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As museologias insurgentes: pesquisa e reflexões para transformar a Museologia na Bélgica

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Abstract

Este artigo apresenta ao público brasileiro o projeto de pesquisa “Les muséologies insurgées: échanges transnationaux”, da Universidade de Liège, Bélgica.Sob a denominação genérica de museologias insurgentes são repertoriadas e analisadas diversas tendências, escolas e vertentes da Museologia que vêm renovando o campo desde pelo menos meados do século XX e que no Brasil de hoje deram lugar à potente Museologia Social. Com estes estudos o projeto pretende propor uma renovação da Museologia na Bélgica, a partir de abordagens mais plurais, inclusivas e comprometidas com o presente.
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ISSN 2238-5436
DOSSIÊ
As museologias insurgentes:
pesquisa e reexões para transformar a
Museologia na Bélgica
Les muséologies insurgées:
recherches et reexions pour transformer
la Muséologie en Belgique
Manuelina Maria Duarte Cândido1
DOI 10.26512/museologia.v9i17.29790
Este texto pretende apresentar ao público brasileiro o projeto de pes-
quisa “Les muséologies insurgées: échanges transnationaux”, desenvolvido na Uni-
versidade de Liège, Bélgica, onde sou a professora responsável pela área de
Museologia desde 2018. Tal projeto tem como objetivo maior o estudo de di-
versas correntes ou tendências contemporâneas da Museologia chamadas aqui
genericamente de museologias insurgentes. Tratam-se, grosso modo, de formas
de pensar e praticar a Museologia ainda pouco conhecidas na Bélgica, e com
este projeto eu pretendo reunir interessados em estudá-las e eventualmente
em experimentá-las. Para tal, constituí um grupo de estudos, cadastrei o projeto
e venho realizando e organizando conferências, além de oferecer anualmente a
disciplina Seminários de Museologia: museus e museologias insurgentes. Outra
estratégia do trabalho é impulsionar a retomada dos Cahiers de Muséologie da
Universidade de Liège com destaque para a publicação da Museologia Social
brasileira e estimular a tradução e publicação em francês e, eventualmente, tam-
bém em inglês, de textos brasileiros nesta revista.
O projeto de pesquisa é, portanto, fundamentalmente realizado fora do
Brasil, mas integra uma linha do Grupo de Estudo e Pesquisa em Museologia
e Interdisciplinaridade (Geminter), da Universidade Federal de Goiás (UFG),
1 Université de Liège – PPGAS/UFG. E-mail: manuelin@uol.com.br
Resumo
Este artigo apresenta ao público brasileiro o
projeto de pesquisa “Les muséologies insur-
gées: échanges transnationaux”, da Universi-
dade de Liège, Bélgica. Sob a denominação
genérica de museologias insurgentes são re-
pertoriadas e analisadas diversas tendências,
escolas e vertentes da Museologia que vêm
renovando o campo desde pelo menos me-
ados do século XX e que no Brasil de hoje
deram lugar à potente Museologia Social.
Com estes estudos o projeto pretende pro-
por uma renovação da Museologia na Bélgica,
a partir de abordagens mais plurais, inclusivas
e comprometidas com o presente.
Palavras-chave
Museologias insurgentes. Museologia Social.
Brasil. Bélgica
Résumé
Cet article présente le projet de recherche
«Les muséologies insurgées: échanges trans-
nationaux», de l'Université de Liège, Belgique,
au public brésilien. Sous le nom générique de
muséologies insurgées, plusieurs tendances,
écoles et aspects de la Muséologie qui ont
rénové le domaine depuis au moins le milieu
du XXe siècle et qui au Brésil ont aujourd'hui
cédé la place à la puissante muséologie socia-
le sont reétés et analysés. Avec ces études
le projet entend proposer un renouveau de
la muséologie en Belgique, basé sur des ap-
poches plus pluriels, inclusifs et engagés dans
le présent.
Mots-clés
Muséologies insurgées. Muséologie Sociale.
Brésil. Belgique.
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Museologias Insurgentes:
pesquisas e reexões para transformar a Museologia na Bélgica
MUSEOLOGIA & INTERDISCIPLINARIDADE Vol. 9, nº17, Jan./ Jul. de 2020
liderado por duas professoras do Programa de Pós-Graduação em Antropolo-
gia Social (PPGAS/FCS/UFG): a autora do presente artigo como líder e Camila
Azevedo de Moraes Wichers, vice-líder e coordenadora da linha “Museologia,
novas epistemologias”. Na Universidade de Liège está vinculado à Unidade de
Pesquisa Art, Archéologie et Patrimoine (UR-AAP).
Este projeto se interessa, de maneira ampla, aos novos temas da Muse-
ologia do século XXI, muitos dos quais com raízes nas ondas de renovação da
Museologia do século passado, que criaram novos movimentos como o Movi-
mento Internacional pela Nova Museologia (Minom) mas também novas práti-
cas e modelos de museus como os ecomuseus, museus de território, museus
de vizinhança e museus comunitários, entre outros. Estas ondas de renovação
(Duarte Cândido, 2003) dos museus e da Museologia apareceram inicialmente
na França e foram disseminadas sobretudo em Portugal, no Canadá, no México
e no Brasil, entre outros países. Mas ao contrário do que se pode pensar no Bra-
sil, em que elas despertaram muito interesse e foram inspiradoras para a pujante
Museologia Social de hoje, na França caíram em desuso, quase em esquecimento,
e por m descobri que na Bélgica elas praticamente não são faladas hoje.
No Brasil não faz muito sentido fazer toda uma revisão da história de
transformação dos conceitos e práticas do campo museal para falar das teorias
contemporâneas, a não ser para não iniciados, pois a potência da Museologia
brasileira hoje suplanta e muito o que foi ensaiado na segunda metade do sé-
culo XX. Ocorre que na Europa a realidade é bem diferente, especialmente no
mundo francófono. Na França, a chamada Nova Museologia perdeu bastante
de sua expressão e disseminação. Entre os jovens estudantes de Museologia as
discussões são essencialmente outras, em torno das relações entre museus e o
mundo digital, entre museus e economia da cultura e entre diversos campos das
chamadas Ciências da Informação, onde eventualmente a Museologia é incluída.
Aquela Museologia prenhe de utopias, de relação com o social, militante e en-
gajada que viu luz em experiências como o Ecomuseu do Creusot-Montceau
não é praticamente falada e ensinada, e é muitas vezes associada pelos jovens
estudantes a reminiscências datadas de uma geração que viveu o Maio de 68.
Na Bélgica não é muito diferente, e o fato de haver somente uma formação em
Museologia limita ainda mais a diversidade de concepções. Embora uma forma-
ção universitária em Museologia não seja exigência para atuar no campo e os
percursos sejam múltiplos, com a designação de museólogo sendo construída
especialmente a partir da prática em museus, a inuência do até recentemente
chamado Séminaire de Museólogie2 da Universidade de Liège no campo é no-
tória, tanto no que diz respeito à bibliograa – o livro La Muséologie de André
Gob e Noémie Drouguet está na 4ª edição e foi traduzido em diversas outras
línguas, inclusive, desde 2019, em português – e Gob presidiu durante 12 anos
o Conselho de Museus, responsável pelo reconhecimento ou não de museus
na Bélgica francófona, a Valônia. O Decreto Real de 17 de julho de 2002 que
estabeleceu os critérios para reconhecimento dos museus da região chamada
Wallonie-Bruxelles em quatro categorias é também largamente baseado nas
ideias de Gob, que por sua vez não diferem muito do que é consensuado entre
gestores de grandes museus belgas, de forma que estas posições teóricas são
hegemônicas na região3.
2 Trata-se, na verdade, de um mestrado especializado em Museologia. Vale lembrar que a partir de 2020
passamos a adotar a denominação Service de Muséologie, em consideração a uma iniciativa de padronização
dos diferentes serviços da Faculdade de Filosoa e Letras da Universidade de Liège.
3 É preciso explicar que se trata de um país marcadamente dividido do ponto de vista administrativo em
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Neste contexto, por exemplo, a proposta de nova denição de museus
discutida pelo Conselho Internacional de Museus (Icom) na Conferência Geral
de 2019 em Quioto, Japão, tende a ser radicalmente rechaçada, assim como na
França4. Além do entendimento, com o qual posso concordar, de que ela é lon-
ga, pouco estruturada e pouco ajuda a dizer o que não é museu, um fator impor-
tante para sua aplicabilidade nas legislações nacionais, há divergências assentes
em concepções de mundo e de cultura muito distantes das nossas no Brasil. As
críticas apontam que a denição ‘alternativa’ é ideológica, como se a atual fosse
neutra. Demonstram incômodo com termos associados ao perl dos museus
como “participativos”, “polifônicos”, “transparentes”, não enxergam precisão em
expressões como diálogo e colaboração ativa, incomodam-se com a presença
de palavras como “espécimes” ao lado de “artefatos”. Cabe ressaltar que na
Bélgica, como na França, a Museologia é uma especialidade da História da Arte
e Arqueologia (assim mesmo, juntas, como se fossem um só campo que passarei
a citar como HAA). Desta forma, causa muito estranhamento associar patri-
mônio imaterial e outras categorias de acervos a discussões sobre Museologia.
Não raro, mesmo falando de assuntos vastos como documentação de acervos, a
expressão usada é documentação de obras de arte. Quase não se falam de itens
ou de objetos de museu, mas de obras (donde se subtende – de arte). Assim
como na França, o campo museal (e, por consequência, o objeto da Museologia),
é restrito às instituições museais, e o mundo do patrimônio é relativo a outros
campos do conhecimento que não possuem muita relação com a Museologia.
Dito isto, acho que ca fácil perceber as enormes distâncias entre con-
cepções de Museologia entre a Bélgica e o Brasil, diferenças estas, que mesmo
sem desconsiderar a diversidade possível de abordagens dentro de um mesmo
país (por exemplo, entre cursos oferecidos da École du Louvre, na Sorbonne Nou-
velle ou na Universidade d’Artois, para citar somente alguns exemplos france-
ses), existem também, em grande medida, com relação a outros países europeus,
como pude perceber ao receber aluno(a)s da Itália e da França em intercâmbio,
e ver que suas percepções sobre meus cursos vinham carregadas de estranha-
mento, tanto quanto as dos estudantes belgas.
Assim, em certa medida, cou claro desde o início que mesmo discus-
sões que pareceriam no contexto brasileiro já superadas, precisavam ser tra-
zidas como novas, por exemplo, a existência de paradigmas que levam a Muse-
ologia para além do estudo dos museus e dos seus objetos para o estudo de
uma relação especíca do homem com a realidade (Mensch, 1994: 03). Muitas
destas mudanças de paradigmas, como armei anteriormente, remontam até
mesmo à 2ª metade do século XX e a discussão sobre o alcance e a potência
da Museologia no Brasil contemporâneo vai muito além, mas nos primeiros
três regiões, Flandres (região amenga, com 59% da população do país), Wallonie (a Valônia, com 31%), e
a Comunidade Germanófona no leste, na fronteira com a Alemanha, onde se fala residualmente o alemão.
Bruxelas, a capital do país, bastante cosmopolita, é também capital da União Europeia. É considerada um
enclave de língua francesa no território amengo e abriga 10% da população. As regiões de Flandres e
Valônia diferem em quase tudo em aspectos culturais e econômicos. Aquela fala o amengo, que é muito
próximo do holandês, é uma região hoje economicamente mais rica e com uma cultura próxima do mundo
anglo-saxão. A Valônia tem uma tradição industrial e de exploração de minas que decaiu economicamen-
te, nela fala-se o francês. Esta região hoje carrega uma pecha de ser menos moderna e cosmopolita que
Flandres, e há ainda outras diferenças em termos políticos, evidenciados nas últimas eleições, quando na
Valônia ganharam os socialistas, e em Flandres a direita, e até a extrema-direita tiveram maior expressão.
4 Algumas críticas foram extremamente duras e cheias de juízo de valor ou até sarcasmo, como Didier
Rykner, que se refere a Jette Sandahl (Presidente do Comitê do ICOM sobre Denição de Museu, Pers-
pectivas e Potenciais, MDPP) como “cette dame” que quer nos “impor” uma nova denição que segundo
ele, parece uma piada e pode ser comparada a “um discurso de Miss França”. Ao nal ainda conclui o
texto chamando o Icom à responsabilidade de não deixar a denição de museus nas mãos de “aprendizes
de bruxos” (Rykner, 2019).
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contatos percebi que estas ideias, que se não são unânimes no Brasil, tampou-
co parecem muito inovadoras hoje, na Bélgica revestiam de estranhamento e
exotismo toda minha forma de pensar e apresentar a Museologia. Considerada
desde o primeiro momento uma abordagem “não-ocidental”, esta Museologia
foi vista de imediato como algo rebelde e insubmissa, de forma que me pareceu
evidente que não havia outra posição para eu assumir neste novo contexto do
que a ótica decolonial.
Assim surgiu o projeto de pesquisa Les muséologies insurgées: échanges
transnationaux. Primeiro do reconhecimento que a Museologia assumiu, desde
meados do século XX, novos contornos conceituais em diferentes geograas,
especialmente a partir da demanda de sujeitos emergentes no mundo dos mu-
seus e do patrimônio por epistemologias simétricas e decoloniais. Percebendo
o quanto isto tudo parecia extraordinariamente novo para alunos, colegas e ato-
res do campo museal belga5, salvo raras exceções, entendi que era necessário
introduzir o tema a partir destas referências francófonas. Esta estratégia fez-se
necessária para quebrar algumas barreiras, que rapidamente associavam minhas
ideias a algo imaginado ou aplicável só no contexto da América Latina.
O título do projeto no plural visava destacar exatamente a pluralidade
iniciativas, de tendências, de origens geográcas e, ao invés de centrar esforços
nas tendências mais atuais e em experiências talvez muito distantes da realidade
belga, apresentar um leque amplo de possiblidades e estimular a reexão de
como estas diversas inuências poderiam inspirar uma renovação das práticas
museais naquele território. Assim, ao lado da Nova Museologia procuro falar da
Museologia Comunitária, da Ecomuseologia, da Altermuseologia, da Museologia
da Ruptura, da Museologia do Ponto de Vista, da Museologia Popular, da Muse-
ologia da Libertação, da Museologia Social, da Sociomuseologia, da Museologia
Alternativa, da Museologia Crítica, da Museologia Cidadã, da Museologia Parti-
cipativa, das museologias indisciplinadas e afetadas, etc., sem necessariamente
defender a liação a uma delas, mas mostrando exatamente a existência de
muitas formas insurgentes de pensar a Museologia, que podem ser inspiradoras
de muitas maneiras.
O projeto de pesquisa tem, portanto, um forte traço de estudo biblio-
gráco busca repertoriar e estudar textos, autores e experiências, mas também,
eventualmente, experimentar estas noções em projetos de Museologia aplicada
próximos da pesquisa ação (Thiollent, 1986). Em seu início, com apenas três
integrantes6, sendo, além de mim, um doutorando em Museologia oriundo do
Burundi, Édouard Nzoyihera, e uma belgo-francesa que havia também passado
pela formação em Museologia na Universidade de Liège (nível de mestrado) e
que agora trabalhava no mundo dos museus, Mélanie Cornelis, estabelecemos
uma estratégia de reuniões regulares para troca de informações sobre o campo
museal no Brasil e na Bélgica, buscando também compreender alguns aspectos
do campo museal em países da África que Nzoyihera estava estudando. Mas
o foco era, essencialmente, compreender que características socioculturais do
Brasil e da Bélgica levaram estes dois países a desenvolverem formas de expres-
são museais tão distintas, e que diculdades teríamos que enfrentar em nossas
tentativas de experimentar as museologias insurgentes na Bélgica.
5 Mesmo em relação à Nova Museologia francesa, tão conhecida no Brasil e com a qual, pela proximidade
linguística e geográca poderia ser esperada uma anidade maior da Bélgica.
6 Hoje são 11 integrantes: Manuelina Maria Duarte Cândido, Édouard Nzoyihera, Mélanie Cornelis, Noé-
mie Drouguet, Marie Lekane, Kim Cappart, Obay Al Bitar, Chloé de Sousa Veiga, Barbara Ferreira de Aveli-
no, Giulia Gulli, Marie-Paule Jungblut.
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Assim, construímos um primeiro texto juntos, para apresentação na 25a
Conferência do Icom em Quioto, Japão, em 2019 (Duarte Cândido, Cornelis,
Nzoyihera, 2019). Entre seus objetivos estava a reexão sobre o potencial de
aplicação de conceitos da Museologia Social na Bélgica francófona e os limites
impostos pela realidade. Esta comunicação sugeria pensar, em torno do tema
proposto pelo Icofom, do futuro da tradição em Museologia, se a Nova Muse-
ologia francesa, já considerada como uma tradição epistemológica, poderia ser
ela mesma renovada à luz do que vem sendo desenvolvido especialmente nas
últimas décadas no campo museal brasileiro.
Para tal, retomamos o contexto de renovação da Museologia na Europa
e na África na 2ª metade do séc. XX, o que, pelas razões já expostas, não repeti-
rei aqui. Também apresentamos em linhas gerais o universo museal da Fédération
Wallonie-Bruxelles (FWB), dados que precisam ser retomados aqui para que o
leitor brasileiro compreenda melhor este contexto.
Aspectos demográcos e paisagem museal na Fédération Wallonie-
-Bruxelles (FWB)
A Bélgica inteira não possui mais que 31 mil km2 e 12 milhões de habi-
tantes, mas o projeto mencionado concerne somente à região Fédération Wallo-
nie-Bruxelles (FW-B), correspondendo a 4,3 milhões de habitantes distribuídos
em 17 mil km2, incluindo Bruxelas.
Esta região conta com cerca de 500 museus, 19% deles na capital. O mo-
delo de gestão mais comum é a constituição de Associação sem ns lucrativos
(ASBL) que podem ser iniciativas ou não do poder público, mas signicam uma
gestão à parte, com captação de recursos junto ao governo e a outras fontes,
incluindo os recursos provenientes de ingressos e boutiques de museus. Os
funcionários dos museus geralmente são contratados pelas ASBLs, e elas são
responsáveis por todas as despesas de sua manutenção, como eventual aluguel7,
contas de eletricidade, telefonia, etc., mesmo nos museus públicos.
As estruturas administrativas responsáveis por museus na Valônia repro-
duzem as do país, quais sejam: o Estado Federal como nível mais importante,
seguido por regiões (Valônia, Flandres e Bruxelas – capital), Communautés (ter-
mo dicilmente traduzível como comunidade, que no Brasil tem outro sentido,
e na Bélgica correspondem a Fédération Wallonie-Bruxelles, Communauté amande
e Communauté germanophone), as Provinces (semelhantes aos estados brasileiros
cinco em Flandres e cinco na Valônia) e as Communes (algo próximo do que são
no Brasil os municípios, 589 no total). Assim, existem museus federais8, provin-
ciais e comunais (ligados a uma Commune), além do Musée Royal de Mariemont
que tem um estatuto diferenciado.
Uma diferença essencial entre o setor no Brasil e na Bélgica francófona
é que o reconhecimento dos museus pelo Conselho de Museus corresponde
também à atribuição de uma subvenção (decreto de 17 de julho de 2002)9. Este
reconhecimento, também diferente do que ocorre no Brasil, dá-se em quatro
diferentes categorias, segundo as quais o nível de exigência e o valor do subsí-
dio variam. Até o m de 2019 as categorias eram A, B, C e instituição museal.
7 As vezes um poder público apoia o museu com a cessão de um espaço físico.
8 Que são quatro : Musées Royaux des Beaux-arts de Bruxelles, Africa Museum em Tervuren, Institut des Scien-
ces Naturelles de Bruxelas, Musée d’Art et d’Histoire de Bruxelas.
9 Um novo decreto entrou em vigor em 1º de janeiro de 2020, mas grosso modo, as regras permanecem
semelhantes. Vide https://www.gallilex.cfwb.be/document/pdf/46902_000.pdf
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É especialmente nesta última categoria que ocorreram as alterações, da forma
como é nomeada, aos critérios. O pedido de reconhecimento deve partir dos
museus e era válido, assim como o subsídio, por quatro anos (cinco, no novo de-
creto), podendo ser renovável ao m de cada período, mediante nova aprecia-
ção dos dossiês. Em 2018 cerca de 80 museus eram reconhecidos e nenhuma
instituição museal10 havia solicitado reconhecimento enquanto tal.
A Bélgica possui uma população multicultural formada especialmente
por pessoas de origem em outros países europeus como Itália, França, Holanda,
Espanha, Alemanha, Portugal, Grã-Bretanha e Polônia. Possui também uma forte
presença de romenos, turcos e africanos do sul e do norte do continente. Em
2015 ocorreu uma onda migratória com a demanda de asilo realizada por 40 mil
pessoas, o dobro do ano anterior. Em seguida as taxas se estabilizaram em torno
de 15 mil demandas anuais, vindas de nacionalidades que representam as crises
humanitárias e políticas no exterior, a exemplo dos sírios, os mais numerosos
desde 201411. No artigo de Duarte Cândido, Cornelis, Nzoyihera (2019) aparece
a pergunta sobre qual o lugar desta diversidade cultural na paisagem museal da
Bélgica francófona. Em termos de política cultural global, o texto sublinha a pre-
sença marcante da diversidade cultural como fundamento das políticas culturais
segundo o Observatoire des Politiques culturelles de la Fédération Wallonie-Bruxelles
e em diversos documentos como a Declaração de Política Comunitária que por
sua vez se baseiam em princípios defendidos pela Unesco12.
Porém, a representatividade da diversidade cultural em exposições tem-
porárias e de longa duração (ditas permanentes) nos museus belgas não faz face
a esta realidade. Os museus e exposições optam por representar singularidades
regionais e culturas populares locais, como exemplicado pelos autores pela
própria denominação de certos museus: le Musée de la vie wallonne (Liège), la
Maison tournaisienne (Tournai), le Musée Gaumais (Virton), le Musée de la Ville de
Bruxelles, le Musée de la Famenne (Marche-en-Famenne), etc. Mesmo as raras ins-
tituições que adotaram a denominação de ecomuseus privilegiam não aspectos
da atuação comunitária e social, mas realçar saberes e fazeres em vias de desa-
parecimento, o patrimônio rural e industrial e a vida cotidiana de populações
locais.
Aspectos demográcos e paisagem museal no Brasil
Como contraponto à realidade belga, tomamos, naquele artigo, a rea-
lidade museal e museológica brasileira. É que a partir desta perspectiva nosso
projeto de pesquisa busca pensar que contribuições podemos tirar para uma
renovação da Museologia na Bélgica. Trata-se de uma realidade sociocultural
demasiadamente diferente, o Brasil sendo um país de 8,5 milhões de km2 e que
possui cerca de 210 milhões de habitantes. Esta enorme população está con-
centrada sobretudo na costa e nos grandes centros urbanos, mas em relação
ao território ainda sinaliza uma densidade demográca inferior à média mun-
dial. Comparativamente à belga, trata-se de uma população jovem, com grandes
taxas de natalidade e expectativa de vida mais baixa. Os índices de desenvolvi-
10 Para evitar dúvidas, instituições museais no decreto de 17 de julho de 2002 são instituições que exer-
çam funções de aconselhamento e orientação a museus, e não, como poderiam compreender os brasilei-
ros à luz de seus próprios entendimentos dos conceitos do campo, processos ou instituições museais que
não se denominem museus ou que não exerçam inteiramente suas funções.
11 MYRIA (Centre fédéral de migration), La migration en chiffres et en droits, 2016 : https://www.myria.be/
les/MIGRA16_FR_AS.pdf
12 http://www.opc.cfwb.be/index.php
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mento humano IDH são mais baixos e encontram-se estagnados, com o recuo
recente em políticas sociais.
Faz-se desnecessário detalhar neste artigo, como naquele que era volta-
do ao público estrangeiro, aspectos da diversidade étnica da população brasilei-
ra, bem como a imposição de valores coloniais e os movimentos de resistência
de populações originárias ou oriundas da diáspora africana. Destaco o fato da
Constituição de 1988, a primeira pós-democratização e conhecida como Cons-
tituição Cidadã, reconhecer a diversidade intrínseca à nossa identidade cultural,
inclusive nos artigos que fazem referência ao patrimônio cultural brasileiro.
Cabe destacar as ondas recentes de imigração de origem latino-ame-
ricana, africana e europeia que neste início de século XXI incluem o Brasil em
novas dinâmicas migratórias geradas por guerras (caso dos imigrantes haitianos)
e crises econômicas no exterior: “o panorama imigratório contemporâneo do
Brasil é este: os imigrantes representam 1% da população total do Brasil,
maior cifra desde o período colonial brasileiro que remonta aos séculos XVI a
XVIII.” (Uebel & Rückert, 2017: s. p.) Tais processos não ocorrem desprovidos
de tensões, como ocorreu recentemente na fronteira entre Brasil e Venezuela, e
é sabida a existência do trabalho de imigrantes em situação análoga à escravidão,
por exemplo, os grupos de bolivianos empregados em confecções em São Paulo.
No que tange ao cenário museal, segundo dados do Instituto Brasileiro
de Museus, Ibram, o Brasil possui 3.700 museus, mas, mesmo assim, 80% dos
brasileiros jamais visitou um museu. Embora a vinculação administrativa mais
frequente seja a municipal, 41,1% (Ibram, 2011), 78,9% dos municípios não pos-
suem instituição museal – a concentração se dá na costa e nas cidades mais po-
pulosas do sudeste e sul do país (67%). O campo museal reproduz as enormes
desigualdades sociais, econômicas e regionais do país e a baixa frequência indica
a necessidade de ações ligadas à inclusão. Felizmente entre os prossionais de
museus uma consciência destes desaos e o país se destaca no campo da
ação educativo-cultural em museus (vide a forte atuação no Comitê para Ação
Educativa e Cultural do Conselho Internacional de Museus – Ceca-Icom, inclu-
sive ocupando sua presidência e recebendo prêmios de boas práticas).
Na ausência ou fragilidade de políticas públicas para o campo, destaca-se
o forte associativismo que fez nascer um enorme conjunto de redes temáticas
e territoriais formadas por museus e por seus prossionais, como as redes de
educadores de museus, presentes em quase todos os estados, redes de muse-
ologia social, redes de museus indígenas, rede de coleções e museus universitá-
rios, entre outras.
Além das redes, vários estados possuem seus sistemas de museus, a
exemplo do Sistema Estadual de Museus de São Paulo, criado em 1986 (Mi-
zukami, 2014). Desde 2004 o país passou a contar com o Sistema Brasileiro de
Museus (SBM)13, cuja criação fez parte da Política Nacional de Museus (PNM)
lançada em 2003. Com a criação do Ibram em 2009 houve um fortalecimento
do setor museal brasileiro, visto seu papel nas políticas públicas para o setor,
malgrado o fato de gerir diretamente somente 29 museus do antigo Ministério
da Cultura. Havendo no Brasil museus municipais, estaduais e federais, além dos
privados, os museus federais estão distribuídos por vários ministérios, sobre-
tudo o Ministério da Educação, responsável por cerca de quatro centenas de
museus das universidades federais.
Ao contrário da FW-B, o Ibram não trabalha exatamente com um pro-
13 https://www.museus.gov.br/sistemas/sistema-brasileiro-de-museus/
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cesso de reconhecimento dos museus. Após um mapeamento inicial dos mu-
seus em que foi admitido inclusive a informação sobre instituições auto-identi-
cadas como museus, o Estatuto de Museus estabeleceu, a partir de 2009, uma
normatização para o setor. Entretanto, malgrado o prazo estabelecido de cinco
anos para os museus se adequarem à norma, somente agora, mais de 10 anos
depois, o Ibram se organiza para iniciar um processo de scalização e validação.
Por um lado, os critérios foram tomados como orientações ‘pedagógicas’ em
um primeiro momento, por outro, a ausência de scalização – e de exclusões –
permitiu uma expansão do campo, com a multiplicação de iniciativas marcadas
pela inventividade e pela imaginação museal (Chagas, 2003).
A criação do Cadastro Nacional de Museus (CNM) em 2006 pretendia
reunir e tratar estes dados sobre a diversidade museal brasileira. Dele resulta-
ram publicações como a já mencionada Museus em Números. Desde 2015, face
à constatação da impossibilidade do Ibram sozinho (e cada vez mais fragilizado
em termos de recursos humanos e nanceiros) realizar uma missão tão vasta,
o Instituto vem buscando realizá-la por meio da Rede Nacional de Identicação
de Museus (ReNIM) e de uma plataforma colaborativa chamada MuseusBR, que
permite a “qualquer pessoa pode contribuir na tarefa de mapear as institui-
ções de memória do país, os eventos promovidos, as ações culturais desenvol-
vidas nessa área e ainda ajudar a manter atualizadas as informações divulgadas”.
(IBRAM, s. d.).
Lições de um percurso museológico contra-hegemônico
A autora do presente texto se encontra desde julho de 2018 afastada
da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde tem em suspenso seu cargo de
docente de Museologia e continua como professora Permanente do Programa
de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS-UFG), devido à aprovação
em concurso público para professora efetiva de Museologia da Universidade de
Liège.
Este deslocamento não somente físico, mas simbólico, tem ao mesmo
tempo me permitido e exigido múltiplas aprendizagens e adaptações. No novo
contexto não sou uma professora comum no meio universitário, mas uma imi-
grante. E não uma imigrante como meus colegas que parecem se solidarizar
com minhas diculdades de compreensão do modo de fazer as coisas, vários
deles vindos da França ou da Suíça francófona (sem sair, portanto, sequer do
mesmo espectro idiomático): eu sou uma “não-ocidental” e tudo é exótico em
minha maneira de ministrar as aulas ou me relacionar com os alunos, segundo
relatos que chegaram até mim. Do meu lado também a sensação de estranha-
mento me acompanha cotidianamente, não só no trabalho, mas como é de se
esperar, em todas as facetas deste novo lugar no mundo.
Ao anunciar, ainda na fase de seleção do concurso, os projetos de pes-
quisa que pretenderia desenvolver em caso de aprovação, mencionei a continui-
dade de dois projetos em desenvolvimento na UFG, como seria natural. Ocorre
que nos primeiros cursos e diálogos foi cando patente a necessidade de pensar
um projeto novo, a partir da premissa de que a própria presença aqui de uma
professora imigrante latino-americana, com a bagagem que tenho de ter vivido
até então sempre no Brasil (salvo poucos meses durante o pós-doutorado na
França) é de certa forma insurgente ou decolonial. Por mais que muitas leitu-
ras e referências minhas no campo da Museologia fossem da França, o aparato
teórico que eu mobilizo inclui também autores do leste-europeu, da Península
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Manuelina Maria Duarte Cândido
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Ibérica e da América Latina, praticamente desconhecidos ne Bélgica (ou, no caso
daqueles, quando conhecidos, refutados).
Também no que diz respeito aos museus, os estudos de caso, as expe-
riências que valorizo e analiso nos cursos, certamente passam por geograas
pouco habituais para os belgas, que privilegiam, para além dos museus do pró-
prio país, os da França, da Itália, e do Canadá e, com menos ênfase, da Holanda,
da Inglaterra e de um ou outro país da Europa Ocidental, mas bem pouco de
Portugal e Espanha, menos ainda da América Latina.
O que poderia ser tido como vantagem, a interessante possibilidade
de contato dos alunos com novos contextos e realidades, caso eu fosse uma
palestrante eventual, é recebido de outra maneira pelo fato de que sou titular
de seis disciplinas de mestrado, responsável pelo Serviço de Museologia, o que
quer dizer que oriento todas as dissertações de mestrado e teses de doutorado
nesta linha, e ministro ainda a única disciplina de (Introdução à) Museologia no
bacharelado, por sua vez, obrigatória. Minha presença põe em xeque, portanto,
um regime de autorização discursiva, pois sou o “outro”, mas em uma posição
que “naturalmente” não me seria destinada. Diante do exposto, não me restava
outro espaço acadêmico a não ser assumir esta situação de alteridade e criar o
projeto aqui referido,Les muséologies insurgées: échanges transnationaux”.
Sua concepção partiu também de um certo reconhecimento imediato
de que o campo da Museologia de onde venho é mais plural, pois bebemos mui-
to nas fontes da Museologia europeia, sobretudo francesa ou inglesa, mas tam-
bém nos aventuramos pela Museologia do leste europeu e, por anidades lin-
guísticas, pelas museologias de Portugal e Espanha. Também buscamos aqui e ali
referências na Museologia canadense ou norte-americana, mas não ignoramos
(ainda que devêssemos conhecer melhor) as museologias latino-americanas e,
em menor grau, tentamos conhecer alguma coisa das museologias africanas e
orientais. O que saltou aos olhos nos primeiros contatos com os alunos foi o
desconhecimento, por exemplo sobre a Nova Museologia francesa, que inclu-
sive parece ter uma penetração bem mais profunda no Brasil que na Bélgica,
não obstante as variáveis linguísticas. Cabe, porém, ressaltar que os alunos que
chegam ao mestrado em Museologia são provenientes de formação em nível de
bacharelado em História da Arte e Arqueologia, e grosso modo possuem em
seu histórico somente a disciplina de Introdução à Museologia já mencionada.
Curioso notar que o desconhecimento é similar seja entre estudantes belgas,
seja entre os oriundos mesmo da França ou ainda da Itália, que já tive oportuni-
dade de receber em sala-de-aula14.
A pluralidade do campo da Museologia no Brasil é certamente resulta-
do de uma ampla gama de possibilidades de formação, sobretudo hoje que o
país possui 15 cursos de bacharelado, cinco de mestrado e mais um doutorado,
além de um curso técnico. Mas também do fato de que a universidade pública
gratuita e a inexistência de algumas barreiras para ingresso no curso superior
como notas de corte e não desvalorização de percursos acadêmicos pouco
lineares permitem que no Brasil a Museologia seja, muitas vezes, a segunda ou
terceira graduação de um aluno, e que seus mestrados e doutorados recebam
estudantes com trajetórias em áreas tão distintas quanto Arquitetura, Direito
ou Publicidade. A pluralidade se deve ainda ao fato de que muito da produção
na área vem também de pessoas que zeram parte de sua formação no exterior
ou que, antes do aumento da oferta de cursos no Brasil, realizaram pesquisas
14 Em intercâmbios ligados ao programa Erasmus ou ainda como migrantes e ingressantes no sistema
acadêmico belga.
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Museologias Insurgentes:
pesquisas e reexões para transformar a Museologia na Bélgica
MUSEOLOGIA & INTERDISCIPLINARIDADE Vol. 9, nº17, Jan./ Jul. de 2020
em temas da Museologia mas em caminhos acadêmicos distintos, como em
Ciências Sociais, Educação, Comunicação, História, Arqueologia, Arquitetura e
muitos outros. Esta multiplicidade de caminhos não é de todo estranha à Bélgica,
visto que há apenas quatro teses de doutorado defendidas em Museologia15 nes-
tes 20 anos de existência do Serviço de Museologia da Universidade de Liège
e são considerados museólogos não somente os que concluíram o Mestrado
em História da Arte e Arqueologia orientação geral nalidade especializada em
Museologia, formação que ofertamos, mas muitas pessoas que construíram seu
percurso na prática em museus, vindas de outras formações. Porém, ao contrá-
rio do Brasil, raramente as pesquisas de quem faz estes outros percursos aca-
dêmicos contribui efetivamente para a construção da Museologia como campo
e sendo assim, a produção acadêmica interessada em Museologia se restringe às
dissertações de mestrado e aos raros doutoramentos mencionados. Um campo
desta forma restrito (não na prática em museus, mas na reexão museológica)
pesa especialmente quando se precisam de doutores, como por exemplo, para
compor os juris de mestrados, pois não há um grande leque de opções, seja do
ponto de vista quantitativo ou mesmo de pontos de vista distintos, pois os pou-
cos doutores disponíveis são provenientes da mesma formação e orientação.
É preciso situar este relato-reexão na primeira pessoa em um con-
texto mais amplo da circulação de pessoas e saberes em um mundo cada vez
mais marcado pela construção de novas fronteiras e pelo isolacionismo. Após
o fenômeno da globalização temos um novo recuo identitário em que nações
se enclausuram em suas bolhas16, conforme denunciado por Achille Mbembe ao
advogar pela ética de “passagem, circulação e transguração”. Mbembe arma
que A condição de ser negro não se refere mais necessariamente à cor
da pele. O negro tornou-se pós-racial. Na era do pós-capitalismo,
o ‘negro’ não é apenas o colonizado, mas a forma genérica do su-
balterno, do oprimido. Dentro da própria Europa, a Grécia – sob
o jugo da ‘Troika’ europeia, para quem a democracia é inútil frente
aos tratados europeus de primazia – também viu-se relegada à po-
sição do ‘negro’ da União Europeia. (Mbembe, 2020)
A categoria que me foi então atribuída, de não-ocidental, leva-me a re-
etir como posso, nesta posição de poder em que me encontro, e onde minha
própria presença causa algum estranhamento, contribuir para a construção de
formas mais plurais de pensar a Museologia, colocando minha bagagem a serviço
de possibilidades de ruptura e insurgência epistemológica.
Museus e patrimônio imaterial
Uma das facetas da Museologia brasileira que pode contribuir muito
para a renovação da Museologia belga é a que associa o patrimônio imate-
rial aos museus. Não que na Bélgica inexistam museus que trabalhem nesta
interface, mas ela ca associada quase exclusivamente aos chamados museus de
sociedade. E museus de sociedade aqui tomados em sua acepção mais clássica,
de categoria que engloba museus de arte e tradições populares, de etnograa
ou etnologia regional e ans (Drouguet, 2015). Não em uma concepção mais
15 V er http://web.philo.ulg.ac.be/museologie/theses-de-doctorat/
16 Caberá ainda ao futuro uma análise do impacto sobre este fenômeno da pandemia de COVID-19
em 2020, quando o fechamento (de início, temporário) de fronteiras e o apelo ao retorno dos cidadãos
aos seus países de origem levou a uma reconsideração de fronteiras que se pretendiam mais permeáveis,
inclusive entre países da própria Europa.
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abrangente que Drouguet defende, aquela que considera museus de sociedade
não uma tipologia, mas um novo paradigma museológico marcado por quatro
aspectos:
- ruptura com a ancoragem exclusivamente disciplinar – renúncia a uma
disciplina de base, em nome da interdisciplinaridade;
- afastamento dos projetos museais centrados no objeto e na coleção;
- valorização do patrimônio imaterial – particularmente por meio dos
testemunhos orais;
- centralidade do contemporâneo, especialmente a partir da faceta da
participação (Drouguet, 2016: 12-13)
Esta autora belga, que se dedicou a estudar exatamente os museus de
sociedade, tema de sua tese de doutorado, é uma exceção, ao propor uma
Museologia indisciplinada e na qual museus de sociedade sejam um paradigma.
Grande parte dos atores do campo pensam-no a partir de tipologias, em que a
centralidade está posta a partir de museus de arte e arqueologia, o que explica
que a formação em Museologia seja pensada como uma especialização possível
quase exclusivamente a quem vem da História da Arte e Arqueologia17. Claro
que o fato desta tese ter sido elaborada e defendida no Serviço de Museologia
da Universidade de Liège mostra uma vontade de abertura, mas ainda limitada
por muitas circunstâncias.
Já no Brasil, diversos fatores contribuíram para que os museus estives-
sem mais próximos dos patrimônios ditos imateriais, seja pela menor exuberân-
cia de suas coleções de arte, pela riqueza excepcional e diversidade do patrimô-
nio imaterial brasileiro, ou mesmo pelo fato da Arqueologia, para falar somente
de uma das disciplinas, estar tão próxima da Antropologia e propor conexões
entre culturas pretéritas e povos ainda remanescentes, por meio de trabalhos
etnoarqueológicos, por exemplo. Também podemos perceber na Museologia
brasileira contemporânea a forte inuência da Mesa-redonda de Santiago do
Chile, que cunhou, em 1972, o conceito de museu integral ou integrado (sobre
esta discussão ver Duarte Cândido, 2003). Com este conceito bem incorporado
às práticas museais, as instituições brasileiras tendem, mais frequentemente, a
conectarem a coleções que preservam com a dinâmica do patrimônio imaterial
e com suas paisagens de origem, tornando mais tênues os limites entre suas
ações intra e extra-muros, por exemplo.
Por diversas razões, ao contrário, as ações extra-muros são ainda pou-
co usuais na Bélgica. Seja porque parecem sair do escopo do museu segundo
as acepções mais clássicas, seja porque coleções de museus muitas vezes não
possuem realmente relação de continuidade com seu entorno, pois fazem parte
dos grandes movimentos de desterritorialização de coleções, ou mesmo por
motivos mais ‘prosaicos’, como o fato de que os modelos de gestão baseados
em ASBLs que amealham recursos em várias fontes18 e os combinam com as
receitas geradas por suas atividades. Isto leva, implicitamente, a que os museus
17 Importante lembrar que ao contrário daquilo vivenciado no Brasil, onde a Arqueologia repercute o
projeto four-eld anthropology de Franz Boas, segundo o qual a Arqueologia é, juntamente com a Linguís-
tica, a Etnologia e a Antropologia Física, um dos quatro campos da Antropologia, a Arqueologia europeia se
aproxima dos estudos clássicos e é um ramo da História da Arte.
18 Recursos públicos são captados junto à administração local, provincial, federal e de turismo, por exem-
plo, mas nenhum destes é responsável por uma manutenção integral do museu. Por outro lado, quanto
maior o número de intervenientes nas nanças do museu, a mais critérios e exigências ele deve responder,
diminuindo sua exibilidade e autonomia nos projetos. Por exemplo, um apoio da área do turismo pode
exigir um número de horas de abertura maior, e mesmo uma taxa de visitação por turistas que obrigue o
museu a priorizar atividades para este público.
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pesquisas e reexões para transformar a Museologia na Bélgica
MUSEOLOGIA & INTERDISCIPLINARIDADE Vol. 9, nº17, Jan./ Jul. de 2020
priorizem um público pagante e que possa também consumir na lojinha e no
restaurante do museu, comprar catálogos, etc.
O Brasil viveu, em seguida à Constituição de 1988, uma expansão da
noção de patrimônio, com a valorização do patrimônio imaterial, que ganhou,
a partir do Decreto 3.551/2000, seus mecanismos legais de proteção, antece-
dendo até mesmo as Convenções da Unesco relativas à matéria19. Em seguida,
estados brasileiros criaram suas próprias leis atinentes ao patrimônio imaterial.
É o caso do Ceará20 cuja lei destaco também pelo fato de, para além da criação
das categorias previstas na Lei Federal como saberes, celebrações, formas de ex-
pressão e lugares, ter criado ainda outras duas: Guardiães da Memória e Mestres
da Cultura Tradicional Popular. Estas permitem, portanto, a valorização de pes-
soas vivas reconhecidas por duas comunidades e detentoras de um patrimônio
que elas são capazes de transmitir às futuras gerações.
No segundo caso, uma lei especíca do mês de agosto de 200321 já es-
tabelecia o Registro dos Mestres da Cultura Tradicional Popular, por meio do
qual a Secretaria de Cultura do Ceará atribui não apenas um título, mas uma
ajuda nanceira vitalícia de um salário mínimo por mês. A candidatura é aberta
àqueles com comprovada experiência de pelo menos 20 anos no campo da cul-
tura popular (não como pesquisador, mas como detentor dos bens imateriais
relevantes para sua coletividade). A contrapartida obrigatória é a transmissão
deste patrimônio para as novas gerações. O perl destes mestres costuma ser o
de homens e mulheres de classe baixa, comumente sem estudos formais, e cuja
manutenção depende da atividade reconhecida como patrimônio, por exemplo,
um artesanato, uma atividade ligada à agricultura, pecuária ou pesca tradicionais,
ou manifestações culturais ligadas à música, dança e rituais que podem eventu-
almente ser apresentadas para turistas em troca de alguma remuneração.
Em 2006 uma nova lei22 transformou estes Mestres em Tesouros da Cul-
tura Viva. A adoção desta nova categoria chamou muita atenção nas discussões
na Bélgica, onde patrimônio e museus são categorias mais distantes e uma das
poucas aproximações patentes é a classicação de certas peças de acervos de
museus (e de outras instituições) como Tesouros. Os Tesouros são, neste con-
texto, objetos materiais dotados de excepcionalidade. A associação, no Ceará,
do termo Tesouro, a pessoas do povo, surpreendeu integrantes do projeto de
pesquisa, por assinalar uma compreensão mais larga do conceito de patrimônio
em que o elemento humano seja mais valorizado, e no qual sejam pensadas, de
maneira integrada, a perenização dos bens patrimoniais e a sobrevivência de
grupos sociais a eles ligados.
Outras reexões no âmbito do projeto levam também a pensar que
tal categoria só é possível quando há menor hierarquização entre alta cultura
e cultura popular, saber acadêmico e saber popular, indicando que à parte do
ensino formal, a valorização da transmissão de determinados saberes de gera-
ção a geração situa os Mestres ou Tesouros da Cultura Viva como verdadeiras
bibliotecas de saberes populares.
19 Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial (2003) e Convenção sobre a Proteção
e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (2005).
20 Lei 13.427 de 30.12.2003. Estado do Ceará.
21 Lei 13.351 de 22.08.2003. Estado do Ceará.
22 Lei 13.842 de 27.11.2006. Estado do Ceará.
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Considerações nais
O projeto de pesquisa Les muséologies insurgées: échanges transnationaux
ainda se encontra em seu início, buscando agregar diferentes atores interessa-
dos em investigar diversas formas de pensar e praticar a Museologia e imaginar
como elas poderiam inspirar uma renovação na Museologia na Bélgica. Há uma
grande desconança do meio universitário em torno do ativismo e mesmo do
posicionamento político claro. Ideias mais de vanguarda da Museologia Social
sobre o museu como instrumento de luta ainda parecem bastante estranhos
ao contexto museológico e museal belgas, embora aos poucos identiquemos
iniciativas ligadas à participação, à colaboração e à inclusão que são de grande
potencial. Por um lado, os movimentos sociais não necessariamente se inte-
ressaram, até este momento, pelos museus23, salvo algumas iniciativas ligadas a
debates sobre restituições24. Por outro, a única formação em Museologia con-
cretamente é um mestrado dentro de uma formação de História da Arte e Ar-
queologia, e o público que tem acesso a ele não é de maneira alguma ligado aos
movimentos sociais e adentra ao curso com outras expectativas, cujo tempo e
esforço para desconstruir e criar novas bases de reexão podem não ser sem-
pre sucientes, quando o contexto todo leva ao interesse pelo colecionismo e
pela valorização dos objetos tidos como obras de arte excepcionais.
Ainda assim, verica-se, nas ocasiões de apresentações públicas sobre
experiências ou reexões em torno da Museologia Social, um grande interesse,
após o impacto e estranhamento iniciais. O projeto tem procurado criar ocasi-
ões de publicização das ideias como forma de ampliar o debate e a difusão, na
Bélgica, de conceitos, autores, metodologias e experiências das diversas museo-
logias que vamos identicando como insurgentes, também em uma perspectiva
de ampliar mais o escopo e não dar margem ao entendimento de que é uma
tentativa de transferir modelos brasileiros pura e simplesmente. Assim, uma
certa história da Nova Museologia ou da Museologia da Ruptura ajudam a dar
alguma mostra de que na própria Europa outras formas de pensar a Museolo-
gia foram experimentadas. Outros caminhos como a Museologia Comunitária,
a Museologia Crítica, a Museologia Popular, a Museologia do Ponto de Vista, a
Ecomuseologia, a Museologia Alternativa e tantas outras aparecem como forma
de impulsionar a buscas por caminhos que rompam com uma compressão única
e cristalizada da Museologia, sem oferecer um modelo, até porque como es-
trangeira também entendo que são eles, agentes do lugar, que poderão melhor
propor o que se adequa ou não à sua realidade. Vejo meu papel, antes de mais
nada, como o de propor descobrir experiências e pensamentos gerados em
outras geograas e se desfazer de algumas amarras conceituais.
No âmbito do projeto de pesquisa e da construção do texto elaborado
a seis mãos para apresentação na Conferência do Icom de Quioto, elencamos
algumas diferenças entre Brasil e Bélgica que dicultam ainda a aproximação
destas distintas realidades museais e museológicas. Por exemplo, como analisa-
do aqui, a pertinência, na Bélgica, da Museologia a um campo disciplinar especí-
23 Os movimentos sociais que mais mobilizam a população, sobretudo os jovens, na Bélgica, parecem ser
aqueles em torno das questões climáticas e ambientais. Ainda assim, mesmo 2019 tendo sido um ano de
intensa atividade por parte dos ambientalistas, não tivemos conhecimento de que eles tenham se apropria-
do dos museus como forma de difusão de suas ideias e reinvindicações.
24 Mesmo assim, museus como o Africamuseum, de Tervurem, um museu de histórico absolutamente
ligado ao colonialismo belga e que reabriu em dezembro de 2018 após toda uma revisão e renovação em
vista de se descolonizar, declara não haver recebido formalmente nenhum pedido de restituição, até o
momento.
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pesquisas e reexões para transformar a Museologia na Bélgica
MUSEOLOGIA & INTERDISCIPLINARIDADE Vol. 9, nº17, Jan./ Jul. de 2020
co e muito ligado ao universo dos objetos de valor estético excepcional, como
a História da Arte e Arqueologia. Ainda no que diz respeito ao meio acadêmico,
há questões que nos diferenciam como o perl do alunado, muito mais diverso
no Brasil, especialmente após as políticas armativas de ingresso à universidade,
mas também pelo fato de haver cursos noturnos, procurados por um público de
trabalhadores, por exemplo. Na Bélgica, especialmente em determinados cursos,
como é o nosso caso, existe quase nenhuma diversidade no público estudantil,
e mesmo entre mestrandos e doutorandos há pouquíssima variação etária e de
classe social. O corpo discente é basicamente formado por jovens (em geral de
21 a 25 anos) brancos, solteiros, sem lhos, de classe média, e as raras exceções
como imigrantes africanos e refugiados conrmam a regra.
Outros fatores, são relativos a modelos de gestão dos museus, como
os que mencionamos, das associações sem ns lucrativos (ASBLs) que gerem
os museus com recursos amealhados em várias fontes em combinação com
as receitas geradas por suas atividades. Entre as fontes diversas costuma ha-
ver representações de partidos políticos que vão exigir ou evitar determinadas
abordagens, o que pode fazer os museus tentarem manter um discurso que
pareça politicamente neutro. Por sua vez, a necessidade de geração de receitas
próprias leva o museu a se preocupar demasiadamente com temáticas e ações
que atraiam um público cada vez mais numeroso, o que desestimula ações fora
de suas sedes ou que impliquem o não pagamento de entradas, ou ainda um
público que não potencialize as receitas do museu porque não consome para
além do ingresso. Também sobre a gestão, outro aspecto não mencionado, mas
que diculta a renovação, é a inexistência de mandatos. Os diretores de museus
podem ser tirados (raramente) por razões políticas, ou saírem a pedido quando
recebem uma proposta melhor, mas em geral permanecem no cargo até a sua
aposentadoria.
É possível ainda que a diculdade de transformar a Museologia na Bélgica
se dê em razão da importância normativa que é dada à Museologia neste país.
O Conselho de Museus da FW-B, por exemplo, estabelece os critérios segundo
os quais reconhece ou não museus para atribuir-lhes um apoio nanceiro que é
fundamental para sua manutenção, diferentemente do papel do Ibram que con-
tribui nanceiramente como poucos museus em relação ao total dos museus
brasileiros e ainda assim por meio de editais que tocam projetos pontuais, a se-
rem realizados em um ano, e não planos quinquenais de manutenção parcial do
funcionamento dos museus reconhecidos. Contudo, também podemos apren-
der com a Bélgica. Na experiência normativa eles desenvolveram mecanismos
mais complexos e detalhados: o reconhecimento dos museus ocorre em dife-
rentes categorias com critérios e exigências que se adaptam a cada uma delas.
Talvez no contexto brasileiro, que é marcado pela diversidade, valesse a pena
pensar em diferentes categorias de museus, para que os pequenos não cassem
massacrados por exigências que só caberiam às grandes instituições.
Portanto, este projeto de pesquisa, ao pretender contribuir para uma
transformação da Museologia na Bélgica, permite, por meio de estudos compa-
rativos, vislumbrar também aprendizados signicativos para a Museologia bra-
sileira, olhando além das ‘bolhas’ e propondo entre elas movimentos de “passa-
gem, circulação e transguração”.
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O artigo propõe reflexões sobre as diferentes tendências do conhecimento museológico contemporâneo e evidencia alguns dos interesses envoltos nos processos de elaboração, recepção e formação de epistemologias no exercício de (des) construção de Museologias do fazer museológico. Pautado no conceito de “teoria do efeito de teoria” elaborado por Pierre Bourdieu, o texto apresenta algumas das estratégias de conformação de um campo do conhecimento estabelecidas entre a imaginação museal e a imaginação científica. Seguindo essa orientação, o objetivo é realizar mapeamentos de algumas tentativas de classificação de eixos teóricos ou matrizes discursivas que configuram o pensamento museológico contemporâneo. No cenário das Museologias essa atitude metapoética ganhou força a partir da segunda metade do século XX com reflexões sobre os marcos políticos, (po)éticos e epistemológicos a inspirar novas práticas museológicas e reorientar os protocolos de leitura científica. A metodologia se sustenta em análise bibliográfica, tendo como fonte as tendências do conhecimento museológico evidenciadas em literatura museológica nacional e internacional, com ênfase nos artigos que integram o dossiê “Museus e Museologia: aportes teóricos na contemporaneidade”, publicado na Revista Museologia & Interdisciplinaridade, da Universidade de Brasília, Brasil, em 2020.
Gestão de museus, um desafio contemporâneo: diagnóstico museológico e planejamento. 3ª edição. Porto Alegre: Padula Livros, 2019. ________. A pesquisa em Museologia ou... por uma pesquisa adjetivada
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L'écomusée singulier et pluriel. Un témoignage sur cinquante ans de muséologie communautaire dans le monde
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VARINE, Hugues de. L'écomusée singulier et pluriel. Un témoignage sur cinquante ans de muséologie communautaire dans le monde. Paris: L'Harmattan, 2017.