa 1).
Como fontes, tomo os vestígios visuais encontrados em escavações
controladas, tendo a atenção principalmente voltada ao Ferro IB-IIA antigo.
Isso signica que lidarei com achados dos sítios arqueológicos Beitin (Betel),
Tell el-Jib (Gibeão), Et-Tell (Ai?), Kh. Abū-Musarraḥ, Kh. ed-Dawwara, Kh.
Nisieh, Kh. Raddana, Tell el-Fûl (Gibeá de Benjamin? Faraton?), Tell en-
Nasḅeh (Mispa).4 Contudo, apesar de minha análise sistemática de fundo se
restringir a esses sítios e período, ao contrário de trabalhos anteriores focados
no Ferro I-IIA (KLEIN CARDOSO, 2019; 2020a; 2020b; 2020c), avanço aqui
para períodos posteriores (i.é, Ferro IIB–C), a m de notar continuidades e
descontinuidades na iconograa local. Minha argumentação também considera
artefatos de outros sítios sul-levantinos. A mídia mais numerosa e relevante
à tarefa são os selos de estampar e impressões (SCHMITT, 2001, p. 36) que,
embora não forneça “narrativas” stricto sensu,5 é abundante e ilustrativa o
suciente para o propósito do artigo, que é descrever usos e readaptações
da iconograa régia na região.
A conguração sociopolítica de Benjamin no Ferro IB–IIA
No período do Ferro IB-C é possível vislumbrar padrões arquitetôni-
cos no platô de Benjamin que implicam uma unidade política. Refiro-me
aos assentamentos com muralhas acopladas a salas amplas traseiras em
4 Para o histórico ocupacional, cf. FINKELSTEIN, 2015, p. 57-84; MILLER II, 2005, p. 120-22; KLEIN
CARDOSO, 2019, p. 177-96; cf. FAUST, 2006. Os sítios El-‘Eizariya, El-Qubeibeh, Kh. Hayian, Nebi
Samwil, Kh. Shilha não apresentaram resultados relevantes aos períodos investigados. Kh. Qeiyafa,
não foi considerada—a despeito da hipótese de domínio de Saul da região no período do Ferro I-IIA
por Finkelstein— pela distância, enquanto Moẓa e Deir el-‘Azar (Kh-Jearim) não foram exploradas
sistematicamente pelo estado inicial das escavações. Sobre o último, veja o relatório preliminar em
FINKELSTEIN; RÖMER, 2019.
5 O conceito de narrativa está, na narratologia clássica, ligado à mídia verbal e sob clausuras tempo-
-espaciais. Assim, uma cena isolada como as que guram na maioria dos selos de estampar, não se
conguraria como narrativa. Novas denições de narrativa, principalmente advindas de estudos de
multimodalidade, trazem conceitos mais abertos de narrativa. Marie-Louise Ryan (2006, p. 8), p.ex.,
divide as “condições de narratividade” em três dimensões semânticas e uma pragmática. Semantica-
mente, narratividade existiria quando (1) há noção de espacialidade, i.é, trata de um mundo habitado por
indivíduos, (2) temporalidade, i.é, quando esse tempo está situado no tempo e passa por transformações
e (3) cognição, i.é, os agentes são causados por agências com consciência e capacidade de tomar decisões.
Pragmática e formalmente, a narratividade seria possível quando os eventos têm relação de causa e
efeito ou quando a história comunica algo para os receptores. Se pensarmos na denição “escalona-
da”, i.é, não dualista como ela sugere, é possível pensar nas cenas dos selos como “narrativizantes”,
contudo, essa não é uma característica formal dos objetos.
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casas de três ou quatro cômodos encontradas em el-Jîb (FINKELSTEIN,
2015, p. 59; PRITCHARD, 1964, p. 35, fig. 19, 21; 1963, fig. 1), Tell en-
Nasḅeh (McCOWN, 1947, p. 180, fig. 43; ZORN, 1993, p. 23), et-Tell
(Fouille “Z”, FINKELSTEIN, 1988, p. 69; MARQUET-KRAUSE, 1949, pl.
XCVII), nas recém-fundadas Kh. ed-Dawwara (Area A, FINKELSTEIN,
1990, p. 172) e Kh. Raddana (LEDERMAN, 1999, p. 149), além de, pos-
sivelmente, Betel (KELSO, 1968, p. 36, pl. 86; 1993, p. 193). Também é
significativo que os outros três sítios escavados ou não tiveram escavações
em todo o sítio (El-Fûl, FINKELSTEIN, 2011; Abū-Musarraḥ, cf. PELEG;
YEZERSKI, 2004) ou seguiram o modelo do Período do Bronze (Nisieh,
LIVINGSTONE, 2012, p. 47-496). Enquanto o padrão de construção de
casas não oferece novidades arquitetônicas para o período, a instalação
de casamatas, mesmo se não oriunda da região, é majoritária. Em segun-
do lugar, as práticas mortuárias da região sugerem uma aristocracia rural
(LEHMANN; VARONER, 2018, p. 261), como se pode ver nas coleções
funerárias encontradas nas tumbas de Khirbet Abū-Musarraḥ (PELEG;
YEZERSKI, 2004), Khirbet Nisieh (Tumba 65, LIVINGSTONE, 2012,
p. 51-64; cf. BRANDL, 2002), el-Jîb (Tumba 3, cf. DAJANI, 1953; PRI-
TCHARD, 1963, p. 10; ESHEL, 1987, p. 10-11) e Tell en-Nasḅeh (tumbas
32 e 54, McCOWN, 1947, p. 77-100).
Há de se considerar que o clima e práticas agrícolas da região coopera-
vam para cultivo e centralização. Quando comparada com a região ao norte
de Samaria e Judá, Benjamin possui um clima intermediário (FINKELSTEIN,
1994, p. 158), contudo, pela menor altitude, as colinas de Betel têm menos
chuva que as montanhas judaítas (MILLER II, 2005, p. 60). As encostas sul-
-ocidentais tinham abundância de oliveiras e, possivelmente videiras, mais que
as demais regiões, enquanto a extensão central sul, mais próxima de zonas
áridas a leste, tinha predominância de cultivo de cereais a leste e criação de
animais, especialmente ovelhas e caprinos a oeste, embora de forma limitada
(FINKELSTEIN, 1997, p. 117). Eles cultivavam lentilhas, alfafa, grão-de-bico
e feijão-de-bico, além do vinho e azeitonas, algo que se conrmaria pelas
ferramentas de cultivo de cereal de Kh. Raddana, que também apresentou
ossos de caprinos em todas as casas (MILLER II, 2005, p. 60). O padrão
altera-se no Ferro II, quando arbustos passam a crescer nas áreas de erosão,
antes ocupadas pela oresta (LEV-YADUN, 1997, p. 88-101). Há também
alteração no padrão de assentamento: no Ferro I 74% dos sítios estavam a
6 É possível argumentar a existência de assentamento no período pela cerâmica encontrada, similar à
Beitin (LIVINGSTONE, 2012, p. 48-49, pl. 4.1:7, 9, 15; cf. KELSO, 1968, pl. 56-57; FINKELSTEIN;
SINGER-AVITZ, 2009, p. 37-38), quanto pela Tumba 65, do período (BRANDL, 2002).
Sotaques do poder: recombinações visuais e os fundamentos do imaginário régio judaíta:
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leste, na região árida, algo que se modica no Período do Ferro II.7
Essa conguração coaduna com o modelo de governo sugerido por
Robert Miller II (2005, p. 8-13). Este sistema sociopolítico compreenderia:
(1) a movimentação de tributos para favorecimento mútuo, apesar da autos-
suciência das unidades políticas menores (vilas/vilarejos); (2) alternância
entre dois ou três níveis de poder a cada 15 anos e a cada 150 anos com
novas dinastias; (3) sacralização dos líderes para atender a linhagens ances-
trais legitimatórias. Esse ambiente seria reforçado pela instituição de alianças
matrimoniais rurais (LEHMANN, 2004), estas que, além dos limites das vilas
e comunidades locais (i.é, a bíblica bêt-ʾāb, “casa do pai”), estariam ligadas
por casamentos endogâmicos, o que formariam os clãs territoriais (i.é, a bí-
blica mišpāḥâ; cf. LEHMANN, 2004; 2012). Esse modelo se manteria até o
Ferro IIA, quando os sítios da região são abandonados ou destruídos. Após
a derrocada, a pertença de Benjamin teria se modicado para sul e norte,
até que, após a destruição de Jerusalém, teria se tornado novamente uma
região proeminente e, no quinto século aEC, Mispa foi não apenas parte,
mas capital de Yehud (cf. LIPSCHITS, 2005, p. 149-54).
Aspectos fugidios da interpretação da realeza no “antigo Israel”
O fato de a região não apresentar uma formação estatal stricto sensu nes-
se período não signica que ideias régias ou monárquicas não tenham sido
recebidas e/ou trabalhadas nas narrativas e iconograa local. Isso se explica
tanto iconográca quanto lologicamente. Com relação à memória bíblica, o
substantivo hebraico para rei, mělěḵ, denota um indivíduo que rege um grupo
de subordinados e, portanto, a ideia de realeza que repousa sobre os termos
melûḵā(h), mǎlkûṯ ou mǎmlāḵā(h) servem para diversas formatações de
governo, desde cidades-estado até impérios (PIETSCH, 2014). Decerto, isso
não signica que os temos sejam equivalentes. Os dois conceitos abstratos
mais antigos, p.ex., demonstram diferentes facetas da realeza: (1) melûḵā(h)
designa o status e ofício real (p.ex., 1Sm 10.16; 11.14; 14.47; 18.8) enquanto
(2) mǎmlāḵā(h) aborda o aspecto funcional da realeza/monarquia como ins-
tituição (i.é, domínio, reino, residência, poder) (p.ex., 1Sm 10.18) (SEYBOLD;
RINGGREN; FABRY, 1997, p. 359-60). É notável que, embora os conceitos
7 Finkelstein (1994, p. 160-61) sugeriu duas explicações para essa preferência inicial: (1) no começo do
processo de assentamento, com menor número de habitantes, os contingentes populacionais teriam
optado por áreas topogracamente moderadas e de agricultura promissora, i.é, a margem desértica,
vales intermontanos e áreas planas; (2) no começo do processo de assentamento, os novos habitantes
teriam escolhidos áreas mais promissoras segundo seus planos de fundo sócioeconômicos, i.é, pastoris
e de agricultura de sequeiros.
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sejam utilizados nas narrativas do benjaminita Saul, os textos bíblicos revelam
um uso contestado de termos reais para habitantes da região, algo que reforça
a presença de conceitos de realeza.8 Ademais, mesmo sob uso contestado, fór-
mulas dinásticas são aplicadas de forma similar a Davi e Saul, i.é, as expressões
bêt dāwid (“casa de Davi”) e bêt šāʾûl (“casa de Saul”) (cf. 2Sm 3.1,5).
Reconhecer tais aspectos não torna a interpretação iconográca livre de
problemas. Apesar de propor uma tipologia,9 Dominik Bonatz (2009, p. 1)
argumentou que a diculdade de estudar a representação de reis no Levante
via iconograa se dá: (1) pelo material disponível na região não ser abundante
ou representativo o bastante; (2) por ser difícil distinguir reis de divindades,
i.é, por não haver traços iconográcos incontestes ou não-ambíguos; (3) pela
diculdade de assegurar a interpretação de guras não-antropomórcas aos
domínios reais. Em Estudos Bíblicos, comparações dessas imagens com textos
e conceitos veterotestamentários foram feitas para resolver este problema.
Os dois estudos mais representativos são o de Keel (1997, p. 243-306),10
que comparou imagens antigo-orientais com os salmos e o estudo sobre a
iconograa de domínio no primeiro milênio de Schmitt (2001).11 Outros,
como Keel e Uehlinger (1998) e Schroer (2018; cf. SCHROER; KEEL, 2005;
8 Rero-me, principalmente, ao uso conitivo do termo “líder” (nāgîd, 1Sm 9.16; 10.1) em certas narrati-
vas saulidas, este que pode ser adição deuteronomista (McKENZIE, 2006, p. 60-62) ou revelar nuances
religiosas do ofício. Para Hasel (1998, v. 9, p. 193, tradução minha) “no título ‘rei’, a ênfase primária
está no elemento político, enquanto no título nāg
̱îḏ os elementos religioso e sagrado permanecem
no primeiro plano”. A vocação de Saul, como os juízes (Jz 2.16,18), é de salvar (yšʿ) com libertação
pontual frente aos listeus (pĕlištî; cf. 2Sm 3.18). O clamor do povo (1Sm 9.16) é similar ao de Ex
3.7. Os termos clamor (ṣĕʿāqâ), povo (ʿam) e ver (rʾh) só aparecem nesses dois versículos em toda a
BH. A palavra clamor (ṣĕʿāqâ), surge apenas 2x na HD (1Sm 4.14; 1Sm 9.16) e sua raiz, √ṣʿq apenas
outras duas vezes referenciando o Êxodo (Js 24.7; Jz 10.11) e, talvez, demonstrando reminiscências
de tradição de Israel (norte). Ademais, a própria botelha utilizada na unção (pak, 1Sm 10.1) só surge
nessa narrativa e na unção de Jeú (2Rs 9.1,3), outro líder com missão religiosa. As unções de Davi e
Salomão são realizadas com chifres de azeite (qarnĕkā šemen, 1Sm 16.1,13; 1Rs 1.39).
9 Dividida entre gurações antropomórcas e teriomórcas, cada qual com diversos sub-fenótipos.
10 Que dividiu a iconograa real (principalmente egípcia) comparada aos salmos em cinco grandes temas:
(1) nascimento e infância do rei; (2) entronização; (3) o rei como construtor do templo e sacerdote; (4)
representação e promoção dos poderes da vida; (5) defesa contra os inimigos. O autor ainda trabalhou
aspectos de dominação real em outras duas obras, ampliando a discussão (KEEL 1974; 1999).
11 Schmitt (2001, p. 37-38) dividiu a representação pictória dos governantes do Período do Ferro em 6
grupos com diversos sub-grupos: (1) representação do rei, com sete subgrupos, (1a) rei entronizado,
(1b) rei com funcionários, (1c) rei com outras insígnias, (1d) rei diante da divindade, (1e) rei com
dignatário(s), (1f) rei atacando o inimigo, (1g) rei na carruagem; (2.1) símbolos de poder militar, com
três subgrupos, (2.1a) prisioneiros, (2.1b) carruagens, (2.1c) cidade forticada; (2.2) domínio em
contexto vegetal, com dois subgrupos, (2.2a) capitéis de voluta, (2.2b) palmeira e árvore sagrada; (3)
animais com quatro subgrupos, (3a) leão, (3b) cavalo, (3c) galo, (3d) outros quadrúpedes; (4) seres
mistos e gênios com quatro subgrupos, (4a) grifo, (4b) esnge, (4c) escaravelho alado, (4d) gênios
antropomórcos; (5) símbolos divinos em contexto de domínio com dois grupos, (5a) sol alado, (5b)
roseta ou disco solar; (6) outros. Embora o trabalho de Schmitt dê peso maior às fontes iconográcas,
a relação de temas está baseada em sua interpretação dos textos bíblicos, não sendo, portanto, uma
tipologia puramente iconográca.
Sotaques do poder: recombinações visuais e os fundamentos do imaginário régio judaíta:
Silas Klein CARDOSO
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SCHROER, 2008; 2011) focalizaram a história da religião, trabalhando o tema
quando este era relevante à disciplina.
No presente estudo assumo o risco de interpretar as fontes disponíveis
sem colocá-las sob a tutela dos textos bíblicos. Apesar de leituras contra o
grão serem possíveis e necessárias, penso que a narratividade dessas memórias
tardias preencha lacunas desnecessárias e direcione as conclusões de forma
indevida em uma pesquisa com escopo limitado como esta. Isso se torna
ainda mais relevante ao tentar uma delimitação mais restrita como a que
proponho, i.é, focar em conceitos de realeza presente nas fontes iconográ-
cas no Ferro I–IIB, algo não realizado.12 Para lidar com as diculdades do
material acima e para atender aos objetivos propostos no dossiê, ao contrário
de tentar identicar reis em imagens, apresentarei cenas que tragam conceitos
ligados à realeza, para demonstrar ideias que perpassavam a região nos perío-
dos designados. Assim, a seguir, apresento as fontes divididas por período
e motivos iconográcos relacionados, e as examino via análise iconográca
para, na conclusão, discutir os resultados.
Conceitos visuais de realeza no platô de Benjamin: um panorama
O vigor e a liação divina dos reis (Ferro IB–IIA antigo)
Durante o período da supramencionada unidade política centrada no
platô de Benjamin do Ferro IB–IIA (c. 1050–950 aEC) há três constelações
iconográcas relevantes ao tema.
A primeira trata aspectos de dominação e atribuem ao rei vigor, força
e poder sobre povos inimigos, esses considerados inferiores. Três peças
podem ilustrar esse repertório de conceitos. A fig. 1a apresenta um conóide
de basalto encontrado dentre detritos da Area A de Betel com gravura linear
e hachura interna (KELSO, 1968, p. 121, pl. 44: 5), este que traz um leão
sobre um caprino com cabeça virada para trás. O leão reflete a agressivida-
de e o domínio do rei egípcio sobre seus inimigos (KEEL; UEHLINGER,
1998, p. 21-25, 120-21), figuração vista desde o Bronze Médio e que pode
possuir conotações sexuais (SCHROER, 2008, p. 132-35). A mesma figuração
agressiva do leão aparece em um selo do grupo chamado “selos produzidos
em massa pós-ramessidas (cf. MÜNGER, 201113) em Gibeão. O escaravelho
da fig. 1b foi encontrado levemente danificado na Tumba 3 (PRITCHARD,
12 O acesso a um grupo de selos de Tell en-Nasḅeh, de igual modo, é inédito e fruto de meu trabalho
no Stamp Seals from the Southern Levant, onde entre outras incumbências trabalho na publicação dos
selos do sítio.
13 Além dos selos apresentados aqui, outro selo desse grupo foi encontrado na região, em Kh. Nisieh
(BRANDL, 2002, p. 40-42, no. 3), com rosetas e uraei na base. Embora também ligado, em certo
aspecto, ao âmbito real, optei deixá-lo de lado pelo número limitado de achados no período.
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1963, p. 154, fig. 70.5) e apresenta um leão em marcha esquemático com
o rabo sobre as costas do animal e apontando para a frente (paralelos em
KEEL; UEHLINGER, 1998, p. 112, figs. 133a-f). Do mesmo grupo pós-
-ramessida, também apresentando o mesmo campo de dominação por força
está a fig. 1c, um escarabóide de ibex encontrado na Tumba 32 de Tell en-
Nasḅeh (McCOWN, 1947, p. 149, pl. 54: 34) que tem na base Resefe sobre
uma gazela (mas veja a opinião de KOCH, 2018, p. 643). A iconografia de
Baal sobre o leão e Resefe sobre a gazela parece ser completada por outra
imagem encontrada no sítio (SCHROER, 2018, p. 344). A impressão em
alça de jarro (McCOWN, 1947, pl. 55: 81) da fig. 1d, que, pelo formato,
parece vir da lateral de um selo decorado multifacetado, apresenta figura
antropomórfica com um objeto não identificado na mão e, abaixo dela, um
pequeno sol, um leão e montanhas. Essas duas últimas cenas relacionam-se
à realeza por sua associação ao deus-rei (cf. discussão da fig. 3c, a seguir).
Figura 1: Fonte: (a) KEEL, 2010a, p. 22-23, Bet-El No. 7;
(b) KEEL, 2013, p. 476-77, Gibeon, No. 26; (c) KEEL, 1995, Abb. 90;
(d) KEEL; SHUVAL; UEHLINGER, 1990, p. 139.
A segunda constelação aborda a entronização e a deificação do
rei, muitas vezes pressupondo que a autoridade do rei advenha de sua
Sotaques do poder: recombinações visuais e os fundamentos do imaginário régio judaíta:
Silas Klein CARDOSO
10
filiação divina. Desses, o mais emblemático é o escarabóide da Tumba
32 de Tell en-Nasḅeh (McCOWN, 1947, p. 295, pl. 54: 18), que aparece
na fig. 2a. Do lado direito, uma figura esquemática com braços erguidos
está assentada sobre um trono e, próximo a sua mão direita, um vegetal
completa o perfil. Na frente dessa figura está em pé uma segunda figura
antropomórfica. Há ao menos três formas de interpretar a cena: (1) um
casal divino e um adorador (KEEL; UEHLINGER, 1998, §95, onde as
deidades são interpretadas como El no trono e Aserá em forma de árvore
estilizada); (2) uma divindade com flor de lótus na mão e um adorador
(KLEIN CARDOSO, 2019, p. 244-45, onde a deidade é interpretada
como Baal); (3) um rei com flor de lótus na mão e um convidado e/
ou adorador. Enquanto as três interpretações são possíveis ou, talvez,
se sobreponham, é interessante pensá-la aqui em relação com outras
cenas, como o sarcófago de Abirão em Biblos. Nesse caso, enquanto a
flor de lótus representaria a vida do rei, o adorador ou rei demonstraria
a elevação da figura no trono a um patamar sobre-humano, reinterpre-
tando temas do Bronze Tardio como “o rei com a flor de lótus” e o
“governante e adorador”. É possível que a fig. 2b, uma impressão de
selo de Betel (KELSO, 1968, pl. 114:12) também traga um rei no trono
e adorador. Apesar de não ter sido reconhecida como tal até o momento,
o traçado inferior do selo parece similar às bases do trono na cena bas-
tante estilizada de entronização no palácio, também comum na produção
em massa de selos pós-ramessida (cf. paralelo em SCHROER, 2018, p.
152-53, no. 1043). Nessas cenas, o rei, assentado em seu trono palaciano,
é adorado por seus servidores e traz em suas mãos o cetro e uma cruz.
Também apontando para o aspecto sobrenatural do rei, embora com di-
ferente figuração, temos a figura antropomórfica com cabeça de falcão,
identificado como Hórus, e a pena de Maat. Enquanto a iconografia de
Hórus lembrava a filiação divina do rei desde o Bronze Antigo e chegou,
no auge de popularidade do Bronze Tardio, a ser fundido com o deus
do clima cananeu (SCHROER, 2011, p. 46), essa característica aparen-
temente foi perdida no Período do Ferro. O escaravelho pós-ramessida
representado pela fig. 2c encontrado na Tumba 32 de Tell en-Nasḅeh
(McCOWN, 1947, pl. 54:5), contudo, ainda traz a imagem, demonstrando
o uso do tema no período.
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Figura 2: Fonte: (a) KEEL; UEHLINGER, 1998, g. 181;
(b) KELSO, 1968, pl. 114:12; (c) MÜNGER, 2011, Pl. XLVII: Tell en-Nasbeh No. 1.
Uma terceira constelação reutiliza a iconografia de coroação egípcia
dos períodos anteriores e que foi possivelmente utilizada no culto. En-
quanto cenas explícitas da veneração ao rei não surjam no Período do
Ferro I–IIA antigo com a mesma intensidade do Bronze Tardio, cartuchos
com nomes reais e criptogramas do deus-rei egípcio, Amon, continuam a
ser utilizadas (SCHROER, 2018, p. 63) e aparecem na região. A fórmula
mais comum no registro local é aquela que pode ser lida como menkheperre
(mn-ḫpr-Rˁ, poss., “permanente é a forma de Rá”), utilizada como nome de
trono de Tutemés III, mas cujos selos foram também utilizados no culto
de Amon. Do repertório de Tell en-Nasḅeh, também encontrado na tumba
32 (McCOWN, 1947, pl. 54:11), o escaravelho da fig. 3a traz a expressão
mn (tabuleiro de senet, Y514), ḫpr (escaravelho, L1), Rˁ (círculo solar, N5).
O mastro com bandeirola (R8) serve como determinativo para divindade.
A fórmula, escrita sob diferentes grafias, aparece outras vezes na região
(p.ex., McCOWN, 1947, pl. 54:10, 14, 16). A escrita, provavelmente rela-
cionada ao deus-rei Amon-Rá, é paralela com outro selo que traz o nome
de Amon escrito criptograficamente. O escaravelho da fig. 3b, também
do grupo pós-ramessida produzido em massa, foi encontrado também na
Tumba 32 (McCOWN, 1947, pl. 54:13) e forma “Amon-Rá” (Jmn- Rˁ):
a coroa vermelha em ambos os lados é lida acrofonicamente como um J
14 Os números entre parênteses apontam para a lista de Gardiner de hieróglifos.
Sotaques do poder: recombinações visuais e os fundamentos do imaginário régio judaíta:
Silas Klein CARDOSO
12
(do egípcio jns), esta que é combinada, de cima abaixo, com o tabuleiro
de senet (mn, Y5) e o falcão com o flagelo, este lido como Rˁ (JAEGER,
1982, p. 294; cf. SCHROER, 2018, p. 162-63, No. 1057). Possivelmente
ligados ou resultantes da popularidade do culto ao deus Amon em Gaza
(cf. UEHLINGER, 1990), as cenas ainda podem estar ligadas a um ter-
ceiro motivo, que são o de três figuras antropomórficas de mãos dadas,
que surge no selo de Gibeão encontrado na Tumba (PRITCHARD, 1963,
p. 154, no. 2) e representado pela fig. 3c. A cena já foi interpretada como
uma variação canaanita da tríade divina e como dança, mas sua presença
em selos multifacetados parece reforçar o caso da primeira interpretação
(veja KOCH, 2018, p. 639-40). Caso isso esteja correto, a aparição da tríade
divina, de temas ligados a Amon-Rá (fig. 1b, 3a-b), Resefe (fig. 1c) e Set (i.é,
Baal em Canaã, fig. 1d), todos estes que surgem em selos multifacetados/
pirâmides truncadas, pressuporiam o ambiente de corte e ideologia régia.
Figura 3: Fonte: (a) Ilustração do autor; (b) MÜNGER, 2011, Pl. XLVII: Tell en-Nasbeh No.
2; (c) KEEL, 2013, p. 474-75, Gibeon no. 23.
Agressividade e perl vitorioso dos reis (Ferro IIA tardio–Ferro IIB)
Apesar da conguração sociopolítica distinta, onde não há mais uma
chefatura tentando se estabelecer a partir da região, o Ferro IIA tardio e
Ferro IIB continuam a apresentar simbologia régia. Esses, contudo, já car-
regam um sotaque regional. Isso é visto na utilização de hieróglifos, agora
funcionam mais como símbolos de poder deslocados do contexto linguístico
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original (i.é, seriam pseudo-hieróglifos).15 Devo enfatizar que, pelas mudanças
no quadro político, o platô de Benjamin na época dos selos abaixo (sécs.
7–6 a.E.C.) está mais próximo de Judá do que de Israel.16 Isso também é
visto na iconograa, que traz temas mais de mesma orientação. Dois grupos
iconográcos ligados ao reino animal são importantes.
Dois selos da região apresentam galos como motivo iconográco central.
O primeiro item17, provavelmente um conóide18 retratado na g. 4a, infeliz-
mente, não possui boas fotos da base e precisamos contar com a descrição
do arqueólogo responsável que a descreveu como “duas guras animais lu-
tando (provavelmente galos)” (DAJANI, 1953, p. 74, tradução nossa). Galos
aparecem outras vezes na região em diferentes mídias, como em inscrições
em jarros (PRITCHARD, 1961, p. 20, g. 47: 305, 399, 343, 492) e em uma
estatueta de Ḥorvat Qitmit (BECK, 1995, g. 3.94). A agressividade e defen-
sibilidade do galo, estas vistas principalmente em brigas de galo, o tornam
ideal para representar servidores reais e pessoas da corte (SCHMITT, 2001,
p. 169). Isso é demonstrado no selo epigráco de ágata encontrado em Tell
en-Nasḅeh (McCOWN, 1947, pl. 57:4-5) e representado na g. 4b. A base
tem três registros divididos por linhas duplas. Nas duas primeiras linhas,
é possível ler o texto hebraico antigo lyʾznyhw/ʿbd.hmlk, “Pertencente a
Jezanias19 servo do rei”. Na última linha há um galo virado para a esquerda
em posição de ataque: a cabeça pende para a frente, seu bico está aberto, as
asas estão presas ao corpo antes da longa cauda e as pernas uma em frente
à outra, sugerindo movimento. Devo enfatizar que a inscrição associa o selo
diretamente à corte, o que reforça a hipótese de se tratar de iconograa do
15 A pesquisa de Laura Gonnermann (2021) sobre uso de hieróglifos em amuletos sul-levantinos é parti-
cularmente relevante aqui. Ela demonstra que o número de amuletos com hieróglifos aumenta no Ferro
II, algo inversamente proporcional ao domínio egípcio na região (p. 83). Ela associou os amuletos ao
ciclo de vida dos habitantes da região (p. 87), estes que não careciam de alto poder econômico ou status
para usufruí-los. Importante também é sua anotação que os hieróglifos eram uma “língua de escolha”,
já que o hebraico estava mais disseminado e havia outros artefatos inscritos no período.
16 Devo ressaltar, contudo, que há utuações nos limites de Benjamin no período e que, possivelmente,
até os anos da queda de Jerusalém, o platô tendia mais ao norte. Essa memória é registrada em alguns
textos e certos aspectos da iconograa real judaíta, assim como a memória literária, também assumiram
partes do imaginário do norte. Isso pode ser visto, por exemplo, na utilização da iconograa local
para inspiração de complexos textuais que narram a queda de Israel, como demonstrei em outro local
(KLEIN CARDOSO, 2018).
17 Não é possível, pela informação disponível do relatório de Dajani, traçar a data para o item além
do contexto primário, que provavelmente reete a transição do Ferro IIA antigo para o Ferro IIA
tardio. Tampouco é possível fazer suposições tipológicas. O agrupo nesta sessão, portanto, pela relação
temática.
18 Keel (2013, p. 466) o descreve como placa redonda. Contudo, a sombra da perfuração e volume do
objeto na foto da publicação, sugerem a verticalidade da peça (cf. DAJANI, 1953, pl. X: 61).
19 A graa desse e demais nomes foi aportuguesada cf. versão portuguesa Almeida Revista e Atualizada.
Sotaques do poder: recombinações visuais e os fundamentos do imaginário régio judaíta:
Silas Klein CARDOSO
14
âmbito régio.20 O famoso selo foi, provavelmente, utilizado como herança
familiar: embora a iconograa e a epigraa apontem para sua produção no
Período do Ferro IIB (sécs. 7–6 a.E.C.), ele foi encontrado numa tumba
bizantina, esta provavelmente adaptada de uma tumba mais antiga do Ferro
II (ZORN, 2003, p. 441).
Figura 4: Fonte: (a) DAJANI, 1953, pl. X: 61 (tratadas pelo autor,
escala aproximada); (b) BADÈ, 1933, pl. 1.
O último motivo que farei referência é, também, o mais emblemático da
relação de Judá com a monarquia. Rero-me aos selos que retratam leões em
posição de marcha e rugindo. A gura mais proeminente é de um escarabói-
de encontrado no Silo 170 de Tell en-Nasḅeh (McCOWN, 1947, pl. 55:75),
representado na g. 5a. Ele apresenta um leão marchando e rugindo virado à
direita com uma cauda comprida e erguida em estilo antigo-oriental,21 estando
rodeado por sinais egípcios: atrás um ʿnḫ (S34), acima um nb (V30) e em sua
frente cetro-wꜢs de cabeça para baixo (S40). Enquanto sinais egípcios ao redor
de um animal vigoroso geralmente apontam para uma personalidade régia,22
a cena, como um todo, retrata o leão como guardião atrelado às esferas de
poder, dominância e reinado (cf. KEEL; UEHLINGER, 1998, § 118, § 158;
SCHMITT, 2001, p. 121-26; SCHROER, 2018, p. 78, 81). O motivo é similar
ao de outro famoso selo epigráco de “Shemá, servo de Jeroboão”, encontrado
20 Outro achado relevante é o selo comprado em Jerusalém com o texto “yhwʾḥz/bn.hmlk”, que po-
deria ser traduzido como “Pertencente a Joacaz, lho do rei”. Contudo, além de não ter advindo de
escavações controladas, há partes de pátina sobre a escrita e o artesanato é de má-qualidade (AVIGAD;
SASS, 1993, p. 54, no. 13). Além disso, a posição do galo estranhamente segue o uxo contrário do
texto. Esses aspectos sugerem ser uma falsicação. Mesmo que não seja, contudo, Avigad e Sass (1993,
p. 467, bn hmlk) explicam que “lho do rei” pode ter sido utilizado como metáfora de vassalagem,
representando um ocial real.
21 Enquanto leões aparecem com a boca fechada na iconograa egípcia, os ombros sobressalentes, juba
grafada com movimento e boca aberta remete aos selos encontrados no antigo-oriente (SCHROER,
2018, p. 618). Kurt Galling (1941, p. 136-37) notou a similaridade desse tipo de guração leonina
com selos fenícios.
22 Isso pode ser argumentado também por paralelos que tomam cavalos (p.ex., SCHROER, 2011, p.
98-99, No. 589) ou esnges (p.ex., BEN-TOR, 2007, pl. 100-101) como personicações dos faraós.
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em Megiddo.23 Outro leão rugindo e com a cauda acima do corpo, embora
agachado, aparece no registro inferior do escarabóide representado pela g. 5b
e encontrado na Room 174 de Tell en-Nasḅeh (McCOWN, 1947, pl. 54: 52).
No registro superior um falcão com agelo (G6) é acompanhado por um ʿnḫ
(S34). A combinação peculiar de motivos parece sugerir a dupla lealdade polí-
tica do portador do selo de forma anicônica. Enquanto o falcão com agelo e
ʿnḫ, que seria lido como “Hórus vivo”, pode signicar a lealdade ao soberano
egípcio — este muitas vezes retratado como o falcão de hórus24 —, como al-
guns selos epigrácos que usam o motivo parecem argumentar (KEEL, 2007,
§ 695),25 a combinação com o leão sugere relação com o campo semântico de
poder e realeza, possivelmente ligado a uma personalidade local.26
Figura 5: Fonte: (a) Ilustração do autor; (b) Ilustração do autor.
Essa última variação de motivos acima antecipa um tema favorito do
Ferro IIC, quando um sistema administrativo judaíta passa a vigorar. Esse
modelo inclui as estampas em jarras de alça com leões, estes que podem estar
em posições distintas (veja, recentemente, ORNAN; LIPSCHITS, 2020) e que
funcionaram ao lado de outras impressões como, p.ex., as impressões yhwd, de
cavalos galopantes e rosetas, essas também encontradas em Tell en-Nasḅeh.
Nesse aspecto, parece razoável argumentar que a mudança de pertença de
23 Embora tenha sido roubado e não mais poder ser analisado, o selo traria originalmente, também, um ʿnḫ.
24 Estes que já aparecem na iconograa do Ferro IIA da região, mas não puderam ser incluídos aqui. Rero-
-me aos selos de Tell en-Nasḅeh (McCOWN, 1947, pl. 54:56) e Gibeão (DAJANI, 1953, pl. X:61).
25 Zorn (2018, p. 74) nota que haveria múltiplas razões para os babilônios terem poupado Benjamin,
como a longa antipatia local à dinastia davídica ou para utilizarem a região para mantimentos durante
o cerco e como centro administrativo depois. De qualquer forma, ainda que reduzida, a região con-
tinuou ocupada no período.
26 Uma hipótese recente arma que o leão sozinho em gurações judaítas representaria yhwh (ORNAN;
WEKSLER-BDOLAH; KISILEVITZ; SASS, 2012, p. 6-8; cf. ORNAN; LIPSCHITS, 2020) algo
que, talvez, tenha sido utilizado por textos posteriores (KLEIN CARDOSO, 2018). Contudo, em
contraposição a essa ideia está o fato de selos de outras regiões sem yhwh e, também, de contextos
régios, trazerem gurações similares. Essa relação pode ser vista já na seleção de paralelos feita por
Galling (1941, p. 136-37, 175-76, Taf. 5: 17-29): além do selo de Jeroboão (no. 17), o selo no. 20 foi
encontrado no palácio de Sargão e o no. 25 também carrega a função “servo do rei” (ʿbdmlk). Se a
hipótese da dupla liação for correta, isso explicaria a recorrência do motivo no sítio arqueológico.
Sotaques do poder: recombinações visuais e os fundamentos do imaginário régio judaíta:
Silas Klein CARDOSO
16
Benjamin entre os períodos do Ferro IIA tardio, IIB e IIC tenha ajudado
preferências iconográcas israelitas entrarem em Judá. Assim, a característica
fronteiriça da área lhe traria o encargo de tradutora cultural.
Perspectivas conclusivas
Procurei demonstrar no breve estudo acima como as chefaturas locais
utilizaram e reinterpretaram a iconograa régia dos impérios que dominaram
a região no passado e como essas reinterpretações pavimentaram a icono-
graa administrativa posterior. É verdade que as evidências fragmentárias e
a falta de resolução cronológica não permitem grandes asserções. Isso está
ligado às decisões metodológicas que desenharam o estudo. A decisão por
utilizar apenas evidências primárias — i.é, datadas por critérios arqueológi-
cos — e a opção por trabalhar com uma área e tempo restritos faz com que
complexos textuais tardios não preencham as lacunas e, assim, os resultados
parecem apontar para conceitos sem uma narrativa que as ordene. Apesar
deste aspecto, algumas conclusões provisórias podem ser esboçadas. Em pri-
meiro lugar, é possível sugerir certas relações do contexto dos achados com
o estrato social ao qual pertenciam. Apesar de não ser possível argumentar
conclusivamente que esses vestígios representem os chefes locais, lideranças
políticas estrangeiras, deidades ou clãs,27 o fato de muitos desses selos terem
sido encontrados em contextos funerários (Figs. 1b-c; 2a, c; 3a-c; 4a-b) diz
algo. Estas tumbas muito provavelmente pertenceram a uma “aristocracia
rural” e, dessa forma, é razoável sugerir que esses materiais e sua iconogra-
a estavam ligados de alguma forma à biograa dos falecidos da região e
reetem, em algum aspecto, sua cosmovisão.
Parece também razoável concluir que, durante o Período do Ferro I–IIA
antigo, a proximidade com o Egito fez com que noções de liação divina dos
reis e aspectos de domínio fossem utilizados (Fig. 1b; 2b-c; 3a-b) ou reinter-
pretados localmente (Figs. 1a, c, d; 2a). Contudo, haja vista a complexa trama
política de m de dominação local, é difícil assinalar lealdades ou pertenças
políticas particulares no contexto. O que se pode dizer é que as guras reais
surgiam no imaginário tanto como provedoras da vida (Fig. 2a), quanto como
herdeiras do poder divino (Figs. 2b [?] e 2c). A dominação surge tanto na
metáfora militar/sexual encontrada no selo de Beitin (Fig. 1a), quanto na
27 Faço eco proposital a Sass (1993, p. 222, tradução nossa): “o que o leão representava para os olhos
de Shema, ocial do rei Jeroboão II e para outros proprietários de selos? Ele tinha um signicado
diferente para não-israelitas contemporâneos? Não está nada claro se esses leões solitários representa-
vam apenas seu próprio poder natural ou apotropaico como leões guardiões ou se eles representavam
o rei ou uma deidade”.
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guração do leão em marcha e rugindo (Fig. 1b). A associação com deuses
também parece indicar indiretamente tanto a inuência egípcia quanto uma
cosmovisão que os via compondo uma corte (Fig. 3c). Entre o Ferro IIA
tardio e o Ferro IIB, a iconograa ligada à violência, à agressividade e ao
perl vitorioso dos reis parece tomar o centro da arena. Isso é visto em selos
que trazem emblemas de famílias locais proeminentes, como o galo de briga
e o leão. As cenas de galos de briga, como no selo do servo real, Jezanias
(Fig. 4b), e, provavelmente, em um selo de Gibeão (Fig. 4a), parecem trazer
a ideia de agressividade. O leão, outro animal territorial e agressivo, parece
representar o perl vitorioso de líderes locais (Fig. 5a-b). Sua representa-
ção marchando e rugindo como dos selos, entre outras, foi adotada como
emblema do sistema administrativo posterior, como parecem argumentar as
estampas gurando leões, ao lado de outras utilizadas nos arredores de Judá.
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Data da publicação: 30-8-2021