Na imprensa brasileira e no imaginário nacional, a mulher jogadora de futebol ainda tem pouco ou nenhum espaço enquanto profissional qualificada para o exercício do esporte. Em um país "onde o futebol é discursivamente incorporado à identidade nacional" (GOELLNER, 2005, p 150), o feminino ainda está inserido à margem dessa prática, como se não fosse seu lugar de direito ou de pertencimento natural. Essa questão aparece como reflexo do fato de que estereótipos quanto à capacidade física de mulheres e meninas estão presentes e são perpetuados em nossa sociedade (FURLAN; SANTOS, 2008; DAOLIO, 1995). Sendo assim, o objetivo deste trabalho é ser um dentro de tantos esforços para entender como a mulher jogadora de futebol está posicionada na imprensa brasileira e como os pressupostos colocados sobre essa mulher em questão estão enraizados na linguagem utilizada para o tratamento em questão. Para tal, realizamos uma amostra deste estudo a partir da análise de trechos de uma matéria comparativa entre Marta e Neymar, os “camisas 10” das seleções feminina e masculina do Brasil, respectivamente, que são trazidos enquanto “herdeiros de Pelé”. A pesquisa segue uma metodologia em desenvolvimento que visa desvelar aspectos sociológicos que permeiam o esporte por meio do estudo da linguagem (LIMA-LOPES; PIMENTA, 2017; PIMENTA, 2019). Nossos resultados corroboram que a comparação com o masculino e a comprovação de habilidades são alguns dos argumentos que sustentam a capacidade de Marta enquanto jogadora de futebol, ao mesmo tempo que Neymar é sustentado apenas pela sua imagem midiática.