As mídias, junto com a escola, a família, a religião, entre outras instituições, constituem uma rede de transmissão de valores, normas e comportamentos, que visam à formação identitária dos indivíduos, além de modular o comportamento. Agindo enquanto pedagogias culturais, os desenhos animados, ou séries de animação, são produtos da cultura na qual estão inseridos, fazendo parte da então chamada
... [Show full abstract] Indústria Cultural. Ao fazer, uma alusão ao mundo real, é possível que reproduzam um discurso carregado de elementos estereotipados que agem na produção das subjetividades femininas e masculinas de seu público alvo: o público infantil. Realizando um comparativo histórico da representação do masculino e do feminino, podemos trazer como exemplo um dos primeiros desenhos animados do americano Hanna Barbera: ?Os Flintstones? (1960). Ambientado no que seria a ?Idade da Pedra?, o desenho traz uma constante preocupação com a representação do que deveria ser uma típica família americana da década de 1960. Evidenciando papeis sociais de gênero distintos, é possível perceber o lugar do homem na sociedade dos anos 1960 como responsável pelo sustento da família através do trabalho. Enquanto Fred Flintstone e seu amigo Barney Rubble são retratados como bonachões, preguiçosos, às vezes rudes e sem muita responsabilidade, suas esposas Vilma e Beth são constantemente mostradas como dóceis, frágeis, mantenedoras da ordem do lar e da família, sendo responsáveis, inclusive, pela alimentação dos maridos e dos filhos. Além disso, cabe salientar a representação dos corpos femininos e masculinos também em oposição. Enquanto os primeiros eram representados sempre magérrimos e delicados, os segundos eram representados com traços mais ?grosseiros? e quase sempre acima do peso. Saltando para os dias atuais, temos a série de animação, ?Hora de Aventura? (2010 ? atualidade) que conta a história do menino humano Finn e seu irmão adotivo, o cachorro mágico Jake. Os dois são os heróis do desenho que atualmente possuí oito temporadas, e traz várias personagens femininas caracterizadas como princesas. Entre as mais famosas e adoradas pelo público infantil estão a Princesa de Fogo (ou Princesa do Reino de Fogo), Princesa Jujuba e Marceline, a Rainha dos Vampiros. Dotadas de poderes dificilmente encontrados nas princesas comuns, as personagens trazem elementos geralmente ligados ao feminino, seja pelo cabelo, pelo pronome de tratamento, pelo título de princesa ou pela voz meiga. Estas três princesas especificamente, trazem ainda elementos da delicadeza e doçura tais como as personagens femininas de ?Os Flintstones?, mas vão além, ao mostrar um lado muitas vezes cruel e perverso como no episódio ?O Criado?, ainda da primeira temporada, onde Marceline maltrata e escraviza um personagem idoso, o que sugere que princesas (e por que não, mulheres) possuem sentimentos ambíguos tanto quanto qualquer outro personagem. Antagônica às representações de feminino que comumente encontramos nos desenhos animados, está a Princesa Caroço, outra personagem que merece nossa atenção, e que traz poucos elementos que sugerem sua proximidade com a forma humana. Quase como uma nuvem roxa, esta personagem tem uma voz grossa e formatos pouco 964