Até a década de 1960, a pecuária de brasileira baseava-se em pastagens naturais, principalmente, em áreas de formações savânicas e campestres. A partir daí, ocorreu uma expansão em áreas com pastagens cultivadas, principalmente, nos biomas Cerrado e Floresta Amazônica, refletindo em aumento de produtividade, para suprir as crescentes demandas por produtos de origem animal, especialmente, carne e leite. O processo de estabelecimento das primeiras pastagens cultivadas nestes biomas, entretanto, ocorreu com a derrubada da vegetação nativa por meio do uso do fogo. Este processo permitiu o desenvolvimento de sistemas extensivos de produção pecuária, baseados na fertilidade natural, pelos altos teores de matéria orgânica do solo, e pelas cinzas provenientes da queima da vegetação nativa. Estes sistemas produtivos, meramente extrativistas, caracterizam-se pelo mínimo uso de insumos e tecnologias, apresentando, ao longo do tempo, baixos índices zootécnicos e contribuindo para a degradação dos recursos naturais. A perda gradual da capacidade produtiva destas pastagens, após alguns anos de sua implantação, processo conhecido como degradação das pastagens, tem sido uma constante nesses agroecossistemas, nos quais, segundo Martins et al. (1996), a produtividade de carne sofre uma redução da ordem de 6% ao ano. A partir da década de 1980 e, principalmente, na década de 1990 e mais recentemente, a renovação de pastagens degradadas e a abertura de novas áreas ocorreu com a introdução do braquiarão (Brachiaria brizantha cv. Marandu) e, em áreas restritas, por novas cultivares de P. maximum e de Andropogon gayanus. Até o final da década de 1990, estimativas realizadas pela Embrapa, na região do Cerrado, indicavam que mais de dois terços das pastagens cultivadas apresentavam algum grau de degradação, com capacidade de suporte inferior a 0,8 UA/ha/ano (Barcellos, 1996; Sano et al., 1999; Zimmer & Euclides, 2000). Nessas áreas, considerando-se somente a fase de engorda, a produtividade de carne encontrava-se em torno de 2 arrobas/ha/ano, enquanto que, em áreas de pastagens em bom estado de conservação, podia-se atingir, em média, 16 arrobas/ha/ano (Kichel et al., 1999). Já para a região da Amazônia brasileira, estimativas da década de 1990 indicavam que metade da área com pastagens cultivadas encontrava-se degradada ou em degradação (Serrão et al., 1993). Segundo Dias-Filho (2007), o estabelecimento incorreto e o manejo inadequado da pastagem já estabelecida têm sido apontados como os principais fatores de influência antrópica direta que contribuem no processo de degradação das pastagens. Pastagens degradadas ensejam baixa produtividade forrageira e diminuição da matéria orgânica do solo e, consequentemente, menor produtividade animal e taxa de desfrute, características que contribuem para aumentar a emissão de gases de efeito estufa por unidade de produto. Este cenário foi determinante para que, a partir da década de 2000, o Brasil sofresse forte pressão internacional, com barreiras não-tarifárias impostas à carne bovina brasileira. Entretanto, estimativas mais recentes, citadas por Macedo (2005), indicavam que a lotação das pastagens cultivadas do Cerrado aumentou, no período de 1995 a 2005, passando de 0,9 a 1,0 cabeça/ha para 1,15 a 1,20 cabeça/ha, sendo esse fato associado ao aumento da taxa de desfrute, de 12%, na década de 1970, para atuais 22%.
Para a próxima década, Ferraz (2008) prevê um cenário de redução das áreas de pastagens no Brasil, devido ao aumento nas demandas por lavouras para produção de grãos e de biocombustíveis, entretanto, com manutenção ou ligeiro aumento do rebanho. Esta tendência é justificada pelo maior uso de tecnologias e, consequentemente, maior produtividade das pastagens remanescentes, em decorrência da combinação de maior uso de insumos na manutenção das pastagens, da melhoria de técnicas de manejo e incremento da suplementação alimentar dos rebanhos, além de um aumento expressivo de sistemas de
integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF). Assim, a partir de tecnologias já existentes e em desenvolvimento, que permitam uma melhoria na produtividade animal, incluindo a recuperação de pastagens, é possível contribuir para mitigação da emissão de gases de efeito estufa. Atualmente, o governo brasileiro instituiu, a partir de compromisso assumido na Conferência das Partes (COP-15), em 2009, um programa para diminuição voluntária das emissões de gases de efeito estufa do setor da agropecuária, denominado, Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono). Este programa disponibilizará crédito, dentre outros, para recuperação de 15 milhões de hectares com pastagens degradadas, até 2020 (Brasil, 2010), visando à melhoria da sustentabilidade da pecuária brasileira.