ArticlePDF Available

Knowledge and practices of Primary Care professionals on diabetic neuropathy: study of social representations

Authors:

Abstract

Objectives: to analyze the knowledge and practices of Primary Health Care professionals about diabetic neuropathy through their social representations. Methods: a qualitative, descriptive study, anchored in the procedural aspect of the Theory of Social Representations. It was carried out in four Family Health Units in Belém-Pará, with 31 professionals from four health teams. Data were produced by individual semi-structured interviews, and the corpus was submitted to content analysis. Results: two thematic categories were defined, showing the participants' understanding and imagination about neuropathy, as well as the biopsychosocial repercussions of this complication in patients' daily lives. The multidisciplinary practices developed in the context of disease treatment/prevention and the consequences of this performance were also shown. Final considerations: professionals' representations are anchored in neuropathy occurrence due to the deficient standard of care for themselves by patients, which results in the team's surpassing care attitude as an alternative to illness' challenges.
1
Rev Bras Enferm. 2021;74(1): e20190104http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0104 11
de
RESUMO
Objetivos: analisar os saberes e práticas de profissionais da Atenção Primária à Saúde sobre
neuropatia diabética, mediante suas representações sociais. Métodos: estudo qualitativo,
descritivo, ancorado na vertente processual da Teoria das Representações Sociais. Foi realizado
em quatro Unidades de Saúde da Família de Belém-Pará, com 31 profissionais integrantes de
quatro equipes de saúde. Produziram-se os dados por entrevistas semiestruturadas individuais,
sendo o corpus submetido à técnica de análise de conteúdo. Resultados: definiram-se duas
categorias temáticas, evidenciando a compreensão e imaginário dos participantes sobre a
neuropatia, bem como as repercussões biopsicossociais dessa complicação no cotidiano dos
doentes. Mostraram-se, também, as práticas multiprofissionais desenvolvidas no âmbito do
tratamento/prevenção do agravo e os desdobramentos dessa atuação. Considerações Finais:
as representações dos profissionais ancoram-se na ocorrência da neuropatia pelo padrão
deficiente de cuidados consigo por parte dos doentes, o que resulta na atitude sobrepujante
do cuidado pela equipe como alternativa aos desafios do adoecimento.
Descritores: Neuropatias Diabéticas; Atenção Primária à Saúde; Pessoal de Saúde; Equipe
de Assistência ao Paciente; Psicologia Social.
ABSTRACT
Objectives: to analyze the knowledge and practices of Primary Health Care professionals about
diabetic neuropathy through their social representations. Methods: a qualitative, descriptive
study, anchored in the procedural aspect of the Theory of Social Representations. It was carried
out in four Family Health Units in Belém-Pará, with 31 professionals from four health teams.
Data were produced by individual semi-structured interviews, and the corpus was submitted
to content analysis. Results: two thematic categories were defined, showing the participants’
understanding and imagination about neuropathy, as well as the biopsychosocial repercussions
of this complication in patients’ daily lives. The multidisciplinary practices developed in the
context of disease treatment/prevention and the consequences of this performance were
also shown. Final Considerations: professionals’ representations are anchored in neuropathy
occurrence due to the deficient standard of care for themselves by patients, which results in
the team’s surpassing care attitude as an alternative to illness’ challenges.
Descriptors: Diabetic Neuropathies; Primary Health Care; Health Personnel; Patient Care
Team; Psychology, Social.
RESUMEN
Objetivos: analizar los conocimientos y prácticas de los profesionales de Atención Primaria
de la Salud sobre la neuropatía diabética, a través de sus representaciones sociales. Métodos:
estudio cualitativo, descriptivo, anclado en el aspecto procedimental de la Teoría de las
Representaciones Sociales. Se llevó a cabo en cuatro Unidades de Salud de la Familia en
Belém-Pará, con 31 profesionales de cuatro equipos de salud. Los datos se elaboraron
mediante entrevistas individuales semiestructuradas y el corpus se sometió a la técnica de
análisis de contenido. Resultados: se definieron dos categorías temáticas que muestran
la comprensión y la imaginería de los participantes sobre la neuropatía, así como las
repercusiones biopsicosociales de esta complicación en la vida diaria de los pacientes. También
se mostraron las prácticas multidisciplinares desarrolladas en el contexto del tratamiento/
prevención de la enfermedad y las consecuencias de esta acción. Consideraciones Finales: las
representaciones de los profesionales están ancladas en la ocurrencia de neuropatía debido
al deficiente estándar de atención de los pacientes a sí mismos, lo que se traduce en una
actitud de atención superior del equipo como alternativa a los desafíos de la enfermedad.
Descriptores: Neuropatías Diabéticas; Atención Primaria de Salud; Personal de Salud; Grupo
de Atención al Paciente; Psicología Social.
Saberes e práticas de profissionais da Atenção Primária sobre
neuropatia diabética: estudo de representações sociais
Knowledge and practices of Primary Care professionals on diabetic neuropathy: study of social representations
Conocimientos y prácticas de los profesionales de Atención Primaria sobre la neuropatía diabética: estudio de las
representaciones sociales
ARTIGO ORIGINAL
Erlon Gabriel Rego de AndradeI
ORCID: 0000-0002-7109-6121
Ivaneide Leal Ataíde RodriguesII
ORCID: 0000-0001-9968-9546
Sidney de Assis da Serra BragaI
ORCID: 0000-0002-0682-1286
Laura Maria Vidal NogueiraII
ORCID: 0000-0003-0065-4509
Bruna Alessandra Costa e Silva PanarraIII
ORCID: 0000-0002-2469-7426
Marcandra Nogueira de Almeida SantosIV
ORCID: 0000-0002-0017-855X
Alexandre Aguiar PereiraII
ORCID: 0000-0003-0761-5836
ICentro Universitário do Estado do Pará. Belém, Pará, Brasil.
IIUniversidade do Estado do Pará. Belém, Pará, Brasil.
IIIUniversidade da Amazônia. Belém, Pará, Brasil.
IVConselho Regional de Enfermagem do Pará. Belém, Pará, Brasil.
Como citar este artigo:
Andrade EGR, Rodrigues ILA, Braga SAS, Nogueira LMV,
Panarra BACS, Santos MNA, et al . Knowledge and
practices of Primary Care professionals on diabetic
neuropathy: study of social representations.
Rev Bras Enferm. 2021;74(1):e20190104.
doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0104
Autor Correspondente:
Erlon Gabriel Rego de Andrade
E-mail: erlon.rego@hotmail.com
EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Rafael Silva
Submissão: 13-02-2020 Aprovação: 11-09-2020
2
Rev Bras Enferm. 2021;74(1): e20190104 11
de
Saberes e práticas de profissionais da Atenção Primária sobre neuropatia diabética: estudo de representações sociais
Andrade EGR, Rodrigues ILA, Braga SAS, Nogueira LMV, Panarra BACS, Santos MNA, et al.
INTRODUÇÃO
A Atenção Primária à Saúde (APS) se configura como protago-
nista das ações de promoção, proteção, diagnóstico, tratamento
e recuperação no primeiro nível de atenção, em que as neces-
sidades biopsicossociais de saúde precisam ser atendidas sob
a perspectiva multiprofissional e interdisciplinar, ratificando a
participação conjunta de profissionais de diferentes categorias
e níveis de formação
(1)
. Nessa perspectiva, o Ministério da Saúde
criou a política governamental Estratégia Saúde da Família (ESF),
com a premissa de desenvolver ações de expansão e consolidação
da Atenção Básica, fortalecendo e sendo orientada por vínculos,
humanização, continuidade do cuidado e participação social
(2-3)
.
No contexto da ESF, as Doenças Crônicas Não Transmissíveis
(DCNT) representam importante grupo de agravos, demandando
atenção de toda equipe, tendo em vista suas potenciais reper-
cussões clínicas, que afetam o cotidiano de indivíduos e famílias,
em diferentes espectros. O número de pessoas que convivem
com DCNT tem crescido, especialmente nos países em desenvol-
vimento, constituindo grande desafio aos sistemas de saúde(4).
Integrando esse grupo, destaca-se o diabetes mellitus, endo-
crinopatia geradora de complicações agudas e crônicas, entre as
quais tem relevância a neuropatia diabética. Essa neuropatia é um
distúrbio do sistema nervoso periférico autônomo e/ou somático,
com potencial para afecção de todos os tipos de fibras nervosas,
de diferentes regiões do organismo, ampliando-se o risco para
formação de lesões ulcerosas nos pés, amputações, deformações
e desequilíbrio de marcha, além de alterações cardiovasculares,
dos sistemas geniturinário e gastrointestinal e da sudorese(5-7).
Considerando o processo fisiopatológico, que resulta em um
amplo espectro de manifestações clínicas e sequelas, importa
destacar o problema no cenário global e nacional. De acordo com
dados da International Diabetes Federation (IDF), alterações verificadas
no pé diabético e demais seguimentos de extremidades inferiores,
decorrentes da neuropatia, atingem cerca de 40 a 60 milhões de
indivíduos com diabetes no mundo. Quadros que evoluem com
úlceras crônicas e amputações são determinantes na redução da
qualidade de vida e risco aumentado de morte prematura(8).
No Brasil, são escassas as informações que evidenciem, em
base populacional, a prevalência de complicações da doença(6).
Contudo, em relação à neuropatia, sabe-se que representa a
complicação crônica e microvascular majoritária do diabetes,
sugerindo que mais de 50% dos diagnosticados a desenvolverá
durante a trajetória clínica
(5-6)
. Congruente com essas evidências,
estudo mostrou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e
o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das DCNT
no Brasil, 2011-2022, elencam o diabetes entre as DCNT que
demandam intervenção prioritária(9).
Para além desse cenário e das questões biológicas que en-
volvem o adoecimento, é imperioso pensar nas limitações fun-
cionais que incidem sobre a qualidade de vida e capacidade de
realização das atividades cotidianas, impactando, sobre diferentes
aspectos, a vida do doente. Isso pode acarretar-lhe frustrações
pessoais em virtude da dificuldade em alcançar as metas de
controle glicêmico, e sentimento de discriminação no ambiente
social, comprometendo sua autoestima, afetando-o emocional
e psicologicamente(10).
Em face às repercussões da neuropatia na vida de quem
convive com diabetes, é fundamental que a equipe de saúde
compreenda a doença e suas potenciais complicações, não
apenas no contexto biológico, mas, especialmente, no contexto
psicossocial, de forma que esteja sensível para traçar estratégias
de prevenção e tratamento da neuropatia diabética, a fim de
reduzir seu impacto no cotidiano do doente e daqueles que
com ele lidam com o processo de adoecimento e partilham o
cuidado – familiares, cuidadores e/ou acompanhantes(5-7,11-12).
Nesse cenário, os profissionais da APS podem contribuir para
ressignificar a realidade e os impactos biopsicossociais nela im-
bricados, mediante intervenções/orientações factíveis, baseadas
no modo de vida e situação real dos acometidos, para que gerem
efeito palpável no controle da doença e não fiquem no plano das
ideias(13). Diante do envolvimento desses profissionais na atenção às
necessidades individuais e coletivas, importa conhecer a perspectiva
simbólica na qual os seus pensamentos e atitudes são socialmente
construídos, considerando-se a neuropatia como fenômeno que
suscita a produção de subjetividades tecidas e partilhadas no
cotidiano da atuação em equipe. Assim, depreende-se como esse
simbolismo interfere no modo de agir para com os doentes, seja
com finalidade preventiva ou terapêutica.
No âmbito da Teoria das Representações Sociais (TRS), a relevân-
cia de um fenômeno social, em geral, é identificada por meio das
conversações que originam, dos conhecimentos que mobilizam e
das práticas que induzem
(14)
. Dessa forma, a neuropatia é passível de
investigação como fenômeno de representações sociais (RS) para os
profissionais da APS, posto que elas se constituem como conheci-
mento prático, elaborado e reestruturado sob certas circunstâncias
em um dado momento histórico, ante às práticas sociais, mobilizando
a compreensão e comunicação do contexto sociomaterial a partir
da expressão cognitiva e de elementos conceituais e simbólicos(13,15).
O estudo das RS abarca o entendimento de fenômenos perante
o contexto social de sua produção, para apreender o processo
comunicativo circulante, bem como sua aplicação simbólica e
ideológica(13,15), permitindo inferir que, na APS, as RS mobilizam
a circulação de saberes e práticas sobre temas arrolados à ex-
periência daqueles que nela atuam. Nesse contexto, pesquisas
já demonstraram a contextualização das RS na investigação das
DCNT e de suas implicações, como ocorre no diabetes(11-13,16).
Portanto, o entendimento dos saberes e práticas desses pro-
fissionais a respeito da neuropatia diabética é fundamental para
a obtenção das RS desse grupo para, assim, perceber como com-
preendem a doença/complicação, como veem o doente e como
suas ações são concebidas e executadas na APS, visto ser uma pa-
tologia que interfere fortemente no cotidiano e contexto social dos
acometidos. Entende-se que o acesso e o compartilhamento dessas
informações, por meio da compreensão de suas RS, potencializam o
contexto teórico inerente a esse campo de investigação, no campo
da saúde enquanto área de atuação e produção de conhecimento,
com destaque à ESF e às categorias profissionais que a integram.
OBJETIVOS
Analisar os saberes e práticas de profissionais da Atenção
Primária à Saúde sobre neuropatia diabética, mediante suas
representações sociais.
3
Rev Bras Enferm. 2021;74(1): e20190104 11
de
Saberes e práticas de profissionais da Atenção Primária sobre neuropatia diabética: estudo de representações sociais
Andrade EGR, Rodrigues ILA, Braga SAS, Nogueira LMV, Panarra BACS, Santos MNA, et al.
MÉTODOS
Aspectos éticos
A pesquisa foi desenvolvida em conformidade com a Resolução
CNS nº 466/2012. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA), e
obteve autorização institucional da Secretaria Municipal de Saúde
de Belém (SESMA). Os participantes foram identificados por meio
de código alfanumérico, utilizando-se a letra P, de “Profissional”,
seguida da numeração sequencial das entrevistas.
Referencial teórico-metodológico
A TRS se refere à compreensão de uma forma de conhecimen-
to particular, que cumpre a função de guiar comportamentos
e entendimentos entre pessoas. Enquanto fenômenos sociais,
as RS são munidas de valores simbólicos e práticos. Os valores
simbólicos orientam a construção do pensamento individual e
coletivo acerca do objeto de investigação, e os práticos, como agir
diante desse objeto, em um movimento recíproco de constante
retroalimentação, que faz com que as RS sejam quase tangíveis,
por meio do gesto, da fala e do encontro cotidiano(17). São, então,
uma forma de compreensão do universo consensual, conjunto de
saberes do senso comum, distinguíveis de conhecimentos técnicos
formulados na ciência, denominados conhecimento reificado
(18)
.
Com o intuito de apreender os saberes e práticas sociais, a TRS
se mune dos conceitos de ancoragem e objetivação, processos
básicos de constituição das RS. O primeiro tem por finalidade tornar
determinado objeto, a priori, encarado como estranho e distinto
da realidade, familiar e tangível à experiência do indivíduo e sua
coletividade, possibilitando sua (re)nomeação e o estabelecimento
de valor ao mesmo a partir das normas e preceitos do grupo social.
O segundo materializa a representação por meio de uma imagem
ou símbolo, transferindo à realidade física o que se construiu no
mundo psíquico, propiciando a materialização do objeto e sua
possível naturalização(17).
Ao compreender a APS-ESF como cenário fecundo para in-
teração social, materializada na relação entre equipes de saúde
e populações-alvo, emprega-se, neste estudo, o referencial
teórico-metodológico da TRS, buscando depreender a relação
indivíduo-sociedade, ao explorar como aquele interage com
esta, e vice-versa, no complexo movimento de construção da
realidade. Nesse contexto, insere-se o atendimento às pessoas
com neuropatia diabética e suas famílias, caracterizado pela mul-
tidimensionalidade do cuidado, pois ocorre em espaços variados,
seja na Unidade de Saúde, domicílio ou ambientes comunitários,
e sob diferentes modalidades, por meio de consultas, visitas mul-
tiprofissionais, atividades de educação em saúde, entre outras.
Isso permite a proximidade entre serviço e comunidade, com
potencial estreitamento de laços e o estabelecimento de relações
de diálogo, compartilhamento de saberes e colaboração mútua.
Tipo de estudo
Optou-se por um estudo descritivo, com abordagem qualitativa,
ancorado na vertente processual da TRS. A investigação qualitativa
apresenta como foco a concepção e aprofundamento de fenô-
menos, explorados mediante a perspectiva dos participantes,
em um contexto e ambiente natural, buscando subjetividades do
indivíduo ou grupo sobre sua realidade(19). Em consonância com
essa abordagem, a vertente processual viabiliza a compreensão
do conteúdo das RS e dos elementos que as constituem, tais como
crenças, ideologias, valores e atitudes, por meio de métodos de
pesquisa que permitam a expressão e registro adequado dos
mesmos
(15)
. A fim de nortear a elaboração do estudo, adotou-se
as recomendações do COREQ para estudos qualitativos(20).
Cenário do estudo e fonte de dados
A pesquisa foi realizada em quatro Unidades de Saúde da
Família (USF) do município de Belém (PA), campos de prática e
estágio supervisionados de estudantes de cursos de graduação nas
áreas da saúde. Participaram 31 profissionais, sendo 22 Agentes
Comunitários de Saúde (ACS), quatro enfermeiras, duas médicas
e três técnicos de enfermagem. Estes integravam uma equipe
para cada USF selecionada, totalizando, assim, quatro equipes.
O quantitativo de profissionais atuantes nessas equipes, durante
o período de coleta de dados, totalizava 34, tendo este estudo
alcançado percentual de participação de 91,2% (31/34).
Foram incluídos os profissionais que trabalhavam em ESF há, no
mínimo, um ano, efetivos ou contratados. Definiu-se, como critério
de exclusão, profissionais afastados de suas atividades, por férias ou
licença de qualquer natureza. Todavia, o mesmo não se aplicou ao
total de participantes, posto que todos estavam em pleno desen-
volvimento de suas atividades, sendo que três não participaram em
virtude da impossibilidade de agendamento das entrevistas, após
três tentativas no período previsto para coleta de dados.
Coleta e organização dos dados
Para produção de dados, foram realizadas entrevistas semiestru-
turadas individuais, utilizando roteiro elaborado pelos pesquisadores,
contendo perguntas abertas e fechadas, distribuídas em dois eixos:
o primeiro, relativo aos dados sociais e profissionais dos participan-
tes, e o segundo, à exploração do objeto de estudo, com perguntas
referentes aos saberes e práticas sobre neuropatia diabética e as
implicações para o exercício multiprofissional, no contexto da ESF.
Estas exploraram as concepções sobre a doença/complicação;
possível interferência no cotidiano funcional e sociofamiliar do
doente, assim como em sua autoimagem, autocuidado e dimen-
são afetiva; práticas individuais e coletivas para a prevenção e
tratamento da neuropatia diabética; facilidades e limitações da
atuação multiprofissional no contexto desse atendimento. A
produção ocorreu no período de abril a julho de 2019, conduzida
pelo pesquisador principal.
A fim de conhecer a realidade dos serviços, previamente à coleta
de dados, procedeu-se a visita às unidades, com intuito de estabelecer
contato com as respectivas gerências e apresentar-lhes a proposta
do estudo. A abordagem aos profissionais ocorreu nas dependências
da USF em que atuavam, local onde também foram realizadas as
entrevistas, em sala cedida pela gerência, visando à plena garantia
de privacidade ao participante. As entrevistas foram gravadas com
uso de mídia digital, mediante consentimento formal.
4
Rev Bras Enferm. 2021;74(1): e20190104 11
de
Saberes e práticas de profissionais da Atenção Primária sobre neuropatia diabética: estudo de representações sociais
Andrade EGR, Rodrigues ILA, Braga SAS, Nogueira LMV, Panarra BACS, Santos MNA, et al.
Análise dos dados
O conteúdo das entrevistas foi transcrito, compondo o corpus,
analisado mediante cuidadosa leitura. Procedeu-se a análise por
meio da técnica de análise de conteúdo(21), considerando suas
três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos
resultados. Assim, os dados foram classificados de acordo com
temas apresentados nas respostas dos participantes às perguntas
do roteiro. Inicialmente, os depoimentos foram analisados interna-
mente por entrevista, visando identificar as unidades de contexto,
das quais foram destacados os temas (unidades de registro), que
ocorreram com maior frequência. Posteriormente, realizou-se a
análise global de todas as respostas, verificando-se expressões,
símbolos e metáforas que fizessem sentido para a compreensão dos
saberes e práticas dos profissionais. Dessa forma, identificaram-se
425 unidades de contexto, das quais foram extraídos 22 temas que
compuseram duas unidades de significação, as quais agregaram
os temas referentes aos saberes e às práticas dos profissionais.
A partir das unidades de significação, foram organizadas duas
categorias temáticas, intituladas “Significações da neuropatia
e as repercussões biopsicossociais no cotidiano do doente” e
“Atuação multiprofissional: aspectos terapêuticos e profiláticos
da neuropatia diabética”. Para fundamentar a análise das mes-
mas, optou-se pelo uso de conceitos estruturantes da TRS, sendo
eles: valores simbólicos, valores práticos, universo consensual,
conhecimento reificado, ancoragem e objetivação, conforme suas
respectivas definições, apresentadas na descrição do referencial
teórico-metodológico.
RESULTADOS
Perfil dos participantes
Predominou o sexo feminino, com 83,9% (26/31), e idade
variável entre 24 e 58 anos, prevalecendo a faixa etária de 34 a 43
anos, com 41,9% (13/31). Quanto ao tempo de formação, entre
as categorias de nível superior, houve variação de 1 a 13 anos
para enfermeiras, de 1 a 11 anos para médicas e de 2 a 17 anos
para os técnicos de enfermagem; 27,3% (6/22) dos ACS relataram
formação de nível superior e 31,8% (7/22), formação técnica, em
diferentes campos do conhecimento, pertencentes ou não à área
da saúde. Portanto, considerando a titulação acadêmica, 38,7%
(12/31) apresentavam graduação, dos quais 41,7% (5/12) eram
especialistas e 8,3% (1/12) eram mestres em suas respectivas
áreas de formação.
O tempo de atuação em ESF variou de 1 a 19 anos, com pre-
dominância de seis anos (32,3%, 10/31). No tocante à religião,
58,1% (18/31) se declararam católicos. Quanto à situação conju-
gal, houve predomínio de solteiros, com 64,5% (20/31), e 51,6%
(16/31) possuíam filhos.
Significações da neuropatia e as repercussões biopsicos-
sociais no cotidiano do doente
Nesta categoria, apresenta-se a compreensão e imaginário dos
participantes sobre o diabetes mellitus e neuropatia diabética, bem
como as repercussões biopsicossociais dessa complicação no cotidiano
do doente, as quais são fortemente apresentadas como inerentes
ao processo de adoecimento, contribuindo para explicar o objeto.
No intuito de obter o entendimento sobre neuropatia, inves-
tigou-se, previamente, as concepções a respeito da patologia de
base. Observou-se que, para 61,3% (19/31) dos profissionais, o
diabetes mellitus resulta de um estilo de vida inadequado, com
influência de fatores comportamentais repetidamente verificados
no dia a dia do indivíduo. Somando-se a essa compreensão, 54,8%
(17/31) caracterizaram a doença como conjunto de alterações
corpóreas que induzem à elevação da glicemia, processo que
identifica alguém que convive ou a está desenvolvendo. Assim,
encaram o diagnóstico com gravidade, a partir do qual é deman-
dado cuidado contínuo, tendo em vista a possibilidade iminente
de complicações, ou mesmo risco de morte:
Particularmente, a primeira impressão que eu tenho, quando ouço
falar da doença diabetes, é que a pessoa não se cuida em relação
à alimentação, aos hábitos em geral. E, quando já é uma diabetes
avançada, [...] eu acho que realmente a pessoa não quer se cuidar,
porque, eu tenho um conhecido que, nossa, parece que ele pede
pra morrer, mas não por falta de orientação do profissional, é que
a pessoa não se cuida. (P15)
Olha, eu entendo a diabetes como uma doença muito ingrata,
porque vai [...], se a pessoa não tiver cuidado, matando lentamente,
silenciosa, uma doença silenciosa que a pessoa, às vezes, nem sabe
que está com diabetes, [...] às vezes, a pessoa pensa que não tem
e quando acaba está com diabetes, com a glicose alta. E, se não
tiver cuidado, ela pode levar à morte, pode levar a pessoa a ficar
mutilada, uma série de problemas. (P23)
Um dado interessante foi que, em que pese todos serem
profissionais de saúde, com experiência prévia e/ou atual no
atendimento a pessoas com essa complicação, em muitos de
-
poimentos, ressaltaram-se os saberes do universo consensual
relacionados à neuropatia.
Os conteúdos manifestos, com maior aproximação ao co-
nhecimento reificado, estavam presentes nos depoimentos das
enfermeiras, médicas, uma ACS e uma técnica de enfermagem.
Para a maioria delas, a neuropatia diabética se trata de uma com-
plicação ou agravamento neurológico, que afeta especialmente
os nervos, prevalecendo o entendimento de que seu progresso
guarda estreita relação com o descontrole da doença, em virtude
do descompromisso do doente para com o tratamento em seus
diferentes espectros, havendo possibilidade de sintomatologia e
evolução clínica, com parestesia, redução ou perda da sensibilidade,
lesões e amputações, dependendo da gravidade de cada caso:
Pra mim, é uma complicação da diabetes, principalmente quando
o paciente não está compensado, e que causa muito incômodo,
porque ele tem parestesia [...]. Eles têm muita resistência em
aceitar que têm diabetes, e, para eles, só afeta com açúcar. A falta
de adesão ao tratamento, a não realização de atividades físicas
também ajudam no progresso da doença. Aí, é uma luta diária
[referindo-se aos atendimentos]. (P8)
São alterações a níveis de sensibilidade desse paciente, principal-
mente nos membros inferiores, nos pés, [...] entre os diabéticos
que não conseguem controlar, e eles vêm com essa queixa, de
5
Rev Bras Enferm. 2021;74(1): e20190104 11
de
Saberes e práticas de profissionais da Atenção Primária sobre neuropatia diabética: estudo de representações sociais
Andrade EGR, Rodrigues ILA, Braga SAS, Nogueira LMV, Panarra BACS, Santos MNA, et al.
adormecimento, de não sentir, então os nervos estão afetados. [...]
eu sempre digo pros nossos pacientes, quando eles não seguem
as nossas orientações, eles acabam chegando pra nós com essa
queixa de o pé estar adormecido, de ter furado o pé, ter cortado
e não ter sentido, porque é como eu sempre falo, [...] se você tem
um motor e coloca esse óleo aí, estragado, ele vai estragar todo
o motor. Então, se esse sangue está aí, com essa glicose acima do
normal, vai estragar seu corpo todo. (P20)
Com a finalidade de explicar a complicação e seus múltiplos
efeitos, os participantes expuseram diferentes repercussões
no cotidiano do doente, as quais enfatizam os significados da
neuropatia diabética no imaginário desse grupo. Para eles, a
complicação se revela potencialmente impactante sobre três
dimensões humanas: biológica, social e psicoafetiva.
Na dimensão biológica, destacam-se as alterações corporais
relativas à estrutura e capacidade funcional do organismo, ma-
nifestas majoritariamente pelos participantes. Neste sentido, a
complicação gera limitações à realização das atividades da vida
diária, déficits orgânicos e estéticos, com consequente dependência
de terceiros. O corpo seguirá o curso da patologia até alcançar
condições que o tornarão possivelmente estereotipado e estig-
matizado por sinais visíveis de sua doença, como o abatimento,
a magreza excessiva e a perda total de membros ou parte deles:
[...] pelo menos, das pessoas diabéticas que eu conheço, várias
já foram afetadas no seu dia a dia. Têm pessoas que já foram
amputadas, que ficaram cegas, pessoas que vivem muito mal.
Primeiro, que a pessoa fica dependente de remédio, e eu já acho
que não deve ser agradável ficar dependente de remédio. Depois,
quando as pessoas perdem membros, fica difícil de se locomover,
têm que depender dos outros, depender de cadeira de rodas,
é complicado. Afeta muito a vivência da pessoa, eu creio. (P1)
[...] perdeu esse dedo, esse outro aqui estava necrosado, acho
que vai perder [mostrava em seu próprio corpo]. O angiologista
falou que, daqui pra cá [apontou novamente], não tinha mais
circulação. Está magro, desdentado [...]. (P15)
Neste contexto, os profissionais mencionaram que alterações
no autocuidado podem ocorrer como efeito do adoecimento,
havendo, contudo, padrões diferenciados na manifestação
desse fenômeno, dependendo da disposição do indivíduo para
o cuidado de si, das orientações e apoio que recebe por parte
dos profissionais de saúde e familiares. Outro aspecto relevante,
mencionado por eles, é a dependência compulsória e inevitável
ao tratamento, em suas diferentes modalidades (farmacoterapia,
dietoterapia, exercícios físicos, entre outras), obrigando o doente
a se submeter ao mesmo. Isto inclui, por vezes, abster-se de certas
práticas, consideradas deletérias ou inapropriadas, para alcançar
qualidade de vida.
Quanto à dimensão social, identificou-se, de forma predominan-
te, a evidência de repercussão do adoecimento sobre a estrutura
e dinâmica familiar. Para os participantes, esse fenômeno se deve
ao necessário envolvimento da família nos diferentes contextos
do tratamento, que demandam adaptações no cotidiano, não
apenas do doente, mas de todos que com ele partilham o cuida-
do, podendo, em determinadas circunstâncias, gerar processos
de adoecimento para os cuidadores. Além disso, as relações do
indivíduo com demais atores de seu convívio social, a exemplo
de amigos e colegas de trabalho, também podem se alterar, em
virtude da necessidade de mudança de comportamento, da
retração, medo e frustração por parte do doente e da exclusão
social, conforme destacado na maioria dos depoimentos:
Na relação com a família, [...] tem sim [interferência], mesmo
que o filho fale que não tem, que ele está ali pra cuidar do que
aconteceu, [...] o filho tem que se dedicar mais tempo. Empata,
sim, a vida do filho, porque ele deixa também de fazer as coisas
que ele tem que fazer, pra cuidar do pai e da mãe. (P2)
No convívio social, eu vou puxar logo pela linha de alimentação,
[...]. Então, vamos sair com um grupo de amigos, eu sou doente,
meus amigos, não. [...] eles vão fazer o que eu não posso: vão poder
tomar uma cerveja, eu não vou poder, vão comer um doce, uma
pizza, uma comida mais elaborada, e eu não vou poder. Então,
eu, com neuropatia diabética, irei me fechar. Já que não posso
fazer o que eles fazem, não posso comer, não posso beber, eu não
vou, vou ficar mais em casa, mais depressiva, tomando minha
medicação, minha dieta. Eu imagino, assim, eu me trancaria e
fugiria dessa situação. (P3)
Tratando da dimensão psicoafetiva, os participantes menciona-
ram, de acordo com suas concepções, que a neuropatia diabética
interfere, potencialmente, sobre a autoimagem, desencadeando
alterações emocionais. A pessoa passa a se enxergar como alguém
diferente, destoante de seu grupo social, doente, fraco e limitado
pelas reações dolorosas inerentes ao processo fisiopatológico,
dependente de cuidados, impotente por não mais cuidar de si
com efetividade. A não aceitação da doença e o descontenta-
mento consigo, por ter negligenciado o tratamento, também
podem ocorrer. Frente ao estresse e pressões desse cenário,
verificam-se diferentes alterações emocionais, caracterizadas
por manifestações, como baixa autoestima, depressão, períodos
chorosos, agressividade, desgosto pela vida e, paralelamente, o
medo da morte diante da nova realidade:
A pessoa começa a se ver de outra forma, [...] dependente de
alguém, mas que antes não era, conseguia fazer tudo sozinha. (P5)
[...] muda a maneira como ele se enxerga, a maneira como ele se
sente. Fraco, por ter chegado a esse ponto, por ter adoecido, por,
talvez, não ter conseguido, por ter negligenciado alguma coisa.
Ele pode se questionar. (P20)
Tenho um paciente que briga demais, ficou muito estressado. Ele
mudou de comportamento, ficou retraído, envergonhado, muito
doente, e agora depende de fralda. Muitos pacientes entraram
em depressão diante da perda de um membro. [...] a gente tem
um senhor, que não perdeu ainda nenhum membro, mas ele está
ruim, o diabetes não baixa, e está bem deprimido. Quando a gente
vai lá, ele começa a conversar, ele chora. (P1)
Tu és acostumado a te olhar com cinco dedos, daqui a pouco,
está com quatro, isso mexe com a autoestima. Porque, por trás
de um doente, existem vários medos, [...] às vezes, tem paciente
que não aceita a doença e tem uma vida como se aquela doença
não existisse. Já ouvi isso “ah, enfermeira, não vou tomar essa
medicação, porque vou morrer do mesmo jeito. Então, imagina,
6
Rev Bras Enferm. 2021;74(1): e20190104 11
de
Saberes e práticas de profissionais da Atenção Primária sobre neuropatia diabética: estudo de representações sociais
Andrade EGR, Rodrigues ILA, Braga SAS, Nogueira LMV, Panarra BACS, Santos MNA, et al.
tu já és diabético, e descobrir que está com neuropatia, às vezes
tu não vais aceitar. (P11)
Atuação multiprofissional: aspectos terapêuticos e profi-
láticos da neuropatia diabética
Apresentam-se, aqui, as práticas multiprofissionais desen-
volvidas no âmbito do tratamento e prevenção da neuropatia,
bem como o ideário sobre os desdobramentos dessa atuação.
Ao falarem sobre suas práticas, os participantes enfatizaram que
as intervenções técnicas, associadas à educação em saúde indivi-
dual e coletiva, constituem o principal conjunto de medidas, por
eles empregadas, no atendimento às pessoas com neuropatia
diabética e àquelas que convivem com a doença de base, mas
ainda não desenvolveram a complicação.
Cada profissional, lançando mão de suas competências e
habilidades, tem contribuído, em algum grau, ao efetuar proce-
dimentos/orientações e facilitar práticas educativas da equipe,
direcionando-os ao indivíduo, à família e à comunidade, em
ambientes como igrejas, espaços comunitários, além da própria
residência, mediante as visitas domiciliares, e da Unidade de
Saúde, por meio do atendimento cotidiano em consultório, sala
de espera e demais ambientes:
Diagnosticou com a neuropatia, vamos orientar esse paciente,
esclarecer, tirar todas as dúvidas, e trabalhar em cima da prevenção,
trabalhar em cima do tratamento. A nossa prática é promover
saúde, [...]. (P11)
[...] a gente atende uma vez por semana [sobre o Programa
Hiperdia], onde são feitas as consultas, solicita os exames, eu
explico as medicações, vou dando as orientações. (P24)
Considerando a educação em saúde como fundamental para
mobilizar transformações sobre o comportamento e estilo de
vida, os participantes discorreram temas que indicam os con-
teúdos de suas orientações, destacando-se, majoritariamente,
recomendações nutricionais, para 93,6% (29/31); encorajamento
para a prática de exercícios físicos, citado por 58,1% (18/31); e
uso adequado de medicamentos, por 74,2% (23/31). Os relatos
ratificam que a observância a essas orientações, por parte do
usuário, configura-se determinante para o controle global da
doença/agravo e, portanto, para o bom prognóstico:
[...] as nossas atividades, as nossas orientações são voltadas
para os pacientes, [...] nosso discurso sempre está ali, batendo
na alimentação, atividade física, ter um programa de atividades
físicas, [...] aí, ficar atento nas consultas, na medicação, se a
pessoa toma. (P19)
[...] além da gente fazer a visita e orientar e perguntar se o paciente
está tomando remédio nos horários, está seguindo uma dieta,
está controlando o peso, [...]. (P22)
Além dessas condutas, os profissionais destacaram o diálogo e a
escuta sensível ao usuário, e a oferta de apoio humano e emocional
como relevantes parcelas de suas práticas, considerando que tais
atitudes desempenham papel fundamental no enfrentamento da
doença/agravo, corroborando resultados positivos na trajetória do
cuidado. Amplia-se, em vista disso, a possibilidade de vínculos mais
efetivos entre equipe e usuários, aflorando nestes um sentimento
de segurança e confiança nas condutas profissionais, com conse-
quente estímulo ao seguimento de prescrições e recomendações,
sejam elas terapêuticas ou profiláticas:
É manter constante visita na casa dessas pessoas, conversar com
elas, saber o que elas precisam. Então, a gente tem que estar nesses
lares, com essas pessoas que são diabéticas, pra gente passar um
pouquinho, assim, não é conforto, é uma força, dar força. O nosso
trabalho de visitação nos lares não tem outro segredo. É só visitar,
saber o que as pessoas têm, se interessar por elas, trazer elas pra
cá e ajudar, no sentido do que elas precisarem. Se a gente não se
interessar pela pessoa, a gente não tem porquê estar aqui. (P4)
Observou-se que os ACS, categoria predominante, explanaram
importantes contribuições no tocante ao suporte terapêutico
e na prevenção da neuropatia. Esse suporte se materializa por
meio de atividades fortemente engendradas ao cotidiano desses
profissionais, em estreito contato com a comunidade, sendo elas:
intermediação do agendamento de consultas e exames, transporte
de medicamentos e prescrições à residência de usuários, especial-
mente daqueles com maiores limitações de acesso, e condução
da equipe multiprofissional à consulta domiciliar, entre outras:
[...] o ACS é a ponte. Eu vou na casa, eu verifico que Seu João
[pseudônimo] está precisando da medicação, da consulta, do
exame. Já está na hora de trocar a receita, pego e venho pra
doutora. Se a doutora achar que ele tem que vir pra consulta, ele
vem, agenda [...]. Se achar, por bem, que tem que renovar a receita,
eu pego e já levo pra ele. Também tem a consulta especializada,
eu pego, levo pra ele. Quando for dia 1º de agosto, eu vou lá “Seu
João, olha, dia 05 de agosto, sua consulta!”. (P23)
Sobre a compreensão dos participantes quanto à atuação mul-
tiprofissional, esta é considerada fundamental para o atendimento
da população, pois propicia o acompanhamento global das ne-
cessidades de saúde individuais e coletivas e o compartilhamento
de saberes, práticas e experiências. Gera-se, nos dizeres de uma
parcela dos participantes, sentimento de orgulho, satisfação e
afeto, apesar das condições de trabalho se revelarem, em grande
parte, desafiadoras. Entretanto, para efetivamente cumprir os
seus propósitos, levanta-se a atuação compromissada de seus
integrantes como fator condicional, onde corresponsabilidades
devem ser estabelecidas:
Ela é imprescindível. Essa equipe é formada por pessoas que
têm conhecimentos. Cada um na sua área, juntando esses
conhecimentos, forma equipe, forma corpo. E a gente, cada um
juntando seu conhecimento, é de grande benefício pro nosso
cliente que a gente visita. A gente reparte as responsabilidades,
é de suma importância. (P4)
DISCUSSÃO
Foi possível perceber que a compreensão dos participantes a
respeito da neuropatia diabética, bem como do processo patológico
básico que dele resulta, se assenta não apenas nos aspectos clínicos
do adoecimento, mas também nos determinantes psicossociais,
7
Rev Bras Enferm. 2021;74(1): e20190104 11
de
Saberes e práticas de profissionais da Atenção Primária sobre neuropatia diabética: estudo de representações sociais
Andrade EGR, Rodrigues ILA, Braga SAS, Nogueira LMV, Panarra BACS, Santos MNA, et al.
diretamente associados às repercussões da doença/agravo sobre
a vida do doente e daqueles com quem convive, antecedendo
desafios significativos à atuação multiprofissional na APS.
Tecendo suas ideias, o fazem evocando pensamentos, crenças,
valores e atitudes por meio de expressões que denotam conheci-
mentos do universo reificado, a exemplo da descrição da fisiopa-
tologia, das manifestações clínicas, lesões e sequelas decorrentes
do adoecimento, circulantes em seu meio social, mas que, em
especial, demonstram um conjunto de saberes do senso comum,
construídos a partir das relações que engendram no cotidiano
do processo de trabalho, seja nas relações que estabelecem e (re)
elaboram entre si, como membros de uma equipe, seja nas que
nutrem com o indivíduo e sua coletividade, elementos-alvo de
seu cuidado. A expressão desses conhecimentos e saberes figura
como peça vital para a identificação das RS a respeito do objeto,
não sendo revestidos de hierarquias(17-18,22), pois ambos permitem
apreender como os profissionais de saúde o ancoram e objetivam.
Os estudos sobre RS, no cenário do enfrentamento às doenças
crônicas, fornecem subsídios para a compreensão das perspectivas
não somente dos usuários, mas também dos profissionais que
cuidam dessas pessoas, frente a um dado objeto de importância
subjetiva, isto é, que suscita a elaboração de significados a partir
dos valores sociais que lhe são atribuídos, e que precisa ser tratado
como fenômeno biopsicossocial, permitindo adentrar no imaginário
desses indivíduos e, assim, investigar quais saberes, pensamentos
e atitudes têm sobre e para com aqueles a quem cuidam, e o que
os motiva a dar seguimento às suas condutas profissionais(23-24).
No contexto do adoecimento por diabetes mellitus, o estudo
das RS ganha importância, pois a valorização dos determinantes
psicossociais representa parcela fundamental do atendimento a
pessoas com esse diagnóstico, no intuito de entender os aspectos
que implicam sobre o seguimento e controle metabólico, destacando
a TRS como abordagem que observa o indivíduo no conjunto de
suas necessidades. Isto é, como ser biopsicossocial, reiterando a
ampla possibilidade de aplicação da teoria no campo da saúde e na
investigação das doenças crônicas, mesmo as não transmissíveis
(11-12)
.
Nessa perspectiva, verifica-se que os participantes, na tenta-
tiva de explicar a patologia, manifestaram forte associação de
sua ocorrência a comportamentos que traduzem carência ou
ausência de cuidados do usuário para consigo. Isso ocorreu por
meio de práticas que, progressivamente, alteram o seu organis-
mo e o conduzem ao estado de adoecimento, caracterizado,
clinicamente, pelo descontrole da glicemia, traço que contribui
para sua rotulação.
Levantou-se, inclusive, a característica silenciosa e ingrata da
doença, pois, em grande parte dos casos, não manifesta sinais
de alarme significativos, gerando sentimento de surpresa por
ocasião do diagnóstico, aspecto que também foi mencionado em
estudo de RS sobre o diabetes
(12)
. Tendo em vista sua ancoragem
ao padrão deficiente de cuidados e mediante a evolução clínica
com agravamentos, evidenciou-se, também, a representação
da doença ligada à ideia de morte autoinfligida, por meio da
expressão “parece que ele pede pra morrer”, transferindo ao
doente toda a responsabilidade por seu estado como resultado
de sua conduta descuidada, reflexão similar trazida no campo
investigativo de certos agravos transmissíveis, como ocorre na
infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)(25).
Dialogando com essa ancoragem, uma pesquisa realizada
com 30 diabéticos, na faixa etária entre 41 e 83 anos, a maioria
do sexo masculino e casada, identificou que as RS a respeito do
tratamento, para uma parcela deles, especialmente os idosos,
centraram-se em explicações que revelaram a crença que o uso
correto de medicamentos e a realização de exames periódicos
seriam suficientes, minimizando as readequações nutricionais e
a prática de exercícios físicos, que são, sabidamente, necessárias
e de igual importância(12). Em se tratando da ESF, isso desponta
como desafio às equipes multiprofissionais, no sentido de criar
estratégias emancipatórias do usuário para sensibilizá-lo à ob-
servância igualitária das modalidades terapêuticas.
A neuropatia diabética figura, nesse contexto, como resultado
do agravamento, expressando-se como demonstração da falha
terapêutica, acarretando diferentes possibilidades de sintomas e
de evolução clínica, que culminam com as alterações corporais,
sejam elas de ordem estética/estrutural ou funcional, situação
que, corroborando a ótica dos participantes, encontra amparo
na literatura, em diferentes estudos(5,7,26-27).
Discorrendo sobre a neuropatia, foram identificadas metáforas
que objetivam o doente a partir do símbolo de corpo-máquina,
termo empregado em estudo sobre imagem corporal e incapaci-
dades físicas entre pessoas que conviveram com a hanseníase(28).
Concebe-se o doente como entidade formada por engrenagens,
estabelecendo analogias entre corpo”, receptáculo da doença, e
“motor”, objeto da realidade física; “sangue”, componente biológico
alterado em virtude da hiperglicemia, e “óleo estragado, constituindo
evidência, por vezes, da predominância do universo consensual.
Fruto de suas ancoragens, incrementando o entendimento a
respeito da neuropatia, os profissionais atribuíram a ela diferentes
significados, destacando-a como condição potencial para reper-
cussões sobre as dimensões biológica, social e psicoafetiva, que
impactam decisivamente a constituição humana, e, por vezes,
estigmatizam os indivíduos acometidos. No intuito de acessar as
RS de um dado grupo social, a valorização dessas dimensões é
basal, pois ratificam a TRS como referencial que pauta o indivíduo
em sua integralidade(23-24).
Na dimensão biológica, discorreram-se as limitações e altera-
ções corporais, objetivando o doente por meio de expressões que
remetem à ideia de abatimento e deficiência física, corroborando a
sua estereotipia, a qual é reforçada pela condição de dependência
nesse estágio da doença. Esses resultados vão ao encontro de
achados em pesquisa realizada no município de Belém (PA), que
buscou conhecer as RS de enfermeiros sobre o doente com tuber-
culose(29). Observou-se relação entre esses dados e a ancoragem
do indivíduo à obrigação do tratamento crônico em todas as suas
modalidades, tal como evidenciado na literatura(30), sob pena de
agravamento ou mesmo de morte em caso contrário.
Diante disso, o autocuidado, aspecto inerente a essa discussão,
precisa ser encorajado pela equipe de saúde, destacando o usuário
como corresponsável por sua saúde e qualidade de vida(28), que
figura como intervenção factível na APS, mas não tornando-o
exclusivamente responsável pelo possível agravamento de seu
quadro. Isso revela a necessidade constante da prestação de
assistência humanizada, marcada por sua natureza ética, reso-
lutiva, holística, dialógica e transformadora(31), considerando os
diferentes contextos comunitários de atenção a esse público,
8
Rev Bras Enferm. 2021;74(1): e20190104 11
de
Saberes e práticas de profissionais da Atenção Primária sobre neuropatia diabética: estudo de representações sociais
Andrade EGR, Rodrigues ILA, Braga SAS, Nogueira LMV, Panarra BACS, Santos MNA, et al.
a fim de ressignificar a culpabilização atribuída ao doente por
parte dos profissionais.
Relativo à dimensão social, são patentes os efeitos da neuropatia
sobre o cotidiano da teia social do indivíduo, especialmente dos
mais próximos à sua pertença, como a família, com destaque ao(s)
cuidador(es) e amigos. Tendo em vista o complexo ajustamento
sobre o estilo de vida, demandado pelo tratamento, o doente
necessita do apoio da família no trilhar do cuidado e enfrenta-
mento à patologia, e a família precisa se adaptar, ressignificando
essa realidade.
Esse processo assume padrão diferenciado, dependendo da
evolução clínica, da rede de apoio do indivíduo e do lugar que
ocupa em seu grupo social, isto é, caso a afecção atinja os ele-
mentos-chave para a manutenção do seio familiar (pai ou mãe,
por exemplo), entende-se que as repercussões globais à família
serão, potencialmente, mais significativas
(30,32)
. Estudo realizado em
seis países europeus, com pessoas que receberam diagnóstico de
diabetes, mostrou que, nas condições de saúde que demandam
longo acompanhamento, quanto mais próxima e diversificada a
rede de apoio, provavelmente melhor será a oferta/mobilização
de suporte para um gerenciamento significativo(33).
Ao construírem suas RS, emerge dos profissionais a explicação
de que, uma vez diagnosticado com neuropatia, o doente estará
marcado por uma condição limitante, o que resultará em sua segre-
gação, por vezes sutil, dos ambientes/práticas outrora frequentados/
realizadas, podendo dele também advir pensamentos e atitudes
de autopreconceito, autodiscriminação, reclusão e distanciamento
social, tanto por medo do preconceito e discriminação alheios
quanto pela frustação em não mais poder gozar das mesmas
possibilidades de consumo alimentar e lazer que as pessoas por
ele encaradas como “normais” e “saudáveis. Essas inferências são
congruentes com achados de estudo das RS sobre a hanseníase,
mostrando que as características de um agravo não transmissível,
pelo dano psicossocial que gera, podem ganhar status de doença
transmissível para os por ela acometidos(34).
A dimensão psicoafetiva, por revelar os significados atribuídos
ao corpo alterado e as nuances potencialmente notadas no do-
mínio emocional, permite inferir que, na visão dos profissionais,
tal dimensão se configura determinante à disposição, ou não, do
doente para o cuidado de si, pois a forma como ele se enxerga e
a sua autoestima são elementos fundamentais na elaboração do
autocuidado e nos sentidos atribuídos a ele. Assim, os sentimentos
que remetem à estranheza, distorção social, impotência, inutilidade
e fraqueza, recorrentes nos depoimentos, precisam ser valorizados
nos cenários de atendimento pela equipe multiprofissional, a fim
de criar possibilidades de ressignificação e empoderar o usuário
como sujeito ativo no processo de cuidar(28,35).
Sendo forte campo de interesse da psicologia social, centrada
no domínio da ciência, a TRS cumpre uma funcionalidade compor-
tamental, a partir do entendimento dos indivíduos sobre temas
que afetam o seu cotidiano
(17-18)
. Em vista disso, as RS apresentam
um objetivo prático que implica ações, tal como evidenciado em
diferentes pesquisas(23-25,29), desenvolvidas, inclusive, no âmbito
internacional(36-37).
Neste estudo, observa-se que tal premissa manifesta nos pro-
fissionais de saúde o entendimento coletivo de que, em virtude
da complexidade do adoecimento e das possíveis repercussões
sobre a vida dos acometidos, impactando veementemente as
dimensões do ser, há a necessidade contínua de cuidar, o que os
leva a optarem por este caminho, sob a ótica de que, mediante o
cuidado por eles prestado, tais repercussões serão potencialmente
minimizadas e os acometidos terão maiores possibilidades para
qualidade de vida ou mesmo de sobrevida.
Esse imaginário é ratificado por depoimentos que enaltecem os
afetos pela atuação multiprofissional, reiterando-os a despeito das
condições de trabalho. O cuidado em saúde emerge como símbolo
de aproximação entre profissionais e a tríade indivíduo-família-so-
ciedade, objeto de suas ações, para os quais seus atos representacio-
nais e suas intervenções, sejam elas terapêuticas ou profiláticas, se
destinam. Salienta-se, portanto, que tais ações se engendram e são
operacionalizadas mediante a forma particular como profissionais
e equipes ancoram e objetivam a neuropatia no contexto da APS,
refletindo diretamente no cuidado por eles prestado.
Contudo, para constituírem-se efetivas, precisam se assentar
na lógica do outro, valorizando sua bagagem sociocultural
(22)
.
Demarcando tal entendimento, os depoimentos enfatizaram o
cuidado, em seus diferentes modos de agir, como chave no aten-
dimento àqueles que convivem com neuropatia diabética, bem
como aos diabéticos não diagnosticados com tal complicação,
visando preveni-la.
Assim, os profissionais, em consonância com seus conheci
-
mentos, saberes e experiências, munem-se de diferentes níveis
de governabilidade, expressando intervenções factíveis às suas
competências e habilidades, destacando-se as intervenções
técnicas (triagem, consultas, prescrições, encaminhamentos,
produção de dados clínico-epidemiológicos, visitas domicilia-
res, entre outras), como atributos do processo de trabalho em
ESF
(2,38)
; o apoio humano/emocional e o diálogo/escuta sensível,
já demonstrados como fortalecedores de vínculo, confiança e
comunicação, contribuindo para a eficiência terapêutica e pro-
filática, tendo em vista a melhor receptividade do usuário
(39)
; e as
práticas de educação em saúde, fortemente representadas nas
orientações para o cuidado.
Sabe-se que o processo educativo tem por intuito ampliar o
conhecimento dos indivíduos sobre o manejo da doença, desper-
tando-os para o autocuidado e independência no cumprimento
das modalidades terapêuticas. A literatura tem relatado impactos
positivos sobre a melhor aceitação e receptividade do doente às
orientações nutricionais, prática de atividade física, cuidado com
os pés, aferição da glicemia capilar com regularidade, prevenção
da ocorrência de hipoglicemia e complicações crônicas, temas
aqui descritos como conteúdo das orientações profissionais, cul-
minando no melhor controle metabólico e qualidade de vida
(40-42)
.
Nesse contexto, o empoderamento para mudanças positivas de
comportamento requer consciência crítica, devendo se dirigir
ao indivíduo e grupos sociais, a fim de que redes colaborativas
sejam formadas, ampliando as possibilidades para vida mais
saudável, conforme reflexão trazida por estudo realizado em
Faridpur, Bangladesh(43).
Os ACS, por estarem diariamente mais próximos à comunidade,
destacaram-se no conjunto dos saberes, pois, em sua maioria,
explicitaram o objeto de forma narrativa a partir de suas expe-
riências no suporte ao usuário, permitindo inferir que, sem suas
relevantes contribuições, o atendimento não fluiria. A importância
9
Rev Bras Enferm. 2021;74(1): e20190104 11
de
Saberes e práticas de profissionais da Atenção Primária sobre neuropatia diabética: estudo de representações sociais
Andrade EGR, Rodrigues ILA, Braga SAS, Nogueira LMV, Panarra BACS, Santos MNA, et al.
do trabalho desse grupo de profissionais também foi ressaltada em
outros estudos no Brasil, que demonstraram o seu protagonismo
na operacionalização do serviço, no vínculo que mantém com os
pares e com o público, bem como na identificação e resolução de
problemas(38,44). Em seus depoimentos, muitos dizeres estavam
fortemente marcados no universo consensual, em detrimento
do conhecimento reificado, em que pese serem profissionais,
sendo possível inferir que, na ótica deles, isso melhor representa
o objeto, pois as experiências atribuem valores e significados aos
fenômenos do cotidiano, constituindo o senso comum.
Por sua proximidade com os diferentes grupos humanos, a APS
desempenha papel substancial na prestação de cuidados primários
a pessoas que convivem com diabetes e suas complicações
(10)
,
bem como no diálogo e nos acordos firmados entre o serviço e
a comunidade, viabilizando melhor adesão por parte desta às
ações de saúde. No contexto da ESF, tais ações se potencializam
no íntimo contato com a população, em que as estratégias promo-
toras de saúde, prevenção e diagnóstico/tratamento/recuperação
constituem o cerne dos processos nela desenvolvidos, conforme
preconizado pelo Ministério da Saúde
(1-2)
, sendo fundamentais
para o manejo clínico do diabetes e da neuropatia, pois incidem
eficazmente sobre o controle metabólico
(10)
. Considera-se que
essas particularidades influenciaram a elaboração das RS aqui
desveladas, haja vista o cuidado em saúde tão fortemente reite-
rado pelo imaginário coletivo, ratificando as finalidades da ESF
enquanto componente da APS.
É importante construir conhecimentos baseados nas RS dos
profissionais sobre fenômenos na área da saúde, pois, para que as
finalidades da ESF sejam atingidas, é basal que o trabalho em equipe
ocorra de modo fluido, harmônico, organizado e dotado de objetivos
e metas claramente definidas, necessitando da participação coletiva
de seus integrantes. É primordial que haja consolidação da equipe.
Para tanto, a união entre os partícipes e a construção de relações de
vínculo, respeito, confiança e comunicação figuram como elementos
vitais, extrapolando a compreensão limitante do agir de vários
profissionais em um mesmo ambiente, desvinculado da interação
cooperativa entre os mesmos, culminando, potencialmente, na
melhoria da qualidade na assistência ao usuário(38).
Limitações do estudo
Entende-se que parte das concepções e inferências, aqui
relatadas, pode não ser passível de generalização, por força da
condução do estudo em uma região do país e em Unidades de
Saúde selecionadas, onde o imaginário e as práticas profissionais
recebem influência singular de condicionantes socioculturais,
políticos, econômicos e operacionais. Contudo, entende-se que
pode agregar subsídios à reflexão do tema em realidades similares.
Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou
política pública
O estudo contribui para a compreensão do ideário de profis-
sionais que atuam na ESF em relação à neuropatia diabética e à
forma como articulam e procedem as práticas multiprofissionais
para sua prevenção e tratamento, considerando o contexto
biopsicossocial. Ao acessar as RS desse grupo, entende-se como
este se percebe no processo de cuidar e como enxerga a tríade
doente-família-sociedade, contribuindo, potencialmente, para a
ciência, a formação de recursos humanos no âmbito da educação
superior e a atuação na esfera multiprofissional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa permitiu descrever os saberes e práticas de
profissionais da APS sobre neuropatia diabética, elucidando
suas representações sociais. Mostrou-se patente a visão de culpa
atribuída ao doente, ancorando a ocorrência da complicação e
da patologia de base ao padrão deficiente de cuidados consigo,
sombreando, por vezes, o conhecimento reificado e demarcando
o universo consensual que engendra o senso comum.
Em que pese o diabetes mellitus ser condição crônica histo-
ricamente alvo das ações de atenção à saúde, e a evolução do
conhecimento técnico-científico em torno de seu tratamento e
prevenção, diferentes expressões e analogias ainda são empre-
gadas para simbolizar os acometidos, estereotipando-os e até
pouco valorizando o fato de que, quando bem conduzidos no
processo terapêutico e profilático, esses poderão ressignificar o
adoecimento e se ajustarem à condição, sem experimentarem,
cronicamente, as repercussões biopsicossociais. Todavia, esse
entendimento resulta na atitude sobrepujante do cuidado pela
equipe como alternativa aos desafios do adoecimento, culmi-
nando no fortalecimento de vínculos.
Considerando que os saberes do universo consensual se
sobressaíram ao conhecimento reificado, conforme evidenciado
em boa parte dos depoimentos de profissionais de nível médio e
dos ACS, infere-se que ações de educação permanente se façam
oportunas, no sentido de fortalecer as condutas profissionais,
repercutindo, positivamente, sobre a trajetória do cuidado.
Propõe-se, também, frente aos resultados aqui apresentados,
realizar novos estudos sobre o tema, visando ampliar e difundir
o conhecimento em torno do mesmo.
REFERÊNCIAS
1. Mendes EV, Matos MAB, Evangelista MJO, Barra RP. A construção social da Atenção Primária à Saúde [Internet]. 2ª ed. Brasília (DF):
Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS); 2019 [cited 2020 Jan 6]. 192 p. Available from: http://www.conass.org.br/
biblioteca/a-construcao-social-da-atencao-primaria-a-saude-2a-edicao/
2. Ministério da Saúde (BR), Gabinete do Ministro. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica,
estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) [Internet]. 2017
[cited 2018 Sep 3]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html
10
Rev Bras Enferm. 2021;74(1): e20190104 11
de
Saberes e práticas de profissionais da Atenção Primária sobre neuropatia diabética: estudo de representações sociais
Andrade EGR, Rodrigues ILA, Braga SAS, Nogueira LMV, Panarra BACS, Santos MNA, et al.
3. Santos FPA, Acioli S, Rodrigues VP, Machado JC, Souza MS, Couto TA. Nurse care practices in the Family Health Strategy. Rev Bras Enferm.
2016;69(6):1060-7. doi: 10.1590/0034-7167-2016-0273
4. Aleluia IRS, Medina MG, Almeida PF, Vilasbôas ALQ. Care coordination in Primary Health Care: an evaluative study in a municipality in the
Northeast of Brazil. Ciênc Saúde Coletiva. 2017;22(6):1845-56. doi: 10.1590/1413-81232017226.02042017
5. Nascimento OJM, Pupe CCB, Cavalcanti EBU. Diabetic neuropathy. Rev Dor. 2016;17(suppl 1):46-51. doi: 10.5935/1806-0013.20160047
6. Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2017-2018 [Internet]. São Paulo (SP): Clannad; 2017
[cited 2018 Sep 16]. 383 p. Available from: http://www.diabetes.org.br/profissionais/images/2017/diretrizes/diretrizes-sbd-2017-2018.pdf
7. Tschiedel B. Complicações crônicas do diabetes. JBM [Internet]. 2014[cited 2018 Oct 2];102(5):7-12. Available from: http://files.bvs.br/
upload/S/0047-2077/2014/v102n5/a4502.pdf
8. International Diabetes Federation (IDF). IDF Diabetes Atlas [Internet]. 9ª ed. Brussels (BE): IDF; 2019 [cited 2020 Jul 7]. 180 p. Available from:
https://www.diabetesatlas.org/en/resources/
9. Malta DC, Duncan BB, Schmidt MI, Machado ÍE, Silva AG, Bernal RTI, et al. Prevalence of diabetes mellitus as determined by glycated
hemoglobin in the Brazilian adult population, National Health Survey. Rev Bras Epidemiol. 2019;22(suppl 2):e190006.supl.2. doi:
10.1590/1980-549720190006.supl.2
10. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com
doença crônica: diabetes mellitus [Internet]. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2013 [cited 2017 Nov 30]. 160 p. (Cadernos de Atenção
Básica, nº 36). Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategias_cuidado_pessoa_diabetes_mellitus_cab36.pdf
11. Costa FG, Coutinho MPL. Social representations in the context of diabetes mellitus. Psicol Estud. Maringá (PR), 2016;21(1):175-85. doi:
10.4025/psicolestud.v21i1.29792
12. Costa FG, Coutinho MPL, Cipriano JPS, Araújo JMG, Carvalho AF, Patrício JM. Representações sociais sobre diabetes mellitus e tratamento:
uma pesquisa psicossociológica. Rev Psicol IMED. Passo Fundo (RS), 2018;10(2):36-53. doi: 10.18256/2175-5027.2018.v10i2.2865
13. Ribas CRP, Santos MA, Zanetti ACG, Zanetti ML. Representações sociais de pacientes com diabetes mellitus sobre o atendimento
por profissionais de saúde. Psicol [Internet]. Porto Alegre (RS), PUCRS, 2013 [cited 2020 Aug 24];44(1):139-49. Available from: http://
revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/11039
14. Sá CP. A construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de Janeiro (RJ): EdUERJ; 1998. 110 p.
15. Jodelet D, org. As representações sociais. Rio de Janeiro (RJ): Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (EdUERJ); 2001. 420 p.
16. Amorim MMA, Ramos N, Gazzinelli MF. Representação identitária dos usuários com diabetes mellitus da Atenção Primária. Psicol Saúde
Doenças. 2016;17(1):45-51. doi: 10.15309/16psd170107
17. Moscovici S. A psicanálise, sua imagem e seu público. Petrópolis (RJ): Vozes; 2012. 456 p.
18. Moscovici S. Representações sociais: investigações em psicologia social. 11ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2015. 404 p.
19. Sampieri RH, Collado CF, Lucio MPB. Metodologia de pesquisa. 5ª ed. Porto Alegre (RS): Penso, McGraw-Hill; 2013. 624 p.
20. Tong A, Sainsbury P, Craig J. Consolidated criteria for reporting qualitative research (COREQ): a 32-item checklist for interviews and focus
groups. Int J Qual Health Care. 2007;19(6):349-57. doi: 10.1093/intqhc/mzm042
21. Bardin L. Análise de conteúdo. São Paulo (SP): Edições 70; 2011. 279 p.
22. Ferreira MA. Theory of Social Representations and contributions to the research of health care and nursing. Esc Anna Nery. 2016;20(2):214-9.
doi: 10.5935/1414-8145.20160028
23. Chirinos NEC, Meirelles BHS, Bousfield ABS. Relationship between the social representations of health professionals and people with
tuberculosis and treatment abandonment. Texto Contexto Enferm. 2017;26(1):e5650015. doi: 10.1590/0104-07072017005650015
24. Rodrigues ILA, Motta MCS, Ferreira MA. Social representations of nurses on tuberculosis. Rev Bras Enferm. 2016;69(3):498-503. doi:
10.1590/0034-7167.2016690316i
25. Panarra BACS, Teixeira E, Palmeira IP, Rodrigues ILA, Ferreira AMR. Vítimas e culpadas: representações sociais sobre mulheres que vivem com
HIV. Rev Cuid. 2017;8(3):1887-98. doi: 10.15649/cuidarte.v8i3.451
26. Nascimento JWA, Jesus SB, Silva ECS, Ferreira Jr ML, Miranda AP. Neuropatia do pé diabético em usuários de uma Unidade de Saúde da Família.
Rev Nursing [Internet]. 2019 [cited 2020 Jan 13];22(256):3165-8. Available from: http://www.revistanursing.com.br/revistas/256/pg35.pdf
27. Wang X, Lin H, Xu S, Jin Y, Zhang R. The clinical efficacy of epalrestat combined with α-lipoic acid in diabetic peripheral neuropathy: protocol
for a systematic review and meta-analysis. Medicine. 2018;97(6):e9828. doi: 10.1097/MD.0000000000009828
28. Batista TVG, Vieira CSCA, Paula MAB. A imagem corporal nas ações educativas em autocuidado para pessoas que tiveram hanseníase. Physis.
2014;24(1):89-104. doi: 10.1590/S0103-73312014000100006
29. Rodrigues ILA, Motta MCS, Ferreira MA. Social representations of nurses about tuberculosis patients. Acta Paul Enferm. 2013;26(2):172-8.
doi: 10.1590/S0103-21002013000200011
30. Marinho FD, Avellar LZ, Souza LGS, Nardi SMT, Coutinho GC. Leprosy: meanings and experiences among adolescents with the disease and
their family members. Cad Bras Ter Ocup. São Carlos (SP), 2018;26(4):837-48. doi: http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoao1251
11
Rev Bras Enferm. 2021;74(1): e20190104 11
de
Saberes e práticas de profissionais da Atenção Primária sobre neuropatia diabética: estudo de representações sociais
Andrade EGR, Rodrigues ILA, Braga SAS, Nogueira LMV, Panarra BACS, Santos MNA, et al.
31. Silva Jr JNB, Gomes ACMS, Guedes HCS, Lima EAP, Januário DC, Santos ML. Behavior of nursing professionals and the implementation of
hospital humanization policy. Rev Pesqui Cuid Fundam [Internet]. 2020 [cited 2020 May 14];12:471-8. Available from: http://www.seer.
unirio.br/index.php/cuidadofundamental/article/view/8527/pdf
32. Vigarinho MES, Soares MAL, Silva EF, Domenico EBL. Communication and social relations established between parents with cancer and their
children. Cogitare Enferm. 2019;24:e58645. doi: 10.5380/ce.v24i0.58645
33. Vassilev I, Rogers A, Kennedy A, Wensing M, Koetsenruijter J, Orlando R, et al. Social network type and long-term condition management
support: a cross-sectional study in six european countries. PLoS ONE. 2016;11(8):e0161027. doi: 10.1371/journal.pone.0161027
34. Neiva RJ, Grisotti M. Representações do estigma da hanseníase nas mulheres do Vale do Jequitinhonha-MG. Physis. 2019;29(1):e290109. doi:
10.1590/s0103-73312019290109
35. Monte RS, Pereira MLD. Hansen’s disease: social representations of affected people. Rev RENE. 2015 Nov-Dec;16(6):863-71. doi:
10.15253/2175-6783.2015000600013
36. Bastias F, Giménez I, Fabaro P, Ariza J, Caño-Nappa MJ. Social representations of nurses. Differences between incoming and outgoing
Nursing students. Invest Educ Enferm [Internet]. 2020 Jan-Mar [cited 2020 Jul 8];38(1):e05. Available from: https://revistas.udea.edu.co/
index.php/iee/article/view/341296
37. Duarte E, Gouveia-Pereira M, Sampaio D. Social representations about the functions of deliberate self-harm from adults and adolescents: a
qualitative study. Trends Psychol. 2019;27(4):879-94. doi: 10.9788/tp2019.4-05
38. Peruzzo HE, Bega AG, Lopes APAT, Haddad MCFL, Peres AM, Marcon SS. The challenges of teamwork in the Family Health Strategy. Esc Anna
Nery. 2018;22(4):e20170372. doi: 10.1590/2177-9465-ean-2017-0372
39. Fernandes ETP, Souza MNL, Rodrigues SM. Práticas de grupo do Núcleo de Apoio à Saúde da Família: perspectiva do usuário. Physis.
2019;29(1):e290115. doi: 10.1590/s0103-73312019290115
40. Souza VP, Vasconcelos EMR. Educação em saúde como estratégia para o controle do diabetes mellitus: revisão integrativa da literatura. Rev
Baiana Saúde Pública [Internet]. 2017 [cited 2018 Sept 16];41(1):177-95. Available from: http://rbsp.sesab.ba.gov.br/index.php/rbsp/article/
view/2318
41. Iquize RCC, Theodoro FCET, Carvalho KA, Oliveira MA, Barros JF, Silva AR. Educational practices in diabetic patient and perspective of health
professional: a systematic review. J Bras Nefrol. 2017;39(2):196-204. doi: 10.5935/0101-2800.20170034
42. Owolabi EO, Goon DT, Ajayi AI. Efficacy, acceptability and feasibility of daily text-messaging in promoting glycaemic control and other
clinical outcomes in a low-resource setting of South Africa: a randomised controlled trial. PLoS ONE. 2019;14(11):e0224791. doi: 10.1371/
journal.pone.0224791
43. Morrison J, Akter K, Jennings HM, Nahar T, Kuddus A, Shaha SK, et al. Participatory learning and action to address type 2 diabetes in rural
Bangladesh: a qualitative process evaluation. BMC Endocr Disord. 2019;19:118. doi: 10.1186/s12902-019-0447-3
44. Alonso CMC, Béguin PD, Duarte FJCM. Work of community health agents in the Family Health Strategy: meta-synthesis. Rev Saúde Pública.
2018;52:14. doi: 10.11606/s1518-8787.2018052000395
... ( dado continuado e humanizado, bem como a participação efetiva dos sujeitos. (9) As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) representam, na atualidade, desafios que se agigantam nos sistemas de saúde, principalmente dos países em desenvolvimento, (10) como o Brasil, onde constituem a maior carga de morbidade e mortalidade. (11) Demandam atenção das equipes de saúde da família, cujos esforços figuram como estratégia para minimizar as repercussões sobre o cotidiano do doente e de sua coletividade. ...
... (11) Demandam atenção das equipes de saúde da família, cujos esforços figuram como estratégia para minimizar as repercussões sobre o cotidiano do doente e de sua coletividade. (9) Nesse grupo de agravos, salienta-se que a HAS é controlável pelo acompanhamento clínico regular, (11) sendo condição sensível à APS, isto é, dotada de perfil capaz de ser alterado por intervenções factíveis e resolutivas, no primeiro nível de atenção. (12) Tal característica se mostrou relevante para este estudo, pois justifica e ajuda a explicar as ações das enfermeiras junto às suas equipes. ...
... Considering its characteristics, which should guide the democratic and resolutive relationship of healthcare professionals in close contact with human groups, PHC is essential to welcome and monitor patients and those involved in their social networks, in order to provide primary care and guide them on all pertinent issues (6,36) . This should aim to equip patients and their networks for self-care and effective self-management of the disease and the individual and collective needs that arise from it. ...
Article
Full-text available
Objective to analyze the perceptions of people with pulmonary tuberculosis about their social support networks and the repercussions of becoming ill. Method a qualitative, descriptive study, conducted with 41 individuals undergoing treatment for pulmonary tuberculosis, in Primary Health Care units in two Brazilian capitals: Belém/Pará and Campo Grande/Mato Grosso do Sul. Semi-structured individual interviews were carried out from July to December 2019. The thematic content analysis technique was applied. Results among the participants, 21 (51.22%) were from Belém and 20 (48.78%) from Campo Grande. Males (n=23/56.10%), age group from 21 to 40 years old (n=16/39.02%), unemployed status (n=28/68.29%) and who did not receive social benefits (n=23/56.10%) predominated. Three thematic categories emerged, presenting perceptions about social networks and the types of support they offer, the impact of the disease on family budget and its impact on work activities. Final considerations social support networks were characterized by the diversity of people and family or emotional ties maintained with the participants, as well as the diversity of types of support. In this context, they found the necessary human support to face the impact of the illness and deal with their socioeconomic condition. Descriptors: Tuberculosis; pulmonary. Primary health care. Social networking. Social support. Communicable diseases. Public health
... Nesse contexto, ressalta-se a importância da APS e das ferramentas que deve oferecer para propiciar o acompanhamento biopsicossocial do doente e o controle de sua condição clínica (4) Considerando suas características, que devem guiar o relacionamento democrático e resolutivo dos profissionais de saúde no íntimo contato com os grupos humanos, a APS é fundamental para acolher e acompanhar os doentes e aqueles que participam de suas redes sociais, a fim de realizar os cuidados primários e orientá-los em todas as questões pertinentes (6,36) . Isso deve ocorrer no intuito de instrumentalizar os doentes e as suas redes para o autocuidado e para a autogestão efetiva da doença e das necessidades individuais e coletivas que dela advêm. ...
Article
Full-text available
Objective to analyze the perceptions of people with pulmonary tuberculosis about their social support networks and the repercussions of becoming ill. Method a qualitative, descriptive study, conducted with 41 individuals undergoing treatment for pulmonary tuberculosis, in Primary Health Care units in two Brazilian capitals: Belém/Pará and Campo Grande/Mato Grosso do Sul. Semi-structured individual interviews were carried out from July to December 2019. The thematic content analysis technique was applied. Results among the participants, 21 (51.22%) were from Belém and 20 (48.78%) from Campo Grande. Males (n=23/56.10%), age group from 21 to 40 years old (n=16/39.02%), unemployed status (n=28/68.29%) and who did not receive social benefits (n=23/56.10%) predominated. Three thematic categories emerged, presenting perceptions about social networks and the types of support they offer, the impact of the disease on family budget and its impact on work activities. Final considerations social support networks were characterized by the diversity of people and family or emotional ties maintained with the participants, as well as the diversity of types of support. In this context, they found the necessary human support to face the impact of the illness and deal with their socioeconomic condition. Descriptors: Tuberculosis; pulmonary. Primary health care. Social networking. Social support. Communicable diseases. Public health
... These factors are the focus of education and intervention programs to ensure diabetes patients maintain good foot health [14]. Patients with good knowledge, family support, peer support, and health care provider support are more likely to adopt foot injury prevention behaviors, including wearing appropriate footwear, checking their feet regularly, maintaining cleanliness, and avoiding activities that could harm the feet [26]. Studies show that patients with good knowledge about foot care, along with support provided by family, peers, and health professionals, are more likely to adopt foot wound prevention behaviors [21]. ...
Article
Full-text available
p>Diabetic foot wounds are a serious problem that threatens the quality of life of diabetes patients. Individual factors, family, and social support have an important role in preventing diabetic foot wounds. This research aims to determine the aspects of social support in preventing diabetic foot wounds. The research employed a cross-sectional design, involving 120 respondents. The Modified Diabetic Foot Care Behavior (MD FCB) instrument was used to assess behavior related to diabetic foot care. Data analysis was conducted using logistic regression. The results indicated a positive correlation between high levels of social support and the prevention of diabetic foot wounds. In assessing patient knowledge about foot care, it was found that 20 people (16.7%) had poor knowledge. Additionally, low family support was seen in 23 people (19.2%), low peer support in 17 people (14.2%), and low support from health workers in 15 people (12.5%). Furthermore, 42 people (35%) exhibited poor behavior in preventing foot wounds. The Chi-square test revealed a significant influence of knowledge on behavior for preventing diabetic foot wounds (p-value 0.001). Meanwhile, the correlation between family support, peer support, and support from health workers in relation to diabetic foot wound prevention behavior was significant, with each showing a p-value of 0.01. Enhancing social support is identified as an effective strategy for reducing the risk of diabetic foot wounds and their associated complications. Therefore, efforts to increase social support levels for diabetes patients should be considered an integral part of their care regimen.</p
Article
Full-text available
Caracterizar a presença da neuropatia diabética em usuários diabéticos de uma Unidade de Saúde da Família (USF). Estudo descritivo, exploratório, de caráter quantitativo, desenvolvido em uma USF de Olinda/PE. A amostra foi composta por 106 usuários diabéticos cadastrados na respectiva USF. Foi realizado testes com o apoio de instrumentos como o monofilamento de 10g e o teste da sensação de picadas, além de formulário específico. Do total, 85,9% dos usuários referiram sintomas neuropáticos como dormência e formigamentos e 67,9% estavam com os pés ressecados. Perante a avaliação vascular, 52,84% dos avaliados apresentaram o pulso pedioso diminuído. Quanto a avaliação neurológica, 19,81% dos diabéticos apresentaram alterações na sensibilidade tátil à pressão. Calosestavam presentes em 45,2% dos avaliados. Foi possível verificar que altas taxas de sinais e sintomas neuropáticos estavam presentes nos diabéticos participantes deste estudo. Desta forma, intervenções precoces precisam ser implementadas na unidade de saúde.
Article
Full-text available
Objectives: This article explored and compared social representations of nurses held by incoming and outgoing Nursing students in the Technical Nursing Program in San Juan, Argentina. Methods: Our research was descriptive and utilized the prototypicality method of analysis for social representations, from a structural approach. The sample was made up of 194 students (104 incoming and 90 outgoing), to whom we applied the word association technique for the term "nurse". Results: Differences were found in the representations that incoming and outgoing students had. i) For incoming students: we observe a wide and general concept of a nurse, expressed in non-specific terms such as "health" in the central core, while for outgoing students the term "care" emerged; ii) We infer distancing from the hegemonic medical model on the part of outgoing students, as well as an emphasis on the relational, as terms such as "vocation", "humanization", "love" and "empathy" are evoked, while the term "illness" decreases; iii) We understand that outgoing students highlight their autonomy with respect to doctors and nursing as a profession with the term "professional" with no mention of "assistance", "help" and "assistant", terms which did appear with incoming students; iv) Outgoing students convey a sense of a nurse's diverse roles that go beyond the hospital setting, as instead of mentioning "hospital" and "injection" like incoming students, they mention "prevention" and "research". Conclusions: The comparison of representative structures held by incoming and outgoing students suggests a transformation of self-image through a process of academic education.
Article
Full-text available
This study aimed to describe the social representations about the functions of deliberate self-harm and to compare these representations from adolescents with and without a history of deliberate self-harm and adults without a history of these behaviours. We conducted a qualitative study involving the thematic analysis of forty-one semi-structured interviews. The participants consisted of 11 adolescents with a history of deliberate self-harm, 15 adolescents without a history of deliberate self-harm and 15 adults also without a history of behaviours. The interviewees mentioned eight functions of deliberate self-harm consistent with the existing literature, namely interpersonal functions (Communication Attempt, Interpersonal Boundaries, Interpersonal Influence, and Peer Bonding) and intrapersonal functions (Affect Regulation, Anti-Dissociation, Escape Mechanism, and Self-Punishment). Also, two new functions not described in the literature were mentioned (Introspective Mechanism and Replacement of Suffering). Regarding the differences between the three groups, several disparities emerged. Overall, results revealed that the group of adults referenced more interpersonal functions, while both groups of adolescents emphasized intrapersonal functions. This study provides insight regarding the social representations about the functions of deliberate self-harm, also focusing on the differences between adolescents with and without a history of these behaviours and adults without a history of deliberate self-harm.
Article
Full-text available
South Africa is confronted with a high burden of diabetes, the majority of which are poorly controlled. The use of mHealth, specifically text messaging for fostering health, is evolving and studies on its efficacy, the majority of which were conducted in developed countries, have documented mixed findings. There is no such study done amongst patients living with diabetes in the resource-poor settings of South Africa. The aim of this study is to determine the efficacy, acceptability and feasibility of text-messaging in improving glycaemic control and other clinical outcomes among individuals living with diabetes in low-resource settings in Eastern Cape, South Africa. The study adopted a multi-centre, two-arm, parallel, randomised-controlled trial design. The study was conducted amongst patients with an uncontrolled glycaemic status. Participants were randomly assigned to the intervention (n = 108) and the control arm (n = 108). Participants in the intervention arm received daily educational text messages on diabetes for six months. Data was collected at baseline and six months post-intervention. Blood glucose, blood pressure and anthropometric measurements followed standard procedure. Mixed-model analysis was used to assess the impact of the text messages on blood glucose while linear regression was used to assess its effect on other clinical outcomes such as weight, body mass index, systolic and diastolic blood pressure. The mean age of the participants was 60.64 (SD± 11.58) years. The majority of the participants had a secondary level of education (95.3%) and earned 104.80 to 991.42 USD per month (67.7%). Both arms of the study showed improvement in their blood glucose levels, but the intervention did not have any significant effect, the mean adjusted change in blood glucose was 0.26 (-0.81 to 1.32), p = 0.634. Also, the intervention did not have any significant effect on weight, body mass index, systolic and diastolic blood pressure. Almost all participants (90.74%) were pleased with the intervention and felt it was helpful. Of those who participated in the intervention, 91% completed the follow-up after 6 months. Unidirectional text-messaging was acceptable and feasible amongst adults living with diabetes in this setting. However, its efficacy in improving glycaemic status and other clinical outcomes remains doubtful. Trial Registration: Pan African Clinical Trial Registry PACTR201810599931422.
Article
Full-text available
Background: Diabetes is 7th largest cause of death worldwide, and prevalence is increasing rapidly in low-and middle-income countries. There is an urgent need to develop and test interventions to prevent and control diabetes and develop the theory about how such interventions can be effective. We conducted a participatory learning and action (PLA) intervention with community groups in rural Bangladesh which was evaluated through a cluster randomised controlled trial. There was a large reduction in the combined prevalence of type 2 diabetes and intermediate hyperglycaemia in the PLA group compared with the control group. We present findings from qualitative process evaluation research to explore how this intervention was effective. Methods: We conducted group interviews and focus group discussions using photovoice with purposively sampled group attenders and non-attenders, and intervention implementers. Data were collected before the trial analysis. We used inductive content analysis to generate theory from the data. Results: The intervention increased the health literacy of individuals and communities - developing their knowledge, capacity and self-confidence to enact healthy behaviours. Community, household and individual capacity increased through social support and social networks, which then created an enabling community context, further strengthening agency and enabling community action. This increased opportunities for healthy behaviour. Community actions addressed lack of awareness about diabetes, gendered barriers to physical activity and lack of access to blood glucose testing. The interaction between the individual, household, and community contexts amplified change, and yet there was limited engagement with macro level, or 'state', barriers to healthy behaviour. Conclusions: The participatory approach enabled groups to analyse how context affected their ability to have healthy behaviours and participants engaged with issues as a community in the ways that they felt comfortable. We suggest measuring health literacy and social networks in future interventions and recommend specific capacity strengthening to develop public accountability mechanisms and health systems strengthening to complement community-based interventions. Trial registration: Registered at ISRCTN on 30th March 2016 (Retrospectively Registered) Registration number: ISRCTN41083256 .
Article
Full-text available
Resumo O artigo analisa as percepções do estigma da hanseníase pelas mulheres que vivem no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. A produção está associada às marcas individuais e à interpretação social destas, sob a forma de rótulos que identifiquem o doente. Tal marca subentende a própria visão do indivíduo acometido que, no caso estudado, está relacionada à exclusão social, à pobreza e à religiosidade. Para compreender o estigma em meio à estruturação de serviços de saúde e trabalhos de informação das equipes de saúde, foram realizadas entrevistas com mulheres, sendo todas portadoras ou ex-portadoras da doença. As dificuldades de relacionamento com os serviços, com o próprio corpo, com a família, assim como a relação da doença com aspectos místicos e religiosos, são categorias analíticas que emergiram da pesquisa. O estigma manifesto em situações isoladas, e sob a decisão do indivíduo.
Article
Full-text available
Resumo Trata-se de pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, com o objetivo de conhecer a percepção dos usuários da Estratégia de Saúde da Família (ESF) em relação às práticas de grupo desenvolvidas pelo Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). A amostra foi constituída por 27 indivíduos participantes das atividades de grupo desenvolvidas em cinco ESFs apoiadas por uma equipe do NASF do município estudado. Os dados foram coletados por meio de entrevistas conduzidas com base em um roteiro semiestruturado versando sobre os temas: conhecimento das atividades desenvolvidas pelo NASF; características das atividades; benefícios advindos da participação nas atividades de grupo; tempo de participação; periodicidade da atividade; e relação com os profissionais. Os dados foram analisados segundo a técnica de análise de conteúdo, de Bardin. A maioria dos entrevistados se mostrou satisfeita com a acessibilidade ao serviço e os resultados advindos da participação nas práticas de grupo, motivados pelos benefícios terapêuticos e sociais. Pode-se concluir que os usuários possuem uma percepção positiva em relação às práticas de grupo oferecidas pelo NASF, destacando os resultados terapêuticos satisfatórios, criação de vínculos afetivos, proporcionando o fortalecimento das relações interpessoais, bem-estar e melhoria na qualidade de vida.
Article
Full-text available
O Diabetes Mellitus (DM) é caracterizado pela oscilação da taxa de glicose no organismo, ocasionando impactos biopsicossociais na vida das pessoas acometidas por tal afecção. Nesse sentido, objetivou-se identificar as representações sociais acerca do DM e tratamento, construídas por pessoas diabéticas. Participaram 30 pessoas com idades entre 41 a 83 anos (M= 57,60; DP= 12,3), sendo a maioria do gênero masculino e casado, as quais responderam a um questionário sociodemográfico e à entrevista semiestruturada. Os dados foram processados pelos softwares SPSS e IRAMUTEQ e analisados por meio da estatística descritiva, análise lexical, análise de similitude e nuvem de palavras. O campo representacional acerca da doença e tratamento esteve ancorado no saber biomédico relacionado ao conceito, sintomas, comorbidades e tratamento. Desse modo, os resultados assinalam para a importância de uma abordagem interdisciplinar que enfoque o suporte psicossociológico, direcionado para a elaboração de políticas públicas que viabilizem ações psicoeducativas com o intuito de promover a sensibilização de pessoas diabéticas acerca de características da afecção e de seus intentos comportamentais frente ao tratamento.
Article
Full-text available
Objective: To grasp the perceptions and experiences of professionals in the primary health care as teamwork in the Family Health Strategy (FHS) in a medium-sized municipality in the southern of Brazil. Method: Qualitative research carried out, between April and July 2016, with 13 health professionals (nurses, doctors, dentists, community health agents, nursing technicians and oral health aide) workers in FHS. Data were collected through semi-structured interviews, transcribed and submitted to content analysis. Results: From the analysis emerged three thematic categories: Teamwork from the perspective of the FHS health professionals; Strategies for maintaining teamwork out of daily routine; and Challenges of the insertion of Oral Health in the FHS. Conclusions and implications for a practice: Participants demonstrated that they understood the importance of teamwork and interpersonal relationships, and recognize the inherent challenges of this process. They revealed weaknesses in the relationships among dentistry and other members of the FHS, marked by a sense of exclusion and disinterest in participating.
Book
Full-text available
Centrado na questão da inserção social da loucura, o livro discute e analisa a questão da construção de representações sociais sobre a doença mental numa pequena cidade no centro de França onde, desde 1900, uma instituição psiquiátrica aberta coloca os pacientes sob os cuidados de famílias locais. A autora busca entender de que forma a comunidade recebe e absorve os pacientes, como ela estabelece a relação com a alteridade radical da loucura, e como os processos representacionais funcionam numa confrontação deste tipo.