ArticlePDF Available

A busca pelo Graal nos escritos de Otto Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográfico à ideologia nazista

Authors:

Abstract

O Graal e suas propriedades mágicas e a ideologia da raça: é no encontro desses dois espaços que está a obra de Otto Rahn. Para uns, dentro de um universo de idealizações, o Indiana Jones alemão, para outros, no campo da deslegitimação, o nazista lunático. Em realidade, um indivíduo de seu tempo. Esse artigo busca compreender as construções narrativas em torno do Graal e a ideologia nazista nas duas obras de Otto Rahn, a saber, Kreuzzug gegen den Gral: Die Geschichte der Albigenser (1933) (Cruzada contra o Graal. Grandeza e queda dos Albingenses) e Luzifers Hofgesind: eine Reise zu den guten Geistern Europas (1937) (A corte de Lúcifer: Viagem ao coração da mais alta espiritualidade europeia), tendo como ponto de contato a circulação de imagens acerca do Graal (via Parzival, de Wolfram von Eschenbach e Parsifal, de Richard Wagner) durante a década de 1930 na Alemanha. Analisar-se-á, portanto, a instrumentalização do Graal nas obras de Rahn.
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 250
A busca pelo Graal nos
escritos de Otto Rahn:
do entusiasmo pseudo-
historiográco à ideologia
nazista
The Grail Search in Otto
Rahn’s Works: From Pseudo-
Historiographic Enthusiasm to
Nazi Ideology
Daniele Gallindo-Gonçalves1
DOI: 10.5433/1984-3356.2020v13n26p250
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 251
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
Resumo: O Graal e suas propriedades mágicas e a ideologia
da raça: é no encontro desses dois espaços que está a obra de
Otto Rahn. Para uns, dentro de um universo de idealizações, o
Indiana Jones alemão, para outros, no campo da deslegitimação,
o nazista lunático. Em realidade, um indivíduo de seu tempo.
Esse artigo busca compreender as construções narrativas em
torno do Graal e a ideologia nazista nas duas obras de Otto
Rahn, a saber, Kreuzzug gegen den Gral: Die Geschichte der
Albigenser (1933) (Cruzada contra o Graal. Grandeza e queda
dos Albingenses) e Luzifers Hofgesind: eine Reise zu den guten
Geistern Europas (1937) (A corte de Lúcifer: Viagem ao coração
da mais alta espiritualidade europeia), tendo como ponto de
contato a circulação de imagens acerca do Graal (via Parzival,
de Wolfram von Eschenbach e Parsifal, de Richard Wagner)
durante a década de 1930 na Alemanha. Analisar-se-á, portanto,
a instrumentalização do Graal nas obras de Rahn.
Palavras-chave: Graal; Otto Rahn; Miticação;
Nacionalsocialismo; Recepção da idade média.
Abstract: The Grail and its magical properties and the ideology
of race: it is in the meeting of those two spaces that the work of
Otto Rahn is found. For some, into a universe of idealizations, the
German Indiana Jones, for others, in the eld of delegitimation,
the lunatic Nazi. In fact, an individual of his time. This article
aims to understand the narrative constructions around the
Grail and the Nazi ideology in Otto Rahn’s two works, namely
Kreuzzug gegen den Gral: Die Geschichte der Albigenser (1933)
(Crusade Against the Grail: The Struggle between the Cathars, the
Templars, and the Church of Rome) and Luzifers Hofgesind: eine
Reise zu den guten Geistern Europas (1937) (Lucifer’s Court: A
Heretic’s Journey in Search of the Light Bringers), having as its
point of contact the circulation of images about the Grail (via
Parzival, by Wolfram von Eschenbach and Parsifal, by Richard
Wagner) during the 1930s in Germany. The instrumentalization
of the Grail in Rahn’s works will the focus of this analyses.
Keywords: Grail; Otto Rahn; Mitication; National socialism;
Reception of the middle ages.
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 252
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
Novos templários ocupam espaços urbanos, presidentes conclamam novas
cruzadas, extremistas clamam uma nova Idade Média, fala-se em “feudalismo
scal”... ainda que pareçam absurdos anacrônicos para medievalistas, os
extremismos distintos veem usando cada vez mais do medievo para justicar
seus modus operandi. Não se trata, contudo, de um fenômeno novo, ainda
que repaginado. O potencial de usos políticos da dita Idade Média vem sendo
campo de disputa entre senso comum e pesquisa acadêmica: para Kaufman e
Sturtevant (2020), há um processo de armamento da História, para Wollenberg
(2018), o passado está desperto. Para pensar essas falsicações, reconstruções,
difamações do medievo é necessário, além de um exercício de desmiticação
das camadas que compõem esses discursos, um exercício comparativo entre as
imagens que circulam em determinado período e suas apropriações.
Não é de hoje que publicações2, séries de canais privados3, páginas de
internet4 e jogos eletrônicos5 se ocupam com a temática da relação dos nazistas
com o oculto. Inseridas em suas especicidades midiáticas, vendem teorias de
conspiração e criam no público certezas através de novas roupagens míticas.
Questões essas sobre as quais a historiograa ainda se debruça com certa
cautela: os porquês e as formas com que a máquina de propaganda nazista (re)
criou imagens míticas em prol de uma ideologia, principalmente, a racial, do
sangue.
Neste sentido, o epíteto atribuído a Otto Rahn (1904-1939), em uma dessas
publicações, de “O verdadeiro Indiana Jones” (GRADDON, 2013), já elucida em
que campo pretendemos navegar nas linhas a seguir, isto é, tentar compreender
a relação entre narrativa ccional e narrativa histórica. Para tanto, centraremos
nossa análise em duas obras de Rahn – Kreuzzug gegen den Gral: Die Geschichte
der Albigenser (1933) (Cruzada contra o Graal. Grandeza e queda dos Albingenses)
e Luzifers Hofgesind: eine Reise zu den guten Geistern Europas (1937) (A corte
de Lúcifer: Viagem ao coração da mais alta espiritualidade europeia)6 – com a
nalidade de elucidar os motivos que levaram o autor a construir um passado
mítico via uma narrativa literária (Parzival de Wolfram von Eschenbach7) e o mito
do Graal, bem como apontar quais foram as estratégias textuais empregadas
pelo autor na construção desse passado mítico. Desta forma, não nos interessa
o que é o Graal o cálice sagrado, a pedra losofal, o caldeirão de Ceridwen, das
lendas celtas –, mas, sim, como se deu sua instrumentalização durante a década
de 1930, tendo como foco a obra de Rahn. A principal hipótese sobre a qual esse
artigo se desenvolve consiste na ideia de que as duas obras de Rahn indicam
uma adaptação progressiva (porém, irregular) e com peculiaridades à ideologia
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 253
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
e mitologia política nazista. Nesse sentido, se a primeira obra aponta um cunho
mais mítico (pseudo-historiográco), a segunda ganha tons programáticos de
acordo com a ideologia nazista do mito da raça: “O Ariano não é apenas um
tipo dentre os demais, ele é o tipo no qual se apresenta [...] a potencia mítica,
a natureza mãe de todos os tipos” (LACOUE-LABARTHE; NANCY, 2002, p. 58)8.
Embora tenhamos datas de nascimento e morte do autor aqui pesquisado,
grande parte de sua biograa é envolta em especulações e teorias conspiratórias
(FRANZ, 2009, p. 492). Um dos poucos escritos dedicados à biograa de Rahn é
o material produzido por Hans-Jürgen Lange, Rahn und die Suche nach dem Gral,
Biographien und Quellen (1999), que embora traga contribuições interessantes
para a compreensão da vida de Rahn, pouco explora suas obras. Hans Thomas
Hakl sinaliza o fato de que a biograa organizada por Lange, além de corrigir
os erros da biograa francesa escrita por Christian Bernadac (1978), apresenta
fontes, até então, inéditas, por exemplo cartas e entrevistas com testemunhas
que conheciam Rahn (HAKL, 1998, p. 79-80). Volker Mertens, por outro lado,
embora reconheça a existência desse material, assevera que esse carece de
caráter acadêmico (MERTENS, 2004, p. 276). Nessa mesma direção vão os
comentários de Julia Strube ao armar que a obra de Lange é “útil, mas de
qualidade oscilante”9 (STRUBE, 2012, p. 229).
A constatação de que Rahn é um acionado pelo catarismo occitano, dá-
se através da leitura de suas duas obras, e atesta-se o fato de que foi membro
da SS pela documentação preservada no Berlin Document Center/Bundesarchiv
Potsdam, dentre as quais se encontra o pedido de desligamento da SS realizado
em 28 de fevereiro de 193910 (LANGE, 1999, p. 200). Em março de 193911 é
declarada publicamente sua morte “durante uma tempestade de neve nas
montanhas”12. Acidente, suicídio, assassinato? Aqui residem algumas das
teorias sensacionalistas: para Lange, por exemplo, Rahn teria cometido suicídio
por causa de sua orientação sexual (LANGE, 1999, p. 207); para outros autores,
Rahn teria desaparecido e ressurgido como Rudolf Rahn (p. ex. BERNADAC,
1978, p. 195)13.
Isto posto, nossa análise estará baseada substancialmente nas obras de
Rahn e seu contexto de produção e supercialmente em dados biográcos.
Sobre as duas obras produzidas por Rahn, destacamos que, de acordo com
Daniela Müller, Cruzada contra o Graal insere-se em uma tradição mais ampla
de obras produzidas entre o século XIX e início do XX, que têm como objeto o
catarismo: como é o caso de Ignaz von Döllinger (Beiträge zur Sektengeschichte
des Mittelalters, 1889/90) e Alfred Rosenberg14 (Mythus des 20. Jahrhunderts,
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 254
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
1930) (MÜLLER, 1997, p. 431-433)15. Alfred Kurlander, ao discorrer sobre a
segunda obra de Rahn – A corte de Lúcifer , denomina esse período de “m
do século esotérico, Nova Era e revivalismo religioso-popular”16 (KURLANDER,
2017, p. 163). Tanto Müller quanto Kurlander apontam para o fato de que as
obras de Rahn não são escritos isolados e nem propagam imagens inéditas em
seu período.
Cruzada contra o Graal (1933): o entusiasmo pseudo-historiográco17
Em 1940, Hermann Rauschning publica o livro Gespräche mit Hitler, o
qual seria resultado de conversas entre o político e o líder do partido nazista
realizadas entre os anos de 1932 e 1934. De acordo com Rauschning, Hitler
teria atribuído o seguinte signicado ao Parsifal:
Aliás, você deve entender o Parsifal de uma maneira diferente
da que é comumente interpretada. [...] Não é a religião
schopenhaueriana da compaixão cristã que é gloricada, mas o
sangue puro e nobre, que uniu a irmandade dos sábios, com a
nalidade de proteger e gloricar em sua pureza. [...] o sangue
puro. Todos nós sofremos da mazela do sangue misto e degradado.
[...] E que essa compaixão conheça apenas uma ação de deixar
o doente morrer. A vida eterna concedida pelo Graal se aplica
apenas aos verdadeiros puros, nobres!18 (RAUSCHNING, 2005, p.
215-216, tradução nossa).
O fragmento acima aponta para a associação entre a personagem wagneriana
e questões referentes à pureza racial expressa na repetição dos vocábulos “rein”
(puro), “adlig” (nobre) e “Blut” (sangue). O ato de compaixão para com os
doentes através do deixar morrer também faz parte da noção de puricação da
raça prevista pelos nacionais socialistas. A mesma ideia é repetida por Rahn em
A corte de Lucifer no trecho em que exemplica quem são os Aryas: “Esse nome
signica “nobres e senhores”!” (RAHN, 2002, p. 146). Em sua análise acerca d’O
mito ariano, Léon Poliakov argumenta em relação à visão wagneriana que “Só
existia uma esperança de salvação: uma nova puricação, uma nova recepção do
sangue sagrado, segundo os ritos do mistério de Parsifal, o redentor germânico”
(POLIAKOV, 1974, p. 309).
Em anedota narrada por Hans Frank, Hitler teria armado, em uma viagem de
trem conjunta em 1936, que a base de sua religião adviria de uma interpretação
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 255
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
particular do Parsifal. Fica claro no trecho a seguir a aversão ao culto das
religiões cristãs, no geral, e a sobrevalorização da gura do herói, pois Hitler
teria declarado:
Do Parsifal construo minha religião, culto de forma solene sem
partidarismos teológicos. Com plano de base fraternal de amor
verdadeiro sem encenação de humildade e tagarelice vazia. Sem
aqueles capuzes e saias femininas nojentas. Somente sob vestes
heroicas se pode servir a Deus19 (FRANK, 1955, p. 204, tradução
nossa).
Embora ambos os trechos sejam considerados conversas fantasiosas,
destacamos o potencial atribuído ao drama musical wagneriano – Parsifal
como um mito sanguíneo que já circulava na década de 30. É justamente
nessa atmosfera que em 1933 a primeira obra de Rahn – Kreuzzug gegen den
Gral (Cruzada contra o Graal) – é publicada pela Urban Verlag em Freiburg im
Breisgau.
A estratégia narrativa básica utilizada por Rahn em Cruzada contra o
Graal é a construção de uma relação direta entre literatura e história. Nesse
entusiasmo, o autor delineia, apoiado no Parzival de Wolfram de Eschenbach,
as bases de uma narrativa pseudo-historiográca acerca do catarismo, pois
como arma Köhn “[...] o livro de Rahn quer ser mais do que uma interpretação
histórica forçada do material literário”20 (KÖHN, 1988, p. 297, tradução nossa).
As personagens literárias correspondem aos atores históricos envolvidos no
movimento cátaro francês: a genealogia de Parzival, por exemplo, é conectada
à linhagem Trencavel (sul da França). Raymond Roger Trecavel (1186/87-1209)
é igualado a Parzival, enquanto Esclarmonde de Foix (1151-1215) é Repanse de
Schoye (a protetora do Graal, Pz 235,25-26); Raymond VII da casa de Toulouse
é Gawan; já Kyot21 se torna o trovador francês Guiot de Provins (segunda
metade do séc. XII-início do séc. XIII)22 e Anfortas é Raymond-Roger de Foix
(1152-1223) (RAHN, 2000a, p. 64-68). Rahn também desenvolve uma base
etimológica em suas explicações acerca da relação do Graal wolframniano e o
Graal cátaro: o castelo graaliano Munsalvaesche seria o castelo de Montségur
localizado na região do Midi, sudoeste da França; Minne (compreendida por
Rahn como a igreja cátara) equivale a Mani (a pura doutrina); Manichäer
seriam os Minnesänger (RAHN, 2000a, p. 57-58). Nesse sentido, a pesquisa dita
“histórico-literária” (RAHN, 2000a, p. 65) de Rahn, comprometida em “contar
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 256
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
aos homens de hoje o que foi o martírio sofrido pelos heréticos Templários do
Graal” (RAHN, 2000a, p. 24), baseia-se em duas premissas: 1. correspondência
entre literatura e história e 2. comprovação etimológica. Em Rahn, “O Graal
é um símbolo herético. Amaldiçoado pelos adoradores da cruz de Cristo,
lancaram contra ele uma cruzada, a “guerra santa” da Cruz contra o Graal...”
(RAHN, 2000a, p. 157).
Embora percebamos a recepção wagneriana nas falas atribuídos a Hitler
(ainda que considerado o potencial anedótico), Rahn volta-se à releitura do
texto wolframniano, visto que
[...] para Hitler o sangue armazenado no cálice do Graal não era o
sangue de Cristo, mas obviamente o sangue nórdico, para Rahn,
o Graal sempre permaneceu a pedra caída da coroa de Lúcifer,
símbolo de um conhecimento místico mais profundo e, portanto,
símbolo da minne, pois minne signica “lembrar”23 (MÜLLER,
1997, p. 441, tradução nossa).
Não podemos deixar de salientar que também Rahn menciona o Parsifal.
Na primeira edição da obra, vemos um trecho da partitura do drama musical
Wagneriano bem como uma citação do Lohengrin de Wagner (“In fernem Land,
unnahbar euren Schritten,/ Liegt eine Burg, die Montsalvat genannt…” / “Num país
longínquo, inacessível aos passos,/ Ergue-se um burgo chamado Montsalvat”),
que faz referência ao castelo do Graal.
Sven Friedrich assevera que “no sentido da ideologia racial nazista, o Graal
surgiu como um apropriado símbolo positivo de culto para a utopia popular de
uma nova religião do sangue puro”24 (FRIEDRICH, 2008, p. 9, tradução nossa).
Somente os puros de sangue alcançam o Graal, aqueles que foram escolhidos
para tal. É nesse sentido, que Friedrich destaca a ligação feita por Wagner entre
o mito do Graal e a questão da pureza do sangue; não só essa relação, mas
também a conexão, tanto em Wolfram quanto em Wagner, dos cavaleiros do
Graal com os templários. A ligação explícita com a questão do sangue somente
surgirá em Rahn em sua segunda obra, visto que o livro Cruzada contra o
Graal “foi escrito para os cátaros” (RAHN, 2000a, p. 23). Nessa primeira obra,
Rahn arma que “[ ]esse universo occitano do amor supremo” é composto por
“Crentes, Cavaleiros e Perfeitos. Os cavaleiros correspondiam aos Templários,
os “Trevrizent” aos cátaros” (RAHN, 2000a, p. 67).
Esse entusiasmo acerca do Graal, como um mistério cátaro, não é de todo
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 257
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
compartilhada pelos contemporâneos do texto de Rahn. Para Ludwig Pfandl,
em resenha ao Literarische Welt de setembro 1933, Rahn comete erros graves
em sua tentativa de acoplar literatura e história e, por isso o livro não deveria
ter sido escrito, pontuando, contudo, o entusiasmo do autor ao escrever sobre
o tema. Conforme armado por Pfandl:
O livro de Rahn está completamente errado e seria melhor
nunca ter sido escrito. Essa constatação é ainda mais lamentável,
pois precisa ser feita em relação a um autor cuja devoção
verdadeiramente entusiástica ao assunto é sem medida e sem
limites e cujas habilidades de representação o tornam bastante
adequado para tematizar tal matéria25 (PFANDL, 1933, s. p.,
tradução nossa).
Ponto de vista semelhante é compartilhado por Ludwig Wolff em resenha
ao Zeitschrift für Romanische Philologie 59 de 1939. Wolff destaca que Rahn
negligencia toda uma tradição literária anterior à de Wolfram; o texto de
Chrétien de Troyes por exemplo. Assim, Wolff arma que:
R. não tenta de forma alguma estabelecer o conteúdo intrínseco
do Parzival de Wolfram e dos outros poemas do Graal, e carece,
estranhamente, da sensação de distância entre diferentes
mundos espirituais e diferentes povos. [...] Mas é preciso advertir
urgentemente os leigos, a quem o livro, sobretudo, com seu
texto se volta (com uma extensa seção de notas cientícas), para
considerar as novas revelações sobre o Graal como resultados
seguros da ciência. Até que ponto as memórias em relação aos
cátaros se fundiram a posteriori com os motivos do Graal é outra
questão26 (WOLFF, 1939, p. 118, tradução nossa).
Entre miticações apaixonadas e críticas severas percebemos uma utilização
do passado como forma de reler o presente. Essa vinculação miticada entre
cavaleiros, arianos, salvadores, o Graal, também ganha destaque na cultura
visual do período.
Na Figura 1, Hitler, representado como cavaleiro do Graal (WELZBACHER,
2013, p. 172), incorpora a ideia de salvação, o porta estandarte da nação,
aquele capaz de restituir a glória perdida, cavalgando em nome do bem maior:
o nacional-socialismo, aqui marcado na suástica estampada na bandeira. Em
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 258
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
entrevista ao Zeit Online em 20 de setembro de 2019, Matthias Egeler faz
referência a essa imagem e associa a representação do Führer com a gura de
Parsifal. Segundo Egeler, “Parece ter havido uma identicação de Hitler com
Parsifal como o herói solitário, que tenta mudar o mundo com a bênção divina,
ou, ao menos, a bênção da ‘providência’”27 (EGELER, 2019, tradução nossa).
Ou ainda apropriando-nos das palavras de Poliakov: “o redentor germânico”
(POLIAKOV, 1974, p. 309).
Figura 1 - Der Bannerträger (c. 1934) de Hubert Lanzinger
Fonte: Galleria d’Arte Thule.
Outra imagem importante para compreender como a associação entre Graal,
Parsifal e Hitler era construída pode ser visualizada na Figura 2. O poster,
datado do mesmo período do quadro da Figura 1, apresenta o Führer segurando
um estandarte seguido de outros indivíduos trajando uniformes e, nas mãos,
bandeiras nazistas. Além de ser o centro da imagem, Hitler é apresentado
iluminado por raios solares e acima de sua cabeça voa um pássaro, uma águia
menção ao Reich, a qual, segundo William Kinderman, é representada de forma
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 259
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
estilizada, lembrando um avião militar (KINDERMAN, 2017, p. 417). Já para
Hannes Lewalter, o pássaro seria uma representação do corvo de Odin, pois este
“[...] serve, muito mais, como sinal de uma nova crença nas tradições pseudo-
germânicas de uma mitologia histórica semi-religiosa”28 (LEWALTER, 2010, p.
141, tradução nossa). Nessa sobreposição de leituras possíveis, não podemos
deixar de mencionar, ainda, uma certa semelhança com a iconograa cristã
referente ao Espírito Santo. A paisagem, atrás apresentada, relembra o vale do
Reno e as folhas que circundam a gravura são de carvalho, árvore comumente
vinculada à germanidade. Abaixo do poster lemos “Viva a Alemanha!” (“Es
lebe Deutschland!”). Hitler aparece, assim, como o Messias, uma gura que
traz a luz consigo, aquele capaz de salvar a pátria. Associada a outro conjunto
de gravuras produzidas por Franz Stassen (Figura 3) para o drama musical
wagneriano, Hitler assemelha-se à gura de Parsifal, que em Stassen porta uma
lança no lugar do estandarte segurado pelo Führer (KINDERMAN, 2017, p. 417).
Hitler, dirigindo o olhar para frente, empunha a mão de forma convocatória,
enquanto Parsifal, ao olhar para cima, eleva-a aos céus.
Figura 2 - Es lebe Deutschland! (c. 1935) de Karl Stauber
Fonte: Deutsches Pressemuseum.
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 260
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
Não é somente Hitler que será associado ao cavaleiro graaliano, mas também
Rahn, que em sua obra, se estiliza como o cavaleiro; contudo, como cavaleiro
wolframniano, aquele que será iniciado nos mistérios do Graal. Rahn arma que
Antonin Gadal29 seria Trevrizent, o eremita, e, se ele próprio se deixou iniciar
por Gadal, Rahn assemelha-se a Parzival (RAHN, 2000a, p. 20).
O exercício de comparação entre a recepção feita por Rahn e a potencial
recepção do Parsifal por Hitler se fez necessário para compreendermos os
discursos que circulavam no período acerca da obra medieval (ou de sua releitura
wagneriana). Ainda que pareçam duas recepções distintas, ambas apontam para
o potencial identicatório, gradativo no caso de Rahn, entre a obra Parzival/
Parsifal e o mito da raça / sangue. Rahn adentra a SS pela atenção despertada
em Himmler, visto que havia “anidades profundas entre o Neo-catarismo de
Rahn e a “crença germânica em Deus” de Himmler, pois ambos compartilham
do pressuposto de uma continuação do culto celto-germânico na Idade Média
cristã”30 (KÖHN, 1988, p. 305, tradução nossa). A crença de Rahn vai além de
sua primeira obra. Em A Corte de Lucifer, ele repete: “[...] apesar de Roma ter
destruído todos os escritos cátaros, é indiscutível que o Parzival de Wolfram é
Figura 3 - Parsifal segura a lança e aos seus pés Kundrie de Franz Stassen
Fonte: Stassen (1901).
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 261
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
um poema inspirado no catarismo” (RAHN, 2002, p. 62).
A potência narrativa da construção mítica realizada por Rahn em sua obra e o
orescente cenário que se estabelece com o nazismo fazem com que as ligações
entre Graal, pureza de sangue e arianismo sejam levadas adiante em uma nova
empreitada do autor – Luzifers Hofgesind (A Corte de Lúcifer). O mito do Graal
como fomentador de ancestralidade, de oposição à Cristandade, de força vital e
de pureza racial são toponímicos caros à nova obra de Rahn que surgirá de um
contexto outro: Rahn adentrara o regime, primeiramente, como civil (1935) e,
a posteriori, como SS-Unterscharführer (1935) (MÜLLER, 1997, p. 437).
A corte de Lúcifer (1937): a ideologia nazista
Se a primeira obra de Rahn pode ser lida como um texto pseudo-histórico
– ou ainda nas palavras de Linse como “criptohistória”31 (LINSE, 2012, p. 547)
, visto que busca através de uma obra literária a ‘verdade’ sobre os cátaros, a
segunda é apresentada como um diário de viagem. Nas palavras de Rahn:
Esse livro não era mais que um diário começado na Alemanha,
continuado no Midi da França e concluído provisoriamente na
Islândia. [...]. Suprimindo, completando ou sublinhando, compus
o meu diário e reagrupei as páginas separadas para que a imagem
por mim feita em espírito pudesse ser captada, compreendida e
amada por outros além de mim (RAHN, 2002, p. 33).
Todavia, A Corte de Lucifer vai além do relato de viagem. A obra pode ser
pensada como uma tentativa de celebrar uma ‘religião do Graal’.
Em sua dedicatória, o autor volta-se aos seus camaradas, uma vez que
“Rahn, como membro da equipe pessoal do Reichsführers-SS, queria anunciar
sua aliação à ‘Academia’ de Himmler”32 (KÖHN, 1988, p. 302, tradução nossa).
Além da conexão realizada pela dedicatória ao regime nazista, encontramos
outra menção importante a essa obra no SS-Leitheft 3 de 07 de maio de 1937.
Neste livro, Rahn fala da comovente crença de vida daqueles
homens nórdicos que, perseguidos e caçados pelos cães farejadores
romanos, fugiram para a solidão, para os Pirineus, para lá poder
viver a sua fé iluminada. Os resultados das pesquisas de Rahn são
chocantes. Lúcifer, que já foi o portador da luz da humanidade
ariana, é transformado no diabo! As grandes personalidades de
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 262
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
luz do mundo nórdico são banidas para o universo sombrio dos
demônios. O livro de Rahn, além de ser uma leitura interessante
e nova, conduz ao resgate da profunda crença de vida de nossos
ancestrais. Não é leitura para o outro mundo, é, no melhor
sentido, um manual de guerra para homens que buscam justicar
‘de onde’ e ‘para onde’ de seus caminhos33 (MÜLLER, 1997, p. 438,
tradução nossa).
No trecho acima, percebemos o quanto a escrita de Rahn vai ao encontro de
alguns topoi nazistas, isto é, a questão da raça nórdica, ariana e superior por sua
ancestralidade. A estratégia narrativa básica, em A Corte de Lucifer, ainda que
vinculada ao Parzival, se dá através da relação criada entre Lucifer (“portador
de luz”, RAHN, 2002, p. 58), a noção de herança ancestral e a pureza de sangue.
Essas construções encontram eco na forma da suástica, pois, de acordo com
autor, essa é “símbolo imemorial do sol e da salvação” (RAHN, 2002, p. 64).
Imerso na defesa do difamado Lucibel pelos judeus e papistas (RAHN, 2002,
p. 58) e no resgato da ‘verdadeira’ história dos cátaros, Rahn se coloca como
depositário de uma tradição remota ao apresentar pagãos e hereges como seus
antepassados (RAHN, 2002, p. 59) e, também, ao armar que “Vim ao mundo,
pois, na órbita do Graal. Parzival, Siegfried e Odin-Wotan são meus padrinhos”
(RAHN, 2002, p. 150)34. Toda essa ancestralidade constrói a legitimidade
necessária para que Rahn posso falar dos seus pelos laços sanguíneos que
os unem. Nesse sentido, a imagem da supremacia de raça sobre as demais é
justicada pelo “vínculo espiritual”35, pois como armado em A corte de Lucifer:
Na origem a raça é indissociável do poder dos deuses, aos quais os
seus membros estão intimamente ligados. Este vínculo espiritual
condiciona os laços do sangue e, em princípio, confere a um povo
a suprema aspiração de se constituir como uma unidade (RAHN,
2002, p. 228-229).
A unidade formulada no trecho acima só seria possível, na visão de Rahn,
quando “[...] a Europa [estivesse] livre de toda a mitologia judaica [...]” (RAHN,
2002, p. 106). Essa mesma concepção pode ser vista na entrada de 19/08/1934
do diário de Rosenberg, na qual ele arma: “[...] o ‘credo’ niceno segue se
esfacelando, realmente está mais do que na hora de terminar de vez com
essa palhaçada a m de ser possível respirar novamente o ar puro europeu”
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 263
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
(MATTHÄUS; BAJOHR, 2017, p. 159). E ainda a armação de que “[...] nos espaços
não ecoarão mais quaisquer palavras de ‘profetas’ judaicos nem canções de
Jeová”. (MATTHÄUS; BAJOHR, 2017, p. 170).
De acordo com Rahn, a unidade só é possível através da chamada ‘Corte de
Lucifer’, ou seja, “os seres humanos de sangue nórdico […] os que não imploram
ao Céu, mas que procuram corajosamente lá entrar por terem feito o que era
humanamente possível fazer para merecerem ser divinizados” (RAHN, 2002,
p. 97-98). Aqueles de sangue nórdico são para o autor os puros, como se pode
depreender do trecho a seguir:
Nem os Parsis, nem os arianos nem nós, cátaros, traímos o nosso
sangue. […] Se partes em demanda do Graal, é a pedra sagrada
dos Parsis, o Grhal, que buscas. Só aquele que já é conhecido
no céu poderá ter acesso ao Graal. Leste tudo de Wolfram von
Eschenbach. O nosso céu não é o céu de Jerusalém ou de Roma. O
nosso céu fala apenas aos Puros, isto é, aos que não são escravos
nem criaturas da espécie inferior ou mestiçada: os Aryas. Esse
nome signica “nobres e senhores”! (RAHN, 2002, p. 146)
O Graal é, pois, o bem maior a ser alcançado pelos Aryas, os puros; aqueles
que se mantiveram éis ao sangue. Isto posto, notamos que em A corte de
Lúcifer “um agravamento racista de ideias esotéricas”36 (MÜLLER, 1997, p. 441,
tradução nossa).
Para Nicholas Goodrick-Clarke, o fator principal da junção entre as concepções
de Rahn, Weisthor e Himmler reside na crença de que “uma chave secreta para
a antiga cultura pagã poderia ser encontrada no presente”37 (GOODRICK-
CLARKE, 2004, p. 189, tradução nossa). Entretanto, Müller aponta algumas
diferenciações primordiais entre as concepções de Rahn e Hitler e Himmler:
[…] no entanto, se tanto para Hitler quanto para Himmler
as principais características da raça nórdica eram o impulso
germânico de conquista, a constante disponibilidade à luta e
a dureza desumana, para Rahn os membros do sangue nórdico
estavam unidos em uma comunidade da minne, com as marcas da
conexão mística com o clã e com a natureza, cujo deus tinha sido
“brilhante, luz e cavalheiresco38 (MÜLLER, 1997, p. 441, tradução
nossa).
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 264
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
Apesar das diferenciações estabelecidas entre as percepções religiosas
dos membros nazistas, “todos concordaram mais amplamente acerca da
necessidade de encontrar um autêntico substituto ario-germânico para o
cristianismo”39 (KURLANDER, 2017, p. 172, tradução nossa). Conforme armado
por Christopher Dawson:
[N]ão é que o movimento nazi seja anti-religioso. O perigo é antes
o de ter uma religião própria que não é a da ortodoxia cristã. Esta
religião não tem o carácter dogmático do credo comunista, é uma
coisa uida e incoerente que se expressa em diferentes formas.
Há o neo-paganismo do elemento pan-germânico extremo, há
o cristianismo arianizado e nacionalizado dos cristãos alemães,
e há o idealismo racial e nacionalista que é característica do
movimento como um todo, e que, se é não religioso em sentido
estrito, tende a desenvolver uma mitologia e uma ética próprias
que podem facilmente tomar o lugar da teologia cristã e da ética
cristã40 (DAWSON, 1934, p. 8).
É nesse sentido que podemos ler A corte de Lúcifer: como uma tentativa
narrativa de estabelecer as conexões necessárias para justicar as bases de
uma religião propriamente germânica e relacionada a políticas de sangue.
Trata-se de uma agenda de cunho místico fomentada por indivíduos como
Alfred Rosenberg e Heinrich Himmler, da qual Hitler procura, publicamente,
se desvincular ao armar em 06 de setembro de 1938 que: “O nacional-
socialismo não é um movimento de culto, mas sim uma doutrina político-
popular madura proveniente de conhecimentos estritamente raciais. Não
há qualquer culto místico em seu sentido, mas o cuidado e a orientação do
povo, denido e delimitado pelo sangue” (HITLER, 1938, tradução nossa)41.
Essa tentativa de distanciamento da noção de culto místico implica colocar o
nacional-socialismo dentro do campo daquilo que deve ser considerado em sua
seriedade e retirar, assim, a aura de ocultismo que paira sobre o regime. Isso
conrma-se ao armar que pesquisadores ocultistas não devem ser tolerados
dentro do movimento, mencionando inclusive não fazer parte do programa
“a ancestralidade secreta, mas o conhecimento claro e, portanto, a conssão
pública”42. Desta maneira, Hitler atribuí à Ahnenerbe um caráter cientíco e aos
seus membros, por extensão, o caráter de pesquisadores. Reivindicar o status
de ciência a um movimento de cunho majoritariamente mítico é, portanto,
uma forma de construir a legitimidade da noção de raça dentro do regime: “[...]
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 265
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
mediante a totalização e a politização do Todo, a ciência” (LACOUE-LABARTHE;
NANCY, 2002, p. 26).
Se por um lado A corte de Lucifer parece reproduzir uma mentalidade corrente
entre os nazistas, duas resenhas do período delineiam outras questões sobre o
material. Karl Bornhausen (1937), em resenha ao Zeitschrift für Theologie und
Kirche, aponta para o fato de que, academicamente, há muitos erros no livro,
contudo, ele seria bastante real, por reetir o modo de pensar da crença SS.
Tratar-se-ia, portanto, de um excelente livro para garotos (para moleques). Na
mesma direção vai a crítica de Jacques Breitenbucher (1938, p. 341, tradução
nossa) ao Books Abroad, ao destacar que “o leitor médio achá-lo-á muito
acadêmico, o acadêmico se oporá à quantidade considerável de cção”43.
Reexões nais
O primeiro livro de Rahn, entendido como um entusiasmo proto-histórico,
só chama a atenção de Himmler por esse coadunar com algumas das ideias nele
apresentadas, visto que essas são produtos de concepções que já circulavam
acerca da ligação graal e herança ancestral. A segunda obra de Rahn, ainda que
dê sequência às questões apresentadas na primeira, enquadra-se na ideologia
nazista trazendo novas conexões, principalmente aquelas baseadas na ideia da
pureza do sangue já percebidas nas falas atribuídas a Hitler acerca do Graal na
obra de Richard Wagner.
Revisitar o passado não é revisionismo; é um ato de vasculhar as fontes a
procura desses vestígios do outrora, respeitando os limites por elas impostos.
Revisionismo é uso indevido da fonte; é apagar o compromisso histórico.
Revisionismo deveria ser encarado como crime, pois coloca na boca das
testemunhas – as fontes – palavras que não pronunciaram. O jogo entre
entusiasmo proto-histórico e nazismo se mostra, em Rahn, perigoso, pois as
imagens criadas distorcem o passado ao criar um presentismo mítico baseado
em ideologias raciais.
Em um momento em que se discutem questões relativas à utilidade e
“relevância” das pesquisas na área de Humanas desenvolvidas no Brasil, o que
ainda devemos responder é: porque analisar essas releituras, essas apropriações,
é importante? A resposta é bem simples! Na condição de medievalistas, temos
o dever de estar atentos a toda e qualquer instrumentalização desse passado,
visto que elas ganham força e circulam como fatos dados, como verdades
graças ao alcance das mídias sociais. Desconstruir senso comum e construir
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 266
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
saberes se tornou uma atividade cotidiana desse medievalismo digital, que vai
às redes combativamente para desdizer o mau uso da Idade Média por grupos
distintos. O passado pode ser perigoso se forjado nas mãos daqueles que não
respeitam as fontes e manipulam aquilo que elas dizem. O que a análise crítica
das obras de Rahn e a comparação com discursos do período acerca do Parzival/
Parsifal nos mostram é que a apropriação ideológica de uma narrativa medieval,
comprometida oras com uma agenda pessoal oras com a agenda de regimes
políticos, é, acima de tudo, manipulação, deturpação e lixo tóxico (referência a
GEARY, 2005), do qual precisamos nos desvincular.
Referências
ALLCHIN, Douglas. Pseudohistory and pseudoscience. Science & Education,
[Genebra], v. 13, p. 179-195, 2004.
BERNADAC, Christian. Le mystère Otto Rahn: du catharisme au nazisme. Paris:
France-Empire, 1978.
BORNHAUSEN, Karl. Review: Zeitschrift für Theologie und Kirche, Neue Folge, [S.
l.], v. 18, n. 45, p. 287-288, 1937.
BREITENBUCHER, Jacques. Review: Luzifers Hofgesind by Otto Rahn. Books
Abroad, [S. l.], v. 12, n. 3, p. 341, 1938.
BRÜNNER, Thomas. Das Ahnenerbe der SS. Berlim: Lemo, 14 sep. 2007. Disponível
em: https://www.dhm.de/lemo/kapitel/ns-regime/innenpolitik/ahnenerbe.
Acesso em: 18 jan. 2019.
CHARNEY, Noah. Hitler’s hunt for the Holy Grail and the Ghent altarpiece. Daily
Beast, [S. l.], 11 jul. 2017. Disponível em: https://www.thedailybeast.com/hitlers-
hunt-for-the-holy-grail-and-the-ghent-altarpiece. Acesso em: 03 jan. 2019.
DAWSON, Christopher. Religion and the totalitarian state. The Criterion, Belo
Horizonte, v. 14 n. 34, p. 1-16, 1934.
ECO, Umberto. O pêndulo de Foucault. Tradução de Ivo Barroso. 5. ed. Rio de
Janeiro: BestBolso, 2016.
EGELER, Matthias. Heiliger Gral: „Jeder sieht im Gral, was er will“. [Entrevista
cedida a] Christina Rietz. Zeit Online, [Berlim], v. 39, 2019. Disponível em: https://
www.zeit.de/2019/39/heiliger-gral-matthias-egeler/komplettansicht?print.
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 267
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
Acesso em: 21 out. 2019.
FRANK, Hans. Im Angesicht des Galgens: Deutung Hitlers und seiner Zeit auf
Grund eigener Erlebnisse und Erkenntnisse. 2. ed. Neuhaus: [s.n.], 1955.
FRANZ, Sandra. Die Religion des Grals: Entwürfe arteigener Religiosität im
Spektrum von völkischer Bewegung, Lebensreform, Okkultismus, Neuheidentum
und Jugendbewegung (1871-1945). Schwalbach: Wochenschau, 2009.
FRIEDRICH, Sven. Der Gral unter dem Hakenkreuz - zur Bedeutung und Funktion
des Grals-Symbols für die NS-Ideologie. In: FRIEDRICH, Sven (org.). Wer ist der
Gral? Geschichte und Wirkung eines Mythos. Berlin: Deutscher Kunstverlag,
2008. p. 27-37. Disponível em: http://friedrich-bayreuth.info/data/documents/
GralHakenkreuz_Ms.pdf . Acesso em: 3 jan.2019.
GADAL, Antonin. [S. l.], 2020. Disponível em: http://www.gadal-catharisme.org.
Acesso em: 2 jan.2020.
GEARY, Patrick J. O mito das nações. a invenção do nacionalismo. Tradução de
Fábio Pinto. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2005.
GOODRICK-CLARKE, Nicholas. The occult roots of Nazism: secret aryan cults and
their inuence on nazi ideology. Londres: Tauris Parke Paperbacks, 2004.
GRADDON, Nigel. Otto Rahn and the quest for the grail: the amazing life of the
real “Indiana Jones”. [Illinois]: Adventures Unlimited Press, 2013.
HAKL, Hans Thomas. Nationalsozialismus und Okkultismus. ARIES, [S. l.], v. 21,
p. 63-97, 1998. Disponível em: http://d.mp3vhs.de/B/A/A17.pdf. Acesso em: 10
jan. 2019.
HITLER, Adolf. Rede auf der Kulturtagung des Parteitages der NSDAP in Nürnberg.
Alexandria: World Future Fund, 6 set. 1938. Disponível em: http://www.
worldfuturefund.org/wffmaster/Reading/Hitler%20Speeches/Hitler%20on%20
Art%201938.09.06%20G.htm. Acesso em: 18 jan. 2019.
KAUFMAN, Amy S.; STURTEVANT, Paul B. The devil’s historians: how modern
extremists abuse the medieval past. Toronto: University of Toronto Press, 2020.
KINDERMAN, William. Exploring the “temple of initiation” on Thomas
Mann’s magic mountain: wagnerian afnities and “politically suspect” music.
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 268
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
Monatshefte, Madison, v.109, n. 3, p. 404-429, 2017.
KLEMPERER, Victor. LTI: a linguagem do terceiro reich. Tradução de Miriam
Bettina Paulina Oeslner. Rio de Janeiro: Contraponto, 2009.
KÖHN, Rolf. Eine deutsche Mystikation der Albigenser. Otto Rahns Kreuzzug
gegen den Gral (1933). In: KÜHNEL, Jürgen et al. (org.). Mittelalter-Rezeption III:
gesammelte Vorträge des Salzburger Symposiums „Mittelalter, Massenmedien,
neue Mythen“. Göppingen: Kümmerle, 1988. p. 295-311.
KURLANDER, Eric. Hitler’s monster: a supernatural history of the Third Reich.
New Haven: Yale University Press, 2017.
LACOUE-LABARTHE, Philippe; NANCY, Jean-Luc. O mito nazista. Tradução de
Márcio Seligmann-Silva. São Paulo: Iluminuras, 2002.
LANGE, Hans-Jürgen. Rahn und die Suche nach dem Gral: Biographien und
Quellen. Engerda: Arun, 1999.
LANZINGER, Hubert. Der Bannenträger. Galleria d’Arte Thule. Disponível em:
http://galleria.thule-italia.com/hubert-lanzinger/?lang=de. Acesso em: 19 out.
2019.
LEWALTER, Hannes. Der Kampf ist hart. Wir sind härter!: die Darstellung deutscher
Soldaten im Spiegel der Bildpropaganda beider Weltkriege und die Konstruktion
des „neuen Helden“. 2010. Tese (Doutorado) - Fakultät für Philosophie und
Geschichte da Eberhard-Karls-Universität zu Tübingen, Tübingen, 2010.
LINSE, Ulrich. Der Chiemsee-Goldkessel – ein völkisch-religiöses Kultobjekt aus
der NS-Zeit? The State of the Affairs. In: PUSCHNER, Uwe; VOLLNHALS, Clemens
(org.). Die völkisch-religiöse Bewegung im Nationalsozialismus: Eine Beziehungs-
und Koniktgeschichte. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 2012. p. 527–568.
MATTHÄUS, Jürgen; BAJOHR, Frank (org.). Os diários de Alfred Rosenberg (1934-
1944). Tradução de Claudia Abeling. São Paulo: Planeta, 2017.
MERTENS, Volker. Der Gral: Mythos und Literatur. Stuttgart: Philipp Reclam,
2004.
MÜLLER, Daniela. Otto Rahn und die Rezeption des Katharismus im Spiegel
der nationalsozialistischen Propaganda. Zeitschrift der Savigny-Stiftung für
Rechtsgeschichte, Germanistische Abteilung, v. l4, p. 431-443, 1997.
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 269
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
OBITUÁRIO de Otto Rahn. Völkische Beobachter, Alemanha, 18 maio 1939.
Disponível em: http://otto-rahn.com/rahns-death-notice. Acesso em: 3 jan.
2020.
OTTO RAHN MEMORIAL. [S. l.], 2019. Disponível em: https://otto-rahn.com/de.
Acesso em: 3 jan. 2019.
PFANDL, Ludwig. Review. Die Literarische Welt, Jahrgang, v. 9, n. 39, s. p., sep.
1933.
POLIAKOV, Léon. O mito ariano: ensaios sobre as fontes do racismo e dos
nacionalismos. Tradução de Luiz João Gaio. São Paulo: Perspectiva, 1974.
RAHN, Otto. [A renúncia de Rahn da carta da SS]. Destinatário: SS-
obersturmfuhrer. [S. l.], 25 fev. 1939. 1 carta. Disponível em: http://otto-rahn.
com/rahns-resignation-ss-letter. Acesso em:3 jan. 2020.
RAHN, Otto. A corte de Lucifer: viagem ao coração da mais alta espiritualidade
europeia. Tradução de António Carlos Rangel. Lisboa: Hugin, 2002.
RAHN, Otto. Cruzada contra o graal: grandeza e queda dos Albigenses. Tradução
de António Carlos Rangel. Lisboa: Hugin, 2000a.
RAHN, Otto. Kreuzzug gegen den Gral: die Geschichte der Albigenser. Engerda:
Arun, 2000b.
RAHN, Otto. Luzifers Hofgesind: eine Reise zu den guten Geistern Europas.
Dresden: Zeitenwende, 2004.
RAUSCHNING, Hermann. Gespräche mit Hitler. Wien: Europa Verlag, 2005.
RAVENSCROFT, Trevor. The spear of destiny: the occult power behind the spear
which pierced the side of Christ. Neville: Spearman Publishers, 1972. Disponível em:
https://archive.org/details/TheSpearOfDestinyByTrevorRavenscroftWithCover .
Acesso em: 3 jan. 2019.
ROSENBERG, Alfred. Der Mythus des 20. Jahrhunderts: eine Wertung der seelisch-
geistigen Gestaltenkämpfe unsere Zeit. 146. ed. München: Hoheneichen Verlag,
1939.
SIM, Kevin. Hitler’s search for the Holy Grail. UK: Maya Vision International,
57min, 1999. Disponível em: https://www.imdb.com/title/tt0274552/. Acessado
em:06 nov. 2020.
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 270
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
STANLEY, Richard. The Secret Glory: The story of SS ofcer Otto Rahn and his
search for the Holy Grail. UK: Shadow Theatre Films, 90min, 2001. Disponível em:
https://www.imdb.com/title/tt0307431/. Acessado em: 06 nov. 2020.
STASSEN, Franz. Parsifal 15 Bilder zu Richard Wagner‘s Bühnenweihfestspiel. 1901.
Disponível em: https://global.oup.com/us/companion.websites/9780195366921/
plates/plate2/ Acesso em: 21 out. 2019.
STAUBER, Karl. “Es lebe Deutschland”. Berlim: Deutsches Pressemuseum,
[1933]. Disponível em: http://pressechronik1933.dpmu.de/ns-plakat-es-lebe-
deutschland/. Acesso em: 21 out. 2019.
STRUBE, Julia. Die Erndung des esoterischen Nationalsozialismus im Zeichen
der Schwarzen Sonne. Zeitschrift für Religionswissenschaft, [Berlim], v. 20, n. 2, p.
223-268, 2012.
TIETZ, Manfred. Guiot de Provins. In: LEXIKON des Mittelalters. Vol. IV. München:
DTV, 2003. p. 1787.
VELEZ, Pedro. Constituição e religiosidade da/na ordem constitucional do império
nacional-socialista. JANUS.NET e-journal of International Relations, Lisboa, v. 8,
n. 1, maio/out. 2017. Disponível em: http://hdl.handle.net/11144/3036. Acesso
em: 18 jan. 2019.
VOGLER, Mike. Hitler, Himmler und der Heilige Gral. Dresden: s. ed, 2015.
WELZBACHER, Christian. Ordensburg und Völkermord: zur Kunst und
Geschichtspolitik der SS. In: REUDENBACH, Bruno; STEINKAMP, Maike.
Mittelalterbilder im Nationalsozialismus. Oldenbourg: Akademie, 2013. p. 171–
186.
WOLFENSTEIN. Madison: id Software: Raven Software, 2009. 1 jogo eletrônico.
Disponível em: https://www.metacritic.com/game/pc/wolfenstein. Acesso em:
18 jan. 2019.
WOLFENSTEIN: the old blood. Uppsala: MachineGames, 2015. 1 jogo eletrônico.
Disponível em: https://www.metacritic.com/game/pc/wolfenstein-the-old-
blood. Acesso em: 18 jan. 2019.
WOLFF, Ludwig. Review Otto Rahn, Kreuzzug gegen den Gral. Zeitschrift für
Romanische Philologie, v. 59, p. 115-118, 1939.
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 271
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
WOLFRAM VON ESCHENBACH. Parzival. Auf der Grundlage der Handschrift D.
Organizado por Joachim Bumke. Tübingen: Max Niemeyer, 2008.
WOLLENBERG, Daniel. Medieval Imagery in today’s politics. Leeds: Arc Humanities
Press, 2018.
Notas
1Professora Adjunta da Universidade Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul. Doutora
em Germanistik/Ältere Deutsche Literatur (Germanística/Literatura Alemã Antiga)
pela Otto-Friedrich-Universität Bamberg, Alemanha (2011). Membro do Zentrum
für Mittelalterstudien (Zemas) da Otto-Friedrich-Universität Bamberg. O texto aqui
apresentado é uma versão ampliada e revisada da palestra de abertura do evento V
Jornada de Debates do Programa de Mestrado em Letras (PROMEL/UFSJ) em parceria com
o Grupo de Pesquisa Linguagens e Discursos da História (LIEDH/UFRJ) “Engajamento
em foco: língua, discursos históricos e representações sociais” em outubro de 2019.
2Cf. Ravenscroft (1972), Graddon (2013) ou ainda Vogler (2015). Otto Rahn é mencionado
na obra de Umberto Eco, O pêndulo de Foucault, como “um brilhante ocial, [...], um
Obersturmbannführer da SS que dedicou a vida a meditar com alto rigor sobre a natureza
européia e ariana do Graal” (ECO, 2016, p. 154).
3Mencionamos como exemplos: Sim (1999) e Stanley (2001).
4Ver por exemplo: Charney (2017). Há inclusive uma página dedicada à vida e obra de
Otto Rahn (OTTO RAHN MEMORIAL, 2019).
5Cf. Wolfenstein (2009) e Wolfenstein (2015).
6Como há edições em língua portuguesa das obras, optaremos por citar no corpo do texto
as traduções dessas realizadas por António Carlos Rangel. Todavia, destacamos que as
edições em língua portuguesa foram realizadas da versão francesa lançada logo a seguir
e alterada em determinados trechos, principalmente nas notas de rodapés. Sendo assim,
optamos pela leitura da obra em alemão e a tradução, em caso de compatibilidade, será
da versão portuguesa.
7Alternaremos as graas para lidar com obras diferentes: Parzival (1200-1210) refere-se
à obra em médio-alto-alemão atribuída a Wolfram von Eschenbach; já Parsifal (1882)
trata-se do drama musical de Richard Wagner. Ao longo desse artigo, ao citarmos o
Parzival o faremos tendo como base a edição organizada por Joachim Bumke (Wolfram
von Eschenbach, 2008); a partir daqui Pz nas citações.
8A base para compreensão de mito e ideologia encontra-se em Lacoue-Labarthe e Nancy
(2002).
9No original: “[…] hilfreich, aber von schwankender Qualität”.
10Uma cópia da carta encontra-se disponível em Rahn (1939).
11Na biograa elaborada por Lange, a notícia foi veiculada em 25 de maio de 1939
no jornal Das Schwarze Korps (LANGE, 1999, p. 201). Na página dedicada ao autor, o
obituário é de 18 de maio de 1939 no Völkische Beobachter (OBITUÁRIO..., 1939).
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 272
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
12No original: “Bei einem Schneesturm in den Bergen”.
13Em O pêndulo de Foucault há a reverberação dessas especulações: “não quero dizer
como e porque perdeu a vida em 1939, mas há quem arme... bem, podemos nos
esquecer do que aconteceu a Ingolf?” (ECO, 2016, p.154). Sobre o desaparecimento de
Ingolf encontramos a seguinte menção: “Desaparecera, literalmente. [...] A polícia local
telegrafara a Paris: desaparecido. Declaração de morte presuntiva.” (ECO; 2016, p. 140).
14A visão de uma nova religião para a Alemanha, que não mais se ligasse à Roma está
presente também em trechos do diário de Rosenberg, como em: “O Cristianismo romano
está construído sob medo e humilhação, o nacional-socialismo sobre coragem e orgulho
(MATTHÄUS; BAJOHR, 2017, p. 169).
15Sobre a relação com textos oriundos do universo francês cf. Linse (2012, p. 552-553).
16No original: “n-de-siécle esoteric, New Age, and völkisch-religious revival”.
17O termo pseudo-história (Pseudo-History) pegamos de empréstimo de Allchin (2004,
p. 186-187), que o dene da seguinte forma: “O conceito de pseudo-história ressalta o
papel da lição histórica implícita, mesmo quando muitos dos fatos básicos são conáveis.
O viés ou agenda também pode certamente ser losóco ou cultural, nem sempre
descaradamente ideológico. Ademais, a pseudo-história não precisa ser deliberada ou
intencional, podendo ainda resultar de negligência ou até mesmo ingenuidade (No
original: “The concept of pseudohistory underscores the role of the implicit historical
lesson, even when many of the basic facts are reliable. The bias or agenda may surely
also be philosophical or cultural, not always blatantly ideological. Also, pseudohistory
need not be deliberate or intentional. It may result from negligence or even naivety”).
18No original: “Sie müssen übrigens den Parsifal ganz anders verstehen, als er gemeinhin
interpretiert wird. [...] Nicht die christliche Schopenhauersche Mitleidsreligion wird
verherrlicht, sondern das reine, adelige Blut, das in seiner Reinheit zuhüten und zu
verherrlichen, sich die Brüderschaft der Wissenden zusammengefunden hat. […] das
reine Blut. Wir alle leiden an dem Siechtum des gemischten, verdorbenen Blutes. […]
Und daß dieses Mitleid nur eine Handlung kennt, den Kranken sterben zu lassen. Das
ewige Leben, das der Gral verleiht, gilt nur den wirklichen Reinen, Adligen!”
19No original: “Aus Parsifal baue ich mir meine Religion, Gottesdienst in feierlicher Form
ohne theologisches Parteiengezänk. Mit einem brüderlichen Grundton der echten Liebe
ohne Demutstheater und leeres Formelgeplapper. Ohne diese ekelhaften Kutten und
Weiberröcke. Im Heldengewand allein kann man Gott dienen”.
20No original: “Daß Rahns Buch mehr sein will als eine forcierte historische Ausdeutung
des literarischen Stoffes”.
21Wolfram atribui a tradução para o francês de uma narrativa original à maestria do
provençal Kyot (Pz 416, 20-30), que teria encontrado em Toledo uma primeira versão
dessa obra em escrita pagã (Pz 453, 11-14). O próprio Kyot conheceria a obra de Chrétien
de Troyes, mas esse não a teria narrado corretamente; a ponto de irritar aquele (Pz 827,
1-4).
22Tietz aponta em sua análise para o fato de que tal tentativa de identicação entre as
duas personagens falha (TIETZ, 2003, p. 1787).
23No original: “Während für Hitler das im Gralskelch aufbewahrte Blut nicht das Blut
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 273
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
Christi, sondern offensichtlich das nordische Blut war), so blieb für Rahn der Gral immer
der aus der Krone Luzifers gefallene Stein, Symbol eines tieferen, mystischen Wissens
und damit Symbol der Minne, da Minne Erinnern“ heißt”.
24No original: “[…] erschien der Gral im Sinne der NS-Rassenideologie […] als geeignetes
positives Kultsymbol für die völkische Utopie einer neuen Religion des reinen Blutes”.
25No original: “Rahns Buch ist gründlich verfehlt und wäre besser nie geschrieben
worden. Diese Feststellung ist umso mehr zu bedauern, als sie einem Autor gegenüber
gemacht werden muß, dessen wahrhaft begeisterte Hingabe an sein Thema ohne Maß
und Grenze ist und dessen darstellerische Fähigkeiten ihn recht wohl für geeignet
erweisen, derartige Stoffe in Angriff zu nehmen”.
26No original: “R. versucht es gar nicht, den Eigengehalt des Wolframschen Parzival und
der anderen Gralsdichtungen festzustellen, und läßt in merkwürdiger Weise das Gefühl
für den Abstand verschiedener geistiger Welten und verschiedener Völker vermissen.
[…] Aber man muß den Laien, an den sich das Buch mit seinem Textteil vor allem
wendet (dazu ein umfangreicher wissenschaftlicher Anmerkungsteil), dringend davor
warnen, die neuen Gralsoffenbarungen als gesicherte Ergebnisse der Wissenschaft zu
nehmen. Wie weit sich Erinnerungen an die Katharer nachträglich mit Gralsmotiven
verschmolzen haben, ist eine andere Frage”.
27No original: “Es scheint eine Identizierung stattgefunden zu haben Hitlers mit Parsifal
als dem einsamen Helden, der versucht, die Welt zu ändern, und das mit göttlichem
Segen oder zumindest dem Segen der "Vorsehung".
28No original: “dient vielmehr auch als Zeichen eines neuen Glaubens an
pseudogermanische Traditionen einer halbreligiösen Geschichtsmythologie
29Místico francês, dedicava-se ao estudo do catarismo no sul da França. Bem como
acontece com Otto Rahn há uma página dedica à sua vida e obra cf. (GADAL, 2020).
30No original: “tiefgehende Afnitäten zwischen Rahns Neo-Katharismus und Himmlers
‘germanischem Gottglauben’. Denn beide teilen die Voraussetzung von einem Fortleben
des keltisch-germanischen Kultes im christlichen Mittelalter ”.
31No original: “Krypto-Historie
32No original: “weil Rahn als Mitglied im Persönlichen Stab des Reichsführers-SS seine
Zugehörigkeit zu Himmlers 'Akademie' kundtun wollte”.
33No original: “In diesem Buche spricht Rahn von dem ergreifenden Lebensglauben
jener nordischen Menschen, die sich, verfolgt und gehetzt von den Spürhunden
Roms, in die Einsamkeit, in die Pyrenäen üchteten, um dort ihrem lichten Glauben
leben zu können. Erschütternd sind die Ergebnisse der Forschungen Rahns. Luzifer,
einst der Lichtbringer der arischen Menschheit, wird zum Teufel gemacht! Die großen
Lichtgestalten der nordischen Welt werden in das Schattenreich der Dämonen verbannt.
Rahns Buch wird über eine interessante und neuartige Lektüre hinaus zur Ehrenrettung
des tiefen Lebensglaubens unserer Ahnen. Es ist keine Lektüre für Jenseitige', es ist im
besten Sinne ein Kampfbuch für Männer, die sich Rechenschaft über das Woher und
Wohin ihres Weges zu geben haben”.
34Em LTI: A Linguagem do terceiro Reich, Victor Klemperer arma: “Tudo que fosse europeu
procedia dos nórdicos, ou dos germanonórdicos, e todo elemento danoso ou ameaçador
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 274
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
provinha da Síria e da Palestina. Como não havia jeito de recusar as origens gregas e
cristãs da cultura europeia, então os helenos e até mesmo Cristo tinham ancestrais
germanonórdicos, com olhos azuis e cabelos louros. Tudo o que, no cristianismo, não
estivesse de acordo nem com a ética nem com a doutrina do Estado nazista era suprimido
como inuência judaica, síria ou até romana” (KLEMPERER, 2009, p. 253-254).
35Percebemos aqui ecos do conceito de Rassenseele de Alfred Rosenberg: “Mas os valores
da alma racial, que são as forças motrizes por trás da nova imagem do mundo, não
chegaram a constituir nem mesmo uma consciência viva. Alma, no entanto, signica
raça vista de dentro. E, inversamente, a raça é o lado externo de uma alma” (“Aber die
Werte der Rassenseele, die als treibende Mächte hinter dem neuen Weltbild stehen,
sind noch nicht lebendiges Bewußtsein geworden. Seele aber bedeutet Rasse von innen
gesehen. Und umgekehrt ist Rasse die Außenseite einer Seele”, ROSENBERG, 1939, p. 2).
Denominamos essa relação de proximidade com o conceito rosenbergeriano de eco, pois
se trata de uma hipótese, visto que a obra tinha muita circulação no período (o volume
consultado data de 1939 e seria a 143-146 edição com tiragem de 733 000 exemplares).
E como armado por Klemperer “O nazismo se embrenhou na carne e no sangue das
massas por meio de palavras, expressões e frases impostas pela repetição, milhares de
vezes, e aceitas inconsciente e mecanicamente” (KLEMPERER, 2009, p. 55).
36No original: “eine rassistische Verschärfung esoterischer Ideen”.
37No original: “a secret key to ancient pagan culture could be found in the present”.
38No original: “[…] jedoch, wenn für Hitler wie auch für Himmler die Hauptcharakteristika
der nordischen Rasse der germanische Eroberungstrieb, die ständige Kampfbereitschaft
und die unmenschliche Härte waren, waren für Rahn die Angehörigen des nordischen
Bluts in einer Minnegemeinschaft zusammengeschlossen, mit den Kennzeichen eher
mystischer Verbundenheit mit der Sippe und der Natur, deren Gott „hell, licht und
ritterlich“ gewesen war”.
39No original: “they all agreed more broadly on the need to nd an authentic Ario-
Germanic substitute for Christianity”.
40No original: “It is not that the Nazi movement is anti-religious. The danger is rather
that it has a religion of its own which is not that of Christian orthodoxy. This religion
has not the dogmatic character of the Communist creed, it is a uid and incoherent
thing which expresses itself in several different forms. There is the neo-paganism of
the extreme pan-German element, there is the Aryanized and nationalized Christianity
of the German Christians, and there is the racial and nationalistic idealism which is
characteristic of the movement as a whole, and which, if not religious in the strict sense,
tends to develop a mythology and ethic of its own that may easily take the place of
Christian theology and Christian ethics” (tradução de VELEZ, 2017, p. 147).
41No original: “[...] der Nationalsozialismus ist eben keine kultische Bewegung, sondern
eine aus ausschließlich rassischen Erkenntnissen erwachsene völkisch-politische
Lehre. In ihrem Sinn liegt kein mystischer Kult, sondern die Pege und Führung des
blutbestimmten und -bedingten Volkes” (HITLER, 1938).
42No original: “das geheimnisvolle Ahnen, sondern das klare Erkennen und damit das
offene Bekenntnis”. O termo Ahnen faria uma provável menção à Ahnenerbe (Herança
Ancestral): sociedade atribuída a Heinrich Himmler. (BRÜNNER, 2007).
Antíteses, Londrina, v.13, n. 26, p. 250-275, jul-dez. 2020 } 275
Daniele Gallindo-Gonçalves
A busca pelo Graal nos escritos de Otto
Rahn: do entusiasmo pseudo-historiográco
à ideologia nazista
Dossiê
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}}
43No original: “the average reader will nd it too scholarly, the scholar will object to the
considerable amount of ction”.
Recebido em 08/01/2020 - Aprovado em 22/10/2020
Article
Full-text available
The idea that there has been some kind of “esoteric” National Socialism has spread far and wide, particularly since the 1960s, becoming a significant topos in contemporary religious and political discourse. Not only the mainstream and academic press, but far-right and neo-Nazi circles maintain that there has been an “esoteric SS” still operating under the sign of the so-called “Black Sun,” combatting the “forces of evil.” The symbol of the Black Sun has become particularly popular since the 1990s, and other central topoi of “esoteric neo-Nazism” have become recognizable in popular culture today. This article will re-construct the genealogy of esoteric neo-Nazism and investigate the question of the alleged “esoteric” qualities of National Socialism. It will be shown that the “esoteric” content of National Socialism is to be regarded as a later, postwar invention without a historical foundation in the Third Reich.
Book
The definitive history of the supernatural in Nazi Germany, exploring the occult ideas, esoteric sciences, and pagan religions touted by the Third Reich in the service of power The Nazi fascination with the occult is legendary, yet today it is often dismissed as Himmler's personal obsession or wildly overstated for its novelty. Preposterous though it was, however, supernatural thinking was inextricable from the Nazi project. The regime enlisted astrology and the paranormal, paganism, Indo-Aryan mythology, witchcraft, miracle weapons, and the lost kingdom of Atlantis in reimagining German politics and society and recasting German science and religion. In this eye-opening history, Eric Kurlander reveals how the Third Reich's relationship to the supernatural was far from straightforward. Even as popular occultism and superstition were intermittently rooted out, suppressed, and outlawed, the Nazis drew upon a wide variety of occult practices and esoteric sciences to gain power, shape propaganda and policy, and pursue their dreams of racial utopia and empire.
LTI: a linguagem do terceiro reich. Tradução de Miriam Bettina Paulina Oeslner
  • Victor Klemperer
KLEMPERER, Victor. LTI: a linguagem do terceiro reich. Tradução de Miriam Bettina Paulina Oeslner. Rio de Janeiro: Contraponto, 2009.
Eine deutsche Mystifikation der Albigenser. Otto Rahns Kreuzzug gegen den Gral (1933)
  • Rolf Köhn
KÖHN, Rolf. Eine deutsche Mystifikation der Albigenser. Otto Rahns Kreuzzug gegen den Gral (1933). In: KÜHNEL, Jürgen et al. (org.). Mittelalter-Rezeption III: gesammelte Vorträge des Salzburger Symposiums "Mittelalter, Massenmedien, neue Mythen". Göppingen: Kümmerle, 1988. p. 295-311.
Galleria d'Arte Thule
  • Hubert Lanzinger
  • Bannenträger
LANZINGER, Hubert. Der Bannenträger. Galleria d'Arte Thule. Disponível em: http://galleria.thule-italia.com/hubert-lanzinger/?lang=de. Acesso em: 19 out.
Wir sind härter!: die Darstellung deutscher Soldaten im Spiegel der Bildpropaganda beider Weltkriege und die Konstruktion des
  • Hannes Der Lewalter
  • Kampf
  • Hart
LEWALTER, Hannes. Der Kampf ist hart. Wir sind härter!: die Darstellung deutscher Soldaten im Spiegel der Bildpropaganda beider Weltkriege und die Konstruktion des "neuen Helden". 2010. Tese (Doutorado) -Fakultät für Philosophie und Geschichte da Eberhard-Karls-Universität zu Tübingen, Tübingen, 2010.
A renúncia de Rahn da carta da SS
  • Otto Rahn
RAHN, Otto. [A renúncia de Rahn da carta da SS]. Destinatário: SSobersturmfuhrer. [S. l.], 25 fev. 1939. 1 carta. Disponível em: http://otto-rahn.