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Abstract

Resumo: Abordo neste trabalho a epistemologia da Teoria da Consciência, propondo que esta área de estudos se torne uma disciplina filosófica de interesse para a fundamentação conceitual das neurociências (cognitiva, afetiva, da ação) e psicologias (cognitiva, da emoção e do comportamento). Faço breve revisão conceitual e histórica da constituição da Teoria da Consciência como uma área de estudos no atual século, mostrando a diversidade de abordagens que caracteriza esta área. Palavras-Chave: Teoria da Consciência, Epistemologia, Cognição, Afeto, Emoção, Comportamento. Title: Introduction to the Theory of Consciousness Abstract: I approach in this work the epistemology of the Theory of Consciousness, proposing that this area of study becomes a philosophical discipline of interest for the conceptual foundation of neurosciences (cognitive, affective, of action) and psychologies (cognition, emotion and behavior) . I make a brief conceptual and historical review of the constitution of the Theory of Consciousness as an area of study in the current century, showing the diversity of approaches that characterize this area. Keywords: Consciousness Theory, Epistemology, Cognition, Affection, Emotion, Behavior.
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Introdução à Teoria da Consciência
Alfredo Pereira Júnior - Departamento de Ciências Humanas e da Nutrição - Instituto de
Biociências/UNESP Botucatu-SP alfredo.pereira@unesp.br
Resumo: Abordo neste trabalho a epistemologia da Teoria da Consciência, propondo que
esta área de estudos se torne uma disciplina filosófica de interesse para a fundamentação
conceitual das neurociências (cognitiva, afetiva, da ação) e psicologias (cognitiva, da
emoção e do comportamento). Faço breve revisão conceitual e histórica da constituição da
Teoria da Consciência como uma área de estudos no atual século, mostrando a diversidade
de abordagens que caracteriza esta área.
Palavras-Chave: Teoria da Consciência, Epistemologia, Cognição, Afeto, Emoção,
Comportamento.
Title: Introduction to the Theory of Consciousness
Abstract: I approach in this work the epistemology of the Theory of Consciousness,
proposing that this area of study becomes a philosophical discipline of interest for the
conceptual foundation of neurosciences (cognitive, affective, of action) and psychologies
(cognition, emotion and behavior) . I make a brief conceptual and historical review of the
constitution of the Theory of Consciousness as an area of study in the current century,
showing the diversity of approaches that characterize this area.
Keywords: Consciousness Theory, Epistemology, Cognition, Affection, Emotion,
Behavior.
Introdução
No Séc. XXI, o tema da consciência se popularizou entre cientistas, filósofos,
teólogos e poetas, como um grande desafio para o entendimento humano. Muitos dos
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interessados no tema livremente propõem suas conjecturas, ou exibem seu ceticismo, em
revistas especializadas, grupos de discussão na internet e congressos interdisciplinares.
Neste ensaio, proponho um conceito mais rigoroso de Teoria da Consciência enquanto uma
teoria filosófica de relevância cientifica, envolvendo uma abordagem interdisciplinar nas
áreas das neurociências e psicologia.
O tema está presente, de diversas maneiras, em toda a história da filosofia, tanto no
Ocidente quanto no Oriente. Pode-se identificar traços da reflexão filosófica sobre a
consciência desde os esforços de Nagarjuna no Budismo antigo, no sentido de se superar o
sofrimento humano por meio de um trabalho da consciência (a meditação), até a virada
socrática rumo ao autoconhecimento por meio da dialética, atingindo as Idéias; passando
pelo dualismo cartesiano de res cogitans e res extensa, que favoreceu a separação entre as
disciplinas Psicologia (estudo da mente) e Biologia (estudo do corpo), e pelo monismo de
Spinoza; passando ainda pela crítica kantiana, que relaciona a consciência com a unidade
da apercepção e com o "sentido interno" do tempo; pela abordagem histórica da Hegel na
Fenomenologia do Espírito, em que a consciência é concebida no contexto das relações
sociais; por Kierkegaard e Shopenhauer, assim como a psicanálise freudiana, e ainda o pan-
experiencialismo de Whitehead, apontam para dimensões da consciência que não seriam
propriamente cognitivas, mas ligadas ao sentimento, à emoção e à volição. A partir do Séc.
XX esta diversidade de abordagens da consciência se amplia, atingindo não correntes
filosóficas (fenomenologia existencial, pragmatismo, materialismo cientificista) como
também disciplinas científicas e tecnológicas (como as neurociências cognitiva e afetiva, a
computação e a robótica).
A atividade consciente é em si mesma complexa, pois envolve diversas funções:
Perceber, Saber, Sentir e Agir (Pereira Jr., 2018). Estas funções podem ser estudadas nas
neurociências e nas psicologias, mas a conexão conceitual entre os resultados
interdisciplinares requer uma teorização filosófica. Devemos identificar estados fisiológicos
do sistema nervoso com estados conscientes? Ou devemos relationar tipos de estados? Ou,
alternativamente, deveríamos considerar que a correlação seria entre processos, ou tipos de
processo temporal? Ou ainda, seria necessário considerar, além do cérebro e da mente,
também as contingências ambientais que condicionam o comportamento? As diversas
abordagens da consciência existentes enfocam, cada uma, preferencialmente, a percepção, a
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cognição, a emoção e a ação, procurando integrar todas as funções a partir de determinados
critérios escolhidos. Pretendemos introduzir o leitor nesta complexidade teórica, sem a
ambição de detalhar cada uma das teorias nem de defender uma abordagem em particular.
O Lugar da Teoria da Consciência no Saber Humano
Diversos filósofos da mente têm arguido, com razão, que os processos conscientes
são diretamente acessíveis para o próprio sujeito da experiência. Contudo, ao contrário
do que alguns deles argumentam, este acesso privilegiado não seria um obstáculo
intransponível para o estudo da experiência consciente no contexto das ciências empíricas.
Para contornar esta dificuldade, uma sofisticada metodologia de triangulação tem sido
desenvolvida pela neurociência cognitiva (veja-se Frith, Perry & Lumer, 1999). Tal estudo
científico requer, além de medidas da atividade cerebral durante processos conscientes,
utilizando a tecnologia disponível, também os relatos dos sujeitos sobre seus conteúdos de
consciência e modelos que conectem os relatos com os correlatos cerebrais registrados por
meio dos artefatos tecnológicos.
Estes relatos podem ser verbais ou não-verbais (por exemplo, um animal não-
humano pode ser treinado para apertar uma alavanca se - e somente se - estiver com sede;
deste modo, ao fazê-lo, revela para o cientista seu processo subjetivo). Griffin (1976, 1984)
apresentou vários argumentos em prol da realidade da consciência animal. Como
dispomos de relatos verbais feitos por humanos, no estudo da consciência animal
precisamos de uma suposição adicional, permitindo inferir que os tipos de experiência
consciente nestes animais se correlacionam com os mesmos tipos de atividade cerebral
(expressos na linguagem) com as quais eles se correlacionam em humanos.
Neste sentido, a consciência entendida como substância ou estado de um sistema,
em uma visão estática, ou como processo sistêmico temporal, em uma visão dinâmica - é
uma realidade inobservável para o cientista, na mesma medida em que as partículas
subatômicas o são na física. Contudo, existe no estudo da consciência a vantagem de que o
cientista pode comparar os estados e processos de consciência presumidos para um outro
ser com seus próprios estados de consciência, e desse modo imaginar como seriam os
processos conscientes destes seres. No caso dos inobserváveis da física, a situação é mais
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difícil, requerendo o recurso à abstração ao invés da imaginação, mas nem por isso o
caráter científico destes estudos é questionado.
A postulação de entidades inobserváveis se tornou uma rotina na física das
partículas e na astrofísica, o que tem gerado um grande debate entre os filósofos realistas e
empiristas, sobre a natureza destas entidades. Por outro lado, na psicologia e neurociência,
devido a preconceitos filosóficos e metodológicos (hoje injustificáveis frente às novas
tecnologias), e também à dificuldade intrínseca de estudo, foi comum negar um estatuto
científico ao tema da consciência.
Há um acordo tácito entre os filósofos da ciência realistas no sentido de que a
filosofia deve dar conta das evidências científicas e ir além das evidências empíricas ou
experimentais, fazendo uso da razão para investigar a realidade última (Ontologia,
Metafísica) e/ou conceitos que fundamentam o conhecimento científico (Epistemologia).
Qual seria o lugar de uma Teoria da Consciência na cultura contemporânea? É estritamente
científico? É religioso? Ou é um ramo da filosofia?
A necessidade de levar em conta a experiência na perspectiva da primeira pessoa
coloca o estudo da consciência um passo além do método científico moderno, sem
contradizê-lo. O entendimento da consciência requer o sentir, e a crença naquilo que se
sente. Mas esta crença se distingue da crença religiosa. A religião se baseia principalmente
na fé, como nos disse Santo Agostinho. A teologia é uma tentativa de dar uma justificação
racional para a fé, mas não substitui a fé. Na filosofia, não fazemos uso da religiosa. O
filósofo pode ter fé religiosa, mas não a traz para sua argumentação filosófica.
Apesar da Teoria da Consciência se aproximar da filosofia, não disciplina com
este nome (Teoria da Consciência) no currículo de filosofia da graduação e pós-graduação.
Existem disciplinas - como Teoria do Conhecimento, Estética, Ética e Metafísica - que
discutem as funções da consciência, mas não abordam a consciência de forma sistemática.
A disciplina Teoria da Consciência, neste contexto curricular, seria uma ampliação da
disciplina Teoria do Conhecimento - pois o conhecimento é apenas uma parte da atividade
consciente; a atividade consciente também envolve o sentir e o agir, que se baseiam em
experiências que podem ser não propriamente cognitivas. Os 'Qualia' perceptuais (por
exemplo, a sensação de uma cor), sensações básicas (como fome, sede, calor, dor e prazer),
sentimentos emocionais (como alegria, tristeza, raiva, ódio, amor) e a vontade de agir são
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conteúdos experienciais em que o conhecimento explicitamente formulado de modo
verbal ou imagético não seria um componente necessário.
A Teoria da Consciência e seu Estatuto Filosófico
A definição da consciência constitui um problema clássico. Libet (1987) notava que
"o termo 'consciência' tem sido livremente empregado para delimitar vários significados
diferentes, ou diferentes aspectos da função cerebral nos humanos e animais. O termo é
aplicado freqüentemente a estados de reatividade ao ambiente - estar consciente ou em
coma, desperto ou adormecido... Estes estados podem ser descritos em termos
comportamentais, observando-se o humano ou animal".
Tentativas de se prover uma definição comportamental da consciência relações
funcionais diversas entre percepção, atenção, memória e ação foram propostas. Contudo, a
partir do trabalho de Chalmers (1996), muitos pesquisadores atuais vieram a assumir uma
distinção entre processamento de informação funcional e consciência, pois a consciência
incluiria, além do processamento de informação, também a experiência fenomênica ou um
"como é sentir-se em tal situação", que caracteriza a chamada "perspectiva da primeira
pessoa", ou o "aspecto subjetivo" da experiência consciente (Chalmers, 1996).
Tanto o conceito de "mundo fenomenal", quanto os de "perspectiva de primeira
pessoa", e de "aspecto subjetivo" da consciência têm em comum a suposição relativa à
existência de estados qualitativos típicos da consciência, os famosos qualia. No contexto da
tradição dualista cartesiana, os qualia são "qualidades secundárias", que não teriam
existência objetiva (ao menos, nas categorias conceituais da física clássica, como na
categoria da extensão espacial). Contudo, em uma perspectiva não dualista, os estados
qualitativos da consciência podem ser relacionados a estados físicos do cérebro a serem
empiricamente identificados, definindo-se assim uma zona de intersecção entre fenômenos
subjetivos e objetivos, ou seja, fenômenos psicofísicos.
Seria adequado para o estudo neurobiológico da consciência que a mesma não fosse
definida em termos dualistas, que já pressupõem de antemão a impossibilidade de seu
estudo científico. Sem dúvida devemos concordar com Chalmers e outros filósofos da
mente, sobre a realidade dos estados qualitativos que caracterizam o mundo fenomênico,
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porém sem fechar prematuramente as portas para o estudo dos mecanismos físico-
biológicos que os suportam.
As filosofias materialistas e reducionistas, que postulam a identidade cérebro-
mente, a eliminação do vocabulário psicológico ou a dedução da psicologia a partir da
física, têm sistematicamente fracassado no projeto de se estudar a experiência consciente,
ou de correlacioná-la com mecanismos neurobiológicos. Não insiro o presente trabalho
nesta tradição, mas sim em uma visão naturalista não-reducionista (Pereira Jr., 2001b), que
procura trabalhar com os resultados empíricos das diversas ciências da natureza que se
aplicam ao estudo do cérebro/mente, sem propor uma redução conceitual, ontológica ou
metodológica da psicologia à biologia, ou da biologia à física.
Para tal é imprescindível reconhecer que o cérebro trabalha simultaneamente em
múltiplas escalas espaciais e temporais, e que cada disciplina que o estuda tem uma
ferramenta adequada para o acesso empírico e descrição conceitual de um determinado
nível de organização e atividade (Pereira Jr., 2001a). Os diversos níveis seriam portanto
complementares e não contraditórios entre si, o que vem a demandar uma cooperação inter,
multi ou transdisciplinar, para se realizar sínteses teóricas que permitam uma melhor
compreensão da função cerebral como um todo.
Dadas as limitações tanto das teorias dualistas (seja as que concebem cérebro e
mente como duas substâncias distintas - dualismo de substância - seja as que os concebem
como uma única substância com propriedades opostas - dualismo de propriedades), quanto
das teorias da identidade cérebro-mente, é preciso que se conceba em novas bases a relação
entre cérebro e consciência, ou seja, é preciso que se desenvolva uma abordagem monista
de múltiplos aspectos, em que, ao contrário do que ocorre no dualismo e no reducionismo,
os aspectos subjetivo e objetivo, de primeira e terceira pessoa, da experiência fenomenal e
do mundo físico, não são vistos como contraditórios, mas como opostos que se
complementam. O mesmo se aplica à relação entre as diversas disciplinas que se
especializam no enfoque de cada aspecto.
O que torna possível não correlacionar (empiricamente) como também entender
(racionalmente) a relação entre atividade cerebral e experiência consciente é a ocorrência
de semelhanças de forma (homeomorfismos, ou correspondências estruturais) entre ambas,
ou seja, entre relatos sobre conteúdos de consciência e a concomitante observação da
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atividade cerebral feita pelos neurocientistas com o recurso das tecnologias apropriadas.
Não se trata, decerto, de um isomorfismo (igualdade de forma) devido à razão de que os
correlatos cerebrais da experiência consciente se encontram distribuídos em diversas
escalas espaciais e temporais, que seriam parcialmente descontínuas frente à observação de
terceiros, ao passo que a experiência consciente se apresenta, para os sistemas mesmos,
como um fluxo unitário e contínuo.
Emoções e Consciência
A possibilidade de existência de processos emocionais inconscientes implica em
uma desvinculação relativa entre teoria da consciência e teoria das emoções: enquanto os
processos conscientes, como quer Damasio (1996), sempre seriam acompanhados de
sentimentos emocionais, seria possível haver emoções não acompanhadas de consciência.
A parte inconsciente da atividade cerebral tem sido abordada em estudos
neurocognitivos através do paradigma da emoção inconsciente, proposto por LeDoux e seu
grupo (LeDoux, 1996). Os sistemas neuronais que apóiam processos conscientes estão
amplamente conectados com os sistemas que apóiam processos emocionais, porém os
estudos de Le Doux têm mostrado que em determinados casos consciência e emoção
podem ser dissociadas. Segundo a proposta de LeDoux, existem dois caminhos de
processamento das emoções: um primeiro, pelo qual a informação aferente é transmitida
diretamente do tálamo/hiopotálamo para a amígdala, geraria as emoções inconscientes,
como no caso de condicionamento por mensagem subliminar; e um segundo, onde a
informação aferente é processada por sistemas neocorticais e pelo hipocampo antes de
atingir a amígdala, gerando então uma emoção com conteúdo consciente. Para outros
autores (Panksepp, 1999; Brandão et al., 1999) o processamento emocional envolveria
ainda um circuito subcortical, incluindo a substância periaquiductal cinza e o colículo
inferior, que atuariam em conjunto com a amígdala.
A relação entre pensamento consciente e emoções pode ser vista como sendo de
complementaridade, e também de modulação do fluxo de pensamento pelas reações
emocionais desencadeadas (e vice-versa). Muitas vezes, ao se pensar conscientemente a
respeito de um determinado assunto são deflagradas reações corporais e emocionais, que
servem como uma realimentação do próprio processo de pensamento. Às vezes tal
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realimentação é negativa, levando à inibição do processo (por exemplo, quando uma pessoa
em estado depressivo tenta executar uma tarefa cognitiva). Às vezes a realimentação é
positiva, vindo a reforçar a linha de pensamento (por exemplo, quando uma pessoa está
“caminhando e cantando e seguindo a canção”, como é dito na famosa canção de Geraldo
Vandré). Também os processos de pensamento sem ação externa tendem a ser
acompanhados de reações emocionais, que fornecem ao organismo um avaliação prévia das
possíveis conseqüências de se colocar em prática tais pensamentos.
O estudo de emoções na neurociência cognitiva tem se desenvolvido principalmente
pela identificação dos mecanismos bioquímicos (transmissores e receptores de membrana,
neuromoduladores) envolvidos nos diversos tipos de reações emocionais. Contudo, uma
limitação do estudo das emoções a tais mecanismos constitui uma postura reducionista, que
só vem a beneficiar segmentos da indústria de medicamentos, que pretendem vender drogas
de atuação bastante específica como se as mesmas fossem por si soluções para
problemas emocionais complexos.
Embora uma seção sobre emoção estivesse presente em muitas coletâneas de
estudos neurocientíficos desde os anos setenta, sua abordagem quase sempre se resumia à
identificação das áreas cerebrais e mecanismos bioquímicos envolvidos. Uma adequada
conceptualização dos fenômenos emotivos é tarefa difícil, e a compreensão da correlação
entre a base neuronal de emoção e sua fenomenologia ainda é uma área incipiente na
neurociência afetiva e áreas afins (como a neuropsicofarmacologia e a psiquiatria
biológica). Uma abordagem mais satisfatória requer modelos teóricos amplos, capazes de
acomodar a miríade de resultados particulares sobre funções específicas de transmissores,
moduladores e receptores, que abarrotam as revistas científicas da área. Uma proposta
promissora de um modelo teórico deste tipo parece ser a de Changeux (vide Changeux and
Dahene, 2000, Changeux and Edelstein, 2001), que incorpora à neurociência o
conhecimento sobre mecanismos de regulação alostérica entre proteínas (resumidamente,
interações entre três ou mais compostos moleculares, p. ex., a, b e c, em que a regula c
através da ativação de b), estudados por ele desde a década de 1960.
A possibilidade de se obter conclusões mais interessantes sobre a relação entre
consciência e emoção depende de um melhor entendimento dos processos cerebrais
subjacentes a cada um dos dois fenômenos.
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Critérios para a Consciência
Como uma grande parte da atividade cerebral é inconsciente, qualquer teoria
neurobiológica da consciência precisa apresentar critérios para distinguir os mecanismos
que são cruciais para os processos conscientes, daqueles cuja ativação produz apenas
processos inconscientes. Tais mecanismos não dizem respeito à estrutura cerebral (isto é,
não se trata de critérios anatômicos), mas sim a tipos de funções cerebrais que suportam
processos conscientes.
Uma primeira condição geral para a existência de consciência deriva do trabalho do
etólogo pioneiro von Uexkull (1934), que usou o termo "ciclo funcional" para caracterizar a
relação sistemática entre percepções e ações de organismos, em um determinado ambiente.
O sistema nervoso dos animais, das células nervosas primitivas distribuídas ao redor do
tubo digestivo, até a massa cinzenta protegida por um crânio, executa duas funções básicas,
a de apreender sinais do corpo e do ambiente do animal, e controlar ações adaptativas do
corpo no ambiente.
Em sistemas nervosos primitivos, as conexões entre células perceptivas e motoras
são diretas, de acordo com o modelo do "arco reflexo". Na medida em que o sistema
nervoso se torna mais complexo, ao longo da evolução das espécies, áreas especializadas
emergem, inclusive mediando as células perceptuais e motoras. Dois tipos de processos
reaferentes vêm a ocorrer: a percepção das consequências externas das ações, e por meio
de sinais internos que vão do sistema motor para o sistema perceptual (mais tarde
chamados de “descarga corolária”), constituindo o ciclo funcional (von Uexkull, 1934).
Em ciclos funcionais recorrentes, os organismos têm percepções que informam suas
próximas ações, que influenciam suas próximas percepções, e assim por diante. Em
conseqüência, se constrói um "mundo interno" (“umwelt”), tornando possível a existência
de consciência. Nesta perspectiva, os estados e processos conscientes seriam
representações pragmáticas (vide Pereira Jr., 1999) da situação de um organismo ativo,
com um determinado corpo, vivendo e se comportando em um determinado ambiente.
O ciclo funcional define estados presentes de consciência, porém o processo
consciente - a julgar pela modalidade de consciência humana - envolve uma duração
temporal. De fato, o feedback entre ação e percepção permite que se estabeleça um
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processo coerente de aprendizagem, segundo o princípio (Lei de Hebb) de que as conexões
que foram úteis para comportamentos adequados são reforçadas. Para suportar esse
processo de aprendizagem, novas especializações surgem entre a percepção e a ação,
tornando possível um sistema de memória e também a eleboração sistemática de
antecipações das ações.
James (1890) concebeu a dinâmica espaço-temporal do mundo fenomênico como
um "fluxo de consciência", no qual a posição singular do "sujeito" das experiências é
caracterizado como um "aqui e agora". O fluxo é constituído pela sucessão de eventos,
constituindo as noções de passado, presente e futuro. Os mecanismos cerebrais subjacentes
ao fluxo da consciência são razoavelmente conhecidos nos mamíferos - em especial nos
primatas - mas é possível que em outras espécies tal fenômeno cognitivo seja suportado por
outras estruturas e funções relativamente mais simples.
No sistema perceptual de mamíferos caminhos de realimentação, referidos por
Edelman (1989) como "sinalização reentrante" (reentrant signaling) entre áreas sensoriais.
Presumivelmente, tal sinalização teria o papel de deflagrar, através do mecanismo da
atenção, o processo de consciência perceptual, correspondendo ao momento do presente.
Também comporia o momento presente uma retenção de traços do passado, através dos
mecanismos de memória distribuídos ao longo do neocortex e sistema límbico (Squire,
1992), e uma protensão voltada para o futuro (vide o esquema proposto por Edmund
Husserl em Pereira Jr., 1990), relacionada com os mecanismos de “prospecção”, os quais se
localizariam em uma rede que inclui áreas corticais parietais e pré-frontais (Rainer, Rao and
Miller, 1999; Burgess, Quayle and Frith, 2001).
A consolidação de traços da experiência passada depende diretamente da função
hipocampal, em suas conexões com o córtex entorhinal. Também foram identificadas
conexões do sistema límbico para áreas associativas temporais e parietais, e destas para
áreas frontais (veja Goldman-Rakic, 1987, para o caminho frontal-parietal). Essa rede de
conexões possivelmente suporta, a partir de redes de osciladores temporais presentes nos
neurônios, a experiência de duração temporal, que faz parte da consciência. Portanto, a
consciência comporta a existência de processos que dêem suporte à experiência de um fluxo
de eventos, que constitui o espaço-tempo fenomênico.
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Como consequência da especialização de áreas cerebrais durante a evolução das
espécies, o funcionamento cerebral veio a ocorrer de forma distribuída, em que cada
subsistema executa parte da função global, entrando em relações de cooperação e conflito
com os demais. Portanto, em um sistema deste tipo é inútil procurar por uma única
estrutura do cérebro que seria a "sede" da consciência. Uma abordagem adequada dos
mecanismos cerebrais que suportam o processo consciente deve necessariamente considerar
a complexidade estrutural e funcional do cérebro. Os principais aspectos dessa
complexidade são o processamento distribuído entre subsistemas espacialmente distintos, e
a existência de atividade em múltiplas escalas espaciais (do nível dos íons até o nível do
cérebro como um todo) e temporais (diferentes dinâmicas temporais, combinando
processos na escala dos milisegundos com processos na escala da vida do indivíduo).
O processo consciente seria, portanto, fruto da atividade cerebral em múltiplos
subsistemas, e múltiplas escalas espaciais e temporais. Constitui êrro metodológico
procurar correlatos cerebrais da consciência restritos a uma determinada região, ou a uma
única escala espacial e/ou temporal, ou a um determinado tipo de processo físico. A
multiplicidade dos correlatos cerebrais certamente está estreitamente relacionada com a
multiplicidade das experiências conscientes que nós temos. Usando uma conhecida
metáfora, o "teatro da consciência" (Baars, 1997) teria então muitos palcos em que muitos
atores desempenham seus papéis simultaneamente, sucessivamente e concorrentemente.
Nesta visão, aspectos diferentes da consciência seriam apoiados por diferentes subsistemas
e níveis de atividade cerebrais inter-relacionados (como sugerido por Roy John, Easton e
Isenhart, 1997; Smythies, 1997). Qualquer estrutura do cérebro que presumivelmente tenha
um papel para a consciência deve ser - de acordo com os critérios anteriores - uma estrutura
que participe em um ou mais ciclos funcionais, e que permita a composição de um espaço-
tempo fenomênico. Como se faz então a integração destas múltiplas estruturas e respectivas
funções, para se gerar um fluxo unitário de consciência?
Dennett (1991) se referiu a um processo de montagem em série, a partir de um
processamento distribuído. Vários neurocientistas, na última década, lançaram a idéia de
uma "ligação" (binding) neuronal que suportaria o processo consciente (Crick, 1994, a
partir das evidências obtidas por Gray and Singer, 1989; Hardcastle, 1994). Essas idéias são
interessantes, mas não seriam suficientes para se resolver a questão, uma vez que em todos
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sistemas distribuídos surgem conflitos funcionais que podem leva-los à imobilidade e perda
de adaptabilidade ao ambiente. A relação entre conflito sistêmico e consciência é muito
importante: toda tarefa que possa ser executada de modo automático ou algorítmico - isto é,
toda tarefa que não envolva conflito sistêmico - pode ser realizada de modo inconsciente
pelo cérebro (Young, 1993; Rocha, Pereira Jr. e Coutinho, 2001).
Para melhor entender as condições necessárias para a consciência, elaborei uma
hipótese teórica que se chama Monismo de Triplo Aspecto (MTA; Pereira Jr., 2013),
propondo três aspectos são necessários para que haja experiência consciente: matéria,
forma/informação e sentimento. Destes três aspectos, o sentimento é o mais raro em termos
do universo. A matéria e a informação estão bem espalhads no espaço e no tempo. O
sentimento é um fenômeno que requer certa estruturação dinâmica no tempo. quando
existe a capacidade de sentir um sistema pode ter experiência consciente; porém, a
capacidade de sentir requer um substrato material e informacional adequado, que inclui não
só os neurônios, mas também as células gliais, em particular os astrócitos..
Os neurônios estão conectados com sensores que trazem sinais do exterior do
Sistema Nervoso Central (SNC). Estes sinais são processados em redes neuronais
sensoriais e ativam os astrócitos. Os astrócitos realizam um processamento global e
modulam de volta os neurônios, que por sua vez controlam o comportamento (via musculos
e glândulas). No processamento global feito pelos astrócitos, ocorre uma apreciação do
padrão do estímulo, gerando um sentimento correpondente. Isso é um processo temporal
que envolve perturbação da homeostase do tecido neural e o controle fisiológico para se
retomar a homeostase. O controle da homeostase global é feito pelos astrócitos
(Verkhratsky e Needergarrd, 2018). O sentimento (sensação) emerge no momento em que
há uma reação do sistema à perturbação; é uma “reação de orientação” (“Orienting Reflex
foi um termo introduzido por Sokolov, REF), que ajuda o sistema a recuperar a
homeostase. Se o esforço é bem sucedido, o sentimento tende para o prazer; se é mal
sucedido, tende para a dor (Baldwin, REF). Depois que retorna à homeostase, cessa a
sensação.
Essa abordagem é semelhante à teoria do sentido (“meaning”) proposta por Walter
Freeman no livro Society of Brains, a partir da fenomenologia de Merleau-Ponty (Freeman,
1994). O sentido corresponde a processos modulados por amplitude no tecido neural. Essa
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abordagem encontrou sua confirmação mais de uma década após a publicação do livro de
Freeman, via estudo das ondas iônicas em astrócitos. Os potenciais de ação dos neurônios
são modulados apenas por frequência e fase; os astrócitos não tem potenciais de ação,
mas têm ondas de cálcio que são moduladas por amplitude.
Realizando pesquisa com Fábio Furlan, notamos que os astrócitos desesmpenham
funções globais, que os qualificam a ser um “Espaço de Trabalho Global” (ETG, do inglês
Global Workspace; vide Pereira Jr. e Furlan, 2009; 2010) diferentemente de Dehaene (REF,
que entende que o ETG seria o cortex frontal. Mais recentemente foi descoberto que a rede
astrocitária modula a atividade neuronal em todo o cérebro, controlando a homeostase
eletroquímica do SNC (Verkhratsky e Needergaard, 2018).
As 3 funções mentais que compõem a consciência são dependentes da capacidade
de sentir, que chamo de Sentiência. Estas funções são Afeto, Cognição e a Ação (Pereira
Jr., 2018). No Afeto incluo as sensações, estados de humor, sentimentos emocionais; na
Cognição incluo percepção, atenção, pensamento, memória; na Ação incluo o desejo,
vontade, controle motor voluntário, monitoramento do movimento. Os qualia acontecem na
expressão ou manifestação da capacidade de sentir, em cada uma destas funções e
subfunções acima. A emergência dos qualia acontece em um processo temporal, que
comporta estimulação do sistema, afastamento do equilíbrio homeostático, e esforço para
recuperar o equilíbrio. Os qualia emergem nesta última fase, em que o sistema está distante
do equilíbrio. Isso tudo ocorre na escala de milisegundos e simultaneamente em muitas
partes do cérebro. Se o sistema não tiver a capacidade de sentir, funcionará de modo
mecânico, ou totalmente elástico, como um termostato. Havendo a capacidade de sentir, o
sistema pode ser adaptar a mudanças; ao lado da elasticidade, também a flexibilidade
(múltiplos pontos de estabilidade) e plasticidade (mudança dos pontos de estabilidade).
Na cognição, este processo acontece nas conexões sinápticas, em circuitos
específicos. um estado de equilíbrio gerado pela Potenciação de Longo Termo (LTP).
Ao se receber uma estimulação de origem externa, causando alterações eletroquímicas nos
neurônios, há um afastamento do estado de equilíbrio, seguido de um esforço para
retomada do equilíbrio, ou adaptação a um novo patamar de equilíbrio, conforme o ciclo
descrito pela equação de Hodkins-Huxley. A depolarização causada pela estimulação
constitui um afastamento do equilíbrio. A produção do potencial de ação faz o sistema
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retornar ao equilíbrio (potencial de repouso). Se o sistema é bem sucedido, emerge o
“sentimento de conhecer” (Burton, REF), ou seja, a crença de que sabemos algo (por
exemplo, ao fazer uma prova, quando lemos o enunciado de uma questão podemos sentir
que sabemos responder corretamente).
Múltiplas Modalidades de Consciência
A consciência acontece em diferentes graus e tipos (vide Pereira Jr., 1998; Shanon,
1997). Assim, no ciclo circadiano, o estado de vigília e o sonho presumivelmente se
compõem de diferentes estados ou modalidades de consciência (veja Llinas & Ribary,
1994; Hobson, 1994). Outra evidência neste sentido é encontrada no desenvolvimento
humano: as crianças não nascem com o grau de autoconsciência típico de adultos, mas o
alcançam progressivamente. Na análise comparativa do comportamento animal, tem sido
discutido (Griffin, 1976, 1984) que alguns tipos de comportamento implicariam na
existência de processos conscientes que os suportam. O mecanismo de ecolocação em
morcegos envolve um ciclo funcional no qual um som é emitido pelo animal, se reflete em
objetos do ambiente, e então é percebido. Aparentemente esse processamento de
informação ligado a uma ação inteligente no ambiente deve gerar um tipo de consciência
que não encontra análogo nas formas de consciência perceptual humana.
Diferentes graus e modalidades de consciência presumivelmente coexistem, do
mesmo modo como ocorreria uma justaposição de estruturas e funções cerebrais ao longo
do processo evolutivo, como foi proposto ao final do Séc. XIX por Hughlings-Jackson.
Aparentemente a consciência humana abrangeria boa parte deste espectro, com a provável
exceção de algumas modalidades perceptuais, como a referida ecolocação - enquanto a
consciência em outras espécies animais provavelmente apresentaria limitações
relativamente à consciência humana, por lhes faltar determinados níveis de processamento
abstrato e de auto-reconhecimento individual e social, derivados do domínio da linguagem
simbólica.
O primeiro nível foi chamado pelos neurocientistas de "consciência básica”
(Edelman, 1989) e awareness (p.ex. “visual awareness”, Crick, 1994). O nível mínimo de
Sentiência estaria presente nas plantas, que apresentam sensibilidade a variações
ambientais., como as variações de temperatura e umidade, e também apresentam ondas
15
iônicas que ocorrem de modo correlacionado com os eventos de sensibilidade e respectiva
resposta adaptativa (Pereira Jr. e Nunes, REF).
A consciência perceptual é dirigida a um objeto ou processo no ambiente do animal,
o qual é tanto foco da percepção quanto da ação. Deste modo, processos cerebrais básicos
de consciência executam integrações sensorimotoras complexas; alimentar-se, por
exemplo, é muito mais que somente ingerir, digerir e eliminar resíduos do alimento. É um
comportamento que envolve (entre outras coisas) distinguir entre o que é comida e o que
não deve ser ingerido. Para se realizar tal distinção é preciso obter informação sobre seres
existentes no ambiente, e comparar tal informação com padrões internos (inatos e
aprendidos). Por exemplo, os peixes têm estruturas cerebrais que integram processos de
percepção e ação (o tectum óptico, uma estrutura homóloga ao colículo superior dos
mamíferos). Eles podem distinguir claramente entre aquilo que lhes serve de comida e o
que não lhes serve.
Os subsistemas do cérebro humano envolvidos na geração de consciência perceptual
seriam as áreas sensórias corticais primárias, como originalmente sugerido por Lashley
(1951), áreas associativas nos animais que as possuem, e estruturas sub-corticais que
executam integração inter-modal e influenciam no controle de ação. Por exemplo, foi
sugerido que o colículo superior estaria relacionado à consciência (Strehler, 1991). Em
humanos, tal hipótese está limitada pelo pequeno tamanho e limitação de função de tal
estrutura. Porém, a indicação de um possível papel do colículo superior para a consciência
perceptual em outras espécies se deriva de estudos sobre blindsight em humanos. Pacientes
com lesão unilateral da área cortical visual primária (chamada de córtex estriado ou V1)
perdem a consciência visual de estímulos localizados no campo visual contralateral, na área
correspondente ao campo receptivo da população de neurônios perdida. Contudo, quando
este estímulo se move a uma determinada velocidade, alguns pacientes reportam uma vaga
percepção visual do mesmo (veja Weiskrantz, 1997). Contudo, quando o estímulo não está
se movendo, os pacientes podem permanecer atentos ao mesmo (capazes de fornecer
informação sobre o estímulo), mas não são conscientes do estímulo (por isso o fenômeno
foi denominado “visão cega”). Relatos dos pacientes indicam que a intensidade e a
qualidade a percepção do estímulo em movimento são bem mais enfraquecidas que em
situações normais. No hemisfério lesionado de tais pacientes, o único caminho visual para o
16
controle da ação que permaneceu foi o colículo superior, e sendo assim pode ser
hipotetizado que a integração percepção-ação mediada pelo colículo superior pode produzir
algum grau de consciência em outros animais.
Outra estrutura subcortical que foi implicada em uma forma básica de consciência é
o tálamo. Wilber Penfield, realizando pesquisa em pacientes submetidos a cirurgias no
cérebro, nos anos 50 do século passado, descobriu que a consciência é bloqueada (i.e.,
pacientes entram em estado de coma ou semelhante ao coma) quando é aplicada uma leve
pressão ao sulco médio do tálamo esquerdo, e retorna quando a pressão é removida. Por
outro lado, determinados conteúdos sensoriais seriam produzidos (alguns bastante
elaborados) por meio de uma pequena excitação elétrica no sistema tálamo-cortical, de
acordo com um trabalho por ele publicado anteriormente (Penfield and Boldrey, 1937).
Na “hipótese de holofote" de Crick (searchlight hypothesis, 1984), a ativação
talâmica induziria uma sincronia oscilatória em assembléias do córtex sensorial, que teria
segundo o autor o papel de “ligação” (binding) de componentes do processo perceptual,
gerando uma consciência perceptual unitária. Esta hipótese é consistente com a descoberta
de sincronias oscilatórias em potenciais evocados no córtex visual do gato, em frequências
na faixa dos 40 Hz (Gray e Singer, 1989), e mudanças de fase ao longo do córtex (veja
Llinas & Ribary, 1994).
O modelo intitulado ERTAS (em alusão ao sistema reticular), que é uma versão
neurobiológica da teoria do Global Workspace de Baars (Baars, 1987; Newman e Baars,
1993), é mais detalhado e consistente que a hipótese de Crick. É proposto que o sistema
reticular de ativação (do qual o tálamo faz parte) controle a atividade cortical e defina um
estado geral de consciência. Os conteúdos da consciência seriam selecionados pela
totalidade do sistema, em especial pelas regiões especializadas do neocortex, segundo um
princípio computacional, que seria o da capacidade limitada de processamento.
Em primatas a consciência perceptual também está relacionada às áreas associativas
corticais, sendo a área ínfero-temporal (Logothetis e Schall, 1989) crucial para a
consciência visual de forma, e a área parietal posterior (Schacter, 1989; Goodale and
Milner, 1992) crítica para os movimentos visualmente guiados. Quando uma destas áreas é
lesionada em humanos, ocorre a deterioração de aspectos específicos da consciência
17
perceptual. No caso da consciência visual tais fenômenos são chamados de neglect (veja
uma revisão de tipos de deterioração em Young, 1992; Kohler & Moscovitch, 1997).
Uma outra modalidade de consciência está voltada para a percepção de estados do
próprio corpo, envolvendo os processos proprioceptivos, que incluem circuitos de feedback
que suportam a formação da noção de um eu corporal” autônomo e distinto dos demais
seres presentes à percepção. Os mecanismos de feedback envolvem ciclos de reaferência
corporal, ligados à geração de sensações corpóreas, sentimentos e emoções, os quais, em
mamíferos, se relacionam à atividade do sistema límbico, mais precisamente o córtex
cingulado anterior (Posner, 1994) e amígdala (LeDoux, 1994). Gray (1995) propôs que
conteúdos da consciência seriam gerados por uma função de comparação centrada no
sistema hipocampal.
O ciclo reaferente que produz consciência corporal foi descrito por Damasio (1996)
em sua hipótese do “marcador somático”: “no caso do dano de um tecido, o cérebro
representa a mudança ocorrida no corpo, e dispara mudanças de estado corporais
adicionais... É das mudanças de estados corporais subseqüentes que se forma o
sentimento desagradável de sofrimento". Assim interpretada, a consciência corporal é mais
do que uma representação de estados do corpo no cérebro; ainda de acordo com Damasio
(1996), a experiência de uma emoção implica a existência de um ciclo no qual cérebro e
corpo afetam um ao outro continuamente: "eu conceptualizo a essência do sentir (feelings -
APJ) como algo que você e eu podemos ver através de uma janela que se abre diretamente
sobre uma imagem continuamente atualizada da estrutura e estado de nosso corpo".
Na medida em que uma ativação do sistema límbico é envolvida neste tipo de ciclo
funcional, então a emergência da consciência corporal na escala filogenética se reportaria
ao surgimento dos répteis, quando o sistema límbico adquiriu configuração semelhante à
atual (MacLean, 1990). Em mamíferos, a especialização do neocórtex conduziu à atribuição
ao córtex somatosensorial de boa parte dos processes de reconhecimento dos estados
corporais. Os mecanismos de consciência corporal possivelmente evoluíram desde sua
emergência reptilínea, até o ponto em que as alterações corporais envolvidas se tornaram
bastante sutis, como por exemplo as expressões faciais que acompanham os estados
emocionais, e sensações como o frio na espinha e o arrepiar dos cabelos.
18
A consciência voluntária diz respeito à capacidade de se decidir conscientemente
sobre a execução de ações. Em muitas espécies animais, as decisões sobre ações são
fortemente dependentes de fatores de origem genética e da aprendizagem prévia, o que não
conta necessariamente contra a atribuição de uma decisão consciente a eles. A existência de
consciência voluntária não se identifica com a existência de uma completa liberdade de
escolha ("free will"), mas pode ocorrer nos quadros de um comportamento previamente
condicionado.
Um exemplo familiar pode ajudar a esclarecer este ponto. Consideremos um
cachorro que foi treinado para não entrar dentro de casa. O cachorro a porta aberta, e
percebe os odores atraentes de comida que vêm de dentro. Estes estímulos impelem o
cachorro para entrar na casa; porém, ao mesmo tempo sua memória de experiências
anteriores (entrou dentro de casa e foi punido) contribui para inibir aquele comportamento.
A ação resultante dependerá do conflito entre estas forças opostas, que possivelmente
mobilizam diferentes sub-sistemas cerebrais do animal.
A capacidade de tomar decisões que vão contra a tendência dos estímulos imediatos
depende de processos de inibição de atividade neuronal nas áreas perceptuais, e também da
existência de mecanismos de controle da ação relativamente independentes do
processamento perceptivo. Nos mamíferos, a distinção entre áreas perceptuais e áreas
motoras, em particular o papel funcional do sistema formado pelo giro cingulado, córtex
premotor e motor, dão suporte à consciência voluntária. O aparecimento destas áreas, ao
lado de mecanismos inhibitórios do córtex pré-frontal (correspondendo ao mecanismo de
atenção seletiva; veja Posner, 1995) tornam possível que, mesmo se os estímulos sensoriais
favoreçam um determinado comportamento, o animal pode (conscientemente) decidir não
executá-lo. Em animais que não têm estas especializações, as ações são mediadas através
de estruturas subcorticais diretamente controladas por combinações de estímulos sensoriais:
uma vez que os estímulos atinjam determinados limiares, os respectivos padrões motores
que definem o comportamento frente a tal situação são deflagrados automaticamente. Estes
animais, consequentemente, não possuiriam a modalidade de consciência aqui discutida.
É comum dentre os filóosofos o conceito de consciência como "representação de
segunda-ordem", proposto pelos filósofos Rosenthal (1986) e Lycan (1987, 1995), ou à
teoria da "consciência como um comentário" proposta pelo neurocientista Weiskrantz
19
(1997). Trata-se de uma modalidade de consciência que opera com sinais que se referem a
outros sinais pré-processados pelo cérebro. Esta segunda classe de sinais diz respeito a
grupos de sinais, constituindo categorias abstratas que não correspondem diretamente a
quaisquer grupos de objetos dados empiricamente. Por exemplo, em nível da consciência
abstrata podemos nos reportar à classe das coisas que têm cor amarela, ou à categoria dos
pares de coisas que mantêm relações de causa e efeito.
As categorias da consciência abstrata não devem ser necessariamente identificadas
com as representações lingüisticamente formuladas, típicas da consciência humana; elas
devem ser entendidas como representações de classes de objetos de acordo com
características perceptuais e pragmáticas, podendo adquirir a forma de imagens ou signos
não-linguísticos. Isto implica que a consciência abstrata teria uma estrutura proposicional,
mas não necessariamente lingüística.
Na perspectiva de Weiskrantz, esta modalidade de consciência constitui um
"comentário" que as áreas associativas do córtex produzem, sobre a informação sensorial
processada nas áreas primárias. O desenvolvimento do córtex prefrontal em primatas e
cetáceos tornou possível a formação de dois ciclos de processamento entre as áreas
associativas do neocortex; o primeiro é constituído por sinais que caminham no sentido
forward, das áreas parietais e temporais para o córtex prefrontal, e o segundo ciclo caminha
backward, das áreas frontais para as áreas posteriores. Estes ciclos se relacionam com as
funções executivas (Stuss, Eskes & Foster, 1994; D'Esposito & Grossman, 1996), como a
manipulação consciente da informação na memória de trabalho (Schacter, 1989; Jonides,
1995; Jonides & Smith, 1997; Smith and Jonides, 1997), perseguição de metas e controle
dos processos perceptuais por meio de mecanismos da atenção.
Um exemplo importante de estudo científico de uma forma de consciência abstrata
em primatas não-humanos é o experimento de auto-reconhecimento no espelho (veja
Gallup, 1970). Contrariamente à interpretação inicial dada ao experimento, tenho
argumentado (Pereira Jr., 2000) que os resultados não implicam a existência de uma
modalidade de autoconsciência nestes animais, mas decerto implicam o concurso da
consciência abstrata para a resolução do problema. O fato de que um animal possa
classificar a imagem distal no espelho na mesma categoria dos sinais reaferentes proximais,
e, por conseguinte, inferir que a imagem diz respeito aos seus próprios corpos, implica a
20
capacidade de formação de classes abstratas de sinais e de uso das mesmas em um
raciocínio voltado para a resolução de problemas.
Uma modalidade mais elaborada é caracterizada pela consciência de ser consciente,
ou pela consciência do “eu” (self), aqui concebido como uma construção histórico-cultural,
lingüisticamente formulada, que expressa a unidade de um organismo individual. A
formação de um conceito de ‘self’ implica uma integração de uma multiplicidade de
experiências distintas em uma unidade, o que requer três operações cognitivas: auto-
referência simbólica; referir-se unívocamente a esta unidade, e comunicação em primeira
pessoa com outros seres semelhantes. Estas capacidades são satisfeitas pelos seres
humanos, sendo discutível se organismos de outras espécies ou se máquinas seriam capazes
de realizar estas operações cognitivas.
O conceito de ‘self’ é suportado por uma ampla rede neuronal, envolvendo o
sistema límbico e subsistemas corticais, incluindo as áreas clássicas da linguagem (áreas de
Broca e Wernicke). Estes subsistemas cerebrais apóiam e são implicados na mediação do
pensamento lingüisticamente formulado, em especial a forma de pensamento linguístico
sem vocalização chamado de “fala interna” (inner speech; um termo originalmente usado
por Luria (vide Luria, 1973), discutida em Stuss & Benson (1990), que desempenha papel
central na vida mental do ‘self’. As áreas de linguagem têm conexões corticais diversas,
recebendo informação aferente (o que permite que se façam declarações sobre estados do
corpo e o mundo), e também informação sobre comportamentos planejados, o que permite
a formulação das intenções. A parte crítica do sistema que suporta o conceito de ‘self’ é
provavelmente o córtex pré-frontal, que está envolvido na coordenação de intenções e
metas que guiam o uso da linguagem e outras formas de comportamento (veja Goldberg,
1990). Evidências neste sentido advêm principalmente de estudos dos correlatos
neurológicos de distúrbios graves que afetem o sentido de ‘self’, como a esquizofrenia.
Até onde temos uma compreensão do desenvolvimento da linguagem humana,
sabemos que é preciso interação social para que o organismo individual realize seu
potencial genético. A formação do conceito de ‘self’ parece ser uma parte deste processo, e
desse modo a natureza e extensão de seu desenvolvimento dependeriam crucialmente do
reconhecimento social do indivíduo biológico como um sujeito ético. Tal reconhecimento
envolveria a simbolização do nome do indivíduo, a exibição de coerência de personalidade
21
entre diversas experiências na sociedade, e a atribuição de direitos e responsabilidades para
com os outros indivíduos. Assim sendo o ‘self’ seria uma unidade composta
neurobiológica, psicológica e sociocultural. Os indivíduos podem pensar sobre si mesmos
como uma entidade independente como ocorre no famoso cogito’ cartesiano, proposto
como base para o conhecimento filosófico - mas esta independência seria fruto de um mal-
entendido, como foi argumentado no debate filosófico clássico entre o cartesianismo e
correntes divergentes, como a dialética de Hegel e a fenomenologia de Husserl.
Comentários Finais
O progresso recente das neurociências tem mostrado que os processos que dão
suporte à experiência consciente ocorrem simultaneamente em múltiplas escalas espaciais e
temporais, envolvendo diferentes tipos de sinais físico-químicos. Os três neurobiólogos que
receberam o Prêmio Nobel de medicina em 2000, Paul Greengard , Arvid Carlsson e Eric
Kandel, estudaram os níveis moleculares e bioquímicos de articulação das funções
cognitivas no cérebro. Estas pesquisas levaram a um melhor entendimento dos mecanismos
sinápticos, de membrana e dos processos intra-celulares de transdução de sinais que
suportam a cognição. Entretanto tais descobertas - por exemplo, a descoberta do papel dos
transmissores dopamina e serotonina nos processos de aprendizagem e memória, -não nos
conduzem à conclusão de que os mecanismos subjacentes aos processos conscientes sejam
apenas químicos e moleculares; pelo contrário, nos defrontamos com um panorama de
complexidade, sugerindo que um entendimento adequado das funções cognitivas no
cérebro deve cobrir simultaneamente diversos níveis de organização e suas interações.
Tomando como exemplo o sistema visual dos mamíferos, notamos que diversos
tipos de processos, distribuídos em diferentes escalas espaciais e temporais, contribuem
para que tenhamos experiências visuais. A retina possui células especializadas para
detectar padrões de informação nos fluxos de fótons, oriundos do ambiente, que a atingem.
Tal informação é transduzida para padrões de atividade elétrica, que são conduzidos
através do feixe de axônios daquelas células (isto é, pelo nervo ótico) até o tálamo. O
tálamo está conectado com outras estruturas subcorticais, como a formação reticular, que
induzem a produção de transmissores e moduladores capazes de controlar a atividade do
sistema límbico e do neocortex, estruturas cruciais para a geração dos conteúdos da
22
consciência. Portanto, o tálamo e as outras estruturas subcorticais alimentam o sistema
límbico e o neocortex de uma variedade de padrões elétricos oriundos da interface com o
ambiente, e de substâncias reguladoras; aqueles sistemas, por sua vez, realizam diversos
processos a partir desses sinais, vindo a construir o mundo da experiência consciente.
Contudo, as correspondências entre atividade neuronal e atividade consciente assim
obtidas são até o presente pouco precisas; elas abrangem os diferentes estados de
consciência (por exemplo, a distinção entre estado de vigília, sono profundo e sono REM),
e os tipos de experiência (modalidades perceptuais, mecanismos de atenção, funções
executivas e motoras), mas não dizem respeito aos conteúdos da consciência (isto é, tal
tecnologia não permite “ler o sentimento ou o pensamento”, inferir o que se passa na
consciência de uma pessoa através de dados sobre sua atividade cerebral).
Nos anos 1990, foi também desenvolvida a técnica de imagem por ressonância
magnética, a qual, em uma de suas versões (BOLD fMRI - que mede o nível de oxigenação
do sangue circulante no cérebro) permite identificar padrões macroscópicos de distribuição
espacial do fluxo de sangue arterial. Também aqui se encontram inúmeras correlações
entre tipos de processos cognitivos (realizados simultaneamente à medida da atividade
cerebral) e a ativação de regiões específicas do cérebro; porém, assim como no caso das
técnicas de medição eletromagnética, tais correlações são excessivamente imprecisas para
constituírem explicações satisfatórias da cognição a partir dos processos cerebrais.
Uma característica central dos padrões de atividade macroscópicos relacionados
com os processos cognitivos consciente é a existência de coerência (vide Tononi, Edelman
e Sporns, 1999). A cooperação entre regiões relativamente distantes do SNC parece
constituir requisito necessário, não para a ocorrência dos processos conscientes, como
também para a capacidade mais geral de resolução de problemas com base no raciocínio
inteligente. Os modelos reducionistas, que pretendem explicar a atividade do cérebro a
partir de um nível privilegiado de descrição (seja ele macroscópico ou microscópico), têm
encontrado dificuldades frente às evidências de que o cérebro simultaneamente atua em
diferentes níveis organizacionais.
Dadas as razões acima, um novo tipo de explicação da atividade cerebral se faz
necessário, enfatizando a existência de complexas interações entre os diferentes níveis de
processamento. Possivelmente tais interações apresentam características observadas em
23
outros sistemas dinâmicos, como a existência de valores críticos para a interferência da
atividade de um nível de organização sobre outros. Os processos mentais corresponderiam
à auto-organização do sistema cerebral, em suas interações com o corpo e o ambiente,
sendo que no tocante ao cérebro os diversos níveis de organização - e respectivos modos
de processamento da informação - seriam relevantes para se entender os diversos aspectos
da cognição.
Agradecimentos: Stephan L. Chorover (MIT), que supervisionou meu estágio de pós-
doutorado, quando foi realizada a primeira versão deste trabalho; FAPESP, pela bolsa para
o estágio.
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Article
Part One * Consciousness and the Scientific Observer * Proposals and Disclaimers Part Two * Neural Darwinism * Reentrant Signaling * Perceptual Experience and Consciousness Part Three * Memory as Recategorization * Time and Space: Cortical Appendages and Organs of Succession * Concepts and Presyntax Part Four * A Model of Primary Consciousness * Language * Higher-Order Consciousness * The Conscious and the Unconscious * Diseases of Consciousness Part Five * Physics, Evolution, and Consciousness: A Summary * Philosophical Issues: Qualified Realism * Epilogue
Article
The term "executive function" has been used to capture the highest order of cognitive abilities, including the planning, flexibility, organization and regulation necessary for the execution of an appropriate behavior. Executive function, although an elusive cognitive domain, may be highly dependent on working memory, which refers to the temporary storage and manipulation of information. The physiology of working memory is beginning to be mapped in both monkey and human studies at the neuroanatomical and neurochemical levels. Working memory is likely subserved by a distributed network of brain regions in which the prefrontal cortex is critical, subserving the process of maintaining representations across time. There is also a relationship between dopaminergic projections in the brain and working memory. Improved understanding of the physiological basis of executive functioning and working memory will provide a narrower view of prefrontal cortical function and may lead to new therapies in patients with cognitive dysfunction.
Article
Research on Blindsight, Neglect/Extinction and Phantom limb syndromes, as well as electrical measurements of mammalian brain activity, have suggested the dependence of vivid perception on both incoming sensory information at primary sensory cortex and reentrant information from associative cortex. Coherence between incoming and reentrant signals seems to be a necessary condition for (conscious) perception. General reticular activating system and local electrical synchronization are some of the tools used by the brain to establish coarse coherence at the sensory cortex, upon which biochemical processes are coordinated. Besides electrical synchrony and chemical modulation at the synapse, a central mechanism supporting such a coherence is the N-methyl-D-aspartate channel, working as a 'coincidence detector' for an incoming signal causing the depolarization necessary to remove Mg2+, and reentrant information releasing the glutamate that finally prompts Ca2+ entry. We propose that a signal transduction pathway activated by Ca2+ entry into cortical neurons is in charge of triggering a quantum computational process that accelerates inter-neuronal communication, thus solving systemic conflict and supporting the unity of consciousness.