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Mortalidade por Suicídio na Amazônia Legal, Brasil.
Karina Matos, Bacharelanda em Geografia na Universidade de Brasília (UnB),
karinaflavia42@gmail.com;
Eucilene Alves Santana, Pesquisadora Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Geografia
da Universidade de Brasília (UnB), eucilenealves2012@gmail.com;
Helen Gurgel, Profa. Dra. do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília (UnB),
helengurgel@unb.br.
RESUMO
O suicídio é um importante problema de saúde pública em determinados contextos e grupos
sociais. Objetivou-se descrever o perfil das vítimas de suicídio residentes na Amazônia Legal.
Para isto, realizou-se estudo descritivo das Declarações de Óbito no período de 2000 a 2015
a partir do Sistema de Informações sobre Mortalidade. Encontrou-se prevalência do sexo
masculino (79%); entre 15 a 34 anos de idade (55%); indígenas (19,74/100000 hab.); e
enforcamento (X70.0, 45%). É necessária maior compreensão da dinâmica geográfica da
região para o apoio de ações de prevenção ao suicídio.
Palavras-chave: Suicídio; Amazônia Legal; Vigilância em Saúde; Geografia da Saúde; Saúde
Pública.
Mortalidad por Suicidio en la Amazonia Legal, Brasil
RESUMEN
El suicidio es un importante problema de salud pública en determinados contextos y grupos
sociales. Se objetivó describir el perfil de las víctimas de suicidio residentes en la Amazonia
Legal. Para ello, se realizó un estudio descriptivo de las Declaraciones de Óbito en el período
de 2000 a 2015 a partir del Sistema de Información sobre Mortalidad. Se encontró prevalencia
del sexo masculino (79%); entre 15 y 34 años de edad (55%); indígenas (19,74 / 100000 hab.);
y ahorcamiento (X70.0, 45%). Es necesaria una mayor comprensión de la dinámica geográfica
de la región para el apoyo de acciones de prevención al suicidio.
Palabras-clave: Suicidio; Amazonia Legal; Vigilancia en Salud; Geografía de la Salud; Salud
Pública.
Suicide Mortality in Legal Amazon, Brazil
RESUME
Suicide is an important public health problem in certain contexts and social groups. The
objective was to describe the profile of the victims of suicide residing in the Legal Amazon. For
this, it was realized a descriptive study of the Death Certificates in the period from 2000 to
2015 from the Mortality Information System. Male prevalence was found (79%); between 15
and 34 years of age (55%); indigenous peoples (19.74 / 100,000 inhabitants); and hanging
(X70.0, 45%). It is needed greater understanding of the geographic dynamics of the region to
support suicide prevention actions.
Key words: Suicide; Legal Amazon; Health Surveillance; Health Geography; Public Health.
586
1. Introdução
Com cerca de 800 mil casos registrados por ano, o suicídio é um problema mundial de
saúde pública e destaca-se entre as causas de mortes mais frequentes entre jovens de 15 a
29 anos de idade (The Lancet, 2016). No Brasil, é a terceira causa de morte mais frequente
do grupo de óbitos por causas externas e teve 106.374 registros contabilizados entre os anos
de 2007 a 2016, segundo o Ministério da Saúde (2018).
São categorizadas como suicídios as mortes causadas por atos diretos ou indiretos,
inicializados e finalizados por pessoas conscientes do consequente desfecho (Oliveira &
Benedetti, 2018; Durkheim, 2000), e vários autores o caracterizam como um fenômeno
complexo e multifacetado. Dentre eles, Durkheim (2000) considera o suicídio como resultado
de forças coercitivas de uma sociedade, sendo, portanto, um fato além do individual; Oliveira
e Benedetti (2018) discutem que sua origem está envolta por “problemas biológicos, médicos,
ambientais, psiquiátricos e psicológicos filosófico-existenciais e motivações sociais”; e Lovisi
et. al. (2009) realçam a atuação de aspectos culturais, religiosos, sociais e demográficos na
distribuição das taxas de suicídio ao redor do mundo. Outros fatores também devem ser
considerados, como a desigualdade social, a escolaridade, a renda e o desemprego, que são
fatores envolvidos na origem do suicídio, e, portanto, este fenômeno pode ser utilizado como
um indicador indireto do estado de saúde mental de uma população.
Embora a taxa de suicídios (6,5/100.000 hab.) no Brasil seja considerada baixa se
comparada à taxa global de suicídios (10,6/100.000 hab.), segundo dados da Organização
Mundial de Saúde (2016), determinados contextos e grupos sociais do Brasil destoam desse
cenário geral e inespecífico, apresentando taxas que apontam o suicídio como um importante
problema de saúde pública e alertam para a necessidade de se buscar compreender melhor
os fatores de risco de mortalidade para orientar programas de prevenção ao suicídio (Souza
e Orellana, 2013). Essas especificidades podem ser vistas, por exemplo, a partir da
mortalidade por suicídio na região Norte do país, que cresceu 37,2% no período de 2000 a
2012 com maior incidência sobre os homens de idades entre 25 a 59. Nesta região destaca-
se também a sobremortalidade por suicídio dos povos indígenas, os quais se concentram
nesta região, e têm registrado taxas de mortalidade por suicídio mais elevadas se comparadas
às das populações não indígenas (Machado e Santos, 2015).
Por se tratar de um tema bastante sensível, o suicídio é afetado pelo estigma social
que favorece a subnotificação por omissão de registros decorrente da “modificação da causa
básica provocada por solicitação de parentes e da dificuldade, em alguns casos, de
determinar o suicídio de acidente ou de homicídio” (Marín-León e Barros, p. 361, 2003). Dessa
forma, estima-se que os registros de óbitos por suicídio sejam de duas a três vezes maiores
que os presentes nas bases oficiais. Além disso, é preciso considerar a variabilidade na
qualidade das informações sobre óbitos no Brasil visto que, embora o Sistema de Informações
sobre Mortalidade – SIM seja um sistema descentralizado que possui uma grande estrutura
para a coleta, consolidação e publicação das estatísticas de mortalidade desde a década de
1970, é afetado por condições socioeconômicas predominantes nas Unidades da Federação
(Vasconcelos, 2000).
Segundo Viana et. al. (p. 117, 2007), “as desigualdades socioeconômicas e sanitárias,
no país, têm forte expressão territorial, indicando a importância de políticas públicas de corte
regional das várias áreas, incluindo a saúde” que, se vista pela ótica geográfica, expressa as
condições de vida do ser humano. Por esta razão, considerar o território como categoria de
análise nos permite considerar os processos sócio-históricos que orientam as dinâmicas dos
lugares. No Brasil, mais especificamente, as divisões regionais foram produzidas pelo Estado
a partir de critérios diversos que dificultam a efetividade de políticas públicas e acirram
desigualdades sócio-espaciais (Viana et. al., 2007).
A região da Amazônia Brasileira, especificamente, que detém a maior parcela da
população autodeclarada indígena do país e uma dinâmica territorial complexa e
heterogênea, passou a ser intitulada como Amazônia Legal a partir de um conceito político,
587
regulamentado pela Lei 1.806 de 1953, resultado da necessidade do Estado de planejar
economicamente e promover o desenvolvimento da região. Em 1966, com a criação da
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM pela Lei n° 5.173 de 1966, a
Amazônia Legal teve seus limites estendidos, sendo composta atualmente pelos estados do
Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do
Maranhão (municípios a oeste do meridiano 44°).
Entre os anos de 1965 e 1985, a região sofreu a introdução de novos usos para seu
território com efeitos sociais e ambientais que reverberam até hoje na dinâmica econômica,
no desenvolvimento e integração da região com o país e o exterior. A região possui uma
dinâmica territorial diversificada, “marcada pela persistência do ciclo pecuária-
desflorestamento-madeireira, conflitos sociais, grilagem de terras, extração ilegal de madeira
e queimadas”, dentre outras, sobrepostas pela agricultura capitalizada destinada à exportação
e à prática de pecuária moderna de corte que em, muitas vezes, tende a desapropriação das
populações, aumentando os movimentos migratórios intra-regionais e a ampliação das áreas
periféricas das cidades (Viana et. al., p. 119, 2007).
De acordo com o relatório da Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS (2010)
sobre sustentabilidade ambiental e de saúde na Amazônia Legal, no ano de 2000, 70% da
população da região estava concentrada em núcleos urbanos de municípios situados nos
eixos das principais estradas e hidrovias. Esta concentração, dentre outras razões, explica-
se pelas mudanças na estrutura da sociedade regional que resultaram em maior
conectividade e urbanização tornando as cidades como polos atratores de populações em
busca de melhores condições de vida - concentrando, por sua vez, problemas ambientais e
de saúde relacionados ao processo de crescimento populacional e de urbanização com
infraestrutura urbana insuficiente ou precária.
Quando explorados, alguns indicadores de efeitos sobre a saúde da região apontam
para um quadro de saúde bastante heterogêneo. Por exemplo, os estados do Acre,
Amazonas, Roraima, Pará e Maranhão apresentam uma proporção de óbitos por doenças
infecciosas e parasitárias maior que a de todos os estados das demais regiões do país,
enquanto que os estados de Roraima e Amapá apresentam as menores proporções de óbitos
por doenças do aparelho circulatório, porém são responsáveis pelas maiores proporções de
óbitos por causas externas na região, superando até mesmo a proporção da Amazônia Legal.
Desta maneira, os indicadores de efeitos sobre a saúde da população da região apontam para
a combinação de uma tripla carga de doenças, dentro da lógica dos determinantes
socioambientais, vinculadas aos três grandes grupos de causas de mortalidade (OPAS,
2010). Apesar das especificidades relatadas sobre a região, não foram encontrados estudos
analisando a mortalidade por suicídio na região da Amazônia Legal. Dessa forma, com o
interesse de ampliar o conhecimento a respeito da mortalidade por suicídio, este trabalho tem
como objetivo descrever os óbitos por suicídio na Amazônia Legal por pessoa, tempo e lugar.
2. Procedimentos e Métodos
Este trabalho enquadra-se como um estudo transversal e tem como principal fonte dados
secundários das Declarações de Óbito - DO registradas no Sistema de Informações de
Mortalidade – SIM, disponibilizados na plataforma do Departamento de Informática do
Sistema Único de Saúde – DATASUS, do Ministério da Saúde - MS. Foram considerados os
arquivos de todos os meses de todos os anos do período de 2000 a 2015 de todas as
Unidades da Federação - UFs contidas na Amazônia Legal. Os municípios do estado do
Maranhão que não se encontravam dentro do perímetro da região de estudo foram
desconsiderados para a contabilização dos casos de suicídio e da população geral do estado
para os cálculos das taxas.
Os arquivos disponibilizados em formato .dbc pelo DATASUS foram lidos no software
“RStudio” a partir do pacote read.dbc. As variáveis de interesse selecionadas a partir do
588
pacote dplyr foram: tipo de óbito, data do óbito, naturalidade, data de nascimento, idade, sexo,
raça/cor, estado civil, escolaridade, ocupação, código do município de residência e ocorrência
e a causa básica do óbito. Posteriormente, os dataframes com todos os óbitos ocorridos nas
UFs da região no período de estudo foram agrupadas em um só dataframe que foi
transformado em um arquivo de valores em formato .csv, lido no software da Microsoft “Excel”.
No arquivo “Excel”, os óbitos foram filtrados pela variável Causa Básica, e considerados
somente aqueles com códigos entre X60 a X84, referentes às Lesões Autoprovocadas
Intencionalmente – LAI, conforme a Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados com a Saúde – CID 10. A idade ao morrer foi calculada pela
subtração do ano de ocorrência do óbito pelo ano de nascimento da vítima (ano de ocorrência
– data de nascimento). O “Excel” também foi utilizado para as análises a partir da Tabela
Dinâmica e para a construção de gráficos.
As taxas de mortalidade (Tabela 3) foram calculadas utilizando as contagens
populacionais do Tribunal de Contas da União e as médias móveis trienais foram calculadas
para o período de 2001 a 2015 a fim de verificar a tendência da mortalidade por meio da
expressão:
Em que:
nMx se refere à média móvel de óbitos por determinada causa em um período de
tempo específico;
nDx é o número de óbitos por uma causa específica na população residente em
determinado espaço geográfico, no ano t;
t se refere ao ano considerado; e,
é a população total residente ajustada ao meio do ano t.
Como as Declarações de Óbito seguem a padronização da Classificação Brasileira de
Ocupações – CBO para identificar a ocupação das vítimas no mercado de trabalho, que
agrega as ocupações por nível de competência e similaridade nas atividades executadas
descritas na Tabela 1, realizou-se a busca dos códigos mais frequentes no banco para obter
o título correspondente. Os títulos das ocupações podem ser encontrados no endereço:
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorCodigo.jsf.
589
Tabela 1: Grandes Grupos Ocupacionais (GG) segundo a Classificação Brasileira de
Ocupações – CBO, 2002.
Códigos
Títulos
GG 0
Forças armadas, policiais e bombeiros militares
GG 1
Membros superiores do poder público, dirigentes de organizações de interesse público e
de empresas e gerentes
GG 2
Profissionais das ciências e das artes
GG 3
Técnicos de nível médio
GG 4
Trabalhadores de serviços administrativos
GG 5
Trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados
GG 6
Trabalhadores agropecuários, florestais, da caça e pesca
GG 7
Trabalhadores da produção de bens e serviços industriais
GG 8
Trabalhadores da produção de bens e serviços industriais
GG 9
Trabalhadores da manutenção e reparo
Fonte: Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, Ministério do Trabalho e Emprego –
MTE, Brasil.
As estimativas médias das taxas de mortalidade por suicídio por Unidades da Federação
para o período de 2000 a 2015 (Fig. 6) foram parametrizadas pelo coeficiente de 100.000
habitantes. As estimativas médias das taxas de mortalidade por suicídio dos municípios da
região da Amazônia Legal, excluídas as Capitais das Unidades da Federação, foram
parametrizadas pelo coeficiente de 1.000 habitantes. Por fim, para a construção dos mapas
coropléticos (Fig. 6 e 7) utilizou-se o software “QGIS 2.18.25 ‘Las Palmas’” e as estimativas
das taxas foram graduadas por quebras naturais (otimização de Jenks).
3. Resultados
No período analisado ocorreram 13.977 óbitos por suicídio na região da Amazônia
Legal, dos quais 11.062 (79%) foram cometidos por homens, aproximadamente quatro vezes
mais que as mulheres, que contabilizaram 2.943 (21%) registros. Os maiores percentuais de
óbitos masculinos foram registrados nas faixas etárias de 20 a 24 anos (17%), seguida por 25
a 29 anos (15%), 30 a 34 anos (12%) e 15 a 19 anos (11%). No caso das mulheres, a faixa
etária que concentrou o maior percentual de óbitos foi a de 15 a 19 anos (18%), seguida da
faixa etária de 20 a 24 anos (15%), 25 a 29 anos (12%) e 30 a 34 anos (11%). Observa-se,
portanto, a concentração dos óbitos por suicídio nesta região em faixas etárias jovens, ao
considerar a progressiva diminuição dos percentuais conforme avançam as faixas etárias.
590
Figura 1: Pirâmide etária das vítimas de suicídio residentes na Amazônia Legal, no período
de 2000 a 2015.
Fonte: Ministério da Saúde – MS, Brasil. Elaboração própria.
Os dados apontam que 5.087 (46%) dos óbitos masculinos foram cometidos por
enforcamento, estrangulamento e sufocação na residência (X70.0) e 1.274 (12%) em locais
não especificados (X70.9), seguidos de 501 (5%) provocados por arma de fogo na residência
(X74.0) e 295 (3%) por autointoxicação por exposição intencional a pesticidas na residência
(X68.0). No caso das mulheres, os métodos majoritariamente empregados 1.268 (43%) foram
o enforcamento, estrangulamento e sufocação na residência (X70.0) e 294 (10%) em locais
não especificados (X70.9), seguidos de 208 (7%) causados por autointoxicação por exposição
intencional a pesticidas na residência (68.0), 171 (6%) em locais não especificados (X68.9) e
85 (3%) por autointoxicação por exposição intencional a outros produtos químicos e
substancias nocivas não especificadas em locais não especificados (X69.9).
0% 6% 18%
15%
12%
11%
9%
8%
7%
5%
3%
2%
2%
1%
1%
1%
0%
0%
0%
0%
2%
11%
17%15% 12% 9%
8% 6%5%
4%3%
2%
2%
1%
1%
0%
0%
0%
2.000 1.500 1.000 500 0500 1.000 1.500 2.000
0 - 10
11 - 14
15 - 19
20 - 24
25 - 29
30 - 34
35 - 39
40 - 44
45 - 49
50 - 54
55 - 59
60 - 64
65 - 69
70 - 74
75 - 79
80 - 84
85 - 89
90 - 94
95 - 99
Pirâmide Etária das Vítimas de Suicídio da Amazônia Legal
Masculino Feminino
591
Figura 2: Métodos empregados (códigos do CID-10) pelas vítimas para o ato do suicídio na Amazônia Legal, no périodo de 2000 a 2015.
Fonte: Ministério da Saúde – MS, Brasil. Elaboração própria.
592
Observando a distribuição de suicídios por raça/cor (Tabela 2), destaca-se o número de
registros absolutos de pardos contabilizados em 667 no período analisado, porém, os
indígenas apresentam a maior taxa de suicídio no ano de 2010, sete vezes maior que a taxa
para a população branca e quatro vezes maior que da população parda.
Tabela 2: Suicídios ocorridos na região da Amazônia Legal por Raça/Cor.
Raça/Cor
Suicídios (2010)
População (2010)
Taxa (por 100.000 hab.)
Branca
155
5.484.202
2,83
Preta
62
1.685.862
3,68
Amarela
5
241.688
2,07
Parda
667
13.800.938
4,83
Indígena
44
222.932
19,74
Sem declaração
26
9.528
-
Total
959
21.445.160
4,47
Fonte: Ministério da Saúde – MS, Brasil e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE. Elaboração Própria.
Quanto ao estado civil das vítimas (Figura 3), observou-se a predominância de óbitos
por suicídio em indivíduos solteiros e jovens, independentemente de raça/cor. De maneira
similar, os suicídios se concentram entre os 15 aos 29 anos e, somente na população branca
observa-se maior proporção de suicídios entre casados, que superam os óbitos de solteiros
a partir dos 40 anos de idade até as idades mais avançadas.
593
Figura 3: Faixas de Idade e Estado Civil, representadas a partir da Raça/Cor das Vítimas de Suicídio na Amazônia Legal no período de 2000
a 2015.
Fonte: Ministério da Saúde – MS, Brasil. Elaboração própria.
594
O Grande Grupo de Ocupações com maior número de registros foi o GG 6 –
Trabalhadores agropecuários, florestais, da caça e pesca, seguido do GG 9 – Trabalhadores
de manutenção e reparação (Figura 4). Os títulos dos demais grupos podem ser consultados
na Tabela 1.
Nas ocupações mais frequentes estão: trabalhador agropecuário em geral (código
6210-05, 8%), trabalhador volante da agricultura (6220-20, 4%), produtor agrícola polivalente
(código 6120-05, 3%), pedreiro (código 7152-10, 3%), empregado doméstico nos serviços
gerais (código 5121-05, 2%), representante comercial autônomo (código 3547-05, 2%),
caseiro (agricultura) (código 6220-05, 1%), servente de obras (código 5243-05, 1%), vendedor
ambulante (código 7170-20, 1%) e comerciante varejista (código 1414-10, 1%), vigilante
(código 5173-30, 1%). É importante destacar que dos registros analisados, 21% (2.927) não
possuíam o campo vinculado à ocupação preenchido. Ainda, pelo menos 19% (2.590)
estavam preenchidos com códigos que não possuem correspondência na CBO, inviabilizando
a análise devida desta variável para pelo menos 40% dos casos por poderem camuflar os
resultados reais, e indicando, assim, falhas no preenchimento deste campo nas Declarações
de Óbito.
Figura 4: Ocupação no mercado de trabalho conforme os Grandes Grupos Ocupacionais da
CBO – 2002 das vítimas de suicídio na Amazônia Legal no período de 2000 a 2015.
Fonte: Ministério da Saúde – MS, Brasil. Elaboração própria.
A progressão do fenômeno ao longo do tempo (Figura 5) nos permite verificar que
casos de suicídio têm aumentado progressivamente ao longo do tempo, visto que ano de
2000 a taxa de mortalidade por suicídios era de 2,84/100.000 hab., enquanto que, no ano de
2015 chegou a 4,55/100.000.
0
1000
2000
3000
4000
GG 0 GG 1 GG 2 GG 3 GG 4 GG 5 GG 6 GG 7 GG 8 GG 9 NA
Ocupações das Vítimas de Suicídio Agrupadas pelos Grandes Grupos
da CBO
595
Figura 5: Taxas de Mortalidade por Suicídio de residentes da Amazônia Legal no período de
2000 a 2015.
Fonte: Ministério da Saúde – MS, Brasil. Elaboração própria.
Com o propósito de reduzir a variabilidade aleatória das taxas apresentadas durante
o período, a média móvel foi calculada para a região da Amazônia Legal em ciclos de três
anos para o período de 2001 a 2015 (Tabela 2), sendo o primeiro ciclo (2001 a 2003)
representado pela população média do ano de 2002, e o último (2013 a 2015),
consequentemente, representado pela população média do ano de 2014. Quando analisadas,
é nítido observar o aumento linear nas taxas de suicídio na região, evidenciando que este é
um problema de saúde pública que necessita de atenção específica devido a sua persistência
e contínuo crescimento.
Tabela 3: Estimativa das taxas de mortalidade por suicídios (por 100 mil habitantes) por
triênios. Amazônia Legal, 2001 a 2015.
Triênios
2001 - 2003
2004 - 2006
2007 - 2009
2010 - 2012
2013 - 2015
Médias Móveis
3,06
3,11
3,68
3,92
4,22
Fonte: Ministério da Saúde – MS, Brasil. Elaboração própria.
Buscando compreender o fenômeno espacialmente, pode-se inferir que a Unidade da
Federação com maior concentração de casos no período foi o Pará - PA que contabilizou
2.942 casos, seguido do Mato Grosso – MG com 2.587, Amazonas – AM com 2.319 e
Maranhão – MA com 2.235 em todo o período de estudo. No entanto, quando calculadas as
estimativas médias das taxas de suicídio por Unidades da Federação para o período de
estudo (Figura 6A), o estado de Roraima – RR apresenta a elevada taxa média de 7,23/100
mil hab., seguido dos estados do Tocantins – TO com 5,63/100 mil hab., do Mato Grosso –
MT com 5,60/100 mil hab. e Amapá - AP com 5,36/100 mil hab. que se destacam, portanto,
como os mais emergentes neste contexto.
Observando a distribuição das estimativas das taxas de mortalidade por suicídio nas
capitais das Unidades da Federação da região da Amazônia Legal no período temos que Boa
Vista - RR apresentou a maior taxa média de suicídios com 6,41/100 mil hab., seguida de Rio
Branco - AC com 5,76/100 mil hab. (Figura 6B). Em contraste, a capital que apresentou a
menor taxa média de suicídios no período foi Belém – PA com 2,64/100 mil hab.
596
O município que apresentou a maior taxa média de suicídios no período de estudo foi
Taipas do Tocantins – TO com 0,25/1 mil hab. Este município possui população média de
1.782 habitantes e só foram encontrados registrados de suicídios cometidos por residentes a
partir do ano de 2004, totalizando oito casos de suicídio até o ano de 2015. Em 2013, ano em
que o município apresentou a maior taxa de mortalidade por suicídio (1,95/1 mil hab.), foram
registrados quatro suicídios. O segundo lugar no ranking das estimativas das taxas de
mortalidade por suicídio no período observado está o município de São Gabriel da Cachoeira
– AM, com 0,24/1 mil hab. O segue Bonfim – RR com 0,22/1 mil hab., Amajari – RR com
0,19/1 mil hab., Tabatinga – RR com 0,18/1 mil hab., e Torixoréu – AM com 0,15/1 mil hab
(Figura 6 C).
597
Fonte: Ministério da Saúde – MS, Brasil. Elaboração própria.
Figura 6: Estimativas das taxas médias de suicídio dos estados, capitais e dos municípios da região da Amazônia Legal, 2000 a 2015.
598
4- Discussão
A concentração de suicídios em homens jovens com idades entre 20 a 29 anos diverge
de alguns estudos realizados no Brasil (Brasil, 2017; Lovisi et. al., 2009; Calixto Filho e Zerbini,
2016) e no mundo (Cattell, 2000) nos quais se observam na população idosa a partir de 70
anos as maiores taxas de mortalidade por suicídio, embora haja a tendência de aumento nos
índices nas últimas décadas para a faixa etária jovem (Calixto Filho e Zerbini, 2016; Oliveira
e Benedetti, 2018; Pedrosa et. al., 2018). Contudo, não se pode ignorar as variações regionais
das estruturas etárias já que na região da Amazônia Legal se concentram mais jovens que
idosos. No ano de 2015, por exemplo, enquanto no Brasil 12% da população possuía 60 anos
ou mais, na região da Amazônia Legal esse percentual caía para 8% (Brasil, 2015).
Uma das hipóteses destacadas na literatura sobre a predominância de suicídios
cometidos por homens é a utilização de métodos mais agressivos que dificultam o socorro
como enforcamentos e disparos por arma de fogo enquanto que as mulheres tendem a optar
por métodos menos agressivos como a intoxicação por abuso de medicamentos ou
substâncias nocivas, sendo as protagonistas nos registros sobre tentativas de suicídio (Lovisi
et. al., 2009; Pedrosa et. al., 2018; Stack, 2000). Stack (2000) encontrou em sua revisão de
literatura sociológica acerca do suicídio que as mulheres possuem atitudes negativas mais
fortes que homens quanto a aceitabilidade de suicídios concluídos e mais atitudes positivas
sobre às tentativas, além de abusarem de álcool pelo menos um quinto a menos, possuírem
níveis de religiosidade mais altos e terem mais facilidade para reconhecer sinais de suicídios,
como depressão e procurarem ajuda profissional, que os homens. Calixto Filho e Zarbini
(2018) complementam que essa diferença pode ser explicada historicamente pelo maior
acesso a meios mais letais pelos homens, e pela menor exposição a sentimento de falência
frente ao insucesso financeiro, competitividade, e impulsividade das mulheres.
Neste estudo, observou-se que o segundo método mais adotado por homens foi o
disparo por arma de fogo enquanto que nas mulheres foram adotados os produtos tóxicos
como meios para o suicídio, o que reforça o encontrado na literatura sobre o gênero ter
influência no tipo de método escolhido.
Assim como no Brasil - especificamente na região da Amazônia legal -, em diversos
países os povos indígenas e originários apresentam maior vulnerabilidade a uma serie de
agravos, entre elas o suicídio, com taxas de mortalidade mais elevadas se comparadas às
respectivas populações gerais. Machado e Santos (2015) encontraram a maior taxa de
mortalidade no ano de 2000 (8,6/100.000) e 2012 (14,4/100.000) entre os indígenas do Brasil.
No mesmo sentido, Souza e Orellana (2012) observaram uma taxa de mortalidade por
suicídio duas vezes maior na população indígena do que a observada na população não
indígena no Brasil no período de 2006 a 2010. No estado do Mato Grosso do Sul, não
pertencente à região da Amazônia Legal, a taxa de mortalidade por suicídio entre indígenas
foi de 76,4 contra 6,9 por 100.000 habitantes da população não indígena. Na região Norte,
que concentra a maior parcela da população autodeclarada indígena do país, Souza e
Orellana (2012) encontraram que a taxa de mortalidade por suicídios entre indígenas foi de
15,1 por 100.000 habitantes, quase quatro vezes maior que na população não indígena e,
destacam ainda que nos estados do Amazonas e Roraima a taxa de mortalidade por suicídio
entre indígenas foi de respectivamente 20,0 e 20,2 por 100.000 habitantes.
Uma das possíveis explicações para tais dados está no processo de desvalorização
da cultura indígena ao longo da história que colocou essa população em um “não espaço” na
sociedade a partir da exaltação de um modo de vida cada vez mais tecnológico e capitalista,
junto à precarização da saúde e das condições de vida das comunidades indígenas, e ao
acirramento da tensão em razão de massacres e dos atuais conflitos por terra em terras
indígenas (Machado e Santos, 2015).
Quanto ao estado civil, Oliveira et. al. (2016), que encontraram resultados semelhantes
em seu estudo, relataram que indivíduos separados, viúvos ou solteiros possuem maiores
riscos de suicídio enquanto que os casados têm risco diminuído, provavelmente pela
599
existência de filhos. Destacam também que o suicídio é mais comum em pessoas que
apresentam histórico de suicídios na família e que são socialmente isoladas. Pedrosa et. al.
(2018) discute que as relações interpessoais têm importante contribuição para a motivação
de vida do indivíduo visto que a redução no número médio de pessoas na família e a falta de
integração social têm relação com a elevação na taxa de suicídios, explicando assim, o
aumento significativamente elevado em indivíduos solteiros que vivem sozinhos.
A ocupação no mercado de trabalho é uma variável pertinente ao estudo do suicídio
por, assim como outros fatores, moldar a subjetividade do indivíduo, suas emoções e
percepção do mundo. Segundo a perspectiva marxiana, o trabalho é uma característica que
distingue os homens dos animais, e ocupa lugar central no conjunto das atividades humanas
na sociedade contemporânea. A acumulação de capital é priorizada em detrimento da
satisfação das necessidades humanas e os trabalhadores são transformados em agentes
executores de tarefas fragmentadas, expostos a toda sorte de privações, alienação e desejos
frustrados (Cansi, 2016). Assim, é preciso levar em conta as relações sociais nas quais o
trabalho ocorre, e não somente suas formas e/ou aspecto técnico.
Durkheim (2000) argumenta que o suicídio é mais frequente em indivíduos locados
em atividades industriais e comerciais por estarem envoltos em um meio social de constantes
transformações. No sentido contrário, os trabalhadores do meio rural estariam menos
inclinados a este desfecho por pertencerem a um ambiente mais conservador, cuja ordem
social é alterada mais lentamente. Esta teoria, no entanto, não é suficiente para explicar os
suicídios pelas ocupações das vítimas no mercado de trabalho da região da Amazônia Legal,
visto que estes se concentram em atividades vinculadas ao meio rural (Figura 4, Tabela 2).
Entretanto, quando Durkheim problematiza a divisão social do trabalho que leva a
perda da força de consciência coletiva e ao constante risco de anomia social, que gera o
suicídio anômico - diretamente relacionado às questões sociais -, contribui ao sugerir que seja
feita uma reforma na sociedade e nas instituições que a gerem e coordenam para a
manutenção da coesão social necessária para o bom funcionamento da sociedade. Karl Marx,
ao estudar especificamente o suicídio por sua vez, procura demonstrar que somente através
de uma transformação radical da sociedade envolvendo a superação do modo de produção
capitalista, bem como suas instituições e relações sociais, será possível dar fim a esse e
outros males que assolam o ser humano (Almeida, 2018).
De maneira correlata à ocupação dos indivíduos, Lovisi et. al. (p. 396, 2009) afirmam
que “o nível educacional, a situação de desemprego e a renda familiar definem o status
econômico e social do indivíduo, o que proporciona distintos níveis de preocupações e
estresse”. Vários estudos concluíram que condições socioeconômicas desfavoráveis, como
crises econômicas, resultam em maior mortalidade por suicídio (Lovisi et. al., 2009; Calixto
Filho e Zerbini, 2016) e que características sociais, como baixa escolaridade, desemprego e
problemas financeiros e dificuldades no trabalho são fatores de risco associados ao suicídio
(Baptista et. al., 2012).
A baixa escolaridade, por exemplo, relaciona-se ao aumento das taxas de
desemprego e, consequentemente, a dificuldades financeiras que podem levar a instabilidade
econômica familiar, desesperança e depressão, e ter impacto sobre o comportamento suicida
(Pedrosa, et. al., 2018). O desemprego, segundo Stack (2000), pode afetar o risco de suicídio
diretamente por desgastar as rendas, o bem-estar econômico, autoestima e outros fatores
suicidogênicos. Além disso, em tempos de desemprego, as taxas de suicídio podem aumentar
devido aos níveis de ansiedade entre os empregados subirem por temerem perder seus
postos de trabalho. Outra faceta interessante sobre o desemprego apontada por Stack é que,
embora existam significantes evidencias de que pessoas desempregadas estejam em maior
risco para os suicídios, há a exceção para as mulheres que, por tradicionalmente pertencerem
a um estereotipo de gênero não tão vulnerável socialmente ao desemprego, apresentam
menores pressões e, consequentemente, menores taxas de suicídio quando comparadas aos
homens que têm historicamente o papel social de provedores do lar.
600
Assim como encontrado neste trabalho, Macedo (2018) aponta que o estado de
Roraima figura há quase duas décadas um dos maiores índices de suicídio no país, ficando,
em alguns casos, em primeiro lugar em taxas de mortalidade por suicídio. Fernandes e Costa
(2018) trazem à discussão que o estado de Roraima tem dentre suas particularidades diversos
pontos que precisam ser analisados com sensibilidade. Salientam, por exemplo, que o estado
de Roraima tem como característica ser destino de migrantes de todas as regiões do país,
principalmente das regiões Norte e Nordeste, e de países fronteiriços, como a Venezuela e a
Guiana. Segundo as autoras, esses movimentos migratórios levam os indivíduos a
ressignificarem suas identidades ao se desenraizarem dos seus locais de origem e de se
identificarem com um novo lugar – que nem sempre é receptivo, visto os recentes
acontecimentos ocorridos em Pacaraima – RR (Félix & Costa, 2018) sinalizando a importância
de estudos que analisem a naturalidade e a nacionalidade dos óbitos por suicídios. Fernandes
e Costa (2018) apontam ainda que o estado de Roraima possui altos índices de violência
(principalmente contra a mulher e a população LGBT), inserido em um processo histórico de
opressão contra a população negra e indígena, características que retratam o estado de
Roraima como “um estado violento, tanto pela agressão dirigida ao outro quanto pela dirigida
a si, como é o caso do suicídio” (Fernandes & Costa, 2018, p. 102).
O município de Taipas do Tocantins – TO enquadrava-se no ano de 2010 como um
município de médio desenvolvimento, segundo seu IDHM de 0,601 (IPEA e col., 2013).
Segundo o IBGE, no ano de 2016 havia 204 pessoas ocupadas (9,7% da população total do
município) e salário médio mensal dos trabalhadores formais era de 1,4 salários mínimos. No
ano de 2010, 47,4% da população possuía rendimento nominal mensal per capital de até meio
salário mínimo. Ainda no ano de 2010, o município apresentava uma pirâmide etária jovem,
com base larga e topo mais estreitado indicando altos índices de fecundidade e natalidade, e
uma população bastante jovem, no entanto, segundo o que se pode inferir da pirâmide, sua
população não tem conseguido atingir idades mais avançadas, apontando assim, para uma
menor expectativa de vida. Ainda, os dados apontam para um município com grande
percentual de pessoas desocupadas, ou ocupadas em atividades informais, considerando que
a maior parte de sua população está na faixa etária da população em idade economicamente
ativa. O município de Torixoréu – MT apresenta características populacionais semelhantes,
com população média de 4.306 habitantes, concentrada em faixas de idade consideradas
economicamente ativas e com razoável percentual de pessoas ocupadas em relação à
população total (13,8%). Como citado anteriormente, algumas características
socioeconômicas desfavoráveis são fatores de risco para o suicídio e podem ser uma dentre
as múltiplas explicações das taxas elevadas de mortalidade por suicídio no município. Além,
a partir da discussão sobre a dinâmica marcada pela migração no estado de Roraima, também
é possível buscar maneiras de compreender as altas taxas de mortalidade por suicídio nos
municípios de Amajari – RR, Tabatinga – AM e São Gabriel da Cachoeira – AM visto que
possuem a vizinhança com outros países (Venezuela, Colômbia ou Bolívia) como
característica comum.
5- Considerações Finais
Os resultados encontrados neste trabalho apontam para a existência de um grupo com
maior vulnerabilidade para o suicídio na região da Amazônia Legal, caracterizado por homens
solteiros em faixas etárias jovens, que utilizam como principal método o enforcamento,
estrangulamento e sufocação. Dentre os casos analisados, a população indígena apresentou
as maiores taxas de suicídio, sinalizando a necessidade de políticas assertivas adequadas às
suas especificidades socioculturais. As ocupações no mercado de trabalhado registradas
foram majoritariamente vinculadas a atividades braçais com remuneração pouco elevadas, no
entanto, a alta proporção de não preenchimento adequado do campo não permitiu uma
análise mais detalhada.
601
Uma discussão em voga na literatura científica sobre o suicídio é a Teoria da
Oportunidade (Stack, 2000) que questiona se a facilidade de acesso ao método, como no
caso das armas ou agrotóxicos, tem influência direta nas taxas de suicídio. Embora autores
apontem que os métodos usados para cometer suicídio dependam dos costumes e cultura
específicos do lugar, bem como dos diferentes contextos históricos, o controle do acesso aos
meios é uma das recomendações mais frequentes entre as estratégias de prevenção ao
suicídio (Calixto Filho e Zarbini, 2018; Lovisi et. al., 2009). Ao considerar que após os
enforcamentos, os métodos mais adotados para o suicídio na região sejam o disparo por arma
de fogo e intoxicação, sinaliza-se a necessidade de mais estudos sobre o acesso a esses
meios dessa população e quais medidas de controle podem ser implementadas.
Observou-se também que o número de registros de óbitos por suicídio na região tem
aumentado progressivamente, com destaque para o estado de Roraima que tem a maior taxa
de mortalidade por suicídio, apontando a necessidade de vigilância. Quando ampliada a
escala, o município que apresentou a maior taxa média no período foi Taipas do Tocantins –
TO. Sugere-se que mais estudos sejam realizados para compreender o protagonismo do
município de Taipas do Tocantins – TO dentre as taxas de mortalidade por suicídio, e quais
os fatores condicionantes e determinantes a esse padrão de ocorrência. Outro resultado que
pode ser mais bem explorado é o protagonismo de municípios limítrofes a outros países.
Por fim, este trabalho encontrou características nos casos de suicídio que apontam
para um significativo problema de saúde pública, sinalizando a necessidade de estudos
complementares e, principalmente, de ações estratégicas de prevenção a partir do
fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e consolidação de planos estaduais
de prevenção ao suicídio com medidas a serem tomadas por diversas instâncias
governamentais, municípios e sociedade civil.
6- Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Laboratório de Geografia, Ambiente e
Saúde da Universidade de Brasília (LAGAS/UnB), e dos projetos UnB/IRD, JEAI-GITES e
LMI-Sentinela.
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