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A Criança Imaginária no Contexto de Espera pela Adoção

Authors:

Abstract

O período anterior à chegada da criança na família adotiva é permeado por expectativas, incluindo o imaginário sobre a criança. O presente estudo investigou as representações maternas sobre a criança imaginária no contexto de espera pela adoção. Trata-se de um estudo de casos múltiplos em que participaram quatro mulheres que esperavam na fila de adoção. Os dados foram analisados através da Análise Temática e organizados a partir de três temas definidos previamente: (a) imaginário sobre características físicas; (b) imaginário sobre as características emocionais; e (c) imaginário sobre a relação mãe-criança. Observou-se que no primeiro tema surgiram questões raciais, enquanto no segundo tópico as participantes falaram sobre a representação de uma criança sofrida e/ou idealizada, sendo essa última baseada na apresentação de um comportamento calmo. Na relação com a criança, as participantes abordaram a necessidade de adaptação frente ao tornar-se mãe por adoção, apesar disso, suas perspectivas apontavam para interações positivas. Reconhecer a espera pela adoção como parte da transição para parentalidade faz-se primordial para saúde emocional dessas famílias. Este estudo contribui empiricamente para uma maior compreensão sobre as representações maternas da criança imaginária no contexto da filiação adotiva.
Contextos Clínicos, v. 13, n. 2, mai./ago. 2020
ISSN 1983-3482
doi: 10.4013/ctc.2020.132.05
* Correspondência para: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Rua Ramiro Barcelos, 2600 - Sala 212 - Instituto
de Psicologia da UFRGS CEP 90035-003. E-mail: moniqueschwochow@gmail.com
A Criança Imaginária no Contexto de Espera pela Adoção
The Imaginary Child in the Context of Waiting for Adoption
Monique Souza Schwochow* / Maíra Lopes Almeida / Giana Bitencourt Frizzo
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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Resumo: O período anterior à chegada da criança na família adotiva é permeado por
expectativas, incluindo o imaginário sobre a criança. O presente estudo investigou as
representações maternas sobre a criança imaginária no contexto de espera pela
adoção. Trata-se de um estudo de casos múltiplos em que participaram quatro
mulheres que esperavam na fila de adoção. Os dados foram analisados através da
Análise Temática e organizados a partir de três temas definidos previamente: (a)
imaginário sobre características físicas; (b) imaginário sobre as características
emocionais; e (c) imaginário sobre a relação mãe-criança. Observou-se que no primeiro
tema surgiram questões raciais, enquanto no segundo tópico as participantes falaram
sobre a representação de uma criança sofrida e/ou idealizada, sendo essa última
baseada na apresentação de um comportamento calmo. Na relação com a criança, as
participantes abordaram a necessidade de adaptação frente ao tornar-se mãe por
adoção, apesar disso, suas perspectivas apontavam para interações positivas.
Reconhecer a espera pela adoção como parte da transição para parentalidade faz-se
primordial para saúde emocional dessas famílias. Este estudo contribui
empiricamente para uma maior compreensão sobre as representações maternas da
criança imaginária no contexto da filiação adotiva.
Palavras-chave: criança imaginária, adoção, pretendentes à adoção.
Abstract: The period prior to the arrival of the child in the adoptive family is
permeated by expectations, including the imaginary about the child. The present
study investigated the maternal representations about the imaginary child in the
context of waiting for adoption. This is multiple case studies involving four women
who were waiting in line for adoption. The data were analyzed through the Thematic
Analysis and organized from three previously defined themes: (a) imaginary about
physical characteristics (b) imaginary about emotional characteristics and (c)
imaginary about the mother-child relationship. It was observed that in the first theme
racial issues arose, while in the second it oscillated between the representation of a
child suffered and/or idealized as calm. In the relationship with the child, the
participants approached the need for adaptation to becoming an adoptive mother,
despite this, their perspectives point to positive interactions. Recognizing the waiting
period to adopt as part of the transition to parenting is essential for the emotional
health of these families. This study empirically contributes to a better understanding
of maternal representations of the imaginary child in this context of adoptive filiation.
Keywords: imaginary child, adoption, adoption applicants.
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Introdução
No Brasil, dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA) apontam que 42.795
pretendentes estão disponíveis para adoção de crianças e de adolescentes (CNA, 2020a).
Dentre esses, 6.296 (14.71%) esperam por crianças de até 2 anos, 6776 (15.81%) aguardam
a adoção de crianças de até 5 anos e 4.576 (10.69%) esperam adotar crianças de até 6 anos
de idade. Mais especificamente no Rio Grande do Sul, 5.146 (12.02%) pessoas estão
habilitadas e disponíveis para a adoção. Esses números expressivos demarcam, em
nossa sociedade, o aumento na formação de famílias através da adoção.
Algumas etapas fazem parte da transição para esta via de tornar-se família. Neste
país, após a decisão pela adoção, as pessoas devem seguir alguns passos dentro dos
trâmites jurídicos para conseguirem a habilitação para adoção. O preenchimento de
formulários, bem como encontros com os técnicos do judiciário - psicólogos e assistentes
sociais - fazem parte do caminho trilhado por aqueles que desejam conseguir a sentença
de habilitação à adoção (CNA, 2020b). Durante este processo, ocorre o despertar para os
aspectos emocionais do exercício da parentalidade através da adoção. O lugar reservado
para a criança no psiquismo parental ganha um espaço importante, especialmente por
sua capacidade de fornecer indícios da futura interação entre os membros da família
(Morelli, Scorsolini-Comin, & Santeiro, 2015; Moyer & Goldberg, 2015; Palacios, Rolock,
Selwyn, & Barbosa-Ducharne, 2019).
Entre os estudos com famílias à espera pela adoção, percebe-se que é comum que
os futuros pais identifiquem o período anterior à chegada da criança como uma gestação
psicológica (Schwochow & Frizzo, no prelo), gestação emocional (Schettini, Amazonas,
& Dias, 2006), gestação adotiva (Huber & Siqueira, 2010), ou, ainda, gestação sem barriga
(Mahl & Jaeger, 2011). De fato, assim como sugerem Cecílio e Scorsolini-Comin (2016),
é importante que se vivencie o processo de gestar um novo papel, relacionado à função
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parental. É através dele que se torna possível para os futuros pais por adoção sonhar,
imaginar e refletir sobre o exercício parental (Morelli et al., 2015).
O imaginário que os pais têm em relação ao filho esperado foi abordado por
diversos autores e possui importante papel no relacionamento futuro que os pais
estabelecerão com a criança (Brazelton & Cramer, 1992; Lebovici, 1987). Segundo
Lebovici (1995), existem três bebês na mente materna: (a) o bebê edípico que é produto
da história edípica materna; (b) o bebê imaginário que resulta do desejo de maternidade
e, sobre o qual, a mãe desenvolverá devaneios em nível pré-consciente e; (c) o bebê real
que a e segurará em seus braços no dia do nascimento. Dessa forma, o conceito de
be imaginário, conforme proposto por Lebovici (1987; 1995), trata-se de uma
construção progressiva que se inicia ainda na gestação, se constitui pelos desejos de
maternidade e de ter um filho e é expresso por meio da atribuição parental de
características ao filho, tais como sexo, aparência e personalidade.
Assim, o filho esperado é antecipado e passa a fazer parte das referências verbais
dos pais. Por meio da identificação com ele é que os pais poderão imaginá-lo, senti-lo,
compreendê-lo e conceder a ele as mais diversas características. Essa criança imaginária
é construída a partir do desejo de maternidade e suas fantasias, da situação real da mãe
e de um trabalho de representação ativo semelhante aos devaneios diurnos. Nesse
sentido, a criança imaginária é fonte de completude e de ansiedade ao mesmo tempo.
As fantasias, impressões e sentimentos parentais em relação à criança permitirão que,
no encontro com ela, seja possível interpretar e significar seus comportamentos. No
entanto, a criança real, fruto do nascimento ou da adoção, confronta essa criança criada
no imaginário e transforma as representações parentais (Lebovici, 1987).
Os pensamentos conscientes ou as fantasias inconscientes podem representar
obstáculos entre pais e filhos adotivos. A criação de um “espaço para o imprevisível” -
como destacam Ferrari, Piccinini e Lopes (2007) - a respeito da idealização do bebê
imaginário por gestantes, pode ser de grande relevância no processo de transição para
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a maternidade por adoção também. Pais adotivos, assim como pais biológicos, criam
uma criança imaginária - que representa seu ideal de filho -, e faz parte de um processo
sadio que estes pais gradualmente afastem-se dessa imagem, abrindo, assim, espaço
para perceberem a realidade da criança que vão encontrar (Levy & Féres-Carneiro, 2001;
Palacios et al., 2019).
Assim como fez Lebovici (1987) no cenário internacional, Fleck e Piccinini (2013)
reconheceram a importância das representações sobre a criança imaginária e a
adaptação à criança real para o processo de vinculação pais-filhos. Ambos os escritos
são fundamentais para reflexão sobre este fenômeno, visto que Lebovici (1987) apresenta
sua teoria sobre imaginário parental e Fleck e Piccinini (2013) realizaram uma
investigação a partir dessa teoria no contexto nacional das famílias com crianças
prematuras. Esse último estudo investigou longitudinalmente essas representações
relacionadas a bebês prematuros. Foi possível identificar que a situação da
prematuridade dificultou e interrompeu a construção da criança imaginária pelas mães,
de forma que o confronto com a criança real foi vivido ainda mais intensamente por elas.
Destacou-se o papel imprescindível que os conteúdos pré-conscientes e inconscientes
exercem na constituição dos vínculos maternos com a criança.
Diante disso, é necessária a acomodação das expectativas sobre a criança
imaginária em relação à criança real (Moyer & Goldberg, 2015). O estudo de Palacios et
al. (2019) sugere que pais seguros em relação a seus papéis parentais, bem como realistas
em relação às suas expectativas sobre o comportamento e o desenvolvimento de seus
filhos, conseguem, mais facilmente, atender às necessidades de seus filhos, provendo,
assim, um senso básico de segurança para eles. Para tanto, a fim de investigar a criança
imaginária no contexto da adoção, selecionou-se, a partir da obra de Lebovici (1987) e
de Fleck e Piccinini (2013), o imaginário materno relativo às características físicas,
emocionais e da relação mãe-criança.
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Sobre o imaginário das características físicas, dados do Cadastro Nacional de
Adoção (CNA, 2020c) indicam que, dos 11.573 pretendentes disponíveis à adoção na
Região Sul do Brasil, 97.2% aceitam crianças brancas, 74.61% aceitam crianças da raça
parda, 55.28% aceitam crianças da raça amarela, 49.31% aceitam crianças negras e 48.42%
aceitam crianças da raça indígena. A necessidade de escolher a raça das crianças pode
interferir na decisão de adoção dos futuros pais à medida que se estabelecem fronteiras
étnicas (Giacomozzi, Nicoletti, & Godinho 2015; Ishizawa & Kubo, 2013). Levando em
conta que homens e mulheres brancos são os que mais buscam a adoção no Brasil
(Weber, 2003), pode-se inferir que estes futuros pais demonstram certa dificuldade em
relação à adoção interracial. De acordo com Ishizawa e Kubo (2013), isso pode ocorrer
devido ao receio destes de não serem percebidos como uma família “normal”, apesar da
miscigenação racial do país. Esses autores observam, ainda, que alguns futuros pais por
adoção têm se mostrado mais flexíveis em relação à idade da criança adotada, porém
não desejam atravessar a linha de raça/etnia.
Ainda, dados do CNA (2020d) de nível nacional indicam que dos 42.795
pretendentes à adoção, 60.7% aceitam somente criança sem doenças, enquanto 6.26%
aceitam crianças com deficiências físicas e apenas 5.09% aceitam crianças com HIV. Em
concordância com os dados do CNA, investigações anteriores no Brasil também
encontraram que os pais esperavam crianças com a menor idade possível e semelhante
fisicamente a eles (Mahl, Jaeger, Patias, & Dias, 2011; Weber, 2003). Esses aspectos fazem
pensar sobre o desejo dos pretendentes à adoção de reproduzirem uma família biológica
e sobre os aspectos narcísicos de representações de si mesmo (Levinzon, 2020; Weber,
2003).
O imaginário sobre as características emocionais, geralmente, perpassa pelo
histórico da criança adotada. Comumente, as crianças que esperam pela adoção
experimentaram múltiplas separações, perdas e traumas que, combinados, podem
dificultar a chegada à família adotiva. Cuidar de uma criança que foi retirada da família
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biológica por maus tratos ou por negligência exige preparo dos futuros pais por adoção.
Apesar de complexo, o processo de encarar a história da criança, quase sempre dolorosa,
é necessário para o sucesso da família em ajudar esta criança (Brodzinsky & Smith, 2019).
Segundo Winnicott (1997), o fato de a criança ter sofrido cuidados inadequados
antes da adoção resulta no recebimento de uma criança que já chega à família com um
problema psicologicamente complexo. Este mesmo autor defende a ideia de que os pais
por adoção precisam ser, também, terapeutas de seus filhos, enquanto desfrutam da
situação de criar uma criança. O sucesso nesta tarefa auxilia esses pais a sentirem-se
satisfeitos diante de suas dificuldades anteriores frente à parentalidade.
A respeito do imaginário sobre a relação mãe-criança, sabe-se que a idealização
da criança e da relação com ela pode, por vezes, desencadear sentimentos ambivalentes
e ansiogênicos (Huber & Siqueira, 2010). Segundo Santos et al. (2011), as principais
dificuldades apontadas por pais adotantes referem-se à construção do vínculo e ao início
dessa relação, em especial no que concerne à adaptação e à educação da criança. Por
conseguinte, identificou-se também que a adaptação é fortemente influenciada pelas
expectativas parentais prévias à adoção (Luz, Gelain, & Amaral, 2014).
Nesse sentido, é fundamental investigar o imaginário presente na adoção,
especialmente porque pesquisas têm apontado para a relação entre saúde mental
parental e desenvolvimento da criança. Um estudo com amostra espanhola avaliou o
funcionamento reflexivo de pais e mães adotivos, isto é, a capacidade de refletir sobre o
papel parental e as interações cuidador-criança. Os resultados demonstraram que a
maneira como os pais e as mães comportam-se com os filhos adotivos é fortemente
influenciada por seus pensamentos e sentimentos a respeito deles (León, Steele, Palacios,
Román, & Moreno, 2018). Outras investigações observaram que sintomas depressivos
em pais e mães adotivos estavam associados a sintomas internalizantes e externalizantes
das crianças (Hails et al., 2019; Liskola, Raaska, Lapinleimu, & Elovainio, 2018). Além
disso, estudos identificaram que variáveis parentais, como qualidade das relações
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familiares e estilo parental, são fatores protetores para a saúde mental de adultos que
foram adotados na infância (Balenzano, Coppola, Cassibba, & Moro, 2018; Melero &
Sánchez-Sandoval, 2017). Ressalta-se, assim, a necessidade de investigações sobre o
período pré-adoção, na medida em que a maioria dos estudos a situam enquanto um
processo estático. No entanto, trata-se de um processo contínuo, especialmente se
considerado o caráter dinâmico das relações familiares (Sellers, Battalen, Fiorenzo,
McRoy, & Grotevant, 2019).
Estudos anteriores sobre o imaginário materno identificaram, na escolha pela
filiação adotiva, desejos de evitar a solidão, completar algo que falta, suporte para o
sofrimento da infertilidade, dar continuidade ao relacionamento conjugal, altruísmo,
completar a família e/ou sentir o que é verdadeiramente ser mãe (Costa & Rossetti-
Ferreira, 2007; Luz et al., 2014; Mahl et al., 2011; Maux & Dutra, 2009 ; Sonego & Lopes,
2009). Nesse sentido, a motivação para a adoção, segundo revisão integrativa da
literatura nacional, tornou-se foco de muitos estudos nos últimos anos (Morelli et al.,
2015). No entanto, as representações maternas inconscientes sobre o filho não foram
ainda abordadas, mesmo sendo um dos principais entraves para o relacionamento
futuro mãe-criança (Morelli et al., 2015; Moyer & Goldberg, 2015; Palacios et al., 2019).
Para tanto, o objetivo geral do presente artigo é investigar as representações maternas
sobre a criança imaginária no contexto de espera pela adoção.
Método
Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo com delineamento de estudo de
casos múltiplos, conforme Yin (2015). A partir dessa estratégia, deriva-se uma síntese de
casos cruzados, através da qual cada caso foi comparado inicialmente ao seu mesmo
grupo (futuras mães em espera por um bebê de 0 até 2 anos e futuras mães em espera
por uma criança de 0 até 5/6 anos de idade) e posteriormente ao outro grupo. Essa
técnica foi utilizada a fim de investigar as representações maternas sobre a criança
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imaginária no contexto de espera pela adoção. Este estudo segue as recomendações de
Creswell (2014) sobre estudos de caso, incluindo 4 casos.
Participantes
Participaram deste estudo quatro mulheres que estavam, na ocasião da entrevista,
aguardando entre 3 meses e 2 anos e 11 meses na fila de espera pela adoção no Cadastro
Nacional de Adoção na comarca de Porto Alegre (Rio Grande do Sul). Elas tinham
idades entre 33 e 51 anos, eram casadas, não tinham filhos, duas referiram ter pós-
graduação e duas mencionaram ter ensino superior completo. Todas as participantes
definiram-se como heterossexuais. Além disso, todas estavam em um processo de
adoção de acordo com as leis brasileiras e desejavam uma adoção nacional. Destaca-se
que a Participante 1 era filha adotiva.
Sobre o perfil da criança, duas mulheres esperavam por um bebê de 0 até 2 anos
e duas esperavam por crianças de 0 até 5/6 anos. Todas as participantes tinham abertura
para crianças de ambos os sexos. Duas destas mulheres tinham restrições no perfil da
criança desejada para cor da pele e apenas uma delas aceitava doenças tratáveis. Por fim,
apenas uma participante aceitava grupo de irmãos.
As participantes deste estudo eram mulheres integrantes do projeto “Transição
para a parentalidade adotiva: pesquisa e intervenção” (Frizzo et al., 2016). As integrantes
deste projeto deveriam ser maiores de 18 anos de idade e poderiam ter nível
socioeconômico variado, bem como diferentes configurações familiares. Para o presente
estudo, foram selecionados os casos nos quais as mulheres definiram-se como
heterossexuais, eram casadas e duas delas esperavam crianças de 0 até 2 anos e outras
duas tinham um perfil de 0 até 5/6 anos de idade. Estes critérios foram utilizados para
tentar compor dois grupos homogêneos (Flick, 2009) a fim de permitir a comparação
dos sujeitos entre si e entre grupos. Ainda, considera-se que este estudo segue as
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definições de amostra por critério (Patton, 2002) que sugerem a investigação de todos os
casos que atendem aos critérios de inclusão da pesquisa.
Tabela 1
Dados Sociodemográficos das Participantes e Perfil da Criança Desejada
Participantes (futuras mães por adoção)
Participante 1
Participante 2
Participante 3
Participante 4
Idade
38 anos
42 anos
33 anos
51 anos
Escolaridade
Superior
Completo
Superior
Completo
Pós-
Graduação
Pós-
Graduação
Estado Civil
Casada
Casada
Casada
Casada
Tempo aproximado na fila
de espera do Cadastro
Nacional de Adoçãoa
3 meses
4 meses
1 ano
2 anos e 11
meses
Perfil da Criança Desejadab
Participante 1
Participante 2
Participante 3
Participante 4
Idade do bebê
0 2 anos
0 2 anos
0 - 5 anos
0 - 6 anos
Sexo do bebê
Feminino ou
Masculino
Feminino ou
Masculino
Feminino ou
Masculino
Feminino ou
Masculino
Restrições de cor de pele
Não
Sim
Não
Sim
Aceita doenças tratáveis
Não
Não
Sim
Não
Aceita doenças não tratáveis
Não
Não
Não
Não
Aceita deficiências
Não
Não
Não
Não
Aceita grupo de irmãos
Não
Não
Sim
Não
Nota. ª Calculado com base na data da entrevista (entre junho de 2017 e março de 2018).
b Perfil da criança conforme informado no período da entrevista.
Instrumentos
Questionário sobre a adoção (NUFABE, 2016): Este instrumento foi utilizado para
fins de levantamento sobre dados sociodemográficos das participantes e
informações sobre o processo de habilitação para adoção.
Entrevista sobre as expectativas e os sentimentos na adoção (NUFABE, 2016
adaptado de Krahl & Piccinini, 2003): Este instrumento consiste em uma
entrevista semiestruturada e tem como objetivo abordar temas relativos à
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expectativa e aos sentimentos dos participantes em relação à adoção. Aborda
também temas relacionados à experiência de estar esperando pela chegada do
filho, às percepções sobre como tem sido esta experiência para o cônjuge, ao
envolvimento da família extensa e às características da criança pretendida.
Procedimentos
O projeto de pesquisa do qual o presente estudo faz parte atende à resolução 510
de 2016 do Conselho Nacional de Saúde (CAEE número 58061816.4.1001.5334) e foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS). Mediante autorização do Juiz do 2º Juizado da Infância e da Juventude
de Porto Alegre, as técnicas judiciárias fizeram contato inicial com as mulheres com o
perfil desejado de participantes para o projeto de pesquisa para convidá-las a contribuir
com os estudos sobre adoção. Ainda, algumas das participantes foram requisitadas a
colaborarem através das mídias sociais. Logo após o contato inicial, essas mulheres
foram convidadas a comparecer ao Instituto de Psicologia da UFRGS ou, então,
disponibilizar um endereço para um encontro. Todas as participantes assinaram um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e, posteriormente, responderam
aos instrumentos presentes neste estudo: o “Questionário sobre a adoção” (NUFABE,
2016) e a “Entrevista sobre as expectativas e os sentimentos na adoção” (NUFABE, 2016).
Os dados do “Questionário sobre a adoção” (NUFABE, 2016) foram utilizados
somente para caracterização das participantes. Já os dados obtidos por meio da
“Entrevista sobre as expectativas e os sentimentos na adoção” (NUFABE, 2016) foram
analisados através da Análise Temática (Braun, Clarke, Hayfield, & Terry, 2019). Após
a leitura da transcrição das entrevistas, realizou-se a codificação dos dados, com o
auxílio do software NVivo, conforme os temas definidos previamente, a partir da obra
de Lebovici (1987) e do artigo de Fleck e Piccinini (2013).
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Resultados
Os achados da Análise Temática (Braun et al., 2019) foram organizados de acordo
com os temas estabelecidos a priori - com base nas obras de Lebovici (1987) e de Fleck e
Piccinini (2013). Os resultados serão apresentados no formato de tabelas e discutidos de
acordo com os três temas centrais: (a) imaginário sobre características físicas; (b)
imaginário sobre as características emocionais; e (c) imaginário sobre a relação mãe-
criança.
Tabela 2
Imaginário sobre características físicas
Discurso das participantes
“O (companheiro) é negro. Então a gente muita criança negra, que eu adoraria se fosse
cabelo toin óin óin. Pra eu colocar uma flor. Eu tinha uma época que eu guardava fotos que eu
recortava. (...) sempre era crianças negras ou mulatas, pelo (companheiro). E nunca imaginei
uma criança bem branquinha, que pode vir (...), mas sempre imaginei mais negro, mulatinho.
E eu sempre imagino sorridente, sorrisão, sabe?! Isso eu sempre imagino, mas assim, nenhuma
coisa tipo gorda, magra, alta ou baixa.”
“Pra nós vai ficar tranquilo vir um outro perfil que seria bem compatível conosco.”
“Todo mundo diz que eu sou parecida com meu pai (participante é adotada). Então eu acredito
que o ambiente que a criança tá transforma até isso.”
“Nós gostaríamos que fosse o mais parecido conosco possível.”
“Só não optamos por negro. (...) Porque eu acho que nós teríamos dificuldade em trabalhar
com a questão racista, preconceituosa, né?”
“E até acho que as crianças começam a conviver e tu jura que são filhos biológicos, né? A
convivência é algo incrível, assim, tu jura que é filho biológico e não é.”
“Por mais que a gente esteja pedindo uma criança sem problemas de, entre aspas, né, sem
“problemas de saúde”, podem a vir a desenvolver, né?
“(...) a questão de a gente estar aberto (...) a crianças negras, até que com algum tipo de
deficiência.”
“Eu sou branca, eu não passei por discriminação. Eu não passei, é algo que está longe da minha
realidade. Então, eu não sei se, como mãe, eu vou poder ajudar o meu filho a superar essas
questões, assim. Então, esse é meu maior medo.”
“Eu imagino um bombom (bebê). (...) Eu imagino negro e eu imagino gordinho. Se não for eu
engordo (risos).”
“A criança não imagino gordinha (risos). Eu sinto um abraço de um bracinho fininho assim,
sabe. E de um bracinho pardo.”
“A gente não teve essa vontade de adotar negros em função basicamente do bullying.”
“Pode falar o que quiser, mas tem racismo ainda muito. E jogar na cara da criança que ela
foi rejeitada também, que além de ser negra, foi rejeitada porque né, não é teu pai e tua mãe.”
“Eu imagino menino porque a estatística diz que todo mundo quer menina.”
“(...) provavelmente moreno ou pardo. Eu imagino um menino pardo e magro.”
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O primeiro tema englobou os relatos maternos sobre as representações das
características físicas da criança esperada para adoção (Tabela 2). A questão racial esteve
presente na fala de quatro participantes, sendo que uma (Participante 4) mencionou não
ter vontade de adotar crianças negras, enquanto duas (Participantes 2 e 3) abordaram o
fato de temer o preconceito racial. Entre essas, apenas a Participante 3 não tinha restrição
quanto à cor de pele da criança. Segundo Sweeney (2013), em geral, os pais adotantes
preferem adotar crianças com cor de pele o mais próximo possível da tonalidade branca,
privilegiando estas crianças em detrimento de crianças negras.
No Brasil, a maioria dos adotantes tem preferência por crianças de pele branca
(Amim & Menandro, 2007; Weber, 2003). É possível pensar que, além do medo do
preconceito racial, há também a expectativa de que as crianças sejam parecidas
fisicamente com os pais adotantes, especialmente em relação à raça/etnia (Giacomozzi
et al., 2015; Ishizawa & Kubo, 2013. Levinzon, 2020), posto que a maioria das pessoas
que espera pela adoção no país são homens e mulheres de pele branca (Weber, 2003).
As Participantes 1 e 2, que esperavam crianças de 0 a 2 anos, apontaram
expectativa de semelhança física. Para elas, o ambiente pode superar os marcadores
biológicos, isto é, acreditam que o ambiente em que a criança irá se inserir é capaz de
transformar suas características físicas. O fato de ambas optarem apenas por bebês pode
ser justificado por essa crença no papel decisivo do ambiente. Segundo Huber e Siqueira
(2010) e Mahl et al. (2011), os pais tendem a sentir que quanto mais nova é a criança,
mais fácil será lhe transmitir sentimentos e valores, além de fortalecer o sentimento de
vinculação. Essa expectativa de semelhança física também pode ser atribuída a uma
concepção cultural que tende a negligenciar o vínculo adotivo em detrimento da
valorização da filiação biológica (Bossa & Neves, 2018; Levinzon, 2020). No entanto,
observou-se, a partir de narrativas de pais e mães que adotaram crianças de outra raça,
maior conscientização racial, de modo que uma nova apreciação pela raça e cultura de
seus filhos se desenvolveu e, simultaneamente, amplificou essa ambivalência (Nelson &
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Colaner, 2017; Levinzon 2020). Por outro lado, essa representação de semelhança nas
características físicas pode remeter, também, ao que Brazelton e Cramer (1992) abordam
sobre o desejo de ter um filho. Esse anseio é composto pelo desejo de espelhar-se na
criança. O espelhar-se se relaciona ao fato de que todo indivíduo se inclina para amar a
própria imagem, de forma a sustentar a esperança da autoduplicação. Dessa forma, a
criança representa uma continuidade, o elo seguinte de uma longa cadeia, na qual ela
será a portadora das características da família.
As representações que as mães fazem de seus filhos são fundamentais para a
construção do vínculo, de forma que as crianças são revestidas das características que
os pais atribuem a elas. Dessa maneira, é possível afirmar que o desenvolvimento
infantil é tão influenciado pelas fantasias dos pais quanto pelas tendências hereditárias.
A partir dessas fantasias, os pais adequam o comportamento do filho com reforços e
inibições que são mediados por suas fantasias e expectativas (Brazelton & Cramer, 1992).
Tabela 3
Imaginário sobre as características emocionais
Discurso das participantes
“A verdade é que sempre que a gente vê alguém ‘espoletiando’ na rua, a gente acha que o nosso
filho vai ser assim.”
“A gente imagina que seja agitado. Porque acho que a tendência é elas parecerem com os pais
e como eu sou muito agitada e o (companheiro) eu agito ele (...).Mas eu gostaria que ele fosse
calmo. Calmo como o (companheiro).”
“A gente espera uma criança calma, meigo, né. Carinhoso, ou carinhosa (...), mas a gente não
têm preferência do sexo. (...) Mimoso mesmo.”
“Eu imagino que seja uma criança bem agitada, assim (...), mas por outro lado eu imagino
acalmando, sabe, eu imagino assim, tipo “eu vou te agarrar, e eu vou te apertar e eu vou te
amar pra toda a minha vida”
“Imagino uma criança medrosa.”
“Eu imagino que seja uma criança sofrida, digamos assim, sabe”
“A realidade é bem nítida, né. São crianças que passaram por situações bem difíceis na vida,
por traumas. E que, às vezes, de repente, ela vai vir não tão queridinha e tão amorosa e tão
carente e tão afetuosa. Ela vai vir às vezes revoltada.”
“Eu disse: ‘(Companheiro), tu pensa bem, a gente quer uma criança pequena, exatamente
menorzinha, assim, até com um nívelzinho de dependência. ’”
“Mas eu já imagino uma criança mais quieta, e arisca talvez (...) com bastante, com dificuldade
de a gente acessar talvez (...).”
A Criança Imaginária no Contexto de Espera pela Adoção
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Assim, entre as características emocionais, as Participantes 1 e 2 afirmaram que
gostariam que o filho fosse uma criança calma (Tabela 3). Elas, especificamente, esperam
por crianças de 0 até 2 anos, o que aponta para o fato de valorizarem momentos
tranquilos com a criança. No entanto, a restrição de perfil possui diferentes significados
para elas. A Participante 1, apesar da infertilidade, parece compreender as
especificidades da adoção, reconhecer a história prévia da criança, chegando até a
cogitar aumentar a idade preenchida no perfil. Por outro lado, a Participante 2 buscou a
adoção após a descoberta da dificuldade para engravidar naturalmente. Em sua fala,
evidencia-se o que Mahl et al. (2011) encontraram sobre mulheres que buscam adoção
devido à infertilidade, isto é, as representações de que os laços biológicos são mais fortes
e seguros que os laços de afeto. Essa participante cogitava estimular amamentação, o
que está de acordo com os resultados de Sonego e Lopes (2009). Nessa pesquisa, as
autoras apontaram para a ambivalência nas falas de mães que decidiram pela adoção
por não poder ter filhos, sobretudo, em relação à frustração pela infertilidade e às
limitações próprias da filiação biológica, como a amamentação.
A história da criança e a construção do laço afetivo também pesam para as
Participantes 3 e 4 que imaginam que as crianças terão uma história de vida sofrida.
Ambas esperavam por crianças de 0 até 5/6 anos. De acordo com Sampaio, Magalhães e
Féres-Carneiro (2018), o temor de uma herança patológica e o receio sobre as vivências
anteriores da criança são frequentemente citados por pais que optam pela adoção de
crianças mais velhas. Após a adoção, esses temores se constituem como os principais
obstáculos para a construção inicial do vínculo pais-filhos. Destaca-se, além disso, o
desejo da Participante 4 de que a criança tenha algum nível de dependência, o que é
visto por ela como uma vantagem. Esse posicionamento vai ao encontro de dados da
literatura (Huber & Siqueira, 2010; Moyer & Goldberg, 2015) que indicam que alguns
dos futuros pais por adoção parecem acreditar em um possível “molde” dos
comportamentos da criança, após o encontro com a família adotiva, no qual ela se ajusta,
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quase que instantaneamente ao esperado pelos pais. Essa impressão de que as crianças
adotivas são como “folhas em branco” - sem uma construção anterior em nível
comportamental e emocional - parece aumentar, segundo os autores, nos casos de
crianças com idades menores ou bebês.
Ainda, entre os dois grupos, as Participantes 1 e 3 mencionaram a possibilidade
de a criança ser agitada. Enquanto a Participante 1 relacionava esta possibilidade às suas
características pessoais, a Participante 3 pensava sobre sua capacidade de acalmar a
criança. As atribuições de características relativas ao temperamento das crianças
parecem relacionar-se com as indicações de Lebovici (1987) de imaginário da
personalidade da criança. A fala da Participante 3 evidencia a conexão entre o
imaginário das características emocionais e o imaginário da relação mãe-criança, visto
que, apesar de pensar na criança agitada, sonha-se como uma mãe capaz de acalmá-la.
As experiências que o pai e a mãe tiveram ao longo da vida são os principais
responsáveis pela elaboração de seus papéis de cuidadores (Klaus, Kennell, & Klaus,
2000). Nesse sentido, tornar-se mãe ou pai também possibilita que ocupem seus lugares
na cadeia de gerações após os próprios pais e antes dos filhos (Grigoletti, 2005). No caso
da adoção, uma grande expectativa sobre a chegada desse filho que se intensifica
devido ao longo tempo de espera na fila de adoção (Mahl et al., 2011).
Neste estudo, todas as participantes afirmaram imaginarem-se como mães
amáveis ao serem questionadas sobre a relação com o filho, atribuindo adjetivos
afetivos, tais como zelosa, acolhedora, mãezona e outros. Especificamente, a
preocupação com o tornar-se mãe esteve presente nos relatos das Participantes 3 e 4 ao
citarem que imaginam que esse processo será atravessado por estresse e angústia. Esses
sentimentos podem justificar-se pelas particularidades da filiação adotiva. Segundo
Dolto (1998), a adoção situa a criança entre duas famílias, a biológica e a adotiva,
causando duplo pertencimento. Para tanto, é imprescindível que os pais tenham uma
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construção singular de relacionamento com a criança, ofertando a segurança nesse novo
vínculo.
Tabela 4
Imaginário sobre a relação mãe-criança
Discurso das participantes
“Eu não quero estar preparada com um material bélico assim, pra esperar.”
“Eu acho que vou ser uma mãe, como diz o (companheiro): muito zelosa, muito amorosa. Eu sou
de sentar e brincar. Eu acho que isso faz a diferença na vida de uma criança.”
“Meus maiores medos é eu não perceber. Mas eu estou altamente disponível a perceber os sinais
que ele for me dando.”
“Eu acho que eu vou ser superprotetora, é uma coisa que eu vou ter que trabalhar em mim. Um
pouco assim, às vezes, exagerada nos cuidados, né.”
“Vou ensinar com amor.”
“Acho que a grande dificuldade é a parte do ensinar, educar. Assim, não vou esconder do meu
filho, minha filha que ele é adotado. É meu filho do coração, que a gente ama da mesma forma.”
“Eu queria passar por todas as fases, nós queríamos. Existe estimular a amamentação, né, minha
‘gineco’ comentou isso comigo. A gente não precisa de tanto, assim, mas passar por todas as
fases, o que é bem difícil em casos de adoção.”
“Eu me imagino muito atenta, muito amável, assim, a ponto... da criança querer um espaço
(risos). Super protetora, digamos assim.”
“Eu acho que eu vou estar angustiada, preocupada, querendo pesquisar. Mas eu, na minha
relação com os meus filhos, eu imagino um momento mais tranquilo.”
“Acho que com amor tudo se resolve (risos). Eu acho que no início vai ser difícil, até a gente
encontrar uma sintonia, assim.”
“Eu me imagino uma mãe bobona.”
“Eu acho que eu vou ser mãezona, mas acho que também vou saber dar limites. Talvez não dê
tantos limites quanto eu imagino que eu daria.”
“Talvez, inicialmente, até incorporar a nova rotina, tem uma tendência a eu ficar estressada.”
Para lidar com a angústia do tornar-se mãe, as Participantes 3 e 4 afirmaram que
esperam contar com apoio profissional, no caso, de psicólogo e de psiquiatra, para lidar
com as mudanças decorrentes da chegada do filho. É possível perceber que há, entre
essas duas participantes, um reconhecimento sobre o tempo que será necessário para a
adaptação da díade mãe-criança. Essas mulheres concordaram quanto à preocupação
com o tornar-se mãe, ao tempo necessário para à adaptação e à busca de apoio
profissional. As preocupações expressas pelas participantes mostram o reconhecimento
de que os desafios encontrados na adaptação poderão ser mediados pelo amparo de um
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profissional. Relaciona-se a esses achados, ainda, a descrição de Winnicott (1997) da
necessidade de reconhecimento dos possíveis problemas psicológicos da criança
adotada em função dos cuidados inadequados anteriores.
Dolto (1998) também aponta para a importância de se considerar as fantasias que
perpassam a filiação adotiva. Essas fantasias relativas ao desconhecimento da história
pré-adoção da criança causam angústia nos futuros pais, sobretudo, porque se mantém
para a criança como lembrança e marca psíquica. Esse mal-estar é evidenciado na fala
da Participante 4 que repete, por diversas vezes, a necessidade de educar a criança e
impor limites. Essa posição parece sustentar um medo relativo às vivências anteriores
da criança que agora deverá ser educada e modelada. Sob outra perspectiva, a
Participante 1 é a única a relatar o reconhecimento da história anterior da criança,
entendendo que ela não pode ser apagada. A história pregressa dessa participante, que
também foi adotada, pode, neste caso, ter incentivado a compreensão dos
acontecimentos precedentes da vida da criança adotada. O ponto de vista dela, de quem
vivenciou as experiências anteriores à adoção e a transição para uma nova família, pode
ter influência em seu entendimento sobre essa questão.
De forma geral, identifica-se nas entrevistas que no imaginário sobre a relação
mãe-criança há, predominantemente, uma descrição da relação entre mãe e criança
maior, mesmo para aquelas que desejam adotar crianças de 0 a 2 anos. Apesar de isso
não ficar tão claro nos dois outros temas, também foram reconhecidas expressões de
definição de uma criança maior - como, por exemplo, a menção de sofrimento por
problemas de preconceito racial e a descrição de ações emocionais atribuídas à criança e
não a bebês. Com isso, entende-se que, apesar de um desejo pela adoção de uma criança
de 0 até 2 anos de idade, talvez estas mulheres estejam preparadas para a adoção de uma
criança maior, assim como o outro grupo deste estudo.
Por fim, destaca-se que as principais semelhanças entre as mulheres que esperam
por crianças de 0 até 2 anos de idade surgiram no imaginário sobre as características
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físicas e no imaginário sobre as características emocionais, especialmente através do
desejo por uma criança semelhante fisicamente a elas ou a seus companheiros, da crença
que o ambiente transforma fisicamente as crianças adotadas e, também, pelos relatos do
anseio por uma criança emocionalmente calma. Já no grupo de participantes que
esperavam por crianças de 0 a 5/6 anos, constatou-se que, no imaginário sobre as
características emocionais, ambas previam uma criança com sofrimentos e traumas
devido ao seu passado. Ainda, essas mulheres assemelharam-se no imaginário sobre a
relação mãe-criança ao mencionarem a necessidade de um apoio profissional para lidar
com as dificuldades frente às questões da maternidade por adoção. Todas as
participantes do estudo imaginaram-se afetivas positivamente em sua relação com a
criança.
Considerações finais
Os temas sugeridos pela literatura (Fleck & Piccinini, 2013; Lebovici, 1987) a
respeito das representações maternas sobre a criança imaginária mostraram-se
esclarecedores, também, no contexto de espera pela adoção. A identificação dos
imaginários sobre as características físicas, emocionais e da relação mãe-criança se faz
necessária para entender o fenômeno em questão. Através da análise realizada neste
estudo, foi possível contribuir para uma maior contribuição sobre o lugar da criança no
psiquismo parental na adoção.
A partir dos resultados, identificou-se que as futuras mães por adoção estavam
vivenciando o processo de tornarem-se mães por meio da reflexão, do sonho e da
imaginação tanto da criança, quanto do exercício parental (Morelli et al., 2015). Assim
como sugere Lebovici (1987), as participantes deste estudo estavam sonhando com
características sobre a aparência e a personalidade da criança que será adotada e, para
além disso, também refletiam sobre a futura relação com essa. Entre as participantes, o
grupo de mulheres que esperava por crianças de 0 até 5/6 anos de idade pareceu estar
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melhor adaptado ao contraste entre a criança imaginária e a criança real, especialmente
por considerar, em seu discurso, a possibilidade de sofrimentos e traumas devido à falta
de cuidados anteriores. Preparar-se para o imprevisível, assim como lentamente afastar-
se da imagem da criança imaginária e aproximar-se da criança real, são processos
necessários na transição para a maternidade (Brodzinsky & Smith, 2019; Ferrari et al.,
2007; Levy & Féres-Carneiro, 2001; Palacios et al., 2019).
As futuras mães ressaltaram, no imaginário sobre as características físicas, seus
receios ligados às questões raciais, com ênfase no medo de não saberem lidar com o
preconceito. Particularmente, as participantes que esperavam por crianças de 0 a 2 anos
de idade falaram de um desejo de semelhança física com a criança adotada e da crença
de que o ambiente transforma características físicas da criança. Além disso, no
imaginário sobre as características emocionais, foi ressaltada a diferença entre os grupos,
dentro dos quais, como dito anteriormente, as participantes que esperavam por crianças
de 0 a 5/6 anos mostraram-se mais abertas aos possíveis sofrimentos e traumas da
criança adotada. Aquelas que esperavam por crianças de 0 a 2 anos aproximaram-se em
seus discursos por aguardarem uma criança emocionalmente calma.
Ainda, sobre o imaginário da relação mãe-criança, todas as mulheres
apresentaram uma descrição afetiva de si mesmas como mães, usando adjetivos como
amável, zelosa, acolhedora, entre outros. O grupo de futuras mães por adoção que
esperavam por crianças de 0 a 5/6 anos de idade preocupava-se com possíveis estresses
e angústias em suas relações com a criança. Elas consideravam a história anterior da
criança e demonstravam entender a relevância de oferecer uma nova forma de vínculo
para a criança adotada, assim como sugere Dolto (1998).
Este estudo levanta, ainda, o debate de uma questão importante relacionada ao
perfil desejado da criança e ao discurso das participantes. Na análise das entrevistas,
demarcada pelas representações maternas sobre a criança imaginária, fica claro,
principalmente no que diz respeito ao imaginário da relação mãe-criança, que mesmo
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participantes que esperavam por crianças de 0 a 2 anos tinham descrito em suas
reflexões ações de troca com crianças maiores. Elas esperavam dar limites, brincar e
contar histórias, o que exige certo nível de compreensão da criança. Questiona-se,
portanto, se em suas esperas pela adoção já não estavam elaborando, também, a
possibilidade de não adotarem bebês, mas sim crianças mais velhas que dois anos.
Acredita-se que o acompanhamento destas participantes nas etapas seguintes
de seus processos de adoção poderia auxiliar numa compreensão aprofundada de como
se a adaptação dessas mulheres frente ao contraste entre a criança imaginária e a
criança real. Portanto, essa é considerada uma sugestão para estudos futuros. No
entanto, considera-se que, no que diz respeito à caracterização das representações
maternas da criança imaginária no contexto de espera pela adoção, o presente estudo
conseguiu apontar, qualitativamente, aspectos relevantes especialmente para aqueles
que trabalham com famílias formadas por via da adoção.
Espera-se que este estudo possa suscitar novas pesquisas sobre a transição para
a parentalidade por adoção. Considerando que a espera no Cadastro Nacional de
Adoção é longa, a escuta destas pessoas que aguardam pela adoção é de extrema
importância. Deve-se evitar que a grande espera leve os casais a construírem uma
perspectiva progressivamente negativa em relação ao processo de adoção. Portanto,
destaca-se a relevância de espaços de acolhida das expectativas e sentimentos advindos
da espera pela adoção para que, assim, os futuros pais possam expressar suas emoções
e realizar trocas a fim de promover sua saúde emocional.
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Porto Alegre: Bookman.
Submetido em: 17.04.2020
Aceito em: 31.08.2020
... To the best of our knowledge, some recent studies about adoption directly addressed the motivation to have a child as an crucial factor to the post-adoption mother-child adjustment (Helder et al., 2020;Sorek et al., 2020). This association occurs because the quality of parental attachment is psychologically linked to unrealistic expectations (Schwochow et al., 2020), which may manifest in the quality of motivations for adopting a child (Levinzon, 2020). Indeed, research on adoptive motherhood indicates that post-adoption stress may be influenced by the adjustment of parents' motivations for adoption (Foli et al., 2016;Moyer & Goldberg, 2017;Palacios et al., 2019). ...
... Previous studies found that motivation can vary widely during the waiting list. They also found that individual variables, such as being adopted, race, and age of the child they are waiting for, are associated with how parents deal with uncertainty (Schwochow et al., 2020). ...
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The literature emphasizes that motivations for having a child are an important factor in mother-child adaptation post-adoption. Unfortunately, there are no instruments on motivations to have a child adapted to this population that can contribute to new evidence with quantitative research. Therefore, this paper aimed to adapt and investigate evidence of validity and reliability of the MCS scale (Brenning et al., 2015) within a sample of expectant adoptive mothers. The transcultural adaptation followed eight rigorous steps, including experts, focus groups, back-translation, and a pilot study conducted with biological mothers and soon-to-be adoptive mothers. For evidence of reliability, the scale was applied to a sample of 267 women waiting to adopt a child, with an average age of 38.7 years. The five-factor structure was confirmed, and the factors correlated as in a continuum, supporting the Self-Determination Theory. The MCS is valid and reliable for assessing the quality and intensity of the motivation to have a child in Brazil and in the context of adoptive motherhood, and it is suitable for future empirical research and practical application.
... Por esse motivo, algumas crenças e preconceitos surgem e influenciam diretamente na escolha do perfil. Estudos brasileiros apontam que pretendentes têm preferência por crianças menores, brancas e do sexo feminino (Schwochow, Almeida, & Frizzo, 2020;Giacomozzi et al., 2015). A partir desses dados, as reflexões sobre o assunto nos encontros grupais foram sobre os mitos, as inseguranças e os preconceitos que existem em relação ao perfil escolhido para adoção e que podem ser pensados e modificados. ...
... As crianças mais velhas apresentam lembranças sobre sua história e algumas vezes sentem a necessidade de falar sobre (Fernandes & Santos, 2019;Sampaio et al., 2018). Assim, a nova família precisa ser sensível, saber que os(as) filhos(as) podem apresentar dificuldades e também estar disponível para dar suporte (Schwochow et al., 2020) com persistência e paciência (Peixoto, Giacomozzi, Bousfield, Berri, & Fiorott, 2019). ...
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This study aims to discuss the main emerging themes in reflective groups on adoption developed through a research project and university extension program. We carried out participant observation in three group cycles for prospective adopters and three cycles for adoptive mothers and fathers. In the groups' meetings, we found five main themes with prospective adopters and five with adoptive mothers and fathers. It was possible to perceive the fears of the prospective adopters regarding what to expect from their future children, while the mothers and fathers were already experiencing and facing difficulties related to living together. Group work can be a fruitful way of working with the specific demands of prospective adopters, mothers, and fathers.
... Por esse motivo, algumas crenças e preconceitos surgem e influenciam diretamente na escolha do perfil. Estudos brasileiros apontam que pretendentes têm preferência por crianças menores, brancas e do sexo feminino (Schwochow, Almeida, & Frizzo, 2020;Giacomozzi et al., 2015). A partir desses dados, as reflexões sobre o assunto nos encontros grupais foram sobre os mitos, as inseguranças e os preconceitos que existem em relação ao perfil escolhido para adoção e que podem ser pensados e modificados. ...
... As crianças mais velhas apresentam lembranças sobre sua história e algumas vezes sentem a necessidade de falar sobre (Fernandes & Santos, 2019;Sampaio et al., 2018). Assim, a nova família precisa ser sensível, saber que os(as) filhos(as) podem apresentar dificuldades e também estar disponível para dar suporte (Schwochow et al., 2020) com persistência e paciência (Peixoto, Giacomozzi, Bousfield, Berri, & Fiorott, 2019). ...
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This study aims to discuss the main emerging themes in reflective groups on adoption developed through a research project and university extension program. We carried out participant observation in three group cycles for prospective adopters and three cycles for adoptive mothers and fathers. In the groups' meetings, we found five main themes with prospective adopters and five with adoptive mothers and fathers. It was possible to perceive the fears of the prospective adopters regarding what to expect from their future children, while the mothers and fathers were already experiencing and facing difficulties related to living together. Group work can be a fruitful way of working with the specific demands of prospective adopters, mothers, and fathers. (PDF) Grupos reflexivos sobre adoção de crianças e adolescentes: temas emergentes. Available from: https://www.researchgate.net/publication/358362103_Grupos_reflexivos_sobre_adocao_de_criancas_e_adolescentes_temas_emergentes [accessed Feb 09 2022].
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Resumo Este estudo tem o objetivo de compreender quais os sentimentos relatados por mulheres na espera pela adoção em dois diferentes momentos: na espera durante o processo de habilitação à adoção e na fila do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA). Esses anseios têm sido descritos na literatura de forma pouco específica no que diz respeito às etapas do processo de adoção, ainda que mulheres em espera pela adoção experimentem emoções singulares devido à indeterminação temporal em sua transição para a maternidade. Participaram deste estudo quatro mulheres, com idade entre 38 e 44 anos, ativas e em espera no SNA há menos de um ano. Por meio da análise qualitativa dos dados, identificou-se que as diferentes fases do processo de adoção mobilizavam diferentes sentimentos. Durante a habilitação à adoção, sentimentos como apreensão, frustração, dor e morosidade foram descritos. Já na espera no SNA, os sentimentos puderam ser alocados em duas categorias: esperança e desesperança. Os resultados desta pesquisa contribuem para a literatura sobre o processo de espera na adoção por meio da elucidação dos sentimentos envolvidos nas duas distintas etapas.
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This study tests pathways to adoptive parents' psychological distress over time and then examines gender differences in psychological distress. Participants included 190 adoptive mothers and 190 adoptive fathers from the longitudinal Minnesota/Texas Adoption Research Project, a study of U.S. domestic infant adoptions. The majority of adoptive parents reported low psychological distress 10 to 20 years post-adoption. Some struggled throughout their adopted youth’s childhood and adolescence. This study utilizes data allowing an examination of parenting during middle childhood and adolescence. For adoptive mothers and fathers, outside stressors significantly predicted psychological distress. For adoptive fathers, perceived parent–child incompatibility was also predictive.
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Our commentary highlights the authors’ conceptual and empirical contributions for understanding the incidence and dynamics of varying types of adoption breakdowns and their impact on adopted youth and their families. Important distinctions are made between legal, residential, and psychological/relational permanence for children. To date, most research has focused on factors supporting or undermining legal and residential permanence but has largely ignored children’s sense of psychological or relational permanence. Recommendations for future research and implications of findings for policy and practice are discussed.
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This article is part of a broader research on the parent-child bond in late adoption. The authors interviewed ten independent subjects - three men and seven women, who adopted children older than two years - and assessed the results using the content analysis method. The purpose of this study was to investigate the experience of the adaptation period in late adoption, and the repercussions of the previous child history the construction of the parent-child bond. Among the main challenges reported during this period, the authors highlight the aggressive behavior of the child; trouble dealing with rules and authority; lack of legal security; school delays; and problems adapting to family routine, all of which seem to be related to the previous experiences of the child. The way in which parents embraced hardships, bridging past and present in order to rebuild the lost family environment, was reported as having critical importance in the construction and maintenance of the parent-child bond.
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Guided by intergroup and discourse dependence theorizing, the present study explored how divergent identities are communicatively negotiated in transracial adoptive families. Specifically, we examined how adoptive parents’ understandings of their child’s race and culture changed after adopting transracially and how adoptive parents navigated racial and cultural differences through talk. Results from 21 interviews revealed that adoptive parents reported an increased awareness of race and culture, such that a new appreciation for their child’s race and culture developed yet simultaneously amplified ambivalence. Results further indicated parents utilized narrating, naming, ritualizing, discussing, normalizing, and praising to communicatively negotiate racial and cultural identity differences. Findings contribute to transracial adoptive family research by illuminating how parents make sense of differing social identities within the family. Results also advance discourse-dependence theorizing by demonstrating the context-specific nature of internal boundary management strategies and by giving voice to the prevalence of border work in transracial adoptive families.
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The effect of parental depression on children's adjustment has been well documented, with exposure during early childhood particularly detrimental. Most studies that examine links between parental depression and child behavior are confounded methodologically because they focus on parents raising children who are genetically related to them. Another limitation of most prior research is a tendency to focus only on the effects of maternal depression while ignoring the influence of fathers’ depression. The purpose of this study was to examine whether infants’ exposure to both parents’ depressive symptoms, and inherited risk from birth mother internalizing symptoms, was related to school‐age children's externalizing and internalizing problems. Study data come from a longitudinal adoption study of 561 adoptive parents, biological mothers, and adopted children. Adoptive fathers’ depressive symptoms during infancy contributed independent variance to the prediction of children's internalizing symptoms and also moderated associations between adoptive mothers’ depressive symptoms and child externalizing symptoms. This article is protected by copyright. All rights reserved.
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In an attempt to go beyond the analysis of children's outcomes in adoption research, the central goal of this study was the analysis of parents' reflective functioning (PRF)—understood as the parents' capacity to reflect upon their own experience as parents, upon their child's experience, and upon the relationships between them— and its connection with parent-child interactions (PCI)—referring to the behavioral patterns observed in verbal and non-verbal interactions between parents and children around a task. To measure PRF, the Parent Development Interview (PDI) was administered to 40 internationally adoptive and 58 non-adoptive parents. To measure PCI, the parent-child dyads were observed while interacting in a co-construction task. The results show reliable psychometric characteristics of PDI instrument for its use with a Spanish sample. Compared to non-adoptive mothers, adoptive PRF was found more articulate and positive, with non-adoptive mothers scoring higher in less positive or openly negative contents. Furthermore, some characteristics of the children (age and gender) and the parents (educational level) were significantly related to PDI factors. For the adoptive dyads, the relationship between PRF and PCI was particularly significant regarding the PDI contents related to the positive perception of the child in the relationship. Moreover, the behaviors in the PCI task were influenced by the child's gender and age at placement. The way parents behave with their children is influenced by their thoughts and feelings about them, and the promotion of parental mind-mindedness may facilitate more constructive interactions.
Article
Our study was based on fact that most of children and adolescents available for adoption are excluded from the opportunity to be adopted, because of the profile required by applicant parents, in which disability is not expected. We analyzed the information provided in the reports of the Brazilian National Council of Justice (CNJ) and the bibliographic review showed that the preference of the adopters is disproportionate to the reality of institutionalized children. The psychoanalytic consideration indicates that the desability due to compose the phenomenon of the strange (unheimlich) moves their primitive fantasies on applicant parents.
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Purpose A rich and heterogeneous body of knowledge about adoption breakdown has accumulated in recent years. The goal of this article is to review the existing research literature on the topic. Method A comprehensive review of journal articles, book chapters, and technical reports addressing the issue of adoption breakdown was conducted. Results Terminological and methodological difficulties are discussed before the main findings about the incidence of adoption breakdown are presented. A detailed examination of the child, parent, and support and service characteristics associated with the breakdown experience follows. The review ends with the analysis of some policy and practice implications, as well as with suggestions about how to increase and improve the study of adoption breakdown. Discussion Although research into adoption breakdown has achieved a considerable progress in recent years, improvements are still needed in both the basic research and the applied implications domains.