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DIPLOMÁTICA DE DOCUMENTOS NATO DIGITAIS: A CONSIDERAÇÃO DA FORMA DOCUMENTAL NO AMBIENTE DIGITAL

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RESUMO Propósito-este artigo objetiva explorar um novo modelo de "documento de arquivo" analisando seus atributos a partir de uma análise técnica de documentos de arquivos no formato digital. O estudo compa-ra as caraterísticas centrais necessárias para nomear um objeto digital como "documento de arquivo" em relação com a diplomática, ou de "prova" quanto à análise forense digital. Este estudo divide os documen-tos digitais em três camadas de abstração, a saber: conceitual, lógica e física. Nossa proposta é aplicar a diplomática de documentos de arquivo digitais, para identificar os principais elementos em cada um desses níveis de abstração. Desenho/metodologia/abordagem-A diplomática digital é resultado do projeto da Pesquisa Internacional sobre Documentos de Arquivo Autênticos e Permanentes em Sistemas Eletrônicos (InterPARES) 12 , a qual fornece para os arquivistas uma metodologia que analisa a identidade e a integridade dos documentos de arquivos digitais em sistemas eletrônicos, como também avalia sua autenticidade (Duranti e Preston, 2008; Duranti, 2005) e rastreia sua proveniência. Descobertas-os documentos de arquivo digitais estão estruturados em: dados (conteúdo) gerados pelo usuário, metadados gerados pelo sistema que identificam a fonte e a localização, metadados gerados por aplicativos que gerenciam a aparência e o desempenho do documento de arquivo (como, por exemplo, o formato de arquivo nato digital), metadados gerados por aplicativos que descrevem os dados (como por exemplo os metadados do sistema operacional utilizado pelo arquivo), e metadados que descrevem os dados gerados pelo usuário. A diplomática digital, baseada nos princípios da diplomática tradicional, pode subsidiar na identificação de documentos de arquivos digitais por meio de seus metadados e determinar quais deles são necessários para serem capturados, gerenciados e preservados. Originalidade/valor-O valor e a originalidade deste artigo estão na aplicação dos princípios diplomáticos para uma visão técnica desconstruída dos documentos de arquivo digitais, por meio dos metadados funcio-nais que avaliem a identidade e autenticidade desses documentos arquivísticos digitais.
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São Paulo, Ano V, Nº 10, p. 93-108, junho de 2020
Revista do Arquivo Versão
DIPLOMÁTICA DE DOCUMENTOS NATO DIGITAIS: A CONSIDERAÇÃO DA
FORMA DOCUMENTAL NO AMBIENTE DIGITAL1*
Corinne Rogers I Escola de Biblioteconomia, Arquivologia e Estudos da Informação (SLAIS) da University of
Brish Columbia, Vancouver, Canadá
Tradução: Juan Bernardo Montoya Mogollón
Revisão: Márcia Beatriz Carneiro Aragão
RESUMO
Propósito este argo objeva explorar um novo modelo de “documento de arquivo” analisando seus
atributos a parr de uma análise técnica de documentos de arquivos no formato digital. O estudo compa-
ra as carateríscas centrais necessárias para nomear um objeto digital como “documento de arquivo” em
relação com a diplomáca, ou de “prova” quanto à análise forense digital. Este estudo divide os documen-
tos digitais em três camadas de abstração, a saber: conceitual, lógica e sica. Nossa proposta é aplicar a
diplomáca de documentos de arquivo digitais, para idencar os principais elementos em cada um desses
níveis de abstração.
Desenho/metodologia/abordagem A diplomáca digital é resultado do projeto da Pesquisa Internacional
sobre Documentos de Arquivo Autêncos e Permanentes em Sistemas Eletrônicos (InterPARES)12, a qual
fornece para os arquivistas uma metodologia que analisa a idendade e a integridade dos documentos de
arquivos digitais em sistemas eletrônicos, como também avalia sua autencidade (Duran e Preston, 2008;
Duran, 2005) e rastreia sua proveniência.
Descobertas– os documentos de arquivo digitais estão estruturados em: dados (conteúdo) gerados pelo
usuário, metadados gerados pelo sistema que idencam a fonte e a localização, metadados gerados por
aplicavos que gerenciam a aparência e o desempenho do documento de arquivo (como, por exemplo, o
formato de arquivo nato digital), metadados gerados por aplicavos que descrevem os dados (como por
exemplo os metadados do sistema operacional ulizado pelo arquivo), e metadados que descrevem os
dados gerados pelo usuário. A diplomáca digital, baseada nos princípios da diplomáca tradicional, pode
subsidiar na idencação de documentos de arquivos digitais por meio de seus metadados e determinar
quais deles são necessários para serem capturados, gerenciados e preservados.
Originalidade/valor- O valor e a originalidade deste argo estão na aplicação dos princípios diplomácos
para uma visão técnica desconstruída dos documentos de arquivo digitais, por meio dos metadados funcio-
nais que avaliem a idendade e autencidade desses documentos arquivíscos digitais.
Palavras chaves - Metadados, Gestão documental, Diplomáca, Forense Digital.
Tipo de argo – Argo conceitual
*1Argo traduzido do original: Corinne Rogers, (2015),”Diplomacs of born digital documents – considering documentary form in a digital envi-
ronment”, Records Management Journal, Vol. 25 Iss 1 pp. 6 – 20 Permanent link to this document: hp://dx.doi.org/10.1108/RMJ-03-2014-0021
1 Internaonal Research on Permanent Authenc Records in Electronic Systems (InterPARES) [N.T.].
Versão
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ABSTRACT
Purpose – This paper aims to explore a new model of “record” that maps tradional aributes of a record
onto a technical decomposion of digital records. It compares the core characteriscs necessary to call a
digital object a “record” in terms of diplomacs or “evidence” in terms of digital forensics. It then isolates
three layers of abstracon: the conceptual, the logical and the physical. By idenfying the essenal ele-
ments of a record at each layer of abstracon, a diplomacs of digital records can be proposed.
Design/methodology/approach Digital diplomacs, a research outcome of the Internaonal Research
on Permanent Authenc Records in Electronic Systems (InterPARES) project, gives archivists a methodology
for analyzing the identy and integrity of digital records in electronic systems and thereby assessing their
authencity (Duran and Preston, 2008; Duran, 2005) and tracing their provenance.
Findings – Digital records consist of user-generated data (content), system-generated metadata idenfying
source and locaon, applicaon-generated metadata managing the look and performance of the record
(e.g., nave le format), applicaon-generated metadata describing the data (e.g., le system metadata
OS), and user-generated metadata describing the data. Digital diplomacs, based on a foundaon of tradi-
onal diplomac principles, can help idenfy digital records through their metadata and determine what
metadata needs to be captured, managed and preserved.
Originality/value – The value and originality of this paper is in the applicaon of diplomac principles to a
deconstructed, technical view of digital records through funconal metadata for assessing the identy and
authencity of digital records.
Keywords - Metadata, Records management, Diplomacs, Digital forensics Paper type Conceptual paper
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Introdução
A diplomáca é a ciência de análise de documentos baseada no estudo sistemáco de elementos intrínse-
cos e extrínsecos da forma documental. É denida como a análise da criação, formas e estados de transmis-
são de documentos de arquivos, ou records23, e sua relação com os fatos representados neles e em relação
com seu criador para idencar, avaliar e comunicar a sua verdadeira natureza (Duran, 1998). A necessi-
dade de um método rigoroso de análise de documentos angos, se deu pela proliferação de falsicações na
Baixa Idade Média; no entanto, não exisu tal método até o século XVII, quando foi estabelecida a fundação
da moderna disciplina da críca diplomáca com o trabalho de Dom Jean Mabillon e a publicação de De
Re Diplomaca, em 1681. No começo, a disciplina era aplicada unicamente aos documentos probatórios
de atos jurídicos, e no século XX, a aplicação da diplomáca foi estendida para documentos não jurídicos
e dossiês de documentos relacionados com fatos ou atos (Boyle, 1992). O uso da diplomáca para avaliar
a autencidade de escritos cada vez mais especializados e a variedade crescente das formas documentais
têm levado, sem surpresa, à aplicação de princípios diplomácos no ambiente digital e ao desenvolvimento
de um campo especializado da “diplomáca digital”. As pesquisas sobre a diplomáca digital têm sido de-
senvolvidas mais extensivamente na Universidade da Colúmbia Britânica (UBC)4, por meio dos projetos da
Pesquisa Internacional sobre Documentos de Arquivo Autêncos e Permanentes em Sistemas Eletrônicos
(InterPARES) (Duran e MacNeil, 1997; Duran, 2005; Duran e Preston, 2008).
A ciência diplomáca connua com sua relevância até hoje e no contexto digital vem se desenvolvendo em
duas direções. A primeira delas tem a ver com a digitalização de fontes históricas e o uso de ferramentas
digitais que auxiliem em sua críca diplomáca, por meio da análise de seus elementos formais extrínse-
cos e intrínsecos (metadados, em terminologia moderna). Estes incluem, por exemplo, ferramentas como
o reconhecimento ótico de caracteres para analisar e interpretar fontes históricas, o uso da analíca da
visualização para auxiliar na comparação e na análise de grande número de itens, e na produção e na me-
todologia de edições crícas. Nesse sendo, a diplomáca digital é a aplicação da diplomática clássica de
documentos tradicionais feita em documentos digitais, e seu avanço teórico foi possível devido às possibi-
lidades da tecnologia digital.
Uma segunda direção do estudo da “diplomáca digital” se refere à aplicação da teoria e dos princípios
da diplomáca tradicional na análise de gêneros de comunicação nato digitais. O projeto InterPARES
tem pesquisado requisitos da preservação da autencidade de documentos de arquivo, criados e/ou
mandos em bases de dados e no gerenciamento de sistemas no decorrer de avidades administravas
(Etapa 1 – 1999-2001), e nos documentos dinâmicos e interavos, produzidos em ambientes digitais no
decorrer de avidades arscas, ciencas e governamentais (Etapa 2 – 2002-2007). Os resultados des-
sas duas etapas foram aplicados em arquivos e em documentos de arquivo, dentro de organizações com
limitações nanceiras e/ou de recursos humanos, com o objevo de implementar uma gestão documen-
tal bem fundamentada e programas de preservação (Etapa 3 – 2008-2012). O InterPARES tem aprimo-
rado e ampliado a teoria da diplomáca tradicional para desenvolver uma ontologia de um documento
de arquivo digital, além de ter moldado as avidades necessárias para estabelecer e proteger a auten-
cidade dos documentos de arquivo ao longo de seu ciclo de vida (o modelo da Cadeia de Preservação)
(Duran e Preston, 2008; Duran e Thibodeau, 2006). O trabalho connua em 2013 com o lançamento
do InterPARES Trust (2013-2018), que estuda as questões da conabilidade dos documentos de arquivo
conservados e usados em ambientes online.
Essas diretrizes de diplomáca digital são um resultado da pesquisa do InterPARES, o qual fornece aos ar-
quivistas uma metodologia na análise da idendade e da integridade dos documentos de arquivo digitais,
em sistemas eletrônicos e tornando, assim, possível avaliar sua autencidade (Duran e Preston, 2008;
Duran, 2005) e rastrear sua proveniência. A diplomáca digital é apropriada, idealmente, à análise da au-
tencidade dos documentos de arquivo digitais assim denidos pela arquivologia, porém é limitada quando
o assunto da análise é ampliado para a inclusão de objetos digitais que talvez não sasfaça essa denição
precisa, mais estrita (Duran e Endico-Popovsky, 2010, p.2; MacNeil e Gilliland-Swetland, 2005, p.52).
Um documento de arquivo pode ser denido como um documento – isto é, informação registrada
produzido ou recebido no exercício da avidade práca, como um instrumento ou subproduto dessa
23 denição Anglo-Saxônica [N.T.].
34 University of Brish Columbia (UBC) [N.T.].
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avidade e redo para outra ação ou referência (InterPARES 2 -Glossário da palavra “documento de ar-
quivo”). A parr dessa denição, há certas premissas fundamentais sobre os documentos de arquivo. É
considerado um documento tradicional ou em papel – isto é, um objeto sico com forma xa e conteúdo
estável. É produto de uma avidade humana ou administrava e existe em uma estrutura contextual
hierárquica e em relação com outros documentos de arquivo. Além disso, sua autoria e pessoas respon-
sáveis podem ser idencadas. Seus elementos intrínsecos e extrínsecos, da forma como estão conec-
tados diretamente com seu meio, e o documento de arquivo original têm valor, pois ele é o primeiro a
ser produzido, ou seja, com caracteríscas de originalidade, ou primividade45, a sua completude e a sua
habilidade para angir seu propósito.
É comum considerar documentos de arquivo, documentos em geral e informações que produzimos e dis-
seminamos na internet, como equivalentes ou similares às formas documentais no mundo sico. A pre-
missa dessa equivalência funcional entre documentos e dados digitais e analógicos, e a autencidade e
dedignidade dessas novas criações digitais, são muitas vezes julgadas com as mesmas regras. A práca
da diplomáca é invesgava por natureza. No processo da críca diplomáca, o diplomasta desconstrói
um documento para idencar e localizar os elementos que revelam sua proveniência, suas relações, sua
conabilidade e sua autencidade. Se concordarmos que o núcleo da diplomáca é o documento de ar-
quivo e as bases da moderna diplomáca são os contextos nos quais o documento de arquivo existe, o ato
ou transação do qual ele parcipa, as pessoas (ou atores não humanos) que parcipam de sua produção,
os procedimentos e as formas documentais que governam sua produção e as relações que o conectam
com outros documentos de arquivo, logo podemos entender a análise diplomáca como um processo de
abstração e de sistemazação.
O uso do termo “documento de arquivo” digital pode inicialmente ser mal interpretado, porque o termo
está carregado de muitos signicados na tradição analógica. No entanto, é possível se referir ao “docu-
mento de arquivo digital” nato digital, em que o termo “documento de arquivo” é desconstruído em seus
atributos essenciais que transcendem o meio digital. Como acontece com os documentos de arquivo em
suporte papel, no ambiente digital os atributos contêm forma xa, conteúdo estável, vínculos explícitos
com outros documentos de arquivo, contextos idencáveis, idencação de pessoas envolvidas na produ-
ção do documento e a ação na qual o documento parcipa. Apesar disso, eles se encontram armazenados e
instanciados digitalmente, de maneira que se diferenciam dos suportes analógicos tradicionais, desaando-
-os. Como podemos rastrear esses atributos essenciais do “documento de arquivo” desde nosso passado
analógico para nosso presente digital?
O mundo digital quesona muitas dessas premissas. A forma de um objeto digital pode não ser xa nem
estável no sendo tradicional. Ele pode ser resultado de uma avidade humana ou administrava ou como
parte de um processo de uma máquina. Os objetos digitais podem ser innitamente reproduzidos e seu sig-
nicado e determinação da sua conabilidade e autencidade dependem do conhecimento do seu contex-
to e proveniência. Eles são criados em uma rede horizontal uida em que a autoria e/ou propriedade são di-
ceis ou impossíveis de idencar. Os elementos intrínsecos e extrínsecos da forma não dependem ou não
estão diretamente ligados ao meio sico; na verdade eles podem não estar imediatamente visíveis. O que
costumávamos visualizar no documento, agora está provavelmente oculto. Assim, o próprio documento de
arquivo/objeto é somente entendível com a mediação de um hardware e um soware. As empresas estão
se movendo cada vez mais em direção à descentralização de controle de seus avos digitais, com a adoção
da computação na nuvem – os sistemas dos documentos de arquivo eletrônicos têm múlplos propósitos
e altamente interconectados, e o conjunto diverso de dados textuais, visuais e audíveis, que podem estar
ou não estar em conformidade com a denição de “documento de arquivo”; ainda precisa ser conservado
e preservado e sua conabilidade e autencidade devem permanecer protegidas.
Gerenciar e entender os recursos digitais e os sistemas de informação complexos exigem o envolvimento
de prossionais em tecnologia da informação. Quando os documentos de arquivo precisam ser analisados
em sistemas digitais, é o especialista em forense digital o primeiro a ser chamado, ao invés do arquivista ou
do diplomasta. No entanto, em um nível básico, os profissionais em diplomática digital, como em foren-
se digital estão compromedos em descobrir, entender, descrever e apresentar informações inscritas em
meios digitais.
45 primiveness, no original [N.T.].
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Tanto a forense como a diplomáca digital são ciências invesgavas. Os invesgadores em forense digital
procuram, em um disco rígido ou em outro disposivo de armazenamento, unidades mensuráveis de in-
formação que têm, ou podem ter, valor probatório na reconstrução de eventos. A forense digital é denida
como a “aplicação da ciência e da engenharia em questões legais relacionadas com a prova digital” (Polli,
2009), e, ainda, o uso de métodos derivados da ciência e comprovados por ela na preservação, coleta,
validação, idencação, análise, interpretação, documentação e apresentação da prova digital” (Palmer,
2001). Quais propriedades são necessárias e/ou sucientes para que os materiais digitais sejam viáveis em
um contexto invesgavo especíco? A base da forense digital é a dedignidade da integridade dos dados,
a autencação, a reprodubilidade, a não-interferência e a relevância (Mocas, 2004).
A diplomáca e a forense digital têm muitas similaridades teóricas e metodológicas e comparlham desaos
importantes. Um deles é avaliar a autenticidade e estabelecer o contexto, a proveniência, as relações e o
significado dos documentos de arquivo digitais (diplomáca), ou provas digitais (forense digital). Reunindo
os princípios da diplomáca e as ferramentas da forense digital, podemos abordar os problemas da iden-
cação e da análise de documentos de arquivo em ambientes digitais.
Os vínculos iniciais entre os conceitos da forense e as funções da arquivologia foram estabelecidos há quase
vinte anos. Em 1994, a autora Elizabeth Diamond relacionou o arquivista com o especialista forense. A au-
tora escrevia que o arquivista, assim como o especialista forense, é uma testemunha especialista, que tem
a capacidade de atestar a natureza dos documentos eletrônicos. O arquivista deve ser capaz de “traduzir
esses documentos eletrônicos armazenados em uxos fragmentados de bits, e ser capaz de atestar sua
integridade, da mesma forma com que o ciensta forense atesta a integridade dos materiais recolhidos na
sua invesgação (Diamond, 1994, p.142). No campo da gestão documental, o autor Alastair Irons traçou
paralelos explícitos com a forense digital na sua análise dos princípios da forense computacional no contex-
to das carateríscas documentais de autencidade, conabilidade, integridade e usabilidade. A “Forense
computacional”, expressa Irons, “deve basear-se nas caracteríscas de bons documentos de arquivo, níveis
e natureza do acesso e a indicação da sua completude[1]”. As técnicas da forense digital podem ser usadas
para monitorar a integridade, a autencidade, a conabilidade e a completude dos documentos de arqui-
vo. Irons também propõe que a forense computacional poderia se beneciar por meio da aplicação dos
modelos teóricos dos documentos de arquivo (Irons, 2006). O projeto da Forense Digital de Documentos
de Arquivo (DRF)56 da Universidade da Colúmbia Britânica (UBC) foi uma colaboração de três anos (abril de
2008-abril de 2011), entre a Escola de Biblioteconomia, Arquivologia e Estudos da Informação (SLAIS)67 da
UBC, a Faculdade de Direito da UBC78 e a Divisão da Forense Computacional do Departamento de Polícia de
Vancouver89. A pesquisa abordou os seguintes desaos apresentados pela tecnologia digital para a gestão
documental, a arquivísca e as prossões ligadas ao Direito: a idencação de documentos de arquivo em
sistemas digitais complexos e a determinação da sua autencidade. A pesquisa foi baseada na metodologia
da forense digital e da diplomáca arquivísca e nos princípios do direito da prova, resultando na proposta
de uma nova disciplina: a Forense Digital de Documentos de Arquivo - DRF (Duran e Endico-Popovsky,
2010; Duran, 2009, 2010).
A união interdisciplinar entre a forense digital e a arquivologia encontra-se, neste momento, indo da teoria
para a práxis em arquivos e instuições de patrimônio cultural, em que as ferramentas da forense digital
e as técnicas estão cada vez mais entrando no campo da preservação. O projeto Vida Digital da Biblioteca
Britânica910 foi o primeiro a pesquisar o uso de ferramentas forenses para propiciar autencidade em mate-
riais digitais (John et al., 2010; John, 2008). Em 2010, o Conselho de Biblioteca e Recursos da Informação1011
publicou um relatório procuo apresentando a aplicação da forense digital no setor do patrimônio cultural,
estabelecendo rmemente um vínculo entre a curadoria digital e a forense digital (Kirschenbaum et al,
2010). A forense digital e a arquivologia estão se juntando no desenvolvimento de ferramentas tais como
BitCurator, um conjunto de ferramentas da forense digital na análise de dados para subsidiar a preservação
digital em instuições de patrimônio cultural (wiki.bitcurator.net) e Archivemaca, um conjunto de uxos
de trabalho de preservação digital segundo o ISSO-OAIS e as descobertas do InterPARES (www.archivema-
ca.org ). Na comunidade prossional da forense digital, a literatura tem sido predominantemente técnica,
56 Digital Records Forensics (DRF) [N.T.].
67 School of Library, Archival and Informaon Studies (SLAIS) [N.T.].
78 Faculty of Law [N.T.].
89 Computer Forensics Division of Vancouver Police Department [N.T.].
910 The Digital Lives at the Brish Library. [N.T.].
1011 Council on Library and Informaon Resources [N.T.].
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embora exista literatura propondo que a forense digital esteja situada dentro de um amplo arcabouço social
e teórico (Mocas, 2001; Palmer, 2001, 2002; Polli, 2009). O campo da diplomáca foi introduzido na litera-
tura forense pelo ciensta Fred Cohen, um pesquisador que neste momento faz parte do grupo InterPARES
Trust da UBC (Cohen, 2011, 2012).
Este argo es construído sobre trabalhos anteriores e apresenta uma exploração introdutória de um
modelo de “documento de arquivo”, o qual mapeia seus atributos tradicionais sobre uma análise técnica
dos documentos de arquivo digitais. Este modelo está dividido em três camadas de abstração, a saber, a
camada conceitual, a lógica e a sica. Assim, propomos aplicar a diplomáca de documentos digitais de
arquivo que idenque os elementos essenciais de um documento de arquivo em cada camada de abstra-
ção. O projeto em andamento faz parte da minha pesquisa de doutorado e é um estudo dentro do projeto
do InterPARES Trust (Documentos de Arquivo Conáveis em uma Sociedade Cada Vez Mais Conectada)12,
Metadados, Mutas Mutandis: Parâmetros de Design para a Autencidade na Nuvem e Entre Contextos
(www.interpares.org)13.
Uma visão técnica dos documentos de arquivo
A abstração é um processo de compreensão de objetos complexos ocultando todos os detalhes, exceto
as carateríscas essenciais de um conceito ou objeto especíco necessário para concluir uma tarefa
especíca. Cada camada de abstração conterá seu próprio conjunto exclusivo de caracteríscas e funcio-
nalidades existentes, independentemente das outras camadas. Por exemplo, quando dirigimos um carro,
precisamos conhecer a regras da estrada, como ligar o motor, como dirigir, como parar, etc. Não preci-
samos conhecer como funciona a combustão do motor ou como trabalha o sistema do computador de
bordo. Essas são as camadas de abstração. Usando essa analogia em nossos sistemas digitais, precisamos
entender como criar documentos de texto ou navegar pela internet, porém, não nos preocupamos com
a programação que está por trás dessas tarefas.
Aos nossos olhos, um documento de arquivo existe como um objeto conceitual, como algo que pode ser
impresso no papel a parr de nosso computador ou que pode ser legível na nossa tela. Sabemos que ele
pode estar armazenado no disposivo digital ou na nuvem, porém o usamos e pensamos na sua concepção
visual. Nossa interação com ele é como um objeto conceitual – um documento de arquivo. Mas, precisa-
mos entender os documentos de arquivo digitais enquanto objetos sicos e lógicos, para preservá-los e
avaliar sua autencidade.
Os documentos de arquivo digitais podem ser entendidos em três níveis de abstração (Figura 1). No nível
mais alto de abstração se encontra o objeto conceitual – o documento de arquivo como ele é reconhecido e
entendido por uma pessoa. O documento de arquivo que olhamos no nosso monitor ou tela é apresentado
para nós por um soware, que é o aplicavo usado para criar o documento.
O documento de arquivo também existe como um objeto sico – uma inscrição de signos sobre um meio
sico. A informação constuída por dados e as instruções para sua manipulação e apresentação são repre-
sentadas em um de dois estados - ligado ou desligado – sinais eletrônicos - um sistema binário de 0s (desli-
gado) e 1s (ligado). Um bit é a menor unidade de informação que pode ser armazenada ou manipulada; um
byte (oito bits) é a unidade básica de armazenagem na memória de um computador.
Por úlmo, o documento de arquivo existe como um objeto lógico - um objeto, ou provavelmente muitos
objetos diferentes ou componentes digitais, reconhecidos e processados por um hardware e um soware
para a produção do documento de arquivo conceitual. É nesse nível que nossas analogias com o mundo
analógico fracassam. Sabemos que um documento de arquivo pode ser representado por diferentes pos
de aplicavos de soware, mas temos essencialmente a mesma apresentação (por exemplo, um documen-
to em Word ou um documento em PDF) embora seja formado por componentes digitais diferentes, vincula-
dos de formas diferentes pelos aplicavos e sistemas operacionais de soware e hardware [2] (Trace, 2011;
Thibodeau, 2002). O documento de arquivo pode também ser apresentado por diversos sowares e ter o
mesmo conteúdo intelectual, porém, ter uma apresentação consideravelmente diferente (por exemplo, um
12 Trusng Records in an Increasingly Networked Society [N.T.].
13 Metadata, Mutas Mutandis: Design Requirements for Authencity in the Cloud and Across Contexts [N.T.].
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documento em Word ou um documento em .txt).
A camada lógica inclui tudo o que acontece por trás da tela (“debaixo do capô”).14 Ela pode ser entendi-
da como várias camadas de abstração (gura 2). O nível mais alto inclui sowares aplicavos, como, por
exemplo, um soware de processamento de palavras ou dados – programas de mulmídia, aplicavos
de bases de dados etc. Esses aplicavos são gerenciados pelo soware do sistema – sistemas operacionais,
sowares ulitários, compiladores etc.
Numa visão técnica de documentos de arquivo (digitais), isolamos coisas diferentes. Na diplomáca tradi-
cional, os elementos formais intrínsecos e extrínsecos existem tanto no conteúdo do documento como no
meio sico. Na diplomáca digital não podemos pensar da mesma forma. O contexto tecnológico do docu-
mento de arquivo inclui a linguagem em que os dados e as instruções do computador são representados e
manipulados e os componentes sicos necessários para que um computador realize as tarefas predetermi-
nadas. O meio sico não é mais um elemento extrínseco da forma, ele faz parte do contexto tecnológico no
qual o documento de arquivo é criado, conservado e preservado (Duran e Thibodeau, 2006).
Figura 1. Uma visão abstrata de documentos de arquivo digitais
Figura 2. Camada lógica
14 (“under the hood”), no original [N.T.]
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A maioria dos usuários interage com documentos de arquivo por meio dos sowares aplicavos. Eles são os
aplicavos e sistemas operacionais que importam para a idencação de documentos de arquivo e outros
materiais digitais que pretendemos analisar. A relação entre as camadas lógica e sica é denida pelo aplica-
vo e o ambiente no qual esse aplicavo é executado no sistema operacional. Porém, a estrutura do nosso
objeto conceitual é consideravelmente diferente da estrutura desse objeto conceitual nas camadas lógicas,
e o mesmo conteúdo conceitual pode ser representado por diferentes aplicavos e, portanto, por diferen-
tes codicações (Thibodeau, 2002). Onde encontramos os elementos formais extrínsecos e intrínsecos?
A forma documental
A forma documental é denida como as regras de representação de acordo com as quais o conteúdo de um
documento de arquivo, seu contexto administravo e documental e sua autoridade são comunicados atra-
vés de seus elementos intrínsecos e extrínsecos. Os elementos formais extrínsecos determinam o layout e
a aparência dos documentos de arquivo. Eles incluem elementos como a linguagem, os recursos de apre-
sentação e símbolos especiais, e sua presença faz com que o documento possa ser executado. Os recursos
extrínsecos também incluem anotações adicionadas durante a execução, manuseio ou o gerenciamento e a
preservação do documento de arquivo. Os elementos intrínsecos transmitem a ação e seu contexto imedia-
to nos quais o documento de arquivo se insere. Eles incluem nomes de pessoas, datas, localização, assunto,
tulo, atestações e assim por diante, e sua presença faz com que o documento de arquivo que completo
(Duran, 1998). Através da análise desses elementos, é possível estabelecer a idendade e rastrear a inte-
gridade do documento de arquivo ao longo do tempo, permindo assim a avaliação da sua autencidade.
No mundo do suporte em papel, esses elementos da forma são evidentes simplesmente com uma inspeção
visual ao documento de arquivo. No ambiente digital, eles podem ser visíveis na manifestação conceitual do
documento de arquivo, porém, pode exisr também (ou não) na representação lógica do documento de ar-
quivo. Assim, eles podem ser explícitos nos dados do documento de arquivo (conteúdo) ou capturados ma-
nualmente ou automacamente como metadados associados ao documento de arquivo conceitual. Esses
metadados podem estar imediatamente visíveis (por exemplo, o nome do arquivo e o caminho), visíveis por
meio das funções disponíveis para qualquer usuário do sistema no qual o documento do arquivo é armaze-
nado (por exemplo, o tamanho do arquivo a data de criação ou a úlma modicação), ou visível por meio
simplesmente de uma invesgação mais complexa ulizando ferramentas especializadas (forense digital).
Assim os metadados podem estar presentes nas camadas conceitual e lógica que formam o documento
de arquivo. Ao idencar os seus elementos relacionados aos elementos formais extrínsecos e intrínsecos
necessários para realizar uma análise diplomáca, deve ser possível idencar documentos de arquivo em
sistemas digitais e avaliar sua autencidade. No entanto, existem vários desaos ao rastrear elementos di-
plomácos nos metadados. Por exemplo: quem os cria? Quais são mandos e quais são perdidos durante
a transmissão, migração etc.? Quem é seu proprietário? Eles são acessíveis? Como eles estão vinculados
com o documento de arquivo originário? Quais são necessários para serem preservados com o documento
de arquivo ao longo do tempo? Essas são apenas algumas das perguntas que precisam ser feitas.
Quando se trata de declarar documentos eletrônicos de arquivo, os prossionais de
governança da informação vêm lutando há algum tempo com a questão de quais
metadados preservar (Isaza, 2010).
Os arquivistas têm certa familiaridade com a classicação dos metadados por sua função ou propósito:
descrivos, administravos (técnicos, de direito, de preservação) e estruturais. Os metadados descrivos
contêm elementos ou propriedades que idencam um documento de arquivo digital e subsidiam sua loca-
lização e interpretação. Os metadados administravos são usados para gerenciar o documento de arquivo.
Os metadados administravos podem conter metadados que fornecem informação sobre o contexto téc-
nico do documento de arquivo, informação sobre direitos e obrigações vinculados aos recursos digitais tais
como a propriedade, o direito autoral ou outros direitos de propriedade intelectual, as restrições de uso e
de segurança, e os metadados de preservação, descrevendo os requisitos para preservar o documento de
arquivo ao longo do tempo e das mudanças tecnológicas. Os metadados estruturais documentam as rela-
ções estruturais entre ou dentro dos recursos digitais, como por exemplo, a estrutura de um arquivo dentro
de um recurso digital ou a ligação entre páginas de internet em um Web Site. Os metadados estruturais
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auxiliam na exibição e no uso adequado de objetos complexos. As categorias dos metadados derivam da
criação, conservação e preservação de recursos. Outra categoria pode ser idencada baseada no uso de
recursos, tanto da analíca como do conteúdo gerado pelo usuário. O uso de metadados inclui elementos
de dados ou propriedades coletados sobre ou dos usuários do documento de arquivo (por exemplo, tags
sociais, registros de acesso, registro de busca de usuário). Os metadados também permitem a represen-
tação de material em vários níveis de agregações – da instuição arquivísca, das séries ou coleções do
documento de arquivo e da informação ou do componente digital (Zhang e Mauney, 2013).
Contudo, os metadados geralmente não são classicados de acordo com a função, mas de acordo com a
fonte. Dada a prevalência de material digital apresentado como prova em ligios e tribunais e a falta de con-
sistência com que os metadados são considerados pelos tribunais, a Conferência de Sedona15 [3] oferece
um exemplo relevante e importante: A Conferência de Sedona idenca sete pos de metadados:
(1) Metadados aplicavos: São dados criados por um aplicavo especíco para a
informação armazenada eletronicamente (IEA)16 sendo direcionados, embudos no
arquivo e movidos por este quando forem copiados; a cópia pode modicar os metadados
aplicavos.
(2) Metadados do documento: Propriedades sobre o arquivo nele armazenado [...] como
exemplo se incluem o autor do documento e a empresa, e as datas de criação e de revisão.
(3) Metadados do e-mail: São dados armazenados no e-mail sobre o e-mail. Muitas vezes
essa informação não é visível no aplicavo cliente do e-mail usado para criar o e-mail,
como por exemplo, endereços de cópia oculta, data de recebimento [...].
(4) Metadados embudos: Estão geralmente ocultos, mas são uma parte integrante da IEA,
tais como “rastreio de modicações” ou “comentários” em um arquivo de processamento
de texto [...]. Isso pode estar disponível somente no arquivo original ou inicial.
(5) Metadados do sistema de arquivos: são metadados geralmente gerados pelo sistema
para rastrear a demográcos (nome, tamanho, lugar, po de uso, etc.) da IEA e que não
esteja embuda, mas armazenada externamente a parr da IEA.
(6) Metadados adicionados pelo usuário: dados, possivelmente produto do trabalho,
criados por um usuário quando copia, revisa e trabalha com um arquivo, incluindo
anotações e informação subjeva codicada.
(7) Metadados adicionados pelo fornecedor: são dados criados e mantidos pelo fornecedor
eletrônico legalmente autorizado como resultado do procedimento do documento [...]; muito
disso é usado para relatórios de processamento, cadeia de custódia e prestação de contas dos
dados (The Sedona Conference, 2010).
Embora essa classicação possa ser úl com o objevo de alertar os prossionais da área legal sobre as fon-
tes de metadados associados a informações armazenadas eletronicamente, buscadas e comparlhadas na
parte legal (Discovery), ela não descreve, nem prova a estrutura ou a forma documental do documento de
arquivo, nem ajuda a avaliar sua autencidade ou sua proveniência. De fato, de acordo com o guia de boas
prácas para gerenciar documentos eletrônicos da Sedona17, “Na ausência de um requisito legal que seja
contrário, as organizações não precisam preservar os metadados; mas pode ser úl preservá-los em alguns
casos” (The Sedona Conference, 2007).
Nem sempre é papel dos metadados considerar a estrutura e a completude dos documentos de arquivo ou
objeto digital que eles descrevem. Esse é o movo dos esquemas de metadados orientados a objevos que
prescrevem um conjunto de elementos de metadados requeridos para um objevo especíco, tais como
a recuperação da informação ou gerenciamento de coleções ou para a preservação. O que a diplomáca
digital tenta realizar é identificar todos os elementos necessários dos metadados que devem ser criados,
gerenciados e preservados para idencar inequivocamente um documento de arquivo e demostrar sua
integridade ao longo do ciclo de vida desse documento de arquivo, desde sua produção até sua gestão
de uso, reuso e preservação. Note-se que isso não é um processo linear, é cíclico ou connuo ao longo do
tempo e acaba unicamente quando, ou se, o documento é destruído sem vesgios da sua existência.
15 The Sedona Conference [N.T.].
16 Electronically Stored Informaon (ESI) [N.T.].
17 Sedona’s best pracce guidelines form managing electronic records [N.T.].
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Para idencar documentos de arquivo em sistemas digitais e avaliar sua autencidade, devemos voltar
aos princípios da diplomáca arquivísca. Devemos localizar os elementos formais extrínsecos e intrínsecos
nos metadados de idendade e integridade, que podem ser localizados em várias camadas de abstração
do documento de arquivo conceitual e lógico. O meio sico não é um problema. As regras que regem o
objeto lógico são independentes de como os dados são escritos no meio sico. No nível lógico, a gramáca
(a interpretação dos bits) é independente do meio sico. Uma vez os que os dados sejam lidos na memó-
ria, o po de meio e sua forma de inscrição não têm relevância. As regras que são aplicadas no nível lógico
determinam como o uxo de entrada é transformado dentro da memória do sistema e a sua saída como
apresentação. O mapeamento do lógico para o físico pode ser alterado, sem afetar o nível logico (Figura 3).
Podemos mapear os elementos formais intrínsecos da camada lógica dos documentos de arquivo? Os ele-
mentos dos metadados de idendade e de integridade, exigidos pelo InterPARES para avaliar a autencida-
de dos documentos de arquivo digitais ao longo do ciclo de vida, foram idencados no Perl do Aplicavo
para Metadados de Autencidade (IPAM)18. Esta pesquisa, seguindo o modelo de Singapura e a Iniciava
de Metadados da Dublin Core (DCMI), desenvolveu um conjunto de requisitos funcionais, os quais foram
modelados através de diagramas de endades-relações. Estes requisitos funcionais determinaram um de-
senvolvimento de metadados, a saber:
[...] necessários e sucientes para apoiar a presunção de autencidade dos documentos
de arquivo, interoperáveis entre sistemas e no decorrer do tempo, adequados para a
descrição de arquivos e úteis tanto para a recuperação como para exibição signicava
de documentos de arquivo.
Figura 3
Como foi comentado anteriormente pelo estudo do InterPARES, os elementos dos metadados foram codi-
cados por função, funções essas idencadas de acordo com os princípios da arquivologia e da teoria da
diplomáca. O perl do aplicavo captura, assim, a prova dos anexos; autencação; ligações com outros
documentos de arquivo com os quais o documento de arquivo se relaciona e seu contexto, datas e os mo-
mentos em que é necessário documentar o ciclo de vida do documento de arquivo no ciclo de vida; ligações
com a documentação externa que rege a preservação, transferência e acesso ao(s) documento(s) ao longo
do tempo; regras de apresentação que determinam a aparência de uma endade; manipulação da infor-
mação; informação da localização do armazenamento, cópias de segurança (backups) ou duplicação; iden-
cação de indivíduos ou endades legalmente denidas, que sejam sujeitos de direitos e deveres e que
sejam reconhecidos pelo sistema jurídico, com a capacidade ou o potencial de atuar legalmente em relação
com o(s) documento(s) de arquivo, as restrições ou privilégios de direitos e os acessos que se aplica(m)
ao(s) documento(s) de arquivo, o assunto da ação ou matéria que pertence ao(s) documento(s) de arquivo
e a informação tecnológica sobre o(s) transmissor(es) da forma e o conteúdo do documento de arquivo ao
longo do tempo (Tennis e Rogers, 2012ª, 2012b).
18 Applicaon Prole for Authencity Metadata (IPAM) [N.T.].
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Próximos passos
Este modelo de metadados conceitual baseado nos princípios da diplomáca, pode agora ser mapeado
dentro das camadas lógicas do documento de arquivo digital. Para isso, será necessário analisar os metada-
dos existentes que são ou podem ser inseridos pelos agentes que manipulam o documento de arquivo, isto
é, as pessoas e os sistemas que inserem metadados manual ou automacamente. Na interface entre a ca-
mada conceitual e a camada do aplicavo (camada lógica), estão as pessoas que participam da sua criação
e recriação ao longo do tempo, as pessoas que parcipam em seu gerenciamento e/ou sua preservação e
as pessoas e os sistemas que usam o documento de arquivo. Na camada lógica do aplicavo e do soware
e hardware do sistema, estão os elementos dos sistemas que o gerenciam.
Assim, vamos voltar para a forense digital como foi mencionado antes. Peritos da forense digital estão
localizando e usando metadados (que é fundamental para análise de dados e visualização, segurança,
inteligência e vigilância) para reconstruir eventos criminais ou incidentes de segurança. Consideremos, por
exemplo, os metadados associados com um tweet (tabela 1):
Tabela 1
O campo dos metadados idencados na tabela 1 e relatados por meio da invesgação da forense digi-
tal, são guardados automacamente por Twier e podem ser interpretados como conceitos diplomácos.
Porém, os metadados não são à prova de falhas dos eventos.
Segue uma captura de tela das propriedades de um documento de Word indicando que sou a autora. Ela é
gerada automacamente como resultado da conguração do meu notebook (um iMac executando a versão
OSX 10.9.2) (gura 4).
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Figura 4. Propriedade do Documento – Word (1)
É possível adicionar mais metadados no documento de arquivo em questão. Na Figura 5 foram inseridos
tulo, assunto e palavras chaves.
Esses elementos de metadados, porém, não são necessariamente elementos formais intrínsecos conáveis
já que podem ser facilmente modicados (gura 6).
Além disso, o mesmo documento de arquivo salvo em outro formato não mostra os mesmos metadados
(gura 7).
A pesquisa connua em andamento atualmente pelo InterPARES Trust, no design de sistemas para me-
tadados em todas as camadas de abstração para que possam ajudar na presunção de autencidade de
documentos de arquivo digitais.
Figura 5. “Propriedades do Documento - Word (2)”
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Figura 6. Propriedade do Documento (3)
Figura 7. Propriedade do Documento - PDF
Conclusões
Os documentos de arquivo digitais estão estruturados em: dados (conteúdo) gerados pelo usuário, metada-
dos, gerados pelo sistema, que idencam a sua fonte e a sua localização, metadados gerados por aplica-
vos que gerenciam a aparência e o desempenho do documento de arquivo (como, por exemplo, o formato
do arquivo original), metadados gerados por aplicavos que descrevem os dados (como por exemplo os
metadados do sistema operacional em que o arquivo foi gerado), e metadados que descrevem os dados,
gerados pelo usuário. A diplomáca digital, baseada nos princípios da diplomáca tradicional, pode subsi-
diar na idencação de documentos de arquivo digitais por meio de seus metadados e determinar quais
metadados são necessários para serem capturados, gerenciados e preservados.
Notas do texto original
Os primeiros prossionais se referiram à práca de computação forense. Como os disposivos de arma-
zenamento digital se tornaram onipresentes e não eram necessariamente computadores tradicionais, o
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termo “digital” começou a substuir o de “computador” (Whitcomb, 2002).
Para informação mais detalhada sobre este modelo tripardo de documento, ver Thibodeau (2002), Trace
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A Conferência de Sedona (hps://thesedonaconference.org) é um instuto de pesquisa e de educação
não pardário, dedicado ao avanço da lei e das polícas nas áreas de direito antruste, ligios complexos
e direitos de propriedade intelectual. Ela produziu vários relatórios inuentes sobre e-discovery e prova
eletrônica. O trabalho da Conferência de Sedona foi inuente em caso de lei decidindo sobre prova digital.
Veja, por exemplo, Aguilar v. Immigraon & Customs Enforcement Div. of US Dept of Homeland Sec., 255
F.R.D. 350 (S.D.N.Y. 2008) dedicado à classicação e à importância dos metadados, citado por (the Sedona
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Neste artigo faz-se uma abordagem macro (nacional) à cultura informacional enquadrada na cultura organizacional, com o objectivo de demonstrar a sua importância para a implementação da preservação digital nas instituições públicas. Faz-se uma contextualização histórico-temporal do cenário informacional moçambicano considerando-se os principais momentos e instrumentos legais que contribuem para a construção de uma identidade cultural das instituições. A partir desta realidade, conjugada com os elementos teóricos levantados, faz-se uma abordagem sobre uma viragem necessária no sentido de se criar condições que favoreçam a preservação digital e o acesso à informação. Metodologicamente, fez-se levantamento bibliográfico e documental, tendo sido identificadas e selecionadas obras que versam sobre a temática, assim como instrumentos legais que estabelecem as directrizes da actuação dos arquivistas e demais profissionais na sua abordagem à informação em todo o seu ciclo de vida. Como resultados indica-se um conjunto de elementos que necessitam de uma viragem no sentindo de transformar a cultura organizacional e informacional para uma perspectiva positiva e aberta onde o acesso se sobrepõe ao segredo, pois considera-se que a implantação efetiva e bem sucedida da preservação digital, assim como de todos os elementos inerentes ao trabalho informacional dependem sobremaneira da forma como a informação é encarada, partilhada e interpretada pelos profissionais que integram as instituições.
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This paper introduces the Digital Records Forensics project, a research endeavour located at the University of British Columbia in Canada and aimed at the development of a new science resulting from the integration of digital forensics with diplomatics, archival science, information science and the law of evidence, and of an interdisciplinary graduate degree program, called Digital Records Forensics Studies, directed to professionals working for law enforcement agencies, legal firms, courts, and all kind of institutions and business that require their services. The program anticipates the need for organizations to become “forensically ready,” defined by John Tan as “maximizing the ability of an environment to collect credible digital evidence while minimizing the cost of an incident response (Tan, 2001).” The paper argues the need for such a program, describes its nature and content, and proposes ways of delivering it.
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Fifteen years ago, Elizabeth Diamond described the archivist as a forensic scientist. In the past few years, several archival writers have referred to professionals responsible for keeping digital records as trusted keepers or custodians. Undoubtedly, in the digital environment, record professionals are increasingly called to assess and preserve the authenticity of the records they are responsible for, and to act as neutral third parties. But, are they qualified to fulfill this role? This article aims to begin identifying the body of knowledge that a trusted record professional needs in order to assess the trustworthiness of digital records and ensure that their continuing authenticity can be demonstrated, if required, at any point during their life cycle. To do so, it presents some of the concepts developed by the InterPARES Project in the area of diplomatics of digital records; compares them with the relevant concepts of a relatively new discipline called digital forensics; discusses the methodologies used by the two disciplines; and proposes areas that can be jointly investigated by diplomatics and forensics experts to develop an integrated body of knowledge that might be called Digital Records Forensics.
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The research project currently underway at the University of British Columbia's Master of Archival Studies Programme is directed toward identifying and defining the requirements for creating, handling, and preserving reliable and authentic electronic records. This article provides an overview of the research project, outlining its objectives and methodology, summarizing its conceptual analysis, and presenting its major findings to date.
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This article presents the concept of electronic record as articulated by the first phase of the InterPARES (International research on Permanent Authentic Records in Electronic Systems) Project (1999–2001) and discusses it in light of the findings of the second phase of the Project (2002–2006). While InterPARES 1 focused on records produced and/or maintained in databases and document management systems, InterPARES 2 examined records produced and/or maintained in interactive, experiential and dynamic environments. The authors describe the characteristics of these environments and of the entities found in them in the course of case studies conducted on systems used for carrying out artistic, scientific and e-government activities, and propose the new concept of record that InterPARES 2 is eleborating, which expands on that formulated by InterPARES 1.
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The relationship between archival description and descriptive metadata of digital objects has not been explicitly discussed in the literature. The discussion will enhance our understanding of the relationship between archival context and digital content, a significant topic in a networked digital environment. The data collected in this study show that archivists have made conscious efforts to build connections between archival description (context) and digital items (content), and, as a result, distinct representation models have emerged from digital archival practice. However, at the level of integration of archival context and digital content in digital archival representation, archivists are challenged to achieve an ultimate goal of making digital archives more accessible and better contextualized in the digital world.
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Over the past thirty-five years, archivists have worked to establish bodies of knowledge and expertise to help manage and preserve born-digital records. What has been missing from the archival literature is a foundational piece that explicitly explores how the components of a computer work together to create, manage, and store those digital objects, which are later deemed to have long-term or enduring value. Understanding and working with born-digital material requires us to open the computer’s black box and become as familiar with computer hardware, application software, system software, and firmware as we have become with earlier writing, recording, and storage technologies. At its heart, this article takes on a role similar to that of a micro-ethnography, whereby the actions to create and save a digital document are grounded in an examination of the sequence of technologies utilized to bring such actions to fruition. In the process, this article brings to life the material traces that are left behind as human and computer interact to create the record.
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The adoption of existing technologies for digital curation, most especially digital capture, is outlined in the context of personal digital archives and the Digital Manuscripts Project at the British Library. Technologies derived from computer forensics, data conversion and classic computing, and evolutionary computing are considered. The practical imperative of moving information to modern and fresh media as soon as possible is highlighted, as is the need to retain the potential for researchers of the future to experience the original look and feel of personal digital objects. The importance of not relying on any single technology is also emphasised.
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Purpose To explore the meaning, methods and techniques associated with the subject of computer forensics and consider the implications of computer forensics for records managers and recordkeeping. Design/methodology/approach Critically analyses the principles of computer forensics in the context of records characteristics – authenticity, reliability, integrity and usability – and the UK Association of Chief Police Officers (ACPO) principles and procedures for the collection of digital evidence. Findings The disciplines of records management and computer forensics are potentially mutually compatible. Computer forensics allows for identification of incidents, gathering of evidence, analysis of evidence and potentially recovery of records. Records managers can utilise computer forensics principles to positively enhance records management and have valuable knowledge and expertise to share with their computer forensics colleagues; e.g. metadata expertise, functional requirements for electronic records management, recordkeeping systems design and implementation methodologies, digital preservation and retention management. Research limitations/implications Discusses how computer forensics can be used to highlight inadequate recordkeeping and provide a different perspective on records management based on an analysis of principles and concepts rather than empirical data. Practical implications Highlights the need for records managers to understand computer forensics and computer forensic scientists to understand recordkeeping to support better records management in the electronic environment; raises the implications for educators, trainers and professional societies. Originality/value Very little has been published on the discussion of the potential implications of computer forensics for records managers or how computer forensics can enhance the records management discipline; this paper addresses the gap.
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In order for technical research in digital forensics to progress a cohesive set of electronic forensics characteristics must be specified. To date, although the need for such a framework has been expressed, with a few exceptions, clear unifying characteristics have not been well laid out. We begin the process of formulating a framework for digital forensics research by identifying fundamental properties and abstractions.