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Desafios à Educação em Ciências em Tempos Conturbados

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Abstract

Vivemos momentos de retrocesso no que respeita à democracia, aos direitos humanos, à justiça social e ao bem-estar de indivíduos, sociedades e ambientes. Várias comunidades sofrem politicamente, emocionalmente e fisicamente, por causa de uma sociedade que não cuida da totalidade dos seus membros, ignorando os mais vulneráveis e sujeitando-os a condições de vida deploráveis e a comportamentos discriminatórios e persecutórios influenciados pela ignorância, pelo preconceito e pela intolerância. Os efeitos negativos do neoliberalismo e da globalização têm-se intensificado e as instituições sociais e políticas parecem incapazes ou não estão dispostas a responder efetivamente às múltiplas situações de injustiça. As assimetrias sociais têm se agravado, perpetuando um sistema que beneficia apenas uma pequena minoria, à custa da degradação do ambiente, da exploração incontrolada e insustentável dos recursos e do sofrimento e da exclusão da maior parte da população. Muitos cidadãos não se sentem capacitados e empoderados para compreenderem e tomarem decisões sobre os problemas sociais e ambientais que afetam as suas comunidades e, ao mesmo tempo, a confiança nos representantes políticos tem diminuído e a apatia política têm ganho terreno, abrindo espaço a movimentos populistas e a uma eventual 'recessão democrática'. O desconhecimento de uma parte significativa da população acerca do que é a ciência, associado à desinformação disseminada por determinados grupos, cria um ambiente propício ao aparecimento e proliferação de visões distorcidas e erróneas e de movimentos anti ciência. O clima político e social global está saturado de raiva, medo, desinformação, desconfiança e desânimo. A polarização política alastra pelo planeta e repercute-se em divisões e conflitos entre países e dentro das comunidades e das famílias. Como podemos contrariar esta situação na perspectiva da educação em ciências? Que desafios se colocam à educação em ciências no combate às causas de tais problemas e injustiças?
EDITORIALEDITORIAL
Ciência & Educação, Bauru, v. 27, e21000, 2021
https://doi.org/10.1590/1516-731320210000
Desafios à Educação em Ciências em Tempos Conturbados
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Vivemos momentos de retrocesso no que respeita à democracia, aos direitos
humanos, à justiça social e ao bem-estar de indivíduos, sociedades e ambientes. Várias
comunidades sofrem politicamente, emocionalmente e fisicamente, por causa de uma
sociedade que não cuida da totalidade dos seus membros, ignorando os mais vulneráveis
e sujeitando-os a condições de vida deploráveis e a comportamentos discriminatórios e
persecutórios influenciados pela ignorância, pelo preconceito e pela intolerância.
Os efeitos negativos do neoliberalismo e da globalização têm-se intensificado e
as instituições sociais e políticas parecem incapazes ou não estão dispostas a responder
efetivamente às múltiplas situações de injustiça. As assimetrias sociais têm se agravado,
perpetuando um sistema que beneficia apenas uma pequena minoria, à custa da
degradação do ambiente, da exploração incontrolada e insustentável dos recursos e do
sofrimento e da exclusão da maior parte da população.
Muitos cidadãos não se sentem capacitados e empoderados para compreenderem
e tomarem decisões sobre os problemas sociais e ambientais que afetam as suas
comunidades e, ao mesmo tempo, a confiança nos representantes políticos tem diminuído
e a apatia política têm ganho terreno, abrindo espaço a movimentos populistas e a uma
eventual 'recessão democrática'.
O desconhecimento de uma parte significativa da população acerca do que é
a ciência, associado à desinformação disseminada por determinados grupos, cria um
ambiente propício ao aparecimento e proliferação de visões distorcidas e erróneas e de
movimentos anti ciência.
O clima político e social global está saturado de raiva, medo, desinformação,
desconfiança e desânimo. A polarização política alastra pelo planeta e repercute-se em
divisões e conflitos entre países e dentro das comunidades e das famílias.
Como podemos contrariar esta situação na perspectiva da educação em ciências?
Que desafios se colocam à educação em ciências no combate às causas de tais problemas
e injustiças?
Pedro Reis
Universidade de Lisboa, Instituto de Educação, Lisboa, Portugal. E-mail: preis@ie.ulisboa.pt
e-ISSN 198-85X. Todo o conteúdo deste periódico está sob uma licença Creative Commons
(CC Atribuição 4. Internacional), exceto onde está indicado o contrário.
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Desafio 1 – Uma Educação em Ciências para a Transformação Social
Os problemas sociais e ambientais que as diferentes comunidades enfrentam e a
dificuldade da população em envolver-se ativamente no desenvolvimento de soluções
para esses problemas tornam urgente uma deslocação do foco da educação em ciências
da transmissão de conhecimentos para a promoção de competências que assegure não
apenas a formação de cientistas e especialistas, mas, também, uma educação científica
alargada a todos os cidadãos. Uma educação em ciências que não se centre na promoção
da adaptação e da conformidade dos cidadãos às regras e às condições atuais da
nossa sociedade e das nossas comunidades, mas que se preocupe com a capacitação
e o empoderamento dos cidadãos para uma transformação democrática, colaborativa e
fundamentada em ciência da sociedade (SCHUTZ, 2019). Uma transformação participada
na qual professores e alunos se assumam como agentes de mudança comprometidos com
uma visão para a sociedade, quebrando um conjunto de práticas burocráticas/sufocadoras
que parecem destinar-se a mantê-los cansados, anestesiados e sem capacidade de (re)
ação.
Segundo esta perspectiva, a educação em ciências assume-se como uma força
democratizadora e um catalisador para o desenvolvimento individual e a transformação
social. Desta forma, a escola assume-se como um foro vivo para o diálogo libertador e
não como uma instituição destinada ao ensino para o exame, a conformidade social e a
competição entre os indivíduos e as sociedades (KELLNER; KIM, 2010).
Desafio 2 – Uma Concepção de Ciência como Atitude Crítica, Questionadora
e de Autonomia Intelectual
Atualmente, uma parte considerável dos cidadãos ainda partilha uma concepção
ultrapassada de ciência, como corpo de conhecimentos definitivos e inquestionáveis,
construído por cientistas através de um processo neutro e objetivo. Esta imagem da
ciência: (a) deturpa seriamente a natureza da ciência e a prática científica; (b) dissuade os
cidadãos do escrutínio crítico ao apresentar o conhecimento científico como uma coleção
de afirmações fixas e não questionáveis efetuadas por especialistas; (c) contribui para a
interiorização de uma dependência intelectual dos cidadãos relativamente a especialistas;
e, (d) promove uma sensação de falta de poder entre os cidadãos (BENCZE; CARTER, 2011;
BENCZE; SPERLING, 2012)
O caráter conturbado da sociedade atual justifica uma educação científica que
estimule, na população, uma concepção de ciência: (a) como processo de construção de
conhecimento, condicionado por contextos sociais, históricos e culturais e em interação
constante com a tecnologia, a sociedade e o ambiente; e, (b) como atitude crítica,
questionadora e de autonomia intelectual perante as notícias divulgadas pelos media, as
propostas de determinados grupos e os acontecimentos da vida quotidiana, idealmente
alargada a todos os cidadãos e que não se assuma como privilégio de um pequeno grupo
de especialistas (MATTHEWS, 2015; MCCAIN; KAMPOOURAKIS, 2020). Uma concepção de
ciência que facilitará a colaboração e a mobilização de todos os cidadãos no sentido de:
(a) exigirem e exercerem uma cidadania participativa e fundamentada sobre questões
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relacionadas com ciência e tecnologia; e, (b) exigirem justiça social e ética nas interações
entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente.
Desafio 3 – A Capacitação e o Empoderamento dos Cidadãos para a Ação
Fundamentada
Muito existe para fazer no sentido da capacitação e do empoderamento dos
cidadãos para uma participação ativa e fundamentada (em conhecimento científico) em
processos de tomada de decisão e de ação (individual e coletiva) sobre as problemáticas
que afetam as nossas sociedades/comunidades, com consequentes implicações na
qualidade de vida e na justiça social. Neste processo, a educação em ciência desempenha
sempre um papel (positiva ou negativamente) relevante, consoante as ações dos
educadores. Práticas tradicionais, marcadas pela falta de dialogismo e por uma educação
bancária (FREIRE, 1974) que não tem em conta as necessidades e os interesses dos
alunos, aumentam a invisibilidade social dos cidadãos e reforçam a sua dependência
relativamente às opiniões, às decisões e aos interesses de grupos restritos (políticos,
cientistas, especialistas, etc.) que nem sempre parecem atuar em prole do bem-comum.
Práticas educativas que reconhecem aos alunos (independentemente da sua idade) o
direito de participação/envolvimento na identificação dos problemas que afetam as suas
comunidades e na construção, discussão e tomada de decisões sobre possíveis soluções
para esses problemas, aumentam a autonomia intelectual dos cidadãos e permitem-lhes
assumirem-se como protagonistas sociais, capazes de assumirem a responsabilidade
pelo futuro das suas vidas e das suas comunidades (ALSOP; BENCZE, 2014). Estas
práticas, promotoras de uma atitude crítica e investigativa, investem os cidadãos com
as competências necessárias ao pensamento, à discussão, à tomada de decisão e à ação,
tornando-os construtores de conhecimentos socialmente relevantes, em vez de simples
consumidores acríticos de conhecimento (como outras práticas parecem estimular)
(BENCZE; SPERLING, 2012). Através deste tipo de práticas emancipadoras, qualquer aluno,
independentemente da sua idade, é reconhecido como cidadão pela ação extremamente
influente que pode desempenhar junto das suas famílias e grupos de amigos.
Para tal, torna-se necessário: (a) garantir que crianças e jovens tenham
oportunidades de participar de maneira significativa na sua vida diária, através da
disponibilização de espaços informais e formais (em diferentes níveis, nomeadamente,
casa, escola, comunidade, organizações e associações) em que possam articular suas
próprias expressões de cidadania ativa por meio de diferentes formas de participação;
(b) estimular as crianças e jovens a assumirem níveis elevados de responsabilidade e de
ação no exercício de uma cidadania ativa; e, (c) incentivar os adultos a assumirem um
papel de facilitadores e defensores – e não de controladores – na realização de ações
(envolvendo crianças, jovens e adultos) centradas em preocupações comuns e que
facilitem o desenvolvimento de uma cultura de respeito e de confiança mútua (HART,
2008; PETERSON, 2018; SCHULZ et al., 2018).
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Desafio 4 – Uma Concepção de Currículo Fortemente Contextualizado
e Centrado em Competências Adequadas à Promoção do Bem-estar das
Populações e dos Ecossistemas e à Justiça Social
Algumas concepções limitadas/restritas de currículo – como listado de conteúdos
a abordar exaustivamente e de forma descontextualizada das vidas dos alunos – relegam
os professores/educadores para um papel de funcionário que se limita a executar de
forma acrítica as orientações de política educativa impostas por determinados grupos.
Neste tipo de contexto, os professores/educadores sentem-se, frequentemente,
sobrecarregados / cansados / anestesiados por tarefas burocráticas e afastados da
reflexão e da decisão. Contudo, a concretização de uma educação em ciência socialmente
relevante e empoderadora dos cidadãos requer uma concepção de currículo diferente,
como o conjunto de aprendizagens (conhecimentos, capacidades e atitudes) consideradas
importantes num determinado contexto histórico e social, marcado por determinadas
exigências específicas. Segundo esta concepção de currículo, cabe às sociedades/
comunidades identificarem o conjunto de conhecimentos considerados mais adequados
à superação bem-sucedida dos desafios com os quais as comunidades são confrontadas.
Neste contexto, o professor assume-se como um construtor de currículo (HARGREAVES,
2000): um especialista e um decisor capaz de contribuir para o desenvolvimento de um
currículo centrado em competências promotoras do bem-estar das populações e dos
ecossistemas e da justiça social (HADJICHAMBIS et al., 2020; REIS, 2020).
Na opinião de Hodson (1998, p. 4, tradução nossa), qualquer currículo de ciências
deverá preparar para a ação sociopolítica, através de uma educação científica centrada
em problemáticas e muito mais politizada que equipe os alunos com "[...] a capacidade e o
comprometimento de realizar ações apropriadas, responsáveis e eficazes sobre questões
de teor social, económico, ambiental e moral-ético". Este tipo de currículo deverá: (a)
basear-se em assuntos locais, regionais, nacionais e globais, considerados socialmente
relevantes pelo professor e pelos alunos; (b) apresentar a ciência e a tecnologia como
empreendimentos humanos; (c) propor uma educação científica e tecnológica politizada e
imbuída de valores humanos e ambientais; e, (d) onde alunos, professores e membros das
comunidades tenham a oportunidade de realizar investigações científicas e de se envolver
na implementação de soluções (fundamentadas em dados científicos) para problemas que
considerem relevantes. Os currículos de ciências fortemente contextualizados – centrados
em situações e problemas reais das comunidades em que vivem os alunos – reforçam
a percepção dos alunos relativamente à relevância social da educação em ciência e à
importância da ciência para a resolução dos problemas que afetam as comunidades.
Desafio 5 – A Avaliação ao Serviço do Desenvolvimento Individual e da
Transformação Social
Numa perspectiva de educação em ciências como processo centrado na promoção
de competências necessárias à resolução dos problemas sociais e ambientais atuais, a
avaliação assume uma importância fulcral. A avaliação destas competências apenas se
torna possível desde que realizada de forma contextualizada, em situações reais nas
quais as competências possam ser observadas em ação (enquanto os alunos identificam
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problemas, averiguam as suas causas, desenvolvem possíveis soluções e colocam em
prática essas soluções) (BLACK; HARRISON, 2010). Apenas no contexto destas ações reais
se torna possível concluir se os alunos se tornaram ou não competentes. Desta forma
a avaliação passa a estar ao serviço do desenvolvimento individual e da transformação
social em vez de estar ao serviço do exame, da conformidade social e da competição entre
os indivíduos e as sociedades.
Desafio 6 – Uma Formação Contínua com maior Impacto na Competência
Profissional dos Professores e nos Resultados de Aprendizagem dos seus
Alunos
A resposta aos grandes desafios com que a escola atual é confrontada requer uma
formação contínua de professores fortemente contextualizada, ou seja, centrada nas
necessidades específicas de determinados docentes e escolas e que utilize a escola e a
sala de aula como o lugar privilegiado para um desenvolvimento profissional relevante e
um maior impacto nos alunos. A maior contextualização e o consequentemente reforço
da relevância da formação de professores permitirão acompanhar o desenvolvimento de
competências profissionais – o saber dos professores – com as condições de motivação –
o querer – e os meios de realização – o poder – indispensáveis para que as competências
se traduzam em práticas educativas eficazes (CAMPOS, 2011).
O desenvolvimento de comunidades de prática – envolvendo a colaboração de
diferentes agentes educativos na análise de problemas e na implementação e avaliação de
propostas de solução – tem-se revelado uma modalidade eficaz na melhoria do ensino em
contextos específicos, proporcionando uma estrutura de apoio a iniciativas de inovação
que combate sentimentos de isolamento e de desânimo e promove, simultaneamente, o
desenvolvimento individual e coletivo e a transformação social (DAVIS, 2003; REIS, 2014,
2016; REIS; GALVÃO; BAPTISTA, 2018). Nas comunidades de prática em contexto escolar,
os docentes associam-se e interagem motivados por interesses comuns e pelo desejo de
melhorar a sua prática educativa através: (a) da partilha de conhecimentos, experiências,
ideias e competências; e (b) do envolvimento em dinâmicas de pesquisa-reflexão-ação
centradas na resolução de problemas específicos por eles diagnosticados, através da
introdução de abordagens educativas inovadoras (WENGER, 1998, 2010).
Desafio 7 – A Supervisão de Professores como Processo Emancipatório
A supervisão pedagógica em contexto escolar assume-se cada vez mais como uma
estratégia adequada à capacitação dos professores para o exercício da sua profissão nos
tempos atuais. Trata-se de um processo que pretende reforçar a capacidade das escolas
contribuírem para a educação e o sucesso académico de cada um dos seus alunos,
através da promoção da interação, da capacidade de resolução de problemas e do
desenvolvimento profissional dos professores (FULLAN; HILL; CRÉVOLA, 2006; REIS, 2011;
SERGIOVANNI; STARRATT, 2007). Pode acontecer em diferentes situações, nomeadamente,
no âmbito de: (1) um estágio de iniciação à prática profissional que proporcione o
contato com práticas de ensino particularmente interessantes e o desenvolvimento
das competências profissionais dos estagiários; (2) um período de indução profissional
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centrado na integração de docentes numa comunidade educativa e em determinadas
funções a desempenhar; ou, (3) uma iniciativa de desenvolvimento profissional na
escola que apoie a identificação e a superação de fragilidades individuais e coletivas.
No entanto, independentemente da situação em que ocorra, o desafio que se coloca à
supervisão é a da transição de uma perspectiva de pendor mais controlador e inspectivo
– centrada na avaliação dos professores e desencadeando sentimentos de negativos que
comprometem o caráter desenvolvimentista deste processo – para uma perspectiva de
emancipação e autonomia que capacite os sujeitos envolvidos para a transformação das
práticas escolares e sociais.
A perspectiva mais inspectiva da supervisão surge como uma forma de "afinar"
o ensino e de controlar e forçar os professores em determinadas direções consideradas
desejáveis pelas lideranças de topo da escola. São realizadas de forma hierárquica – no
sentido do especialista para o subordinado – constituindo um processo individualista e
hierárquico de aprender sobre o ensino que estimula uma postura passiva, dependente
e adaptativa entre os professores. Fortemente centradas na manutenção de regras e
padrões de ação, estes tipos de supervisão reduzem o papel dos professores ao de
funcionários que se limitam à implementação de currículos, práticas e avaliações impostos
por outros. Consequentemente, não preparam para a mudança/transformação, acabando
por perpetuar o status quo ao constituírem uma atividade conservadora que mantem as
práticas e as estruturas existentes (SMYTH, 1988).
A perspectiva emancipatória da supervisão apresenta uma natureza colaborativa,
diferenciada e desenvolvimentista, adequada às necessidades de desenvolvimento de cada
professor (ALARCÃO; ROLDÃO, 2008; GLICKMAN; GORDON; ROSS-GORDON, 2007). Desta
forma, assume-se como um processo emancipatório em que os professores se auxiliam
no sentido de ganharem controlo sobre as suas vidas profissionais e de transcenderem e
transformarem o seu ensino e o contexto social e cultural em que trabalham, tendo em
vista uma sociedade mais justa e mais sustentável ambientalmente (SMYTH, 1986). Neste
processo supervisivo, entre pares, os professores assumem-se como agentes ativos (a) na
mudança das suas práticas, (b) na adaptação dos currículos ao que consideram serem as
necessidades dos seus alunos e das comunidades em que vivem, e, (c) na transformação
da sociedade e das suas vidas pessoais.
Desafio 8 – A Utilização da Web 2.0 no Apoio à Ação sobre Problemas Sociais
e Ambientais
As ferramentas da Web 2.0 podem ser bastante poderosas na implementação de
ações coletivas sobre problemáticas sociais e ambientais (REIS, 2013). Muitos movimentos
sociais (de jovens e adultos) têm utilizado as ferramentas da Web 2.0 para romperem
agendas mediáticas dominantes e mobilizarem cidadãos para novas formas de organização
e ação sociopolítica (CANDÓN-MENA; BENÍTEZ-EYZAGUIRRE, 2016). Diversas redes sociais
têm dado protagonismo social a grupos de cidadãos tradicionalmente afastados dos
monopólios mediáticos – dominados por estados ou grupos económicos – permitindo a
criação e o acesso a espaços virtuais mais democráticos que a facilitam a rápida interação
e o intercâmbio de ideias entre um número extremamente elevado de indivíduos.
Contudo, também têm sido estas redes sociais a facilitar a disseminação de propaganda
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e de informação errada ou distorcida entre a população mundial, manipulando a opinião
pública e o comportamento dos cidadãos, promovendo ideias erradas sobre a ciência e
convidando ao ódio e ao fanatismo (ASHLEY, 2020; LANIER, 2018; VAIDHYANATHAN, 2018).
A desordem da informação, desencadeada pelo acesso facilitado à Internet de grupos
interessados na manipulação da opinião pública, afeta particularmente as comunidades
com baixos níveis de alfabetização mediática e de alfabetização científica (LOPES,
2019; WARDLE, 2019; WARDLE; DERAKHSHAN, 2017). Logo, a promoção destes tipos de
alfabetização assume um caráter prioritário no combate a todos os problemas resultantes
da desordem da informação (IRETON; POSENTTI, 2018; WARDLE, 2019).
Contudo, apesar destes aspetos negativos, as ferramentas da Web 2.0 podem ter
um forte impacto no empoderamento cultural, social e político dos cidadãos (KELLNER;
KIM, 2010; ZORAS; BENCZE, 2014), sendo mais eficazes na promoção da participação cívica
do que os media tradicionais (KAHNE; NAM-JIN LEE; FEEZELL, 2013; SEGERBERG; BENNETT,
2011) e permitindo a todos os cidadãos expressar as suas visões e assumir protagonismo
na divulgação de determinadas propostas de resolução de problemas sociais e ambientais
(GARCÍA BERMÚDEZ; REIS, VÁZQUEZ-BERNAL, 2014, 2017; KRSTOVIC, 2014; MARQUES;
REIS, 2017a, 2017b; SCHEID; REIS, 2016; ZORAS; BENCZE, 2014).
Considerações Finais
Os desafios à educação em ciências que aqui se apresentam não são novos. Contudo,
o contexto social e ambiental atual demonstra a sua atualidade extrema. A concretização
destes desafios promoverá: (a) o reconhecimento da dignidade e do valor inerentes a
todos os seres humanos; (b) o pensamento crítico e a autonomia intelectual dos cidadãos,
num clima de liberdade de pensamento e de manifestação; (c) o empoderamento alargado
dos cidadãos para uma participação fundamentada e ativa na evolução da sua vida e na
resolução dos problemas que a afetam; (d) o reforço do direito de toda a pessoa tomar
parte livremente na vida da comunidade e de contribuir de forma ativa e informada para
uma sociedade e um ambiente saudáveis.
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... Desta forma, percebe-se que as pesquisas que envolvem o ambiente educacional e a interdisciplinaridade vem sendo cada vez mais necessárias. Ferreira e Filatoff (2024) investigaram as práticas de professores em uma escola e as suas participações em atividades interdisciplinares que envolvessem a EA, e perceberam que apesar da pouca experiência nessas atividades, tanto em participar, quanto em propô-las, o engajamento dos alunos foi maior quando as atividades desenvolvidas trabalhavam os temas ambientais com outras disciplinas. ...
... De acordo com Ferreira e Filatoff (2024), as atividades realizadas dessa forma vêm carregadas de novos significados, um novo olhar, novos enfoques na aprendizagem. Os conteúdos na percepção dos alunos ganham vida, já que não são vistos isoladamente. ...
... Um grande desafio de mentalidade a ser vencido. Em sua pesquisa,Reis (2021) nos apresenta oito desafios que os professores de ciências enfrentam em tempos conturbados que vivemos. Dentre eles, alguns têm relação direta com o tema central deste artigo. ...
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Esta pesquisa teve como objetivo analisar como as questões ambientais são orientadas a serem inseridas no processo de formação de futuros professores de Licenciatura em Educação do Campo/Ciências da Natureza e Matemática. De caráter qualitativo, utilizou-se a técnica de análise documental e procedeu-se a análise de conteúdo. A pesquisa verificou como o Projeto Político-Pedagógico do curso insere a educação ambiental na formação dos professores e a frequência que as questões ambientais são abordadas no texto do PPC. Os resultados mostram que o curso, apesar de não ter uma disciplina específica, apresenta 12 disciplinas com abertura para discussões com o tema, além de um estágio de educação popular que auxilia na formação dos professores para a educação ambiental. Em busca de encontrar alguma corrente que sustentasse os ensinamentos do tema durante o percurso acadêmico dos professores, identificou-se que, apesar de não estar explícito, há direcionamentos que se aproximam da corrente crítica e da corrente da sustentabilidade. Assim, o curso de Educação do Campo tem buscado, ao longo do percurso acadêmico, inserir as temáticas ambientais na formação dos professores, colaborando para o desenvolvimento de futuros educadores ambientais para o Estado do Maranhão.
... As disciplinas ligadas ao eixo da Ciências da Natureza, que abrangem do 6º ano do Ensino Fundamental à 3º série do Ensino Médio, têm enfrentado desafios particulares no contexto da globalização. Assim, essa problemática vem sendo o objeto de estudos de diversos pesquisadores, que buscam entender os aspectos sociais que influenciam a educação e o interesse dos alunos (Reis, 2021). Segundo Cysneiros (2012), a utilização de novas tecnologias na educação, como recursos audiovisuais, requer, por parte do professor, uma análise acerca do produto a ser utilizado, verificando se o produto está ligado ao conteúdo proposto. ...
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O objetivo deste trabalho é analisar o conteúdo presente na obra Dungeon Meshi e discutir as referências a conceitos científicos e à ciência observados na animação, avaliando o potencial pedagógico da obra como dispositivo de divulgação científica. Foi realizado um estudo qualitativo acerca da animação, registrando os momentos nos quais haviam a passagem de um termo científico tanto na fala de um personagem quanto visualmente. Esses dados foram extraídos e organizados em uma tabela de acordo com o conteúdo para serem debatidos com os referenciais. No total, foram 18 trechos retirados dos episódios, contendo eventos no enredo que abordaram os seguintes temas: Ecologia (5), Metodologia Científica (3), Biologia Celular (3), Taxonomia (2), Zoologia (2) e Biotecnologia (1). Portanto, conclui-se que a obra analisada traz uma gama de conceitos científicos em seu enredo, que podem ser articulados com o currículo trabalhado em sala de aula e, dessa forma, servir como recurso didático. No entanto, é válido considerar que, mesmo sendo uma tecnologia potencialmente revolucionária para a educação, a própria tecnologia não pode ter um destaque maior do que o conteúdo específico em si.
... Quinze anos findados, o autor reflete sobre dez desafios que a educação e ensino das ciências enfrentam em tempos conturbados. Desafios estes que atingidos poderão alcançar a democracia plena, subjacente à justiça social e bemestar ambiental (Reis, 2021). ...
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Há décadas que se recomenda um ensino das ciências holístico, sistemático, regular e contextualizado desde os primeiros anos numa perspectiva Inquiry-Based Science Education com orientação Ciência-Tecnologia-Sociedade, onde as múltiplas oportunidades educativas fomentam o desenvolvimento da ambicionada literacia científica para todos. O presente estudo investigativo emerge destas orientações e resulta da exploração de 61 atividades (168 sessões), em que se pretendeu avaliar o seu efeito nas aprendizagens das 171 crianças participantes no estudo. Conduziu-se um estudo de natureza qualitativa através da abordagem designada Educational Design Research. Para efeitos de recolha de dados recorreu-se à compilação documental (instrumentos de registo de avaliação das aprendizagens, folhas de registo e respostas dos jogos de avaliação das crianças), para o seu tratamento e análise, a técnica privilegiada foi a análise de conteúdo. Os resultados apontam para uma melhoria significativa nas aprendizagens a nível dos conhecimentos entre os momentos antes e após as atividades e revelam elevados níveis de consecução nas capacidades, atitudes e valores das crianças.
... En el contexto actual, muchos movimientos sociales, tanto de jóvenes como adultos, utilizan las tecnologías para romper las agendas mediáticas dominantes y movilizar a la cuidadanía hacia nuevas formas de organización y acción sociopolítica. Diversas redes sociales han dado protagonismo a grupos de ciudadanos tradicionalmente alejados de los monopolios mediáticos, permitiendo la creación y el acceso a espacios virtuales más democráticos que facilitan la interacción y el intercambio de ideas (Reis, 2021). Además, con el acceso o llegada del equipamiento y la conectividad a las instituciones escolares, se ha potenciado la inclusión de herramientas y recursos novedosos como mediadores de los procesos de enseñanza y de aprendizaje (Luque-Jiménez & García-Ruiz, 2024). ...
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In this paper, we present a design-based research developed with a cohort of preservice biology teachers in the subject of Human Biology. We designed a proposal that integrated the video game ‘Plague Inc: Evolved’ to address the COVID-19 pandemic as a socio-scientific issue. In this context, we studied the development of scientific practices concerning the dynamics of the transmission of viral infections and the ideas of students (preservice teachers) about the integration of Information and Communication Technologies (ICT) in science teaching, specifically on its potential for the development of argumentative and dialogical environments. The changes and progress made during the implementation of the didactic proposal are highlighted. Through a qualitative analysis, we present discussions and theoretical reflections on the development of scientific practices in teacher training.
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This chapter presents the ‘We Act: Informed Collective Activism Regarding Real-life Problems’ project which, since 2012 and originating at the Institute of Education of the University of Lisbon (IE-ULisboa) in Portugal, has brought together an international network of teachers and students strongly involved in promoting active citizenship and Eco and Social Justice in their communities. By integrating components of development, action, and research, the project aims to empower teachers and students to undertake informed and negotiated actions, addressing social and environmental problems related to science and technology. Through ‘We Act’, students are encouraged to engage in investigative and democratic problem-solving activities, supported by artistic initiatives and the use of Web 2.0 tools. This text describes different aspects of this project, namely its origins and foundations, aims, implemented actions, community of practice, and main results.
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This chapter stemmed from acknowledging the need to adopt sociocultural and situated approaches in the field of sustainability education. The objective of the research was to develop environmental education proposals that transcend traditional models, recognising the learning ecologies constructed by students and identifying the emerging emotions experienced during the process. In 2022, design-based research was conducted within the curricular area of the Environment, Development and Society class. The study involved teachers and students of the sixth year of a secondary school located in a town of Córdoba (an Argentinian province), as well as university teachers and students from environment and education-related careers. The results were organised into three dimensions: learning resources, promotion of emotional aspects and hybridisation of contexts. In the final considerations, we recognise the importance of integrating diverse knowledge and addressing context-specific issues to develop environmental learning.
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Interculturality, Environmental Education and science teaching: reflections and interfaces O presente artigo objetiva estabelecer relações entre a interculturalidade e a educação ambiental (EA) visando contribuições no contexto do ensino de ciências em comunidades tradicionais. Para tanto, propõe-se uma discussão acerca da interculturalidade e a EA, enfatizando a macrotendência crítica da educação ambiental. Em vista disso, foram estruturados três pressupostos: a) ampliação da perspectiva de mundo para o enfrentamento da crise socioambiental; b) percepção dos sujeitos como seres integrantes da natureza e c) reflexão para uma atuação crítica. Com a articulação entre esses pressupostos e o planejamento de ações perenes, o ensino de ciências intercultural pode contribuir para que os estudantes aprendam com saberes de comunidades tradicionais. Incentivando a inclusão de outros saberes, inclusive das comunidades tradicionais, é possível construir pontes e parcerias que observem e atuem no contexto local.
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O ensino de embriologia na educação básica enfrenta muitos obstáculos, em razão de inúmeros fatores que perpassam desde o nível de abstração dos conteúdos, até a falta de materiais didáticos adequados para abordá-los em sala de aula. Entretanto, é necessário pensar e discutir sobre propostas pedagógicas que auxiliem na superação desses fatores, uma vez que a embriologia abriga uma série de informações que são essenciais para a formação cognitiva, social e crítica dos estudantes. Dessa maneira, o objetivo deste trabalho foi relatar a experiência vivenciada durante o desenvolvimento de uma sequência didática (SD), utilizando o storytelling (contação de histórias) como metodologia ativa e facilitadora do aprendizado em embriologia na Educação Básica. Se trata de uma pesquisa qualitativa, descritiva e interventiva, realizada em um colégio da rede pública do interior do estado da Bahia, com alunos do 1º ano do ensino médio. Os dados foram coletados por meio da observação participante, do diário de campo, produzido pelo pesquisador, e de memórias de aula, produzidas pelos estudantes no decorrer da SD. Foram analisados com a técnica de análise de conteúdo. Apesar de limitações como, por exemplo, o tempo e a resistência dos alunos, os resultados ressaltam o potencial do storytelling como uma metodologia eficaz para facilitar o aprendizado de embriologia, uma vez que promove a contextualização, a dinâmica em sala e a participação ativa dos estudantes, favorecendo o desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo e de competências e habilidades essenciais para as tomadas de decisões responsáveis nas suas relações.
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A citizen’s capacity to act in society as an agent of change is an important element of Environmental Citizenship. This chapter discusses the concept of activism and the importance of activism initiatives in the development of citizens’ willingness and competences for critical, active and democratic engagement in preventing and solving environmental problems. Several possible ways for young people to get involved in environmental activism are presented. Also discussed is the possible and desirable combination of youth activism with citizen science, as a catalyst for empowering future citizens with the willingness and the higher-level abilities for participating in the global effort for a sustainable development and assuming the responsibility for future generations. Youth activism represents a key element in Education for Environmental Citizenship, allowing students to exercise their environmental rights and duties and to develop the knowledge, skills, values and attitudes that empower them as problem-solvers capable of facing the contemporary environmental problems.
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This open access book is about the development of a common understanding of environmental citizenship. It conceptualizes and frames environmental citizenship taking an educational perspective. Organized in four complementary parts, the book first explains the political, economic and societal dimensions of the concept. Next, it examines environmental citizenship as a psychological concept with a specific focus on knowledge, values, beliefs and attitudes. It then explores environmental citizenship within the context of environmental education and education for sustainability. It elaborates responsible environmental behaviour, youth activism and education for sustainability through the lens of environmental citizenship. Finally, it discusses the concept within the context of different educational levels, such as primary and secondary education in formal and non-formal settings. Environmental citizenship is a key factor in sustainability, green and cycle economy, and low-carbon society, and an important aspect in addressing global environmental problems. It has been an influential concept in many different arenas such as economy, policy, philosophy, and organizational marketing. In the field of education, the concept could be better exploited and established, however. Education and, especially, environmental discourses in science education have a great deal to contribute to the adoption and promotion of environmental citizenship.
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While the historical impact of rumours and fabricated content has been well documented, efforts to better understand today’s challenge of information pollution on a global scale are only just beginning. Concern about the implications of dis-information campaigns designed specifically to sow mistrust and confusion and to sharpen existing sociocultural divisions using nationalistic, ethnic, racial and religious tensions is growing. The Council of Europe report on “Information Disorder: Toward an interdisciplinary framework for research and policy making” is an attempt to comprehensively examine information disorder and to outline ways to address it.
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Available as free OER online: https://www.taylorfrancis.com/books/oa-mono/10.4324/9780429460227/news-literacy-democracy-seth-ashley News Literacy and Democracy invites readers to go beyond surface-level fact checking and to examine the structures, institutions, practices, and routines that comprise news media systems. This introductory text underscores the importance of news literacy to democratic life and advances an argument that critical contexts regarding news media structures and institutions should be central to news literacy education. Under the larger umbrella of media literacy, a critical approach to news literacy seeks to examine the mediated construction of the social world and the processes and influences that allow some news messages to spread while others get left out. Drawing on research from a range of disciplines, including media studies, political economy, and social psychology, this book aims to inform and empower the citizens who rely on news media so they may more fully participate in democratic and civic life. The book is an essential read for undergraduate students of journalism and news literacy and will be of interest to scholars teaching and studying media literacy, political economy, media sociology, and political psychology.
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This book provides an interdisciplinary examination of the multiple meanings of "empowerment." Rather than seeking to define and critique this term, it draws out a range of different meanings, exploring diverse possibilities for action and engagement. In concise chapters, the book maps out a range of ways that people can be empowered along different continuums of power, moving from more familiar forms of teaching and counselling to less common and more radical strategies for fostering solidarity and civil resistance.
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Em Portugal, a formação contínua é consagrada pela primeira vez na Lei de Bases de Sistema Educativo (Lei 46/86), surgindo, desde 1992, com a aprovação do Decreto-Lei n.º 249, como um elemento-chave na melhoria da qualidade do sistema educativo, através da qualificação e da capacitação do corpo docente das escolas, e como uma preocupação da política educativa portuguesa. Numa primeira fase, com o forte apoio de verbas da Comunidade Europeia, implementou-se um sistema de formação massivo que pretendeu suprir num curto espaço de tempo as enormes carências do sistema educativo. Depois desse período inicial, surgiu uma segunda fase marcada por uma maior triagem das ofertas de formação, de acordo com prioridades de intervenção definidas pelo ministério e critérios de avaliação mais restritos das ações de formação (CCPFC, 2014). Ao longo das últimas décadas, a formação contínua de professores em Portugal tem procurado privilegiar uma maior contextualização das propostas, centrando-se de forma crescente nas necessidades de determinados docentes e escolas e destacando a escola e a sala de aula como o lugar privilegiado para o desenvolvimento profissional dos professores. Contudo, muitas propostas de formação ainda seguem um modelo tradicional, descontextualizado e com pouco impacto na realidade das escolas. Simultaneamente, as ações nem sempre têm sido encaradas como um contexto de desenvolvimento pessoal e institucional, constituindo apenas uma forma dos professores cumprirem a frequência obrigatória de ações de formação, imposta pelo ministério da educação para a sua progressão na carreira. Logo, alguns professores acabam por frequentar ações de formação baseadas em modelos tradicionais que, apesar de pouco relevantes para a sua prática profissional, requerem uma dedicação menor e proporcionam a certificação formal necessária à progressão na carreira. Noutras situações, o desenvolvimento de competências profissionais – o saber dos professores – nem sempre tem sido acompanhado das condições de motivação – o querer – e dos meios de realização – o poder – indispensáveis para que as competências se traduzam em práticas educativas eficazes (Campos, 2011). Desta forma, alguma da formação contínua realizada acaba por ser irrelevante por não se traduzir em mudanças no desempenho profissional capazes de contribuírem para a melhoria das aprendizagens dos alunos nos contextos específicos de sala de aula e de escola. Perante estas dificuldades, o Instituto de Educação da Universidade de Lisboa (IE-ULisboa) tem procurado estudar e propor modalidades de formação contínua com maior impacto na competência profissional dos professores e nos resultados de aprendizagem dos seus alunos. Durante os últimos anos, o desenvolvimento de comunidades de prática – envolvendo a colaboração de diferentes agentes educativos na análise de problemas/dificuldades e no desenvolvimento e avaliação de propostas de solução – tem-se revelado uma modalidade eficaz na melhoria do ensino em contextos específicos.
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A la hora de plantear los vínculos entre movimientos sociales y tecnología corremos el riesgo de abordar la cuestión desde el determinismo tecnológico y relegar el análisis de su verdadero potencial transformador tanto del pensamiento subjetivo como social, es decir, de las formas y posibilidades de vida. Los movimientos sociales interrogan los modos de ver y hacer, la naturaleza del poder y las estructuras de la organización colectiva que, precisamente por ello, se entienden como subversivos y amenazantes. Internet solo será un aliado de la democracia de la mano de actores sociales que porten nuevos valores democráticos. Solo la alianza cada vez más evidente entre movimientos emancipadores y las nuevas tecnologías hará de éstas un instrumento liberador. Este libro colectivo pretende mapear estas alianzas en distintos países del mundo. Ya sea contra dictaduras o regímenes formalmente democráticos, se multiplican los ejemplos de movimientos sociales que usan las TIC para reclamar derechos y participación en sus sociedades. Antes de abordar ejemplos concretos, el texto comienza con unos capítulos introductorios que enmarcan el análisis de la peculiar relación entre tecnología y movimientos sociales a través de diferentes expresiones en distintos lugares del mundo a través de ejemplos que cubren al menos algunas áreas geográficas destacadas para descubrir dinámicas, estrategias, aspectos comunes del fenómeno en la globalidad mientras se detallan la singularidad y características de sus expresiones locales.
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This book explains how Facebook devolved from an innocent social site created by Harvard students into a force that makes personal life a little more pleasurable, but at the same time makes democracy a lot more challenging. It talks about the hubris of good intentions, a missionary spirit, and an ideology that sees computer code as the universal solvent for all human problems. It also addresses how "social media" has fostered the deterioration of democratic culture around the world, from facilitating Russian meddling in support of Donald Trump's election to the exploitation of the platform by murderous authoritarians in Burma and the Philippines. The book analyzes the increase of recognition and reaction against Facebook's power in the last couple of years. It reviews the growing public concern about the influence Facebook exerts over lives and politics around the world.