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Revista Brasileira de Ciência Política, nº 33. e226562, 2020, pp 1-39.
DOI: 10.1590/0103-3352.2020.33.226562
Artigos
Francisco Paulo Jamil Marques1, Deivison Henrique de F. Santos2,
Camila Mont’Alverne3 & Paulo Ferracioli4
A atuação do jornalismo editorial no
escândalo JBS:
uma análise comparativa sobre os jornais Folha de S. Paulo e O
Estado de S. Paulo
Editorial journalism and the JBS scandal in Brazil: a comparative
study of Folha de S. Paulo and O Estado de S. Paulo editorials
Periodismo editorial y el escándalo de JBS en Brasil: un estudio
comparativo acerca de las opiniones de Folha de S. Paulo y de O
Estado de S. Paulo
Introdução
No dia 17 de maio de 2017, o jornal O Globo (OG) divulgou,
em primeira mão, um áudio cujo conteúdo tratava de um diálogo
privado entre o então presidente da República, Michel Temer
(MDB), e o empresário Joesley Batista, proprietário do grupo JBS
(JARDIM, 2017). A gravação, realizada no Palácio do Jaburu, sede
da Vice-Presidência da República, mencionava, entre outras infor-
mações, uma suposta “mesada” que a empresa de Joesley estaria
1 Professor e pesquisador da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. Bolsista de
Produtividade em Pesquisa do CNPq. E-mail: <marquesjamil@gmail.com>
2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná
(UFPR), Curitiba, PR, Brasil. Bolsista Capes. E-mail: <deivisonfreitas@yahoo.com.br>
3 Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. E-mail:
<camilapessoa31@gmail.com>
4 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná
(UFPR) Curitiba, PR, Brasil. Bolsista Capes. E-mail: <ferracioli.paulo@gmail.com>
Francisco Paulo Jamil Marques, Deivison Henrique de F. Santos, Camila Mont’Alverne &
Paulo Ferracioli2
pagando a Eduardo Cunha (ex-presidente da Câmara dos Depu-
tados, que se encontrava preso no âmbito da Operação Lava Jato)
a m de que ele se mantivesse em silêncio quanto às acusações de
corrupção que envolviam diversos agentes do campo político. A
divulgação do áudio deu origem a um dos maiores escândalos do
governo Temer, ocasionando, à época, rumores de que o manda-
tário poderia renunciar (MATTOSO; BRAGON, 2017). O “escân-
dalo da JBS”, como o caso cou conhecido, originou duas denúncias
elaboradas pelo então procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, contra Michel Temer.
Tal episódio foi alvo de intensa cobertura noticiosa durante os
meses seguintes. Este artigo, contudo, interessa-se em investigar,
especicamente, de que maneira os editoriais jornalísticos de Folha
de S. Paulo (FSP) e O Estado de S. Paulo (OESP) abordaram o
escândalo. Comparar os editoriais de FSP e OESP implica lidar com
empresas que não foram as responsáveis por revelar os áudios que
desencadearam o acontecimento. Com isso, os textos opinativos
dos dois jornais não necessariamente precisaram se preocupar em
respaldar a própria cobertura informativa – o que tende a deixar
tais publicações mais à vontade para opinar por não terem recebido
as mesmas críticas de que OG foi alvo por ter divulgado os diálogos
do ex-presidente. A escolha por FSP e OESP se justica, ademais,
por conta do prestígio que ambas as empresas possuem junto às
elites econômicas e políticas nacionais (AZEVEDO, 2017; LATT-
MAN-WELTMAN; CHAGAS, 2016; TOKARSKI, 2019).
Ressalte-se que estudar o posicionamento editorial das publi-
cações jornalísticas é uma forma de evidenciar seus modos de
atuação política (EILDERS, 2016; FIRMSTONE, 2008, 2019), dado
que, nesse espaço, os periódicos podem apresentar opiniões sem
a necessidade de seguir os princípios que norteiam o jornalismo
comercial (a exemplo da objetividade e da imparcialidade).
Entre os exemplos empíricos relacionados ao papel político dos
editoriais, pode-se mencionar o trabalho de Robinson (1972), que
analisou a inuência da cobertura na decisão do voto nas eleições
presidenciais americanas de 1968, apontando que os candidatos
A atuação do jornalismo editorial no escândalo JBS:
uma análise comparativa sobre os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo 3
endossados por jornais tendem a ter 6% a mais de votos, conclusão
similar à encontrada por Erikson (1976). No caso de Dalton, Beck e
Huckfeldt (DALTON; BECK; HUCKFELDT, 1998), os autores não
encontram uma cobertura homogênea acerca dos concorrentes,
mas observam que o conteúdo dos editoriais é signicantemente
associado às preferências dos eleitores – especialmente no caso de
jornais locais, o que desaconselha qualquer tentativa de generalizar
o papel político das instituições jornalísticas.
Especicamente no que concerne ao caso brasileiro, Mundim
(2012) argumenta que a cobertura elaborada por quatro quality
papers nacionais (FSP, OESP, OG e Jornal do Brasil) foi um fator
importante para explicar os resultados das eleições presidenciais de
2002 e 2006. Embora ele não considere apenas o efeito dos edito-
riais, é importante registrar que tais textos opinativos também
estão no corpus analisado pelo investigador. Em 2002, Lula da Silva
e Ciro Gomes tiveram suas intenções de voto afetadas pela cober-
tura; já em 2006, a cobertura teve efeito importante junto às candi-
daturas de Geraldo Alckmin e Cristóvam Buarque, colaborando
para que houvesse segundo turno naquela disputa. Desse modo,
enfatizar o estudo empírico sobre as opiniões das instituições jorna-
lísticas permite diagnosticar de quais ideias e grupos políticos elas
mais se aproximam (MONT’ALVERNE, 2017), oferecendo uma
compreensão adicional a respeito dos alinhamentos existentes no
ambiente midiático brasileiro.
Partindo-se da premissa de que uma das funções do jornalismo
é hierarquizar o leque de assuntos oferecidos ao público (GUERRA,
2014; LAGE, 2011; MCCOMBS, 2005) e de que as empresas jorna-
lísticas atuam na condição de atores políticos interessados em
inuenciar os debates da esfera pública (COOK, 2011; EBERWEIN;
PORLEZZA; SPLENDORE, 2016; PAGE, 1996; THESEN, 2017;
VAN AELST; WALGRAVE, 2017), torna-se relevante compreender
o posicionamento de tais instituições em momentos de crise –
sobretudo porque, à época, havia frequente contestação da legitimi-
dade dos dirigentes que assumiram o país após o impeachment de
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Dilma Rousse (PT) (AMORIM NETO, 2016; SANTOS; GUAR-
NIERI, 2016).
Mesmo que outros trabalhos apontem para a maior liberdade
dos editoriais para fugir das pautas que marcam as seções noticiosas
(EILDERS, 1999; FIRMSTONE, 2008; MARQUES; MONT’AL-
VERNE, 2019), sabe-se que os jornais não podem ignorar eventos
extraordinários nesses espaços – inclusive por conta de questões
mercadológicas, já que publicações concorrentes tenderiam a se
posicionar acerca das turbulências políticas (ESPINOSA, 2003).
As perguntas de partida deste trabalho, assim, são as seguintes:
quais abordagens os jornais FSP e OESP privilegiaram ao tratar do
escândalo da JBS em seus editoriais? Como foram caracterizados os
agentes centrais vinculados a tal acontecimento? Quais diferenças
podem ser identicadas nos posicionamentos editoriais quando
comparadas as publicações? Para responder a essas indagações, este
trabalho emprega estratégias metodológicas de natureza quantita-
tiva e qualitativa.
O próximo tópico oferece uma breve revisão da literatura sobre
a função política e institucional dos editoriais. Posteriormente, o
caso JBS é apresentado à luz da literatura sobre escândalos polí-
ticos. Na sequência, são detalhadas as estratégias metodológicas
aqui empregadas e apresentados os resultados empíricos. O texto
é encerrado com um debate sobre as descobertas da investigação,
sublinhando-se as formas de ação política das empresas jornalís-
ticas examinadas.
As funções políticas do jornalismo editorial
Mesmo que as origens da imprensa remetam a um papel funda-
mentalmente instrumental – trata-se da chamada “imprensa de
opinião” ou “partidária” (GOMES, 2004) –, a expansão de um
novo modelo de negócios a partir do nal do século XIX fez com
que a atividade de publicar informações se tornasse mais pros-
sionalizada – o que passou a envolver a adoção de determinados
compromissos com o público e a busca por independência de
A atuação do jornalismo editorial no escândalo JBS:
uma análise comparativa sobre os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo 5
atores político-estatais (CHALABY, 1996, 1998; CURRAN, 2002;
SCHUDSON, 2001; VOS; WOLFGANG, 2018).
A conformação de um campo social próprio do jornalismo
(BOURDIEU, 1997) implicou, então, a observação normativa
de princípios como imparcialidade, objetividade e neutralidade
(HARCUP; O’NEILL, 2001, 2017; MONT’ALVERNE; MARQUES,
2019). Nesse contexto, entre as estratégias utilizadas pelo jorna-
lismo comercial, estão desde a adoção do lead até a separação entre
as seções informativas e opinativas dos jornais (BIROLI; MIGUEL,
2012; KAPLAN, 2012; MONT’ALVERNE; MARQUES, 2019; VOS,
2011).
Todavia, ainda que reivindiquem exercer um papel essencial na
condição de mediadoras entre cidadãos e representantes políticos
(COOK, 2011; VAN DALEN, 2015), sabe-se que as publicações
jornalísticas não se comportam como instituições desinteres-
sadas ao selecionarem pautas e ângulos que marcam a cobertura
de acontecimentos socialmente relevantes (DE VREESE, 2005;
HOPMANN; VAN AELST; LEGNANTE, 2011).
Na abordagem neoinstitucionalista da ciência política, as insti-
tuições são compostas por regras formais e informais, que deli-
mitam, orientam e constrangem as ações daqueles que as integram
(HALL; TAYLOR, 2003; PERES, 2008; SCOTT, 2013), de modo
que o jornalismo pode ser compreendido como uma instituição
nesse contexto. Cook (2011) é um dos autores que faz o esforço de
aplicar a corrente neoinstitucionalista ao jornalismo, ao salientar
que, embora existam normas e valores comuns que caracterizam a
atividade jornalística, o sistema midiático é constituído por grupos
de interesse. Sendo assim, mais do que simplesmente transmitir
informação, as empresas jornalísticas também atuam enquanto
instituições políticas detentoras de objetivos especícos (COOK,
2011; EBERWEIN; PORLEZZA; SPLENDORE, 2015; PAGE, 1996;
SPARROW, 1999).
Thesen (2017), em consonância com Van Aelst e Walgrave
(2017), sublinha o papel das instituições jornalísticas no processo
de distribuição de poder entre a elite política. Para o autor, o sistema
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midiático mainstream teria como ênfase primária a dimensão
comercial. Entretanto, por meio do conteúdo que publicam, as
empresas jornalísticas atuariam enquanto instituições políticas
intermediárias ao afetarem o processo representativo e a distri-
buição de poder entre os demais atores e instituições (PAGE, 1996;
THESEN, 2017). Considera-se, assim, que o conteúdo publicado
pelos jornais pode ser utilizado como um indicador empírico de sua
atuação política.
Diante disso, e a despeito dos desaos impostos às instituições
de comunicação em função do desenvolvimento das redes sociais
digitais e de plataformas alternativas de conteúdo (CRILLEY;
GILLESPIE, 2018; MOSCO, 2018), o jornalismo permanece sendo
um ator relevante, mas que precisa continuamente se dedicar a
manter sua credibilidade e a fortalecer suas competências enquanto
instituição fiscalizadora (ESSER; NEUBERGER, 2019). Nesse
cenário, os editoriais se destacam por evidenciar os modos como
os jornais acompanham e interpretam o andamento do processo
político – inclusive exercendo pressão sobre lideranças públicas
(EILDERS, 1999). O texto de opinião institucional se mostra o
espaço mais adequado para aferir o que pensa uma publicação
(FIRMSTONE, 2019), sobretudo por ser o espaço no qual a
empresa usufrui da prerrogativa de agendar questões que considera
relevantes.
Tais textos proporcionam aos periódicos – utilizando-se de
uma linguagem persuasiva e direcionada às lideranças políticas e
econômicas (ALVES FILHO, 2006; ARMAÑANZAS; NOCÍ, 1996;
FIRMSTONE, 2008, 2019) – a liberdade para perseguir uma agenda
temática própria (EILDERS, 1999), reivindicando, ao mesmo tempo,
atuarem enquanto representantes da opinião pública (MARQUES
et al., 2017; MONT’ALVERNE; MARQUES, 2018).
Dito de outra forma, os textos de opinião institucional cons-
tituem o espaço por excelência no qual as instituições jornalís-
ticas se posicionam como detentoras de interesses particulares
(MARQUES; MONT’ALVERNE, 2019), inclusive ao endossarem
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candidaturas eleitorais com propostas alinhadas às suas demandas.5
Em estudo sobre as eleições para o Senado norte-americano entre
1988 e 1992, Khan e Kenney (2002) demonstram a inuência dos
editoriais sobre as preferências dos votantes. Os pesquisadores
destacam que, em sintonia com uma cobertura noticiosa favorável
aos candidatos apoiados pelas empresas jornalísticas, os endossos
editoriais inuenciaram a decisão de voto dos cidadãos – sobretudo
dos leitores mais assíduos. Druckman e Parkin (2005), por sua vez,
enfatizam a importância dos editoriais no processo de construção
da imagem pública dos candidatos à corrida eleitoral pelo Senado
no estado norte-americano de Minnesota, em 2000.
A respeito das estratégias metodológicas usualmente empre-
gadas para investigar o conteúdo das publicações jornalísticas,
destaca-se a teoria do enquadramento. Na concepção de Entman
(1993), o jornalismo enquadra ao salientar determinadas partes
da informação relacionada a um assunto em detrimento de outros
aspectos. Enquadrar, nesse sentido, é emoldurar a maneira pela
qual os acontecimentos são repassados ao público, enfatizando-se
questões especícas de um evento (MENDONÇA; SIMÕES, 2012;
SCHEUFELE; TEWKSBURY, 2007; WEAVER, 2015). A análise de
enquadramento envolve o estudo sobre como os assuntos são abor-
dados e acerca de quais perspectivas são privilegiadas, o que permite
compreender as preferências e posicionamentos, por exemplo, das
empresas jornalísticas.
Ressalte-se, contudo, que os estudos na área de comunicação
política têm reconhecido linhagens diversas de compreensão e
aplicação da ideia de enquadramento (MCCOMBS, 2005;
MENDONÇA; SIMÕES, 2012; POZOBON; SCHAEFER, 2014;
WEAVER, 2015). De fato, enquanto diferentes trabalhos brasileiros
se dedicam a utilizar a noção de enquadramento para investigar
a cobertura noticiosa (BIROLI; MANTOVANI, 2014; CAMPOS,
2014; RIZZOTTO; ANTONELLI; FERRACIOLI, 2016), outros
utilizam a mesma estrutura analítica para se pensar os editoriais
5 No caso nacional, pode-se mencionar o apoio editorial de OESP à candidatura de José Serra, em
2010 (EDITORIAL..., 2010), e de Aécio Neves, em 2014 (A HORA..., 2014).
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(AZEVEDO, 2018; MONT’ALVERNE, 2017). Quanto a este último
caso, Essary (2007) argumenta que os editoriais são peças privi-
legiadas para analisar enquadramentos porque necessariamente
dependem de enquadrar um assunto para convencer os leitores
sobre a opinião que apresentam. Uma vez que os editoriais são textos
redigidos de modo assertivo, dicilmente eles deixam dúvidas sobre
as reais intenções e posicionamentos do autor.
Antes de encerrar esse tópico, é importante dizer que perma-
necem escassas as investigações brasileiras dedicadas a esqua-
drinhar as implicações políticas do jornalismo editorial. Um
levantamento realizado em maio de 2020 na plataforma Scielo
(https://www.scielo.br) em cinco periódicos brasileiros de pres-
tígio na área de ciência política (Leite, 2015) revelou os seguintes
resultados: nas 26 edições da Revista Brasileira de Ciência Política
(RBCP) publicadas entre 2011 e 2019, somente dois artigos mencio-
naram “editoriais” no título ou no resumo; no caso da Opinião
Pública (OP), apenas quatro trabalhos citaram o referido termo em
46 edições lançadas no intervalo que vai de 2000 a 2019; já a Revista
Brasileira de Ciências Sociais (RBCS) conta com dois manuscritos
em 71 edições veiculadas entre 1997 e 2020; a Dados, por sua vez,
publicou três artigos em 92 edições publicadas entre 1996 e 2019,
o que compreende um período maior do que 20 anos; e a mesma
tendência de abordagem escassa do tema é constatada no caso da
Revista de Sociologia e Política, visto que somente um artigo, em
todos os 63 números editados entre 1999 e 2019, refere-se a “edito-
riais” no título ou no resumo.
De qualquer modo, registre-se a relevância de manuscritos de
autores nacionais que têm abordado o assunto ao examinar questões
como: os posicionamentos editoriais das empresas jornalísticas
em relação a instituições políticas (AZEVEDO; CHAIA, 2008;
JORGE, 2003); a construção da imagem pública de autoridades
(MARQUES; MONTALVERNE, 2013; NAVA; MARQUES, 2019);
e, por m, acontecimentos como o impeachment de Dilma Rousse
(GUAZINA; PRIOR; ARAÚJO, 2019; MARQUES; MONT’AL-
VERNE; MITOZO, 2019). Porém, poucos trabalhos têm se voltado
A atuação do jornalismo editorial no escândalo JBS:
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a examinar como o jornalismo editorial se posiciona sobre os escân-
dalos políticos – um elemento recorrente na democracia brasileira,
diga-se. Diante da relevância desta lacuna, pretende-se examinar de
que modo jornais de destaque no cenário nacional se posicionaram
sobre um escândalo que eclodiu em meio às crises políticas que
marcaram o período 2015-2020 no país.
Escândalos políticos e o caso da JBS
A consolidação das instituições jornalísticas transformou o
modo pelo qual a imprensa passou a relatar e a se posicionar acerca
de determinados acontecimentos – inclusive no que se refere às
denições socialmente compartilhadas sobre o que constitui um
escândalo político (ALDÉ; VASCONCELLOS, 2008; AZEVEDO,
2010; DJERF-PIERRE; EKSTROM; JOHANSSON, 2013; GOMES,
2004; THOMPSON, 2002). De acordo com Harmer e Stanyer
(2015), o escândalo político implica a exposição midiática de uma
violação – cometida por atores ou instituições políticas – de certas
normas e valores morais. Isto é, escândalos políticos são transgres-
sões – no caso de autoridades políticas, abuso de poder ou traição
à conança social – que ganham visibilidade ampliada graças ao
papel mediador das instituições de comunicação (ALLERN; VON
SIKORSKI, 2018; HARMER; STANYER, 2015).
Em resumo, se, há algumas décadas, muitos desvios ficavam
circunscritos a realidades locais, a comunicação de massa
exacerbou a capacidade da desaprovação pública de agentes que são
surpreendidos ao transgredirem determinadas regras – tornando,
em muitas situações, o escândalo político um escândalo midiá-
tico (THOMPSON, 2002). Ao se tornar midiatizado, o escândalo
exacerba seus efeitos sobre a reputação dos agentes, que passam a
ter diculdades em cultivar uma imagem pública positiva e veem
seu capital político diminuir severamente, a depender da proporção
do caso (GOMES, 2004; WEBER, 2004).
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Tal lógica se aplica ao escândalo da JBS.6 As primeiras revela-
ções sobre o áudio que envolvia o presidente do referido grupo,
Joesley Batista, e o então presidente da República, Michel Temer,
foram divulgadas pelo site do jornal OG em 17 de maio de 2017
(JARDIM, 2017). A gravação fazia parte do acordo de delação
premiada assinada por Joesley e por seu irmão, Wesley Batista. A
documentação de posse do Ministério Público Federal também se
referiu a políticos de outros partidos, como o então senador Aécio
Neves (PSDB) e Guido Mantega (PT), que atuou como ministro da
Fazenda entre março de 2006 e dezembro de 2014.
As informações coletadas pelos delatores motivaram a elabo-
ração de duas denúncias criminais elaboradas pelo então procura-
dor-geral da República, Rodrigo Janot. Na primeira denúncia, enca-
minhada em 26 de junho de 2017, Temer foi acusado de corrupção
passiva pelo suposto recebimento de R$ 500.000,00 de propina
de Joesley Batista em troca de favorecimento em processos sob
responsabilidade do Conselho Administrativo de Defesa Econô-
mica – Cade (SOUZA; BRESCIANI, 2017). A segunda denúncia
foi endereçada em 14 de setembro daquele mesmo ano e acusava
o presidente de organização criminosa e obstrução de justiça, por
ter instigado Joesley a atrapalhar a colaboração premiada de Lucio
Funaro com a justiça (TUROLLO JR., 2017).
Nenhuma das duas denúncias teve o prosseguimento autorizado
pela Câmara dos Deputados (KATTAH, 2017; CÂMARA..., 2017)
– impedindo que o Supremo Tribunal Federal analisasse o caso
enquanto o mandato de Michel Temer estivesse vigente. Ainda
assim, mostra-se relevante compreender de que maneira épocas de
crise estimulam os jornais a se posicionarem sobre eventos políticos
e a defenderem suas agendas.
6 JBS é a sigla associada às letras iniciais do nome de José Batista Sobrinho, fundador da empresa que
atua no ramo de processamento de carnes e que figura entre as maiores do mundo em seu setor.
Ao longo de governos anteriores, a empresa recebeu investimentos públicos advindos de programas
associados ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES (BNDES, 2019).
A atuação do jornalismo editorial no escândalo JBS:
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Procedimentos metodológicos
Para realizar a análise aqui delineada, foram considerados os
editoriais publicados por FSP e OESP. Essas publicações foram
selecionadas porque, além de sua alta tiragem considerando-se
o panorama brasileiro (FOLHA..., 2020), elas detêm prestígio
em relação às elites políticas e econômicas nacionais. Deve-se
mencionar, ainda, que tais instituições jornalísticas possuem traje-
tória de destaque na história política brasileira, tendo participado de
momentos relevantes da vida nacional, como o apoio à instauração
do regime militar de 1964 e a posterior transição para a demo-
cracia (AZEVEDO, 2017; PILAGALLO, 2012). Nas duas últimas
décadas, os jornais têm explorado a cobertura sobre diversos
escândalos envolvendo personagens do cenário político brasileiro,
especialmente durante os governos do Partido dos Trabalhadores
(ALBUQUERQUE, 2016; ALDÉ; MENDES; FIGUEIREDO, 2007;
GOLDSTEIN, 2017).
Para além de ocuparem papel relevante no mercado da infor-
mação brasileiro, os dois periódicos, sediados em São Paulo, são
concorrentes diretos no mercado de discursos públicos (LATT-
MAN-WELTMAN; CHAGAS, 2016). Tal situação pode incentivá-
-los a estabelecer distinções editoriais, a m de garantir a delidade
de determinados nichos da audiência (MONT’ALVERNE; ATHA-
NÁSIO; MARQUES, 2018).
Vale acentuar, ademais, o potencial de agendamento intermi-
diático dos jornais em questão. Tal conceito se refere ao grau de
influência mútua entre diferentes instituições de comunicação
(FERNANDES, 2015; HARDER; SEVENANS; VAN AELST, 2017).
Em decorrência de seu prestígio em diversas esferas da vida pública,
algumas instituições jornalísticas têm a capacidade de estabelecer
agendas que são acompanhadas por outras instituições do campo
da comunicação: é o caso de jornais como e New York Times
(NYT), no contexto estadunidense (DENHAM, 2014), e de perió-
dicos brasileiros, a exemplo daqueles aqui estudados (AZEVEDO,
2017; VIMIEIRO, 2010).
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Já o recorte temporal adotado pelo estudo está associado ao
período de cobertura jornalística mais intensa sobre o escândalo.
Consideraram-se os editoriais publicados por FSP e OESP entre 18
de maio e 17 de setembro de 2017 – período compreendido entre
o dia posterior à publicação dos áudios até o encerramento do
mandato do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
A saída de Janot do cargo marca o m do recorte temporal, uma
vez que a nova procuradora, Raquel Dodge, não apresentou novas
denúncias vinculadas ao escândalo da JBS contra Temer.
A coleta dos textos se deu por meio do acesso aos portais dos
dois periódicos.7 Durante o período, 241 editoriais foram veicu-
lados pela FSP (que publica, em média, duas peças de opinião por
dia)8 e 369 textos integraram as páginas de OESP (este periódico
conta com três textos diários).
Em seguida, utilizando-se o NVivo, todos os textos que integram
o corpus foram ltrados a m de detectar a presença de palavras-
-chave relacionadas ao escândalo aqui analisado: “Joesley”, “Wesley”,
“JBS”, “Batista”, “J&F” e “Friboi”. Após a adoção de tais procedi-
mentos, chegou-se ao número de 103 editoriais a comporem o
corpus da pesquisa, sendo 45 editoriais da FSP (cerca de 18,6% de
todos os editoriais do jornal no período correspondente à amostra)
e 58 de OESP (o que corresponde a 15,7% de todos os editoriais
publicados pela organização no intervalo aqui considerado). Deci-
diu-se agrupar os editoriais por semanas com o intuito de vericar a
frequência com a qual termos de interesse desta investigação foram
acionados ao longo dos meses. Considerando-se o primeiro dia da
contagem como sendo 18 de maio de 2017, foram contabilizadas 18
semanas.
7 FSP (https://www.folha.uol.com.br/); OESP (https://www.estadao.com.br/).
8 Embora a FSP publique, normalmente, dois editoriais por dia, o jornal não descarta a possibilidade
de publicar somente um editorial mais longo sobre algum assunto que desperte maior interesse
do periódico. Um exemplo que compõe o corpus da pesquisa em tela é o texto publicado no dia
4 de junho de 2017, intitulado “Sem Temer”. Na ocasião, a FSP dedicou todo o seu esforço editorial
para tratar apenas de um tema, que foi o julgamento da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior
Eleitoral.
A atuação do jornalismo editorial no escândalo JBS:
uma análise comparativa sobre os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo 13
Já a dimensão qualitativa dessa investigação envolveu o mapea-
mento de agentes, instituições, juízos de valor e temas de maior
destaque. Por meio da leitura de uma amostra aleatória de 20 edito-
riais de cada jornal (isto é, 40 das 103 peças), foi possível inventariar
um conjunto preliminar de variáveis e categorias que permitiram
compreender os principais aspectos destacados pelos periódicos em
suas posições editoriais. Ressalte-se que tal estratégia metodológica
foi empregada em estudos anteriores da área de jornalismo político
(GOLAN, 2006; GRONEMEYER; PORATH, 2015).
Essa fase prévia da análise empírica propriamente dita permitiu
conhecer o teor geral das opiniões institucionais e, desse modo,
elaborar um livro de códigos detalhado, que acabou dividido em
quatro variáveis: i) agentes relacionados ao escândalo ou à cober-
tura realizada sobre o acontecimento; ii) instituições relacionadas
ao escândalo ou à cobertura realizada sobre o acontecimento; iii)
juízos de valor que os editoriais fazem sobre os escândalos; e iv)
tema central do editorial (este item permite depreender qual ênfase
o jornal conferiu a cada texto). Sublinhe-se que as categorias abri-
gadas em cada variável (com exceção da variável “tema”) podem ter
sua ocorrência assinalada de forma simultânea – ou seja, pode-se
identificar a ocorrência de mais de uma delas em um mesmo
editorial.
Quadro 1 – Livro de códigos
AGENTES
A.1 – Presidente Temer
A.2 – Políticos da situação, com ou sem cargo (seja nomeado, seja eletivo)
A.3 – Políticos de oposição, com ou sem cargo eletivo
A.4 – Integrantes do sistema de Justiça (ministros do STF, TSE, juízes etc.)
A.5 – Integrantes do MPF
A.6 – Delatores da JBS (nomes dos irmãos Batista ou seus apoiadores)
A.7 – Outros delatores
Francisco Paulo Jamil Marques, Deivison Henrique de F. Santos, Camila Mont’Alverne &
Paulo Ferracioli14
A.8 – Profissionais da imprensa
A.9 – Outros agentes identificados durante a leitura do material
INSTITUIÇÕES
I.1 – Órgãos do Poder Executivo (ministérios, autarquias e empresas públicas)
I.2 – Órgãos do Poder Legislativo (Câmara, Senado e Congresso)
I.3 – Órgãos do Poder Judiciário (STF, TSE, tribunais de justiça)
I.4 – Ministério Público Federal
I.5 – Polícia Federal
I.6 – Partidos da situação
I.7 – Partidos da oposição
I.8 – JBS
I.9 – Órgãos de imprensa
I.10 – Quaisquer outras entidades (organizações, empresas, grupos, ONGs etc.).
JUÍZOS DE VALOR SOBRE O ESCÂNDALO
J1. Avaliação sobre comportamento de Temer
J1.1. Não há irregularidade no comportamento do presidente
J1.2. Não é possível saber se se trata de irregularidade
J1.3. O presidente adotou uma conduta criminosa ou conduta suspeita
J1.4. Resposta de Temer e do governo ao escândalo não é adequada
J1.5. Resposta de Temer e do governo ao escândalo é adequada
J1.6. Outras
J2. Avaliações sobre atuação de instituições envolvidas no esc ândalo
J2.1. Crítica à atuação de órgãos do Poder Executivo
J2.2. Crítica à atuação de órgãos do Poder Legislativo
A atuação do jornalismo editorial no escândalo JBS:
uma análise comparativa sobre os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo 15
J2.3 Crítica à atuação de órgãos do Poder Judiciário
J2.4 Crítica à atuação do Ministério Público Federal
J2.5. Crítica à atuação da JBS
J2.6. Outras
J3. Consequências do escândalo
J3.1. Instabilidade política
J3.2. Escândalo atrapalha a recuperação econômica do país
J3.3 Não haverá grandes mudanças no cenário
J3.4 Outras
J4. Saídas para a crise pós-escândalo
J4.1. Temer deve permanecer
J4.2. Temer deve renunciar
J4.3. Temer deve sofrer impeachment
J4.4. Eleições devem ser antecipadas
J4.5. Investigações devem prosseguir
J4.6. Reformas devem ser preservadas
J4.7 Saída incerta
J4.8. Outras
TEMA CENTRAL DO EDITORIAL
1 – Abordagem econômica do escândalo: queda na confiança dos investidores; dificulda-
de de controle inflacionário; desemprego; queda na projeção de crescimento, dentre outros assuntos.
2 – Abordagem política do escândalo: perda de apoio da base aliada; possibilida-
de de renúncia de Temer; denúncias da PGR; queda nos índices de confiança da população; prejuízos ao an-
damento das reformas; impactos eleitorais para 2018; desentendimentos intrapartidários.
3 – Abordagem jurídica do escândalo: apoios e críticas à atuação do Ministério Público e das demais institui-
ções responsáveis pelas investigações; foco nos embates entre as classes política e judiciária; ativismo do Poder Judiciário.
Elaboração própria.
Francisco Paulo Jamil Marques, Deivison Henrique de F. Santos, Camila Mont’Alverne &
Paulo Ferracioli16
Assim, por meio do livro proposto, será possível detalhar a
cobertura editorial e compreender, mais exatamente, a natureza dos
argumentos construídos pelos periódicos. Para garantir a cona-
bilidade da codicação, foi realizado um teste preliminar com 14
editoriais (7 da FSP e 7 de OESP), o que representa pouco mais de
10% do corpus. A equipe de classicação foi composta por quatro
pesquisadores (entre estudantes e doutores) com experiência na
codicação de materiais jornalísticos – todos eles integrantes do
grupo de pesquisa no qual a presente investigação foi desenvolvida.
Quanto às variáveis “agentes” e “instituições”, o alfa de Cronbach
foi sempre mais alto do que 0,747, considerado satisfatório. No caso
de “tema central” e “juízos de valor”, o resultado também se mostrou
apropriado: manteve-se uma média de 0,955 para os temas e de 0,66
para juízos – ambos dentro da margem aceitável (FIELD, 2005).
É importante sublinhar que o menor coeciente alfa da variável
“juízos de valor” se justica por se tratar do elemento mais subjetivo
do livro de códigos. Dito de outro modo, enquanto as demais variá-
veis visam captar a menção direta a agentes, instituições e temas, as
categorias centradas na variável “juízos” compreendem avaliações
mais especícas sobre o escândalo em questão.
Após a realização do teste de conabilidade, a equipe codicou
todos os 103 editoriais, obtendo os resultados apresentados a
seguir. Os dados foram analisados por meio de estatística descri-
tiva, empregando-se o teste do qui-quadrado e observando-se os
resíduos padronizados para identicar diferenças e aproximações
da cobertura editorial dos dois periódicos. Com exceção de “tema”,
as variáveis foram analisadas como dicotômicas, dado que era
possível identicar mais de um agente, instituição ou juízo de valor
no mesmo texto. Os testes foram feitos cruzando-se os jornais
(FSP=0 | OESP=1) com cada uma das categorias das variáveis indi-
cadas no livro de códigos (com exceção da variável “tema”, que,
conforme já citado, não se trata de variável dicotômica). O objetivo
foi investigar a ausência (0) ou a presença (1) de menção a cada cate-
goria nos editoriais de ambas as publicações. As tabelas da próxima
seção apresentam, em especíco, os resultados que demonstraram
A atuação do jornalismo editorial no escândalo JBS:
uma análise comparativa sobre os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo 17
valores estatisticamente signicativos para o qui-quadrado e para
os resíduos padronizados referentes à presença de menção a cada
categoria analisada.
Resultados
O Gráco 1 identica a distribuição temporal da publicação dos
103 editoriais que integram a amostra considerada neste artigo.
Gráfico 1 – Quantidade de editoriais publicados por semana
Fonte: dados da pesquisa.
Elaboração própria
Os dados evidenciam que os dois periódicos compartilharam
períodos de ápice em que publicaram editoriais sobre o escândalo.
A semelhança quanto à disposição em abordar o assunto também
ca evidente ao se observar as linhas de tendência polinomial das
publicações. O mês de maio de 2017 (semanas 1 e 2, que abrangem
de 18 a 31 do mês) representa o momento em que o escândalo
veio à tona e ocupou os principais espaços dos periódicos aqui em
estudo. Percebe-se que o escândalo da JBS oscilou quanto ao grau
de visibilidade nas semanas seguintes, apresentando alguns picos
Francisco Paulo Jamil Marques, Deivison Henrique de F. Santos, Camila Mont’Alverne &
Paulo Ferracioli18
vinculados a acontecimentos importantes na esfera político-insti-
tucional, a exemplo da apresentação da segunda denúncia contra
Temer às vésperas da saída de Rodrigo Janot da Procuradoria-Geral
da República, em 14 de setembro – semanas 17 e 18 (NETTO;
RAMALHO; MATOSO, 2017).
A investigação sobre o conteúdo dos textos editoriais que fazem
parte do corpus começa por detalhar os agentes mais frequente-
mente mencionados nas peças opinativas (Tabela 1) – tendo em
vista as distinções existentes entre os periódicos, identificadas
através dos testes de diferença de médias. Vale destacar que a quan-
tidade de menções apresentada nas tabelas se refere a quantos textos
mencionaram o agente ou instituição. Ou seja, mesmo que o agente
(ou instituição) tenha sido mencionado mais de uma vez no mesmo
texto, será contado como apenas uma menção, dado que a unidade
de análise é o editorial.
Tabela 1 – Agentes mencionados pelos editoriais
Agentes FSP OESP
NX² RP NX² RP
Delatores da JBS 33 1,340 -0,4 48 1,340 0,4
Presidente Michel Temer 42 5,613* 0,7 44 5,613* -0,6
Integrantes do MPF 10 16,279*** -2,3 36 16,279*** 2,0
Políticos da situação 28 1,987 0,7 28 1,987 -0,6
Políticos de oposição 20 0,097 0,2 24 0,097 -0,2
Integrantes do sistema de Justiça 91,164 -0,7 17 1,164 0,6
Outros delatores 42,689 -1,1 12 2,689 1,0
Outros agentes 80,137 -0,2 12 0,137 0,2
Profissionais da imprensa 20,029 -0,1 30,029 0,1
Fonte: dados da pesquisa.
Elaboração própria.
*p<0,05 | ***p<0,001
A atuação do jornalismo editorial no escândalo JBS:
uma análise comparativa sobre os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo 19
Os dados indicam diferenças nas ênfases que os jornais conferem
ao escândalo: o agente mais mencionado na FSP é o ex-presidente
Michel Temer, enquanto, em OESP, são os delatores da JBS – ainda
que tais diferenças não sejam signicativas, especialmente ao consi-
derar os testes estatísticos sobre a presença de menção às categorias.
Ao mesmo tempo, mostra-se persistente, nos editoriais de OESP, as
críticas aos irmãos Joesley e Wesley Batista, recorrentemente carac-
terizados pela referida empresa jornalística como “criminosos”.9
Ademais, OESP se preocupa em criticar, continuamente, a
atuação do Ministério Público Federal (MPF) – colocando em
dúvida a legalidade dos atos ociais da instituição e criticando o
que considera ímpeto persecutório dos procuradores, conforme
será possível observar nas próximas tabelas. A FSP, por sua vez,
menciona bem menos os integrantes do MPF, preferindo dar centra-
lidade ao papel do chefe do Poder Executivo federal no escândalo.
Nesse sentido, os resultados do teste do qui-quadrado (X²) e dos
resíduos padronizados (RP) (Tabela 1) corroboram a ideia de que
a cobertura dos dois periódicos apresenta diferenças em certos
aspectos. Enquanto os integrantes do MPF apareceram menos que
o esperado na FSP (-2,3), eles foram mais citados que o esperado
por OESP (2,0).
No caso das instituições citadas nos editoriais (Tabela 2), veri-
ca-se que as duas publicações privilegiam órgãos do Poder Execu-
tivo. Também é regular a disposição, por parte dos periódicos aqui
estudados, de citar a JBS.
9 Em editorial intitulado “Sem rumo”, o jornal afirma: “Ainda mais grave que a colaboração premiada foi
a reação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, diante dos questionamentos a respeito
da lisura e da conveniência de uma delação tão benéfica a um criminoso da laia do sr. Joesley.” – O
Estado de S. Paulo, 24 de maio de 2017, p. A3.
Francisco Paulo Jamil Marques, Deivison Henrique de F. Santos, Camila Mont’Alverne &
Paulo Ferracioli20
Tabela 2 – Instituições mencionadas pelos editoriais
Instituições FSP OESP
NX² RP NX² RP
Órgãos do Poder Executivo 38 9,972** 1,3 32 9,972** -1,2
JBS 37 6,591* 1,1 34 6,591* -0,9
Partidos da Situação 32 35,048*** 3,5 835,048*** -3,1
Órgãos do Poder Legislativo 21 2,064 0,8 19 2,064 -0,7
Órgãos do Poder Judiciário 18 2,335 -0,8 32 2,335 0,7
Ministério Público Federal 18 4,948* -1,2 36 4,948* 1,0
Partidos da Oposição 16 4,504* 1,4 10 4,504* -1,2
Órgãos de imprensa 72,683 -1,1 17 2,683 0,9
Polícia Federal 64,443* -1,4 18 4,443* 1,2
Outras 51,191 -0,8 11 1,191 0,7
Fonte: dados da pesquisa.
Elaboração própria.
*p<0,05 | **p<0,01 | ***p<0,001
Porém, OESP se diferencia da FSP por se dirigir mais vezes
ao Judiciário, ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal,
embora o resultado dos resíduos padronizados não permita armar
que a diferença de menção às categorias entre as publicações seja
signicante – em boa parte das oportunidades, a intenção do jornal
é criticar o rumo das investigações. Já a FSP menciona signica-
tivamente mais que o esperado os partidos políticos da situação
(3,5). Dessa forma, OESP parece se importar menos com o fato
de que as denúncias envolveram agentes liados às agremiações
que integravam o condomínio governista – tanto que os resíduos
padronizados indicam uma tendência a citar menos tais partidos
que o esperado (-3,1).
A avaliação dos “juízos de valor” mais frequentes nos editoriais
permite compreender como cada instituição jornalística se posi-
cionou ao longo do escândalo. A primeira categoria contempla,
A atuação do jornalismo editorial no escândalo JBS:
uma análise comparativa sobre os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo 21
especificamente, a avaliação que OESP e FSP fazem acerca da
postura de Michel Temer, que, em geral, guarda semelhanças.
As peças publicadas em OESP insistem na ideia de que os áudios
não possibilitam asseverar que o Presidente tenha cometido irre-
gularidade – OESP, aliás, levanta suspeitas sobre a validade legal
das gravações, alegando que elas não passaram por perícia antes de
virem a público10. A categoria “O presidente adotou uma conduta
criminosa ou suspeita” é a única com diferenças signicativas entre
os periódicos. A FSP defende que Temer adotou conduta suspeita
ou criminosa – mas o jornal evita armar que o então presidente
era culpado. A diferença entre os dois periódicos ca evidente ao
serem considerados os resultados dos resíduos padronizados, com
a FSP apresentando mais editoriais atribuindo crime ou suspeita à
conduta de Temer (RP = 3,3), enquanto OESP o aciona menos que
o esperado (RP = -2,9)11.
A diferença no posicionamento das duas empresas também é
vericável quando elas avaliam a atuação das instituições envol-
vidas no escândalo (Tabela 3).
10 Em editorial intitulado “A delação que é um escândalo” o jornal indaga: “Em primeiro lugar, causa
escândalo o fato de que a principal notícia vazada na noite de quarta-feira passada não foi confirmada
e, mesmo assim, o Ministério Público Federal (MPF) não fez qualquer retificação. [...] Ainda que a
conversa apresentada seja bastante constrangedora para o presidente Michel Temer, [...] das palavras
ouvidas não se comprova a alegada anuência presidencial. Ou seja, aquilo que tanto rebuliço vem
causando na vida política e econômica do País [...] não foi comprovado e, pelo jeito, não o será,
pelo simples fato de não existir.” O Estado de S. Paulo, 23 de maio de 2017, p. A3.
11 X²: 22,839 | Sig: 0,000.
Francisco Paulo Jamil Marques, Deivison Henrique de F. Santos, Camila Mont’Alverne &
Paulo Ferracioli22
Tabela 3 – Avaliação sobre o desempenho de instituições relacionadas ao escândalo ou
à cobertura
Avaliações sobre atuação de instituições envolvidas no escândalo
FSP OESP
NX² RP NX² RP
Crítica a órgãos do Poder Executivo 21 15,323*** 2,5 715,323*** -2,2
Crítica a órgãos do Poder Legislativo 84,221 1,5 34,221 -1,3
Crítica a órgãos do Poder Judiciário 21,847 -1,0 71,847 0,9
Crítica ao Ministério Público Federal 12 19,660*** -2,3 41 19,660*** 2,0
Crítica à JBS 11 4,574* -1,3 26 4,574* 1,1
Outras 04,077 -1,5 54,077 1,3
Fonte: dados da pesquisa.
Elaboração própria.
*p<0,05 | ***p<0,001
O Ministério Público Federal é o maior alvo de críticas por
parte de OESP, seguido pela JBS. O Poder Executivo, por mais que
estivesse sob liderança do então presidente Temer, pouco é criticado
por OESP. Já a FSP, não obstante também fazer ressalvas ao papel do
MPF, escolhe Temer e os demais órgãos do Poder Executivo como
os principais alvos das críticas. Mais uma vez, os resíduos padroni-
zados fortalecem a diferença de posicionamento entre os jornais:
enquanto a FSP tende a criticar mais que o esperado a atuação do
Poder Executivo (2,5) e menos a do MPF (-2,3), OESP apresenta o
padrão inverso (-2,2 e 2,0, respectivamente).
Outro aspecto analisado se refere aos juízos que os editoriais
zeram acerca das consequências do escândalo. Pode-se dizer que
FSP e OESP convergem ao especular sobre o que deve ocorrer
a partir do escândalo: ambos apontam (e, em certa medida,
lamentam) a instabilidade política e os riscos que a divulgação
das gravações traria para a recuperação econômica do país, mas,
segundo os resíduos padronizados relativo à presença de menções, a
FSP registra tendência a armar que não haveria grandes mudanças
A atuação do jornalismo editorial no escândalo JBS:
uma análise comparativa sobre os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo 23
no cenário (RP = 2,1), o que não é acompanhado por OESP, que não
traz editoriais que se enquadrem na categoria12.
No que diz respeito às saídas para a crise pós-escândalo, FSP e OESP
convergem sobre a necessidade de preservar a agenda de reformas
proposta pelo governo Temer. Ao mesmo tempo, a FSP diagnostica
certa imprevisibilidade no cenário político dada a quantidade de turbu-
lências trazidas pelo escândalo – indicando, em 12 ocasiões, a categoria
“saída incerta”. Há diferenças entre os dois periódicos, todavia, no que diz
respeito ao prosseguimento das investigações: enquanto a FSP defende
uma avaliação cuidadosa das denúncias contra Temer (inclusive apresen-
tando mais esta saída que o esperado (RP = 2,1)), OESP pouco destaca o
prosseguimento das investigações como algo relevante13.
Por m, ao analisar os temas centrais dos textos de opinião, única
variável não-dicotômica da pesquisa, percebem-se algumas ênfases
distintas entre os jornais, ainda que as diferenças não sejam signi-
cativas (Tabela 4). Enquanto os editoriais da FSP privilegiam uma
abordagem política, OESP concentra-se em uma abordagem jurídica
do escândalo – novamente, o objetivo desta última publicação é apro-
veitar o espaço opinativo para criticar os agentes responsáveis pelas
investigações contra o então presidente Michel Temer.
Tabela 4 – Tema central dos editoriais
Tema central
FSP OESP
NRP NRP
Abordagem jurídica 10 -1,9 32 1,7
Abordagem política 25 1,8 15 -1,6
Abordagem econômica 10 0,3 11 -0,2
Total 45 -58 -
Fonte: dados da pesquisa.
Elaboração própria.
X² 12,632 | p<0,01.
12 X²: 8,212 | Sig: 0,006.
13 X²: 8,677 | Sig: 0,004.
Francisco Paulo Jamil Marques, Deivison Henrique de F. Santos, Camila Mont’Alverne &
Paulo Ferracioli24
A FSP confere a mesma importância às questões econômicas e
jurídicas que envolvem o escândalo. Os dados, assim, evidenciam
que o referido jornal está mais preocupado em avaliar os desdobra-
mentos do escândalo no que diz respeito a seus impactos políticos. Já
OESP questiona, de modo recorrente, os procedimentos jurídicos e
a validade das provas apresentadas pelo MPF, reetindo em medida
sensivelmente menor sobre os aspectos políticos e econômicos
do caso – o que surpreende, dada a importância que o periódico
costuma conferir a essa última dimensão (GUERREIRO NETO,
2016). Deve-se ressaltar, porém, que o resultado dos resíduos
padronizados não permite identicar tendências signicativas em
relação às temáticas mobilizadas.
Ao analisar os resultados sob o ponto de vista da teoria do
enquadramento, é nítido que os dois jornais optaram por utilizar
os editoriais com o objetivo de oferecer interpretações diferentes
acerca do escândalo. O enquadramento privilegiado pela FSP foi
de natureza política, ou seja, enfatizando-se a atuação do chefe do
Poder Executivo. Já o quadro apresentado por OESP privilegiou
as discussões jurídicas, em tom de forte crítica ao desempenho do
Ministério Público e ao papel do empresário beneciário da delação
premiada. Revela-se, em outras palavras, que a ideia de enquadra-
mento se mostra útil para compreender a dinâmica de construção
dos posicionamentos institucionais das empresas jornalísticas: não
obstante FSP e OESP tratarem da mesma agenda temática – o escân-
dalo gerado a partir da revelação dos áudios –, o modo pelo qual o
assunto é tratado junto à audiência se mostra díspar. A próxima
seção discute os resultados apresentados com base na literatura
pertinente da área de comunicação e política.
Discussão e considerações nais
O objetivo deste trabalho foi analisar de que maneira os edito-
riais jornalísticos de FSP e OESP se posicionaram acerca do escân-
dalo da JBS. A pesquisa sobre jornalismo editorial se mostra rele-
vante não apenas em virtude da inuência que tais textos exercem
sobre a opinião pública e sobre as elites políticas e econômicas
A atuação do jornalismo editorial no escândalo JBS:
uma análise comparativa sobre os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo 25
(DALTON; BECK; HUCKFELDT, 1998; DRUCKMAN; PARKIN,
2005; ERIKSON, 1976; KAHN; KENNEY, 2002; MUNDIM, 2012;
ROBINSON, 1972) – colaborando para o processo de construção de
imagem de instituições e agentes políticos (DRUCKMAN; PARKIN,
2005; SILVA, 2009) –, mas também porque os alinhamentos entre
imprensa e poder econômico têm sido uma marca da trajetória do
jornalismo brasileiro (ALBUQUERQUE, 2019; WAISBORD, 2000).
É possível armar, a partir da análise dos dados, que os perió-
dicos examinados adotaram posturas diferentes ao avaliarem o
escândalo. Enquanto a FSP se mostra mais crítica em relação à
conduta do ex-presidente Temer e dos órgãos do Poder Executivo,
OESP adota uma posição mais refratária às instituições envol-
vidas no processo de investigação, a exemplo do Ministério Público
Federal.
Mais exatamente, ao se observar o “tema central” e os “juízos de
valor” defendidos pelas instituições jornalísticas sobre o escândalo,
as descobertas apontam para escolhas editoriais distintas: enquanto
FSP repreendeu a conduta de Temer, OESP se debruçou sobre uma
possível má atuação do Ministério Público.
O fato de OESP conferir um enfoque jurídico ao assunto está
atrelado às críticas que o jornal fez à atuação do Ministério Público
Federal, acusando-o de ter motivação política e de patrocinar uma
cruzada contra os agentes representativos, sem se importar com
as consequências disso para o país. OESP também não considera
que os áudios divulgados comprovem que Michel Temer cometeu
irregularidades – as críticas do jornal ao ex-presidente são apenas
pontuais. A partir de certo momento da cobertura, os editoriais
parecem ignorar que Temer esteve envolvido no escândalo e, por
vezes, sequer mencionam o mandatário, abordando o caso JBS
apenas por meio da relação de cooperação entre os empresários e
os membros do Ministério Público. Já a FSP privilegiou a dimensão
política do escândalo, considerando que o comportamento de
Temer foi, no mínimo, suspeito. Isso não signica que o jornal não
critique o Ministério Público Federal ou a JBS, mas o faz em menor
medida que o concorrente.
Francisco Paulo Jamil Marques, Deivison Henrique de F. Santos, Camila Mont’Alverne &
Paulo Ferracioli26
Assim, em paralelo aos julgamentos morais previstos por Entman
(1993), os editoriais da FSP adotaram uma avaliação clara sobre a
atuação do então presidente Temer, condenando como, no mínimo,
suspeito o comportamento do mandatário. Esse mesmo julgamento
se mostrou praticamente ausente nos textos de OESP.
É preciso reconhecer, contudo, que as duas publicações também
compartilharam certos padrões de posicionamento: ao avaliar os
agentes e as instituições mencionadas, não há diferenças signica-
tivas entre quem são os agentes aos quais os periódicos se dirigem.
Isso significa que existe uma tendência de que os jornais reco-
nheçam as mesmas autoridades como legítimas para estabelecer
alguma interlocução, seja para defendê-los, seja para criticá-los
– com exceção do MPF.
Também é agenda comum aos dois periódicos a defesa das
reformas econômicas propostas pelo governo vigente à época. O
receio amplamente indicado nas peças opinativas das duas empresas
refere-se à possibilidade de que a instabilidade política impedisse
o andamento das reformas no âmbito do Congresso. Em outras
palavras, as saídas para a situação também podem ser analisadas a
partir da perspectiva dos enquadramentos, seguindo-se a concei-
tuação de Entman (1993). Ambos os jornais enfatizaram que as
reformas deveriam ser preservadas. Esse resultado é semelhante
ao encontrado por Müller e Dornelles (2017), quando estudaram a
cobertura editorial do escândalo da JBS na FSP e em OG. As autoras
também diagnosticam propostas de saídas distintas por parte dos
dois periódicos, mas percebem haver uma convergência acerca da
necessidade de manter a agenda liberal.
Em resumo, os posicionamentos editoriais demonstram como
as empresas jornalísticas podem enquadrar o escândalo de modos
distintos, aproximando-se das categorias propostas inicialmente
por ompson (2002): irregularidades nanceiras e irregularidades
ligadas ao exercício do poder político. Ao privilegiar um quadro
voltado a criticar a atuação do Ministério Público – que, na opinião
do jornal, estaria em conluio com o delator para enfraquecer o presi-
dente –, OESP deu preferência a um tratamento jurídico do tema.
A atuação do jornalismo editorial no escândalo JBS:
uma análise comparativa sobre os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo 27
A FSP, ao contrário, enfatizou, em boa parte das peças opinativas, o
aspecto nanceiro do escândalo, posicionando-se sobre a promis-
cuidade das relações entre elites empresariais e elites políticas – algo
já destacado na literatura da área (HARMER; STANYER, 2015).
Ainda que tais conclusões já pudessem ser presumidas por
aqueles que acompanham com regularidade o cenário político
brasileiro, essa investigação comprovou, por meio de análise que
obedeceu a regras replicáveis e vericáveis, portanto, cientícas,
qual havia sido o padrão de cobertura editorial adotado pelas insti-
tuições jornalísticas em tela.
A este ponto, chama atenção o fato de que nenhum dos dois
periódicos tenha especulado, em seus editoriais, sobre a saída de
Michel Temer do cargo (seja por renúncia, seja por impeachment)
como solução para a crise. Essa constatação evidencia a dife-
rença de tratamento dispensado pelos mesmos jornais no que se
refere à cobertura que zeram do impeachment de Dilma Rousse
(MARQUES; MONT’ALVERNE; MITOZO, 2019), quando defen-
deram o afastamento da então presidente. Em outras palavras, as
duas empresas jornalísticas ainda enxergavam Temer como ator
capaz de entregar as reformas que estavam na agenda de interesses
de FSP e OESP. É possível, portanto, que a cautela em evitar posicio-
nar-se a favor da saída de Temer tenha ocorrido não em função de
haver um alinhamento ideológico com tal agente político, mas pela
sintonia pragmática que as publicações mantinham com a agenda
econômica por ele encampada.
Ainda no que concerne às posturas editoriais de FSP e OESP
nesse episódio e em crises políticas anteriores, ressalte-se que tem
sido recorrente a análise que as empresas fazem de acontecimentos
políticos por meio de uma lente que privilegia aspectos econô-
micos. No caso do impeachment de Dilma Rousse, as justicativas
elencadas pelas duas instituições jornalísticas para sustentar o apoio
à deposição da então mandatária não se ancoraram na dimensão
jurídica dos crimes dos quais ela estava sendo acusada (MARQUES;
MONT’ALVERNE; MITOZO, 2019), e sim em lógicas mais dire-
tamente vinculadas ao desempenho econômico do país naquela
Francisco Paulo Jamil Marques, Deivison Henrique de F. Santos, Camila Mont’Alverne &
Paulo Ferracioli28
época (PIMENTEL, 2019). Tais resultados indicam certa tolerância
das duas empresas jornalísticas ao exibilizar as regras do jogo
democrático a depender dos resultados econômicos viabilizados
pelo governante.
O artigo também se propôs a consolidar a análise de conteúdo
como ferramenta de investigação sujeita a critérios de conabili-
dade. A criação de livro de códigos e o respeito a índices de cona-
bilidade são passos importantes para as pesquisas em comunicação
política no Brasil (MARQUES; MIOLA, 2018), de modo que novas
investigações podem renar esse conhecimento e consolidar tais
práticas nessa área de pesquisa. Futuras investigações, ao proporem
um intervalo temporal maior e uma variedade mais ampla de publi-
cações, podem indicar em que medida os posicionamentos aqui
reportados se repetem na imprensa brasileira.
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RESUMO
Este artigo examina de que modo os jornais Folha de S. Paulo e O Estado
de S. Paulo se posicionaram editorialmente em relação ao escândalo das
gravações envolvendo o ex-presidente Michel Temer e o empresário
Joesley Batista. O corpus é composto por 103 editoriais publicados entre
maio e setembro de 2017 – período que compreende do dia posterior
à publicação dos áudios até o encerramento do mandato do então
Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. A Análise de Conteúdo
quantitativa e qualitativa aponta diferenças no modo como os periódicos
abordaram o escândalo: enquanto a FSP desconfia da conduta de Temer,
OESP critica recorrentemente o Ministério Público Federal. Os dois jornais,
porém, concordaram em preservar a agenda de reformas econômicas – o
que evidencia a relevância dos editoriais para caracterizar as empresas
jornalísticas como players do jogo político.
Palavras-chave: Jornalismo editorial. Jornalismo político. Editoriais.
Escândalo político. Michel Temer. JBS.
A atuação do jornalismo editorial no escândalo JBS:
uma análise comparativa sobre os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo 39
ABSTRACT
This article examines the editorial positions held by two mainstream
Brazilian newspapers – Folha de S. Paulo and O Estado de S. Paulo –
regarding the scandal involving the former president, Michel Temer and
the businessman, Joesley Batista. We examine 103 editorials published
between May and September 2017. The period begins the day after
the scandal arose to the end of the term of the then Attorney General,
Rodrigo Janot. Quantitative and qualitative content analysis indicates
differences in how the two newspapers addressed the scandal: while
FSP insisted on distrusting Temer’s behavior, OESP criticized the Federal
Public Prosecutor’s Office. Both news outlets, however, agreed that the
economic agenda had to be protected. This conclusion demonstrates the
relevance of editorials for characterizing newspaper companies as players
in the political game.
Keywords: Editorial journalism. Political journalism. Editorials. Political
scandals. Michel Temer. JBS.
RESUMEN
El objetivo del artículo es analizar las opiniones editoriales de los periódicos
Folha de S. Paulo y O Estado de S. Paulo acerca del escándalo implicando
al expresidente Michel Temer y al empresario Joesley Batista. El corpus
del análisis es constituido de 103 editoriales publicados entre mayo y
septiembre de 2017 – período que abarca desde el día posterior a la
publicación de los audios hasta el fin del mandato del Fiscal General del
Estado, Rodrigo Janot. El Análisis de Contenido cuantitativo y cualitativo
señala diferencias en cómo como los periódicos abordaron al escándalo:
mientras FSP desconfía de la conducta de Temer, OESP critica la actuación
del Ministerio Público Federal. Todavía, ambos los periódicos están de
acuerdo en la necesidad de proteger las reformas económicas – lo que
destaca la relevancia de los editoriales para caracterizar a las compañías
de periódicos como players en el juego político.
Palabras clave: Periodismo editorial. Periodismo político. Editoriales.
Escándalo político. Michel Temer. JBS.
Recebido em 26 de julho de 2019
Aprovado em 26 de junho de 2020