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A CORRUPÇÃO COMO UM FATO SOCIAL DURKHEIMIANO: PROPOSIÇÃO DE UM MODELO TEÓRICO

Authors:

Abstract

A Teoria do Fato Social desenvolvida pelo sociólogo francês Émile Durkheim apresenta regras para observação e estudo dos fenômenos sociais, externos e coercitíveis, tendo como cenário a sociedade detentora de uma consciência própria (realidade sui generis
A CORRUPÇÃO COMO UM FATO
SOCIAL DURKHEIMIANO:
PROPOSIÇÃO DE UM MODELO
TEÓRICO
Vinícius Batista Gonçalves (Universidade Federal de Lavras )
vinigoncalves@yahoo.com.br
Daniela Meirelles Andrade (Universidade Federal de Lavras )
danimeirellesandrade@hotmail.com
Monique Scalco Soares Siqueira (Universidade Federal de
Lavras )
moniquescalco@gmail.com
Nélida Reis Caseca Machado (Universidade Vale do Rio Verde )
nelidacaseca@gmail.com
A Teoria do Fato Social desenvolvida pelo sociólogo francês Émile
Durkheim apresenta regras para observação e estudo dos fenômenos
sociais, externos e coercitíveis, tendo como cenário a sociedade
detentora de uma consciência própria (realiddade sui generis
Palavras-chave: Anomia. Émile Durkheim. Funcionalismo.
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1 Introdução
A importância de Durkheim para a consolidação da sociologia enquanto ciência é uma
afirmação inatacável. Em sua obra As Regras do Método Sociológico, Durkheim estabeleceu
uma série de critérios para estudos da sociologia enquanto ciência, afirmando a necessidade
de utilizar métodos objetivos para análises, afastando do objeto de estudo concepções de
cunho metafísico ou subjetivo, não sujeitas a comprovação por parte do investigador, devendo
ser analisados com o mesmo rigor dos eventos da natureza (QUEIROZ, 2017).
A Teoria do Fato Social, destarte, foi um marco na história da sociologia ao ser o
primeiro estudo a estabelecer critérios sistemáticos de análise da sociedade, exercendo forte
influência nas pesquisas até os dias atuais (WEISS; BENTHIEN, 2017), não só no campo da
sociologia, como também no da antropologia, lingüística, direito, teologia, psicologia e
historiografia francesa (CABRAL, 2004).
Entretanto, sua teoria se encontra dispersa, ou seja, fragmentada em três de suas obras,
quais sejam: A divisão do trabalho social (1893), As regras do método sociológico (1895), O
suicídio (1897). Na primeira obra, o sociólogo apresenta conceitos fundamentais como o de
anomia e tipos sociais, e, implicitamente, o método para análise dos fatos sociais
(DURKHEIM, 2010). Posteriormente, no segundo estudo, são expostos os atributos e a
metodologia para análise do fato social. Por derradeiro, na terceira, Durkheim aplica sua
teoria para estudo do suicídio, enquanto fato social (DURKHEIM, 2010). A fragmentação de
alguns pontos de sua teoria poderia ser um limite ao pesquisador para compreendê-la
sistematicamente como um todo, seja de modo teórico ou aplicado.
Destarte, diante da relevância da teoria elaborada por Durkheim para estudo dos fatos
ocorridos na sociedade, a presente pesquisa tem como objetivo realizar um estudo de natureza
descritiva para compreender a Teoria do Fato Social, associando, de modo sistemático, os
conceitos, métodos e aplicações encontradas nas obras do próprio autor e, por conseguinte,
elaborar um modelo teórico de análise da corrupção.
A importância do estudo está na compreensão da teoria de Durkheim, a partir da análise
da corrupção como fato social, por meio de uma visão funcionalista do fenômeno, sendo que
tal fato é um desafio para as sociedades modernas, por ser recorrente e generalizado nas
instituições (GALICIA; GAULT; LEPORE, 2015). Não obstante, a análise da corrupção pela
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abordagem durkhemiana permite estudar o fenômeno de modo objetivo, sendo um
prolongamento da condição social na qual o indivíduo está inserido, em detrimento de
explicações de cunho meramente subjetivo.
2 A Construção Teórica do Fato Social
A teoria do fato social de Durkheim é elaborada por meio de conceitos e raciocínios
apresentados nos estudos do sociólogo e envolvem os trabalhos desenvolvidos sobre a
solidariedade social, as regras do fato social e o suicídio. Dessa forma, serão buscados
subsídios teóricos nos referidos estudos para a sistematização da teoria de Durkheim.
2.1 O Fato Social da Solidariedade
A formação da Teoria do Fato Social de Durkheim encontra sua gênese na obra Da
Divisão do Trabalho Social publicada em 1893. Nela, Durkheim trabalha os conceitos de
solidariedade mecânica e solidariedade orgânica, influenciado por concepções
evolucionistas, como as dos estudos de Comte, Spencer e Tönnies, bem como conceitos
fundamentais para interpretação do fato social, como, por exemplo, a noção dos tipos sociais
em que se classificam as sociedades e a anomia (VARES, 2013). Portanto, o objetivo de
Durkheim é encontrar a causa para o fato social da solidariedade nas sociedades modernas.
A divisão do trabalho se desenvolve na medida em que avança a história, porém qual
seria sua causa? As sociedades primitivas evoluíram para sociedades modernas, na medida em
que o número de indivíduos em relação ao território (densidade material) e a qualidade da
comunicação e trocas entre eles se intensificaram (densidade moral) e geraram a
especialização das tarefas, conduzindo a uma interdependência entre os indivíduos, também
denominada pelo sociólogo de solidariedade orgânica. Portanto, esta solidariedade aproxima
os indivíduos nas diferenças oriundas das relações econômicas presentes nas organizações
sociais modernas (VARES, 2013).
Durkheim, ainda no estudo sobre a solidariedade social, elabora observações a respeito
da anomia, também presente em sua teoria do fato social, por meio da questão da divisão do
trabalho anômica. Normalmente, a divisão do trabalho incide na solidariedade orgânica.
Entretanto, em situações excepcionais, pode provocar uma espécie de desintegração social
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(anomia). Trata-se de um período de desestabilização das normas sociais. A anomia, portanto,
surge quando a divisão do trabalho não foi capaz de estabelecer contatos eficazes ou
regulamentações adequadas entre os indivíduos da sociedade, durante o processo de transição
das sociedades tradicionais para as industriais (CABRAL, 2004). Em razão da rápida
industrialização, as regulamentações econômicas e morais não conseguem acompanhar as
novas situações advindas da remodelação das condutas sociais. A solidariedade orgânica,
oriunda da divisão do trabalho, seria a panacéia para restaurar a ordem social, em razão dos
elos sociais que estabelece e do controle moral que avoca (DURKHEIM, 2010).
Portanto, o estudo da solidariedade desenvolvido por Durkheim pode ser compreendido
por meio do esquema apresentado na Figura 1.
Figura 1 - O fato social da solidariedade
Fonte: Elaborado pelo autor com base na teoria de Durkheim
A figura 1 descreve a evolução da sociedade primitiva para a sociedade moderna, por
meio da noção de fato social de Durkheim. Nas sociedades primitivas, a consciência coletiva,
formada pelos costumes, crenças e sentimentos dos indivíduos, conduz a um sistema de
coesão social denominado de solidariedade orgânica. Devido ao aumento da densidade
material (crescimento da população) e da densidade moral (intensificação das comunicações e
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trocas), tem-se a origem da divisão do trabalho social, ou seja, a especialização das funções
dos indivíduos na sociedade, capaz de conduzir a uma nova forma de coesão, característica
das sociedades modernas: a solidariedade orgânica. A divisão do trabalho gera uma
dependência entre os indivíduos, na medida em que cada um possui uma atribuição
especializada no grupo social. A anomia acontece quando a divisão do trabalho não foi capaz
de estabelecer regulamentações adequadas entre os indivíduos da sociedade (DURKHEIM,
2010).
Destarte, o estudo sobre o fato social da solidariedade incidiu na construção de
conceitos chaves para a teoria do fato social de Durkheim, como a definição de tipos sociais e
da anomia, bem como o estabelecimento da noção de causa e efeito, na qual um fato social
advém de um fato anterior. Outro ponto relevante da teoria utilizado nesse estudo, diz respeito
à ausência de concepções de cunho subjetivo para explicar os fatos sociais.
2.2 As Regras da Teoria do Fato Social
Durkheim buscou elaborar regras metodológicas de investigação e explicação capazes
de legitimar a sociologia enquanto ciência, com o intuito de situá-la no campo do
conhecimento e diferenciá-la das demais ciências. Para tanto, definiu como objeto de estudo o
fato social, sendo que a proposição fundamental (princípio do método sociológico) consiste na
assertiva de que os fatos sociais são fenômenos sociais passíveis de uma investigação objetiva
(DURKHEIM, 2000).
O sociólogo critica a indiferença na definição de um método de estudo dos fatos
sociais demonstrada até então pelos sociólogos da época, como Stuart Mill e Spencer. Para o
autor, ocorrem na sociedade determinados fenômenos com características específicas que não
são estudados pelas outras ciências, como, por exemplo, as crenças e as práticas da vida
religiosa, os deveres como cidadão e os inerentes às relações de trabalho. São maneiras de
agir, pensar e sentir que existem independentes da vontade do indivíduo (DURKHEIM,
2007). De acordo com a definição apresentada pelo sociólogo:
É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de
exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda
maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao
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mesmo tempo, possui uma existência própria, independentemente de
suas manifestações individuais (DURKHEIM, 2007, p. 13).
Dessa forma Durkheim (2007) estabelece a existência de características essenciais
presentes na definição do fato social, quais sejam a coercibilidade, a exterioridade e a
generalidade.
A coercibilidade é um atributo que caracteriza o fato social como uma força imperativa,
coercitiva, que impõe determinado modo de agir ou pensar ao indivíduo, independente de sua
manifestação de vontade, para que o indivíduo siga os fins coletivos. É identificável pela
ocorrência de sanções ou resistências face àquele que tenta agir de modo diverso da conduta
definida na sociedade (DURKHEIM, 2007).
Quando o indivíduo age conforme o fato social, a coerção não se manifesta ou pouco se
faz sentir, o que não a desclassifica como uma característica de tais fatos, uma vez que irá se
manifestar assim que o indivíduo resistir ao padrão de conduta (DURKHEIM, 2007).
A coerção é a característica mais importante para delimitar os fatos sociais, pois nem
todos apresentam o mesmo grau de imposição, variando desde o receio de sanções até o
enquadramento voluntário às regras sociais. A coerção advém de crenças e práticas
constituídas e possui diversos sentidos como, por exemplo, regras jurídicas, máximas morais,
dogmas religiosos ou sistemas financeiros (CABRAL, 2004). Quando a coerção é manifestada
externamente por reação direta da sociedade, como no caso do direito, é mais fácil de ser
constatada, ao contrário de quando ocorre indiretamente.
Os fatos sociais são exteriores porque extrapolam o âmbito do indivíduo e sua
consciência privada, demonstrando que a sociedade prevalece e antecede o indivíduo. A
anterioridade dos fatos sociais aos indivíduos pode ser entendida sob o prisma histórico e o
conceitual. O primeiro diz respeito à condição de que todos nascem em um mundo já
constituído. Quanto ao segundo, consiste no fato de o indivíduo ser apenas um elemento fruto
de múltiplas interações de determinada sociedade.
A generalidade, por seu turno, é a característica do fato social que remete às crenças e às
práticas difusas em determinado grupo ou sociedade, excluindo do campo de estudos da teoria
durkheimiana os acontecimentos que não se revestem de certa extensão social, e que,
portanto, não merecem maior atenção das ciências sociais por serem meros fenômenos ou
acasos (DURKHEIM, 2007).
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A teoria do fato social envolve critérios metodológicos rigorosamente definidos, desde a
caracterização do objeto de estudo, perpassando pelo modo em que deve ser estabelecida a
relação entre pesquisador e objeto, até a explicação sobre as causas e efeitos do fato. Contudo,
ainda não se discutiu a aplicação estruturada da teoria criada por Durkheim, isso é possível
em seu estudo sobre o suicídio.
2.3 A Teoria do Fato Social Aplicada ao Estudo do Suicídio
O fato social do suicídio é o estudo sociológico clássico mais relevante sobre o
fenômeno, no qual Durkheim estabelece uma teoria sociológica do suicídio cujas causas são a
regulação e integração social (CLEGG; CUNHA; REGO, 2016; TEIXEIRA, 2016). O estudo
do suicídio possibilitou a demonstração dos princípios delimitados em seu tratado
metodológico (DURKHEIM, 2000; CARLOS; D'AGORD, 2016), permitindo analisar como o
fato social afetava a Europa e quais seriam as possibilidades para saná-lo.
Durkheim definiu o suicídio como a "morte que resulta direta ou indiretamente de um
ato, positivo ou negativo, realizado pela própria vítima e que ela tem consciência que
produziria esse resultado" (DURKHEIM, 2000, p. 14). O sociólogo investigou o suicídio
como um comportamento social a partir de acontecimentos particulares (CARLOS;
D'AGORD, 2016; ROMERO; GONETT, 2013), com fundamento na premissa de que a
sociedade regula os indivíduos, sendo a taxa de suicídios um efeito da ação social reguladora
(CARLOS; D'AGORD, 2016). O aumento da modernização e da urbanização levou a quebra
da coesão social (KUSHNER; STERK, 2005), em razão do declínio da integração social e da
regulamentação social.
O suicídio para Durkheim (2000) é um fato social, independente das questões
psicológicas dos indivíduos, refutando, portanto, explicações psicopáticas, bem como
hereditárias, cósmicas e de imitação. Dessa forma, por exemplo, a integração social, ou seja,
"o grau em que os indivíduos são integrados em agrupamentos sociais através do
compartilhamento de valores e significados comuns" (CLEGG; CUNHA; REGO, 2016, p.
394 e 395), seria capaz de explicar as variáveis das taxas de suicídios.
Destarte, o suicídio como fato social proposto por Durkheim pode ser sintetizado a
partir da figura 2.
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Figura 2 - O fato social do suicídio
Fonte: Elaborado pelo autor com base na teoria de Durkheim
A figura 2 demonstra uma sistematização do estudo de Durkheim sobre o suicídio
enquanto fato social. O desenvolvimento da sociedade primitiva para a moderna, por meio do
aumento da densidade material e moral, foi capaz de incidir em uma nova forma de coesão
social, pautada pela divisão do trabalho social: a solidariedade orgânica. O suicídio, portanto,
é explicado pelo grau de integração do indivíduo na sociedade. Quando o suicídio decorre de
uma integração excessiva, tem-se a sua forma altruísta. Quando há uma individualização
descomedida (baixa integração do indivíduo na sociedade), pode se manifestar o suicídio em
sua forma egoísta. Todavia, esse processo de evolução das sociedades pode incidir em um
estado de anomia quando há um descompasso temporal entre a divisão do trabalho e as
normas.
3 Modelo Teórico Analítico Durkheimiano da Corrupção
Considerando a natureza estrutural e funcionalista que permeia os primeiros trabalhos
de Durkheim, será utilizado o conceito de corrupção proposto pela Teoria da Modernização.
Nos dizeres de Huntington (1975, p. 72), a “corrupção é o comportamento de autoridades
públicas que se desviam das normas aceitas, a fim de servir à interesses particulares”. O
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fenômeno, nessa perspectiva, consiste em ações desviantes das normas e regras do sistema,
em sociedades subdesenvolvidas ou em desenvolvimento. Portanto, a corrupção ocorre no
hiato político entre modernização e institucionalização (HUNTINGTON, 1975).
Dessa forma, fundamentado especificamente na teoria do fato social desenvolvida por
Durkheim, tratando a corrupção como um fato social patológico decorrente de um estado de
anomia social, caracterizado pela confusão ou ausência de normas sociais de conduta, propõe-
se o modelo teórico de análise da corrupção, conforme FIGURA 3.
Figura 3 - Modelo teórico analítico da corrupção como fato social patológico durkheimiano
Fonte: Elaborado pelo autor com base na teoria de Durkheim
A Figura 3 parte da premissa durkheimina pela qual a explicação dos fatos sociais deve
ser encontrada na natureza da vida social, sendo que os aspectos psicológicos dos indivíduos
são insuficientes para explicá-los. Afirma o sociólogo que “a origem primeira de todo
processo social de alguma importância deve ser na constituição do meio social interno”
(DURKHEIM, 2007, p. 114). A concepção de vida social, como algo externo ao indivíduo,
torna-se necessária para que o fato seja conceituado por meio de critérios objetivos, afastando
conceitos e métodos confusos e buscando características que o distingue dos demais fatos.
A corrupção é um fato social patológico, inerente ao estado de anomia, que consiste na
confusão ou ausência de normas sociais capazes de controlar os anseios particulares de cada
indivíduo. O fato social da corrupção influencia o modus operandis das instituições e dos
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indivíduos, que, por conseguinte, replicam e propagam tal fenômeno na sociedade, reforçando
a sua existência. Portanto, de acordo com a Figura 3, têm-se as seguintes categorias de
análise: anomia; corrupção como fato social patológico; instituições sociais; indivíduos.
A anomia é um estado recorrente nas sociedades, ocorrendo quando os valores e a
moral são moldados pelo capital, sendo a solidariedade social abalada pela prevalência das
paixões individuais sobre o coletivo (DURKHEIM, 2000). Diante das rápidas transformações
das sociedades, as regulamentações econômicas e morais não conseguem se adaptar no
mesmo ritmo em que ocorrem as alterações das condutas sociais, incidindo em uma
desestabilização das normas. Partindo-se do pressuposto de que os altos níveis de corrupção
são nocivos para o desenvolvimento saudável do organismo social, sua ocorrência pode ser
averiguada face à desestabilização das regulamentações econômicas e morais.
De acordo com Huntington (1975), a corrupção ocorre de modo mais intenso durante
momentos de modernização acelerada, como ocorridos nos últimos três séculos, nos quais os
valores básicos da sociedade são rapidamente alterados e novas fontes de riquezas são
geradas. Em analogia aos estudos de Durkheim sobre o suicídio, têm-se a corrupção anômica,
como um fato social resultante do estado de anomia. A corrupção consiste, portanto, em um
obstáculo ao desenvolvimento político, social e econômico (TRANSPARENCY
INTERNACIONAL, 2017), ou seja, sua função é manter o estado anômico
Este estado de anomia é uma condição na qual as normas sociais e morais são confusas,
pouco esclarecidas ou simplesmente ausentes, consistindo em um campo propício para a
ocorrência de práticas de atos eminentemente privados em detrimento do interesse dos demais
membros da sociedade. A anomia, destarte, pode ser analisada diante da desorganização ou
ausência de normas sociais, da ocorrência de diversas condutas delituosas e da impunidade
dos agentes corruptos.
Quando a corrupção atinge níveis capazes de desestabilizar a ordem social, torna-se um
fato social patológico e, portanto, deve ser combatida. Essa natureza mórbida é o que
diferencia a corrupção enquanto fato social patológico da corrupção como um fato social
normal. Em países como a Dinamarca, a Nova Zelândia e a Finlândia, que ocupam o topo da
lista dos países menos corruptos do mundo (TRANSPARENCY INTERNACIONAL, 2017),
apresentando níveis controlados do fenômeno, a corrupção não representa uma ameaça à
ordem social. Diferente do que acontece em países como o Brasil, submerso em uma crise
política e econômica claramente influenciada e acentuada pelos altos níveis de corrupção.
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Ainda de acordo com o modelo, o fato social da corrupção se posiciona em uma
realidade acima do indivíduo para demonstrar sua coercitividade e exterioridade. A coerção
denota a noção de imposição, imperatividade. A característica da coerção do fato social pode
se manifestar de dois modos. O primeiro diz respeito a um constrangimento ou sanção direta
em razão do não seguimento do padrão de conduta. a imposição indireta diz respeito à
necessidade de seguir determinados procedimentos para obter êxito na atividade desenvolvida
(MOUSSE, 2011). O fato social é externo porque já se encontra constituído no meio social e
não depende da individualidade dos membros da sociedade para existir.
Dessa forma, a corrupção como fato social de natureza patológica pode ser averiguada
por meio de informações sobre a anterioridade (exterioridade) do caso de corrupção aos
indivíduos envolvidos, de dados referentes ao enriquecimento ilícito dos agentes buscando
verificar a coercibilidade do fato social, diante de condutas realizadas com o intuito de auferir
um êxito social, e da análise dos impactos do caso na ordem social. Caso seja um fenômeno
capaz de causar desestabilização na sociedade, moldando as regras das instituições,
independentemente da vontade do indivíduo, estar-se-á diante de um fato social patológico.
A função do fato social patológico da corrupção é manter o estado de anomia que vigora
no âmbito social. Para tanto, a corrupção é reproduzida na arquitetura das instituições sociais,
enquanto estruturas formais ou informais da sociedade que regulam os comportamentos
sociais, como, por exemplo, as instituições políticas e jurídicas, que por seu turno agem
moldando a conduta dos indivíduos, perpetuando o estado de desregramento.
Portanto, a relação entre o fato social da corrupção e as instituições sociais, pode ser
verificada pela influência que tal fenômeno exerce sobre a constituição dessas instituições,
bem como pela existência de membros de diversos órgãos e entidades envolvidos nas práticas
delituosas, sejam de natureza pública, como o Poder Legislativo, ou privada, como as pessoas
jurídicas particulares.
O fato social da corrupção age direta ou indiretamente, por meio das instituições sociais,
determinando o modo de agir do indivíduo, ser humano pertencente à determinada sociedade.
Todavia, ao replicar o comportamento determinado pelo fato social, o indivíduo reforça o
modo de conduta nas instituições e na sociedade, contribuindo, portanto, para existência do
fato social.
A corrupção, enquanto fato social, é geral na extensão da sociedade, abrangendo de
modo difuso os seus membros. Não se trata de uma maneira de fazer específica de um
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determinado indivíduo, mas sim um modo de agir de um conjunto de indivíduos, presentes em
diversas instituições, partidos políticos, localidades, etc.
Logo, a categoria indivíduo, presente no modelo teórico de análise da corrupção como
fato social durkheimiano, pode ser verificada pela generalidade do modo de agir das pessoas,
pelo envolvimento de atores de diversas instituições e locais daquela sociedade, bem como
pela constatação de que a conduta delituosa independe do espectro político seguido pelo
agente corrupto, ou seja, de direita, de centro direita, de centro, de centro esquerda ou de
esquerda.
Destarte, o presente modelo analítico da corrupção como um fato social durkheimiano
pode ser utilizado para verificar e compreender a corrupção em países como o Brasil, no qual
o fenômeno perdura desde a formação da administração pública, arraigado em suas
instituições e costumes, permitindo estudar e compreendê-la como um prolongamento da
condição social na qual está incluso o indivíduo.
4 Considerações Finais
As obras de Durkheim possuem importância indubitável para construção da sociologia
enquanto ciência, consistindo em um legado ímpar para os estudos da sociedade. Apesar dos
diversos temas de estudo propostos pelo sociólogo como a solidariedade social, o suicídio e a
religião, sua maior contribuição foi a elaboração de conceitos e métodos teóricos gerais para
analisar a constituição e as causas dos fenômenos sociais.
Este estudo buscou elaborar um modelo teórico de análise da corrupção baseado em
conceitos e métodos teóricos durkheimianos. Trata-se de um fenômeno que consiste em um
empecilho para o desenvolvimento político, econômico e social, na medida em que acentua a
desigualdade, além de contribuir para a precariedade dos serviços básicos prestados pelo
Estado, como educação, saúde e infraestrutura urbana, em razão dos desvios de verbas do
erário ou do direcionamento das decisões dos governantes para favorecer interesses privados.
O modelo é fundamentado no raciocínio estrutural-funcionalista de Durkheim, no qual a
sociedade funciona como um grande sistema, onde o fato social, as instituições e os
indivíduos são engrenagens de toda a estrutura da sociedade. Tal modelo possibilita analisar e
compreender o fenômeno da corrupção na sociedade, permitindo a elaboração de ações
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capazes de limitar sua ocorrência e danos para a sociedade, fortalecendo a solidariedade social
por meio dos grupos com força para regulamentar a vida social que se encontra desagregada.
A corrupção é um fenômeno social que, prima facie, pode parecer individual. Todavia,
assim como o suicídio, não é resultado de um temperamento pessoal do indivíduo, mas sim
um prolongamento de uma condição social. É diante dessa concepção, que o presente trabalho
foi concluído na perspectiva de novos estudos teóricos para análise do fato social da
corrupção, bem como de estudos de aplicação do modelo a casos concretos.
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Resumo O centenário da morte de um autor é uma ocasião que convida à reflexão sobre o sentido e as consequências de seu legado. Neste texto, procuramos pontuar alguns elementos biográficos de Émile Durkheim (1858-1917), que ajudam a situá-lo em seu contexto original e, sobretudo, delinear alguns dos principais aspectos que caracterizam sua recepção nas ciências sociais no decorrer dos últimos cem anos. O argumento que apresentamos aqui é que há, pelo menos, três tipos de apropriações: Durkheim do senso comum sociológico, Durkheim dos durkheimianos e Durkheim interlocutor das teorias sociais. Ao mesmo tempo, apontamos como os seis textos que integram o presente dossiê dão testemunho dessa diversidade de leituras possíveis, bem como da vivacidade da presença de Durkheim nas ciências sociais contemporâneas. Esperamos que este seja um convite a uma compreensão crítica e complexa da história da nossa própria disciplina.
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Resumo As Formas Elementares da Vida Religiosa é a última grande obra que Émile Durkheim publicou em vida. Sua importância para a sociologia, antropologia e áreas afins é inequívoca, o que fez e faz do livro um clássico das Ciências Sociais. Tal referência que passou a ser ocorreu acompanhada de determinadas avaliações e interpretações. Dentre essas, destacam-se aquelas que veem As Formas Elementares, positiva ou negativamente, como um ponto de ruptura no interior do projeto intelectual durkheimiano. O presente trabalho, tomando como referencial o conjunto da obra do sociólogo francês, e passando em revista os argumentos dos autores que identificam na obra de 1912 uma nova abordagem, mostra que a religião sempre esteve presente nas preocupações - nos planos social e científico - de Durkheim. Como será exposto, se, por um lado, a maneira de tratar o fenômeno religioso foi gradativamente se modificando, por outro, a concepção e elaboração de As Formas Elementares da Vida Religiosa não prescindiram dos recursos teóricos e metodológicos formulados e operacionalizados nas obras precedentes. Ou seja, mostrar-se-á que, ao invés de ruptura, há uma linha de continuidade entre as primeiras e aquela última obra de Émile Durkheim.
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The purpose of this article is to analyze the establishment of anti-corruption agencies (ACA) as an organizational strategy to address the problem of systemic corruption. With this objective, we present a longitudinal analysis of the case of Argentina, which allows us to discern lessons and recommendations to confront this problem. Systemic corruption is a public problem that occurs when different sectors of society and the government have built networks of organized corruption. Corruption, in this logic, is a “systemic” phenomenon because different social actors establish as one of its objectives to create and preserve the conditions of profitability, enabling to keep the “machinery” of corruption running in a balanced and consistent form. This document states that the creation of an ACA requires to be thought of as a long-term strategy, to facing step by step and with “answers” ad hoc to the specific relational conditions of every society. Particularly, because the corruption networks usually use their resources and influence to derail to the agency itself. For this reason, we propose the following research questions: what are the main challenges that a situation of systemic corruption imposes to an ACA as organization?; and what are determined strategies by an ACA in order to survive and be able to face the conditions of systemic corruption in a country? One contribution of this study is to affirm that an ACA is not simply an organizational tool dedicated mainly to punish and control through reports and information flows. In fact, an ACA is a social creature, which over time requires legitimacy and a strategy.
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Este artigo tem como objetivo analisar os conceitos de “solidariedade mecânica” e “solidariedade orgânica”, empregados por Durkheim em seus primeiros trabalhos, recorrendo aos debates teóricos e interpretativos que estão na base de uma vasta literatura especializada e, assim, tentar compreender os motivos que o levam a abandonar os referidos conceitos no decorrer de seus trabalhos. Pretende-se, portanto, verificar se essa “ausência” é resultado de uma revisão teórica, ou apenas uma solução pragmática, na medida em que considera essas chaves-interpretativas pressupostas em sua obra.
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The theme of this paper is the functionalist sociology in terms of its influence on the organizational studies. First, it focuses on the works of Durkheim. Then, it focuses on the supremacy of the functionalist approaches in the field of organizational studies. The paper is made up of four parts. The first analyzes the emergency of the social sciences in such a way as to trace back the evolution of the field to the works of Durkheim. The second, based on the works of Burrel and Morgan (1979), examines the funcionalist paradigm in terms of its origins and expoents. In this section, special emphasis is given to the works of Comte and Spencer as a means to the understanding of Durkheim's thought and sociology. The third part summarizes the life and works of Durkheim. The last part analyzes the status quo of the organizational studies in terms of their epistemological and ontological assumptions as a way to point out the supremacy of the positivistfuncionalist approaches in the field.
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This article focuses on the not always explicit dialogue between Émile Durkheim and Michel Foucault on the issue of suicide. It seeks to summarize both authors' approach to the subject by showing the conceptual network in which they acquire meaning. It also discusses the way in which Durkheim understands morality as a vital requirement for the happiness of the indi-vidual, as opposed to Foucault's politicization of death as an act of resistance against particular forms of administering life. © 2013. Universidad Nacional Autónoma de MÉxico-Instituto de Investigaciones Sociales.
Explaining Suicide in Organizations: Durkheim Revisited
  • S Clegg
  • M P E Cunha
  • A Rego
CLEGG, S.; CUNHA, M. P. E.; REGO, A. Explaining Suicide in Organizations: Durkheim Revisited. Business and Society Review, v. 121, n. 3, p. 391-414, 2016.
As Regras do Método Sociológico. 3. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ______. Da divisão do trabalho social
  • E Durkheim
DURKHEIM, E. As Regras do Método Sociológico. 3. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ______. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
Oslimites do capital social: Durkheim, suicídio e coesão social
  • H I Kushner
  • C E Sterk
KUSHNER, H. I.; STERK, C.E. Oslimites do capital social: Durkheim, suicídio e coesão social. American Journal of Public Health, v. 95, n. 7, p. 1139-1143, 2005.
Émile Durkheim. Fato Social e Divisão do Trabalho
  • R Mousse
MOUSSE, R. (org). Émile Durkheim. Fato Social e Divisão do Trabalho, Ed. Ática, 2011.