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MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ

Authors:
  • Instituto Juruá (IJ); Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); Universidade Federal do Amazonas (UFAM); Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Abstract and Figures

As mudanças climáticas – especialmente o aquecimento global – vêm sendo percebidas em diferentes escalas por todo o planeta, e são muitos os esforços para compreender a magnitude desses impactos. Após a criação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) pela ONU, em 1988, construiu-se um extenso arcabouço científico que elucida a relação entre mudanças no clima e atividades humanas. Hoje sabemos que o aquecimento global vem ocorrendo de forma substancial desde 1950 e que a influência humana nesse processo, sobretudo através da queima de combustível fóssil e desmatamento, é clara para a ampla maioria dos cientistas. A temperatura da atmosfera, do oceano e dos continentes tem aumentado, assim como o nível do mar e a concentração de gases de efeito estufa (GEE). Na Amazônia, os efeitos das mudanças no clima são bastante variáveis e podem impactar de forma considerável as comunidades humanas. Até o final do século XXI, prevê-se que a temperatura na região pode aumentar mais de 4 ºC e que as chuvas podem ser reduzidas em até 40%. Nesta pesquisa, o objetivo é gerar um panorama sobre tais impactos nos modos de vida tradicionais das comunidades amazônicas, especialmente do Médio Juruá e seu entorno, bem como gerar subsídios para aumentar a resiliência das cadeias produtivas. Essa bacia hidrográfica, composta por mais de 2 milhões de hectares repletos de lagoas, várzeas e rios interconectados, foi reconhecida em 2018 como Sítio Ramsar, passando a compor uma seleta lista de áreas úmidas de importância internacional. O título representa enorme responsabilidade e também uma oportunidade para ações de uso sustentável que garantam a biodiversidade e a qualidade de vida das populações que lá residem. No entanto, isso só é possível com a participação dos que vivem o dia a dia do Juruá, das organizações da sociedade civil e do poder público compromissados com a qualidade de vida de todos. Com este estudo, a SITAWI e os parceiros do Programa Território Médio Juruá – USAID, Natura, Coca-Cola Brasil e Fórum do Território Médio Juruá – também buscam estimular iniciativas de conservação da biodiversidade local e de desenvolvimento social, ambiental e econômico da região.
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MUDANÇAS CLIMÁTICAS
E SEUS IMPACTOS NA
SOCIOBIODIVERSIDADE
DO RIO JURUÁ
O estudo Mudanças climáticas e seus impactos na Socio-
biodiversidade do rio Juruá foi desenvolvido por João Vitor
Campos-Silva com a participação de André Braga Junquei-
ra, Guilherme G. Mazzochini, Alfredo L. Perez, Marcel Silva,
Mariana Estevo, Paulo C.M. Andrade e revisado por Roland
Widmer, Felipe J. Pires e Júlia Tavares sob coordenação da
SITAWI no âmbito do Programa Território Médio Juruá.
O programa é uma iniciativa de desenvolvimento territo-
rial focada no Médio Juruá, uma região de alta importância
biológica no estado do Amazonas, que tem como objetivo a
conservação da biodiversidade e a melhoria da qualidade de
vida das populações tradicionais e indígenas do território.
        
Brasil e possui como parceiros de implementação a Asso-
ciação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC), Asso-
ciação dos Moradores Agroxextrativistas da Reserva de De-
senvolvimento Sustentável Uacari (AMARU), Associação de
Moradores Extrativistas da Comunidade de São Raimundo
(AMECSARA), Associação de Mulheres Agroextrativistas do
Médio Juruá (ASMAMJ) e Fundação Amazonas Sustentável
(FAS). Como parceiros estratégicos, conta com o Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e
o Departamento de Mudanças Climáticas e Gestão de Uni-
dades de Conservação (DEMUC/SEMA).
COORDENAÇÃO: APOIO:
ÍNDICE
05
06
09
18
24
41
48
59
67
CONTEXTO
SUMÁRIO EXECUTIVO
SEÇÃO 1
A AMAZÔNIA NO CONTEXTO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS
SEÇÃO 2
A SOCIOBIODIVERSIDADE DO MÉDIO JURUÁ
SEÇÃO 3
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A PERCEPÇÃO DAS
POPULAÇÕES RIBEIRINHAS
SEÇÃO 4
OS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO MANEJO DE
RECURSOS AQUÁTICOS
SEÇÃO 5
ANÁLISE TEMPORAL DA DINÂMICA FLUVIAL DO RIO JURUÁ
SEÇÃO 6
RECOMENDAÇÕES PARA A MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
REFERÊNCIAS
CONTEXTO
As mudanças climáticas – especialmente o aquecimento global –
vêm sendo percebidas em diferentes escalas por todo o planeta,
e são muitos os esforços para compreender a magnitude desses
impactos. Após a criação do Painel Intergovernamental de Mu-
danças Climáticas (IPCC) pela ONU, em 1988, construiu-se um ex-

no clima e atividades humanas.
Hoje sabemos que o aquecimento global vem ocorrendo de forma

sobretudo através da queima de combustível fóssil e desmatamen-
to, é clara para a ampla maioria dos cientistas. A temperatura da at-
mosfera, do oceano e dos continentes tem aumentado, assim como
o nível do mar e a concentração de gases de efeito estufa (GEE). Na
Amazônia, os efeitos das mudanças no clima são bastante variáveis
e podem impactar de forma considerável as comunidades huma-

pode aumentar mais de 4 ºC e que as chuvas podem ser reduzidas
em até 40%.
Nesta pesquisa, o objetivo é gerar um panorama sobre tais impac-
tos nos modos de vida tradicionais das comunidades amazônicas,
especialmente do Médio Juruá e seu entorno, bem como gerar
subsídios para aumentar a resiliência das cadeias produtivas. Essa

repletos de lagoas, várzeas e rios interconectados, foi reconhecida
em 2018 como Sítio Ramsar, passando a compor uma seleta lista
de áreas úmidas de importância internacional. O título represen-
ta enorme responsabilidade e também uma oportunidade para
ações de uso sustentável que garantam a biodiversidade e a quali-
dade de vida das populações que lá residem. No entanto, isso só é
possível com a participação dos que vivem o dia a dia do Juruá, das
organizações da sociedade civil e do poder público compromissa-
dos com a qualidade de vida de todos.
Com este estudo, a SITAWI e os parceiros do Programa Território
Médio Juruá – USAID, Natura, Coca-Cola Brasil e Fórum do Terri-
tório Médio Juruá – também buscam estimular iniciativas de con-
servação da biodiversidade local e de desenvolvimento social,
ambiental e econômico da região.
Com o objetivo de investigar os im-
pactos das mudanças climáticas na
biodiversidade e seus efeitos nas po-
pulações tradicionais residentes no
território do Médio Juruá, este estu-
do utilizou entrevistas com a popula-
ção local, monitoramento pesqueiro,
monitoramento do nível de água, mo-
nitoramento de tabuleiros e sensoria-
mento remoto, bem como análise de
banco de dados e modelagem estatís-
tica para previsão de efeitos futuros.
Por meio de 240 entrevistas em 27
comunidades rurais, foram apontados
efeitos como aumento da sensação
térmica, maior frequência de chuvas
e de pequenas alagações, mudanças
 
de sementes de algumas espécies de
plantas, menor incidência de ventos
e maior incidência de eventos extre-
mos, como grandes alagações e gran-
des secas.
Os impactos desses eventos são di-
versos e foram analisados em maior
profundidade. Constatou-se, por
exemplo, que as grandes alagações
prejudicam a agricultura, a coleta de
andiroba e de muru-muru. Por outro
lado, contribuem com a pesca e a co-
leta de açaí e ucuuba. Já as alagações
pequenas prejudicam a pesca, os que-
SUMÁRIO EXECUTIVO
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
6
lônios e a coleta de ucuuba, porém
contribuem com a coleta de andiroba
e muru-muru. As grandes secas preju-
dicam as roças e a atividade pesquei-
ra, fundamentais para a subsistência
local.
No caso do manejo comunitário das
espécies mais emblemáticas para a
região, o estudo utilizou bancos de da-
dos oriundos do monitoramento parti-
cipativo de quase 40 anos no caso das
tartarugas e 12 anos no caso do piraru-
cu. Constatou-se que:
Nas grandes cheias, para cada metro
acima da média histórica há um au-
mento de 32% dos ninhos de tarta-
rugas. Nas secas extremas, há redu-
ção de 22,5%.
Secas extremas reduzem o número
de ninhos de tracajás em 14%. Po-
rém, para cada metro de cota acima
da média histórica na seca, há um au-
mento de 12% no número de ninhos.
A cada 1 metro acima da média his-
tórica, há um aumento de 26% no
número de pirarucus adultos. O
mesmo padrão acontece para os pi-
rarucus juvenis (bodecos), com um
aumento de cerca de 25% para cada
metro de cota acima da média histó-
rica. Em lagos protegidos, o aumen-
to é ainda maior, chegando a 42%.
Não detectamos, neste trabalho, ne-
nhum impacto das secas (extremas
ou não) na população de pirarucus.
A modelagem hidrológica do rio Juruá
também foi investigada, mostrando
que ele se comporta dentro da mé-
dia esperada para outras bacias hi-
    
de migração na paisagem de cerca de
0,73% ao ano e erosão anual de cerca
de 1,83 km². O acompanhamento des-
     
sazonais do rio, é fundamental para
entender os padrões migratórios e a
ecologia das espécies de peixes.
Considerando que diversos outros im-
pactos das mudanças climáticas no Mé-
dio Juruá são ainda imprevisíveis devi-
    
ambiental na região, este estudo des-
taca que o conhecimento tradicional
pode e deve ser levado em conta para
embasar estratégias adaptativas no
enfrentamento desses impactos.
Para contribuir com o aumento da re-
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
7
siliência das comunidades, o estudo aponta 7 recomenda-
ções, previamente discutidas com lideranças locais, que po-
dem ajudar a aumentar a escala e o impacto das iniciativas
de conservação e de desenvolvimento social, ambiental e
econômico da Amazônia. São elas:

Diagnóstico dos roçados.
Plano de expansão de novos roçados e recuperação de ca-
poeiras degradadas.
Monitoramento participativo da produção do roçado.
Plano de segurança alimentar.
Projeto arquitetônico, manual e curso de carpintaria.
Fundo emergencial para comunidades afetadas por desas-
tres climáticos.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
8
A AMAZÔNIA NO CONTEXTO DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
1
SEÇÃO
Uma vasta porção da Amazônia é for-
mada por ambientes alagáveis inse-
     
  
do nível máximo das águas dos rios
  
preta ou clara. O clima regional e local,
juntamente com as características da
-
tação e solos), regula a temperatura
da água e os regimes hidrológicos dos
ambientes amazônicos (Mulholland et

Os ambientes aquáticos exibem ciclos
sazonais, determinados principalmente
pelo vento e pela chuva, responsáveis
-

(Lowe-McConnell, 1999). O padrão anu-
al de variação no nível da água, chama-
do pulso de inundação (Junk, 1997), é
a principal força motriz da biodiversida-
de que compõe as várzeas.
Esse pulso de inundação sincroniza e
determina uma série de fenômenos
ecológicos, tais como a fenologia das
plantas, a mudança na dieta de peixes,
ungulados e primatas, a movimenta-
ção lateral de vertebrados terrestres
-
me. Portanto, trata-se de um dos me-
canismos ecológicos que mais afetam
atividades extrativistas como a pesca,
a caça de subsistência e a coleta de se-
mentes e frutos, entre outras.
Amazônia: importância na
regulação do clima local
e regional e projeções de
impactos
A Amazônia desempenha um papel
fundamental na regulação do clima
e na provisão de água em escala lo-
cal e regional. A umidade ali gerada
é transportada pelos ventos para ou-
    
regime de chuvas. O fenômeno, co-
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
9

água para o Sul do país e inclusive pos-
sibilita a agricultura nos moldes atuais.
-
des astronômicas de carbono que, se
liberados para a atmosfera via desma-
tamento, podem aumentar substan-
cialmente as mudanças do clima global

Na Amazônia, o aumento da tempera-
tura, observado de 1949 até 2017, va-
ria de 0,6 a 0,7 °C, sendo o ano de 2017
o mais quente desde meados do sécu-

modelagem computacional indica que,
       -
tura pode aumentar mais de 4 ºC e as
chuvas podem ser reduzidas em até

Esse aumento da temperatura pode
ter um impacto imensurável em toda
a ecologia da Floresta Amazônica, em
sua biodiversidade e nos modos de
vida das populações. As alterações no
regime de chuvas também levam ao
aumento de eventos extremos, como
grandes cheias e grandes secas.
Vale destacar que as tendências de
precipitação na Amazônia não são tão
claras, e as variações das chuvas ao
longo das últimas décadas mostraram
tendências opostas nas partes norte e
sul da bacia (Marengo et al. 2000). O
período de 1950 a 1976 foi regional-
mente úmido no norte da Amazônia,
e desde 1977 a região tem sido mais
seca (IPCC 2001), sugerindo o efeito
da variabilidade climática em longo
prazo. De fato, os efeitos das mudan-
ças climáticas podem mudar o status
  
sumidouro líquido de CO2 atmosférico
para uma fonte, o que contribuirá ain-
da mais para níveis perigosos de CO2
atmosférico (IPCC 2001).
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
10
Por que a situação da Amazônia em
relação às mudanças climáticas é crítica?
O desmatamento e o aumento da liberação de
gases de efeito estufa na atmosfera são exem-
plos de ações que contribuem drasticamente
para as mudanças climáticas regionais, levan-
do a Amazônia para um limiar crítico – chama-
do tipping point. Nesse limiar, uma mudança
pequena pode alterar substancialmente o es-
tado de um sistema (Nepstad et al. 2008). Isso
  
for desmatada, podemos observar sua trans-
formação em um ambiente mais seco e com
menos chuva. Já se o desmatamento chegar a
40%, por exemplo, modelos sugerem uma re-
dução de até 40% das chuvas. Esse fenômeno
é chamado de savanização da Amazônia.
Figura 1. A Floresta Amazônica funciona como uma bomba d’água, puxando a umidade
evaporada pelo oceano Atlântico para dentro do continente
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
11
ALERTA
VERMELHO!
Você sabia que mais de
20% da Amazônia já estão
desmatados?
ALGUNS IMPACTOS CONCRETOS:
- Secas de 2005, 2010 e 2015
- Grandes inundações de 2009, 2012 e 2014
E se o desmatamento
chegar a 40%?
PODE HAVER:
- Redução da produtividade das pastagens
entre 28 e 33%
- Redução da produção da soja entre 25% a
60%
- Redução na biodiversidade e maiores taxas
de extinção
Referência: Marengo & Souza Jr, 2018.
Impactos na ocorrência de
eventos extremos
Atualmente, as grandes secas e gran-
des cheias têm se tornado muito im-
previsíveis, gerando uma miríade de
impactos dos sistemas ecológicos e
    -
cados pela alta variabilidade climáti-
ca causada por variações da tempe-
ratura da superfície dos oceanos (El
Niño/La Niña), que potencializam as
ocorrências de seca e inundação na
Amazônia. A combinação entre uma
estação seca mais prolongada e uma
maior ocorrência de secas extremas
acarreta maior acúmulo de materiais
secos no solo e, consequentemen-
te, maior probabilidade de incêndios
   -
vel redução das chuvas pode causar
também a diminuição das áreas alaga-
das, provocando um rápido declínio
de suas espécies. Grandes cheias, por
sua vez, podem trazer prejuízos irre-
paráveis às comunidades rurais, como
destruição de infraestrutura e perdas
no roçado que garante a segurança
alimentar da população rural por toda
a Amazônia.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
12
Impactos nos sistemas
aquáticos
O rio Amazonas é o maior do mundo
      
anual de 209.000 m³, e desempenha
um papel importante no ciclo e balan-
ço hídrico de grande parte da América
do Sul. Mudanças no regime hídrico
podem afetar os habitats e o compor-
tamento de muitas espécies vegetais
e animais (Hare, 2003), impactando
não apenas o sistema ecológico, mas
também o sistema social, uma vez
que as comunidades humanas são for-
temente dependentes dos recursos
naturais.
Mudanças na precipitação total, nos
eventos extremos e na sazonalidade,
como explicado anteriormente, po-
dem afetar a quantidade, o tempo e a

também pode alterar a frequência e
intensidade de inundações repenti-
nas (Carpenter et al., 1992). Esse con-
junto integrado de mudanças pode
interferir no aporte de nutrientes e
detritos e na frequência e intensida-
de de secas e inundações das várzeas
(Mulholland et al., 1997; Meyer et al.
1999; Lake et al., 2000; Erwin, 2009).
Mudanças no regime hidrológico ain-

físico-químicas do solo, impactando
diretamente a biota dessas áreas úmi-

Kusler, 2000; Lake et al., 2000). Nas
várzeas, as mudanças no pulso de
inundação e a relação entre a água
e os sistemas terrestres adjacentes
podem afetar drasticamente a biodi-
versidade e a saúde do sistema, com
sérias consequências ecológicas e so-

2008).
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
13
Impactos na pesca
Dadas as dimensões continentais da
bacia Amazônica, o número de espé-
cies de peixes ainda é bastante su-
bestimado, mas poderia ultrapassar
3.200 espécies (Cleber et al. 2015).
Essas espécies desempenham um pa-
pel fundamental para as sociedades
humanas, altamente dependentes da
proteína advinda da pesca. Os peixes
também são muito importantes para
a manutenção da dinâmica ecológica
dos sistemas naturais e dos serviços
ecossistêmicos associados (Millen-
nium Ecosystem Assessment 2005),
garantindo o acesso a uma dieta de
qualidade. No entanto, as mudanças
climáticas, ainda que modestas, po-
dem comprometer fortemente a di-
nâmica reprodutiva dessas espécies
(Cushing, 1982).
Abaixo, destacamos os principais im-
pactos adversos das mudanças climá-
ticas para a manutenção do estoque
de peixes e, consequentemente, para
a vida das pessoas que dependem
desses recursos.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
14
Peixes em risco
Referência: Carpenter et al. 1992; Cetra & Petrere Jr, 2001; Pitchford et al., 2012; Po et al., 2002; Runo, 2004; Marengo & Nobre, 2001; Burkett & Kusler, 2000; Po,
2002; Döll & Zhang, 2010; Zuanon, 2008.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
15
AMAZÔNIA: OUTRAS AMEAÇAS
São reconhecidos quatro principais fatores de degradação do ecossistema de
água doce da Amazônia: desmatamento, construção de barragens e cursos de
água navegáveis, poluição e sobrepesca. Esses distúrbios também geram efei-
tos negativos nas comunidades de peixes (Petrere et al., 2004; Castello et al.,
2013; Pelicice et al., 2014) e podem potencializar ainda mais os impactos das
mudanças climáticas.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
16
Impacto na conservação e
manejo dos quelônios
Outra atividade que pode ser severa-
mente impactada pelos eventos ex-
tremos é o manejo comunitário dos
quelônios. Durante as épocas de seca,
quando o nível das águas é mínimo, as
tartarugas, iaçás e tracajás desovam
nas areias das praias emergentes, lo-
calmente chamadas de tabuleiros.
Como a temperatura regula o desen-
volvimento dos ovos e a distribuição
de machos e fêmeas (Wyneken et al.,
2010), uma pequena mudança no cli-
ma pode alterar essa proporção, cau-
sando um grande impacto nas taxas

por ano. Entre as várias abordagens
existentes para investigar esses efei-
tos, Bour (2008) avaliou o impacto na
distribuição das espécies e Buhlmann
et al. (2009) ampliaram esse estudo
    
prioridade de conservação.
TARTARUGAS: VALOR CULTURAL E
ALIMENTÍCIO
Diversos quelônios, sobretudo a tartaruga (Podcnemis expansa), vêm
sendo explorados desde épocas pré-colombianas, consolidando-se como
uma importantíssima fonte proteica para as sociedades ribeirinhas e
ameríndias. Além da carne, os ovos possuem um valor nutricional impres-
sionante e são consumidos pela população geralmente acompanhados
de farinha e açúcar, compondo o chamado arabú - equivalente a gemada.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
17
Rio de água branca, o Juruá é um dos
    
Reúne uma altíssima biodiversidade e,
sob suas margens, abriga milhares de
famílias em centenas de comunidades
rurais.
Oprimidas pela pobreza gerada pelo
extrativismo da borracha no último
século – bem como pela falta de apoio
governamental e por constantes ame-
aças dos chamados barões da borra-
cha -, a população ribeirinha se reorga-
nizou para a criação de duas reservas
de uso sustentável: a Reserva de De-
senvolvimento Sustentável (RDS) de


Figura 2. Rio Juruá com as comunidades rurais representadas pelos círculos laranjas. As reservas
são representadas pelos polígonos verdes.
A SOCIOBIODIVERSIDADE DO
MÉDIO JURUÁ
2
SEÇÃO
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
18
RESEX DO MÉDIO JURUÁ
Ano de criação: 1997
Dimensão: 253.227 hectares
Onde? Margem esquerda do Rio Juruá, dentro dos limites da
cidade de Carauari, Amazonas.
Vegetação: 

baixas.
População: 700 pessoas em 13 comunidades
Ano de criação: 2005
Dimensão: 632.949 hectares
Onde? Nas proximidades da Terra Indígena Rio Biá e a Re-
serva de Desenvolvimento Sustentável Cujubim, formando
um mosaico de áreas protegidas com quase 4,5 milhões de
hectares.
População: 1.200 pessoas em 32 comunidades
 
RDS DE UACARI
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
19
A proteção comunitária dos
tabuleiros de quelônios no rio
Juruá
No Médio Juruá, a proteção dos tabu-
leiros de desova se iniciou ainda nos
tempos dos barões da borracha, que
protegiam a praia para obter o recur-
so em abundância. Hoje ele ocorre de
forma organizada em 18 praias pro-
tegidas dentro das duas Unidades de
Conservação acima mencionadas.
Um dos destaques voltados à prote-
ção dos tabuleiros é o programa Que-
lônios da Amazônia (PQA), lançado
pelo governo brasileiro da década de
1970. Além de mapear grandes po-
pulações reprodutivas de tartarugas,
a iniciativa consiste em proteger as
praias para impedir a caça das fêmeas
e a coleta de ovos durante a estação
reprodutiva das tartarugas. As pró-
prias comunidades locais são respon-
sáveis por essa vigilância: ainda que
os monitores das praias não recebam
    -
tos ou autodefesa, eles geralmente
protegem as praias portando armas
de fogo e enfrentando caçadores fur-
tivos diretamente. Assim, buscam en-
frentar o incansável comércio ilegal
de quelônios na região.
Atualmente, existem cerca de 390 ta-
buleiros protegidos para a conserva-
ção de quelônios em toda a Amazônia
brasileira, incluindo tracajás e iaçás.
As áreas protegidas - mantidas por
uma parceria entre comunidades lo-
cais e associações comunitárias, agên-
cias governamentais e universidades,
Figura 3. Tartaruga da Amazônia (Podocnemis
expansa) em praia de desova
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
20
abrigam 207 iniciativas, enquanto 184
são distribuídas fora das reservas for-
mais, sob a proteção informal das co-
munidades locais.
Após 40 anos de proteção, nas 14
praias analisadas no Médio Juruá o
      
praia aumentou 11,4 e 9,7 vezes, res-
pectivamente. Isso equivale à prote-
-
tes ao longo desse período. As praias
resguardadas pelas comunidades lo-
cais não protegem apenas tartarugas,
mas também uma série de outros gru-
pos taxonômicos. Elas hospedam, por
exemplo, 80% da população de aves
migratórias que vêm para o rio Juruá. Figura 4. Tabuleiros de desova de quelônios protegidos na Amazônia brasileira
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
21
O manejo comunitário do
pirarucu
O pirarucu (Arapaima gigas) é o maior
peixe de escamas do mundo, podendo
atingir mais de 200 kg e cerca de 3 me-
tros de comprimento. Devido ao alto
valor nutricional de sua carne, alinhado
ao alto valor cultural de sua pesca, o pi-
rarucu chegou a ser extinto em muitas

Na tentativa de recuperar as popula-
ções da espécie e gerar renda para as
comunidades locais, há cerca de 20
anos uma iniciativa se tornou sucesso
na região. Uma parceria entre pescado-
res, governo e pesquisadores do Insti-
tuto Mamirauá deu início aos acordos
de pesca, com categorização dos lagos
de acordo com seu nível de exploração.
Figura 5. Pirarucu oriundo de família de manejadores
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
22
Ordenamento pesqueiro
A proteção dos ambientes aquáticos, conferida pelas comunidades rurais, vem induzindo a recuperação dos
estoques de pirarucus, que cresceram cerca de 425% nos últimos 11 anos. Veja como funciona a iniciativa:
Referência: Campos-Silva et al 2019.
Aberto ou de
livre acesso
Acesso
 Permitida 9 indivíduos
Protegido
Subsistência Manutenção das
comunidades
Permitida apenas
a moradores 34 indivíduos
Reprodução das
espécies
Proibida ou permitida
uma vez ao ano 505 indivíduos
CATEGORIA
DO LAGO
MÉDIA
POPULACIONAL
DO PIRARUCU
OBJETIVO PESCA
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
23
Populações locais, devido ao seu empiris-
mo inerente, possuem uma compreensão
bastante detalhada dos processos que
moldam a dinâmica ecológica dos recursos
naturais. Assim, são capazes de perceber
nuances na dinâmica de espécies após os
eventos extremos, ajudando a desvendar
questões importantes que ainda não po-
dem ser respondidas com dados científicos
sistematicamente coletados.
Para acessar a percepção das comunidades
locais do Médio Juruá em relação aos fe-
nômenos climáticos e seus impactos, este
estudo realizou cerca de 300 entrevistas
semiestruturadas. As atividades incluíram:
Construção de modelos mentais,
em que moradores experientes
reportaram suas percepções so-
bre as mudanças climáticas nos úl-
timos 40 anos e seus impactos sob
recursos naturais.
Modelagem dos efeitos dos even-
tos extremos nas principais ca-
deias produtivas do Médio Juruá.
Entrevistas com moradores para
acesso à percepção local em rela-
ção a temas relacionados às mu-
danças climáticas.
Modelos mentais
Modelos mentais têm sido utilizados de
  -
mento ecológico local (Biggs et al 2011).
Para estruturar os modelos, foram en-
trevistadas 70 pessoas experientes nas
práticas que compõem o extrativismo
local, residentes nas comunidades do
Pupuaí, Roque, Fortuna, Bauana, Nova

do Médio Juruá, Toari, Mandioca, Vila
    
Boa Vista na RDS de Uacari. Fora das re-
servas foram entrevistados residentes
da comunidade Lago Serrado.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A PERCEPÇÃO
DAS POPULAÇÕES RIBEIRINHAS
3
SEÇÃO
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
24
As entrevistas foram constituídas de
perguntas abertas sobre os efeitos
gerais das mudanças climáticas e efei-
tos de eventos extremos (grandes
cheias, cheias pequenas e grandes
secas) nos recursos naturais e cadeias
produtivas. As informações coletadas
    

os impactos esperados dos eventos
extremos em diferentes cadeias e a
direção desse efeito.
ATIVIDADE
ECONÔMICA EVENTO EXTREMO PREJUÍZO
Coleta de açaí
Grandes cheias Não
Cheias pequenas Não
Grandes secas Não
Pesca
Grandes cheias Não
Cheias pequenas Sim
Grandes secas Não
Tabela 1. Exemplo do questionário utilizado em campo para investigar o impacto dos eventos
extremos nas cadeias produtivas locais.
Percepção local
Para acessar a percepção local foram realizadas 240 entrevistas com moradores de 22
comunidades rurais. Perguntou-se idade, que tipo de atividade econômica desenvolve
e se já teve algum prejuízo em decorrência de eventos extremos.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
25
Vale mencionar que, além das gran-
des secas e cheias, para essas pesso-
as a cheia pequena também é consi-
derada um evento extremo, uma vez
que pode trazer impactos na dinâmica
ecológica. A forma de resposta e pre-
enchimento do questionário segue o
exemplo apresentado na tabela 1.
Posteriormente, para avaliar o grau
de concordância dos moradores acer-
ca de algumas temáticas levantadas
nos modelos mentais, perguntamos
qual o nível de concordância do entre-

1. Alagação grande prejudica muito
a minha vida.
2.    
de peixe no ano seguinte.
3.    
vai faltar peixe.
4. Alagação grande prejudica o roça-
do.
5. Alagação grande aumenta a pro-
dução de ucuuba.
6. Alagação grande aumenta a pro-
dução de andiroba.
7. Alagação grande aumenta a pro-
dução de açaí.
8. A temperatura de minha comuni-
dade tem aumentado nos últimos
anos.
9. Alagação pequena faz com que
menos tartarugas saiam para de-
sovar nos tabuleiros.
10. A temperatura da minha comuni-
dade e do mundo tem aumentado
nos últimos anos.
As respostas foram coletadas na for-

6, representada abaixo:
DISCORDO
TOTALMENTE
CONCORDO
TOTALMENTE
DISCORDO NEUTRO CONCORDO
Figura 6. Exemplo de escala Likert, que vai da discordância total até a concordância total.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
26
Resultados das entrevistas
Após as entrevistas semiestruturadas,
uma série de mudanças que ocorreram
nos sistemas naturais nos últimos 20
anos e seus respectivos impactos pude-
ram ser compiladas. São elas:
1. Aumento da temperatura nas últi-
mas décadas
Dentre os impactos associados, estão
o menor tempo dedicado ao roçado e a
    
do aumento na mortalidade de árvores e

as altas temperaturas também impactam
o bem-estar local, causando mais dores
de cabeça e fadiga na população.
2. Aumento da temperatura de lagos
e rios
O fenômeno é acompanhado de con-
sequente redução da biomassa de
peixes. Isso pode ser resultado do de-
créscimo de oxigênio da água ou da
migração, pois possivelmente os pei-
xes podem ir buscar outros refúgios
com condições mais adequadas.
3. Aumento das chuvas
Esse fato é amplamente observado
sobretudo no verão. Seu principal
impacto associado é a mudança na di-
nâmica do roçado, pois a chuva nessa
estação atrapalha a plantação e con-
tribui com o apodrecimento da produ-
ção.
4. Mudançasnafruticaçãode
espécies
Um exemplo emblemático dessa al-
COMO É FEITA UMA
ANÁLISE POR MEIO DA
PERCEPÇÃO LOCAL?
Neste estudo, utilizamos modelos
lineares generalizados (GLM), nos
quais a variável resposta foi biná-
ria, oriunda da presença ou não de
prejuízo diante do evento extremo.
Como variáveis explicativas, foram
utilizadas a atividade econômica
em si, a idade da pessoa e o even-

foi realizada a seleção de modelos
utilizando a média da estimativa dos
modelos mais parcimoniosos. Dessa
forma foi possível calcular o efei-
to de cada variável explicativa em
nossa variável resposta. As análises
estatísticas seguiram todas as reco-
mendações presentes no trabalho
-
das no software R.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
27
teração é a andiroba, importante re-
curso para as cadeias produtivas no
Médio Juruá.
5. Aumento da seca do rio no verão
O fenômeno prejudica o transporte
de forma geral, incluindo o escoa-
mento e a aquisição de suprimentos.
6. Imprevisibilidade dos fenômenos
naturais
Com o aumento da imprevisibilidade
de fenômenos orquestrados pelo re-
gime de chuvas, friagens e subida das
águas, as cadeias produtivas acabam
sendo afetadas não apenas em sua
produção, mas também em seu pla-
nejamento.
7. Menor produção de sementes
A menor produção de sementes por
planta tem impacto claro na coleta de
sementes. Também foi relatado que a
caça e o pescado se encontram mais
magros, possivelmente devido à redu-
ção na produção de frutos.
8. Maior incidência de alagações pe-
quenas
As alagações contribuem com o aporte
de nutrientes nos sistemas aquáticos.
Portanto, se forem pequenas, podem
prejudicar a biodiversidade aquática
que depende desse nutriente para seu
crescimento e reprodução.
9. Menor incidência de vento
O principal efeito desse fenômeno é
relacionado ao bem-estar, uma vez
que o vento ajuda a amenizar a sensa-
ção térmica e permite que mais tempo
seja empregado nas atividades diárias.
10. Maiores alagações
Mais constantes, as grandes alaga-
ções aumentam a mortalidade das
plantas, como no caso das seringuei-
ras. Outro impacto mencionado é o
alagamento dos roçados.
11. Aumento de eventos extremos
A seguir abordamos de forma especí-
  -
der que representam um dos maiores
agentes de impactos para a popula-
ção local.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
28
Resultados dos modelos
mentais
Os eventos extremos impactam as
comunidades rurais de uma forma
muito heterogênea, dependendo do
ambiente em que a comunidade está
 
exemplo) e do tipo de atividade pro-
dutiva ali desenvolvida. Algumas ativi-

são bastante prejudicadas, enquanto

A seguir, apresentamos as decorrên-
cias de cada evento extremo.
Figura 6. Modelo mental que reúne o conhecimento local acerca dos impactos previstos dos even-
tos extremos nas cadeias produtivas locais.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
29
Grandes alagações
Esse é um dos eventos extremos mais
impactantes para as populações ribei-
rinhas, sobretudo aquelas que vivem
na várzea. O grande nível da água
transforma a vida rural por completo,
muitas vezes inundando casas e geran-
do prejuízos irreparáveis. No entanto,
as grandes alagações podem ser bené-

Roça:
não sofrem com as grandes alagações,
pois esses locais não costumam ser
afetados. Já as roças plantadas na vár-
zea têm um potencial grande de serem
alagadas, sobretudo quando a subida
das águas é repentina. Um exemplo
que ilustra bem esse problema acon-
teceu na cheia de 2018 na comunidade
do Bacaba, onde cerca de 60.000 pés
de macaxeira foram perdidos com a
inundação.
Pesca: A alagação grande ajuda no
abastecimento de peixes nos lagos.
Durante a cheia ocorre uma maior en-
trada de energia nos sistemas aquáti-
cos, contribuindo com a alimentação,
engorda e reprodução dos peixes. Isso
faz com que uma maior biomassa pes-
-
nidades ribeirinhas, embora a captura
possa ser um pouco prejudicada du-
rante o evento de cheia. De qualquer
forma, grandes cheias geralmente são
associadas à fartura de peixe na próxi-
ma estação seca, quando as águas vol-
tam a baixar.
Coleta de açaí: Aparentemente, as
grandes cheias não induzem uma
maior produção de sementes de açaí.
Mas a capacidade de coleta é amplia-
da, pois o coletor consegue acessar
mais pontos de coleta utilizando uma
canoa
Coleta de sementes: A andiroba (Ca-
rapa guianensis) é uma semente com
alto valor na cadeia produtiva Ama-
zônica, além de ser consumida por
muitas espécies animais, incluindo
veados (Mazama sp.), paca (Cuniculus
paca), pacu (varias espécies), matrin-
xã (Brycon cephalus), tambaqui (Co-
lossoma macropomum) e pirapitinga
(Piaractus brachypomus). Segundo a
percepção local, a andiroba – com sa-
fra de fevereiro a abril - aumenta sua
produção na cheia. Porém, a semente
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
30
é fortemente espalhada pela água,
      -
gumas pessoas reportaram que uma
cheia grande subsidia a alta produção
de andiroba por dois anos. O mes-
mo ocorre para o muru-muru (Astro-
caryum murumuru), espécie bastante
importante na região, amplamente
coletada por comunidades rurais e
consumida por animais cinegéticos,
como o caititu (Pecari tajacu), queixa-
da (Tayassu pecari) e várias espécies
de peixes. Sua coleta ocorre de mar-
ço a julho. Aparentemente as grandes
alagações aumentam a produção, em-
bora a coleta seja prejudicada. Já no
caso da ucuuba (Virola surinamensis),
tanto a produção quanto a coleta são
favorecidas pelas grandes alagações.
Pequenas alagações
As alagações funcionam como uma in-
jeção de nutrientes nos sistemas aquá-
ticos. Portanto, se forem pequenas a
ponto de não alagar extensas áreas de

aos sistemas aquáticos e às espécies
aptas a consumi-los. As consequências
de destaque são:
Quelônios e pesca: Quando a alagação
é pequena, os quelônios não se de-
senvolvem adequadamente para se
reproduzirem, o que diminui muito o

épocas secas. O mesmo acontece com
os peixes, que não conseguem se de-
senvolver adequadamente, e têm suas
populações bastante afetadas em pe-
quenas cheias.
Roça:-
do durante as pequenas alagações, pois
segundo os moradores rurais as plantas
têm um tempo extra para crescer.
Secas pronunciadas
Secas pronunciadas também têm um
grande potencial de impactar os modos
de vida tradicionais.
Pesca: A atividade pode ser prejudi-
cada, pois muitos locais passam a ser
inacessíveis. Por outro lado, espécies
    
vez que a pressão pesqueira é reduzida.
Roça: O roçado pode ser bastante pre-
judicado, uma vez que a seca prolonga-
da pode matar a produção ou retardar
seu crescimento. Alguns comunitários
atestam que, quando a seca é muito
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
31
grande, as plantas não nascem ou não
se desenvolvem no roçado. Às vezes,
relatam plantar 15.000 pés de macaxei-
ra, porém nascem somente 3 ou 4 mil
pés – fenômeno chamado localmente

Resultados da modelagem
dos efeitos dos eventos
extremos nas cadeias
produtivas
Através dos modelos mentais pude-
mos elucidar os impactos potenciais
dos eventos extremos nas cadeias
produtivas presentes no rio Juruá.
Com as entrevistas sobre as percep-
ções locais, pudemos testar essas pre-
dições para investigar quais cadeias
produtivas já estão sendo afetadas
pelos eventos extremos. Como espe-
rado, os resultados são bastante he-
terogêneos.
Grandes alagações
Corroborando com os modelos men-
tais, nossos modelos indicam que as
cheias aumentam a probabilidade de
impacto negativo na coleta do muru-
-muru e da andiroba. Ainda que as
águas altas não afetem a produção des-
-
leta, fazendo com que a probabilidade
de prejuízo das comunidades rurais seja

A pesca e a coleta de ucuuba e açaí,
por outro lado, são impactadas posi-
tivamente pelas grandes alagações.
     
a possibilidade de usufruir da energia
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
32

reprodução e alimentação. Já a coleta de açaí e ucuuba é bene-
   
ambientes.
Em nossos modelos, a roça não foi uma atividade muito impac-
   

algum efeito, mas nenhum impacto foi percebido em nossa amos-
tragem. No entanto, sugerimos um grande mapeamento dos ro-
-
gem dos roçados localizados nas várzeas. Essa informação pode
-
ráveis à inundação, quantas famílias podem ser prejudicadas e o
impacto de uma possível perda na produção regional.
Figura 8. Modelos lineares generalizados mostrando o impacto das
grandes alagações em diferentes variáveis. Círculos azuis e vermelhos
   -
-
babilidade maior de sofrer prejuízo no evento extremo em questão

variáveis representadas por círculos cinza não são afetadas.
Muru-muru
Andiroba
Idade
Seringa
Farinha
Terra Firme
Farinha ^ TF
Pesca
Ucuuba
Açaí
-4

-2 0 2
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
33
Pequenas alagações
Modelando o efeito das pequenas
alagações nas cadeias produtivas
também encontramos resultados
bastante interessantes. A produção
de ucuuba aparentemente é afeta-
da negativamente quando as cheias
      
Provavelmente, isso está relaciona-
do a aspectos ecológicos das plantas.
A pesca também, como esperado, é
afetada negativamente pelas peque-
nas alagações. Como bem elucidado
nos modelos mentais, se a cheia não
     

para se alimentar e se reproduzir. Isso
pode afetar drasticamente a reposi-
ção dos estoques pesqueiros, com-
prometendo a segurança alimentar
Figura 9. Modelos lineares generalizados mostrando o impacto das pequenas alagações em dife-

respectivamente. Então, se a variável é positiva, há maior probabilidade de prejuízo no evento extre-

representadas por círculos cinza não são afetadas.
Ucuuba
Pesca
Idade


Farinha
Andiroba
Açaí
Muru-muru
0 1-1-2-3 2
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
34
das comunidades rurais. A única ativi-
dade econômica que aparentemente

é a coleta do muru-muru. Provavel-
mente, quando as águas estão mais
baixas, o muru-muru é mais facilmen-
te coletado.
Secas pronunciadas
As secas pronunciadas também po-
dem ter um impacto muito grande
nas cadeias produtivas das comuni-
dades rurais. Uma das questões bas-
tante presentes no discurso da po-
pulação local é que a temperatura do
dia tem aumentado muito nas últimas
décadas. Alguns, inclusive, relatam a
sensação de que “o sol está se apro-
      
possível trabalhar a manhã toda, ago-
ra ninguém mais consegue trabalhar
depois das 9 ou 10 da manhã.
Em nossos modelos, a atividade mais
impactada pela seca é a coleta de
ucuuba, que pode ter sua produção
reduzida. Aparentemente, as comuni-
-
bém podem sofrer um impacto maior
na seca, provavelmente pela menor
disponibilidade de água. A idade tam-
bém foi uma variável importante nos
nossos modelos, o que indica maior
probabilidade de que pessoas mais
velhas tenham experimentado um im-
pacto negativo da seca em seu históri-

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
35
Resultados da modelagem
sobre a percepção local
a respeito das mudanças
climáticas
Em relação às percepções locais so-
bre os impactos advindos dos eventos
extremos, percebemos uma grande
variação na concordância, justamente
pela heterogeneidade presente nos
    
Por exemplo, em relação à questão
número 1 (Alagação grande prejudica
muito a minha vida), percebemos que
cerca de 50% discordam ou discor-
     
explica pelo fato de algumas cadeias
produtivas e algumas comunidades se
   
Durante as grandes cheias, há uma
melhoria nas vias de acesso de comu-
Figura 10. Modelos lineares generalizados mostrando o impacto das grandes secas em diferentes
  -
pectivamente. Então, se a variável é positiva, há maior probabilidade de prejuízo no evento extremo
        
representadas por círculos cinza não são afetadas.
Ucuuba

Idade

Seringa
Pesca
Farinha
Andiroba
Açaí
Muru-muru
0 1-1-2
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
36
 
Além disso, como discutido nos pontos
anteriores, a pesca, coleta de açaí e de
-
las grandes alagações. Isso é fortaleci-
 Alagação
grande signica fartura de peixe no ano
seguinte), com mais de 90% de concor-
dância. Mais de 80% dos entrevistados

(Alagação pequena signica que vai fal-
tar peixe), pelos motivos já discutidos
 Alaga-
ção grande prejudica o roçado) o grau
de concordância dos entrevistados está
acima de 60%.
Em relação ao extrativismo, a maioria
dos entrevistados concorda como a
   Alagação grande
aumenta a produção de ucuuba), po-
 
6 e 7 (Alagação grande aumenta a pro-
dução de andiroba e açaí). Tais resulta-
dos corroboram os resultados prévios
dos modelos mentais de modelagem
     
que o acesso à percepção local é uma
   
avaliarmos os efeitos esperados das
mudanças climáticas na dinâmica socio-
ecológica amazônica.
   Alagação pequena faz
com que menos tartarugas saiam para
desovar nos tabuleiros) teve uma alta
porcentagem de repostas neutras e dis-

forte sentido ecológico. Atribuímos
esse padrão ao fato de poucas pessoas
terem um conhecimento ecológico das
tartarugas tão apurado. Essa hipótese
se fortalece pelo fato de os monitores
de tabuleiros, altamente especializa-
dos, concordarem veemente com tal
     
dos entrevistados concorda fortemen-
te com a questão 10 (A temperatura
de minha comunidade e do mundo tem
aumentado nos últimos anos). Esses nú-
meros são bem maiores que as taxas de
concordância observada nas cidades,

concluímos que a alta vivência empírica
dessas comunidades reúne provas ma-
teriais de que o clima local está passan-
do por transformações.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
37
         
os mecanismos exatos que afetam os recursos naturais, mas
a inclusão da perspectiva local nessa discussão deve ser ga-
rantida. Primeiro por uma questão de justiça social, já que os
atores locais têm direito de serem incluídos nas tomadas de
decisão que afetam seus modos de vida. Além disso, o conhe-
cimento local pode contribuir muito por acessar fenômenos

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
38
Questão 10
Questão 9
Questão 8
Questão 7
Questão 6
Questão 5
Questão 4
Questão 3
Questão 2
Questão 1
025 50 75 100
Porcentagem
Concorda muito Concorda Neutro Discorda
Figura 11. Escala Likert mostrando o grau de concordância medida pela

Indicadores locais de fenômenos climáticos
As populações locais desenvolvem uma aguçada percepção
do ambiente natural onde vivem. Algumas dessas percep-
ções, como mostramos a seguir, podem ajudar na prepara-
ção para fenômenos climáticos. São elas:
1. Quando o tarumã (Vitex megapotamica

2. Quando a vazante começa em abril, a enchente será pe-
quena.
3. A altura em que o Aruá (Megalibilumus sp.) coloca seus
ovos é a altura máxima onde chegará a inundação.
4. Quando o arati (Eugenia inundata

5. Quando o carão (Aramus guarauna) canta na costa da
praia, indica que é o início da vazante.
6. Quando o tracajá (Podocnemis unilis) está com o ovo já
encascado, indica que o rio não enche mais e está pron-
to para vaza.
7. Quando a produção de cacauí (Theobroma speciosum)
e muricí (Byrsonima crassifólia) é alta, a alagação será
grande.
Discorda muito
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
39
EFEITO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO
MANEJO COMUNITÁRIO DOS RECURSOS
AQUÁTICOS NO MÉDIO JURUÁ
4
SEÇÃO
Para avaliar o efeito dos eventos ex-
tremos no manejo de quelônios e do
pirarucu, atividades fundamentais no
Médio Juruá, buscamos relacionar a
presença dessas espécies com a varia-
ção periódica do nível das águas do rio.
No primeiro caso, utilizamos dados
anuais de bancos de dados oriundos
do monitoramento participativo de
tartarugas e tracajás, entre 1977 e
2016, incluindo o número total de ni-
nhos de P. expansa e o número total
      
pirarucu, utilizamos dados da cota do
rio da Agência Nacional de Águas me-
didas no porto Gavião entre agosto
de 1997 e setembro de 2019 (http://
cotaonline.ana.gov.br/). Valores fal-
tantes foram preenchidos com o cál-
culo da média ponderada entre os
períodos mais próximos. Os dados
diários foram convertidos para média
    -
cados os valores de cota mínima de
contagem de ninhos de quelônios e
pirarucus durante o período seco a
cada ano, como também os valores
de cota máxima anteriores ao período


o número de ninhos de tartarugas e
tracajás, foram feitos dois tipos de es-
timativas. No caso dos tabuleiros, uti-
lizou-se modelos estatísticos. No caso
do pirarucu, utilizou-se o número de
indivíduos adultos e jovens (bodecos).
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
40
Resultados
Impactos dos eventos extremos em quelônios
O número de ninhos de tartarugas teve uma grande variação
entre os anos (de 2 a 112 vezes) dentro dos mesmos tabulei-
ros, enquanto o número de ninhos de tracajás variou entre 1,2
e 131 vezes, evidenciando uma alta amplitude de variação no
número de ninhos entre os anos dentro do mesmo tabuleiro
e entre tabuleiros. A variação no número de ninhos entre os
anos não está correlacionada com o número de ninhos médios
de tartarugas ou tracajás dos tabuleiros (P < 0,15 para todas as
correlações). Por outro lado, o número de ninhos de tartarugas
e tracajás está altamente correlacionado com a cota do rio.
Figura 12. Dados do nível do rio Juruá disponibilizados pela ANA. Verme-
lho e azul correspondem a eventos extremos de seca e cheia respectiva-
mente.
4
2
0
-2
-4
1973 1978 1983 1988 1993 20031998 2008

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
41
Para as tartarugas, a cota máxima da
cheia anterior ao período de desova
e a cota mínima durante o período
de desova estão positivamente re-
     -
gura 13). De acordo com o modelo,
cada metro da cota máxima na cheia
acima da média histórica de máximas
aumenta em média 32% o número de
ninhos na estação seca. Já para cada
metro da cota mínima durante a es-
tação seca acima da média histórica
de mínimas, percebe-se o aumento
em média de 15% no número de ni-
nhos de tartaruga na mesma estação.
Também estimou-se que em anos
com cheias extremas (> 1 m da média
histórica de máximas) ou com secas
amenas (> 1 m da média histórica de
mínimas), o número de ninhos de tar-
taruga é 41% e 6,7% maior que em
-
ra 14). Já em anos de seca extrema (<
1 m da média histórica de mínimas),
o número de ninhos de tartarugas é

Para os tracajás, apenas a cota mínima
está positivamente correlacionada
com o número de ninhos, sendo que
o efeito da cota máxima não foi sig-

acima da média histórica de mínimas,
o número de ninhos de tracajás cres-
ce em média 12%. Em anos de seca
amena, o número de ninhos é em mé-
dia 11% maior em relação a anos nor-
mais. Já em anos de seca extrema, é
em média 14% menor.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
42
Figura 13. Efeito da cota do rio no número de
ninhos de quelônios. a) Relação predita pelo
modelo do efeito da cota máxima no número
de ninhos de tartarugas. b) Relação predita
pelo modelo do efeito da cota mínima no nú-
mero de ninhos de tartarugas. c) Relação pre-
dita pelo modelo do efeito da cota máxima no
número de ninhos de tracajás. d) Relação pre-
dita pelo modelo do efeito da cota mínima no
número de ninhos de tracajás.
100
100
75
50
-0.5
-0.5
-2
-2
-1
-1
0
0
1
1
2
2
0.5
0.5
1.0
1.0
1.5
1.5
-0.0
-0.0
50
25
40
60
80
80
70
60
50
40
Ninhos de tracajás Ninhos de tartarugas
Cota máxima (m) Cota mínima (m)
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
43
Figura 14. Variação anual na cota do rio e número de ninhos de tartarugas e tracajás. a) Variação anual na cota máxima do rio. Os círculos azuis repre-
sentam os anos com cheias extremas (CE). b) Variação anual da cota mínima do rio normalizada pela média histórica de máximas. Os círculos vermelhos
representam os anos com secas extremas (SE) e, os círculos brancos, os anos com secas amenas (AS). c) Mudança percentual média no número de ninhos
de tartarugas em relação à média histórica. Barras azuis indicam anos com números de ninhos acima da média e, barras vermelhas, anos com números
de ninhos abaixo da média. As barras de erro representam o desvio padrão da variação entre os diferentes tabuleiros. d) Mudança percentual média no
número de ninhos de tracajás em relação à média histórica. e) Mudança percentual estimada pelo modelo do número de ninhos de tartarugas em anos de
cheia extrema, seca amena e seca extrema em relação aos anos normais. f) Mudança percentual estimada pelo modelo do número de ninhos de tracajás
em anos de cheia extrema, seca amena e seca extrema em relação aos anos normais.
1.5
1.5
1.0
1.0
0.5
0.5
0.0
0.0
-0.5
-0.5
Cota máxima (m)
100
100
-100
-100
50
50
-50
-50
0
0
Mudança em relação a
média histórica (%)
Mudança em relação a
média histórica (%)
Mudança predita (%)Mudança predita (%)
50
50
25
25
-25
-25
-50
-50
CE
CE
SA
SA
SE
SE
19981998
19991999
20002000
20012001
20022002
20032003
20042004
20052005
20062006
20072007
20082008
20092009
20102010
20112011
20122012
20132013
20142014
20152015
20162016
20172017
20182018
20192019
0
0
Cota mínima (m)
a.
b.
c.
e.
d.
f.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
44
Impactos no manejo do pirarucu
O número de pirarucus nos lagos va-
riou entre 1,5 e 36 vezes entre os anos
dentro dos mesmos lagos. A amplitu-
de da variação dentro de um mesmo
lago não está correlacionada com a
média do lago (P = 0.21), porém, a va-
riabilidade entre os anos está negati-
vamente correlacionada com a média
de contagens ao longo dos anos (r =
-0,3; P = 0.03). Essa variabilidade entre
os anos não foi diferente entre lagos
manejados para subsistência e prote-
gidos (t = 0.69; g.l. = 33,4; P = 0.49),
apesar de os lagos protegidos terem
mais pirarucus em média do que lagos
    
como os quelônios, o número de pi-
rarucus também está correlacionado
com a cota do rio, sendo que o nú-
mero está positivamente relacionado
com a cota máxima e cada metro da
máxima acima da média histórica au-
menta em média 26% o de pirarucus.
Essa relação não foi diferente entre
os lagos manejados para subsistência

     
portanto, essa variável foi retirada do

O padrão encontrado para os bode-
cos foi levemente diferente do en-
contrado para os pirarucus adultos. A
variação interanual dentro do mesmo
lago variou de 1,5 a 213 vezes e, assim
como nos pirarucus adultos, não es-
tava relacionada à média de bodecos
(P > 0.69 para amplitude e variância).
No entanto, os lagos protegidos tive-
ram uma amplitude e variância maior
no número de bodecos (amplitude: t
= 2.18; g.l. = 19,3; P = 0.04; variância:
t = 3,36; g.l. = 27,5; P = 0.002). Assim
como os pirarucus adultos, os bode-
cos respondem positivamente à cota
máxima, sendo que cada metro au-
menta em média 25% o número do
peixe nos lagos manejados para sub-

entanto, é mais forte nos lagos prote-
gidos, onde cada metro a mais da cota
máxima aumenta 42% o número de
     
-
os nos lagos de subsistência, porém,
nos lagos protegidos, a cada metro a
mais na cota mínima o número de bo-
decos aumenta em média 11%.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
45
Figura 15. Efeito da cota do rio (pulso de inun-
dação) no número de pirarucus adultos e juve-
nis (bodecos). a) Efeito da cota máxima do rio,
proteção dos lagos e a interação entre elas no
número de pirarucus. b) Predição do modelo no
número de pirarucus em relação à cota máxima
do rio em lagos manejados para subsistência
e protegidos. c) Efeito da cota máxima do rio,
cota mínima, proteção dos lagos e a interação
entre elas no número de bodecos. d) Predição
do modelo no número de bodecos em relação
à cota máxima do rio em lagos manejados para
subsistência e protegidos.
-0.5 0.0 0.5 1.0
300
200
100
Contagem de bodecos
-0.5 0.0
-0.5
-0.5
0.5
0.5
1.5
1.5
2.5
2.5
Estimativa
Estimativa
0.5 1.0
Classe de manejo
Subsistência
Protegido
200
150
100
50
0
Contagem de pirarucus
Intecepto
Intecepto
Protegido
Protegido
Cota max
Cota max
Cota mín
Protegido x Cmax
Protegido x Cmax
Protegido x Cmín
a.Pirarucus b.
d.
c.Bodecos
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
46
Variações climáticas e eventos extremos
  -

objetivo é compreender como a dinâmi-
ca hidrológica do Juruá vem impactando
as taxas de deposição e erosão do rio
nas últimas décadas. Para isso, escolhe-
mos analisar um trecho presente nos
municípios de Itamarati-AM e Carauari-
-AM (sudoeste do estado do Amazonas),
perfazendo mais de cerca de 300 km ao
longo do canal do rio Juruá. Devido à
grande extensão da área, para um me-
lhor detalhamento a mesma foi subdivi-

FIGURA 16
JURUÁ: PERFIL HIDROLÓGICO
O rio Juruá nasce das altas regiões a leste do rio Ucayali, na porção centro-leste do
Peru, e adentra no Brasil pelo estado do Acre até o Amazonas, onde deságua no rio So-
limões. Ao longo do seu percurso, o canal apresenta um sistema predominantemente
meândrico, com forte alinhamento estrutural, observado por mudanças abruptas na
sua direção, com tendência geral NE-SW. Tais características corroboram para cons-
           
por técnicas de sensoriamento remoto, conforme abordado por diversos autores em
estudos na região amazônica (Sena Costa et al. 2001, Silva et al. 2007, Rossetti et al.
2014, Gonçalves Júnior et al. 2016).
Do ponto de vista estrutural, o rio Juruá, assim como grande parte dos rios amazôni-
cos, encontra-se encaixado em estruturas de falhas, associadas a reativações neotec-

2007). Na divisa Acre-Amazonas, o rio apresenta a direção preferencial ENE-WSW até
   

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A PERCEPÇÃO
DAS POPULAÇÕES RIBEIRINHAS
5
SEÇÃO
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
47
Geologicamente, a região de estudo encontra-se inseri-
da na bacia do Solimões, onde atualmente retrabalha os
 -
sitos pertencentes a Formação Içá (Wanderley Filho et al.
-
dios, com ocorrências de conglomerados e argilitos (No-
gueira et al. 2003) depositados durante o Cenozoico em

Figura 16. Mapa de localização da área de estudo (retângulo amarelo)
e das subárea (retângulos vermelhos).
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
48
Métodos
Os dados utilizados para a análise tem-
poral desse trecho foram as imagens
dos satélites Landsat-5/TM e Land-
sat-8/OLI, nas datas de 04/09/1985 e
23/09/2015, respectivamente, ambas
com resolução espacial de 30 m e lo-
calizadas na órbita/ponto 002/064
    
fosse possível a comparação das ima-
gens em diferentes períodos, foi ne-
cessária a realização do georreferen-
ciamento das imagens Landsat-5/TM
tendo como base as imagens do Land-
sat-8/OLI, utilizando-se 20 pontos de
controle, que resultaram em uma pre-
cisão com RMS de 0,8.
A partir dessa etapa, foram criadas

obter uma melhor análise dos trechos
estudados, assim como uma análise
local destas subáreas. Posteriormen-
te, foram gerados dados vetoriais,
-
da do canal principal do rio Juruá, nas
imagens de 1985 e de 2015 e, a partir
desta delimitação, foram calculadas
as áreas do canal total e das três su-
báreas, nos dois períodos estudados.
Para os cálculos de taxa de migração,
foi utilizada a diferença de área do
canal nos dois períodos analisados
(1985 e 2015), e o resultado recalcu-
lado para porcentagem. Também rea-
lizou-se a geração de dados vetoriais
da planície aluvial ativa do canal e, por
meio da superposição das áreas de
1985 e 2015, geraram-se as áreas de
erosão e deposição do período ana-
lisado. A última etapa realizada con-
sistiu na criação de vetores lineares
entre as margens do canal de 1985
e 2015 das subáreas 1, 2 e 3 para, a
partir dessa distância, mensurar as
variações médias de migração. Vale
ressaltar que, para todas essas eta-
pas, os resultados obtidos foram divi-
didos pelo período de 30 anos, adqui-
rindo-se os dados médios anuais que
podem ser comparados com demais
estudos da literatura.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
49
Resultados e discussão
Os dados de área no trecho estuda-
do entre os anos de 1985 e 2015 de-
    -
nal do rio Juruá de aproximadamente
21,93% no período de 30 anos, o que
representa uma taxa de migração
média 0,73%/ano (tabela 2). Esses
valores também são semelhantes aos
encontrados nas subáreas estudadas,
onde temos uma taxa de migração
-
guras 18A, 19A e 19B), 0,57%/ano na
  
de 0,71%/ano na subárea 3 (18C, 19E
e 19F). Pode-se destacar também
neste estudo as áreas de erosão e
deposição que apresentaram taxas
de 2,61 km²/ano e 1,83 km²/ano, res-
pectivamente, sendo as três subáreas
Figura 17. A) Imagens do sensor Landsat-5/TM na composição colorida RGB-543.
B) Imagens do sensor Landsat-8/OLI na composição colorida RGB-654.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
50
com taxas de deposição entre 0,39 e
0,56 km²/ano e de erosão entre 0,30 e
0,35 km²/ano. Os dados de migração
média das margens do canal, adquiri-
dos por meio de 605 vetores entre as
margens nos anos de 1985 e 2015, re-
sultaram em uma taxa de migração de
 
e de 2,5 a 8,5 m/ano (subáreas 2 e 3 –
     
taxa de migração média de 2 a 7,5 m/

De um modo geral, foi constatada uma
diminuição na área do canal, que pode
ser corroborada pelo predomínio dos
processos de deposição no trecho e
período analisado (tabela 3), embora

pontuais em determinados locais.
LOCALIZAÇÃO PERÍODO ÁREA
(KM²)
TAXA DE MIGRAÇÃO
MÉDIA
Subárea 1 2015 21,63 0,99%/ano
1985 28,04
Subárea 2 2015 16,74 0,57%/ano
1985 19,59
Subárea 3 2015 16,58 0,71%/ano
1985 20,11
Média das subáreas
1, 2 e 3
2015 18,32 0,76%/ano
1985 22,58
TOTAL 2015 83,44 0,73%/ano
1985 101,74
Tabela 2. Dados de variações em área do canal do rio Juruá da região de estudo e das subáreas 1,
2 e 3, apresentando também a taxa de migração média dessas regiões.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
51
As taxas de migração obtidas são coerentes com as taxas encontradas nos rios


no rio Amazonas, com taxas de 0,60%/ano (Rozo et al. 2012) e no sistema Soli-
mões-Amazonas, com taxas de 3%/ano (Mertes et al. 1996).
LOCALIZAÇÃO DEPOSIÇÃO
(KM²/ANO) EROSÃO(KM²/ANO)
Subárea 1 0,56 0,35
Subárea 2 0,39 0,30
Subárea 3 0,43 0,31
Média das subáreas
1, 2 e 3 0,46 0,32
TOTAL 2,61 1,83
Tabela 3. Taxas médias de erosão e deposição do trecho estudado no período entre os anos de
1985 e 2015 no rio Juruá.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
52
Figura 18. Imagens Land-
sat-8/OLI demonstrando o
canal do Rio Juruá no ano
de 1985 (Canal Vermelho) e
2015 (Canal em Verde) das
subáreas 1(A), 2(B) e 3(C).
Figura 19. Detalhes dos retângulos amarelos. A) Subárea1 ano de 1985; B) Subárea1 ano de 2015; C) Subárea2 ano de 1985; D) Subárea2 ano de 2015;
E) Subárea3 ano de 1985; F) Subárea3 ano de 2015.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
53
Quantidade de vetores
utilizados
Quantidade de vetores
utilizados
Metros/anos
Metros/anos
Histograma da Taxa de Migração Média (Subárea 1)
Histograma da Taxa de Migração Média (Subárea 2)
40
50
60
35
40
30
30
25
20
20
10
15
0
10
5
0
0,94 2,01 3,07 4,14 5,21 6,27 7,34 8,41 9,47 10,54 11,60 12,67 13,74 14,80
Mais24,4922,5120,5318,5516,5714,5912,6210,648,666,684,702,720,74
Mais
Figura 20 Histograma demonstrando os valo-
res de migração média do canal do rio Juruá
na subárea 1. Em laranja, demonstram a região
que concentra cerca de 74% dos dados.
Figura 21 Histograma demonstrando os valo-
res de migração média do canal do rio Juruá
na subárea 2. Em laranja, demonstram a região
que concentra cerca de 78% dos dados.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
54
Quantidade de vetores utilizados Quantidade de vetores
utilizados
Metros/anos
Histograma da Taxa de Migração Média (Total)
Histograma da Taxa de Migração Média (Subárea 3)
80
90
100
50
60
70
70
40
60
30
50
20
40
10
30
0
20
10
0
Mais24,9622,9320,9118,8816,8514,8212,8010,778,746,714,692,660,63
Mais
25,92
24,83
23,75
22,67
21,58
20,50
19,42
18,33
17,25
16,17
15,08
14,00
12,92
11,83
9,67
10,75
8,58
7,50
6,42
5,33
4,25
3,17
2,08
1,00
Figura 23 Histograma demonstrando os princi-
pais valores de migração média. Em laranja, de-
monstram a região que concentra cerca de 66%
dos dados.
Figura 22 Histograma demonstrando os valo-
res de migração média do canal do rio Juruá
na subárea 3. Em laranja, demonstram a região
que concentra cerca de 83% dos dados.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
55
Dados complementares, obtidos atra-
vés do site da Agência Nacional de
Águas, no HidroWeb (http://www.
snirh.gov.br/hidroweb/publico/me-
dicoes_historicas_abas.jsf), demons-
tram as principais variações sazonais
no período de 1981 a 2007 (intervalo
de 26 anos), utilizando como base as
estações de Carauari e Itamarati. A
partir dessas informações, constatou-
-se que as variações sazonais exercem
  
do sistema. Os períodos de chuvas
intensas ocasionam grande aumento
na vazão do sistema, sendo o maior
registrado em março de 1997, com a
pluviosidade mensal de cerca de 497
mm. Isso representa mais do dobro da
média mensal dos 26 anos analisados,
que é cerca de 196 mm.
Nesse período, a grande quantidade
de chuvas ocasionou uma vazão de
aproximadamente 11.403 m³/s, que
representa quase o triplo da vazão
média do canal, de cerca de 3.760
m³/s. Apesar dessas amplas variações,
não foi possível fazer a análise tempo-
ral desse período através de sensores
remotos, devido a intensa cobertura
de nuvens registradas nas imagens
disponíveis em março de 1997 e me-
ses próximos.
    -
nal do rio Juruá são ocasionadas pela
formação e migração de marginais e
meandros, dentro da planície aluvial
desse sistema. De modo conjunto,
também podem ser formados mean-
dros abandonados que geram mo-
    
   
e dinâmica. Essas mudanças retraba-

e unidades mais antigas, como a for-
mação Içá.
A intensidade e velocidade dos pro-
-
    
sistema, tendo como principais con-
troladores fatores como as sazonali-
dades anuais e variações climáticas.
Assim, eventos extremos, como os
ocorridos em março de 1997, tendem


devido ao grande aumento da vazão
que consequentemente aumenta ta-
xas de migração e erosão do sistema.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
56
Por ser um ambiente altamente dinâmico,
aumentos nas taxas de erosão e sedimen-
tação do rio decorrentes de uma maior in-
cidência de eventos extremos talvez não
sejam grandes preocupações para a dinâ-
mica ecológica do sistema. No entanto, as
comunidades rurais devem se organizar
para um planejamento de novas constru-
ções que leve em consideração o aumento
sobretudo das taxas de erosão, para que
problemas de desmoronamento possam
ser evitados. Existem casos emblemáticos
no médio Juruá de comunidades que so-
freram com o desbarrancamento na mar-
gem do rio, como é o caso do Bauana e da
Nova Esperança. Portanto, é recomendá-
vel que as comunidades evitem expansão
em áreas de praia e barranco, que são jus-
tamente as áreas mais propensas à sedi-
mentação e erosão.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
57
As mudanças climáticas representam tal-
  
sociedades humanas. Na Amazônia não
será diferente. Com as mudanças ambien-
tais, muitas atividades humanas ancoradas
nos sistemas ecológicos serão impactadas.
Infelizmente, muitos desses impactos são
-
ciência do monitoramento ambiental na
região. Nesse contexto, o conhecimento
tradicional pode ser uma grande estraté-
gia das próprias comunidades para que o
conhecimento local sobre o tema seja am-

uma primeira abordagem na tentativa de
sumarizar a gama de efeitos que podem
ocorrer na região nos próximos anos e
décadas. No entanto, é extremamente im-
portante que esses impactos sejam acom-
panhados de perto em consonância com o
desenvolvimento de estratégias adaptati-
vas para aumentar o poder das comunida-
des locais no enfrentamento e adaptação
a esses impactos. Para contribuir com o
aumento da resiliência das comunidades
locais, sugerimos a seguir uma série de
recomendações. Elas foram previamente
discutidas com lideranças locais para que
fossem viáveis acima de tudo.
Recomendação 1: Plano
de manejo dos sistemas
agroorestais
Contextualização
Um problema constantemente rela-
tado é a diminuição da umidade re-
sultante de um possível aumento da
temperatura. O clima mais seco traz
uma série de problemas para as cul-
turas agrícolas, que se tornam mais
vulneráveis, e também para a saúde
humana.
Justicativa
   
   
6
SEÇÃO
RECOMENDÕES PARA A MITIGAÇÃO DOS
IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
58
para aumentar a segurança alimentar
das comunidades rurais na Amazônia.
Além do aumento local da umidade,
   
a diversidade de produtos a serem
cultivados e comercializados, impul-
sionando a segurança e a soberania
alimentar das comunidades e a regu-
lação do microclima.
Resultados esperados
a) Diminuição da temperatura micro-
climática, favorecendo as condições
de trabalho.
b) Aumento da diversidade de culturas,
fortalecendo a resiliência da atividade.
c) Aumento da diversidade econômica
das comunidades.
d) Aumento da segurança e soberania
alimentar.
Recomendação 2: Diagnóstico
dos roçados
Contextualização
As grandes alagações têm um poten-
cial grande de impacto nos roçados,
parte fundamental na subsistência
das comunidades rurais. No entanto,
a falta de informações sobre a locali-
     
potencial de produção impede análi-
ses mais robustas que possam mape-
ar a vulnerabilidade das famílias en-
volvidas nas práticas agrícolas.
Justicativa
O mapeamento em campo dos roçados
e o conhecimento tradicional dos agri-
cultores, associados ao mapa de inun-
dação do Médio Juruá, podem fornecer
informações valiosas em relação à vul-
nerabilidade dos roçados. Esses dados
podem ser importantes para prever
futuros impactos, número de famílias
afetadas e a produção comprometida.
Resultados esperados
a) Mapeamento dos roçados no Médio
Juruá.
b) Estimativa de produção do roçado.
c) Nível de susceptibilidade dos roça-
dos frente às grandes alagações.
d) Estimativa de perda frente ao cená-
rio de grandes alagações.
e) Estimativa de famílias afetadas.
f) Subsídios espaciais para o plano de
expansão dos roçados, como sugerido
na próxima recomendação.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
59
Recomendação 3: Plano de uso
do território e recuperação de
capoeiras degradadas
Contextualização
Uma percepção bastante evidente ao lon-
go da calha do Médio Juruá é o aumento do
desmatamento para novos roçados devido
ao crescimento populacional das comuni-
dades. Esse desmatamento possivelmente
influencia o microclima local, contribuindo
com o aumento da temperatura observada
ao longo das últimas décadas.
Justificativa
Com o mapeamento das áreas de roçado
pode-se construir de forma participativa
um plano de uso do território, incluindo
roçados e recuperação de áreas degrada-
das. Dessa forma, cada comunidade pode
ter um planejamento sobre as áreas com
potencial de implementar novos roçados
e as áreas que devem ficar um período em
pousio para sua recuperação, após a colhei-
ta. Esse planejamento é fundamental para
assegurar o manejo adaptativo e a susten-
tabilidade da agricultura local.
Resultados esperados
a) Mapa com áreas prioritárias para roça-
dos, considerando capoeiras e floresta pri-
mária.
b) Mapa com áreas prioritárias para recupe-
ração de áreas degradadas.
c) Construção de um plano estratégico de
uso do território, com ênfase nos roçados,
contendo regras, diretrizes e recomenda-
ções para que as comunidades possam
manter a atividade agrícola com planeja-
mento e sustentabilidade.
Recomendação 4:
Monitoramento participativo
da produção agrícola
Contextualização
A ausência de programas de moni-
toramento da produção, venda e
consumo de itens oriundos da agri-
-
nerabilidade das famílias rurais no
Médio Juruá. Sabe-se que a agricul-
tura é fundamental na subsistência e
dinâmica econômica de cada comuni-
dade, mas a integração dos dados de
susceptibilidade à inundação e dados
de produção e consumo poderia gerar
números precisos do impacto em po-
tencial das mudanças climáticas nos
sistemas agrícolas.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
60
Justicativa
Estratégias que objetivem o aumento
da resiliência e segurança social das
famílias rurais são essenciais em um
cenário de mudanças climáticas. Com
o monitoramento participativo do ro-
çado pode-se mensurar o tamanho do
prejuízo de cada família, o que é fun-
damental para subsidiar estratégias
de intervenção. Isso pode ser realiza-
do de forma simples e participativa,
em que cada família é responsável
pelo monitoramento de sua produ-
ção, venda e consumo.
Resultados esperados
Relatórios anuais de produção, venda e
consumo por família e por comunidade.
Recomendação 5: Plano de
segurança alimentar
Contextualização
Nossos resultados indicam que um

comunidades do Roque e Novo Hori-
zonte está inserido em um cenário de
forte insegurança alimentar, sobretu-
do durante a enchente das águas que
vai de novembro a fevereiro. Durante
essa época o pescado é bastante es-
casso e as famílias rurais passam por

subsistência. Como são comunidades
numerosas, a pressão sob os recursos
naturais é cada vez mais alta. Portan-
to, a sobre-exploração dos recursos
aliada aos impactos das mudanças cli-
máticas pode potencializar ainda mais
esse cenário de insegurança alimen-
tar no futuro.
Justicativa
Estratégias para aumentar a segurança
e soberania alimentar nesse trecho do
rio são fundamentais para assegurar o
bem-estar das comunidades rurais e a
conservação da biodiversidade.
Resultados esperados
Sistema participativo de criação co-
munitária de peixes ou outras espé-
cies cinegéticas.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
61
Recomendação 6: Projeto
arquitetônico, manual e curso
de carpintaria
Contextualização
Algumas estratégias interessantes
para reduzir os impactos das mudan-
ças climáticas vêm sendo adotadas
por algumas famílias. São medidas
-
dem contribuir com o bem-estar das
comunidades se aplicadas em grande
escala, tais como casas adaptadas a
uma maior circulação de vento e cons-
truções mais altas, acima do nível de
alagação.
Justicativa
Estratégias que contemplem a ar-
quitetura local de forma a reduzir os
impactos climáticos podem melhorar
o bem-estar da população. Uma casa
arejada, por exemplo, pode contri-
buir com a redução de problemas de
saúde como dores de cabeça e fadiga
consequentes de temperaturas altas.
Resultados esperados
a) Plano arquitetônico do Médio
Juruá, contendo diretrizes e reco-
mendações sobre formas de construir
para aumentar a resiliência frente às
mudanças climáticas.
b) Treinamento de carpinteiros locais.
Recomendação 7: Fundo emer-
gencial para comunidades afe-
tadas por desastres climáticos
Contextualização
De forma geral, percebe-se que as co-
munidades rurais em qualquer local
     -
nanceiras para lidar com os impactos
das mudanças climáticas, muitas ve-
zes imprevisíveis.
Justicativa
Toda cadeia produtiva ancorada em
produtos da sociobiodiversidade que
possa ser impactada por fenômenos
climáticos deveria, idealmente, contar
com um fundo emergencial às famí-
lias produtoras. Como esses eventos
serão cada vez mais imprevisíveis, um
fundo poderia conferir uma seguran-
ça adicional às famílias.
Resultados esperados
Fundo comunitário a ser utilizado em
situação de emergência social.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
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thods in ecology and evolution, 1(1), 3-14.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS IMPACTOS NA SOCIOBIODIVERSIDADE DO RIO JURUÁ
68
AGRADECIMENTOS
Às comunidades locais do Médio Juruá que foram
fundamentais para a execução deste estudo;
Ao Fórum Território Médio Juruá pelo apoio na condução
da pesquisa e discussões das estratégias e resultados
alcançados;
À equipe do Licci Project (https://licci.eu/) pelas valiosas
discussões.
Article
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O uso de ferramentas geotecnologias têm contribuído na compreensão da dinâmica espacial das variáveis climáticas e uso do solo de uma bacia hidrográfica. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a dinâmica da temperatura da superfície, precipitação pluvial e evapotranspiração, e sua relação com uso e cobertura do solo na bacia hidrográfica do Alto Juruá. Utilizou-se a plataforma Google Earth Engine (GEE) para processamento de dados e, através da ferramenta Code Editor, foi possível programar e executar uma rotina para avaliar a temperatura da superfície, precipitação pluvial, evapotranspiração, uso e cobertura do solo e altitude. As temperaturas médias da superfície (24,13ºC) sofrem aumento no mês de julho e decréscimo no mês de setembro. A temperatura média anual é de 24,68ºC e os anos de 2010 e 2016 foram os mais quentes dentro da série estudada. As médias mensais de precipitação são de 182 mm sendo os meses de junho, julho e agosto os meses com menos chuvas. A média anual de precipitação foi de 1982 mm. As temperaturas de superfície mais elevadas estão concentradas no centro urbano da bacia hidrográfica do Alto Juruá, observando-se expansão ao longo dos anos coincidindo com a expansão de área de pastagens.
Article
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Equatorial fishes, and the critically important fisheries based on them, are thought to be at-risk from climate warming because the fishes have evolved in a relatively aseasonal environment and possess narrow thermal tolerance windows that are close to upper thermal limits. We assessed survival, growth, aerobic performance and critical thermal maxima (CTmax) following acute and 21 d exposures to temperatures up to 4°C higher than current maxima for six species of freshwater fishes indigenous to tropical countries and of importance for human consumption. All six species showed 1.3-1.7°C increases in CTmax with a 4°C rise in acclimation temperature, values which match up well with fishes from other climatic regions, and five species had survival >87% at all temperatures over the treatment period. Specific growth rates varied among and within each species in response to temperature treatments. For all species, the response of resting metabolic rate (RMR) was consistently more dynamic than for maximum metabolic rate, but in general both acute temperature exposure and thermal acclimation had only modest effects on aerobic scope (AS). However, RMR increased after warm acclimation in 5 of 6 species, suggesting incomplete metabolic compensation. Taken in total, our results show that each species had some ability to perform at temperatures up to 4°C above current maxima, yet also displayed certain areas of concern for their long-term welfare. We therefore suggest caution against the overly broad generalization that all tropical freshwater fish species will face severe challenges from warming temperatures in the coming decades and that future vulnerability assessments should integrate multiple performance metrics as opposed to relying on a single response metric. † These authors contributed equally to the work.
Article
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Infrastructure development and overfishing in the Amazon make it imperative to de- fine adequate scales for the ecosystem-based management of commercial fisheries and the wetlands on which they depend. We mapped fisheries and fish ecology data from Brazil, Peru, Bolivia and Colombia to an explicit GIS framework of river basins and mainstems. Migratory species account for more than 80% of the known maxi- mum catches of commercial fisheries across the Amazon. Of these migratory species, we nominated six long-distance migratory fish taxa as flagship species to define the two main commercial fishery regions. The migrations of at least one goliath catfish species define a large-scale longitudinal link joining the Andes, Amazon Lowlands and Amazon River estuary. Migratory Characiforms demonstrate interbasin wetland con- nectivity between nutrient-rich and nutrient-poor rivers over at least 2 million km2 , or about one-third of the Amazon Basin. We show that flooded forest area is the most important wetland variable explaining regional variations in migratory characi- forme biomass as indicated by maximum annual fishery catches. The sustainable management of Amazon fisheries will require transnational cooperation and a para- digm shift from local community management alone to a more integrated approach that considers both rural and urban consumers and challenges, and the realistic life histories of migratory species.
Article
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Heatwaves are important climatic extremes in atmospheric and oceanic systems that can have devastating and long-term impacts on ecosystems, with subsequent socioeconomic consequences. Recent prominent marine heatwaves have attracted considerable scientific and public interest. Despite this, a comprehensive assessment of how these ocean temperature extremes have been changing globally is missing. Using a range of ocean temperature data including global records of daily satellite observations, daily in situ measurements and gridded monthly in situ-based data sets, we identify significant increases in marine heatwaves over the past century. We find that from 1925 to 2016, global average marine heatwave frequency and duration increased by 34% and 17%, respectively, resulting in a 54% increase in annual marine heatwave days globally. Importantly, these trends can largely be explained by increases in mean ocean temperatures, suggesting that we can expect further increases in marine heatwave days under continued global warming.
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Size-based indicators are used worldwide in research that supports the management of commercially exploited wild fish populations, because of their responsiveness to fishing pressure. Observational and experimental data, however, have highlighted the deeply-rooted links between fish size and environmental conditions that can drive additional, inter-annual changes in these indicators. Here, we have used biogeochemical and mechanistic niche modelling of commercially exploited demersal fish species to project time-series to the end of the 21st century for one such indicator, the Large Fish Indicator (LFI), under global CO2 emissions scenarios. Our modelling results, validated against survey data, suggest that the LFI’s previously proposed policy target may be unachievable under future climate change. In turn, our results help to identify what may be achievable policy targets for demersal fish communities experiencing climate change. Whilst fisheries modelling has grown as a science, climate change modelling is seldom used specifically to address policy aims. Studies such as this one can, however, enable a more sustainable exploitation of marine food resources under changes unmanageable by fisheries control. Indeed, such studies can be used to aid resilient policy target-setting by taking into account climate-driven effects on fish community size-structure.
Article
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Dynamic flow regimes maintain critical connections between main channel and adjacent floodplain habitats that provide fish access to shelter, foraging, and spawning opportunities. Our study advances the understanding of these processes by exploring the importance of coupled longitudinal–lateral connectivity for determining species occurrence in headwater streams of the Amazon. Using a multispecies occupancy model, we revealed a clear pattern of species addition in the downstream direction in temporary floodplain ponds, associated with changes in the pool of potential colonists present in the channel and with increasing lateral hydrologic connectivity. Species that are more tolerant of stagnant waters and those able to disperse in shallow habitats (e.g., Anablepsoidesmicropus) occurred frequently in ponds along the entire longitudinal extent, whereas those species preferring lotic habitats were present only in the most downstream sites. We also observed increasing similarity of pond and channel communities with distance downstream. This study provides insights on the spatial structuring of tropical fish communities in response to flood-induced hydrologic connectivity and further highlights the vulnerability of floodplain fishes to modification in flooding regimes.
Article
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Nas últimas décadas, as feições geomorfológicas de trechos do sistema fluvial Solimões-Amazonas têm sido estudadas por meio de imagens de sensores remotos, aliados a dados de análise multitemporal, destacando principalmente as modificações morfológicas das planícies aluviais e canais deste sistema. Os primeiros estudos utilizavam bases cartográficas de menor precisão em comparação às atuais e não consideravam alguns fatores como a cota dos rios, tipos de sensores e imprecisões na aquisição dos dados, o que diminui a acurácia dos dados. Atualmente, dentre os fatores mais enfatizados na análise desse sistema fluvial, destacam-se a taxa de migração dos canais e a definição do estilo fluvial em diferentes trechos, que variam entre os tipos mais conhecidos na literatura. Este trabalho demonstra por meio da análise multitemporal de imagens Landsat-5/TM a fase final de evolução do sistema fluvial Solimões-Amazonas, no trecho entre os tributários Purus e Negro, no decorrer dos anos de 1991 e 2011. As interpretações indicam leve predominância dos processos deposicionais em relação aos erosivos no trecho analisado, com áreas de 8,56 km2 e 6,86 km2, respectivamente, obtendo-se assim uma taxa de migração média de 0,32%/ano. Os processos deposicionais se concentram principalmente na parte convexa dos meandros e nas áreas a jusante das ilhas, incluindo a formação de novas ilhas, e os erosivos na parte côncava dos meandros e a montante das ilhas. Apesar da dinâmica de erosão e deposição observada no trecho estudado deste sistema, foi possível constatar o elevado padrão de estabilidade dos canais, o qual é coerente com dados batimétricos e de taxa de migração de estudos geológicos regionais, que ajudam a caracterizar o atual estilo fluvial anabranching.
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Combined effects of climate change and deforestation have altered precipitation patterns in the Amazon. This has led to changes in the frequency of extreme events of flood and drought in recent decades and in the magnitude of the annual flood pulse, a phenomenon that influences virtually all aspects of river-floodplain ecosystem dynamics. Analysis of long-term data revealed abrupt and synchronous changes in hydrology and fish assemblage structure of a floodplain lake near the confluence of Amazon and Negro rivers. After an intense drought in 2005, the assemblage assumed a different and fairly persistent taxonomic composition and functional structure. Declines in abundance after 2005 were more pronounced for species of all sizes having equilibrium life history strategy, large species with periodic life history strategy, and for all trophic levels except primary consumers. Our results suggest that the extreme drought triggered changes in the fish assemblage and subsequent anomalous hydrological conditions have hampered assemblage recovery. These findings stress the need to account for climatic-driven hydrological changes in conservation efforts addressing aquatic biodiversity and fishery resources in the central Amazon.
Chapter
To read the press of recent years, one might imagine that the fate of the world rests in the hands of those who would develop the Amazon basin. Waves of incoming colonists are blamed for the bulk of the deforestation and development (Schomberg 1998), but Asian logging firms, multinational oil companies, and gold miners are also portrayed as destructive agents hacking down the forest, systematically undermining its biodiversity, and severely contaminating its myriad ecosystems (Althaus 1996, Ferreira 1996, James 1998). The effects of these varied threats are regularly broadcast in alarming tones. Rueters News Service warned in January 1998 that “Brazil’s Amazon rain forest, the world’s richest trove of biological diversity and source of much of the Earth’s oxygen, continues to be ravaged” (Craig 1998). And, in April 1999, a writer for the Associated Press communicated the “fear” of unspecified scientists that “damage to the rain forest... could throw the Earth’s climate out of balance” (Donn 1999). Clearly, the fate of the Amazon and the implications of its fate to the overall Earth system are topics of enormous scientific and popular interest. While there is little disagreement that the complete destruction of Amazon forests would be catastrophic, what about partial deforestation of the region? How much, and which parts, of the Amazon can be converted to sustainable human land uses without compromising the ecological integrity of the conserved areas? How might this development impact regional climate, adjoining coastal systems, and overall global processes? Answers to these volatile questions remain elusive and seemingly endless strands of controversy swirl about them. At the heart of the matter, yet largely beyond the public discussion, are biogeochemical cycles that support and regulate the functioning of the Amazonia’s biological systems. Moreover, it is the incomplete understanding of these cycles that promotes uncertainty and feeds the controversy. The purpose of this book is to present a coherent assessment of our current understanding of the biogeochemical functioning of the Amazon basin. Although it is surely presumptuous to assume that this presentation will shed sufficient light on the uncertainties to eliminate the current controversies, we hope that it will provide a basis for lifting the discussion to a higher level.