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Editorial|Pandemia, agricultura familiar e
Tecnologia da Informação e Comunicação:
tendências de pesquisa
Fábio Mosso Moreiraa e Fernando de Assis Rodriguesb
Esse editorial reflete sobre um evento que marcou o ano de 2020.
O momento é de uma pandemia, que trouxe à tona desafios já
antes enfrentados na história, mas com um tempero a mais – a
interrelação das pessoas as Tecnologias da Informação e
Comunicação (TIC). Talvez esse marco tenha impulsionado, ou
até mesmo consolidado, uma tendência que já estava se
embrenhando nos tecidos sociais desde a ‘universalização’ dos
dispositivos digitais e da Internet, denominada por Castells
(1999) como Sociedade da Informação.
Os desdobramentos na ciência, ocasionados por esse
contexto, são diversos: a área da saúde se encontra debruçada
sobre o desenvolvimento das vacinas; as engenharias estão
dedicadas a inovar em aparatos e construir instrumentos que
minimizem os riscos de contágio; as ciências econômicas estão
buscando identificar meios para amenizar os efeitos do lock
a Doutor em Ciência da Informação. Professor na UNESP – Universidade
Estadual Paulista. fabio.moreira@unesp.br. https://orcid.org/0000-0002-9582-
4218
b Doutor em Ciência da Informação. Professor na UFPA – Universidade Federal
do Pará. fernando@rodrigues.pro.br. https://orcid.org/0000-0001-9634-1202.
RECoDAF – Revista Eletrônica Competências Digitais para Agricultura Familiar v. 6, n. 2 2020.
ISSN: 2448-0452
14 Moreira; Rodrigues
down e incorporar na gestão os novos processos de trabalho para
adequar as organizações públicas e privadas às novas rotinas de
trabalho remoto; a Ciência da Informação atuando no
monitoramento da desinformação, da garantia da transparência
governamental, e fornecendo referências para a computação
desenvolver novos serviços e ambientes digitais; entre outras
áreas, cada uma acrescentando seu tijolo, colorido com suas
nuances, no muro do conhecimento que se ergue contra essa
pandemia.
A RECoDAF, como veículo de comunicação científica,
reforça o papel e a importância desses meios na disseminação do
conhecimento que está sendo construído. Em especial, na
publicação de investigações que se dediquem a analisar as novas
variáveis – intrínsecas ao uso das TIC – que se formaram em
torno dos pequenos produtores rurais, influenciando tanto no
aspecto positivo quanto negativo.
A preocupação com a qualidade nutricional fez com que
uma parcela da sociedade passasse a consumir alimentos
produzidos por pequenos produtores, uma vez que estes, quando
não são orgânicos, são cultivados com menor uso de agrotóxicos,
além do fato de que o distanciamento social também fez com que
os mercados locais, que revendem produtos desses agricultores,
voltassem a ser uma opção atrativa frente as grandes redes
varejistas (SCHNEIDER et al., 2020).
O aumento da demanda por alimentos produzidos por
pequenos produtores também acompanhou o aumento do PIB da
produção agropecuária, com variação positiva de 1,9% no
primeiro trimestre e previsão de 2,5 para o ano (IBGE, 2020).
Para acompanhar esta demanda, os pequenos produtores tiveram
que recorrer a opções para comercialização online de sua
produção e se adequar aos novos protocolos de enfrentamento à
pandemia (SCHNEIDER, 2020), e isso só intensificou o uso das
TIC, como, por exemplo, os Serviços de Redes Sociais Online
Editorial | Pandemia, agricultura familiar e Tecnologia… 15
para interação com os consumidores.
Surgem desafios aos desdobramentos do uso de TIC para
acompanhar a nova conjuntura econômica na qual esses
produtores estão inseridos, o que é um motivador para subsidiar
novas pesquisas sobre privacidade de dados, de usabilidade e de
acessibilidade de ambientes digitais, entre outras temáticas
aderentes à RECoDAF, e que certamente serão impulsionadas
pelo periódico ao longo das próximas edições..
Nesse segundo número de 2020, encontram-se publicados
sete artigos, agrupados em três dimensões conceituais distintas. A
primeira dimensão contém artigos com resultados mais teóricos e
analíticos, versando sobre aspectos da composição de identidade
digital de pequenos produtores e sobre os efeitos da incorporação
de agroteconologias em comunidades rurais. Fazem parte desta
dimensão os artigos intitulados “Conceitualização da identidade
digital como competência informacional no contexto da
agricultura familiar (MARTÍNEZ-CARDAMA, 2020)”;
“Agrotecnologias disruptivas (SAUSEN et al. 2020)”;
“Incorporação de AgroTIC no campesinato do sudeste mexicano
a partir de um processo sociosemiótico (DELGADO, 2020)”; e
“O uso das Tecnologias da Informação e Comunicação na
agricultura familiar: novas ruralidades em São Valentim-RS,
Brasil (FRANCESCHI; DEGGERONE; BOMBARDELI,
2020)”.
Dois artigos compõem a segunda dimensão temática desse
número, representada por resultados de pesquisa que possuem
uma essência mais tecnológica, demonstrando resultados do
desenvolvimento e análises de aplicativos específicos para os
pequenos produtores. Os artigos que compõem esta dimensão
intitulam-se “Aplicativo Empreenda Agro Sustentável:
ferramenta condutora para o comportamento empreendedor
16 Moreira; Rodrigues
(SANTOS et al., 2020)” e “Palmas Para a Vida: aplicativo para
orientação de pequenos agricultores no planejamento, plantio,
manejo e uso da palma forrageira (CORDEIRO; PEREIRA;
OLIVEIRA JÚNIOR, 2020)”.
Por fim, a terceira dimensão tem um cunho mais associado a
área de gestão, representada pelo artigo intitulado “A
agroindústria familiar de suco de uva integral como agregação de
valor: um estudo sobre a viabilidade econômica (MAIA et al.,
2020)”, traz referências sobre a aplicação de indicadores de
viabilidade econômica no planejamento para implementação de
uma agroindústria de processamento de suco de uvas.
Assim, considera-se fundamental que a comunidade
acadêmica continue desenvolvendo estudos que abordem
perspectivas acerca de outras realidades dos pequenos produtores
no Brasil e no mundo, enriquecendo o setor produtivo da
Agricultura Familiar, e desmistificando o papel que as TIC
adotam enquanto pontes entre os produtores e o conteúdo
informacional.
Referências
CASTELLS, M. A sociedade em rede. ed. 1. São Paulo: Paz e
Terra, 1999.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA.
Agropecuária cresce 1,9% no primeiro trimestre, diz IBGE.
IBGE, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/pt-
br/noticias/agricultura-e-pecuaria/2020/06/agropecuaria-cresce-1-
9-no-primeiro-trimestre-diz-ibge. Acesso em: 24 dez. 2020.
SCHNEIDER, S.; CASSOL, A.; LEONARDI, A.; MARINHO,
M. de. M. Os efeitos da pandemia da Covid-19 sobre o agronegócio
e a alimentação. Estudos Avançados, São Paulo, v.34, n.100, p.
167-188, 2020.