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O USO DO TERRITÓRIO E O DESENVOLVIMENTO SUL-BRASILEIRO*
1
“Como o objetivo das Humanidades (geografia) não está na busca de resultados, mas no
encontro de um sentido para a ação, as Humanidades são relegadas a um segundo plano,
quando, mais do que antes, sua tarefa é essencial” (Milton Santos)
Zeno Soares Crocetti
Universidade Federal da Integração Latino-Americana
Instituto Latino-Americano de Tecnologia, Infraestrutura e Território
Foz do Iguaçu/Paraná/Brasil.
E-mail: geocrocetti@gmail.com
Resumo
O objetivo principal desta pesquisa é interpretar o uso do território na região Sul do Brasil, as
novas aglomerações produtivas concentradas e sua distribuição além das estruturas produtivas
reestruturadas. Hoje o Sul detém cinco cidades entre as 10 maiores aglomerações produtivas
concentradoras de serviços avançados: Porto Alegre (RS), Blumenau (SC), Curitiba (PR),
Florianópolis (SC) e Joinville (SC). Isto é, a região possui três de suas capitais entre as
principais cidades caracterizadas como aglomerações de serviços avançados.
Palavras-chave: uso do território, distribuição espacial, geografia econômica, economia
política, Sul do Brasil.
Resumen
El principal objetivo de esta investigación es interpretar el uso del territorio en la región sur
de Brasil, las nuevas aglomeraciones productivas concentradas y su distribución, además de
las estructuras productivas reestructuradas. Hoy el Sur tiene cinco ciudades entre las 10
mayores aglomeraciones productivas que concentran servicios avanzados. Porto Alegre (RS),
Blumenau (SC), Curitiba (PR), Florianópolis (SC) y Joinville (SC). Es decir, la región tiene
tres de sus capitales entre las principales ciudades caracterizadas por aglomeraciones de
servicios avanzados.
Palabras clave: uso del suelo, distribución espacial, geografía económica, economía política,
sur de Brasil.
1
Pesquisa apresentada no 4º Seminário de Geografia Econômica e Social (SENGES): “Mundo, Brasil e
Regiões: hoje e amanhã”, maio de 2019.
2
Introdução
A Região Sul, com quase 30 milhões de habitantes, representa 14% da população
nacional. A urbanização alcança 85% da população, nível semelhante ao do país. O Produto
Interno Bruto regional representa em média 16% do PIB brasileiro, e tanto a renda per capita
quanto o IDH está entre os mais elevados do Brasil ou são superiores à média do país.
A região representada pelos estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do
Sul, por seu contingente populacional e sua economia, tem se destacado no cenário brasileiro
desde o início do século XX.
No período, a região passou por uma evolução econômica semelhante, que se reflete
hoje em estruturas no setor produtivo, relativamente semelhantes entre si. De uma base
eminentemente agrícola, acompanhando o processo nacional, sobreveio a industrialização em
cada um dos estados. A economia da região foi fortemente atrelada à política nacional.
Figura 1 – Região Sul do Brasil
Fonte: Adaptado do Atlas do IBGE, 2018.
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Novas aglomerações produtivas concentradas
É nesse contexto que as teorias mais recentes em desenvolvimento regional
esforçam-se para incorporar modelos e abordagens que possam dar conta dos novos padrões
de produção baseados na automação integrada flexível e dos movimentos de abertura
comercial e desregulamentação econômica. Conforme formulou Fujita e Krugman (2004), as
economias regionais são mais abertas ao comércio do que as economias nacionais, assim
como a mobilidade dos fatores é maior entre as regiões do que entre as nações. Por isso, é
mais apropriado analisar a competição regional do que a competição nacional quando se
estuda ao nível regional. Analisando as razões das especializações econômicas e da
competitividade das cidades e das regiões, conforme apontado por Pontes e Salvador (2009),
esse é o escopo da “nova geografia econômica” (FUJITA; KRUGMAN, 2004).
A “nova geografia econômica” ressaltou os fatores não econômicos como algumas
das explicações para o melhor desempenho de algumas regiões e da distribuição das
atividades econômicas no espaço. Para além da abundância de mão de obra e da oferta de
inputs como determinantes das especializações produtivas, os recursos produtivos, a
tecnologia e as externalidades também são determinantes, assim como a história econômica e
outros fatores não econômicos.
Com o processo de globalização, as regiões tiveram suas estruturas produtivas
reestruturadas, fazendo emergir um conjunto de regiões com formas de organização próprias,
para produzir para o mercado regional e internacional. Nesse processo, estão incluídas as
regiões que têm incorporado o processo de globalização e transformado suas estruturas
produtivas a fim de responder às demandas criadas externamente (internacionalmente). Aqui
se podem destacar os incentivos para instalação de empresas multinacionais ou entrada de
capitais internacionais de várias formas diferentes.
Num contexto de globalização e internacionalização da economia, as regiões que
mais se beneficiam são geralmente aquelas onde se localizam as grandes cidades, apesar de
algumas cidades de médio porte com perfil de alta especialização também serem capazes de
competir nos mercados nacionais e internacionais. Como enfatiza Marques da Costa (2000),
essas cidades podem desempenhar funções ou especializações que lhes permitam afirmar-se
internacionalmente para se integrarem em uma rede lógica e para transformar seu espaço em
um espaço geográfico de fluxos. Esses fatos também são reforçados por Ribeiro, Silva e
Rodrigues (2011), que afirmam que as áreas metropolitanas podem ser consideradas
aglomerações urbanas que incorporam as características das novas funções de coordenação,
4
comando e direção das grandes cidades na emergente economia de rede com a globalização e
reestruturação produtiva.
Figura 2 – Dinamismo econômico da Região Sul em 2017
Fonte: Klein, 2017
No ano de 2005, 18 municípios estavam em estágio avançado, 17 em transição, 42
em baixo dinamismo e 1.111 municípios em estágio estagnado. Todos eles estão distribuídos
entre os três estados da Região Sul, como mostram as Figuras 2 e 3 e a Tabela 1.
Frente aos resultados da pesquisa expostos na Tabela 1, são descritos os municípios
com os maiores e os menores resultados do ano de 2005 e as variáveis com maior
contribuição nesse resultado, descrevendo o perfil desses municípios.
No ano de 2005, o município com o IDER (Índice de Desenvolvimento Econômico
Regional) mais alto foi Curitiba, seguido dos municípios gaúchos de Porto Alegre e Caxias do
Sul e do município catarinense de Joinville.
Os trabalhos de Klein (2014) e Eberhadt (2015) mostraram que a Região
Metropolitana de Curitiba e Microrregião de Curitiba apresentaram resultados superiores no
5
IDER em comparação às outras regiões do Sul do Brasil, sugerindo a importância do
município de Curitiba no desenvolvimento do seu entorno.
Representando mais de 80% do emprego formal e mais de 50% do PIB total no ano
de 2005, foram de grande relevância para o resultado do IDER.
Nos trabalhos mencionados, a região de Porto Alegre também se mostrou com um
desenvolvimento significativo e, segundo a dissertação de Klein (2017), obteve o segundo
melhor IDER da Região Sul no ano de 2005, de modo que, na dimensão social, os fatores de
maior contribuição ao resultado foram a alta taxa de urbanização desse município e o
percentual de domicílios com água encanada. Entretanto uma taxa de mortalidade maior do
que outros municípios e um alto valor de repasses do Bolsa Família por habitante (ao se
comparar com Curitiba, por exemplo) fizeram com que Porto Alegre não obtivesse um
resultado maior em relação a esse índice. No âmbito econômico, o setor terciário teve uma
grande importância nesse resultado, por abordar a maior parte dos empregos formais e no
valor adicionado ao PIB. Além disso, teve um alto valor do PIB per capita, inclusive maior
do que o município de Curitiba.
Tabela 1
Índice de Desenvolvimento Econômico Regional dos municípios da Região Sul de 2005/15
Estágio
Municípios
PR
SC
RS
Anos
2005
2015
2005
2015
2005
2015
2005
2015
Avançado
18
19
8
8
5
4
5
7
Em transição
17
13
5
3
4
3
7
7
Baixo
dinamismo
42
54
13
23
11
10
19
21
Estagnado
1.111
1.102
373
365
273
276
465
461
Total
1.188
1.188
399
399
293
293
496
496
Fonte: Klein, 2017.
No estado de Santa Catarina, o município de Joinville obteve o maior IDER no ano
de 2005, ficando com a quarta colocação geral no índice na região analisada. Os fatores de
contribuição para esse resultado foram a taxa de urbanização de quase 100%, uma quantia
significativa de domicílios com água encanada e um menor valor de gastos do bolsa família
por habitante (menos de R$ 20,00). No âmbito econômico, esse município apresentou um
perfil diferente de Curitiba e Porto Alegre e mais semelhante a Caxias do Sul, uma vez que os
setores secundário e terciário apresentaram uma grande contribuição no percentual de
empregos formais (47% e 52%, respectivamente).
6
Figura 3 – Índice de Desenvolvimento Econômico Regional dos municípios da Região Sul do
Brasil (2005-2015)
Fonte: Klein, 2017.
Influência e controle externo – as travas do desenvolvimento
O Sul do Brasil, desde a implantação da República no final do século XIX, sempre
foi monitorado e induzido a uma atividade econômica complementar e subalterna aos
desígnios da elite dirigente paulista. Essa é a diferença fundamental entre o seu efeito
completivo e o multiplicador do keynesianismo convencional.
A qualidade completiva do investimento é polarizadora de atividades econômicas e, como tal,
desenvolve freios em relação ao processo de crescimento, que podemos chamar de
deseconomias externas. A propagação a que Keynes se refere não é homogênea e constante,
mas tem ganhos decrescentes de acordo com o grau de maturação e o saldo entre economias e
deseconomias que promove em cada região e a cada etapa. A programação econômica em
uma realidade complexa desse tipo, para o aproveitamento simultâneo de todas as
possibilidades desenvolvimentistas, envolve um alto nível de recursos financeiros e
capacidade decisória, ambos escassos nos países subdesenvolvidos.
O elemento mais restritivo do desenvolvimento tardio não é a escassez de recursos
para investimento, mas a falta de capacidade organizativa para decifrar as sequências
eficientes e elaborar projetos financiáveis que promovam a indução necessária.
7
Aglomerações de serviços avançados
Apesar dessa concentração metropolitana de novos setores, cidades de médio porte
se destacaram em relação à especialização em setores industriais de alta e média tecnologia
em serviços intensivos em conhecimento. Um segundo ponto a ser destacado são as regiões
que concentram o capital essencialmente nacional/regional. Aqui, há a transformação das
regiões produtivas: algumas se especializam em serviços intensivos em conhecimento e
indústrias de alta tecnologia (com um maior volume de capital concentrado nessas regiões,
normalmente nas áreas metropolitanas); outras se especializam em setores menos intensivos
em conhecimento e baixa tecnologia (baixa concentração de capital, geralmente nas regiões
mais periféricas).
Tabela 2 – Principais aglomerações produtivas de serviços avançados – posição ocupada
segundo as Unidades da Federação
Fonte: IBGE, 2013.
8
Tabela 3 – Valor bruto da produção regional (2002-2016)
Ano
Valor
Valor
Valor
Valor
Valor
Valor Total
Região
Sul
Sudeste
Nordeste
Centro-Oeste
Norte
Brasil
2002
461.523
1.525.402
331.268
212.256
119.113
2.649.562
%
17,4
57,6
12,5
8,0
4,5
100
2005
699.581
2.284.489
481.165
325.578
191.510
3.982.323
%
17,6
57,4
12,1
8,1
4,8
100
2010
1.116.812
3.731.798
834.063
579.348
337.128
6.599.149
%
16,9
56,6
12,7
8,8
5,0
100
2015
1.811.306
5.509.912
1.371.386
1.004.153
530.112
10.226.869
2016
1.876.001
5.622.132
1.425.566
1.077.495
540.873
10.542.067
%
17,8
53,3
13,5
10,2
5,2
100
Fonte: IBGE, Contas regionais do Brasil 2017. Elaboração de Crocetti, 2019.
Esses padrões representam novas geografias de atividades econômicas que estão
fortemente relacionados ao processo de metropolização e ao reforço das regiões urbanas
funcionais. Esse dinamismo pode ser comprovado conforme valores demonstrados nas
Tabelas 4 e 5 a seguir.
No entanto, por trás dessas novas tendências que refletem a globalização e a alta
integração dessas regiões em redes globais, algumas mantêm a sua dependência em setores
tecnológicos mais baixos, como a produção primária, os setores das indústrias intensivas em
trabalho na lógica fordista, atividades terciárias não especializadas, como o comércio,
transporte e serviços e também os serviços públicos, representando “velhas Geografias”, uma
vez que representam as estruturas setoriais e organizacionais tradicionais. Novas e velhas
geografias estão coexistindo juntas em grande parte comandada pelo processo de urbanização
do Brasil.
Tabela 4 – Valor bruto da produção da Região Sul (2002-2016)
Ano
Valor Total
Ano
Valor Total
Ano
Valor Total
Paraná
Santa Catarina
Rio Grande do Sul
2002
171.431
2002
99.401
2002
190.691
2003
211.941
2003
123.167
2003
233.779
2004
246.115
2004
145.926
2004
263.908
2005
262.791
2005
159.539
2005
277.250
2006
276.051
2006
170.879
2006
291.746
2007
322.300
2007
192.989
2007
333.842
2008
376.051
2008
222.066
2008
391.751
2009
376.096
2009
227.570
2009
391.843
2010
417.763
2010
258.803
2010
440.246
2011
482.763
2011
289.512
2011
493.138
2012
542.940
2012
323.645
2012
536.121
2013
614.535
2013
357.754
2013
624.970
2014
654.116
2014
405.809
2014
665.170
2015
694.838
2015
419.278
2015
697.191
2016
719.977
2016
434.176
2016
721.848
9
%
99,7
60,1
100,0
Fonte: IBGE, Contas regionais do Brasil 2017. Elaboração de Crocetti, 2019
A Região Sul também se destaca com cinco cidades entre as 10 maiores
aglomerações produtivas concentradoras de serviços avançados: Porto Alegre (RS),
Blumenau (SC), Curitiba (PR), Florianópolis (SC) e Joinville (SC). Isto é, a região possui três
de suas capitais entre as principais cidades caracterizadas como aglomerações de serviços
avançados, conforme demonstra a Tabela 2.
A dinâmica das cooperativas na Região Sul
De acordo com dados publicados pela OCB, existiam na Região Sul, ao final de
2017, 910 cooperativas singulares, constituídas por seis milhões de associados, caracterizando
55% dos cooperados brasileiros, conforme indicam os números da Tabela 5.
Tabela 5 – Evolução das cooperativas na Região Sul do Brasil
INDICADOR
Estado
Primeira
2010
2017
Cooperativas
PR
1829
246
221
Faturamento
X
R$ 28 bilhões
R$ 70 bilhões
Cooperativas
SC
1841
256
263
Faturamento
X
11,3
R$ 33,2
bilhões
Cooperativas
RS
1902
756
426
Faturamento
X
18,5
43 bilhões
Brasil/2017
Coop
7026
Faturamento
330
bilhões
Fonte: COAMO, 2011 e OCEPAR; OCESC; OCERGS; OCB, 2018. Elaboração de Crocetti, 2019.
Figura 4 – Exportações das cooperativas em 2017
Fonte: Exportações Diretas – MDIC, 2017 (valores em US$ FOB)
10
Figura 5 – Parceiros das exportações das cooperativas do Brasil em 2017
Fonte: Exportações Diretas - MDIC, 2017 (valores em US$ FOB)
Os dados das Figuras 4 e 5 demonstram a importância do agronegócio das
cooperativas brasileiras, e a importância dos valores no PIB dos estados do Sul, como o
Paraná.
Figura 6
Distribuição das microrregiões de acordo a produção de leite, por área na Região Sul em 2017
Fonte: Embrapa, Anuário do leite 2019.
11
Região Sul torna-se referência para o leite brasileiro
O Sul do Brasil vem ocupando o primeiro lugar no ranking de produção de leite do
país desde 2014, segundo dados do- IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em 2017, foi responsável por 36% da produção nacional, contra 34% da Região Sudeste. Dos
quatro maiores estados produtores, Minas Gerais permanece líder, e os três estados do sul
vêm na sequência: pela ordem, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Esse aumento da produção foi puxado pelo crescimento da produtividade animal, que
aumentou 23% entre 2013 e 2017. Já o número de vacas ordenhadas caiu 14% no mesmo
período. Dos 100 municípios com maior produtividade no Brasil, 79 são também da Região
Sul do país. Mas onde está a produção de leite no Sul? No oeste dessa região, principalmente,
que está se configurando como a maior bacia de leite brasileira, pois produz um quarto de
todo o leite nacional.
Tabela 6 – Produção de leite – Região Sul (1996/2017)
Região Sul
Produção de leite (milhões de litros)
1996
2006
2016
2017
1996/2017
Paraná
1515
2704
4730
4626
205%
Santa Catarina
866
1710
3114
2980
244%
Rio Grande do Sul
1861
2625
4614
4552
145%
Embrapa, Anuário do leite 2018 e 2019.
Tabela 7 – Produção de leite por região (1996/2017)
Regiões
Produção de leite (milhões de litros)
1996
2006
2016
2017
%
1996/2017
Brasil
18515
25398
33625
33491
100
81%
Sul
4242
7039
12458
12158
36,3
187%
Sudeste
8338
9740
11546
11449
34,2
37,3%
Centro Oeste
2810
3722
3972
3989
12,0
42%
Nordeste
2355
3198
3772
3896
11,6
65,5%
Norte
771
1699
1876
2187
5,9
184%
Fonte: Embrapa, Anuário do Leite 2018 e 2019.
Com média estimada de 3.049 litros/vaca/ano, a Região Sul puxa a produtividade na
pecuária leiteira do país, com quase o dobro da média nacional, segundo o IBGE em 2017.
Desde muito tempo, Minas Gerais é o principal estado produtor de leite no Brasil. Respondeu
em 2017 por 8,9 bilhões de litros, ou seja, 25,5% de um volume total do país de 34,9 bilhões
de litros. Sua produção tem como base um rebanho de 5,8 milhões de vacas, 223 mil
produtores e 771 laticínios espalhados por diferentes regiões.
12
Ocorreu desde 2003 um crescimento de produtividade e um aumento na oferta de
leite e seus derivados, sendo que a Região Sul foi o destaque no período (1996/2017 – 187%),
mas com o crescente desenvolvimento do Nordeste brasileiro, essa região teve o crescimento
excepcional (1996/2017 – 65,5%), só perdendo pelo avanço e desenvolvimento do setor de
leite e seus derivados na Região Norte (1996/2017 - 184%), conforme vemos na Tabela 7.
Cooperativismo e o leite
O cooperativismo responde por um quarto do leite produzido no país, ou 16,5
milhões de litros por dia. Essa participação oscilou entre 25,0% e 26,8% entre os anos de
2010 e 2015. As regiões Sul e Sudeste destacam-se na captação, com volume acima de 7
milhões de litros por dia no ano de 2015. No entanto, a participação do cooperativismo, no
total captado pela região, é superior no Sul (30,2%) em comparação ao Sudeste (27,0%).
Vários fatores ajudam a explicar o sucesso da produção de leite na Região Sul e todos eles
passam pela boa gestão, desde a administração dos recursos da propriedade até a organização
do setor como um todo.
Figura 7 – Número de agricultores familiares beneficiados por região e orçamento alocado e
executado pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
*Orçamento executado e beneficiários em 2017 é uma projeção anual baseada na tendência de gasto até junho de
2017.
Fonte: SIGA Brasil e PAA 2019.
13
O município de Castro-PR, por exemplo, recebeu o título de Capital Nacional do
Leite, conferido por lei federal, em dezembro de 2017. Esse foi um reconhecimento
importante ao trabalho desenvolvido pelos produtores de uma região que sempre se destacou
pela alta qualidade do sua matéria-prima.
Para garantir essa qualidade, não são poupados investimentos em tecnologia, além de
se ter controle sanitário rigoroso, boa gestão financeira e melhoramento contínuo do rebanho.
O cooperativismo também pode ser considerado um dos fatores de sucesso da
atividade leiteira. Cultivando princípios como a valorização do produtor e de sua família, bem
como da região em que atuam, as cooperativas têm papel importante, principalmente para a
produção familiar, muito presente nessa região.
Economia catarinense 2018
O Índice de Desempenho da Economia das regiões de Santa Catarina registrado pelo
(IPER-SC), novo índice apurado pela Federação das Associações Empresariais (FACISC),
aponta que o estado cresceu 7,12% em 2018. E a estimativa da entidade para o PIB
catarinense é de alta de 3,2% para 2019, mostrando que a economia catarinense foi uma das
primeiras do país a voltar ao ritmo de atividade de 2014, de antes da recessão. Os dados foram
divulgados pelo presidente da federação, Jonny Zulauf, e pelo economista da entidade,
Leonardo Alonso Rodrigues.
Das 12 regiões de SC incluídas na pesquisa, as que mais puxaram a alta em relação a
2017 foram o Vale do Itajaí, com 10,18%, e Norte, com 8,23%. As únicas quedas foram
registradas no Alto Vale do Itajaí (-1,18%), Planalto Norte (-1,09%) e Oeste (-0,21%).
Também cresceram as regiões Noroeste (2,83%), Extremo Oeste (1,55%), Extremo Sul
(1,50%), Grande Florianópolis (1,36%), Serra (1,01%), Meio Oeste (0,86%) e Sul (0,64%).
Economia paranaense 2018
A quebra de safra fez o PIB do Paraná recuar 0,6% em 2018. Essa retração da
economia do estado contrasta com crescimento do país, que, segundo o IBGE, foi de 1,1%.
Na contramão do Brasil, que, segundo o IBGE, cresceu 1,1% em 2018, a economia
paranaense teve um recuo de 0,6%, puxado pelo agronegócio, cujo valor agregado encolheu
3,8% e os serviços (-0,35%). A indústria ficou estável (0,05%). Os dados estaduais são do
IPARDES (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social). O IBGE só
divulga informações regionais do PIB com dois anos de atraso. Assim, não há como comparar
o desempenho do Paraná com os demais estados.
14
No Brasil, a agropecuária cresceu 0,1%, a indústria (0,6%) e os serviços (1,3%). Em
valores absolutos, o PIB brasileiro de 2018 atingiu R$ 6,8 trilhões e o paranaense, R$ 438
bilhões (6,4%). No Paraná, a agropecuária respondeu por 8,55% do montante, a indústria por
22,7% e os serviços, acrescidos do comércio, foram responsáveis por 55,55%.
Economia gaúcha 2018
O Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul cresceu 1,2% em 2018 em
relação a 2017, fechando em R$ 445 bilhões. Os dados foram divulgados em 26 de abril de
2019 pelo governo do Rio Grande do Sul e foram estimados pela Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (FIPE). O desempenho da economia do Brasil em 2019 também foi de
1,1%.
O melhor desempenho gaúcho em 2018 foi do setor do comércio, com crescimento
de 5,6%. O pior resultado foi da agropecuária, com queda de 4,2%.
A construção civil e a indústria também tiveram alta (5,2% e 5%, respectivamente).
Já outro setor com queda foi o de serviços, de 1%.
Considerações finais
Considerando os objetivos deste trabalho, que foi o de analisar o estágio de
desenvolvimento econômico da Região Sul do Brasil, com ênfase em alguns municípios,
foram obtidos resultados satisfatórios. É possível concluir que o processo de reestruturação no
sul do Brasil está relacionado com o crescimento dos setores tecnológicos e de conhecimento,
concentrados principalmente nas áreas metropolitanas e em seus polos urbanos vizinhos,
configurando um processo de metropolização.
Apesar dessa concentração metropolitana de novos setores, cidades de médio porte
se destacaram em relação à especialização em setores indústrias de altas e médias tecnologias
em serviços intensivos em conhecimento. Um segundo ponto a ser destacado são as regiões
que concentram o capital essencialmente nacional/regional. Aqui, há a transformação das
regiões produtivas, em que algumas se especializam em serviços intensivos em conhecimento
e indústrias de alta tecnologia (com um maior volume de capital concentrado nessas regiões,
normalmente nas áreas metropolitanas) e outros se especializam em setores menos intensivos
em conhecimento e baixa tecnologia (baixa concentração de capital, geralmente nas regiões
mais periféricas).
Os resultados obtidos aqui apontam para o mesmo sentido de outras pesquisas já
realizadas, que em suas interpretações aplicaram outro método de análise, no qual assumiam
maiores indicadores nas mesmas concentrações espaciais, como é o caso da Região
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Metropolitana de Curitiba, Norte Central e Oeste Paranaense, além do Litoral Catarinense e a
Região Metropolitana de Porto Alegre. Além disso, foram identificados os menores valores
do Índice nas mesmas concentrações espaciais.
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