O presente artigo expõe a construção do ambiente que possibilitou a manifestação das narrativas homossexuais de Pierre Seel e Rudolf Brazda enquanto sobreviventes do Holocausto; por quais meios eles emergem e se relacionam com a História do Tempo Presente e como essa categoria pode ser encarada como uma forma de expressão da experiência traumática. Para que isso fosse possível, cotejei ambas as obras (“Eu, Pierre Seel, deportado homossexual” e “Triângulo Rosa: um homossexual no campo de concentração nazista”) em uma leitura atenta aos marcadores sociais comuns para esses sujeitos. Os pontos de contato comungados entre os documentos analisados, uma autobiografia de 1994 e uma biografia de 2010, foram privilegiados para a redação deste texto. O objetivo principal desta análise foi compreender como as narrativas testemunhais desses indivíduos foram consolidadas em espaços de luta sócio-política, reivindicando lugar legítimo no âmbito público, reparações e direitos à memória, à verdade e à justiça. Dentre os resultados, constata-se a realidade da homofobia institucional como empecilho direto no reconhecimento das vítimas homossexuais da perseguição, deportação, encarceramento e extermínio protagonizado pelos nazistas. Mesmo décadas depois da reconstrução da Europa e, consequentemente, desnazificação do seu território, vítimas como os triângulos rosa permaneceram à margem social, encaradas por Estado e sociedade como criminosos comuns.
Este trabalho tem como objetivo compreender os desenhos discursivos de políticas públicas conquistadas pela comunidade LGBT+ e seus impactos na relação do Estado com as/os sujeitas/os pós-período de reabertura democrática. Embasa-se em uma perspectiva metodológica qualitativa e analítica pós-crítica, que potencializa a análise da produção de efeitos das políticas na relação do Estado com os sujeitos, nos contratos sociais e nas subjetividades. Destarte, mediante uma cartografia discursiva de políticas públicas, reconhece-se a relevância da legislação na construção de uma “nova sociedade”, mas esta, enquanto letra morta, torna-se pouco eficaz. Precisaremos atacar algumas das bases culturais de um heterocistema branco e classista, que insiste em fortalecer, com “novas” roupagens, tecnologias e ferramentas institucionais, as quais reverberam em práticas de domesticação de corpos e corpas e que, por conseguinte, perpetuam o normal de gênero e de sexualidade. PALAVRAS-CHAVE: Políticas Públicas; Movimento LGBT+; Estado; Democracia.
Dar-se-á aqui atenção à dinâmica do reconhecimento de certos eventos traumáticos, de processos sociais de exteriorização – e historicização – da violência traumática à perlaboração do passado. Logo, assinalar-se-ão os pontos fundamentais, tensões e limites à compreensão do que marca a estrutura de significado do trauma em nível psicológico e sociocultural. Desse modo, faz-se necessário averiguar os estudos sobre as implicações teóricas dos conceitos psicanalíticos de perlaboração, trauma e luto, ao esforço de representação e superação de uma experiência de violência pretérita. No centro dessas questões estão as ligações entre o trauma e as possibilidades (dilemas) da representação narrativa. Tais questões são cruciais para o entendimento dos debates sobre os esforços compreensivos de explicação e representação de algumas das questões mais urgentes com relação à construção do significado histórico e com relação à consolidação de uma sociedade marcada pelos efeitos duradouros e permanentes dos traumas das injustiças pretéritas. Esses dilemas, por representarem uma ameaça à significação e aos contornos da própria ação, e as demandas por reconhecimento representativo da violência e do sofrimento, cujos termos precisam ser mediados, confrontados e compreendidos como prática cultural de memória coletiva, são cruciais para a compreensão dos debates sobre a memória da violência e sua suposta transformação e recuperação.
Palavras-chave: Trauma. História. Luto. Perlaboração.
O trabalho enfoca diferentes aspectos do conceito de testemunho. Ele parte da noção de testemunho (martus, martur-) tal como ela pode ser lida na Orestéia de Ésquilo, no autor de Ad Herennium, em Freud e, criticamente, em Walter Benjamin. Aqui encontramos o testemunho como testis, atestação da “verdade” via visualidade. O segundo modelo de testemunho estudado é mais “auricular”, centra-se no próprio evento do testemunhar e trata dos seus limites e da sua necessidade. Apresentam-se ainda as diferenças entre a noção de testemunho, no contexto dos estudos da Shoah, por outro lado, dentro da teoria da literatura de “testimonio” na Hispano-América.
Renascimento do acontecimento: um desafio para o historiador: entre Esfinge e Fênix
Jan 2013
F Dosse
Dosse, F. (2013). Renascimento do acontecimento: um desafio para o historiador: entre Esfinge e Fênix. Editora
Unesp.
A perseguição nazista aos homossexuais: o testemunho de um dos esquecidos da memória
Jan 2010
T Elídio
Elídio, T. (2010). A perseguição nazista aos homossexuais: o testemunho de um dos esquecidos da memória
[Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas].
Voluptuous panic: the erotic world of Weimar Belin
Jan 2006
M Gordon
Gordon, M. (2006). Voluptuous panic: the erotic world of Weimar Belin. Feral House.
The men with the pink triangle: the true, life and death story of homosexuals in the Nazi death camps
Jan 1994
H Heger
Heger, H. (1994). The men with the pink triangle: the true, life and death story of homosexuals in the Nazi death
camps. Alyson Publications.
Holocausto, memória e identidade social: a experiência da Fundação Shoah
Jan 2004
K Lerner
Lerner, K. (2004). Holocausto, memória e identidade social: a experiência da Fundação Shoah [Tese de Doutorado,
Universidade Federal do Rio de Janeiro].
Doze lições sobre a história
Jan 2008
A Prost
Prost, A. (2008). Doze lições sobre a história. Autêntica Editora.