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A DIMENSÃO ALGORÍTMICA DOS DISCURSOS OU COMO A LÍNGUA SE TEXTUALIZA NOS MÍDIUNS DIGITAIS

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Este ensaio retoma a conferência de 14 de agosto de 2019, proferida na abertura do XI SELin-Seminário de Estudos Linguísticos da UNESP, procurando especificar algumas noções que foram apresentadas naquela altura e que, desde a interlocução ali estabelecida, pela qual agradeço imensamente à Organização, circularam em outros ambientes, acumulando reflexões. Assim, o título inicial "Técnica algorítmica, mídiuns digitais" passou a este outro, acima, com o qual procuro explicitar o ponto central neste programa de pesquisa: há uma dimensão algorítmica nos discursos em circulação, pois a língua, nas suas formas de distribuição hoje hegemônicas, textualiza-se em dispositivos digitais, nos quais uma tela tem efeito de suporte-primeiro, quando, de fato, a própria projeção na tela decorre de operações bastante sofisticadas, em que pacotes de informação trafegam por infovias e combinam-se conforme uma programação engenhada antes e alhures 1. Com isso, propomos entender que a emergência dos enunciados ou dos discursos textualizados, se se preferir, é o ponto de partida de uma análise que deve considerar como apareceu ali aquele enunciado e não outro em seu lugar. Na análise do discurso de tradição francesa, quadro teórico de base da reflexão aqui desenvolvida, o estudo dos sentidos produzidos nos enunciados em co-ocorrência sempre leva em conta suas condições de produção, descrevendo a conjuntura em que tais enunciados emergem, e sempre se considera que essa conjuntura não é um ponto zero, mas o ponto de partida para um trabalho interpretativo de algo que tem uma memória. Segundo essa perspectiva, todo dizer faz vibrarem sentidos conforme uma dupla operação: i) a indicação de uma filiação, para a qual o enunciado aponta, forjando seu 1 O termo "dispositivo" assume aqui um uso que se tornou corrente nos estudos do discurso, possivelmente a partir da obra de Foucault: dispositivos são conjuntos de práticas institucionalizadas, portanto de normas (tácitas ou não) ligadas a certos objetos, lugares e atores.
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Neste artigo, explicita-se a filiação a um desenvolvimento teórico que considera a rubrica “literatura digital” como conceito, discutindo a questão técnica que está no coração de sua legitimidade. O problema da digitalidade é convocado com base numa perspectiva discursivo-midiológica, que opera com a metodologia MO/OM proposta por Régis Debray (2000). Segundo essa perspectiva, a descrição da relação entre a Matéria Organizada e a Organização Materializada possibilita que compreendamos a dinâmica sistêmica em que matrizes de sociabilidade (instituições discursivas) produzem objetos técnicos que funcionam como vetores de sensibilidade (dispositivos que suscitam disposições). Não há neutralidade na técnica: à tecnoesfera corresponde uma psicoesfera, conforme Milton Santos (2000), e o rebatimento entre essas dimensões do vivido produz escapes, derivas, transformações, pois se trata de movimento histórico, socialmente organizado, politicamente disputado. Nesses termos, o Atlas da Literatura Digital Brasileira é visto como um gesto técnico crucial para o gesto epistemológico e político que configura um Observatório.
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O jornal Folha de S.Paulo faz uso da rede social Twitter para compartilhar notícias na forma de threads, o que é uma maneira de ultrapassar o limite de caracteres imposto pela plataforma e dar continuidade ao tecnotexto (PAVEAU, 2021). Nestas threads são encontrados enunciados que passaram pelo processo de destacamento fraco (MAINGUENEAU, 2014), sendo assim, é possível clicar nos links presentes e conferir o texto-fonte na íntegra. Por meio da base teórico-metodológica da Análise do Discurso Francesa este artigo busca encontrar as diferenças e semelhanças entre os enunciados que passaram pelo processo de destacamento no jornalismo impresso e no digital. Para isso, foi realizada a comparação entre os destacamentos encontrados em matérias com o mesmo tema que foram publicadas em threads e no jornal impresso, buscando classificar e compreender os destacamentos segundo os enquadramentos propostos por Maingueneau (2014). Assim foi possível checar a prevalência de enquadres que propõem uma suposta maior “imparcialidade” e “isenção”, características propostas pelo discurso jornalístico.
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Neste artigo, o intuito é refletir acerca da concepção de linguagem formulada por Bakhtin, Medviédev e Volóchinov, em suas respectivas obras Problemas da Obra de Dostoiévski (2010 [1929]), Método Formal nos Estudos Literários (2012 [1928]) e Marxismo e Filosofia da Linguagem (2017 [1929]). O método, chamado por Bakhtin (mimeo) de sociológico, considerou o diálogo entre as obras e os autores, em cotejo com outros textos, tanto do Círculo, quanto de estudiosos dessa episteme e ilustrou a reflexão com alguns enunciados estéticos. A hipótese é a que, ao elaborarem e construírem a proposta de estudo sobre e a concepção de linguagem, os autores russos realizam sua delimitação conceitual de maneira tridimensional, aqui denominada como verbivocovisual (PAULA, 2017), em vista de conceber o homem constituído pela e na linguagem em sua máxima potencialidade expressiva. Pensar num desdobramento dos estudos bakhtinianos voltado à contemporaneidade revela a relevância desta pesquisa. A contribuição do estudo consiste na reflexão acerca da pertinência dos estudos bakhtinianos como fundamentos teóricos para análises de enunciados multimodais, além da materialidade verbal, extensamente analisada pelos autores russos. Os resultados demonstram que leituras extemporâneas bem fundamentadas podem reacender outras luzes à teoria e, com isso, colaborar com a seara dos estudos bakhtinianos.
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Este artigo tem por escopo compreender a concepção de linguagem proposta na elaboração da filosofia da linguagem bakhtiniana, em especial, a partir das obras de Bakhtin, ECV (2011); de Medviédev, MFEL (2012); e de Volóchinov, MFL (2017). A hipótese apresentada é a de que, para pensar a relação entre sujeito e signo, o Círculo utilizou-se da palavra, entendida de forma alargada, isto é, como linguagem tridimensional, a qual Paula cunhou verbivocovisual, uma vez que se articula e realiza-se na interrelação das dimensões verbal (semântica), vocal (sonora) e visual (imagética). Para o desenvolvimento deste estudo, utilizamos o método dialético-dialético (PAULA, FIGUEIREDO, PAULA, 2011) e, por cotejo, os textos entre si e entre outras obras do Círculo, bem como entre conceitos e áreas das quais advêm, contextualizados. Com isso, além da noção de linguagem, procuramos refletir acerca da pertinência do pensamento bakhtiniano como aporte teórico para análise de enunciado visual, verbal, sonoro e/ou sincrético.
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Diante da tarefa insistentemente cobrada ao professor da Educação Básica de trabalhar dentro da perspectiva dos multiletramentos, para uma efetiva apropriação da leitura e da escrita por parte dos alunos, propomos apresentar e discutir algumas das contribuições que a Semiótica Discursiva pode oferecer. Para isso, dois textos serão brevemente analisados, um meme e uma pintura, buscando demonstrar o caminho de análise que pode ser seguido: da superfície textual ao exame da estruturação a ela subjacente, responsável pelos sentidos não explicitados, mas fundamentais à significação final de um dado texto.
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Considerando a noção de ethos proposta por Maingueneau desde seu texto seminal “A propósito do ethos”, de 2008, este artigo apresenta duas propostas articuladas: i) uma ênfase na noção de mundo ético, ainda pouco explorada como operador analítico; ii) um acréscimo teórico que põe a noção de mídium como constitutiva do mundo ético. O objeto editorial Pesquisa Fapesp é considerado, dessa perspectiva, como um vetor de sensibilidade ligado a uma matriz de sociabilidade, a Fundação Fapesp, e por isso funciona como um mídium que alimenta um mundo ético: por documentá-lo, legitimando-o, e por fazer parte dele, legitimando-se como documentador (DEBRAY, 2000a e b). Com vistas a esclarecer essa abordagem, analisamos três tipos de dado: 1. A publicidade da revista na revista; 2. Gráficos sobre a pesquisa no Brasil; 3. Um léxico especializado. Nesses dados, verifica-se que a cenografia opera uma circunscrição semântica peculiar do referente “ciência brasileira”.
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RESUMO Este artigo analisa um debate na linguística brasileira da década de 1980, quando Fernando Tarallo, José Borges Neto e Ana Lúcia de Paula Müller divergiram sobre a sociolinguística paramétrica. Na perspectiva de estudo da Historiografia da Linguística e a partir de um quadro sociorretórico de análise, que define diretrizes teórico-metodológicas desta proposta, o texto apresenta (i) considerações sobre o que se compreende nesta interpretação como retórica e (ii) uma análise historiográfica do debate. Esse olhar analítico considera para sua perspectiva interpretativa elementos discursivos dos discursos adotados no debate (ou seja, a retórica assumida pelos linguistas) e também elementos de natureza social, que podem circunscrever esses discursos em grupos específicos de pesquisadores em ciência da linguagem no Brasil. Aponta-se para o fato de que o debate em questão, diversas vezes referenciado quando se trata de uma história da linguística brasileira, manteve a sua natureza polêmica, evidenciando que a retórica dos linguistas, quando considerada pelo olhar historiográfico, deve ser compreendida a partir da sua inscrição social e histórica.
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Este artigo analisa o esquete Barbies (2018), do Porta dos Fundos. O vídeo dialoga com os memes da Barbie Fascista. Fundamentado nas concepções bakhtinianas de dialogia, enunciado, ideologia e vozes sociais, este artigo analisa a sua constituição verbivocovisual. O método é o dialético-dialógico, em cotejo com memes e comerciais da Barbie. O objetivo é refletir sobre a crítica, feita por meio do humor ácido, a mulheres brancas, abastadas e conservadoras, identificadas como eleitoras de Bolsonaro. A justificativa está centrada na relevância social do humor como resistência. Os resultados mostram o poder corrosivo da paródia.
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O ensaio propõe uma metodologia de análise semiótica de textos sincréticos. Após examinar alguns exemplos de modos de relação e integração de linguagens, com o instrumental teórico da semiótica francesa, define objetos sincréticos stricto sensu e faz a análise do catálogo de exposição de Beatriz Milhazes (2002).
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O texto apresenta a noção de modulação. Busca demonstrar que conceitos gerados para a compreensão dos fenômenos da comunicação de massas são inadequados para tratar dos processos comunicacionais nas redes e plataformas digitais. Também expõe a análise de patentes como uma possibilidade de esclarecer a gestão algorítmica das plataformas, a dinâmica e as finalidades dos processos de modulação nas redes de relacionamento on-line e na utilização das tecnologias de informação e comunicação.Palavras-chave: Modulação. Redes digitais. Sistemas algorítmicos. Comunicação algorítmica. Sociedade de controle.