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https://doi.org/10.11606/issn.2179-2275.labverde.2020.172291
Revista LABVERDE. FAUUSP. São Paulo, v. 10, n. 01, e172291, 2020.
BY NC SA
Deize Sbarai Sanches Ximenes
Gérsica Moraes Nogueira da Silva
Ivan Carlos Maglio
Júlio Barboza Chiquetto
Luís Fernando Amato-Lourenco
Maria da Penha Vasconcellos
Pedro Roberto Jacobi
Sonia Maria Viggiani Coutinho
Vivian Aparecida Blaso Souza Soares César
RESUMO
As cidades estão sofrendo profundas transformações no campo da
saúde, cultura, relações sociais, e principalmente na vida urbana, pro-
vocando inúmeras reexões e questionamentos ao modelo de cidade
que poderá ser desfrutada pós-pandemia da COVID-19, destacando
a importância e o papel dos espaços públicos e das áreas verdes em
períodos excepcionais como no caso da pandemia e para o futuro da
vida urbana. Diante da atual situação, este artigo tem por objetivo re-
comendar diretrizes de convivência e de uso adequado para as áreas
verdes e espaços públicos, compatíveis com as exigências da saúde
pública para o período da pandemia, até que se tenha uma vacina e-
ciente, e ao mesmo tempo, colaborar com diretrizes para uma quali-
dade de vida urbana com maior valorização das áreas verdes, vencida
a pandemia. Esse estudo foi baseado na Pesquisa Emoções Momentâ-
neas: Comportamentos e Hábitos Cotidianos Pós-Pandemia (XIMENES
et al., 2020), nas revisões de literatura técnica e cientíca, nas análises
das informações disponíveis e no mapeamento das áreas verdes do
município de São Paulo. A ressignicação das cidades pós-pandemia
deverá abordar a implementação de novas políticas públicas, e meios
de apropriação e convivência dos espaços públicos, parques e áreas
verdes da cidade de São Paulo, tornando-os mais humanizados, segu-
ros e inclusivos; trabalhando estratégias integradas ao desenvolvimen-
to urbano sustentável na retomada das atividades de lazer, cultura,
gastronomia e entretenimento.
Palavras-chave
Vida urbana. Espaços públicos. Áreas verdes. Pós-pandemia.
Pandemia da COVID-19. Cidade de São Paulo.
A IMPORTÂNCIA DOS ESPAÇOS
PÚBLICOS E ÁREAS VERDES PÓS-
PANDEMIA NA CIDADE DE SÃO
PAULO (SP)
https://doi.org/10.11606/issn.2179-2275.labverde.2020.172291
Revista LABVERDE. FAUUSP. São Paulo, v. 10, n. 01, e172291, 2020.
BY NC SA
abstract
Cities are undergoing profound transformations in the elds of health,
culture, social relations, and especially in urban life, causing numerous
reections and questions to the city model that can be enjoyed after
the pandemic of COVID-19, highlighting the importance and the role
of public spaces and green areas in exceptional periods as in the case
of the pandemic and for the future of urban life. In view of the situation,
this article aims to recommend guidelines for coexistence and proper
use of green areas and public spaces, compatible with public health
requirements for the pandemic period, until an ecient vaccine is
obtained, and, at the same time, collaborate with guidelines for the
quality of urban life with greater appreciation of green areas after the
pandemic is over. This study was based on the Momentary Emotions
Research: Post-Pandemic Behaviors and Daily Habits (XIMENES et
al., 2020), on the reviews of technical and scientic literature, on the
analysis of the available information and on the mapping of the green
areas in the city of São Paulo. The resignication of post-pandemic
cities should address the implementation of new public policies, and
means of appropriation and coexistence of public spaces, parks
and green areas in the city of São Paulo. This will make them more
humanized, safe and inclusive; development strategies integraded
to sustainable urban development in the return of leisure, culture,
gastronomy and entertainment activities.
Keywords
Urban life. Public spaces. Green areas. Post-pandemic. COVID-19
pandemic. São Paulo city.
tHE IMPOrtaNcE OF PUbLIc
sPacEs aND GrEEN arEas IN tHE
POst-PaNDEMIc IN tHE cItY OF
sÃO PaULO-sP
Deize Sbarai Sanches Ximenes
Gérsica Moraes Nogueira da Silva
Ivan Carlos Maglio
Júlio Barboza Chiquetto
Luís Fernando Amato-Lourenco
Maria da Penha Vasconcellos
Pedro Roberto Jacobi
Sonia Maria Viggiani Coutinho
Vivian Aparecida Blaso Souza Soares César
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Revista LABVERDE. FAUUSP. São Paulo, v. 10, n. 01, e172291, 2020
INTRODUÇÃO
O período de pandemia da COVID-19 impôs inúmeras transformações
nas cidades no campo da política, economia, ambiente, cultura, rela-
ções sociais e afetivas, e para a vida urbana trazendo inúmeras ree-
xões e questionamentos sobre o modelo de cidade que queremos viver
num possível futuro pós-pandemia.
Em dezembro de 2019, com a propagação do novo coronavírus
SARS-CoV-2, causador da doença COVID-19 pelo mundo, as cidades
adotaram novas medidas de saneamento e de combate à proliferação
do vírus, reduzindo as atividades sociais, como comércio, lazer, cultura
e serviços, assim como, o fechamento de parques e praças para não
haver aglomerações. No Brasil, não foi diferente, após o primeiro caso
de contaminação em fevereiro de 2020, que se alastrou pelos Estados
por meio de transmissão comunitária; ocorrência de casos sem vínculo
a um caso conrmado, em área denida, onde não é possível rastrear
qual a origem da infecção, independente de terem viajado ou não para
o exterior; seguiu as orientações da Organização Mundial da Saúde
(OMS) para prevenção da COVID-19.
Com a disseminação do vírus causador da COVID-19, os espaços pú-
blicos foram transformados em um não-lugar. De acordo com Augé
(1994), o lugar precisa ter uso e atividades, algum nível de relação
emocional e características simbólicas sucientes. Uma cidade, um lu-
gar, sem suas atividades, e principalmente com ausência da cultura,
espaços público e pessoas, não é um lugar.
A pandemia do coronavírus está alterando profundamente a dinâmica
da vida urbana em todas as cidades, em especial a dinâmica das me-
trópoles mundiais. É necessária uma reexão sobre a forma como serão
apropriados os espaços públicos e áreas verdes da cidade de São Paulo
de forma segura, inclusiva e com qualidade de vida no pós-pandemia.
Para Gehl (2013), a vitalidade das cidades está na apropriação e uso
do espaço público, ressaltando a importância de resgatar a dimensão
humana das cidades para acomodar as pessoas em espaços públicos
sucientes e projetados na escala humana, de forma agradável, segura,
sustentável e saudável. Reforça-se a ideia de cidades vivas, nas quais as
pessoas se sintam convidadas a permear os espaços públicos e a manter
uma conexão destes com suas atividades cotidianas. São os bens comuns
mais valiosos para a saúde e bem-estar das pessoas, por serem locais de
encontro, de relações de afeto, e de estímulo dos laços comunitários.
A ONU-HABITAT (2016) reconhece que onde o espaço público é ina-
dequado, negligenciado ou mal concebido, a cidade se torna cada vez
mais segregadora. O planejamento e desenho adequado dos espaços
públicos fortalecem o direito das pessoas de usufruir de espaços in-
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clusivos, seguros e acessíveis. Melhorar o acesso e a participação das
pessoas mais vulneráveis é uma ferramenta poderosa na ressignica-
ção das cidades pós-pandemia, sendo uma forma de reduzir as desi-
gualdades e promover benefícios sociais e econômicos à essa popu-
lação em áreas periféricas. Lefebvre (2013) evidencia a importância
da homogeneidade e da globalização do espaço público em contra-
posição ao espaço fragmentado e hierárquico imposto por interesses
econômicos, e por uma produção racional.
Embora as cidades compactas e com maior densidade e verticaliza-
ção, no contexto do debate das mudanças climáticas, sejam preferí-
veis para a economia e eciência no consumo de recursos e na miti-
gação dos impactos das mudanças climáticas (CALDAS et al., 2020),
a pandemia da COVID-19 trouxe questionamentos sobre as cidades
com altas densidades, colocando em cheque a densidade das cidades
como um “inimigo”, a partir dos casos em Wuhan, China, onde o vírus
teve seu alastramento inicial. Embora a alta densidade tenha sido um
aspecto observado inicialmente, as análises estatísticas não mostram
uma conexão consistente entre a densidade das grandes cidades e os
impactos do coronavírus. Alguns dos espaços mais povoados do mun-
do - Hong Kong, Seul, Cingapura - provaram ser os mais ecientes para
conter a COVID-19. Nos EUA, pequenas cidades da Geórgia e Louisiana
sofrem junto com a grande e densa cidade de Nova York (KLING, 2020).
Que lições podemos tirar da pandemia? As respostas a essa questão vão
depender de como diagnosticamos o problema. Se não considerarmos
as desigualdades e a exclusão social e territorial sistêmica, presentes no
contexto urbano brasileiro, e que tornam certos lugares e populações
mais vulneráveis, vamos voltar a culpabilizar a cidade como a “inimiga”.
No século XVIII, a relação entre a pobreza e a mortalidade já começava
a ser percebida na Europa, mas foi somente na primeira metade do
século XIX que se desenvolveram, de maneira sistemática, as investi-
gações sobre as relações entre o processo saúde-doença e as profun-
das desigualdades sociais. O impacto da Revolução Industrial sobre as
condições de vida dos habitantes das cidades europeias, agravou um
quadro sanitário, impulsionando estudos epidemiológicos sobre as pre-
cárias condições de vida e suas consequências (SILVA; BARROS; 2002).
Na década de 1990, os estudos acadêmicos sobre desigualdades so-
ciais em saúde obtiveram um grande avanço com o desenvolvimento
de métodos de análise; de novas técnicas de mensuração de dispari-
dades; assim como conhecimentos anteriormente adquiridos sobre as
principais pandemias, aprofundando as análises de mortes em cama-
das mais vulneráveis (SILVA; BARROS; 2002).
Mas se considerarmos, que as cidades podem concentrar mais facil-
mente recursos e serviços sociais, com acesso mais rápido aos hospitais
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e cuidados de saúde (KLING, 2020), quando alimentadas pela infraes-
trutura social - centros comunitários, bibliotecas e, sim, espaços e par-
ques públicos - as cidades podem gerar redes de vínculos sociais que
salvam vidas, que combatem o isolamento e atenuam os efeitos de de-
sastres. Nesse sentido, é importante investir em medidas que reduzam
a vulnerabilidade social e ambiental, que ampliem os espaços públicos
e as áreas verdes para maior equidade e qualicação da vida urbana.
Como preocupação central do presente artigo, a fruição, a permanên-
cia e o convívio das pessoas nos espaços públicos só será possível du-
rante a pandemia quando se sentirem seguras e acolhidas, se respei-
tarem regras mútuas de segurança sanitária, tais como: limitações de
acesso, limitação do número de pessoas por área do espaço público,
manutenção de distâncias de segurança, uso de máscaras, higieniza-
ção das mãos, entre outras.
Nesse sentido, um dos objetivos deste artigo é recomendar diretrizes
de convivência e de uso adequado para as áreas verdes e espaços pú-
blicos, compatíveis com as exigências da saúde pública apoiadas por
estudos cientícos, até que se tenha uma vacina eciente para a doença
e afastados os riscos de sua propagação ampliados pela concentração
de pessoas. Ao mesmo tempo, o grande desao e a oportunidade que
se coloca é o de repensar a vida urbana, vencida a pandemia, estimu-
lando novos paradigmas, inuenciando políticas públicas, e com novos
hábitos e opções sustentáveis que contribuam em tornar as cidades
mais inclusivas, saudáveis e seguras, com maior valorização das áre-
as verdes e espaços públicos, especialmente os abertos, destinados a
inúmeras atividades e propósitos, como lazer, saúde e cultura.
O desao para o planejamento das cidades seria a cocriação de es-
tratégias integradas entre desenvolvimento e decrescimento sereno,
conceito abordado por Latouche (2009) 1 para cooperar com a recu-
peração da degradação ambiental e com a redução de impactos so-
cioeconômicos, que dialoguem com iniciativas locais e globais visando
o urbanismo sustentável. Por outro lado, o enfrentamento emergen-
cial da pandemia da COVID-19, não soluciona e realça os problemas
pré-existentes relacionados à desigualdade social, e a vulnerabilidade
socioambiental das cidades aos impactos climáticos, no qual as áreas
verdes cumprem papéis e funções ambientais fundamentais na am-
pliação da resiliência urbana.
Acredita-se que com o efeito da pandemia, o comportamento das pes-
soas irá se transformar, e os cuidados com a saúde e o bem-estar de-
verão se intensicar, surgindo novas tendências no uso e na escolha
de espaços de convivência, podendo optar por espaços públicos ao
ar livre, como praças, parques e áreas verdes, ou os espaços con-
nados, como shoppings, museus, galerias, entre outros, necessitando
que nessas situações, as atividades possam ser reiniciadas de forma
1. O decrescimento sereno
proposto por Serge Latouche
indica que é preciso rever padrões
de produção e consumo a partir
da perspectiva que temos de um
planeta com recursos nitos e
que não suportaria sobreviver
aos padrões de produção e
consumo mundiais de forma
exponencial. “Entende-se implícita
ou explicitamente a necessidade
de voltar a um nível de produção
sustentável, compatível com a
reprodução dos ecossistemas”
(Latouche, 2009, pág. 47).
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segura, com o uso adequado pela população e evitando aglomeração
inadequada aos novos padrões de saúde pública.
Recente pesquisa, aplicada em maio de 2020 por pesquisadores do
Programa Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados da Uni-
versidade de São Paulo, levantou a percepção de brasileiros sobre seu
comportamento e hábitos cotidianos com o controle da pandemia e
em um cenário futuro pós-pandemia, com 1956 respondentes. Entre
os resultados, que são emoções momentâneas, indica-se que o conta-
to com outras pessoas e com a natureza são os fatores que mais têm
feito falta durante o isolamento social, com 86 % das pessoas indican-
do a falta de estarem junto às áreas verdes. Também, como veremos
neste artigo, os resultados ainda mostram que poderá haver mudanças
no comportamento das pessoas (XIMENES et al.,2020).
O objetivo do questionário citado, foi buscar elementos que sustentem
recomendações de convivência e protocolos de uso adequados para
a utilização das áreas verdes e espaços públicos durante e após a
pandemia da COVID-19 e a percepção das pessoas sob suas aspirações
para a vida urbana pós-pandemia.
Assim, considerando o atual período de pandemia que estamos viven-
do, este artigo tem por objetivo recomendar diretrizes de convivência
e de uso adequado para as áreas verdes e espaços públicos, compatí-
veis com as exigências da saúde pública para o período da pandemia,
até que se tenha uma vacina eciente para a doença e afastados os ris-
cos de sua propagação ampliados pela concentração de pessoas; e ao
mesmo tempo, inuenciar políticas públicas e estimular novos hábitos
e comportamentos, com maior valorização das áreas verdes e espaços
públicos, para uma ressignicação da vida urbana pós-pandemia.
METODOlOgIa
A metodologia utilizada para o presente trabalho baseia-se na pes-
quisa de opinião realizada por pesquisadores do Programa Cidades
Globais do IEA USP (XIMENES et al, 2020) citada anteriormente, onde
obteve como resultados a falta das áreas verdes durante o distancia-
mento social, e a indicação de praças como locais de maior frequência
no pós COVID-19, por 90,5 % dos respondentes, fortalecendo a re-
comendação para ampliação das áreas verdes públicas. Conrma-se,
portanto, a importância das áreas verdes públicas apontada na lite-
ratura (AMANO; BUTT; PEH, 2018; AMATO-LOURENÇO et al., 2016;
THOMPSON et al., 2016; TAKANO, 2002;).
No caso do município de São Paulo utilizou-se o monitoramento dos
indicadores de áreas verdes por habitantes nos distritos e bairros, para
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a denição de metas a serem atingidas. Essas metas deverão conside-
rar a ampliação do índice de áreas verdes de forma equilibrada entre
os distritos municipais, visando reduzir as desigualdades existentes
na distribuição das áreas verdes no município de São Paulo. Para tal,
acompanha-se com atenção a elaboração do Plano Municipal de Áreas
Protegidas, Áreas Verdes e Espaços Livres (PLANPAVEL) em elabora-
ção pela Prefeitura Municipal de São Paulo.
A partir da pesquisa de opinião, da leitura de mapas e análise de dados
produzidos pela Prefeitura de São Paulo, com relação a quantidade e
distribuição das áreas verdes do município e o potencial de cobertura
vegetal existente, a pesquisa de percepção fornece uma série de evi-
dências e constatações que subsidiaram a formulação de recomenda-
ções para espaços livres vegetados durante e após a pandemia. Dessa
forma, algumas sugestões de políticas públicas e de novos hábitos e
comportamentos foram apresentadas para subsidiar esses protocolos
de uso dos espaços públicos.
DIScUSSÃO E RESUlTaDOS
O espaço público molda a imagem da cidade e sua apropriação por
parte da população, desde grandes parques urbanos a jardins de bair-
ros, potencializando a necessidade de áreas verdes, e assumindo dife-
rentes formas espaciais incluindo ruas, calçadas, caminhos, parques,
becos; uma rede de espaços que fortalece as conexões entre pessoas
e cria a vida urbana.
Em seu livro “The Death And Life of Great American Cities”, Jacobs
(1961) já abordava uma clara denição do espaço público tão inovado-
ra para sua época, defendendo a vitalidade e o frequente movimento
das ruas e dos espaços verdes. Os espaços públicos com quadras de
tamanho padrão, edifícios com visão das calçadas, esquinas e cruza-
mentos abertos ao olhar do transeunte são áreas vitais na cultura ur-
bana segura. Jacobs sempre foi uma grande defensora da vida urbana,
trazendo como aliadas a densidade e a vida em comunidade; pontos
elementares para a qualidade de vida.
De forma semelhante, Whyte (1980) dedicou grande parte da sua vida
aos estudos da vida urbana, enfatizando os elementos essenciais que
um espaço público deveria contemplar para atrair pessoas e se tornar
o lugar de convivência e de vida. Ele acreditava que temos uma respon-
sabilidade moral de criar lugares físicos que facilitem o envolvimento
cívico e a interação com a comunidade. Um exemplo foi o fechamento
ocial para veículos da principal avenida de São Paulo aos domingos e
feriados - a Avenida Paulista, pelo Decreto nº 57.086 (24/06/2016) ins-
tituindo ocialmente o Programa Ruas Abertas nos termos da Política
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Nacional de Mobilidade Urbana, colocando-a como um grande espaço
público, ponto de encontro democrático dos paulistanos e visitantes e
um espaço pontuado por centros culturais, facilidades de transporte
público e acesso por ciclovias.
No início do século XX, a criação dos parques urbanos se fortalece
num cenário de cidades industrializadas, onde Frederick Law Olmsted 2
arma que a quantidade de doenças, vícios e crimes, só seria combatida
com o pensamento ambiental, trazendo o ar puro desinfectado pela
luz solar e pelas árvores; sendo essas denidas por ele como os
“pulmões” da cidade. Os parques urbanos trariam um conforto à vida
urbana levando à população acomodações agradáveis e acessíveis,
com espaços recreativos que garantiriam um estado de espírito bem-
humorado e saudável. Via a vida urbana como uma ameaça à saúde
física e mental das pessoas e estimulava à contemplação de paisagens
naturais que pudessem amenizar a estrutura urbana adensada com
funções saneadoras, representando oásis de ar puro, contemplação e
alívio da rotina e afazeres da vida urbana (OLMSTED, 1997).
As áreas verdes nas grandes metrópoles: a cidade de São Paulo
como estudo de caso
Para avaliar as possibilidades da população urbana paulistana usufruir
das áreas verdes e dos seus benefícios durante e após a pandemia, reali-
zou-se a análise da relação de área verde por habitante, que demonstrou
um grande desequilíbrio na sua distribuição entre a periferia e o centro,
ou seja, entre as regiões mais carentes e as mais valorizadas, eviden-
ciando a desigualdade social em relação ao acesso a parques e praças.
O total de áreas verdes consolidadas para o cálculo dos indicadores
per capita, no caso do município de São Paulo 3, têm origem nas se-
guintes tipologias: áreas mapeadas nas UCs presentes no território e
áreas verdes públicas presentes em parques e praças municipais.
Constatou-se que São Paulo tem carência de espaços livres públicos de
áreas verdes, e que as normas de proteção ambiental em todos os níveis
governamentais, fortalecidas a partir da Lei da Política Nacional de Meio
Ambiente de 1981 (Lei 6938/81), levaram à conservação de extensos
territórios localizados principalmente no extremo norte e ao sul da cida-
de que não se destinaram ao processo de urbanização. Esses espaços
se encontram na periferia da cidade sob pressão dos vetores de expan-
são urbana, mas também estão presentes em muito menor dimensão
e de forma fragmentária nos espaços mais centrais da cidade ou nos
seus bairros já consolidados. Nesses casos são pequenos fragmentos
de Mata Atlântica isolados e trechos em margens de corpos d’água que
ainda possuem funções naturais e são capazes de oferecer oportunida-
des de melhoramento ambiental de todo o conjunto urbano da cidade.
2. Frederick Law Olmsted (1822-
1903) arquiteto paisagista, foi
o mais legítimo tradutor do
pensamento ambientalista para
o projeto de paisagismo no nal
do século XIX, nos EUA. Projetou
importantes parques urbanos,
como o Central Park (Nova Iorque)
e o Emerald Necklace (Boston). É
considerado o pai da arquitetura
da paisagem americana..
3. São Paulo, Plano Diretor
Estratégico - PDE 2014, Art. 265.
O Sistema de Áreas Protegidas,
Áreas Verdes e Espaços Livres
é constituído pelo conjunto de
áreas enquadradas nas diversas
categorias protegidas pela
legislação ambiental, de terras
indígenas, de áreas prestadoras
de serviços ambientais, das
diversas tipologias de parques
de logradouros públicos, de
espaços vegetados e de espaços
não ocupados por edicações
cobertas, de propriedade pública
ou particular.
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Segundo o Plano Municipal de Conservação e Restauração da Mata
Atlântica (PMMA, SÃO PAULO, 2017), distribuídas conforme descri-
to acima, cerca de 30 % da área do município de São Paulo ainda es-
tão cobertas por este bioma, um dos mais ricos em biodiversidade do
mundo e um dos mais ameaçados.
Segundo a SVMA (2020), a cidade de São Paulo possui cerca de 40.000
hectares protegidos através de nove Unidades de Conservação munici-
pais duas do grupo de Uso Sustentável (Áreas de Proteção Ambiental -
APAS) e sete de Proteção Integral (Parques Naturais Municipais - PNMs)
e um Refúgio de Vida Silvestre - RVS. Os parques municipais e esta-
duais urbanos e os parques considerados unidades de conservação
estaduais e municipais em território paulistano regulamentadas até o
momento podem ser vistas a seguir (Figura 1). Essas categorias estão
denidas segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação 4
(SNUC - LEI 9.985/2000).
Esses números dão a dimensão das quantidades de áreas em destaque
da proteção e manejo de acordo com os objetivos estabelecidas no
SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) e da importân-
cia estratégica dos remanescentes protegidos dos recursos ecossistê-
micos do município de São Paulo.
As áreas verdes urbanas desempenham diversas funções básicas re-
lacionadas ao ecossistema e ao bem-estar dos habitantes na cidade
(GRANDE-ORTIZ et al., 2012). No âmbito dos serviços ecossistêmi-
cos, destacam-se outros aspectos importantes das áreas verdes para
o meio ambiente urbano, como a regulação do clima, da qualidade
do ar, o armazenamento do carbono, o provimento de água, a prote-
ção da biodiversidade e a beleza cênica, inuenciando positivamente
na saúde e na qualidade de vida da população (PAULEIT et al., 2000;
NOWAK et al., 2007; DAVIES et al., 2011). Sob este prisma, é possível
constatar que os benefícios de saúde e serviços ecossistêmicos das
áreas verdes são reconhecidos mundialmente.
Segundo Buckeridge (2015), as árvores urbanas podem trazer muitos
benefícios para a saúde humana, entre os quais pode-se citar, conforme
estudo conduzido por Nowak e Dwyer (2007) com modelagens feitas
para dez cidades americanas, a capacidade de remover da atmosfera
material particulado em grandes quantidades. Os autores armam que,
de acordo com o modelo, somente em Nova York, a retirada desse tipo
de material teria levado a uma economia de US$ 60,1 milhões e teria
evitado a morte de 7,6 habitantes em um ano.
Há também benefícios menos palpáveis, mas não menos desprezíveis,
da presença das árvores no meio urbano. Pesquisas mostram que pes-
soas que vivem em cidades arborizadas têm menor tendência ao es-
tresse e à depressão (GILCHRIST, 2015).
4. O Sistema Nacional de Unidades
de Conservação (SNUC - LEI
9.985/2000) é o conjunto de
unidades de conservação (UC)
federais, estaduais e municipais.
É composto por 12 categorias de
UC, cujos objetivos especícos
se diferenciam quanto à forma
de proteção e usos permitidos:
aquelas que precisam de maiores
cuidados, pela sua fragilidade e
particularidades, e aquelas que
podem ser utilizadas de forma
sustentável e conservadas ao
mesmo tempo. In: https://www.
mma.gov.br/areas-protegidas/
unidades-de-conservacao/sistema-
nacional-de-ucs-snuc.html
(consulta em 25/05/2020).
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Revista LABVERDE. FAUUSP. São Paulo, v. 10, n. 01, e172291, 2020
Embora seja reconhecida a importância da cobertura vegetal para as
cidades, principalmente para os grandes centros urbanos, não há en-
gajamento ou comprometimento sucientes para deter a degradação
ambiental urbana em curso ou tentar reverter seus efeitos prejudiciais
à saúde humana, em primeiro lugar (TEEB, 2011).
A título de comparação, o município de Campinas no Estado de São
Paulo considerou como um parâmetro relevante na elaboração do seu
Plano Municipal do Verde (2016), a questão das distâncias mínimas a
serem percorridas no interior do território municipal para que os ha-
bitantes possam acessar e utilizar as áreas verdes públicas mais pró-
ximas e a adoção dos corredores ecológicos, como forma de conec-
tividade de fragmentos vegetais (CAMPINAS, 2016), trazendo como
FIGURA 1.
Mapa das Unidades de
Conservação Estaduais e
Municipais situadas no município
de São Paulo. Fonte: Elaborado
por Juliana Colli Munhoz com base
no PMSP, SMDU (PDE, 2014) e
SVMA (2016), 2020.
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citação em seu plano, os chamados “Green Plan” - desenvolvido por
diversos países fora do Brasil com o intuito de desenvolver planos vol-
tados à restauração do meio ambiente.
Em relação às áreas verdes públicas em conjunto com as unidades
de conservação, a cidade de São Paulo, segundo dados da Secretaria
Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SÃO PAULO, 2017), perfa-
zem 16,59 m2 de área verde/hab. no geral (Figura 2). Isso se deve, em
grande parte, ao Parque Estadual da Cantareira localizado no extre-
mo norte do município (Subprefeituras de Jaçanã/Tremembé e Perus
principalmente) e ao Parque Estadual da Serra do Mar, localizado no
extremo sul do município (Distrito de Parelheiros). Estas áreas verdes,
apesar de se localizarem em regiões periféricas, não são acessíveis à
população, devido ao status de unidade de conservação. Algumas de-
las possuem uso restrito, e na maioria dos casos, não estão integradas
em uma rede de transportes à comunidade; porém se retirarmos essas
três Subprefeituras (Tremembé-Jaçanã, Perus e Parelheiros) onde se
concentram as UCs de maior porte, a média de áreas verdes por habi-
tante municipal cai para 7,095 m2/hab.
A subprefeitura de Parelheiros 5 concentra cerca de 49 % do total de
áreas verdes no município, em contraponto aos 11 % totalizados nas 12
subprefeituras da zona leste da cidade (SÃO PAULO, 2017).
Buckeridge (2015) também observou a questão da má distribuição das
áreas verdes na cidade de São Paulo. Utilizou o Índice de Cobertura
Vegetal (ICV) elaborado pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio
Ambiente em 2012 e considerou os valores de área de cobertura vege-
tal pelo número de habitantes em cada região administrativa. Obser-
vou que em algumas regiões periféricas apresentam altos valores de
ICV, claramente afetadas pela existência de resíduos de orestas ou
parques estaduais próximos à cidade, e que o centro e a região leste da
cidade se apresentam como zonas com ICV muito baixos da ordem de
2 a 6 m2 de área verde por habitante (SÃO PAULO, 2012).
Esta análise resultou na elaboração do Mapa Índice de Áreas Verdes
públicas por habitante (Figura 2) calculado a partir dos dados de po-
pulação em 2010 e da quantidade de áreas verdes públicas em 2017
(incluindo áreas verdes e unidades de conservação parques naturais)
por Subprefeitura do Município de São Paulo.
De acordo com a Figura 2, pode-se vericar que a Subprefeitura com
o pior índice de área verde por habitante é Cidade Ademar (zona sul)
com menos de 1 m2/hab., seguida de Guaianases, Vila Prudente, Sapo-
pemba (zona leste) e Campo Limpo (zona sul) que apresentam indica-
dores muito baixos, entre 1 e 2 m2/hab. Um pouco acima com índices
que variam entre 2 e 5 m2/hab., encontram-se as Subprefeituras da
Sé, Mooca, Aricanduva/Vila Formosa, São Mateus, Cidade Tiradentes,
Itaim Paulista, Ermelino Matarazzo, Vila Maria/Vila Guilherme, Vila
Mariana, Jabaquara e Santo Amaro, totalizando 16 Subprefeituras que
e apresentam índices abaixo de 5 m2/hab. 6
5. A Subprefeitura de Parelheiros
apresenta um indicador
excepcionalmente alto, pois
responde sozinha por cerca de
50 % de toda a vegetação da
cidade e tem baixíssima densidade
demográca.
6. A ONU (Organização das Nações
Unidas), a FAO (Organização de
Alimentação e Agricultura) e a OMS
(Organização Mundial de Saúde)
recomendam que as cidades
devam dispor de no mínimo 12 m2
de cobertura vegetal/habitante,
considerando um valor ideal para
melhoria da qualidade de vida
da população. (Cavalheiro e Del
Picchia,1992 apud Harder et al
2006).
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Revista LABVERDE. FAUUSP. São Paulo, v. 10, n. 01, e172291, 2020
Outro aspecto fundamental, é um olhar especial para o uso correto
dos parques urbanos, visto que, desde seu surgimento na Inglaterra,
no nal do século XVIII, já eram vistos como fundamentais à saúde
pública; sendo muitas vezes criados sob conceitos estético-funcionais
que pretendiam melhorar assentamentos humanos por razões sani-
tárias (MACEDO; SAKATA, 2010). Já no Brasil, com a intensicação
do processo de urbanização a partir da década de 1950, os parques
urbanos foram introduzidos com uma função ecológica, estética e de
lazer, como forma de extensão das praças e jardins, localizados em
áreas urbanas de uso público. Partindo da premissa das diferentes fun-
ções que os parques urbanos proporcionam à qualidade de vida, es-
tes espaços abertos poderão voltar a ser frequentados pelas pessoas
com uma redução gradual das medidas de isolamento social adotadas
FIGURA 2.
Índice de áreas verdes públicas
por habitante no município de
São Paulo. Fonte. Elaborado por
Juliana Colli Munhoz com base na
SVMA (2016), SMDU (PDE, 2014),
IBGE (2017), 2020.
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Revista LABVERDE. FAUUSP. São Paulo, v. 10, n. 01, e172291, 2020
7. O protocolo para abertura
dos parques municipais pode ser
obtido em https://www.prefeitura.
sp.gov.br/cidade/secretarias/meio_
ambiente/parques/programacao/
index.php?p=300241
ao longo da evolução do quadro pandêmico, considerando regras de
distanciamento social e de não formação de aglomerações entre os
frequentadores. A denição de limites para a capacidade de supor-
te de visitação e uso dos parques municipais e estaduais disponíveis
no município de São Paulo, recomendada pela Prefeitura (SÃO PAULO,
2020a), gira em torno de 40 % de sua capacidade, com vistas a formu-
lação de diretrizes e propostas referentes ao padrão e a intensidade de
uso desses territórios fundamentais para o convívio com a natureza e
para a qualidade da vida urbana 7.
Em países europeus, o número de pessoas que conguraram este li-
mite para a capacidade suporte de utilização dos parques foi denido
a partir do distanciamento social, ou seja, foi calculada uma distância
mínima de 1,5 metros entre as pessoas, trazendo assim, uma referên-
cia para o cálculo de suporte para cada parque (área útil do parque/
distanciamento social mínimo = capacidade de suporte de utilização).
Sobrepondo os mapas de Unidades de Conservação Estaduais e Mu-
nicipais e do Índice de áreas verdes públicas por habitante (Figuras 1
e 2, respectivamente), percebe-se a necessidade de um aumento ex-
pressivo na produção de áreas verdes e parques urbanos no município,
uma vez que, como visto anteriormente, as maiores massas verdes se
concentram nos extremos norte e sul da cidade.
Recentemente a prefeitura de São Paulo por meio da Secretaria Muni-
cipal do Verde e do Meio Ambiente, desenvolveu o mapeamento atua-
lizado de toda a cobertura vegetal existente no município e o relatório
“Cobertura Vegetal-Ranking Relativo”. Ressalta-se que esse levanta-
mento considerou todas as áreas cobertas com vegetação, sejam aque-
las já transformadas em espaços públicos e UCs, mas também, toda a
cobertura vegetal existente, que poderá contribuir para a ampliação do
sistema de áreas verdes existentes e melhorar a atual situação de dis-
ponibilidade desses espaços para o uso público. (SÃO PAULO, 2020b)
Visando a análise da quantidade de área vegetada por subprefeitura,
foi desenvolvido para este trabalho, o mapa da cobertura vegetal com
dados atuais da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente
(SÃO PAULO, 2020), no qual observa que ainda há muitas oportuni-
dades de ampliação das áreas verdes públicas (Figura 3). Tendo como
exemplo, as Subprefeituras de São Mateus, Capela do Socorro, Pare-
lheiros, Cidade Ademar, entre outras. Por outro lado, o detalhamento
e a pesquisa da cobertura vegetal por distrito e em escalas territoriais
menores (por bairros e quadras) poderá indicar novas oportunidades
de criação de áreas verdes e parques municipais urbanos ou UCs, em
especial nos territórios mais carentes destes espaços.
Neste item analisou-se a importância das áreas verdes e dos espaços
públicos existentes e colocados à disposição para uso da população,
na retomada gradual da vida urbana na cidade de São Paulo, após o
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Revista LABVERDE. FAUUSP. São Paulo, v. 10, n. 01, e172291, 2020
período mais crítico da pandemia. Demonstra-se a situação desigual
de distribuição dessas áreas, indicando a necessidade emergencial de
políticas públicas direcionadas a reduzir essa desigualdade de acesso
a praças e parques, colocando-as a distâncias acessíveis e próximas
às moradias. Por exemplo, no caso do Plano Municipal do Verde
de Campinas (2016) considerou-se também como um parâmetro
relevante, a questão das distâncias mínimas a serem percorridas no
interior do território municipal, para que os habitantes pudessem
acessar e utilizar as praças mais próximas.
A sensação de segurança das pessoas após a pandemia poderá ser
maior em áreas próximas a suas casas, e em seus bairros, sem aglo-
merações de pessoas, levando à necessidade de criação de pontos de
FIGURA 3.
Mapa de cobertura vegetal do
município de São Paulo
Fonte: Elaborado por Juliana Colli
Munhoz com base na SVMA (2020)
e GEOSAMPA (2020), 2020.
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Revista LABVERDE. FAUUSP. São Paulo, v. 10, n. 01, e172291, 2020
encontro, descentralizados e distribuídos. Também deverá se buscar
maior equidade nas oportunidades de acesso a áreas verdes próximas,
preferencialmente com acesso por transporte ativo ou a pé a diversas
atividade que estes espaços propiciam – lazer, alimentação e compras.
O uso desses espaços existentes, por sua vez, deverá seguir procedi-
mentos seguros, com o controle de permanência e evitando-se aglo-
merações, nas ruas, parques e praças. A acessibilidade deverá contar
com a adequação do uso dos transportes públicos, assim como, o au-
mento no uso de bicicletas e do andar a pé. A permanência nestes es-
paços sem acarretar aglomerações, proporciona um ambiente saudá-
vel e seguro, a partir da adequação da capacidade suporte (em termos
de número máximo de frequentadores por períodos) nos protocolos
relacionados ao uso das áreas verdes e parques municipais durante e
até que se tenha um maior controle da pandemia da COVID-19.
Recomenda-se também que sejam estabelecidas para o planejamento
futuro no município condições para melhorar o Índice de Áreas Verdes
por Subprefeituras, uma vez que embora o índice geral do município
atinge atualmente de 16,59 m2/hab. considerando-se as UCs e as pra-
ças, há 16 Subprefeituras, que apresentam índices abaixo de 5,0 m2/hab.,
e também, outras subprefeituras periféricas que apresentam cobertura
vegetal com áreas públicas de grande porte, e parte delas instituídas como
unidades de conservação, apresentam índices muito acima dos recomen-
dados, mas, ainda com diculdades de acesso para o uso dessas unidades,
que não estão ao alcance das populações locais. Casos de Subprefeituras
de Parelheiros, Capela do Socorro, M’boi Mirim, Cidade Ademar no
extremo sul do município, bem como, Perus/Anhanguera, Freguesia/
Brasilândia, Pirituba/Jaraguá, Jaçanã/Tremembé e Santana/Tucuru-
vi ao norte do município. Para tal, recomenda-se o planejamento de
transportes públicos e programas de visitação organizados e programa-
dos para ampliar a visitação, dirigidos a diversas idades e públicos, con-
siderando-se as novas regras saúde pública e respectivos protocolos a
serem criados pelo município para enfrentar a pandemia da COVID-19.
Recomenda-se estudar uma regra que articule a ampliação desses in-
dicadores de áreas verdes, por meio da destinação de recursos do Fun-
durb (Fundo de Desenvolvimento Urbano) para aplicação nas Subpre-
feituras com menores índices de praças e parque, visando um equilíbrio
de forma geral no município e uma equidade de acesso a tais espaços.
Nas áreas periféricas é importante repensar a inclusão de pequenas
praças e áreas verdes mais próximas das casas, assim como, a quan-
tidade de árvores/bairro e seu distanciamento para obter espaços
saudáveis e inclusivos. Outras recomendações poderão ser colocadas
em prática como o uso dos vazios urbanos na escala do bairro com
espaços públicos e áreas verdes como alternativa de esporte, lazer e
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Revista LABVERDE. FAUUSP. São Paulo, v. 10, n. 01, e172291, 2020
cultura para as comunidades mais carentes. Também é recomendável
repensar as formas de concessão das quase 5 mil praças existentes na
cidade de São Paulo para dinamizar seu uso e conservação, aliando a
presença de áreas verdes e espaços de convívio público. A atual forma
de concessão parece pouco atrativa uma vez que menos de 10 % desse
total foi concedido nos moldes do Decreto 57.583 de 23 de janeiro de
2017 (SÃO PAULO, 2020b).
E por m, trazer como uso alternativo, os espaços comuns das escolas
públicas aos nais de semana, como local de lazer e convívio social da
comunidade, a exemplo dos já implantados CEUs - Centros de Educa-
ção Unicados, a partir de 2002, que compõem atualmente uma rede
com 46 unidades (SÃO PAULO, 2020c)
Portanto, além da equalizar a localização e a distribuição das áreas
verdes e espaços públicos, deve-se pensar em outros aspectos como
a legislação e a acessibilidade, para a devida integração destas áreas
com os locais de moradia da população.
Repensar novas medidas de segurança sanitária para o uso adequado
dos parques públicos da cidade de São Paulo durante e até o controle
da pandemia da COVID-19 é extremamente importante, visto que são
pontos importantes de concentração da população principalmente aos
nais de semana. Medidas como a exibilização do horário de funcio-
namento, com estabelecimento de horários alternativos que possam
reduzir as aglomerações, a promoção de pontos de desinfecção, a dis-
ponibilização de álcool gel e lavatórios para a correta higienização das
mãos, a capacitação dos funcionários dos parques para orientar a po-
pulação do uso dos espaços livres de forma segura e com baixo risco
de contágio, assim como, o cálculo de capacidade de suporte de cada
parque, são fundamentais para o uso seguro desses espaços.
Nos espaços públicos utilizados com o fechamento de vias para pe-
destres, como no caso da Avenida Paulista, também deverá se utilizar
os mesmos expedientes para evitar-se as aglomerações e a disponibi-
lização de lugares para higienização e locais para controle e orientação
da temperatura corporal.
Recomenda-se como uma base para a denição da capacidade de su-
porte para cada parque de São Paulo, uma distância de 1,5 metros en-
tre as pessoas, trazendo assim, um cálculo com base no distanciamen-
to e na área útil total do local (número de pessoas/área útil do parque).
A ampliação de áreas verdes disponíveis recoloca-se como medida ain-
da mais urgente nas metas municipais, promovendo a descentralização e
a equidade no uso dos parques urbanos são medidas importantes numa
situação pós-pandemia, onde a vazão ao uxo de acesso possa ser contro-
lada para não haver aglomerações e os ingressos possam ser distribuídos
antecipadamente e on-line de acordo com a capacidade de suporte dos
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Revista LABVERDE. FAUUSP. São Paulo, v. 10, n. 01, e172291, 2020
mesmos, como no caso do Jardim Zoológico e do Jardim Botânico.
Os deslocamentos na cidade durante e pós-pandemia para o aces-
so aos espaços públicos, praças e parques deverá ser recongurado,
e novas propostas deverão ser implantadas tais como, a abertura de
ruas para os pedestres nos nais de semana e o incentivo à criação
de ciclovias e novas rotas para os ciclistas de forma segura e inclusi-
va. Estas medidas já estão sendo implantadas em cidades nos países
europeus, onde a caminhada e o uso de bicicletas, além de evitarem
a aglomeração no transporte público, contribuíram com a saúde das
pessoas, reduzindo as comorbidades mais agravantes do coronavírus
– pressão alta, obesidade e diabetes, e melhorias na qualidade de vida
e na qualidade do ar com a redução dos poluentes atmosféricos.
Outras metas de mobilidade e deslocamento saudável poderão ser im-
plantadas, como a redução do número de carros durante o dia, com
horários alternativos de abertura do comércio e serviços, e estímulo
a pequenos deslocamentos a pé para serviços essenciais do dia a dia,
como mercados, farmácias, padarias, entre outros.
Em tempos de impactos socioeconômicos causados pela pandemia da
COVID-19, as medidas de conscientização da população a novos hábi-
tos e comportamentos nos espaços públicos, deverão ser arduamente
divulgados por meios digitais ou tradicionais, mostrando a devida im-
portância da seguridade; as medidas de comunicação visual e publici-
dade urbana previstas na Lei nº 14.223 - Cidade limpa.
cONclUSÃO
O enfrentamento da COVID-19 nos obriga a repensar: quais seriam as
estratégias viáveis frente às novas normas, modelos de urbanização e
políticas de convivências de uma vida em comum nas cidades.
Impactados pelo medo e incertezas de um futuro por vir, respostas
urgentes necessitam ser pensadas. Por outro lado, a crise provocada
pelo coronavírus é também uma oportunidade de reorientar a vida ur-
bana para a superação da carência de áreas verdes e de espaços públi-
cos que afeta as grandes cidades, a exemplo de São Paulo.
A reconexão do cidadão e as boas práticas comunitárias vêm demons-
trando a força nas relações de solidariedade durante a COVID-19 es-
palhadas nas comunidades por meio da auto organização social, como
vem ocorrendo na comunidade de Paraisópolis, na zona sudoeste de
São Paulo. Essas iniciativas abrem brechas para imaginarmos como as
relações afetivas entre a sociedade e a natureza podem ser recontex-
tualizadas, em um novo modelo de urbanização inclusivo e solidário.
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Revista LABVERDE. FAUUSP. São Paulo, v. 10, n. 01, e172291, 2020
A ética da comunidade do mundo globalizado, compreendida dentro da
lógica dos movimentos de fraternidade, estão sendo tecidos porque o
que está operando neste momento não é a lógica da sociedade, mas a
lógica do nós – a lógica da comunidade, do pertencimento ao coletivo.
Com base no caso da cidade de São Paulo, percebe-se a necessidade de
novas políticas públicas urbanas mais inclusivas que visem o reordena-
mento de uma nova lógica de organização econômica e social das cida-
des conforme apontado nas pesquisas realizadas até o momento. Tudo
indica que será necessário reconstruir as lógicas de funcionamento das
cidades atuais visando políticas e diretrizes para alcançarmos cidades
conviviais, seguras e sustentáveis que integrem: normas e valores com-
portamentais priorizando a reorganização dos espaços públicos e semi-
públicos integrados à infraestrutura verde, reforçando e dinamizando a
rede hídrica e ambiental proposta no Plano Diretor Estratégico de 2014.
Por tratar-se de um vírus ainda em estudo e sem disponibilização de
controle vacinal, esta trabalho elaborado durante a fase aguda da
pandemia da COVID-19 em articulação com a Pesquisa Emoções Mo-
mentâneas Comportamentos e Hábitos Cotidianos Pós-pandemia e
demais artigos cientícos analisados, objetiva também contribuir para
as diretrizes a serem elaboradas pelos gestores públicos na cidade de
São Paulo, com a intenção de subsidiar protocolos adequados para
reabertura e adaptações de uso de áreas públicas, que estimulem de
forma segura e gradual a retomada das atividades, e simultaneamente,
repensar a adequação dos espaços públicos com a inserção das áreas
verdes na ressignicação de um modelo urbano pós-pandemia.
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Revista LABVERDE. FAUUSP. São Paulo, v. 10, n. 01, e172291, 2020
Deize Sbarai Sanches Ximenes
Instituto Estudos Avançados - USP
deizesanches@usp.br | ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0935-912X
Gérsica Moraes Nogueira da Silva
Instituto Estudos Avançados - USP
gersicamns@usp.br | ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2043-5063
Ivan Carlos Maglio
Instituto Estudos Avançados - USP
ivmaglio@usp.br | ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2665-2424
Júlio Barboza Chiquetto
Instituto Estudos Avançados - USP
julio22@gmail.com | ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4013-7947
Luís Fernando Amato-Lourenco
Faculdade de Medicina/Instituto Estudos Avançados - USP
luisfamato@usp.br | ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4015-6654
Maria da Penha Vasconcellos
Faculdade de Saúde Pública/Instituto Estudos Avançados - USP
mpvascon@usp.br | ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2666-9485
Pedro Roberto Jacobi
Instituto de Energia e Ambiente/Instituto Estudos Avançados - USP
prjacobi@gmail.com | ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6143-3019
Sonia Maria Viggiani Coutinho
Instituto de Energia e Ambiente/Instituto Estudos Avançados - USP
scoutinho@usp.br | ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8525-2562
Vivian Aparecida Blaso Souza Soares César
Instituto de Energia e Ambiente/Instituto Estudos Avançados - USP
vivianblaso@usp.br | ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2348-3813
Juliana Colli Munhoz
Geógrafa, mestre em geograa e especiacialista em geoprocessamento.
Colaboração em cartograa digital
20
Revista LABVERDE. FAUUSP. São Paulo, v. 10, n. 01, e172291, 2020
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