Available via license: CC BY-NC-SA 4.0
Content may be subject to copyright.
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
143
ARGILOTERAPIA: UMA REVISÃO DE LITERATURA SOBRE OS
CONSTITUINTES E UTILIZAÇÕES DOS DIFERENTES TIPOS DE
ARGILA Amanda Truppel
1
Hellen Camila Marafon
2
2
Caroline Valente
3
3
Resumo: A argila é um dos compostos mais antigos conhecido pelo homem, mesmo sendo uma matéria prima
abundante e muito utilizada na cerâmica, seu uso como técnica terapêutica é pouco difundida. Sabe-se que é
recurso poderoso devido à grande quantidade de minerais. Sua composição físico-química indica a sua utilização,
que vai desde absorver impurezas, revigorar tecidos e ativar a circulação, além da ação tensora, estimulante,
suavizante e catalisadora. Mediante essas particularidades, o presente trabalho teve como objetivo revisar na
literatura a eficácia da geoterapia nos tratamentos terapêuticos e estéticos. Trata-se de uma revisão bibliográfica
desenvolvida a partir da literatura disponível entre os anos de 1990 até 2016, pesquisada nos bancos de dados do
Google acadêmico, SciELO e livros relacionados ao assunto. Sendo assim, foi elaborada uma tabela com
informações das doenças e tratamentos geoterápicos a serem utilizados. Conclui-se neste trabalho que as argilas
trazem satisfatórios resultados quando utilizadas em tratamentos estéticos e tratamentos medicinais. Seu resultado
dependerá da cor da argila, sendo as cores verde, rosa, branca e vermelha as mais utilizadas.
Palavras-chave: Argiloterapia. Geoterapia. Argila. Argila Medicinal.
CLAYTHERAPY: A LITERATURE REVIEW ON THE CONSTITUENTS AND USES
OF DIFFERENT TYPES OF CLAY
Abstract: Clay is one of the oldest compounds known to man, even though it is an abundant raw material and
widely used in ceramics, its use as a therapeutic technique is not widespread. It is known that it is a powerful
resource due to the large amount of minerals. Its physical-chemical composition indicates its use, which ranges
from absorbing impurities, invigorating tissues and activating circulation, in addition to the tensor, stimulating,
smoothing and catalyzing action. Given these particularities, the present study aimed to review in the literature the
effectiveness of geotherapy in therapeutic and aesthetic treatments. It is a bibliographical review developed from the
available literature between the years of 1990 and 2016 searched in the databases of Google academic, SciELO and
books related to the subject; thus, a table with information of diseases and geotherapeutic treatments was
elaborated. It is concluded in this work that clays bring satisfactory results when used in aesthetic and medicinal
treatments. Its result will depend on the color of the clay, such as green, pink, white and red the most used.
Keywords: Claytherapy, Geotherapy. Clay. Medicinal Clay.
Introdução
Argiloterapia é uma palavra que vem do grego: geo significa terra e terapia, está
relacionada a tratamento. É uma técnica natural e, provavelmente, a mais antiga utilizada pelo
homem como método alternativo para uso terapêutico e estético.
São utilizados vários tipos de argila, sendo que cada uma tem suas indicações conforme
suas características físico-químicas. Além disso, podem ser utilizadas em diferentes
temperaturas, técnicas de aplicações e tempo de permanência.
1
Biomédica. Departamento de Farmácia. Centro de Ciências da Saúde. Universidade Regional de Blumenau-FURB.
Blumenau-SC. amanda-truppel@hotmail.com
2
Acadêmica do Curso de Graduação em Medicina. Universidade Estadual do Oeste do Paraná-Unioeste. Campus
Francisco Beltrão. Francisco Beltrão-PR. hellencmarafon@gmail.com
3
Farmacêutica, Acupunturista e Professora. Departamento de Ciências Naturais. Centro de Ciências Exatas e
Naturais. Universidade Regional de Blumenau-FURB. Blumenau-SC. carolvalente11@gmail.com
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
144
A argila possui a capacidade de absorver impurezas, revigorar os tecidos e ativar a
circulação e, por isso, apresenta potencial para aplicações cosméticas e terapêuticas. Além disso,
possui ação tensora, estimulante, amaciante, suavizante e tem a capacidade de absorver a
oleosidade da pele. Tal fato é possível pela quantidade de minerais presentes em sua
composição, como: ferro, magnésio, potássio, silício, alumínio e outros. De acordo com estudos,
a argila repõe minerais, estimula a atividade de certas enzimas e possui poder de reter em suas
moléculas substâncias que são nocivas ao nosso organismo. Há relatos que a aplicação da argila
responde positivamente no alívio de dores, em processos anti-inflamatórios e auxilia na
tonificação da pele.
Mesmo tendo funções terapêuticas reconhecidas há milênios, apenas há alguns anos
começaram estudos acerca do tratamento milenar conhecido como argiloterapia ou geoterapia.
Desta maneira, há um déficit literário muito amplo sobre este tema, são encontrados em livros
apenas definições técnicas da composição química da argila, bem como suas funções na
cerâmica, área voltada para a construção civil.
A pesquisa proposta poderá propiciar à área da saúde e da estética um novo foco de
pesquisa para a utilização da argila em seus tratamentos. Sendo assim, foi desenvolvido um
levantamento sobre características, tipos, composições e funções da argila, visando à elaboração
de uma tabela indicando a enfermidade e a região do corpo a qual deve ser aplicada.
Revisão de Literatura
História da argila
Trata-se da substância mais antiga usada pelo homem. A argila possui seu uso terapêutico
reportado há mais ou menos 3.000 anos (BOURGEIOIS, 2006). A técnica utilizada para
aplicação da argila foi baseada na observação de animais feridos que procuravam certos tipos de
‘’lamas’’ para tratamento de suas feridas, este foi o mecanismo responsável pela descoberta de
diversas argilas medicinais (PERETTO, 2008).
Antigas civilizações do Oriente, como os egípcios, já utilizavam o material argiloso com
princípio de cura, para tratar inflamações e doenças internas. Devido ao poder de purificação e
antissepsia da argila, embalsamadores usavam deste material para mumificação de corpos
(BOURGEIOIS, 2006). Segundo Peretto (2008), o grande filósofo Aristóteles retratou a argila
como um método que preserva e trata a saúde, já Galileno e Discorde, anatomistas gregos,
descrevem em seus escritos a utilização da argila no uso de tratamento à saúde, confirmando a
sua eficácia.
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
145
O grandioso médico grego Hipócrates, renomado pai da medicina, usava e ensinava aos
seus discípulos o uso da argila de forma medicinal. O unificador da Índia, Mahatma Gandhi,
instruía a cura pela argila e, graças a ele, naturólogos alemães, como Luis Kuhne e Adolf Just,
deixam relatos importantes sobre tratamentos utilizando a argila no século XX (PERETTO,
2008).
Já na América, grupos de índios cultivavam a tradição de que seus doentes terminais
deveriam ser enterrados na posição vertical, deixando somente a cabeça para fora para que,
assim, ficassem em contato com a terra o maior tempo possível. Essa técnica também foi
utilizada na guerra do Vietnã, quando coreanos e vietnamitas tomavam banho de argila para
cuidar de suas queimaduras (DORNELLAS e MARTINS, 2009). Para desintoxicar, transformar,
equilibrar e melhorar a circulação do Qi (energia), a medicina Oriental também emprega a argila,
utilizando-a sozinha ou em conjunto com outros materiais. Já no Brasil, um país rico em
quantidade de argila, porém, ainda pequeno no uso com finalidade para tratamentos em saúde,
somente algumas clínicas, spas profissionais e balneários atendem com objetivo terapêutico
(DORNELLAS e MARTINS, 2009). Alguns países, como Alemanha, Cuba, Rússia, Israel e
Itália, já possuem centros terapêuticos para várias doenças, como infecções de pele e dores
musculares, com utilização da geoterapia em parte do tratamento (BRASIL, 2007).
Argila
É um composto de material sedimentar constituído por granulações finas, e quando é
umedecido com água, obtém uma plasticidade que se designa então o nome de “argila” (DÍAZ,
2005; DEBACHER e MELLO, 2004). São subdivididas em argilas primárias e secundárias. As
primárias são encontradas na forma de pó decorrentes da decomposição do sol, já as argilas
secundárias, encontram-se na forma de lama (água mais argila), originadas através do transporte
de chuvas e ventos (DORNELLAS e MARTINS, 2009).
Sendo as formulações disponíveis bastante variadas tanto em cores quanto na sua
composição, é a presença de seus componentes que determinam o seu mecanismo e o seu modo
de uso. Suas características são demostradas através de sua matéria orgânica ou do mineral
encontrado em sua composição (FONTES et al, 2001). Segundo Langreo (1999), podendo ser
encontradas em diferentes profundidades e alturas, frequentemente são extraídas de jazidas e,
então, levadas a indústrias para serem processadas e manipuladas. A argila é escolhida e
examinada por meio de culturas microbiológicas para investigar a presença de fungos, leveduras,
bactérias ou qualquer outro tipo de contaminação.
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
146
A argila consiste em camadas de alumina, hidroxila e silicatos, por isso, é descrita
quimicamente como silicato de alumínio hidratado. Dispõe-se em arranjos lamelares compostos
por lâminas tetraédricas e octaédricas, conhecidas como filosilicatos (estruturas em chapas
encontradas em minerais argilosas). As estruturas octaédricas constituem-se de alumínio (Al3+),
envolto por hidroxilas (OH-) nas estruturas tetraédricas, a sílica é envolta por íons de oxigênio. A
combinação dessas lâminas constituídas por camadas sobrepostas é que dá estrutura aos minerais
de argila (MEDEIROS, 2007).
As argilas possuem inúmeras utilidades conhecidas, como, por exemplo, na cerâmica,
mas também podem ser utilizadas em tratamentos de estética e de saúde (SILVA et al, 2015).
Conforme os autores Dornellas e Martins (2009), a argila e os elementos minerais presentes na
sua composição físico-química atuam nos tratamentos de saúde e estéticos nas seguintes
condições:
• Alumínio: age para a tonicidade da pele, tem atuação cicatrizante, podendo inibir até o
crescimento de algumas bactérias como a Staphylococcus aureus;
• Ferro: fundamental para a respiração celular e transferência de elétrons. Na pele, a falta
deste mineral manifesta-se por uma epiderme fina, seca e sem elasticidade;
• Magnésio: tem o poder de fixar os íons de potássio e do cálcio, com papel importante
na formação e manutenção celular;
• Manganês: sua ação é específica na biossíntese do colágeno, tem ação anti-infecciosa,
cicatrizante e antialérgica;
• Silício: tem papel importante na reconstituição dos tecidos cutâneos e na defesa do
tecido conjuntivo. Tem ação hemostática, purificante, adstringente e remineralizante. Tem efeito
hidratante na pele e reduz as inflamações. Também, possui papel na elasticidade da pele, atuando
em flacidez cutânea;
• Sódio e potássio: Ajudam a preservar o equilíbrio iônico das células cutâneas.
Tipos de argila
A argila foi classificada de acordo com as suas cores, as quais estão relacionadas com as
características físico-químicas presentes na sua formação. A (Figura 1) representa as diferentes
cores que a argila pode possuir (MEDEIROS, 2013).
Figura 1 – Diferentes tipo de argila
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
147
Fonte: Santos, 2015
a) Argila Branca: também conhecida como caulim, essa argila é naturalmente misturada
com outros tipos de argila para suavizar os efeitos intensos das outras cores (SOUZA, 2005). Sua
composição mineralógica corresponde a uma mistura de caolinita e quartzo. Possui alta
quantidade de alumínio, fato que lhe concede propriedade cicatrizante, seu uso na estética
promove ação antisséptica e facilita a circulação sanguínea (SOUZA, 2005). Conforme Medeiros
(2013), é comprovado que a argila branca tem ótimos feitos em suavizar rugas e linhas de
expressão. No caso de manchas provocadas pela exposição solar são utilizadas aplicações de
argila nesta cor. Muito utilizada em esfoliações faciais (peeling), principalmente em peles
sensíveis. Nutre a pele com efeito depurativo, tensor, suave e revitalizante (MEDEIROS, 2013;
PERETTO, 1999). Na argila branca encontram-se os seguintes elementos: alumínio (Al); óxido
de magnésio (MgO); óxido de cálcio (CaO); enxofre (S); ferro (Fe); boro (B); potássio (K);
cálcio (Ca); silício (Si) e óxido de enxofre (SO3) (MEDEIROS, 2013; SAMPAIO et al, 2008).
b) Argila Verde ou Acinzentada: conhecida como montmorilonita, rica em zinco e
silício, é a argila mais utilizada atualmente. Proporciona a atividade sebo-reguladora. É indicada
no uso de vários tratamentos, principalmente em casos crônicos (MEDEIROS, 2013). A presença
de oxido de ferro é o que difere a sua cor, que atua em união a outros minerais, tais como o
quartzo, ilita e caolinita (RIBEIRO, 2010). Na estética, pode atuar como redutora de celulite e
flacidez, e é muito indicada para regulação da oleosidade, principalmente para estética facial
(RIBEIRO, 2010). A argila verde melhora a circulação sanguínea, promove a eliminação de
toxinas e descongestiona a circulação linfática, favorecendo o efeito de drenagem, isso se deve
ao seu aporte nutricional e por ser considerada uma cor neutra e natural, podendo ser utilizada
como esfoliante suave (MEDEIROS, 2013). A cor tranquilizante, tonificante e refrescante,
auxilia os pacientes com insônia, irritação e dor de cabeça, evitando o acúmulo de energias
negativas e estresse mental (CORVO e BONDS, 1997). Dentre os elementos encontrados na
argila verde estão o óxido de sódio (Na2O); zinco (Zn); monóxido de potássio (K2O); manganês
(Mn); cobre (Cu); alumínio (Al); silício (Si); molibdênio (Mo); óxido de titânio (TiO2); lítio (Li);
sódio (Na) e potássio (K) (SAMPAIO et al, 2008; MEDEIROS, 2013).
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
148
c) Argila Vermelha: é a argila mais rica em óxido de ferro, resultando em propriedades
tensoras. Esta cor é universalmente considerada a cor do fogo, que simboliza força, poder e
brilho (RIBEIRO, 2010). Na estética, tem ação reguladora do fluxo sanguíneo, sendo muito
indicada para peles sensíveis (MEDEIROS, 2013). O seu uso é contraindicado nos casos de
pessoas agitadas, ansiosas, com inflamações ou que estejam sob o efeito de estresse, pois esta cor
irá aumentar o fluxo sanguíneo e o calor (MEDEIROS, 2013). Os principais elementos presentes
na argila vermelha com suas respectivas estruturas são: óxido de magnésio (MgO); sódio (Na);
óxido de ferro (Fe2O3); óxido de cobre (CuO); óxido de potássio (K2O); ferro (Fe); cobre (Cu) e
cromo (Cr) (SAMPAIO et al, 2008; MEDEIROS, 2013).
d) Argila Amarela: por conter silício e alumínio, possui o efeito desinfiltrante,
adstringente e desintoxicante (MEDEIROS, 2007). Indicada para peles pós-verão, por possuir
efeito tônico e revitalizante, tem a propriedade de nutrir, tonificar, e oxigenar a pele. Sua análise
química possui concentração de cobre, ferro e magnésio (MEDEIROS, 2013). O amarelo
representa a intensidade, o símbolo da juventude e do vigor. A argila amarela elimina todos os
resíduos impuros, retirando manchas e auxiliando na digestão de alimentos, evitando a prisão de
ventre. Também auxilia na circulação, aliviando dores (VILA Y CAMPANYA, 2000;
MEDEIROS, 2013). O seu uso é contra indicado nos casos de diarreia, febre e inflamações
agudas, devido aos elementos presentes em sua estrutura: cálcio (Ca); cobre (Cu), manganês
(Mn); ferro (Fe); magnésio (Mg); e potássio (K) (SAMPAIO et al, 2008; MEDEIROS 2013).
e) Argila Roxa: ideal para peles cansadas e com linhas de expressão aumentadas,
também pode ser utilizada para o aumento da circulação e da hidratação. Reconstrói a vitalidade
da pele, reduzindo edemas após limpeza facial (MEDEIROS, 2013). Para ação terapêutica é
indicada principalmente em queimaduras de primeiro grau, por possuir efeitos cicatrizante e
analgésico (MEDEIROS, 2013).
f) Argila Rosa: uma mistura da argila branca e vermelha, promove elasticidade e
tonificação, por isso é argila mais comum na estética. Melhora o sistema imunológico, realça o
brilho e a maciez (MEDEIROS, 2013). Sua composição de mineral é a mistura de quartzo,
esmectita, ilita e caolinita (RIBEIRO, 2010). A cor rosa representa a cor do apoio e possui uma
beleza capaz de curar, além disso, traz consigo a promessa do preenchimento, dando a sensação
de conforto, autovalorização e autoconfiança. Ativa, também, a circulação com efeitos
emolientes e antioxidantes (MEDEIRO, 2013; BONDS, 1999). Seus componentes presentes são
as respectivas estruturas cristalinas: óxido de ferro (Fe2O3); sódio (Na) e óxido de cobre (Cu2O)
(SAMPAIO et al, 2008; MEDEIROS, 2013).
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
149
g) Argila Cinza: bastante indicada para terapia capilar, controla a seborreia, auxilia na
reconstrução da pele em casos de ferimentos, lesões por assaduras ou atritos (MEDEIROS,
2013).
h) Argila Preta/Negra: por ser obtida das profundidas, é raramente encontrada pura
(RIBEIRO, 2010). Promove a melhora da circulação sanguínea, aliviando a dormência das
extremidades dos membros (MEDEIROS, 2007). Por sua grande quantidade de enxofre e
matéria orgânica e a presença do titânio agrupado a elevados graus de alumínio e silício, é um
material excelente para ser utilizado no rejuvenescimento da pele (DORNELLAS e MARTINS,
2009; CARVALHO, 2009). Os principais componentes presentes em sua estrutura são: alumínio
(Al); titânio (Ti); magnésio (Mg); zinco (Zn); ferro (Fe) e enxofre (S) (MEDEIROS, 2013;
SAMPAIO et al, 2008).
i) Cristais de Quartzo: devem ser utilizados antes da aplicação para todos os
procedimentos com uso de argila, pois, possui um efeito energético, tornando a pele mais
receptiva para os nutrientes da geoterapia (MEDEIROS, 2013). São utilizados tanto na
esfoliação facial quanto na corporal. Aqueles que possuírem grânulos maiores são indicados
somente para esfoliação corporal. Já aqueles de grânulos menores, para esfoliação facial ou
corporal, em caso de pele sensível (MEDEIROS, 2013).
Argila Terapêutica
Aplicada no tratamento medicinal, a argila atua como material anti-inflamatório,
refrescante, desintoxicante, cicatrizante e calmante, fortalecendo os órgãos internos. Elimina as
células mortas ou danificadas e as impurezas, além de agir como bactericida e antiparasitária. A
argila não somente absorve os germes perigosos, mas também é capaz de regenerar os tecidos
danificados através de seus elementos físico-químicos (CLAUDINO, 2010).
Sua ação vital pode alcançar o sistema nervoso central, aliviando dores e tensões. Quando
a argila é utilizada fria, absorve a febre dos tecidos, diminuindo as dores das inflamações e
levando ao equilíbrio térmico do corpo. Já quando usada morna ou quente, suaviza os tecidos
deixando-os relaxados (PERRETO,2008).
Segundo os autores Dornellas e Martins (2009), são os elementos minerais como ferro,
silício e magnésio presentes na argila, que lhe concedem as propriedades terapêuticas essenciais
relatadas a seguir:
• Absorção: obtém elasticidade quando misturada com água, adquirindo uma pasta
eficaz no tratamento de inflamações, edemas e inchaços;
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
150
• Liberação: possui capacidade para liberar elementos ativos que fazem parte de sua
constituição, produzindo efeito protetor e absorvedor de toxinas em vários órgãos,
principalmente na pele e mucosas;
• Adsorção: constitui um fenômeno no qual a argila deixa passar moléculas, elementos
gasosos e partículas microscópicas do meio ambiente com o intuito de deslizar para o interior da
pele; este processo é muito útil na fixação de toxinas presentes no organismo para uma posterior
eliminação destas.
É a união de determinados elementos minerais presentes na argila que lhe concede as
propriedades de cura, provocando no organismo os seguintes efeitos:
- Libera os interstícios celulares;
- Elimina toxinas;
- Promove a microcirculação cutânea;
- Em algumas religiões, permite a troca de energia dos minerais com a parte afetada;
- Promove uma microabrasão (peeling suave);
- Regula a produção sebácea;
- Regula a queratinização;
- Regulariza a temperatura do órgão enfermo, uniformizando a irrigação sanguínea
(DORNELLAS e MARTINS, 2009).
São inúmeras as utilidades terapêuticas das argilas, indicadas para o tratamento de várias
enfermidades. Deve-se observar, além da indicação terapêutica, a forma, o local da aplicação e a
temperatura da argila a ser utilizada (VILA Y CAMPANYA, 2000). A temperatura da argila
aplicada irá depender do local do corpo beneficiado pelo tratamento, ou seja, em locais
excessivamente frios, pode-se aplicar a argila um pouco aquecida, já em locais quentes, deve-se
usá-la em temperatura ambiente (MEIDEIROS, 2013).
Segundo Claudino (2010), a argila pode ser utilizada para vários casos devido a sua
diversidade de funções, como adsorção de toxinas inflamatórias, ação bactericida, e antisséptica.
Conforme Peretto (2008), a argila, para fins terapêuticos, deve ser aplicada em camadas
mais grossas e, para fins estéticos, usar uma camada mais fina. O uso de argilas com óleos
essenciais dá ótimos resultados estéticos e terapêuticos. Na figura 2, podemos observar uso
terapêutico da argila.
Figura 2 – Aplicação da argila: finalidade terapêutica.
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
151
Fonte: Lamaita, 2009.
Argilas na estética
Dadas as suas virtudes terapêuticas, auxiliando em causas infeciosas, ativando a
circulação linfática e a sanguínea e ajudando nas atividades das glândulas sebáceas, a argila
passou a ser inserida em inúmeras marcas conceituadas de cosméticos. Deste modo, quando é
inserida ao ingrediente cosmético, em uma máscara facial, por exemplo, ela atua
simultaneamente como uma máscara ou um esfoliante. Portanto, quanto mais simples o
cosmético, melhor (PERETTO, 2008).
As máscaras de argila são utilizadas para nutrir, limpar e revitalizar a pele por meio de
um processo de expulsão de toxinas, estimulando a circulação por causa de seu gênero
queratolítico. Essas características dependem de qual é o tipo de argila utilizada para o
tratamento (SOUZA, 2005).
Em tratamentos estéticos, a argila funciona como tonificante corporal e auxilia na
drenagem linfática quando aplicada em compressas em áreas de concentração de gânglios,
promovendo a eliminação de toxinas (DORNELLAS e MARTINS, 2009).
Se quisermos um ótimo desinfetante, podemos recorrer à terra. Ela ajuda a combater
processos infecciosos, ativando a circulação sanguínea e linfática, o fluxo nervoso e as atividades
das glândulas sebáceas (PERETTO, 2008). Na figura 3, observamos o uso da argila no
tratamento estético facial.
Figura 3 – Aplicação de argila: finalidade estética
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
152
Fonte: Muller, 2009.
Tempo de duração do tratamento
Pode variar muito, em casos agudos o resultado pode ser imediato, entretanto, em casos
crônicos, a cura pode levar até 40 dias e alguns casos exigem até um ano (PERETTO, 2008).
Uma vez iniciado, o tratamento não deve ser interrompido antes de se conseguir o
resultado desejado, pois a argila desencadeia processos sucessivos de purificação e revitalização.
Se houver interrupções, mesmo que provisória, a sequência dos processos será interrompida e
será necessário começar tudo novamente da estaca zero (PERETTO, 2008).
Tempo de duração da aplicação
O tempo de aplicação também é muito variado, pode ser de uma ou duas horas, ou se
estender durante a noite. Este tempo irá depender do local e do problema que deseja ser
solucionado (PERETTO, 2008).
Em alguns tratamentos, a argila deve ser retirada antes do tempo previsto, principalmente,
em casos nos quais o produto esquenta com o calor do corpo e então o problema não será
solucionado (PERETTO, 2008).
Cosméticos de argila
Os cosméticos feitos com argila servem não somente como embelezamento para quem
usa, mas também para prevenir e melhorar diversos problemas, tanto de pele como de cabelo
(PERETTO, 2008).
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
153
O cosmético ideal para ser utilizado é aquele que não contém muito produto químico,
quanto mais natural, melhor, pois esses aditivos podem se tornar agressivos (PERETTO, 2008).
Ao combinar a argila com outros elementos curativos naturais, o efeito é amplificado. A
argila irá absorver as propriedades terapêuticas das ervas e óleos utilizados, repassando esses
benefícios para a pele. Por exemplo, o mel pode ser utilizado em todas as receitas, pois tem o
efeito de brilho e maciez, além de aumentar o tempo de secagem, prolongando a aplicação da
argila (PERRETO, 2008).
Aditivos que melhoram os cosméticos junto com a argila:
- Abacate: ajuda na queda e crescimento do cabelo, conserva a beleza da pele.
- Camomila: para cabelos claros, deixando sedosos e com mais brilho.
- Mel: para cabelos secos, queimados pelo sol, mar ou piscina; dá brilho e maciez;
também indicado para eczemas.
- Óleo de amêndoa: hidrata, suaviza, restaura a oleosidade da pele.
- Pólen de flores: indicado após cirurgias, para reconstituição da pele, e nos casos de
exposição excessiva ao sol (PERRETO, 2008).
Argila e seu uso veterinário
Havendo pouca diferença no tratamento em humanos, o uso da argila nos animais traz
como maior dificuldade sua aplicação. Os bichos, quando afetados com alguma doença febril
rapidamente buscam um local fresco, onde cavam até encontrar terra úmida e ali se deitam
(PERRETO, 2008).
Animais com gangrena, por exemplo, procuram ficar em lugares lamacentos. Eles
procuram estes locais por instinto. Se os observarmos, aprenderemos muito com eles
(PERRETO, 2008).
Geoterapia
Geoterapia, lamaterapia ou argilotrapia é o uso da terra no combate das doenças. Este
costume é tão antigo quanto à própria humanidade. O que há de novo somente é seu modo de
aplicação, cada vez mais aprimorado pela observação e pelas experiências (PERRETO, 2008).
Segundo Medeiros (2013), a palavra geoterapia origina-se da combinação geo = argila e
terapia = tratamento. Entre inúmeras práticas que aproveitam os recursos da natureza em prol à
saúde do ser humano, este preserva o título de ser milenar. Existem relatos de que o médico
grego Discórides utilizava a argila para tratamento e cicatrização, pois a cura era mais rápida.
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
154
Posteriormente, renomados naturalistas contribuíram na difusão desses conhecimentos, o
Padre Kneipp e seu discípulo Adolf Just, que é considerado o pai da geoterapia, difundiu
resultados de muitos anos dedicados ao estudo da terra. Ele observou que seus pacientes
aceleravam a sua recuperação quando deitados na terra nua ou em grama (PERETTO, 2008).
A geoterapia tem princípios na geologia, geoquímica e geofísica em sua utilização,
trabalhando além do físico, o emocional e o energético. Mesmo tratando-se de uma técnica muito
antiga, ainda se encontram poucas publicações no Brasil (MEDEIROS, 2007).
A “lama” é um agente de desintoxicação e regeneração física, além de eliminar o que é
nocivo ao organismo, ela vitaliza os tecidos enfermos, descongestiona e normaliza a circulação
do sangue. Além disso, é acessível a todas as classes sociais por ser um remédio barato e de fácil
localização (PERETTO, 2008).
Segundo o autor Spethmam (2004), a compressa é o método mais utilizado na geoterapia,
podendo ser aplicada pura ou combinada com outros elementos, como, óleo de amêndoa,
vinagre, mel, abacate, camomila, pólen de flores.
“Essas compressas de argila podem ser aplicadas em qualquer região do corpo,
diretamente no local enfermo” (SPETHMAM, 2004), dentre esses locais, destaca-se a cabeça,
tórax, pernas, pés e lombar.
A duração da aplicação das compressas é de no máximo duas horas. A geoterapia é uma
prática não recomendada para gestantes ou pacientes no período menstrual (CLAUDINO, 2010).
Várias são as enfermidades que a geoterapia pode tratar. A (tabela 1) descreve as doenças
e o tratamento geoterápico indicado para tal enfermidade e a região do corpo na qual deve ser
aplicada (CLAUDINO, 2010).
Tabela 1. Doença e tratamento geoterápico indicado:
Abcessos
Compressa de argila verde com mel de abelha. Deixar agir
90 minutos, uma vez por dia. A aplicação deve continuar até
a cicatrização.
Acnes, espinhas e cravos.
Compressa de argila rosa com vinagre de maçã, deixar agir
por 60 minutos em dias alternados até a pele normalizar-se.
Para remoção da máscara utilizar água fria ou chá de
camomila.
Artrite
Compressa levemente aquecida de argila branca, aplicação
no local afetado, nos dois pés e nas mãos (cobrir os dedos).
Deixar agir por 90 minutos, de duas a três aplicações por dia,
até quando o problema persistir.
Assaduras
Preparar argila verde com chá morno ou frio da planta cipó
azougue. Deixar agir por 45 a 60 minutos e realizar a
remoção com o próprio chá ou água fria. O uso deve ser feito
até quando o problema persistir.
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
155
Banho de argila
Usado para desintoxicar e como calmante geral do sistema
nervoso, nos processos de ansiedade e depressão. Utiliza-se a
pasta de argila branca com gengibre cru espalhando por todo
corpo deixando agir por 60 minutos. Em seguida, tome uma
ducha morna ou mergulhe em uma banheira, removendo a
argila com uma bucha vegetal para uma esfoliação natural.
Bronzeado: como manter
Compressa de argila verde com extrato de uva. Aplique uma
pasta grossa e cremosa sobre as partes que deseja manter o
bronzeado deixando agir por 60 minutos. Aplicação deve ser
feita uma vez por semana.
Bursite
Compressa de argila verde com chá morno das folhas de
beladona por 90 minutos, de duas a três vezes por dia.
Recomenda-se acupuntura com moxabustão (um tipo de
acupuntura térmica).
Cabelos: fortalecer e estimular
o crescimento.
Aplicar a pasta de argila verde com vinagre de maçã por todo
o couro cabeludo, de duas a três vezes por semana.
Candidíase
Compressa de argila verde com vinagre de maçã, no baixo do
ventre, deixando agir por 60 minutos, uma vez por dia,
durante 5 dias. Recomenda-se banho de assento com vinagre
de maçã uma a três vezes por dia.
Coluna vertebral: dor
Pasta de argila verde aquecida, aplicar uma camada bem
grossa por toda a coluna, deixando agir por 90 minutos. Para
remoção, usar água de gengibre aquecida. A aplicação deve
ser feita até o problema ser resolvido.
Dor de cabeça
Compressa de argila verde misturada com suco de batata na
testa e nas têmporas, deixando agir por 90 minutos durante
30 dias. Quando as crises forem muito acentuadas, fazer uma
espécie de “capacete” envolvendo toda a cabeça e a nuca.
Dores musculares
Pasta de argila vermelha com chá de canela, erva doce e
sementes de mostarda, deixando agir 60 minutos no local
desejado. Aplicação deve ser feita até o problema ser
resolvido.
Estrias
Pasta de argila branca com mamão papaia maduro. Fazer
duas aplicações por dia, durante 90 minutos, removendo com
água fria. Após remoção, massagear com óleo de amêndoa
ou andiroba. O uso deve ser feito até o problema ser
resolvido.
Manchas do sol
Pasta de argila amarela com folhas moídas de estévia, aplica-
se sobre as machas durante 90 minutos, todos os dias, por
quanto tempo desejar.
Manchas na pele (em geral)
Argila branca ou verde, aplicando sobre as manchas por 90
minutos, diariamente, por quanto tempo desejar.
Máscara para limpar e clarear a
pele
Pasta de argila rosa com vinagre de maçã, aplique sobre o
local desejado por 60 minutos, removendo a argila com água
fria, após o uso recomenda-se o uso de um hidratante natural.
Fazer a aplicação de duas a três vezes por semana durante 3
meses, e após esse período durante 15 dias para manutenção.
Máscara rejuvenescedora
Pasta de argila preta com suco de uva, aplicar em todo local
desejado, deixando por 90 minutos fazendo de duas a três
aplicações durante 3 meses, e após esse período manutenção
a cada 10 dias.
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
156
Olheiras
Pasta de argila branca com suco de pepino com casca, fechar
os olhos e aplique sobre eles por cerca de 30 minutos, de
duas a três vezes por semana, até o problema ser resolvido.
Retirar a compressa com algodão umedecido com água.
Peles oleosas (hidratar)
Aplicar argila branca com clara de ovos durante 60 minutos,
todos os dias até o problema ser resolvido. A clara de ovo é
rica em albumina (responsável, entre outras coisas, por dar
firmeza a pele).
Peles secas e normais (hidratar)
Aplicar argila branca com polpa de abacate e mel durante 60
minutos todos os dias.
Queimaduras
Após higienizar bem o local, aplique a clara de ovo batida e
deixe agir. Depois de cicatrizada faça aplicação de argila
roxa deixando agir por 60 minutos diariamente, por 30 dias.
Além de o tratamento ajudar na cicatrização, provavelmente
deixará o local sem marcas.
Rugas
Aplique argila verde ou branca misturada com extrato de
tomate e mel sobre os locais afetados, deixando agir por 60
minutos, fazer aplicação diariamente até quando julgar
necessário.
Sardas
Aplicar argila verde com suco fresco de planta dente de leão
sobre a área afetada, ou no rosto inteiro.
Varizes
Aplique uma camada grossa de argila verde misturada com
vinagre natural de maçã ou suco de gengibre sobre as
varizes, uma ou duas vezes por dia, deixando agir por 60
minutos, durante 30 dias.
Vasinhos sanguíneos
Preparar a argila verde com vinagre de maçã deixando agir
por 90 minutos em aplicações diárias. Quando os vasinhos
desaparecerem continue a aplicação durante 15 dias para
manutenção. Recomenda-se, durante a noite, utilizar vinagre
de maçã natural e com uma bucha vegetal, fazer massagens
no local afetado.
Fonte: Claudino, 2010.
Cuidados na aplicação da geoterapia
Assim como toda a prática com várias indicações, segundo a autora Medeiros (2013), a
geoterapia não é contraindicada nos casos a seguir, porém exige cuidados nos procedimentos
envolvendo a aplicação.
Em caso de ferimentos abertos, não deve haver aplicação diretamente em cima da lesão,
em especial lesão profunda. Para auxiliar na cicatrização a recomendação é utilizar a argila ao
redor da lesão (MEDEIROS, 2013).
Em caso de diabetes, a geoterapia deve ser aplicada com cuidado, uma vez que existe a
possibilidade de lesão da pele. Já em hipertensos, deve-se cuidar a frequência com qual a argila é
utilizada, pois pode haver aumento da circulação sanguínea (MEDEIROS, 2013).
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
157
Nos casos de crianças, gestantes e idosos, deve ser mantido o cuidado em relação à pele
dos diabéticos, uma vez que são peles delicadas e que necessitam de atenção (MEDEIROS,
2013).
Processo de extração das argilas
A argila pode ser encontrada em casas de produtos naturais e olarias, é importante que
seja limpa, que não tenha pedras, impurezas ou cacos de vidro. A terra ideal deve ser totalmente
natural, virgem e sem químicos (PERRETO, 2008).
O produto deve ser retirado do subsolo, abaixo do húmus. Outra fonte em que pode ser
encontrada, são as casas de olarias, porém nestas a dificuldade para encontrar a argila no seu
estado ideal é mais acentuada (PERETTO, 2008).
Segundo a Constituição Federal de 1988, a argila é um recurso mineral do subsolo que
necessita de autorização do Departamento Nacional de Produção Mineiral (DNPM), pois é um
bem da união.
Cuidados com a argila
Como em muitos casos precisamos da argila com rapidez, em caso de acidentes, por
exemplo, ela pode ser conservada em um recipiente higienizado e bem tampado, por tempo
indefinido. É de extrema importância que fique exposta ao sol pouco tempo antes do uso, para
absorver o magnetismo solar. A argila utilizada após o tratamento, tendo absorvido impurezas,
fica saturada e deve ser descartada (PERETTO, 2008).
Temperaturas
Geralmente a temperatura a ser utilizada é determinada pelo tratamento e local da doença.
Uma pele quente, congestionada, pede cataplasmas frias, já uma pele fria, requer cataplasmas
quentes (PERETTO, 2008).
O cataplasma quente é relaxante, ativa circulação, eliminando toxinas e aliviando os
tecidos. Já se o local estiver quente e febril, a argila deve ser utilizada fria, um cataplasma frio
refresca, descongestiona e desinflama, melhorando a circulação (MEDEIROS, 2013).
Para o aquecimento da argila, deve-se utilizar o banho-maria, até chegar a temperatura
almejada. A argila também pode ser aquecida no sol (PERRETO, 2008).
A temperatura fria a que referimos é de temperatura ambiente, já a temperatura morna é
mais utilizada em pacientes sensíveis, como idosos e crianças, ou até mesmo em pessoas com
aversão ao frio (MEDEIROS, 2007).
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
158
Metodologia
Trata-se de uma revisão bibliográfica onde foram utilizados dados obtidos a partir da
literatura disponível.
Para a coleta de dados foram utilizados livros, artigos e dissertações com o tema
Argiloterapia. Os artigos foram pesquisados nos bancos de dados do Google acadêmico,
SciELO, compreendidos no período de 1990 até 2016. Palavras de busca: Argila, Argiloterapia,
Geoterapia, Tratamentos estéticos com argila, Terapias com argila.
O material científico foi lido e seus dados analisados e discutidos. Uma tabela foi
elaborada com as informações de cores das argilas e tratamentos geoterápicos utilizados.
Resultados e Discussão
Em todos os autores pesquisados, foi observado que a argila tem grande importância e
potencial para os usos terapêuticos e tratamentos estéticos. Há vários tipos de argila, cada uma
com características próprias e diferentes indicações, sendo que as mais representativas são as
argilas verde e branca.
Atualmente, a argila é utilizada em vários produtos na indústria cosmética, por ser um
mineral abundante no Brasil, economicamente viável e ao ser descartado não agredir o meio
ambiente. Suas propriedades tecnológicas são a desintoxicação e tonificação.
Em 2012, foram publicados dois artigos que comprovam o potencial cosmético da argila.
O primeiro, realizado no Brasil, demostrou que, em sete dias de uso da argila, era possível
observar considerável estímulo de fibras de colágeno, o que é benéfico para o tratamento
antienvelhecimento. O segundo, feito na Alemanha, comprovou a eficácia da argila em
tratamentos de acne e lesões formadas na pele, combinada com óleo de jojoba.
Dentre suas aplicações, o seu destaque é na cosmetologia, pois está relacionado às
afecções que acometem a pele como: acne, envelhecimento cutâneo, discromias, entre outras.
Essas anomalias causam desconforto nas pessoas, principalmente em locais visíveis como a face,
ocasionando baixa autoestima. Segundo alguns estudos, para cada tipo de tratamento é utilizado
um tipo de argila. Utiliza-se a verde para revitalizar, amarela rejuvenescer, preta regeneração
celular e a rosa para efeito hidratante.
Cada argila contém características relacionadas aos usos terapêuticos, as cores são
aspectos contribuintes para esta diferenciação. A utilização correta irá depender da avaliação de
um bom profissional, que indicará a cor adequada a ser utilizada, bem como a necessidade do
seu uso e o local.
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
159
Através desse estudo, baseado em diferentes autores, pode-se chegar a uma conclusão
para essa revisão bibliográfica. A tabela 2 abaixo mostra os resultados obtidos no estudo da
geoterapia.
Tabela 2. Revisão da literatura sobre o uso da Argila
AUTOR
TÍTULO DO
TRABALHO
ANO
RESULTADOS
ARGILA
HENKE, S.L.
Estrutura
Cristalina
2012
Estimula músculos e
articulações que estão
enrijecidas.
VERMELHA
GOPINATH, T.R.;
CRUZ, A.V.C.;
FREIRE, J.A.
Estudo
comparativo da
composição
química e as
variedades de
argilas
bentoníticas.
2003
Ajuda na circulação do
sangue.
SAMPAIO, J.A.;
ANDRADE, M.C.;
DUTRA, A.J.B.;
PENNA, M.T.M.
Manganês:
comunicação
técnica elaborada
para o livro
rochas minerais
industriais: usos e
especificações.
2008
Melhora no
descongestionamento das
mucosas.
STARIOLO, D.
Introdução a
Física da Matéria
Condensada.
2009
Contraindicado para
pessoas com febre,
hipertensão, inflamação
ou muito estresse. Esta
cor aumenta a circulação
sanguínea.
PERIODICO DE
DOCUMENTAÇÃO
PROFISSICONAL EM
ESTÉTICA
Vida Estética
2004
Combate o
envelhecimento precoce.
Tem efeito
remineralizante e
iluminador. Nutre,
tonifica e hidrata.
Eliminação de resíduos.
Tonifica a pele depois de
exposição solar. Elimina
manchas causadas pela
radiação solar.
AMARELA
PERETTO, I.C.
Argila: um santo
remédio e outros
remédios
compatíveis
1999
Auxilia na circulação
sanguínea, promovendo a
remoção de toxinas.
VERDE
MEDEIROS, G.M. DA
Geoterapia:
2007
Descongestionante e
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
160
S.
teorias e
mecanismos de
ação um manual
teórico-prático
bastante usado em
massagens para que o
sistema linfático esteja
em equilíbrio.
VERDE
CLAUDINO, H.
Argila medicinal:
propriedades
benefícios e uso
na saúde estética.
2010
Muito utilizada como
esfoliante.
EVELINE, C.
Máscaras: as
estrelas da
cosmetologia.
2010
Utilizada em vários
tratamentos
principalmente nos casos
crônicos.
VILA Y
COMPANYA, M.
Manual de
geoterapia
aplicada
2000
Ação emoliente
HAUK, L.B.P.
Curso de
geoterapia e
estética e
Atualização em
geoterapia:
aperfeiçoamento
dos
conhecimentos
em geoterapia
direcionados a
prática clínica em
estética facial
utilizando a
matéria argila
como
potencializador
da beleza e
saúde.
2011
Recomenda-se o uso para
peles com acnes, pois sua
composição regula a
oleosidade da pele.
HAUK, L.B.P.
Curso de
geoterapia e
estética e
Atualização em
2011
Promove efeitos eficazes
na suavização das linhas
de expressão e manchas,
principalmente naquelas
causadas pela exposição
solar.
BRANCA
BONDS, L.V.
A cura pelas
cores
1999
Serve como porta de
entrada para outros
tratamentos
ROSA
MEDEIROS, G.M.S.
O poder da argila
medicinal:
princípios
teóricos
procedimentos
terapêuticas e
relatos de
experiência
clínicas.
2013
Propriedade de tonificar a
pele; realçar brilho e
maciez, promovendo
elasticidade.
Antioxidante, relaxante.
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
161
BONDS, L.V.
A cura pelas
cores
1999
Ativa circulação
sanguínea; possui efeito
adstringente; anti-
inflamatório; cicatrizante
e antisséptico.
PRETA
MEDEIROS, G.M.S.
O poder da argila
medicinal:
princípios
teóricos
procedimentos
terapêuticas e
relatos de
experiência
clínicas.
2013
Nutre a pele, suaviza e
revitaliza.
ROXA
CLAUDINO, H.
Argila medicinal:
propriedades
benefícios e uso
na estética.
2010
Sendo a mais indicada
para terapia capilar;
Reconstrução da pele no
caso de lesão.
CINZA
FONTE: Autor (2020).
Conclusão
Conclui-se neste trabalho que cada tipo de argila possui propriedades medicinais, com
aplicações terapêuticas e estéticas específicas em nosso corpo, de acordo com sua cor e
composição físico-química. Apresentam resultados satisfatórios quando utilizadas como
complemento em tratamentos estéticos e medicinais.
Sua utilização como um produto natural remonta nossos antepassados. É um produto
barato, de fácil aplicação, que não oferece riscos à saúde do paciente como os produtos
industrializados, ou seja, não há riscos de uma reação alérgica, por exemplo.
Referências
BONDS, Lilian V. A CURA PELA COR. Lisboa: Ed. Estampa, 1999.
BOURGEOIS, Pierre. EL EXTRAORDINÁRIO PODER CURATIVO DE LA ARGILA.
Barcelona: De Vicchi, 2006.
BRASIL. ANVISA. RESOLUÇÃO RDC N° 67, DE 8 DE OUTUBRO DE 2007. Anexo I Que
Institui As Boas Práticas De Manipulação Em Farmácias. Disponível em: http://e-
legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct. php?id=28806&word=. Acesso em: 05/05/2016.
CLAUDINO, Hilton. ARGILA MEDICINAL. São Paulo: Ed. Elevação, 2010.
CORVO, Joseph; BONDS, Lilian V. O PODER DE CURA DA CROMOZONOTERAPIA: E
COMO ELA PODE AJUDAR VOCÊ. São Paulo: Copyright, 1997.
DEBACHER, Nito A.; MELLO, C. A. Dian de. EFEITO NAS PROPRIEDADES
REOLÓGICAS DA ARGILA COM ADIÇÃO DE UM POLÍMERO. Florianópolis:
Sociedade Brasileira de Química, 2004.
DÍAZ, Lourdes M. ARCILLAS Y PELOIDES EN MEDICINA ESTÉTICA. Madri, 2004.
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
162
DORNELLAS, Eliane; MARTINS, Sheila. O PODER DAS ARGILAS: GEOTERAPIA. São
Paulo, 2009. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/260300786/O-Poder-Das-Argilas.
Acesso em: 20 maio 2016.
FONTES, Mauricio P. F.; CAMARGO, Otávio A. de; SPOSITO, Garrison.
ELETROQUÍMICA DAS PARTÍCULAS COLOIDAIS E SUA RELAÇÃO COM A
MINERALOGIA DE SOLOS ALTAMENTE INTEMPERIZADOS. Viçosa: UFV, 2001.
EVELINE, Claudia. MÁSCARAS: AS ESTRELAS DA COSMETOLOGIA. São Paulo: Bel.
Col., 2010.
GOPINATH, Thiago R.; CRUZ, Almeida V.C.; FREIRE, João, A. ESTUDO
COMPARATIVO DA COMPOSIÇÃO QUIMICA E AS VARIEDADES DE ARGILAS
DA REGIÃO DA BOA VISTA, Paraíba. Paraíba, Revista de Geologia, vol 16, n. 1, pag. 35-48,
2003.
HAUCK, Lívia. B. P. CURSO DE GEOTERAPIA ESTÉTICA E ATUALIZAÇÃO EM
GEOTERAPIA: APERFEIÇOAMENTO DOS CONHECIMENTOS EM GEOTERAPIA
DIRECIONADOS A PRÁTICA CLÍNICA EM ESTÉTICA FACIAL UTILIZANDO A
METÉRIA ARGILA COMO POTENCIALIZADOR DA BELEZA E DA SAÚDE.
Florianópolis- SC. Lótus, 2011.
HENKE, Sérgio L. ESTRUTURA CRISTALINA. Nota de aula. UFPR. Curitiba, 2012.
Disponível
em:ftp://ftp.demec.ufpr.br/disciplinas/EngMec_NOTURNO/tm336/notas/aula%203%20Estrutur
a%20cristalina%20 [Modo%20de%20Compatibilidade] %20-%20C%F3pia.pdf. Acesso em: 28
agosto de 2016.
LAMAITA, Giovana. ARGILOTERAPIA: MENOS TOXINA E MAIS VITALIDADE.
Disponível em: <http://absoluta-beleza.blogspot.com.br/2008/09/argilaterapia-os-mistrios-
e.html>. Acesso em: 01 de agosto de 2016.
LANGREO, Núria. Salud y Belleza con Arcillas, fangos y algas. Barcelona: Tikal, 1999. 269p.
MEDEIROS, Graciela M. da S. de. GEOTERAPIA: TEORIA E MECANISMO DE AÇÃO:
UM MANUAL PRÁTICO TEORICO. Tubarão: Ed. UNISUL, 2007.
MEDEIROS, Graciela M. da S. de. O PODER DA ARGILA MEDICINAL. Blumenau: Ed.
Nova Letra, 2013.
PERETTO, Iracela C. ARGILA: UM SANTO REMÉDIO E OUTROS REMÉDIOS
COMPATÍVEIS. São Paulo: Paulinas, 2008.
PERIÓDICO DE DOCUMENTAÇÃO PROFISSIONAL EM ESTÉTICA, VIDA E
ESTÉTICA. Rio de Janeiro-RJ: Editores: Luiz Fernando Lomba e Luiz Marcos Lomba, 2004.
RIBEIRO, Claúdio de J.. COSMETOLOGIA APLICADA A DERMOESTÉTICA. 2ed. São
Paulo: Phammabooks, 2010.
SANTOS, Ines. ARGILAS: DIVERSAS FORMAS DE USAR. São Paulo, 2015. Disponível
em: http://diariodeinessantos.blogspot.com.br/2015/07/argila-verde.html. Acesso em: 01 de
outubro de 2016.
SAMPAIO, João A.; ANDRADE, Mônica C. de; DUTRA, Achilles B. J; PENNA, Márcio T.
M.. MANGANÊS: COMUNICAÇÃO TÉCNICA ELABORADA: USO E
ESPECIFICAÇÕES. Parte 2. Centro de Tecnologia Mineral. Rio de Janeiro, pág. 633-648.
Cap.28, 2008.
FAZ CIÊNCIA, VOL. 22, N. 36, JUL/DEZ DE 2020 – P. 143-163
163
SILVA, Marinilda N. P. da; SILVA, Marly N. P. da; BARRIONUEVO, Bruno de U. S.;
FEITOSA, Igor M.; SILVA, Givanildo S. da. REVESTIMENTOS CERÂMICOS E SUAS
APLICABILIDADES. Macéio, Vol 2. Ed. Ciências exatas e tecnológicas, 2015
SOUZA, Valeria M. ATIVOS DERMÁTOLOGICOS, Vol2.1. ED. SÃO PAULO:
Phambooks, 2005
SPETHMANN, Carlos N. MEDICINA ALTERNATIVA DE A A Z. 7. ed. Uberlândia - Mg:
Natureza, 2004.
STARIOLO, Daniel. INTRODUÇÃO A FISICA DA MATÉRIA CONDENSADA.
Departamento de Física Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2009.
Disponível em: http://www.if.ufrgs.br/~starioloensino/curso_2009.pdf. Acesso em: 08 de agosto
de 2016.
VILA Y CAMPANYA, María. MANUAL DE GEOTERAPIA APLICADA.
ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. ORGANIZACIÓN MUNDIAL
DE LA SALUD. Programa Nacional de Medicina Complementária. Peru. Textos completos,
2000. Disponível em: Acesso em: 06 setembro 2016.
Recebido em 04/05/2020 – Aprovado em 20/07/2020.