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13 Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 23 | 2020 | pp. 13–30
O sítio pré-histórico do Paço (Peniche): uma varanda calcolítica sobre o Oceano
*UNIARQ - Centro
de Arqueologia,
Faculdade de Letras,
Universidade de
Lisboa
**PATRIMONIUM -
Centro de Estudos e
Defesa do Património
da Região de Peniche
***CEG - Centro de
Estudos Geográcos
da Universidade de
Lisboa
****FCT - Fundação
para a Ciência e
Tecnologia
Os autores escrevem
segundo o Acordo
Ortográco de 1945
O sítio pré-histórico do Paço (Peniche):
uma varanda calcolítica sobre o Oceano
Cátia Delicado*|**
delicadocs@gmail.com
Luís Rendeiro**
constaborges@hotmail.com
André Texugo*|***|****
andrelopes@campus.ul.pt
André Pereira*
andrepereira@letras.ulisboa.pt
Resumo O sítio arqueológico do Paço, localizado entre os concelhos de Peniche e Lourinhã, evidencia uma
ocupação em altura, possivelmente murada, cuja componente artefactual é composta principal-
mente por materiais enquadráveis nas tipologias regionais datados do III milénio a.C., desta-
cando-se a presença de cerâmica com decoração do tipo “folha de acácia”, Campaniforme ou
mesmo cerâmicas com decoração penteada.
Sobre este sítio arqueológico, considerando o seu enquadramento geo-espacial, permite pensar
as ocupações antrópicas regionais, desenhando-se clusters e/ou fenómenos de isolamento físico
entre os sítios. Para além de uma análise de visibilidade espacial, foram ainda testadas as rotas
óptimas entre sítios arqueológicos congéneres e, possivelmente, contemporâneos, cando espe-
lhada a necessidade de trabalhos de prospecção que permitam testar os caminhos, tendências e
comportamentos sociais deduzíveis das análises realizadas.
The archaeological site of Paço, located between the municipalities of Peniche and Lourinhã, corre-
sponds to a height occupation, possibly to a walled enclosure. Its artefactual set is mainly composed of
materials that can be chronologically tted in the regional assemblages of the 3rd millennium BC. Empha-
sis must be drawn on the presence of ceramics with “Acácia leaf” decorations, Bell Beaker motifs and
Combed decorated vessels.
This geospatial framework of the understudy archaeological site allows us to think about regional
anthropic occupations, drawing clusters and/or phenomena of physical isolation between similar archae-
ological expressions. In addition to an analysis of spatial visibility, the optimal routes between similar
and possibly contemporary archaeological sites were also tested, mirroring the need for surveying
works, that would allow testing the paths, trends and social behaviours deductible from the analyses
carried out.
Abstract
14
Cátia Delicado | Luís Rendeiro | André Texugo | André Pereira
Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 23 | 2020 | pp. 13–30
1. Nota prévia
A análise artefactual e espacial que aqui se
apresenta resulta dos trabalhos de prospe-
ção arqueológica, desenvolvidos no âmbito do
Estudo de Impacto Ambiental dos Parques Eóli-
cos na Lourinhã, adjudicados à empresa EME-
RITA (Monteiro & Pereira, 2011)1. A este, junta-
-se um único fragmento de “folha de acácia”,
recolhido durante as prospeções efectuadas no
âmbito do projecto da Carta Arqueológica de
Peniche, em 2016.
Com o intuito de proceder a uma aborda-
gem completa do sítio arqueológico, incluí-
ram-se as descrições artefactuais de Helena
Moura (1987), o conjunto artefactual descrito
por Anabela P. de Sá e António Chéney no seu
artigo (2007) e as considerações feitas por
André Texugo e Tiago do Pereiro, no seu rela-
tório nal sobre as prospeções realizadas na
Revisão do Plano Director Municipal de Peni-
che (2017).
A ausência de sondagens de diagnóstico den-
tro da área do sítio arqueológico, de modo a
permitir uma caracterização preliminar ao nível
da sua crono-estratigráca e delimitação da
área ocupacional, é, de facto, a necessidade
mais imediata quanto à investigação deste
espaço. Como tal, considerando esta grande
limitação, o principal âmbito deste trabalho
passa por tentar uma aproximação às dinâmi-
cas ocupacionais do Planalto das Cesaredas,
e a sua interacção com os sítios congéneres da
Estremadura Atlântica (Fig. 1).
Assim sendo, esta análise pretende, por um
lado, compilar toda a informação dispersa
sobre o sítio pré-histórico do Paço, a m de faci-
litar futuras investigações na região, mas tam-
bém maximizar os dados já recolhidos, relacio-
nando-os com as espacialidades e mobilidades
das comunidades pré-históricas, numa aborda-
gem baseada em SIG (Sistemas de Informação
Geográca).
2. História das investigações
A história das investigações do Paço encontra-
-se intimamente relacionada com os trabalhos
em torno do Maciço Calcário das Cesaredas,
onde o mesmo se implanta. Este território foi
alvo de diversas investigações arqueológicas
desde meados do século XIX, por parte de in-
vestigadores como Nery Delgado, responsável
1 Este trabalho foi reali-
zado no âmbito do pro-
jecto ArchaeoRosetta –
Remote sensing in West
Portugal, nanciado
pela Fundação para a
Ciência e Tecnologia,
através da Bolsa de
Doutoramento “SFRH/
BD136086/2018”.
15 Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 23 | 2020 | pp. 13–30
O sítio pré-histórico do Paço (Peniche): uma varanda calcolítica sobre o Oceano
pela identicação da gruta da Casa da Moura
e Gruta da Malgasta (Delgado, 1867), Leite de
Vasconcellos, com a Gruta da Cesareda (Vas-
concellos, 1910), Octávio da Veiga Ferreira e a
Lapa Furada (Ferreira, 1970), ou mesmo João
Zilhão, com a Gruta da Feteira (Zilhão, 1984).
Os dados obtidos por estes investigadores, as-
sociados às intervenções realizadas no tholos
do Paimogo, entre 1971–1973 (Spindler & alii,
1972), ou ainda os achados dos braceletes de
ouro da Quinta da Bandurra (Paço & Vaultier,
1945), podem ter servido de alavanca para
as prospeções realizadas por Helena Moura,
em 1987, no âmbito da Carta Arqueológica de
Peniche. Estas prospecções culminaram na iden-
ticação do sítio arqueológico aqui em estudo
(Moura, 1987).
Numa primeira análise, Helena Moura acaba-
ria por identicar naquele planalto um povoa-
do forticado, através da vericação da exis-
tência de muros na vertente norte, com cerca de
70 m, e a oeste, com cerca de 30 m, com uma
forma elipsoidal (Moura, 1987).
O conjunto recolhido revela cerâmicas de pasta
grosseira, impossíveis de classicar formalmen-
te e tipologicamente. Com algumas reservas,
Helena Moura enquadrou este local em crono-
logias calcolíticas ou do Bronze Inicial (Moura,
1987). Contudo, as investigações realizadas
no âmbito da Carta Arqueológica de Peniche,
acabariam por car no profundo desconheci-
mento, sem referência na base de dados do
Endovélico.
Em 2007, Anabela de Sá e António Chéney ini-
ciaram prospeções na área, no âmbito do Pro-
jecto de Execução da Ampliação do Sistema de
Saneamento do Paço, trazendo o sítio do Paço
à “realidade” das investigações arqueológi-
cas. Os investigadores
identicaram, na ver-
tente oeste da plata-
forma, um muro com
1,70 m de largura,
que a delimitava, in-
ectindo gradualmen-
te para este, criando,
assim, um recinto ova-
lado (Sá & Chéney,
2007). Na vertente
oposta, identicaram
igualmente vestígios
de uma estrutura com
a mesma largura que
deverá ter sido parcialmente destruída, em
meados de 1940, para o arroteamento dos
terrenos.
Em 2011, André Pereira e Mário Monteiro rea-
lizam novas prospeções arqueológicas nesta
área, no âmbito do RECAPE do Parque Eólico
da Lourinhã I. Foi efectuado um levantamento
topográco de toda a plataforma, incluindo as
estruturas existentes, e efectuadas recolhas de
superfície na área circunscrita ao local. Identi-
cou-se um troço de muro, ainda visível e apa-
rentemente preservado, no sentido oeste-este
(Pereira & Monteiro, 2011). Dentro da área
murada observam-se frequentes materiais de
superfície, que levaram os autores a enquadrar
a sua utilização cronológica entre o Neolítico
Final e o nal do Calcolítico (Monteiro & Perei-
ra, 2011) (Fig. 2).
Em 2016, Luís Rendeiro e Adriano Constantino,
no decorrer do projecto CAP – Carta Arqueoló-
gica de Peniche, realizada pela Associação Pa-
trimonium, iniciam a monitorização do estado
de conservação de alguns pontos arqueológi-
cos já identicados no Planalto das Cesaredas,
entre os quais, o sítio do Paço. Com o apoio
da população local, foram identicadas outras
realidades arqueológicas desconhecidas até
então, como a Gruta da Barroda 3 (Rendei-
ro, Constantino & Delicado, 2019), localizada
a cerca de 100 m da plataforma do sítio, com
cronologias análogas. Os autores conrmaram
a presença dos muros anteriormente identica-
dos (Rendeiro & Constantino, 2016).
Recentemente, em 2017, André Texugo e Tiago
do Pereiro levaram a cabo novas prospecções,
estas enquadradas no âmbito da Revisão do
Plano Director Municipal de Peniche, reavalian-
do cerca de 26 sítios referenciados na Carta
Fig. 1 – Vista geral
O-E sobre o sítio
arqueológico do
Paço.
Fig. 2 – Vista geral
NO-SE sobre o sítio
arqueológico do
Paço.
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Cátia Delicado | Luís Rendeiro | André Texugo | André Pereira
Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 23 | 2020 | pp. 13–30
Arqueológica de Peniche, entre os quais o local
aqui em estudo.
Desde da génese da sua identicação, o Paço
não parece apresentar grandes dúvidas quan-
to à sua integração cronológica entre os nais
do IV milénio a.C. e o decurso do III milénio
a.C. Contudo, apenas a execução de uma esca-
vação arqueológica poderá permitir um maior
rigor no balizamento cronológico desta expres-
são antrópica.
3. Localização e implantação
O sítio arqueológico do Paço (Peniche), assume o
topónimo do lugar mais próximo a este, situando-
-se entre múltiplas fronteiras administrativas
actuais: em primeiro plano entre os concelhos de
Peniche e Lourinhã e, num segundo, na linha divi-
sória entre as freguesias de Atouguia da Baleia
e de São Bartolomeu e Moledo. Este arqueos-
sítio tem ainda a peculiaridade de ser dividido
por dois distritos — o de Leiria e o de Lisboa.
Posiciona-se, segundo a folha n.os 337 e 349 da
Carta Militar de Portugal (esc. 1:25 000), nas
coordenadas geográcas (datum WGS84) Lati-
tude: 39°18’5.56”N e Longitude: 9°16’38.88”W
(Fig. 3).
Localizando-se a uma altitude de 133 m, no topo
de um esporão calcário, denominado por Pla-
nalto das Cesaredas, o Paço apresenta um dis-
creto domínio sobre a paisagem, encontrando-se,
actualmente, a 6 km do mar. Em seu redor, encon-
tra-se a oeste, o vale de Bolhos. A sua vertente
leste é composta por escarpas calcárias sobran-
ceiras ao Vale Paraíso, que é atravessado por
uma linha de água sazonal pertencente à bacia
hidrográca do rio de São Domingos. A norte,
estende-se a plataforma planáltica das Cesare-
das e, na extremidade sul, novamente escarpas
calcárias, resultantes de uma realidade geoló-
gica (falha).
A litologia local, implantada no extremo sul do
Planalto das Cesaredas, é denominada como for-
mações calcárias do Caloviano («Calcários de
Cesareda»). Estas, que dominam a unidade da
região da Serra de El-Rei desenvolvendo-se em
direcção N-NE, representam um extenso aora-
mento entre a extrusão de Bolhos. O limite, a sul,
faz-se com os calcários micríticos beges e acasta-
nhados do Bajociano («Calcários de Cabreira»),
com os quais contacta por falha, e Olho Mari-
nho, já a norte de Columbeira (Manuppella & alii,
1999). A sucessão litológica, onde se implanta o
arqueossítio, é constituída por uma alternância
monótona de argilas carbonatadas e de calcá-
rios com elementos de quartzo e feldspato. O sítio
arqueológico ca ainda sobranceiro ao complexo
Fig. 3 – Mapa de
implantações de sítios
em altura na área em
estudo:
1) Paço;
2) Vale do Carvoeiro;
3) Outeiro da
Assenta;
4) Outeiro de Santo
Antão;
5) Arneiro II;
6) Outeiro de São
Mamede;
7) Cabeço de
Vide; 8) Castro da
Columbeira;
9) Charneca de São
Gregório 2;
10) Pico Agudo;
11) Pragança;
12) Castro da
Achada;
13) Fórnea;
14) Zambujal.
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O sítio pré-histórico do Paço (Peniche): uma varanda calcolítica sobre o Oceano
plio-plistocénico dos Bolhos, depressão que cor-
responde ao vale tifónico dos Bolhos, constituído
maioritariamente por areias correspondentes ao
Pliocénico, havendo ainda argilas e areias sobre-
postas pertencentes ao Quaternário (França,
Zbyszewski & Almeida, 1960).
Quanto ao uso actual do solo, este caracteriza-
-se pela plantação de eucaliptos que percorre a
extensão da mancha de dispersão de materiais
arqueológicos. Nas zonas limítrofes, encontra-se
coberto por uma vegetação densa de carrascos,
zambujeiros e com esparsos pinheiros.
4. Descrição do sítio
O esporão onde se encontra o sítio arqueoló-
gico do Paço foi substancialmente afectado pelas
diversas acções agrícolas relacionadas com o
eucaliptal existente, delimitado por morouços de
pedra (Moura, 1987; Sá & Chéney, 2007). É-nos
apresentado como um pequeno povoado (Sá &
Chéney, 2007) e como um povoado forticado,
com reservas, por Helena Moura (1987), tendo
sido revisitado no âmbito de estudos patrimoniais
(Moura, 1987; Sá & Chéney, 2007; Monteiro &
Pereira, 2011–2012; Rendeiro & Constantino,
2016; Texugo & Pereiro, 2017). Nestes trabalhos
há um total consenso quanto à mancha de disper-
sões de materiais pré-históricos, que se estende
desde o muro perpendicular ao desenvolvimento
do esporão até ao penedo no extremo sul, per-
fazendo uma área aproximadamente de 0,5
ha. O arqueossítio é naturalmente denido por
escarpas a leste e a sul, sendo que a oeste ainda
que não se encontrem presentes escarpas. A forte
pendente dicultaria o acesso ao topo da eleva-
ção, caso não existisse a formatação de um trilho
de acesso.
Em todos os trabalhos prévios foi referida a pre-
sença de estruturas de construção em pedra seca
(Moura, 1987; Sá & Chéney, 2007; Monteiro &
Pereira, 2011–2012; Rendeiro & Constantino,
2016; Texugo & Pereiro, 2017). Estas caracteri-
zam-se por serem compostas por blocos faceta-
dos de modo rudimentar, “toscamente dispostas
de forma linear sem argamassa de ligação” (Sá
& Chéney, 2007), tendo sido descritas três possí-
veis realidades. A primeira, que se prolonga de
NE–SO, com um comprimento de cerca de 300 m,
tem 1,70 m de espessura, localizada no extremo
oeste do planalto. A estrutura 2, que é perpendi-
cular à anterior no extremo norte do local e que,
actualmente, delimita a plantação de eucaliptos,
conta com uma espessura pouco clara, face ao
seu derrube. Já na vertente este, referenciam-
-se uns escassos vestígios de uma estrutura com
a mesma largura, coberta por intensa vegetação
(Sá & Chéney, 2007). Estas realidades arqueoló-
gicas dão origem à proposta dos autores para
uma planta de um possível recinto ovalado (Fig.
5).
Fig. 4 – Modelo Digi-
tal de Terreno do sítio
do Paço, realizado por
meio de Veículo Aéreo
Não Tripulado (VANT).
Fig. 5 – Implantação
das estruturas identi-
cadas em 2007 (Sá &
Chéney, 2007).
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Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 23 | 2020 | pp. 13–30
O modo de construção das
estruturas é semelhante entre
si, tendo sido reconhecido que
a composição do muro delimi-
tador a norte é constituído por
pedras de diferentes dimen-
sões, podendo assemelhar-se
aos métodos construtivos cal-
colíticos detectados no Zam-
bujal (Kunst, 1996), Penedo
do Lexim (Sousa, 2010), Ota
(Texugo, 2016), entre outros.
A presença pode relacionar-se
com a necessidade de delimi-
tar o sítio, ou mesmo de di-
cultar o acesso ao local pelos
acessos mais expostos (norte
e oeste). No entanto, nas visi-
tas feitas ao local, no âmbito
dos trabalhos de mapeamento
projecto ArchaeoRosetta —
Remote sensing in West Portu-
gal — não foi possível detec-
tar a estrutura no extremo este,
como havia sido referenciado em trabalhos
prévios (Sá & Chéney, 2007). Ainda assim,
foram descobertas outras duas estruturas de
cariz antrópico, localizadas no extremo este
do sítio. Estas, apresentam uma tendência
circular e com diâmetros a rondar os 4 m,
permanecendo por determinar a sua crono-
logia. Desconhece-se também a relação que
esta possa ter, eventualmente, com a estru-
tura 3 — o muro delimitador a leste — não
reconhecida nos trabalhos mais recentes (Fig.
6).
Tanto a estrutura 4, como a 5, são de ten-
dência circular, de construção de pedra seca
com grande variabilidade nos tamanhos e
com formatação pouco denida. Associado à
estrutura 4 foram encontrados alguns frag-
mentos de cerâmica manual incaracterísticos.
A presença de construções antrópicas no
sítio do Paço pode dever-se, por um lado, ao
lugar proeminente que ocupa sobre a pai-
sagem adjacente. Para além disto, o facto
de congregar em si condições excepcionais
de habitabilidade, como é o caso do rápido
acesso à água, terrenos férteis, a zonas pis-
catórias e de recoleção de marisco, aproxi-
mam o sítio do Paço de expressões humanas
coetâneas a nível regional e cronológico.
Como apontamento nal salienta-se a exis-
tência de uma gruta natural, Barroda 3,
sobranceira ao sítio arqueológico aqui em
estudo. Esta, já estuda noutro contexto (Ren-
deiro, Constantino & Delicado, 2018), pode
ser relacionada com um fenómeno, aparen-
temente, cada vez mais recorrente, da asso-
ciação entre habitats e grutas naturais/arti-
cias, em proximidade com os sítios (Cardoso,
2004).
5. Materiais arqueológicos
Os materiais arqueológicos recuperados no
sítio do Paço parecem indiciar uma ocupação
possivelmente de carácter doméstico, tipo
habitat, estando identicadas as principais
categorias artefactuais do Neolítico/Calco-
lítico. Alguns elementos como os exemplares
de adorno e artefactos utilitários em osso
estão ausentes, contudo, face à prevalência
dos trabalhos efectuados (RECAPE e pros-
pecções para elaboração de carta arqueo-
lógica), baseada essencialmente em reco-
lhas de superfície, a sua ausência está bem
justicada.
A leitura do conjunto artefactual permite a
integração crono-cultural no nal do IV até
ao terceiro quartel do III milénio a.C. A pre-
Fig. 6 – Implantação
das estruturas de
2007 (Fig. 5) e das
realidades identi-
cadas no âmbito do
presente estudo.
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O sítio pré-histórico do Paço (Peniche): uma varanda calcolítica sobre o Oceano
sença de cerâmica com decoração geomé-
trica do tipo “folha de acácia” é especial-
mente importante na integração cronológica
do Paço no Calcolítico Pleno (entre o segundo
e terceiro quarteis do III milénio a.C.). Tendo
em conta as diversas tipologias materiais
recuperadas, é possível sugerir que distintas
práticas sociais ocorreriam no espaço onde
se implanta o sítio do Paço.
5.1. Indústrias líticas
Foram recolhidos 34 elementos em pedra
lascada, três em pedra polida e quatro em
pedra afeiçoada. Este conjunto, embora
pouco variado ou expressivo relativamente
ao seu conteúdo, forneceu algumas informa-
ções relativamente a possíveis contactos e
mobilidades.
Lista de materiais pré-históricos recolhidos no povoado do Paço
Recolhas 1987
(Moura, 1987)
Recolhas 2007
(Sá & Chéney,
2007)
Recolhas 2011
RECAPE do Parque
Eólico Lourinhã II
Recolhas 2016
(Rendeiro & Cons
tantino, 2016)
Recolhas 2017
(Texugo &
Pereiro, 2017)
Total
Pedra lascada +
Núcleo de lascas 6 6
Núcleo de lamelas 1 1
Lamelas 1 1
Lâminas 2 2
Lascas retocadas 4 4
Lascas 4 4
Furador 3+3
Denticulado 1 1
Restos de talhe 5+5
Esquírolas 2 2
Seixos talhados 4 4
Tablette 1 1
Pedra polida
Machado 3 3
Pedra afeiçoada
Percutor 1 1
Polidor 3 3
Recipientes cerâmicos +
Lisos
Caçoilas 6 6
Esféricos 10 10
Calote 3 3
Globular 1 1
Carenado 3 +3
indeterminados 7 7
Decorados
Decoração penteada 4 4
Impressa 11
Vaso mamilado 2
Caneluras 2
Folha de Acácia/ Crucífera + 7+9
Campaniforme + 2 2
Indeterminado 1 1
Componentes de tear
Placa perfurada 2
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5.1.1. Pedra lascada (Fig. 7)
• seixos: foram recolhidos dois seixos em quart-
zito e um seixo talhado/percutor também em
quartzito;
• núcleos: destaca-se a presença de um seixo-
-núcleo em quartzito, dois núcleos de lascas, em
quartzo, um núcleo de lamelas, em sílex e um
núcleo de lascas, também ele em sílex;
• reavivamento e restos de talhe: uma lasca de
descorticagem e tablette em sílex;
• utensílios: lascas retocadas em sílex, um exem-
plar de lamela retocada, em sílex, furador sobre
lâmina, novamente em sílex, e furador sobre
lasca sobre a mesma matéria-prima. Relata-se
ainda a presença de uma lasca espessada em
quartzito, um fragmento esquirolado, em sílex,
fragmento mesial de lâmina de secção triangu-
lar, em sílex e um denticulado sobre lasca, em
sílex.
Fig. 7 – Elemen-
tos de pedra
lascada do
Paço: 1) núcleo
de lamelas em
sílex; 2) lasca
retocada;
3) tablette em
sílex;
4) núcleo de
lamelas em sílex;
5) lasca de des-
corticagem em
sílex;
6) peça esquiro-
lada em sílex;
7) lasca reto-
cada em sílex;
8) furador sobre
lasca;
(9) lamela reto-
cada em sílex.
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O sítio pré-histórico do Paço (Peniche): uma varanda calcolítica sobre o Oceano
5.1.2. Pedra polida (Fig. 8)
• machados: foram recuperados dois frag-
mentos, um distal e outro proximal, em an-
bolito, classicáveis como machados de pedra
polida. Os dois fragmentos apresentam secção
sub-rectangular;
• jaspe: fragmento de jaspe polido;
• matéria-prima: foi igualmente recolhido um frag-
mento de anbolito polido, sem que nenhuma
tipologia lhe tivesse sido compreendida.
5.1.3. Pedra afeiçoada
• placa em grés: fragmento de placa informe,
em grés, de secção rectangular;
• seixo-polidor: seixo cuja superfície se encon-
tra desgastada, tendo sido, muito provavel-
mente, usado enquanto polidor;
• polidor: fragmento de polidor, em anbolito;
• Jaspe polido: foi recolhido um fragmento
em jaspe cuja superfície se encontrava
trabalhada.
5.2. Produções cerâmicas
5.2.1. Cerâmicas lisas (Fig. 9)
O número de fragmentos de recipientes lisos
identicáveis ascende aos 27 exemplares (bor-
dos e bojos).
• caçoilas: surgem neste grupo cerca de seis
exemplares de dimensões reduzidas/médias,
Fig. 8 – Elemen-
tos de pedra
polida do Paço.
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Cátia Delicado | Luís Rendeiro | André Texugo | André Pereira
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estando representados os fragmentos de
bordo arredondado, bordo alado, taça de
bordo extrovertido e bordo em aba. Todos os
exemplares aqui mencionados dizem respeito a
elementos sem decoração;
• esféricos: recolheram-se dez fragmentos desta
tipologia, estando presentes esféricos de bordo
alado, bordo arredondado (Fig. 9, n.os 14 e 15),
bordo espessado externamente (Fig. 10, n.º
18) e bordo direito. Surgiu ainda um exemplar
de esférico globular de bordo extrovertido
(Fig. 9, n.º 16);
• taças em calote: surgiram, no conjunto, três
exemplares com bordo em aba, bordo alado
e bordo arredondado;
• vasos carenados: foram recolhidos quatro
fragmentos de vasos carenados. Os fragmen-
tos correspondem à zona da carena, sem que
nenhum bordo esteja presente (Fig. 10, n.º 19);
• globular: surgiu um bojo referente a um vaso
globular de pequenas dimensões.
5.2.2. Cerâmicas decoradas
Recolheram-se 27 fragmentos decorados,
variando entre cerâmicas campaniformes (2),
do grupo folha de acácia, decoração pen-
teada e impressões verticais. As pastas apre-
sentam uma qualidade reduzida, onde é pos-
sível observar vários elementos não plásticos
de quartzo, com cerca de 5 mm de diâmetro,
e micas, em alguns casos.
Não está visível algum tipo de tratamento da
superfície das peças, nomeadamente aguadas,
no entanto, o tipo de tratamento é regular e
homogéneo em todas as peças, tanto nas deco-
radas como nas sem decoração. Ainda assim é
de salientar que estas conclusões se encontram
enviesadas tendo em conta que o conjunto pro-
vém de recolhas de superfície, com claros proces-
sos pós-deposicionais.
Do ponto de vista decorativo predominam as
cerâmicas do tipo “folha de acácia”.
A maioria dos fragmentos decorados corres-
ponde a bojos, sendo, portanto, impossível de-
nir a sua forma enquanto recipiente, assim sendo,
foram identicados:
• vasos mamilados: dois exemplares de frag-
mento de bordo arredondado que ostentam um
mamilo único, imediatamente abaixo do bordo
(Fig. 11, n.º 20);
• decoração penteada: quatro exemplares com
decoração penteada horizontal;
• cerâmica com impressões verticais: foi recupe-
rado um fragmento cerâmico com impressões ver-
ticais realizadas sobre a pasta fresca;
• Cerâmicas do grupo folha de acácia: foram
identicados seis fragmentos de cerâmica com
decoração folha de acácia (Fig. 11, n.º 23).
Destaca-se um fragmento cerâmico de folha de
acácia do tipo crucífera (Fig. 11, n.º 25);
• campaniforme: foram recolhidos dois frag-
mentos de cerâmica campaniforme, um deles
Fig. 9 – Tipologias
das cerâmicas lisas
identicadas em reco-
lhas de superfície no
sítio do Paço.
Fig. 10 – Formas de
cerâmicas lisas iden-
ticadas em recolhas
de superfície no sítio
do Paço.
23 Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 23 | 2020 | pp. 13–30
O sítio pré-histórico do Paço (Peniche): uma varanda calcolítica sobre o Oceano
corresponde a um possível ombro campani-
forme sem decoração (Fig. 11, n.º 27) e um
fragmento de bordo de campaniforme inciso,
possivelmente atribuível ao estilo “Palmela”
(Fig. 11, n.º 26).
• Indeterminada: foi individualizado um frag-
mento de bojo, reticulado, preenchido a pasta
branca que, pela sua reduzida dimensão, não
foi passível de classicar a nível decorativo.
Verica-se que a produção cerâmica lisa e
decorada é dominada, maioritariamente,
pelos esféricos de dimensões médias (dez
exemplares). Destacam-se igualmente as
taças em calote de bordo relativamente sim-
ples (arredondado e alado).
A natureza das pastas e fabrico das cerâ-
micas decoradas é relativamente semelhante
aos exemplares lisos, variando entre as pastas
argilosas de cozedura oxidante e pastas de
índole calcária (Fig. 11).
5.2.3. Componente de tear
• elementos de tear: foram identicadas duas
placas cerâmicas perfuradas. Ambas se encon-
tram fragmentadas na sua parte proximal.
5.3. As leituras possíveis
Relativamente às leituras fornecidas pelos arte-
factos, são reconhecidas diversas inuências,
principalmente fornecidas pela componente
cerâmica. Uma vez que a indústria lítica não
é particularmente expressiva e variada neste
conjunto, a informação por si gerada restringe-
-se à proveniência de materiais. No caso do
sílex, este poderá provir da zona das Cesare-
das. Apenas uma análise mais pormenorizada,
preferencialmente de um conjunto mais vasto,
poderá determinar com maior indubitabili-
dade esta questão. No caso do jaspe e anbo-
lito, estes terão provindo da região alentejana,
ainda que possa ser considerada a sua existên-
cia na região de Abrantes.
Os elementos de pedra polida estão directa-
mente em concordância a maioria dos artefac-
tos recolhidos, no que toca a cronologias, suge-
rindo uma temporalidade calcolítica. Numa
leitura preliminar, são reconhecidos artefactos
eventualmente ligados às actividades quoti-
dianas, como poderá ser o caso dos elementos
de tear, cuja funcionalidade tem, sido rear-
mada (Cura, Martins & Neves, 2020). Outras
funções podem ser sugeridas, nomeadamente
a sua possível adaptação como pesos para a
pesca, tendo em conta a sua implantação e
paleoambiente.
No que respeita à componente cerâmica, são
especialmente particulares da Estremadura as
decorações que exibem motivos “folha de acá-
cia”, muitas vezes associadas a grandes vasos
globulares. No caso do Paço, os elementos
cerâmicos encontram-se muito fragmentados,
não estando presentes bordos que nos permi-
tam aferir as dimensões destes contentores. Ele-
mentos cerâmicos do grupo “folha de acácia”
são conhecidos em diversos sítios arqueológicos
como Penedo do Lexim (Sousa, 2010), Ota
(Texugo, 2016), Vila Nova de São Pedro (Mar-
tins & alii, 2019), Zambujal (Kunst, 1996) ou
Castro da Rotura (Gonçalves, 1971). Destaca-
-se um fragmento de crucífera, também detec-
tado noutros locais, como Moinho do Custódio
(Sousa & Lopes, 2017), Moita da Ladra (Car-
doso, 2014) e Barranco do Farinheiro (Gonçal-
ves & alii, 2017).
As produções lisas não são muito diversas, e
francamente difíceis de enquadrar cronologica-
mente sem a devida informação estratigráca.
Sendo os artefactos aqui analisados provenientes
Fig. 11 – Cerâmicas
decoradas do Paço:
21) Canelura;
22) Cerâmica
Penteada;
23) Folha de Acácia;
24) reticulado inde-
terminado preenchido
a pasta branca;
25) Folha de Acácia;
26) possível exemplar
campaniforme;
27) carena
ombreada (possível
campaniforme).
24
Cátia Delicado | Luís Rendeiro | André Texugo | André Pereira
Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 23 | 2020 | pp. 13–30
de recolhas de superfície, não é possível deter-
minar, de forma ltrada, a sua inclusão crono-
lógica, tendo-se optado pela inclusão numa
categoria mais generalista: Neolítico Final/
Calcolítico.
No caso de Leceia (Oeiras), as produções cam-
paniformes, misturam-se com cerâmicas deco-
radas de estilos regionais, como é o caso da
folha de acácia e crucífera, a partir dos iní-
cios do segundo quartel do III milénio a.C.
(Cardoso, 1997–1998), ainda que sítios como
Leceia, devido às suas fortes dinâmicas constru-
tivas e reformulações arquitectónicas, apresen-
tem problemas no que concerne a sua clareza
cronológica.
Assim, é possível considerar que, na Estrema-
dura, coexistem distintas práticas decorativas,
possivelmente reexo de dinâmicas sociais e
identitárias complexas, no decurso do III milénio
a.C. Estas diferenças apenas podem ser expli-
cadas por razões de carácter social, além de
que, a presença/ausência de campaniforme no
registo arqueológico não assume propriamente
um signicado cronológico, uma vez que, numa
área geográca distinta, podem efectivamente
coexistir sítios com e sem campaniforme.
No Paço, verica-se a ocorrência de cerâmica
campaniforme e do grupo decorativo “folha de
acácia”, enfatizando a ocupação Calcolítica
deste sítio. No caso dos fragmentos cerâmicos
com decoração penteada, os mesmos são bas-
tante frequentes ao longo do curso do Douro
português, ocorrendo igualmente na zona da
bacia do Alto Mondego, atingindo com rela-
tiva expressão a Alta Estremadura (Gonçal-
ves, 1991), mas com menor representatividade
as áreas a sul do Montejunto (Cardoso, 1995;
Basílio & Texugo, 2017a). Assim, pelo mate-
rial recolhido, o Paço terá sido ocupado, de
forma relativamente segura, durante o Calcolí-
tico, podendo eventualmente, ser sugerida uma
presença de artefactos enquadráveis no nal
do IV milénio a.C., ainda que de forma muito
ténue.
6. A um Paço da sua territorialidade
O território calcolítico a noroeste da Serra do
Montejunto, onde se integra o sítio do Paço,
encontra-se intimamente relacionado com as
bacias hidrográcas do Rio Real, Rio Grande
e Alcabrichel, em estreita relação com o mundo
atlântico (Fig. 12).
Este aspecto é oposto ao que se denota a sudeste
da mesma elevação, com um fácies muito mais
relacionado com o ambiente uvial do Tejo, em
que os sítios calcolíticos, denominados “Povoa-
Fig. 12 – Dispersão
dos sítios arqueo-
lógicos, por tipo-
logia, na área em
estudo (segundo
dados do Portal do
Arqueólogo).
25 Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 23 | 2020 | pp. 13–30
O sítio pré-histórico do Paço (Peniche): uma varanda calcolítica sobre o Oceano
dos Forticados”, tendem a desenvolver-se sobre
auentes expressivos. Ainda assim, no cômputo
geral, as características de implantação destes
sítios em altura são compartilhadas — ocupa-
ções em altura, sobranceiras a linhas de água,
com boa exposição solar, acesso a solos férteis,
com evidências de monumentalidade natural e/
ou construída. No entanto, e ainda que se possa
valorizar, no discurso, um certo determinismo na
ocupação dos “Povoados Forticados”, devemos
reconhecer que, ainda que semelhantes, as dinâ-
micas sociais vigentes podem ser distintas e assi-
métricas. É, como tal, necessário considerar, para
além das condições físicas, possíveis razões cos-
mológicas e cosmográcas associadas à sua ocu-
pação, aquando do processo de caracterização
das biograas e trajectórias únicas de cada lugar.
O sítio arqueológico do Paço integra um conjunto
de 10 sítios em altura, semelhantes sicamente
entre si, que se relacionam igualmente com o
ambiente marítimo. Nestes, é possível compreen-
der organizações espaciais que podem, eventual-
mente, espelhar distintos nichos paisagísticos, com
relações de partilha entre si. São disso um pos-
sível exemplo os sete sítios em redor da Lagoa
de Óbidos, dos quais se destacam o Outeiro
da Assenta (Cardoso & Martins, 2009), de São
Mamede (Jordão, 2010) e o Castro da Colum-
beira (Gonçalves, 1994).
Por oposição, o sítio do Paço surge, aparente-
mente, isolado e desconexo, ainda mais quando
consideramos a análise da sua visibilidade. Para
proceder a este estudo, foi implementada uma
metodologia baseada em software SIG, neste
caso o QGIS (versão estável 3.10.5) e GRASS
7.8.2, com recurso à ferramenta r.viewshed que
gera uma visão geral da visibilidade de um, ou
mais pontos.
A análise binária de visibilidade é a mais recor-
rente em trabalhos arqueológicos, resultando num
cheiro raster, no qual se pode visualizar o con-
traste entre as células visíveis e não visíveis. A
nível técnico, é produzida uma análise da linha
de visão entre o ponto de origem e as células
em seu redor, com base num modelo digital de
terreno (MDT). As células que não são bloquea-
das, por elevações ou outros obstáculos, são clas-
sicadas como visíveis, com a atribuição do valor
“1”. Por oposição, as células invisíveis são classi-
cadas com “0”. Como tal, o resultado da análise,
é uma combinação binária entre 0’s e 1’s (Ashton,
2010). No caso do MDT de base para as aná-
lises produzidas, foi utilizado um Modelo Digital
disponibilizado pela plataforma europeia Coper-
nicus (http://land.copernicus.eu) – EU-DEM2_
EUROPE_1 v. 1.1 com uma resolução de 25 m
e precisão vertical de cerca de 7 m (Fig. 13).
Os resultados da visibilidade do sítio do Paço
Fig. 13 – Mapa de
visibilidades a partir
do sítio do Paço.
26
Cátia Delicado | Luís Rendeiro | André Texugo | André Pereira
Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 23 | 2020 | pp. 13–30
são referentes a uma análise feita a 1,75 m
de altura em relação ao solo, com um raio de
estudo de 15 km em redor do sítio em estudo.
Foi também tida em conta uma correcção da
refracção atmosférica de 0,13. Os parâ-
metros denidos permitiram gerar um mapa
que demonstra que a visibilidade do sítio
do Paço era limitada pelas elevações circun-
dantes, inclusivamente, pelo próprio planalto
das Cesaredas. Estas bloqueavam, segundo
o resultado da análise, a intervisibilidade do
Paço com os sítios congéneres em seu redor,
afunilando a disponibilidade visual do sítio em
estudo à ribeira de São Domingos, à Ilha de
Peniche e, de forma residual, ao cerrado a SO
na zona dos Casais de Fonte Lima (Lourinhã).
Estes resultados sugerem um possível controlo
visual sobre a paisagem a oeste, o que exclui
o Paço do nicho de sítios ao redor da Lagoa
de Óbidos e/ou Serra do Montejunto. Como
tal, diversas linhas interpretativas podem ser
sugeridas para este aparente isolamento físico
e visual. Por um lado, pode sugerir-se a sua
integração numa mesma rede de povoamento
dos sítios da Lagoa de Óbidos, atribuindo-
lhe uma funcionalidade própria que, ainda
que pouco clara, se relacionaria com o início
do acesso ao Planalto das Cesaredas. Outra
possibilidade passa pelo seu posicionamento
face a um hipotético controlo do acesso aos
recursos e contactos interuviais e marítimos.
Por outro, esta aparente exclusão poderá indi-
ciar limites de contacto e de relações, ou seja,
possíveis diferenças nas redes de povoamento,
ou mesmo diferenciações identitárias, que se
materializam espacialmente. Todavia, e consi-
derando o parco conhecimento em relação às
temporalidades e dinâmicas sociais vigentes no
Paço, não é possível dar preferência a nenhuma
das hipóteses interpretativas, considerando-se
esta análise de visibilidades apenas como um
exercício indicativo para futuras investigações.
6.1. Paço a passo: nas rotas calcolíticas
Nesta linha, e com o intuito de testar as rela-
ções físicas das expressões antrópicas regio-
nais e o sítio do Paço, foram levadas a cabo
análises de Least Cost Path (rotas de menor
custo). Para tal, foram novamente utilizados os
softwares já mencionados QGIS e GRASS, com
um procedimento metodológico distinto. Num
primeiro momento, a informação cartográca
foi incorporada no módulo GRASS, sendo pos-
teriormente reclassicada para possibilitar
o cálculo da fricção (mapa de custo). Numa
segunda fase, foi gerado um mapa de custo
acumulado que, por sua vez, permitiu a apli-
cação do modelo para calcular a rota óptima
entre o Paço e os distintos sítios circundantes
(Fig. 14).
A informação cartográca de base é a mesma
que a utilizada para as análises de visibili-
dade (EU-DEM), tendo sido complementada
por bases referentes à hidrograa (EU-Hydro
v. 1.1 da plataforma Copernicus) e aos solos
(Corine Land Cover 2006 v.20 disponível na
mesma plataforma). A partir do MDT foi ori-
ginado o mapa de pendentes, utilizando-se a
ferramenta r.slope. Estes produtos foram então
reclassicados, tendo por base os trabalhos de
Llobera (1999) no caso do mapa de penden-
tes (pendente/esforço) e os de López Romero
(2005) para a reclassicação dos rios, quanto
à valorização do esforço para os atravessar e,
igualmente, para a classicação dos solos, em
relação ao esforço de progressão nos diferen-
tes tipos de vegetação existentes.
A este processo segue-se o cálculo da fricção
que, no fundo, corresponde ao cálculo do custo
para ultrapassar cada pixel do mapa. Neste
sentido foi utilizada ferramenta r.cross, tendo
Fig. 14 – Fluxograma
do processo metodo-
lógico aplicado na
elaboração das rotas
de menor custo.
27 Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 23 | 2020 | pp. 13–30
O sítio pré-histórico do Paço (Peniche): uma varanda calcolítica sobre o Oceano
por base os mapas hidrológico, de pendentes
e de solos reclassicados. Por sua vez, o mapa
de fricção permitiu a execução do módulo r.walk
para originar um novo mapa, que indica o custo
de chegada a um destino pré-denido — neste
caso, o sítio do Paço. A partir daqui, foi aplicada
a ferramenta r.drain para todos os sítios congé-
neres, a norte do Montejunto, na região oeste —
cerca de 25 km a partir do Paço (Fig. 15).
Os resultados obtidos revelaram relações ines-
peradas uma vez que, assumindo que as bacias
hidrográcas representariam uma parte signi-
cativa do sistema de mobilidade pré-histórico,
na análise realizada os caminhos que cruzam
bacias hidrográcas (ou seja, que não acompa-
nham o curso dos rios) destacam-se, revelando
possíveis inuências e determinismo culturais entre
sítios arqueológicos. Sublinham-se então as rotas
Paço-Zambujal, ou mesmo o percurso Paço-Pra-
gança, que deverão ser aprofundados em futuros
trabalhos.
No caso da primeira, e segundo os resultados da
análise, a rota Paço-Zambujal compartilharia, na
sua grande maioria, caminhos com as rotas em
direcção ao Castro da Achada, Fórnea e Pico
Agudo. Não deixa de ser igualmente importante
salientar a intersecção da rota até ao Zambu-
jal com duas grutas articiais, nomeadamente o
Casal da Lapa (Freitas, 1959) e Bolores (Zilhão,
1986). Ainda que esta análise não tenha conside-
rado, na elaboração do mapa de fricção, valo-
res inerentes à presença de outros sítios arqueo-
lógicos, a sua existência poderá ter afectado e
condicionado a mobilidade na Pré-História, uma
vez que nem sempre se recorria ao percurso mais
rápido por inuências e práticas culturais. Ainda
assim, e reconhecendo que as grutas articiais
implicam um processo construtivo e de manuten-
ção antrópica, a existência de uma rota de pas-
sagem nas imediações poderá ter inuenciado o
seu posicionamento.
Já no que concerne ao caminho Paço-Pragança,
este foi destacado por partilhar a sua “rota
óptima” com o nicho de sítios localizados em
redor da Lagoa de Óbidos, no acesso à Serra do
Montejunto. Esta elevação tem sido interpretada
como uma barreira física, ambiental e cultural
(Basílio & Texugo, 2017b), tendo relações atesta-
das a sítios como o Outeiro da Assenta e de São
Mamede, denotando-se igualmente inuências
com o sítio do Paço, pela presença, no reduzido
conjunto de materiais, de cerâmicas penteadas.
Em suma, e considerando que as análises apre-
sentadas têm um carácter essencialmente
exploratório, o presente estudo visa sugerir
algumas linhas de investigação futuras, no que
concerne à Arqueologia do território na zona
oeste de Portugal.
Fig.15 – Rotas de
menor custo entre o
Paço e os sítios de
altura congéneres.
28
Cátia Delicado | Luís Rendeiro | André Texugo | André Pereira
Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 23 | 2020 | pp. 13–30
7. Considerações nais
O estudo do sítio arqueológico do Paço, ain-
da que limitado pela ausência de informações
contextuais e cronológicas sólidas, permitiu re-
lacionar o local com a sua envolvente e congé-
neres imediatos. Foram, nesta linha, identica-
das possíveis organizações espaciais e territo-
riais, sugerindo-se, por um lado, a integração
do sítio do Paço na rede detectada ao largo
da Lagoa de Óbidos, por outro, o seu possível
isolamento intencional, face a uma possível uni-
dade identitária a NE.
A análise dos artefactos recolhidos não
permitiu fortalecer nenhuma das hipóteses
interpretativas, ainda que tenha sido possível
claricar que o Paço terá tido uma dinâmica
social particularmente notória no Calcolítico. As
balizas cronológicas tiveram essencialmente em
conta a presença de taças carenadas, cerâmi-
ca campaniforme e “folha de acácia”. Apesar
de ser um conjunto cerâmico relativamente pe-
queno, a diversidade que o mesmo possui per-
mite aferir que o Paço usufruiu de diversas in-
uências da área estremenha, mas também das
comunidades do centro do país, o que poderá
estar atestado pela presença de cerâmicas de
decoração penteada. Também é possível suge-
rir uma eventual ligação ao Alentejo, devido à
presença de anbolito, ainda que outras jazi-
das regionais sejam conhecidas, como é o caso
de Abrantes.
A panóplia de matérias-primas presentes
possibilitou ainda a identicação de ligações
a áreas exógenas (fora da região de estu-
do), mas também a própria valorização da
matéria-prima local, como é o caso do uso de
quartzito e sílex, que poderão provir das áreas
próximas ao sítio arqueológico. Desta forma, e
ainda que com muitas ressalvas devido ao par-
co conhecimento sobre o sítio, pode-se sugerir
que o Paço terá sido parte integrante das di-
nâmicas calcolíticas da região oeste, podendo
ter, inclusivamente, sido um agente nas constru-
ções dos mosaicos identitários, de povoamento
e de mobilidade e contactos em relação ao
Oceano Atlântico.
Nesta linha, surge a importância do estudo
espacial exploratório levado a cabo no pre-
sente trabalho, que possibilitou a aferição de
possíveis rotas de transitabilidade entre sítios
arqueológicos congéneres e, eventualmente,
contemporâneos. Mais do que conclusões,
o presente trabalho permitiu estabelecer e
identicar um conjunto de linhas de investiga-
ção futuras, salientando-se a necessidade de
claricar, por meios de escavação arqueo-
lógica, as reais dinâmicas do sítio do Paço.
Para além desta, cam por completar traba-
lhos que possibilitem aferir a validade das
rotas óptimas identicadas, bem como a sua
relação com a implantação de realidades fu-
nerárias antrópicas, como é o caso das duas
grutas articiais entre o sítio em estudo e o
Zambujal.
Agradecimentos
Deixamos o nosso profundo agradecimento à
Professora Ana Catarina Sousa pelo seu apoio
e colaboração em todos os pontos do nosso
percurso e ao Doutor João Caninas, da empre-
sa EMERITA, pela autorização na publicação
de dados dos Estudos de Impacto Ambiental.
Um especial obrigado também à Ana Catarina
Basílio, pelas suas sugestões, revisão e ajuda na
realização deste trabalho.
29 Revista Portuguesa de Arqueologia – volume 23 | 2020 | pp. 13–30
O sítio pré-histórico do Paço (Peniche): uma varanda calcolítica sobre o Oceano
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