Content uploaded by Juan Bernardo Montoya-Mogollón
Author content
All content in this area was uploaded by Juan Bernardo Montoya-Mogollón on Jan 20, 2021
Content may be subject to copyright.
93
São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
DIPLOMÁTICA DE DOCUMENTOS NATO DIGITAIS: A CONSIDERAÇÃO DA
FORMA DOCUMENTAL NO AMBIENTE DIGITAL1*
Corinne Rogers I Escola de Biblioteconomia, Arquivologia e Estudos da Informação (SLAIS) da University of
Brish Columbia, Vancouver, Canadá
Tradução: Juan Bernardo Montoya Mogollón
Revisão: Márcia Beatriz Carneiro Aragão
RESUMO
Propósito – este argo objeva explorar um novo modelo de “documento de arquivo” analisando seus
atributos a parr de uma análise técnica de documentos de arquivos no formato digital. O estudo compa-
ra as carateríscas centrais necessárias para nomear um objeto digital como “documento de arquivo” em
relação com a diplomáca, ou de “prova” quanto à análise forense digital. Este estudo divide os documen-
tos digitais em três camadas de abstração, a saber: conceitual, lógica e sica. Nossa proposta é aplicar a
diplomáca de documentos de arquivo digitais, para idencar os principais elementos em cada um desses
níveis de abstração.
Desenho/metodologia/abordagem – A diplomáca digital é resultado do projeto da Pesquisa Internacional
sobre Documentos de Arquivo Autêncos e Permanentes em Sistemas Eletrônicos (InterPARES)12, a qual
fornece para os arquivistas uma metodologia que analisa a idendade e a integridade dos documentos de
arquivos digitais em sistemas eletrônicos, como também avalia sua autencidade (Duran e Preston, 2008;
Duran, 2005) e rastreia sua proveniência.
Descobertas– os documentos de arquivo digitais estão estruturados em: dados (conteúdo) gerados pelo
usuário, metadados gerados pelo sistema que idencam a fonte e a localização, metadados gerados por
aplicavos que gerenciam a aparência e o desempenho do documento de arquivo (como, por exemplo, o
formato de arquivo nato digital), metadados gerados por aplicavos que descrevem os dados (como por
exemplo os metadados do sistema operacional ulizado pelo arquivo), e metadados que descrevem os
dados gerados pelo usuário. A diplomáca digital, baseada nos princípios da diplomáca tradicional, pode
subsidiar na idencação de documentos de arquivos digitais por meio de seus metadados e determinar
quais deles são necessários para serem capturados, gerenciados e preservados.
Originalidade/valor- O valor e a originalidade deste argo estão na aplicação dos princípios diplomácos
para uma visão técnica desconstruída dos documentos de arquivo digitais, por meio dos metadados funcio-
nais que avaliem a idendade e autencidade desses documentos arquivíscos digitais.
Palavras chaves - Metadados, Gestão documental, Diplomáca, Forense Digital.
Tipo de argo – Argo conceitual
*1Argo traduzido do original: Corinne Rogers, (2015),”Diplomacs of born digital documents – considering documentary form in a digital envi-
ronment”, Records Management Journal, Vol. 25 Iss 1 pp. 6 – 20 Permanent link to this document: hp://dx.doi.org/10.1108/RMJ-03-2014-0021
1 Internaonal Research on Permanent Authenc Records in Electronic Systems (InterPARES) [N.T.].
Versão
94 São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
ABSTRACT
Purpose – This paper aims to explore a new model of “record” that maps tradional aributes of a record
onto a technical decomposion of digital records. It compares the core characteriscs necessary to call a
digital object a “record” in terms of diplomacs or “evidence” in terms of digital forensics. It then isolates
three layers of abstracon: the conceptual, the logical and the physical. By idenfying the essenal ele-
ments of a record at each layer of abstracon, a diplomacs of digital records can be proposed.
Design/methodology/approach – Digital diplomacs, a research outcome of the Internaonal Research
on Permanent Authenc Records in Electronic Systems (InterPARES) project, gives archivists a methodology
for analyzing the identy and integrity of digital records in electronic systems and thereby assessing their
authencity (Duran and Preston, 2008; Duran, 2005) and tracing their provenance.
Findings – Digital records consist of user-generated data (content), system-generated metadata idenfying
source and locaon, applicaon-generated metadata managing the look and performance of the record
(e.g., nave le format), applicaon-generated metadata describing the data (e.g., le system metadata
OS), and user-generated metadata describing the data. Digital diplomacs, based on a foundaon of tradi-
onal diplomac principles, can help idenfy digital records through their metadata and determine what
metadata needs to be captured, managed and preserved.
Originality/value – The value and originality of this paper is in the applicaon of diplomac principles to a
deconstructed, technical view of digital records through funconal metadata for assessing the identy and
authencity of digital records.
Keywords - Metadata, Records management, Diplomacs, Digital forensics Paper type Conceptual paper
95
São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
Introdução
A diplomáca é a ciência de análise de documentos baseada no estudo sistemáco de elementos intrínse-
cos e extrínsecos da forma documental. É denida como a análise da criação, formas e estados de transmis-
são de documentos de arquivos, ou records23, e sua relação com os fatos representados neles e em relação
com seu criador para idencar, avaliar e comunicar a sua verdadeira natureza (Duran, 1998). A necessi-
dade de um método rigoroso de análise de documentos angos, se deu pela proliferação de falsicações na
Baixa Idade Média; no entanto, não exisu tal método até o século XVII, quando foi estabelecida a fundação
da moderna disciplina da críca diplomáca com o trabalho de Dom Jean Mabillon e a publicação de De
Re Diplomaca, em 1681. No começo, a disciplina era aplicada unicamente aos documentos probatórios
de atos jurídicos, e no século XX, a aplicação da diplomáca foi estendida para documentos não jurídicos
e dossiês de documentos relacionados com fatos ou atos (Boyle, 1992). O uso da diplomáca para avaliar
a autencidade de escritos cada vez mais especializados e a variedade crescente das formas documentais
têm levado, sem surpresa, à aplicação de princípios diplomácos no ambiente digital e ao desenvolvimento
de um campo especializado da “diplomáca digital”. As pesquisas sobre a diplomáca digital têm sido de-
senvolvidas mais extensivamente na Universidade da Colúmbia Britânica (UBC)4, por meio dos projetos da
Pesquisa Internacional sobre Documentos de Arquivo Autêncos e Permanentes em Sistemas Eletrônicos
(InterPARES) (Duran e MacNeil, 1997; Duran, 2005; Duran e Preston, 2008).
A ciência diplomáca connua com sua relevância até hoje e no contexto digital vem se desenvolvendo em
duas direções. A primeira delas tem a ver com a digitalização de fontes históricas e o uso de ferramentas
digitais que auxiliem em sua críca diplomáca, por meio da análise de seus elementos formais extrínse-
cos e intrínsecos (metadados, em terminologia moderna). Estes incluem, por exemplo, ferramentas como
o reconhecimento ótico de caracteres para analisar e interpretar fontes históricas, o uso da analíca da
visualização para auxiliar na comparação e na análise de grande número de itens, e na produção e na me-
todologia de edições crícas. Nesse sendo, a diplomáca digital é a aplicação da diplomática clássica de
documentos tradicionais feita em documentos digitais, e seu avanço teórico foi possível devido às possibi-
lidades da tecnologia digital.
Uma segunda direção do estudo da “diplomáca digital” se refere à aplicação da teoria e dos princípios
da diplomáca tradicional na análise de gêneros de comunicação nato digitais. O projeto InterPARES
tem pesquisado requisitos da preservação da autencidade de documentos de arquivo, criados e/ou
mandos em bases de dados e no gerenciamento de sistemas no decorrer de avidades administravas
(Etapa 1 – 1999-2001), e nos documentos dinâmicos e interavos, produzidos em ambientes digitais no
decorrer de avidades arscas, ciencas e governamentais (Etapa 2 – 2002-2007). Os resultados des-
sas duas etapas foram aplicados em arquivos e em documentos de arquivo, dentro de organizações com
limitações nanceiras e/ou de recursos humanos, com o objevo de implementar uma gestão documen-
tal bem fundamentada e programas de preservação (Etapa 3 – 2008-2012). O InterPARES tem aprimo-
rado e ampliado a teoria da diplomáca tradicional para desenvolver uma ontologia de um documento
de arquivo digital, além de ter moldado as avidades necessárias para estabelecer e proteger a auten-
cidade dos documentos de arquivo ao longo de seu ciclo de vida (o modelo da Cadeia de Preservação)
(Duran e Preston, 2008; Duran e Thibodeau, 2006). O trabalho connua em 2013 com o lançamento
do InterPARES Trust (2013-2018), que estuda as questões da conabilidade dos documentos de arquivo
conservados e usados em ambientes online.
Essas diretrizes de diplomáca digital são um resultado da pesquisa do InterPARES, o qual fornece aos ar-
quivistas uma metodologia na análise da idendade e da integridade dos documentos de arquivo digitais,
em sistemas eletrônicos e tornando, assim, possível avaliar sua autencidade (Duran e Preston, 2008;
Duran, 2005) e rastrear sua proveniência. A diplomáca digital é apropriada, idealmente, à análise da au-
tencidade dos documentos de arquivo digitais assim denidos pela arquivologia, porém é limitada quando
o assunto da análise é ampliado para a inclusão de objetos digitais que talvez não sasfaça essa denição
precisa, mais estrita (Duran e Endico-Popovsky, 2010, p.2; MacNeil e Gilliland-Swetland, 2005, p.52).
Um documento de arquivo pode ser denido como um documento – isto é, informação registrada –
produzido ou recebido no exercício da avidade práca, como um instrumento ou subproduto dessa
23 denição Anglo-Saxônica [N.T.].
34 University of Brish Columbia (UBC) [N.T.].
96 São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
avidade e redo para outra ação ou referência (InterPARES 2 -Glossário da palavra “documento de ar-
quivo”). A parr dessa denição, há certas premissas fundamentais sobre os documentos de arquivo. É
considerado um documento tradicional ou em papel – isto é, um objeto sico com forma xa e conteúdo
estável. É produto de uma avidade humana ou administrava e existe em uma estrutura contextual
hierárquica e em relação com outros documentos de arquivo. Além disso, sua autoria e pessoas respon-
sáveis podem ser idencadas. Seus elementos intrínsecos e extrínsecos, da forma como estão conec-
tados diretamente com seu meio, e o documento de arquivo original têm valor, pois ele é o primeiro a
ser produzido, ou seja, com caracteríscas de originalidade, ou primividade45, a sua completude e a sua
habilidade para angir seu propósito.
É comum considerar documentos de arquivo, documentos em geral e informações que produzimos e dis-
seminamos na internet, como equivalentes ou similares às formas documentais no mundo sico. A pre-
missa dessa equivalência funcional entre documentos e dados digitais e analógicos, e a autencidade e
dedignidade dessas novas criações digitais, são muitas vezes julgadas com as mesmas regras. A práca
da diplomáca é invesgava por natureza. No processo da críca diplomáca, o diplomasta desconstrói
um documento para idencar e localizar os elementos que revelam sua proveniência, suas relações, sua
conabilidade e sua autencidade. Se concordarmos que o núcleo da diplomáca é o documento de ar-
quivo e as bases da moderna diplomáca são os contextos nos quais o documento de arquivo existe, o ato
ou transação do qual ele parcipa, as pessoas (ou atores não humanos) que parcipam de sua produção,
os procedimentos e as formas documentais que governam sua produção e as relações que o conectam
com outros documentos de arquivo, logo podemos entender a análise diplomáca como um processo de
abstração e de sistemazação.
O uso do termo “documento de arquivo” digital pode inicialmente ser mal interpretado, porque o termo
está carregado de muitos signicados na tradição analógica. No entanto, é possível se referir ao “docu-
mento de arquivo digital” nato digital, em que o termo “documento de arquivo” é desconstruído em seus
atributos essenciais que transcendem o meio digital. Como acontece com os documentos de arquivo em
suporte papel, no ambiente digital os atributos contêm forma xa, conteúdo estável, vínculos explícitos
com outros documentos de arquivo, contextos idencáveis, idencação de pessoas envolvidas na produ-
ção do documento e a ação na qual o documento parcipa. Apesar disso, eles se encontram armazenados e
instanciados digitalmente, de maneira que se diferenciam dos suportes analógicos tradicionais, desaando-
-os. Como podemos rastrear esses atributos essenciais do “documento de arquivo” desde nosso passado
analógico para nosso presente digital?
O mundo digital quesona muitas dessas premissas. A forma de um objeto digital pode não ser xa nem
estável no sendo tradicional. Ele pode ser resultado de uma avidade humana ou administrava ou como
parte de um processo de uma máquina. Os objetos digitais podem ser innitamente reproduzidos e seu sig-
nicado e determinação da sua conabilidade e autencidade dependem do conhecimento do seu contex-
to e proveniência. Eles são criados em uma rede horizontal uida em que a autoria e/ou propriedade são di-
ceis ou impossíveis de idencar. Os elementos intrínsecos e extrínsecos da forma não dependem ou não
estão diretamente ligados ao meio sico; na verdade eles podem não estar imediatamente visíveis. O que
costumávamos visualizar no documento, agora está provavelmente oculto. Assim, o próprio documento de
arquivo/objeto é somente entendível com a mediação de um hardware e um soware. As empresas estão
se movendo cada vez mais em direção à descentralização de controle de seus avos digitais, com a adoção
da computação na nuvem – os sistemas dos documentos de arquivo eletrônicos têm múlplos propósitos
e altamente interconectados, e o conjunto diverso de dados textuais, visuais e audíveis, que podem estar
ou não estar em conformidade com a denição de “documento de arquivo”; ainda precisa ser conservado
e preservado e sua conabilidade e autencidade devem permanecer protegidas.
Gerenciar e entender os recursos digitais e os sistemas de informação complexos exigem o envolvimento
de prossionais em tecnologia da informação. Quando os documentos de arquivo precisam ser analisados
em sistemas digitais, é o especialista em forense digital o primeiro a ser chamado, ao invés do arquivista ou
do diplomasta. No entanto, em um nível básico, os profissionais em diplomática digital, como em foren-
se digital estão compromedos em descobrir, entender, descrever e apresentar informações inscritas em
meios digitais.
45 primiveness, no original [N.T.].
97
São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
Tanto a forense como a diplomáca digital são ciências invesgavas. Os invesgadores em forense digital
procuram, em um disco rígido ou em outro disposivo de armazenamento, unidades mensuráveis de in-
formação que têm, ou podem ter, valor probatório na reconstrução de eventos. A forense digital é denida
como a “aplicação da ciência e da engenharia em questões legais relacionadas com a prova digital” (Polli,
2009), e, ainda, o uso de métodos derivados da ciência e comprovados por ela na preservação, coleta,
validação, idencação, análise, interpretação, documentação e apresentação da prova digital” (Palmer,
2001). Quais propriedades são necessárias e/ou sucientes para que os materiais digitais sejam viáveis em
um contexto invesgavo especíco? A base da forense digital é a dedignidade da integridade dos dados,
a autencação, a reprodubilidade, a não-interferência e a relevância (Mocas, 2004).
A diplomáca e a forense digital têm muitas similaridades teóricas e metodológicas e comparlham desaos
importantes. Um deles é avaliar a autenticidade e estabelecer o contexto, a proveniência, as relações e o
significado dos documentos de arquivo digitais (diplomáca), ou provas digitais (forense digital). Reunindo
os princípios da diplomáca e as ferramentas da forense digital, podemos abordar os problemas da iden-
cação e da análise de documentos de arquivo em ambientes digitais.
Os vínculos iniciais entre os conceitos da forense e as funções da arquivologia foram estabelecidos há quase
vinte anos. Em 1994, a autora Elizabeth Diamond relacionou o arquivista com o especialista forense. A au-
tora escrevia que o arquivista, assim como o especialista forense, é uma testemunha especialista, que tem
a capacidade de atestar a natureza dos documentos eletrônicos. O arquivista deve ser capaz de “traduzir”
esses documentos eletrônicos armazenados em uxos fragmentados de bits, e ser capaz de atestar sua
integridade, da mesma forma com que o ciensta forense atesta a integridade dos materiais recolhidos na
sua invesgação (Diamond, 1994, p.142). No campo da gestão documental, o autor Alastair Irons traçou
paralelos explícitos com a forense digital na sua análise dos princípios da forense computacional no contex-
to das carateríscas documentais de autencidade, conabilidade, integridade e usabilidade. A “Forense
computacional”, expressa Irons, “deve basear-se nas caracteríscas de bons documentos de arquivo, níveis
e natureza do acesso e a indicação da sua completude[1]”. As técnicas da forense digital podem ser usadas
para monitorar a integridade, a autencidade, a conabilidade e a completude dos documentos de arqui-
vo. Irons também propõe que a forense computacional poderia se beneciar por meio da aplicação dos
modelos teóricos dos documentos de arquivo (Irons, 2006). O projeto da Forense Digital de Documentos
de Arquivo (DRF)56 da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC) foi uma colaboração de três anos (abril de
2008-abril de 2011), entre a Escola de Biblioteconomia, Arquivologia e Estudos da Informação (SLAIS)67 da
UBC, a Faculdade de Direito da UBC78 e a Divisão da Forense Computacional do Departamento de Polícia de
Vancouver89. A pesquisa abordou os seguintes desaos apresentados pela tecnologia digital para a gestão
documental, a arquivísca e as prossões ligadas ao Direito: a idencação de documentos de arquivo em
sistemas digitais complexos e a determinação da sua autencidade. A pesquisa foi baseada na metodologia
da forense digital e da diplomáca arquivísca e nos princípios do direito da prova, resultando na proposta
de uma nova disciplina: a Forense Digital de Documentos de Arquivo - DRF (Duran e Endico-Popovsky,
2010; Duran, 2009, 2010).
A união interdisciplinar entre a forense digital e a arquivologia encontra-se, neste momento, indo da teoria
para a práxis em arquivos e instuições de patrimônio cultural, em que as ferramentas da forense digital
e as técnicas estão cada vez mais entrando no campo da preservação. O projeto Vida Digital da Biblioteca
Britânica910 foi o primeiro a pesquisar o uso de ferramentas forenses para propiciar autencidade em mate-
riais digitais (John et al., 2010; John, 2008). Em 2010, o Conselho de Biblioteca e Recursos da Informação1011
publicou um relatório procuo apresentando a aplicação da forense digital no setor do patrimônio cultural,
estabelecendo rmemente um vínculo entre a curadoria digital e a forense digital (Kirschenbaum et al,
2010). A forense digital e a arquivologia estão se juntando no desenvolvimento de ferramentas tais como
BitCurator, um conjunto de ferramentas da forense digital na análise de dados para subsidiar a preservação
digital em instuições de patrimônio cultural (wiki.bitcurator.net) e Archivemaca, um conjunto de uxos
de trabalho de preservação digital segundo o ISSO-OAIS e as descobertas do InterPARES (www.archivema-
ca.org ). Na comunidade prossional da forense digital, a literatura tem sido predominantemente técnica,
56 Digital Records Forensics (DRF) [N.T.].
67 School of Library, Archival and Informaon Studies (SLAIS) [N.T.].
78 Faculty of Law [N.T.].
89 Computer Forensics Division of Vancouver Police Department [N.T.].
910 The Digital Lives at the Brish Library. [N.T.].
1011 Council on Library and Informaon Resources [N.T.].
98 São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
embora exista literatura propondo que a forense digital esteja situada dentro de um amplo arcabouço social
e teórico (Mocas, 2001; Palmer, 2001, 2002; Polli, 2009). O campo da diplomáca foi introduzido na litera-
tura forense pelo ciensta Fred Cohen, um pesquisador que neste momento faz parte do grupo InterPARES
Trust da UBC (Cohen, 2011, 2012).
Este argo está construído sobre trabalhos anteriores e apresenta uma exploração introdutória de um
modelo de “documento de arquivo”, o qual mapeia seus atributos tradicionais sobre uma análise técnica
dos documentos de arquivo digitais. Este modelo está dividido em três camadas de abstração, a saber, a
camada conceitual, a lógica e a sica. Assim, propomos aplicar a diplomáca de documentos digitais de
arquivo que idenque os elementos essenciais de um documento de arquivo em cada camada de abstra-
ção. O projeto em andamento faz parte da minha pesquisa de doutorado e é um estudo dentro do projeto
do InterPARES Trust (Documentos de Arquivo Conáveis em uma Sociedade Cada Vez Mais Conectada)12,
Metadados, Mutas Mutandis: Parâmetros de Design para a Autencidade na Nuvem e Entre Contextos
(www.interpares.org)13.
Uma visão técnica dos documentos de arquivo
A abstração é um processo de compreensão de objetos complexos ocultando todos os detalhes, exceto
as carateríscas essenciais de um conceito ou objeto especíco necessário para concluir uma tarefa
especíca. Cada camada de abstração conterá seu próprio conjunto exclusivo de caracteríscas e funcio-
nalidades existentes, independentemente das outras camadas. Por exemplo, quando dirigimos um carro,
precisamos conhecer a regras da estrada, como ligar o motor, como dirigir, como parar, etc. Não preci-
samos conhecer como funciona a combustão do motor ou como trabalha o sistema do computador de
bordo. Essas são as camadas de abstração. Usando essa analogia em nossos sistemas digitais, precisamos
entender como criar documentos de texto ou navegar pela internet, porém, não nos preocupamos com
a programação que está por trás dessas tarefas.
Aos nossos olhos, um documento de arquivo existe como um objeto conceitual, como algo que pode ser
impresso no papel a parr de nosso computador ou que pode ser legível na nossa tela. Sabemos que ele
pode estar armazenado no disposivo digital ou na nuvem, porém o usamos e pensamos na sua concepção
visual. Nossa interação com ele é como um objeto conceitual – um documento de arquivo. Mas, precisa-
mos entender os documentos de arquivo digitais enquanto objetos sicos e lógicos, para preservá-los e
avaliar sua autencidade.
Os documentos de arquivo digitais podem ser entendidos em três níveis de abstração (Figura 1). No nível
mais alto de abstração se encontra o objeto conceitual – o documento de arquivo como ele é reconhecido e
entendido por uma pessoa. O documento de arquivo que olhamos no nosso monitor ou tela é apresentado
para nós por um soware, que é o aplicavo usado para criar o documento.
O documento de arquivo também existe como um objeto sico – uma inscrição de signos sobre um meio
sico. A informação constuída por dados e as instruções para sua manipulação e apresentação são repre-
sentadas em um de dois estados - ligado ou desligado – sinais eletrônicos - um sistema binário de 0s (desli-
gado) e 1s (ligado). Um bit é a menor unidade de informação que pode ser armazenada ou manipulada; um
byte (oito bits) é a unidade básica de armazenagem na memória de um computador.
Por úlmo, o documento de arquivo existe como um objeto lógico - um objeto, ou provavelmente muitos
objetos diferentes ou componentes digitais, reconhecidos e processados por um hardware e um soware
para a produção do documento de arquivo conceitual. É nesse nível que nossas analogias com o mundo
analógico fracassam. Sabemos que um documento de arquivo pode ser representado por diferentes pos
de aplicavos de soware, mas temos essencialmente a mesma apresentação (por exemplo, um documen-
to em Word ou um documento em PDF) embora seja formado por componentes digitais diferentes, vincula-
dos de formas diferentes pelos aplicavos e sistemas operacionais de soware e hardware [2] (Trace, 2011;
Thibodeau, 2002). O documento de arquivo pode também ser apresentado por diversos sowares e ter o
mesmo conteúdo intelectual, porém, ter uma apresentação consideravelmente diferente (por exemplo, um
12 Trusng Records in an Increasingly Networked Society [N.T.].
13 Metadata, Mutas Mutandis: Design Requirements for Authencity in the Cloud and Across Contexts [N.T.].
99
São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
documento em Word ou um documento em .txt).
A camada lógica inclui tudo o que acontece por trás da tela (“debaixo do capô”).14 Ela pode ser entendi-
da como várias camadas de abstração (gura 2). O nível mais alto inclui sowares aplicavos, como, por
exemplo, um soware de processamento de palavras – ou dados – programas de mulmídia, aplicavos
de bases de dados etc. Esses aplicavos são gerenciados pelo soware do sistema – sistemas operacionais,
sowares ulitários, compiladores etc.
Numa visão técnica de documentos de arquivo (digitais), isolamos coisas diferentes. Na diplomáca tradi-
cional, os elementos formais intrínsecos e extrínsecos existem tanto no conteúdo do documento como no
meio sico. Na diplomáca digital não podemos pensar da mesma forma. O contexto tecnológico do docu-
mento de arquivo inclui a linguagem em que os dados e as instruções do computador são representados e
manipulados e os componentes sicos necessários para que um computador realize as tarefas predetermi-
nadas. O meio sico não é mais um elemento extrínseco da forma, ele faz parte do contexto tecnológico no
qual o documento de arquivo é criado, conservado e preservado (Duran e Thibodeau, 2006).
Figura 1. Uma visão abstrata de documentos de arquivo digitais
Figura 2. Camada lógica
14 (“under the hood”), no original [N.T.]
100 São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
A maioria dos usuários interage com documentos de arquivo por meio dos sowares aplicavos. Eles são os
aplicavos e sistemas operacionais que importam para a idencação de documentos de arquivo e outros
materiais digitais que pretendemos analisar. A relação entre as camadas lógica e sica é denida pelo aplica-
vo e o ambiente no qual esse aplicavo é executado no sistema operacional. Porém, a estrutura do nosso
objeto conceitual é consideravelmente diferente da estrutura desse objeto conceitual nas camadas lógicas,
e o mesmo conteúdo conceitual pode ser representado por diferentes aplicavos e, portanto, por diferen-
tes codicações (Thibodeau, 2002). Onde encontramos os elementos formais extrínsecos e intrínsecos?
A forma documental
A forma documental é denida como as regras de representação de acordo com as quais o conteúdo de um
documento de arquivo, seu contexto administravo e documental e sua autoridade são comunicados atra-
vés de seus elementos intrínsecos e extrínsecos. Os elementos formais extrínsecos determinam o layout e
a aparência dos documentos de arquivo. Eles incluem elementos como a linguagem, os recursos de apre-
sentação e símbolos especiais, e sua presença faz com que o documento possa ser executado. Os recursos
extrínsecos também incluem anotações adicionadas durante a execução, manuseio ou o gerenciamento e a
preservação do documento de arquivo. Os elementos intrínsecos transmitem a ação e seu contexto imedia-
to nos quais o documento de arquivo se insere. Eles incluem nomes de pessoas, datas, localização, assunto,
tulo, atestações e assim por diante, e sua presença faz com que o documento de arquivo que completo
(Duran, 1998). Através da análise desses elementos, é possível estabelecer a idendade e rastrear a inte-
gridade do documento de arquivo ao longo do tempo, permindo assim a avaliação da sua autencidade.
No mundo do suporte em papel, esses elementos da forma são evidentes simplesmente com uma inspeção
visual ao documento de arquivo. No ambiente digital, eles podem ser visíveis na manifestação conceitual do
documento de arquivo, porém, pode exisr também (ou não) na representação lógica do documento de ar-
quivo. Assim, eles podem ser explícitos nos dados do documento de arquivo (conteúdo) ou capturados ma-
nualmente ou automacamente como metadados associados ao documento de arquivo conceitual. Esses
metadados podem estar imediatamente visíveis (por exemplo, o nome do arquivo e o caminho), visíveis por
meio das funções disponíveis para qualquer usuário do sistema no qual o documento do arquivo é armaze-
nado (por exemplo, o tamanho do arquivo a data de criação ou a úlma modicação), ou visível por meio
simplesmente de uma invesgação mais complexa ulizando ferramentas especializadas (forense digital).
Assim os metadados podem estar presentes nas camadas conceitual e lógica que formam o documento
de arquivo. Ao idencar os seus elementos relacionados aos elementos formais extrínsecos e intrínsecos
necessários para realizar uma análise diplomáca, deve ser possível idencar documentos de arquivo em
sistemas digitais e avaliar sua autencidade. No entanto, existem vários desaos ao rastrear elementos di-
plomácos nos metadados. Por exemplo: quem os cria? Quais são mandos e quais são perdidos durante
a transmissão, migração etc.? Quem é seu proprietário? Eles são acessíveis? Como eles estão vinculados
com o documento de arquivo originário? Quais são necessários para serem preservados com o documento
de arquivo ao longo do tempo? Essas são apenas algumas das perguntas que precisam ser feitas.
Quando se trata de declarar documentos eletrônicos de arquivo, os prossionais de
governança da informação vêm lutando há algum tempo com a questão de quais
metadados preservar (Isaza, 2010).
Os arquivistas têm certa familiaridade com a classicação dos metadados por sua função ou propósito:
descrivos, administravos (técnicos, de direito, de preservação) e estruturais. Os metadados descrivos
contêm elementos ou propriedades que idencam um documento de arquivo digital e subsidiam sua loca-
lização e interpretação. Os metadados administravos são usados para gerenciar o documento de arquivo.
Os metadados administravos podem conter metadados que fornecem informação sobre o contexto téc-
nico do documento de arquivo, informação sobre direitos e obrigações vinculados aos recursos digitais tais
como a propriedade, o direito autoral ou outros direitos de propriedade intelectual, as restrições de uso e
de segurança, e os metadados de preservação, descrevendo os requisitos para preservar o documento de
arquivo ao longo do tempo e das mudanças tecnológicas. Os metadados estruturais documentam as rela-
ções estruturais entre ou dentro dos recursos digitais, como por exemplo, a estrutura de um arquivo dentro
de um recurso digital ou a ligação entre páginas de internet em um Web Site. Os metadados estruturais
101
São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
auxiliam na exibição e no uso adequado de objetos complexos. As categorias dos metadados derivam da
criação, conservação e preservação de recursos. Outra categoria pode ser idencada baseada no uso de
recursos, tanto da analíca como do conteúdo gerado pelo usuário. O uso de metadados inclui elementos
de dados ou propriedades coletados sobre ou dos usuários do documento de arquivo (por exemplo, tags
sociais, registros de acesso, registro de busca de usuário). Os metadados também permitem a represen-
tação de material em vários níveis de agregações – da instuição arquivísca, das séries ou coleções do
documento de arquivo e da informação ou do componente digital (Zhang e Mauney, 2013).
Contudo, os metadados geralmente não são classicados de acordo com a função, mas de acordo com a
fonte. Dada a prevalência de material digital apresentado como prova em ligios e tribunais e a falta de con-
sistência com que os metadados são considerados pelos tribunais, a Conferência de Sedona15 [3] oferece
um exemplo relevante e importante: A Conferência de Sedona idenca sete pos de metadados:
(1) Metadados aplicavos: São dados criados por um aplicavo especíco para a
informação armazenada eletronicamente (IEA)16 sendo direcionados, embudos no
arquivo e movidos por este quando forem copiados; a cópia pode modicar os metadados
aplicavos.
(2) Metadados do documento: Propriedades sobre o arquivo nele armazenado [...] como
exemplo se incluem o autor do documento e a empresa, e as datas de criação e de revisão.
(3) Metadados do e-mail: São dados armazenados no e-mail sobre o e-mail. Muitas vezes
essa informação não é visível no aplicavo cliente do e-mail usado para criar o e-mail,
como por exemplo, endereços de cópia oculta, data de recebimento [...].
(4) Metadados embudos: Estão geralmente ocultos, mas são uma parte integrante da IEA,
tais como “rastreio de modicações” ou “comentários” em um arquivo de processamento
de texto [...]. Isso pode estar disponível somente no arquivo original ou inicial.
(5) Metadados do sistema de arquivos: são metadados geralmente gerados pelo sistema
para rastrear a demográcos (nome, tamanho, lugar, po de uso, etc.) da IEA e que não
esteja embuda, mas armazenada externamente a parr da IEA.
(6) Metadados adicionados pelo usuário: dados, possivelmente produto do trabalho,
criados por um usuário quando copia, revisa e trabalha com um arquivo, incluindo
anotações e informação subjeva codicada.
(7) Metadados adicionados pelo fornecedor: são dados criados e mantidos pelo fornecedor
eletrônico legalmente autorizado como resultado do procedimento do documento [...]; muito
disso é usado para relatórios de processamento, cadeia de custódia e prestação de contas dos
dados (The Sedona Conference, 2010).
Embora essa classicação possa ser úl com o objevo de alertar os prossionais da área legal sobre as fon-
tes de metadados associados a informações armazenadas eletronicamente, buscadas e comparlhadas na
parte legal (Discovery), ela não descreve, nem prova a estrutura ou a forma documental do documento de
arquivo, nem ajuda a avaliar sua autencidade ou sua proveniência. De fato, de acordo com o guia de boas
prácas para gerenciar documentos eletrônicos da Sedona17, “Na ausência de um requisito legal que seja
contrário, as organizações não precisam preservar os metadados; mas pode ser úl preservá-los em alguns
casos” (The Sedona Conference, 2007).
Nem sempre é papel dos metadados considerar a estrutura e a completude dos documentos de arquivo ou
objeto digital que eles descrevem. Esse é o movo dos esquemas de metadados orientados a objevos que
prescrevem um conjunto de elementos de metadados requeridos para um objevo especíco, tais como
a recuperação da informação ou gerenciamento de coleções ou para a preservação. O que a diplomáca
digital tenta realizar é identificar todos os elementos necessários dos metadados que devem ser criados,
gerenciados e preservados para idencar inequivocamente um documento de arquivo e demostrar sua
integridade ao longo do ciclo de vida desse documento de arquivo, desde sua produção até sua gestão
de uso, reuso e preservação. Note-se que isso não é um processo linear, é cíclico ou connuo ao longo do
tempo e acaba unicamente quando, ou se, o documento é destruído sem vesgios da sua existência.
15 The Sedona Conference [N.T.].
16 Electronically Stored Informaon (ESI) [N.T.].
17 Sedona’s best pracce guidelines form managing electronic records [N.T.].
102 São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
Para idencar documentos de arquivo em sistemas digitais e avaliar sua autencidade, devemos voltar
aos princípios da diplomáca arquivísca. Devemos localizar os elementos formais extrínsecos e intrínsecos
nos metadados de idendade e integridade, que podem ser localizados em várias camadas de abstração
do documento de arquivo conceitual e lógico. O meio sico não é um problema. As regras que regem o
objeto lógico são independentes de como os dados são escritos no meio sico. No nível lógico, a gramáca
(a interpretação dos bits) é independente do meio sico. Uma vez os que os dados sejam lidos na memó-
ria, o po de meio e sua forma de inscrição não têm relevância. As regras que são aplicadas no nível lógico
determinam como o uxo de entrada é transformado dentro da memória do sistema e a sua saída como
apresentação. O mapeamento do lógico para o físico pode ser alterado, sem afetar o nível logico (Figura 3).
Podemos mapear os elementos formais intrínsecos da camada lógica dos documentos de arquivo? Os ele-
mentos dos metadados de idendade e de integridade, exigidos pelo InterPARES para avaliar a autencida-
de dos documentos de arquivo digitais ao longo do ciclo de vida, foram idencados no Perl do Aplicavo
para Metadados de Autencidade (IPAM)18. Esta pesquisa, seguindo o modelo de Singapura e a Iniciava
de Metadados da Dublin Core (DCMI), desenvolveu um conjunto de requisitos funcionais, os quais foram
modelados através de diagramas de endades-relações. Estes requisitos funcionais determinaram um de-
senvolvimento de metadados, a saber:
[...] necessários e sucientes para apoiar a presunção de autencidade dos documentos
de arquivo, interoperáveis entre sistemas e no decorrer do tempo, adequados para a
descrição de arquivos e úteis tanto para a recuperação como para exibição signicava
de documentos de arquivo.
Figura 3
Como foi comentado anteriormente pelo estudo do InterPARES, os elementos dos metadados foram codi-
cados por função, funções essas idencadas de acordo com os princípios da arquivologia e da teoria da
diplomáca. O perl do aplicavo captura, assim, a prova dos anexos; autencação; ligações com outros
documentos de arquivo com os quais o documento de arquivo se relaciona e seu contexto, datas e os mo-
mentos em que é necessário documentar o ciclo de vida do documento de arquivo no ciclo de vida; ligações
com a documentação externa que rege a preservação, transferência e acesso ao(s) documento(s) ao longo
do tempo; regras de apresentação que determinam a aparência de uma endade; manipulação da infor-
mação; informação da localização do armazenamento, cópias de segurança (backups) ou duplicação; iden-
cação de indivíduos ou endades legalmente denidas, que sejam sujeitos de direitos e deveres e que
sejam reconhecidos pelo sistema jurídico, com a capacidade ou o potencial de atuar legalmente em relação
com o(s) documento(s) de arquivo, as restrições ou privilégios de direitos e os acessos que se aplica(m)
ao(s) documento(s) de arquivo, o assunto da ação ou matéria que pertence ao(s) documento(s) de arquivo
e a informação tecnológica sobre o(s) transmissor(es) da forma e o conteúdo do documento de arquivo ao
longo do tempo (Tennis e Rogers, 2012ª, 2012b).
18 Applicaon Prole for Authencity Metadata (IPAM) [N.T.].
103
São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
Próximos passos
Este modelo de metadados conceitual baseado nos princípios da diplomáca, pode agora ser mapeado
dentro das camadas lógicas do documento de arquivo digital. Para isso, será necessário analisar os metada-
dos existentes que são ou podem ser inseridos pelos agentes que manipulam o documento de arquivo, isto
é, as pessoas e os sistemas que inserem metadados manual ou automacamente. Na interface entre a ca-
mada conceitual e a camada do aplicavo (camada lógica), estão as pessoas que participam da sua criação
e recriação ao longo do tempo, as pessoas que parcipam em seu gerenciamento e/ou sua preservação e
as pessoas e os sistemas que usam o documento de arquivo. Na camada lógica do aplicavo e do soware
e hardware do sistema, estão os elementos dos sistemas que o gerenciam.
Assim, vamos voltar para a forense digital como foi mencionado antes. Peritos da forense digital estão
localizando e usando metadados (que é fundamental para análise de dados e visualização, segurança,
inteligência e vigilância) para reconstruir eventos criminais ou incidentes de segurança. Consideremos, por
exemplo, os metadados associados com um tweet (tabela 1):
Tabela 1
O campo dos metadados idencados na tabela 1 e relatados por meio da invesgação da forense digi-
tal, são guardados automacamente por Twier e podem ser interpretados como conceitos diplomácos.
Porém, os metadados não são à prova de falhas dos eventos.
Segue uma captura de tela das propriedades de um documento de Word indicando que sou a autora. Ela é
gerada automacamente como resultado da conguração do meu notebook (um iMac executando a versão
OSX 10.9.2) (gura 4).
104 São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
Figura 4. Propriedade do Documento – Word (1)
É possível adicionar mais metadados no documento de arquivo em questão. Na Figura 5 foram inseridos
tulo, assunto e palavras chaves.
Esses elementos de metadados, porém, não são necessariamente elementos formais intrínsecos conáveis
já que podem ser facilmente modicados (gura 6).
Além disso, o mesmo documento de arquivo salvo em outro formato não mostra os mesmos metadados
(gura 7).
A pesquisa connua em andamento atualmente pelo InterPARES Trust, no design de sistemas para me-
tadados em todas as camadas de abstração para que possam ajudar na presunção de autencidade de
documentos de arquivo digitais.
Figura 5. “Propriedades do Documento - Word (2)”
105
São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
Figura 6. Propriedade do Documento (3)
Figura 7. Propriedade do Documento - PDF
Conclusões
Os documentos de arquivo digitais estão estruturados em: dados (conteúdo) gerados pelo usuário, metada-
dos, gerados pelo sistema, que idencam a sua fonte e a sua localização, metadados gerados por aplica-
vos que gerenciam a aparência e o desempenho do documento de arquivo (como, por exemplo, o formato
do arquivo original), metadados gerados por aplicavos que descrevem os dados (como por exemplo os
metadados do sistema operacional em que o arquivo foi gerado), e metadados que descrevem os dados,
gerados pelo usuário. A diplomáca digital, baseada nos princípios da diplomáca tradicional, pode subsi-
diar na idencação de documentos de arquivo digitais por meio de seus metadados e determinar quais
metadados são necessários para serem capturados, gerenciados e preservados.
Notas do texto original
Os primeiros prossionais se referiram à práca de computação forense. Como os disposivos de arma-
zenamento digital se tornaram onipresentes e não eram necessariamente computadores tradicionais, o
106 São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
termo “digital” começou a substuir o de “computador” (Whitcomb, 2002).
Para informação mais detalhada sobre este modelo tripardo de documento, ver Thibodeau (2002), Trace
(2011) “Overview of Technological Approaches to DigitalPreservaon and Challengesin Coming Years 1”, in
The State of Digital Preservaon: Na Internaonal Perspecve, CLIR, www.clir.org/pubs/reports/pub107/
thibodeau.html. Para maior informação sobre computadores e documentos de arquivo digitais, ver Ciaran
Trace (2011) “Beyond the Magic to the Mechanism: Computers, Materiality, and What It Means for Records
to Be ‘Born Digital’”, Archivaria, Vol. 72, December, pp. 5-27.
A Conferência de Sedona (hps://thesedonaconference.org) é um instuto de pesquisa e de educação
não pardário, dedicado ao avanço da lei e das polícas nas áreas de direito antruste, ligios complexos
e direitos de propriedade intelectual. Ela produziu vários relatórios inuentes sobre e-discovery e prova
eletrônica. O trabalho da Conferência de Sedona foi inuente em caso de lei decidindo sobre prova digital.
Veja, por exemplo, Aguilar v. Immigraon & Customs Enforcement Div. of US Dep’t of Homeland Sec., 255
F.R.D. 350 (S.D.N.Y. 2008) dedicado à classicação e à importância dos metadados, citado por (the Sedona
Conference (2013)).
Referências:
Boyle, L. (1992), “Diplomacs”, in Powell, J.M. (Ed.), Medieval Studies: An Introducon, SyracuseUniversity
Press, Syracuse, New York, NY, pp. 82-113.
Cohen, F. (2011), Digital Forensic Evidence Examinaon, 3rd ed., Fred Cohen and Associates,Livermore, CA.
Cohen, F. (2012), The Future of Digital Forensics, presented at the Trust and Conicng Rights inthe Digital
Environment, Vancouver, BC.
Diamond, E. (1994), “The archivist as forensic scienst – seeing ourselves in a dierent way”, Archivaria,
Vol. 38 (Fall), pp. 139-154.
Duran, L. (1998), Diplomacs: New Uses for an Old Science, Scarecrow Press, Lanham, MD.
Duran, L. (2005), The Long-term Preservaon of Authenc Electronic Records: Findings of theInterPARES
Project, Archilab, San Miniato.
Duran, L. (2009), “From digital diplomacs to digital records forensics”, Archivaria, Vol. 68(Fall), pp. 39-66.
Duran, L. (2010), Digital records Forensics: Connuing in Mabillon’s Footsteps, presented at theAssocia-
on of Canadian Archivists, Halifax, NS.
Duran, L. and Endico-Popovsky, B. (2010), “Digital records forensics: a new science andacademic program
for forensic readiness”, Journal of Digital Forensics, Security and Law,Vol. 5 No. 2, pp. 1-12, available at:
www.jdfsl.org/subscripons/JDFSL-V5N2-Duran.pdf
Duran, L. and MacNeil, H. (1997), “The preservaon of the integrity of electronic records: anoverview of
the UBC-MAS research project”, Archivaria, Vol. 42 (Spring), pp. 46-67.
Duran, L. and Preston, R. (2008), Research on Permanent Authenc Records in ElectronicSystems
(InterPARES) 2: Experienal, Interacve and Dynamic Records, AssociazioneNazionale Archivisca Italiana,
Padova.
Duran, L. and Thibodeau, K. (2006), “The concept of record in interacve, experienal anddynamic envi-
ronments: the View of InterPARES”, Archival Science, Vol. 6 No. 1, pp. 13-68.
Irons, A. (2006), “Computer forensics and records management – compable disciplines”, Records
Management Journal, Vol. 16 No. 2, pp. 102-112.
107
São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
Isaza, J. (2010), Metadata in Court: What RIM, Legal and IT Need to Know, ARMA Internaonal Educaon
Foundaon, Pisburgh, PA, p. 26.
John, J.L. (2008), “Adapng exisng technologies for digitally archiving personal lives: digital forensics,
ancestral compung, and evoluonary perspecves and tools”, Proceedings of The Fih Internaonal
Conference on Preservaon of Digital Objects, The Brish Library, London, pp. 46-55, available at: www.
bl.uk/ipres2008/ipres2008-proceedings.pdf
John, J.L., Rowlands, I., Williams, P. and Dean, K. (2010), “Digital lives: personal digital archives for the 21st
century – an inial synthesis (Digital Lives Research Paper)”, available at: hp://brishlibrary.typepad.co.uk/
les/digital-lives-synthesis02-1.pdf
Kirschenbaum, M.G., Ovenden, R. and Redwine, G. (2010), Digital Forensics in Born Digital Cultural Heritage
Collecons, Council on Library and Informaon Resources, Washington, DC.
MacNeil, H. and Gilliland-Swetland, A. (2005), “Authencity task force report”, in Duran, L. (Ed.), The Long-term
Preservaon of Authenc Electronic Records: Finding of the InterPARES Project, Archilab, San Miniato, Italy.
Mocas, S. (2004), “Building theorecal underpinnings for digital forensics research”, Digital Invesgaon,
Vol. 1 No. 1, pp. 61-68.
Palmer, G. (2001), “A road map for digital forensic research (DFRWS technical report)”, availableat: www.
dfrws.org/2001/dfrws-rm-nal.pdf
Palmer, G. (2002), “Forensic analysis in the digital world”, Internaonal Journal of DigitalEvidence, Vol. 1 No.
1, available at: www.ijdc.org/docs/IJDE_1.3.doc
Patzakis, J. (2012), “Key Twier and Facebook metadata elds forensic invesgators need to beaware of”,
Forensic Focus – Arcles, available at:hp://arcles.forensicfocus.com/2012/04/25/key-twier-and-face-
book-metadata-elds-forensic-invesgators-need-to-be-awareof/ (accessed 1 August 2012).
Polli, M.M. (2009), “Digital Forensics as a Surreal Narrave”, in Peterson, G. and Shenoi, S. (Eds),Advances
in Digital Forensics, Springer Berlin Heidelberg, Heidelberg, Vol. 306, pp. 3-15,available at: hp://link.sprin-
ger.com/10.1007/978-3-642-04155-6_1
Tennis, J.T. and Rogers, C. (2012a), “Authencity metadata and the ipam: progress toward theInterPARES ap-
plicaon prole”, Proceedings of the Internaonal Conference on DublinCore and Metadata Applicaons,
DCMI, Kuching, Sarawak, pp. 38-45, available at: hp://dcevents.dublincore.org/index.php/IntConf/dc-2012/
schedConf/presentaons
Tennis, J.T. and Rogers, C. (2012b), General Study 15: Metadata Applicaon Proles forAuthencity,
University of Brish Columbia, Vancouver, BC.
The Sedona Conference (2007), “The Sedona principles: best pracce guidelines & commentary forma-
naging informaon & records in the electronic age”, 2nd ed., The Sedona Conference,available at:hp://
nd.galegroup.com/gtx/infomark.do?&contentSet_IAC-Documents&type_retrieve&tabID_T002&prodId_
LT&docId_A130739169&source_gale&srcprod_LT&userGroupName_ubcolumbia&version_1.0
The Sedona Conference (2010), The Seconda Conference Glossary: E-Discovery & DigitalInformaon
Management, 3rd ed., The Sedona Conference, Sedona, AZ.
The Sedona Conference (2013), The Sedona Conference Commentary on Ethics & Metadata, TheSedona
Conference, Sedona, AZ.
Thibodeau, K. (2002), “Overview of technological approaches to digital preservaon andchallenges in coming years
1”, The State of Digital Preservaon: An InternaonalPerspecve, CLIR, available at: www.clir.org/pubs/reports/
pub107/thibodeau.html
108 São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
Trace, C. (2011), “Beyond the magic to the mechanism: computers, materiality, and what it meansfor recor-
ds to be ‘Born Digital’”, Archivaria, Vol. 72, pp. 5-27, available at: hp://journals.sfu.ca/archivar/index.php/
archivaria/arcle/view/13358/14660
Whitcomb, C.M. (2002), “An historical perspecve of digital evidence: a forensic scienst’s view”,Internaonal
Journal of Digital Evidence, Vol. 1 No. 1, available at: www.uca.edu/academic/instutes/ecii/publicaons/
arcles/9C4E695B-0B78-1059-3432402909E27BB4.pdf
Zhang, J. and Mauney, D. (2013), “When archival descripon meets digital object metadata: atypological
study of digital archival representaon”, The American Archivist, Vol. 76 No. 1, pp. 174-191.