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Concepções sobre o Behaviorismo Radical nas Publicações da Folha de S.Paulo [Conceptions about Radical Behaviorism in Folha de S.Paulo’s Publications]

Authors:

Abstract

Frequentemente, o behaviorismo radical e a análise do comportamento são apresentados na mídia por meio de estereótipos negativos, possivelmente atravancando a difusão de suas propostas aos potenciais beneficiários. Com base nisso, o objetivo deste trabalho é caracterizar as publicações do jornal Folha de S.Paulo sobre behaviorismo radical e análise do comportamento desde a sua fundação em 1921, até 2015. Para tal, 227 parágrafos presentes no jornal que continham os termos Skinner ou behaviorismo foram selecionados para análise. De forma geral, foram encontrados trechos contendo críticas ao behaviorismo radical que expuseram equívocos históricos e conceituais, problematizaram o este campo de estudo, apresentaram algum aspecto correto e/ou apresentaram o termo "behaviorismo" de forma genérica. Foram identificados tópicos especialmente mal compreendidos: a análise do comportamento como legitimadora do controle, ultrapassada pelas teorias cognitivistas, capaz de explicar apenas comportamentos simples ou de animais não-humanos e interessada apenas em comportamentos observáveis. Recomenda-se que behavioristas radicais comuniquem suas propostas com ênfase em seu caráter de denúncia do controle como uma característica inerente às relações comportamentais de uma ciência viva em constante desenvolvimento e de uma abordagem interessada em lidar com quaisquer comportamentos, que aconteçam dentro ou fora da pele.
Disponível em www.scielo.br/pcp
Artigo
Psicologia: Ciência e Profissão 2020 v. 40, e189472, 1-17.
https://doi.org/10.1590/1982-3703003189472
Concepções sobre o Behaviorismo Radical nas Publicações da Folha de S.Paulo
Marcos Spector Azoubel1
1Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SP, Brasil.
André Thiago Saconatto1,2
1Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SP, Brasil.
2Centro Universitário São Camilo, SP, Brasil.
Resumo: Frequentemente, o behaviorismo radical e a análise do comportamento são apresentados
na mídia por meio de estereótipos negativos, possivelmente atravancando a difusão de suas
propostas aos potenciais beneficiários. Com base nisso, o objetivo deste trabalho é caracterizar as
publicações do jornal Folha de S.Paulo sobre behaviorismo radical e análise do comportamento
desde a sua fundação em 192, até 2015. Para tal, 227 parágrafos presentes no jornal que continham
os termos Skinner ou behaviorismo foram selecionados para análise. De forma geral, foram
encontrados trechos contendo críticas ao behaviorismo radical que expuseram equívocos
históricos e conceituais, problematizaram o este campo de estudo, apresentaram algum aspecto
correto e/ou apresentaram o termo “behaviorismo” de forma genérica. Foram identificados
tópicos especialmente mal compreendidos: a análise do comportamento como legitimadora
do controle, ultrapassada pelas teorias cognitivistas, capaz de explicar apenas comportamentos
simples ou de animais não-humanos e interessada apenas em comportamentos observáveis.
Recomenda-se que behavioristas radicais comuniquem suas propostas com ênfase em seu
caráter de denúncia do controle como uma característica inerente às relações comportamentais
de uma ciência viva em constante desenvolvimento e de uma abordagem interessada em lidar
com quaisquer comportamentos, que aconteçam dentro ou fora da pele.
Palavras-chave: Análise do Comportamento, Comportamentalismo, Comunicação Científica,
Skinner, Mídia Popular.
Conceptions about Radical Behaviorism in Folha de S.Paulo’s Publications
Abstract: Often radical behaviorism and behavior analysis are presented in the media by
means of negative stereotypes, thus possibly making harder the diffusion of its proposals to
potential target audience. Taking that into account, this paper categorized publications from
the newspaper Folha de S.Paulo since its foundation, in 1921, until 2015, regarding radical
behaviorism and behavior analysis. To reach such goal, 227 paragraphs were selected containing
the terms Skinner or behaviorism from the newspaper. In general, excerpts that criticized radical
behaviorism, parts that exposed historical and conceptual misconception, that problematized
radical behaviorism, that showed some correct aspect and that presented the term behaviorism
in a generic way were found. Some specially misunderstood topics were identified: the view of
behavior analysis as an approach that defends control, outdated and overcome by cognitive
theories, is only capable of explaining simple human or non-human behavior and interested in
observable behavior. We recommend behavior analysts that communicate their proposals with
an emphasis on control as an inherent characteristic of behavioral relations to take into account
it is a constantly evolving science and an approach interested in dealing with any behavior,
whether occurring over or under the skin.
Keywords: Behavior Analysis, Behaviorism, Mass Media, Scientific Communication, Skinner.
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Psicologia: Ciência e Profissão 2020 v. 40, e189472, 1-17.
Concepciones acerca del Conductismo Radical en
las Publicaciones de Folha de S.Paulo
Resumen: El análisis conductual y el conductismo radical son presentados a menudo en los
medios de comunicación mediante estereotipos negativos, posiblemente dificultando la
difusión de sus propuestas a los potenciales beneficiarios. Basándose en esto, el objetivo de este
trabajo fue caracterizar las publicaciones del diario Folha de S.Paulo sobre el análisis conductual
y el conductismo radical desde su fundación, en 1921, hasta 2015. Para ello, se seleccionaran
para análisis 227 párrafos presentes en el diario, que contenían las palabras Skinner o
conductismo. En general, se encontraron extractos que hicieron críticas al conductismo radical,
que expusieron equívocos históricos y conceptuales, que problematizaron el conductismo
radical, que presentaron algún aspecto correcto y que presentaron el término “conductismo”
de manera genérica. Se identificó tópicos especialmente incomprendidos: la perspectiva
de análisis de la conducta como un enfoque psicológico defensor del control, ultrapasada y
superada por las teorías cognitivistas, capaz de explicar solo los comportamientos simples o de
animales no humanos e interesada solamente en comportamientos observables. Se recomienda
que conductistas radicales comuniquen sus propuestas con énfasis en su carácter de denuncia
del control como una característica inherente a las relaciones comportamentales, de una
ciencia viva, en desarrollo continuo, y de un enfoque psicológico interesado en tratar cualquier
comportamiento, que ocurra dentro o fuera de la piel.
Palabras clave: Análisis de la Conducta, Conductismo, Prensa Popular, Comunicación Científi-
ca, Skinner.
Democratizar e divulgar os conhecimentos pro-
duzidos pelas disciplinas científicas para o público
leigo (Bueno, 2010) e motivar o interesse sobre ciên-
cias nos leitores (Pedrosa & Santos, 2016) são objeti-
vos da divulgação científica. Isso costuma ser feito por
meio de variados veículos de comunicação voltados a
público não especializado como programas de televi-
são, jornais, revistas, livros, rádio e jornalismo digital.
Apesar da relevância dos trabalhos de divulgação cien-
tífica, é comum, de acordo com Pedrosa e Santos (2016),
que a tarefa seja realizada por profissionais do jorna-
lismo, que apresentam pouco domínio dos procedi-
mentos científicos e dos conhecimentos produzidos
por eles, acarretando ocasionalmente em divulgação
imprecisa dos conceitos científicos.
A maneira como o conhecimento científico é divul-
gado na mídia popular é um dos fatores que influen-
ciam a percepção pública da população em geral sobre
as ciências (Righetti, 2018). Por isso, torna-se importante
analisar como a mídia tem divulgado informações sobre
as diversas disciplinas científicas (Morris, 1985).
A análise do comportamento – ciência apoiada
nos pressupostos filosóficos do behaviorismo radical
(Skinner, 1974), fundada por B. F. Skinner (1904-1990) –
é uma abordagem psicológica pouco conhecida pelo
público em geral. Normalmente, essa abordagem é
apresentada por meio de estereótipos negativos com
foco numa visão distorcida, em especial as noções de
controle e de controle aversivo (Arntzen, Lokke, Lokke &
Eilertsen, 2010; Azoubel & Abbud, 2017; Freedman, 2016;
Gioia, 2001; Miraldo, 1985; Rodrigues, 1999).
A despeito de Skinner ser amplamente reconhe-
cido como um dos mais notáveis e influentes pen-
sadores do século XX (Mogdil & Mogdil, 1987), sua
obra tem despertado grande número de controvér-
sias ao longo dos anos. Porém, de acordo com o autor
(Skinner, 1973, 1974), a maior parte dessas polêmicas
são fruto de incompreensões das suas propostas teó-
ricas, metodológicas e tecnológicas. Por isso, Skinner
dedicou-se a publicar diversos trabalhos em análise
do comportamento dirigidos ao público leigo por meio
jornais, revistas, entrevistas e livros que traduziam as
bases do behaviorismo radical e da análise do compor-
tamento para linguagem coloquial (Rutherford, 2004);
por exemplo, no Brasil, o autor concedeu duas entre-
vistas à revista Veja (Azoubel & Abbud, 2017).
3
Azoubel, M. S., & Saconatto, A. T. (2020). Behaviorismo Radical na Folha.
Por mais que Skinner tenha tentado assiduamente
comunicar-se com o público em geral, as críticas base-
adas em incompreensões continuaram e continuam
acompanhando os analistas do comportamento desde
tal data. Diversos autores apontaram que as compreen-
sões equivocadas sobre a análise do comportamento e
o behaviorismo radical resultam em empecilhos para
a propagação de suas propostas conceituais e tec-
nológicas (Azoubel & Abbud, 2017; Freedman, 2016;
Friman, 2014; Gioia, 2001; Guimarães, 2003; Morris,
1985; Normand, 2014; Rodrigues, 2006; Weber, 2002).
Tendo isso em vista, essa questão tem sido foco de
variadas publicações de analistas do comportamento
que visaram identificar equívocos sobre o behavio-
rismo radical e a análise do comportamento (Azoubel &
Abbud, 2017; Gioia, 2001; Guimarães, 2003; Rodrigues,
2006; Weber, 2002) e delinear estratégias que aumen-
tem o impacto das propostas da análise do comporta-
mento na sociedade (Freedman, 2016; Friman, 2014;
Morris, 1985; Normand, 2014; Smith, 2016).
Para examinar o que foi publicado na revista Veja,
um dos meios mais populares de circulação de infor-
mações no Brasil, sobre behaviorismo radical e análise
do comportamento, Azoubel e Abbud (2017) buscaram
pelos termos Skinner, análise do comportamento e
behaviorismo no acervo digital desta revista. Após apli-
cação dos critérios de exclusão, foram analisados doze
trechos que tratavam sobre behaviorismo radical e
análise do comportamento. Destes, onze trechos apre-
sentavam equívocos históricos (e.g., afirmações de que
Skinner seria psicanalista e fundador do behaviorismo,
sem especificação do behaviorismo radical) ou concei-
tuais (e.g., alegações de que o behaviorismo lida apenas
com fenômenos observáveis e de que defende o uso
de práticas coercitivas). Futuras pesquisas que identi-
fiquem o que é veiculado sobre a análise do compor-
tamento em meios de comunicação populares podem
ajudar a compreender de forma mais ampla a visão do
público em geral sobre a análise do comportamento e,
com isso, planejar estratégias adequadas de comunica-
ção e tentar avaliar de que maneira os próprios analis-
tas do comportamento podem ter contribuído para a
construção de concepções negativas sobre suas práti-
cas e, então, exercer a autocrítica.
Com base no que foi exposto até aqui, o objetivo
deste trabalho é descrever sistematicamente e exa-
minar criticamente as publicações do jornal Folha de
S.Paulo sobre behaviorismo radical e análise do com-
portamento, originalmente publicadas em versão
impressa, desde a sua fundação, em 1921, até o ano de
2015. Este veículo de comunicação foi escolhido por
possuir circulação nacional e por ser o jornal mais ven-
dido do Brasil desde a década de 1980, o que demons-
tra sua importância no cenário nacional.
Método
Fonte de informações
O “Acervo Folha” (https://acervo.folha.com.br/
index.do) foi utilizado como fonte de informações. Essa
fonte disponibiliza gratuitamente todas as edições diá-
rias do jornal, desde a sua primeira publicação em 1921.
Procedimento de busca
Na página inicial do “Acervo Folha” foi selecio-
nada a opção “busca detalhada. No campo “com pelo
menos uma das palavras” foram inseridos os termos
Skinner e behaviorismo. Como resultado da busca,
foram encontradas 405 entradas. Cada entrada con-
sistia em uma imagem digitalizada de duas folhas do
jornal publicadas entre 1921 e 2015.
Critérios de exclusão
Foram excluídos os trechos em que Skinner ou
behaviorismo foram apenas citados brevemente;
que não continham observações sobre eles, apenas
citando-os nominalmente (e.g., alguns trechos ape-
nas listaram diversas áreas da Psicologia, incluído aí o
behaviorismo); ou foram citadas outras pessoas, per-
sonagens ou instituições com nome ou sobrenome
“Skinner”. Ao fim dos procedimentos de exclusão,
restaram 104 entradas que continham 227 parágrafos
selecionados para análise.
Procedimento de análise
Os parágrafos em que os termos selecionados
apareceram e que não se enquadraram nos critérios
de exclusão foram transcritos integralmente em uma
planilha do Microsoft Excel 2010. Também foram regis-
tradas a página em que cada termo apareceu, a data
de publicação e algumas informações gerais sobre o
texto do qual o trecho fazia parte (i.e., autor[es] do
texto; assuntos abordados durante o texto; referências
a Skinner, à análise do comportamento ou ao beha-
viorismo radical; relações entre o trecho selecionado
e o restante do texto).
Após a coleta das informações, os autores deste
artigo leram-nas conjuntamente (um ao lado do
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Psicologia: Ciência e Profissão 2020 v. 40, e189472, 1-17.
outro, em voz alta). Após a leitura em voz alta, os auto-
res discutiam em qual(is) categoria(s) cada trecho
pertencia. Em caso de discordância, cada um expu-
nha seus argumentos para esclarecer suas respecti-
vas posições e, baseando-se nestes argumentos, os
autores decidiam a pertinência de cada trecho a uma
ou mais categorias de análise estabelecidas. Quando
nenhuma das categorias pareceu adequada, criaram-
-se novas categorias. Após consenso entre os pesqui-
sadores, cada trecho foi caracterizado conforme uma
ou mais categorias e subcategorias a seguir:
equívoco sobre behaviorismo radical, análise do
comportamento ou Skinner: os trechos foram
considerados como contendo equívocos históricos
nos casos em que apresentaram equívocos
em relação a aspectos históricos da análise do
comportamento, do behaviorismo radical ou da
vida e obra de Skinner. Os equívocos históricos
foram categorizados em: alegação do fim do
behaviorismo radical, indicação de Skinner
como fundador do behaviorismo, equívoco sobre
propostas tecnológicas e equívoco sobre a formação
acadêmica de Skinner. Trechos que apresentaram
equívocos relacionados aos conceitos e princípios
básicos e os pressupostos filosóficos da área
foram agrupados como contendo equívocos
conceituais. Tais equívocos foram categorizados
em: afirmação de que o behaviorismo radical rejeita
qualquer forma de introspecção, alegação de que
resultados de pesquisas com não humanos não
seriam generalizáveis para humanos, suposição
de rejeição por parte do behaviorismo radical de
qualquer dotação inata, atribuição ao behaviorismo
radical de uma posição antiteórica, indicação do
paradigma estímulo-resposta como unidade básica
de análise da análise do comportamento, utilização
imprecisa dos termos analítico-comportamentais e
declaração de que o behaviorismo radical defende
o controle. Os critérios utilizados para definir os
trechos como equivocados se basearam em textos
de Skinner que apresentam posições contrárias às
consideradas equivocadas descritas nos trechos
analisados. Os argumentos e o esclarecimento dos
equívocos estão presentes na seção de Discussão;
apresentação de aspectos corretos: reúne trechos que
apresentaram informações corretas sobre Skinner,
análise do comportamento e/ou behaviorismo
radical. As subcategorias foram citação correta
para justificar argumentos, descrição correta de
aspectos biográficos ou bibliográficos sobre Skinner
e exposição correta de aspectos conceituais;
crítica ao behaviorismo radical, à análise do
comportamento ou a Skinner: as emissões de
avaliações, de qualificações ou de opiniões sobre
behaviorismo radical, análise do comportamento
ou Skinner foram considerados posicionamentos
críticos. Foram categorizados como contendo
crítica positiva os trechos que apresentaram
opiniões favoráveis à área; crítica sobre o controle
do comportamento, os trechos que expuseram
opiniões desfavoráveis à noção de controle no
behaviorismo; crítica à superficialidade, os trechos
que expressaram opiniões contrárias ao alcance da
teoria analítico-comportamental aos problemas
humanos complexos; atribuição de valor inferior,
qualificando o behaviorismo radical como
uma abordagem psicológica inferior às demais;
metacrítica, os trechos que criticaram as críticas à
área. Trechos que apresentavam adjetivos indicando
controvérsia e repúdio a Skinner entraram nas
subcategorias controverso/repudiado, e em influente
entraram os trechos que atribuíram adjetivos
a Skinner que indicaram a influência de suas
contribuições para Psicologia ou para a sociedade;
problematização de algum aspecto sobre
behaviorismo radical, análise do comportamento
ou Skinner: esta categoria engloba trechos que
apresentaram dois ou mais pontos polêmicos ou
divergentes, sem exposição de posicionamento
por parte do autor em favor de um dos pontos
(quando o autor posicionou-se a favor de um
dos pontos, o trecho foi categorizado como
possuindo uma crítica). As subcategorias
utilizadas foram problematização sobre liberdade
e controle, que englobou trechos em que foram
apresentadas posições distintas sobre liberdade
e controle e problematização sobre as diferenças
entre o behaviorismo radical e outras correntes
de pensamento, que reuniu trechos tratando de
diferenças entre posições behavioristas radicais e
de outras correntes filosóficas ou psicológicas;
utilização do termo “behaviorismo” de forma
genérica: os trechos que não explicitaram
diretamente sobre qual behaviorismo se referiram,
mas forneceram alguma informação que permitiu
identificar se tratar sobre behaviorismo radical
foram incluídos na categoria identificável como
tratando do behaviorismo radical; para os casos
em que foi possível identificar a menção a outra
5
Azoubel, M. S., & Saconatto, A. T. (2020). Behaviorismo Radical na Folha.
teoria behaviorista, os trechos foram inseridos
na categoria identificável como tratando de outro
behaviorismo; os trechos que não forneceram
informações suficientes para identificar qual
behaviorismo foi abordado foram acrescentados
à categoria não identificável.
Resultados e discussão
Como é possível notar na Figura 1, a pri-
meira menção à análise do comportamento ou
ao behaviorismo radical encontrada na Folha de
S.Paulo data de 1961. Talvez o aparecimento relati-
vamente tardio de citações à área se deva ao fato de
este ter sido o ano da primeira visita ao Brasil de Fred
Keller como professor visitante na Universidade de
São Paulo, e de não existirem, antes disso, materiais
sobre análise do comportamento publicados no país
(Todorov, 2003). Como exemplo, a primeira edição
do livro Ciência e Comportamento Humano foi publi-
cada no Brasil apenas em 1967.
Figura 1
Ao longo dos anos, número acumulado de trechos em cada categoria e número total de trechos.
Conforme mostra a Figura1, até o ano de 1971 a
apresentação de aspectos corretos foi a categoria mais
recorrente nos trechos analisados. Entre 1972 e 1989
houve alternação entre esta e a categoria críticas ao
behaviorismo radical como a de maior ocorrência.
Por fim, a partir de 1990 a categoria de crítica ao beha-
viorismo radical ultrapassou a categoria de apresenta-
ção de aspectos corretos e, ao final do período analisado,
foi a que ocorreu no maior número de trechos (N=71),
seguida pela de aspectos corretos (N= 61). No decorrer
dos anos, a categoria equívocos sobre o behaviorismo
radical e de utilização do termo “behaviorismo” de forma
genérica se alternaram como a terceira e a quarta cate-
gorias em número de ocorrência, mas em 2015 a ocor-
rência de equívocos foi a terceira em número de ocor-
rências nos trechos (N=54), enquanto a categoria de
uso do termo “behaviorismo” de maneira genérica apa-
receu como a quarta categoria mais recorrente (N=53).
Por último, a categoria de problematização de aspectos
sobre o behaviorismo radical (N=36) foi a menos recor-
rente dentre as categorias durante o período analisado.
Destaca-se que Skinner faleceu em 1990, aspecto
que coincide com o ano em que houve a maior ocor-
rência de trechos que trataram sobre o behaviorismo
radical e a análise do comportamento devido à divul-
gação de sua morte. Interessante notar que, como é
possível observar na Figura 1, enquanto Skinner estava
vivo havia mais ocorrências e de forma mais sistemá-
ticas quando comparado ao período post mortem.
Isso vai ao encontro do aspecto apontado por
Rutherford (2004), que salientou a sua grande visibili-
dade nos públicos acadêmico e popular, possivelmente
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Psicologia: Ciência e Profissão 2020 v. 40, e189472, 1-17.
produzida pela sistemática divulgação de sua teoria
por meio da publicação de artigos em jornais e revistas
e de livros voltados a não especialistas em análise do
comportamento e behaviorismo radical.
Para construção da Figura 1, foi contabilizado
o número de trechos que se enquadraram em cada
categoria geral, para que fosse possível comparar tal
número com o número total, fornecendo uma carac-
terização geral dos trechos analisados. Para as análises
apresentadas a seguir, levou-se em conta o número
de ocorrências de cada categoria e subcategoria nos
trechos, de forma que cada trecho pôde ser categori-
zado conforme mais de uma subcategoria, ultrapas-
sando os números expostos na Figura1.
Contabilizadas as ocorrências das subcatego-
rias nos trechos examinados, foi possível notar que
o maior número de ocorrências foi das subcategorias
de críticas, com 84. Em seguida vieram as subcate-
gorias de equívocos e de apresentação de aspectos
corretos, com sessenta ocorrências cada. Por fim,
para as categorias de utilização do termo “behavio-
rismo” de forma genérica e problematização de algum
aspecto sobre o behaviorismo radical não houve inci-
dência de mais de uma subcategoria por trecho, de
forma que a primeira se manteve com 53 ocorrências
e a segunda com 36.
Dentre os equívocos conceituais, foram encon-
trados dois trechos com afirmações de que o beha-
viorismo radical rejeitava qualquer tipo de intros-
pecção; três trechos apresentaram equívocos sobre a
suposta superficialidade, afirmando que os estudos
da análise do comportamento se limitam a sujeitos
não-humanos e que, por isso, seus princípios não
serviriam para compreensão do comportamento do
indivíduo; dois trechos expuseram equívocos sobre a
suposta negação de qualquer dotação inata por parte
do behaviorismo radical; seis trechos atribuíram ao
behaviorismo radical suposta posição antiteórica de
ciência; quatro trechos deram a entender que a uni-
dade básica de análise da análise do comportamento
seriam as relações estímulo-resposta; dezessete tre-
chos utilizaram conceitos básicos analítico-com-
portamentais de maneira imprecisa, apresentando
interpretações mentalistas (atribuição de causas de
comportamentos a eventos internos ou com natu-
reza não-física) e/ou teleológicas (atribuições de
causas futuras a comportamentos do presente), ou
atribuindo conceitos de outras áreas à análise do
comportamento; cinco trechos afirmaram que o
behaviorismo radical defende o controle. Exemplos
de trechos agrupados conforme cada subcategoria
estão dispostos na Quadro1.
Quadro 1
Apresentação de trechos que exemplificam as subcategorias de equívocos conceituais.
Trecho que exemplifica a subcategoria Subcategoria
Quem com mais força pregou contra a antropomorfização foram os behavioristas,
liderados por B. F. Skinner, para os quais, em nome da parcimônia explicativa, toda
forma de introspecção deveria ser banida. (Schwartsman, 2013, p. A2)
Afirmação de que o
behaviorismo radical
rejeita a introspecção.
Faz parte do arsenal de venenos da corrente que em psicologia se opõe aos
behavioristas do dr. Skinner, os quais insistem em pesquisar comportamento humano
produzindo reflexos em animais engaiolados. (Essa corrente insiste em tomar o
Homem como um conjunto ou uma soma de reflexos e ele não é isso. Sobretudo não
é um rato nem um coelho, embora haja momentos, cada vez mais frequentes em que
nos vemos obrigados a reconhecer que esse mamífero superior se esforça por ficar
intelectualmente muitos furos abaixo desses estúpidos roedores). (Pereira, 1981, p. 6)
Alegação de que
resultados de pesquisas
com não humanos não
seriam generalizáveis
para humanos.
Duas posições extremas são, portanto, frequentes. De um lado, pressupondo uma
influência predominante da herança biológica, alguns etólogos e geneticistas
advogam um verdadeiro determinismo cromossômico. No extremo oposto,
a antropologia cultural e os psicólogos comportamentalistas (behavioristas)
minimizam a importância da hereditariedade, chegando admitir implicitamente,
como Skinner e seus seguidores, ou explicitamente como Montagu, Mead, Boas
e outros antropólogos que o homem é integralmente produto do meio, a “tabula
rasa”dos anos 50. (Leite, 1983, p. 20)
Suposição de rejeição por
parte do behaviorismo
radical de qualquer
dotação inata.
continua...
7
Azoubel, M. S., & Saconatto, A. T. (2020). Behaviorismo Radical na Folha.
Trecho que exemplifica a subcategoria Subcategoria
Para começo de conversa, Skinner não criou” nada. Descobriu. Ele jamais negou
a vida interior das pessoas, como quer o jornalista; ao contrário, tentou estudá-la.
Nunca lançou teoria alguma, pois era avesso a teorias, e muito menos confundiu
ratos com gente, a não ser na imaginação do jornalista. (Stamirowski, 1990, p. A-3)
Atribuição ao behaviorismo
radical de uma posição
anti-teórica.
A escola de pensamento da psicologia E-R (estímulo-resposta) foi fundada por
B. F. Skinner. A tese baseia-se no behaviorismo descritivo. (Folha de S.Paulo, 1991, p. 7)
Indicação do paradigma
estímulo-resposta
como unidade básica
de análise da análise do
comportamento.
Considerado pelo doutor Skinner e outros psicólogos menores como uma das grandes
causas do fracasso no vestibular, o nervosismo e a falta de autoconfiança podem
ser evitados, desde que o aluno faça higiene mental e vá para o exame confiante no
sucesso, através da mentalização constante de que “já passei” e que não precisa, assim,
temer o fracasso naquele difícil testem sob o aspecto emocional. (Leminski, 1986, p. 38)
Utilização imprecisa
dos conceitos analítico-
comportamentais.
“Porque as pessoas têm maus hábitos, vamos mudar seus comportamentos,
abordagem difundida pelo comportamentalismo desde 1950, com Skinner
[psicólogo norte-americano], que dizia que a liberdade é um luxo que a
humanidade não pode ter, pois, se as pessoas fazem o que querem, elas terão maus
hábitos. (Ramon, 2008, p. 8)
Declaração de que o
behaviorismo radical
defende o controle.
na história de interação entre organismo e ambiente
e rejeitam a atribuição de causalidade de compor-
tamentos a constructos internos ou a eventos futu-
ros (Skinner, 1953/1965, 1974) e denunciam a exis-
tência de relações de controle, entendendo que o
homem é produto e produtor de si e do seu mundo,
capaz de deliberar sobre o seu futuro por meio do
planejamento e do autogoverno (Micheletto & Sério,
1993; Pessotti, 2016). Dessa maneira, de acordo com
Skinner (1955/1961), ao contrário de defender que
o comportamento precisa ser controlado, caberia ao
behaviorismo radical expor as relações de controle
comportamental, demonstrando o controle como
uma característica inerente às relações entre eventos
do mundo, tais como as relações comportamentais
entre eventos antecedentes, respostas e eventos sub-
sequentes, tornando os sujeitos mais aptos a toma-
rem rumo de suas vidas ao se tornarem conscientes
de tais variáveis de controle.
Em relação aos equívocos históricos, quatro tre-
chos afirmaram que a teoria behaviorista radical dei-
xou de existir depois das críticas de Chomsky ou do
surgimento da psicologia cognitivista; dez trechos
apresentaram a informação de que Skinner teria sido
o fundador do “behaviorismo”; cinco trechos apre-
sentaram erros sobre aspectos históricos de propostas
tecnológicas de Skinner ou atribuíram a ele a criação
...continuação
Ao contrário do que foi veiculado nesses trechos,
o behaviorismo radical e a análise do comportamento
propõem o estudo de eventos privados, observáveis
por apenas um organismo, mas se baseiam no princí-
pio de que tais eventos possuem natureza física, como
quaisquer outros eventos (Skinner, 1953/1965, 1974).
Essas vertentes acreditam em certa continuidade
entre os organismos, que permite a compreensão de
princípios comportamentais básicos a partir da inves-
tigação do comportamento de animais não-huma-
nos, mas realizam estudos também com participan-
tes humanos (Skinner, 1953/1965, 1974); defendem
também que o comportamento humano é produto
das histórias filogenética, ontogenética e cultural
de seleção pelas consequências (Skinner, 1981), de
forma a incluir a dotação genética na determinação
dos comportamentos; afirmam que a construção de
teorias científicas é tarefa imprescindível do fazer
científico, apesar de rejeitarem teorias que apelem a
explicações de eventos físicos a eventos não-físicos
(Skinner, 1950). Esses campos de estudos utilizam a
contingência comportamental de três termos (estí-
mulos antecedentes–resposta–estímulos subsequen-
tes) como unidade analítica básica da análise do com-
portamento operante (Skinner, 1953/1965, 1974). A
análise do comportamento e o behaviorsimo radical
defendem que as causas dos comportamentos estão
8
Psicologia: Ciência e Profissão 2020 v. 40, e189472, 1-17.
de tecnologias que não lhe cabiam; dois trechos infor-
maram equívocos sobre a formação acadêmica de
Skinner. Há, no Quadro2, trechos que exemplificam
tais subcategorias de equívocos históricos.
Ao contrário dessas informações divulgadas,
o behaviorismo radical e a análise do comporta-
mento, apesar de nunca terem representado o para-
digma dominante na Psicologia, não deixaram de
existir após o surgimento da psicologia cognitivista ou
das críticas de Chomsky sobre a abordagem skinne-
riana ao comportamento verbal, pelo contrário, tem
se desenvolvido constantemente por diversos cami-
nhos (Correal, 2016; Smith, 2016); tradicionalmente,
atribui-se a John B. Watson o título de fundador do
behaviorismo, com seu texto intitulado “A Psicologia
como o Behaviorista a vê” (1913); em relação às pro-
postas tecnológicas, é preciso retificar que Skinner
não foi o criador da primeira máquina de ensinar,
tendo sido precedido por alguns pesquisadores,
como Sidney Pressey (1926), mas criou uma nova
máquina, baseada em conhecimentos sobre com-
portamento operante (Skinner, 1958); sobre a for-
mação de Skinner, graduou-se em Literatura Inglesa
na Hamilton College e realizou posteriormente mes-
trado e doutorado em Psicologia na Universidade de
Harvard (Cunha & Verneque, 2004).
Quadro 2
Apresentação de trechos que exemplificam as subcategorias de equívocos históricos.
Trecho que exemplifica a subcategoria Subcategoria
É cedo para dizer se as ideias de Everett representam um golpe mortal para a teoria
chomskiana. (Não seria de todo impensável: o próprio Chomsky protagonizou um
episódio desses, quando pôs abaixo em 1959, com um único artigo, toda a psicologia
behaviorista de B. F. Skinner.) (Angelo, 2009, p. 8)
Alegação do fim do
behaviorismo radical
Morreu sábado nos EUA, “pai da psicologia behaviorista” e autor de uma controversa
teoria sobre comportamento humano. (Folha de S.Paulo, 1990, p. C-1).
Indicação de Skinner
como fundador do
behaviorismo
Um dia Skinner resolveu submeter sua filha, que tinha horror à matemática, ao mesmo
método empregado com as pombas: o resultado também foi excelente. O método
tomou o nome de Instrução Programada e, depois de algum tempo, o psicólogo acabou
por inventar uma máquina bastante simples e capaz de mecanizar o método. Neste dia,
nasceu então a primeira “máquina de ensinar”. (Cunha, 1970, p. 30)
Equívocos sobre
propostas tecnológicas
A violência é o meu “box de Skinner” (alusão à caixa de vidro e antissetizada [sic] que
servia de berço à filha do sociólogo norte americano). (Sarraude, 1972, p. 27)
Equívocos sobre a
formação acadêmica
de Skinner
Na Folha de S.Paulo houve um número conside-
ravelmente maior de afirmações consistentes com os
conceitos e a história da análise do comportamento e
do behaviorismo radical (N=60), em comparação com
os resultados de Azoubel e Abbud (2017). Em doze
trechos houve citação correta a aspectos da teoria
analítico-comportamental para justificar algum argu-
mento, em 29 ocasiões foram apresentadas informações
corretas acerca de aspectos históricos ou bibliográficos
sobre Skinner e em dezenove parágrafos foram encon-
tradas descrições corretas de aspectos conceituais. No
Quadro3 há trechos que exemplificam tais categorias.
Quadro 3
Apresentação de trechos que exemplificam as subcategorias de afirmações corretas.
Trecho que exemplifica a subcategoria Subcategoria
O Ensino Personalizado é um método novo de ensino, baseado em pesquisas de Psicologia
Experimental sobre o comportamento, desenvolvido pelo psicólogo americano Fred F.
Keller, a partir de estudos iniciados por Skinner, e teve sua primeira experiência realizada
entre nós, na Universidade de Brasília, a partir de 1963, coordenada pelos professores
Carolina M. Bori e Rodolfo Azzi. Respeitando o ritmo de trabalho e assimilação particular de
cada estudante, consegue obter 100% de aproveitamento, o que tem assegurado um enorme
sucesso em termos de resultados e objetivos alcançados. (Folha de S.Paulo, 1974, p. 20)
Citação correta
para justificar
argumentos
continua...
9
Azoubel, M. S., & Saconatto, A. T. (2020). Behaviorismo Radical na Folha.
Trecho que exemplifica a subcategoria Subcategoria
Nascido em 1904, em Susquehanna (nordeste dos EUA), Skinner foi atraído pelos estudos
do russo Ivan Pavlov sobre reflexos condicionados. Recebeu seu Ph. D. –equivalente ao
título de doutoramento nos EUA– em 1931, pela Universidade de Harvard, onde trabalhou
como pesquisador até 1936. Em 1936, Skinner foi lecionar na Universidade de Minnesota,
no estado de Minneapolis (norte dos EUA), onde escreveu “O Comportamento dos
Organismos”, em 1938. (Ferreira, 1990, p. 6)
Descrição correta
de aspectos
biográficos ou
bibliográficos
Skinner, o principal psicólogo da corrente behaviorista, é um cientista pouco lido e
raramente compreendido. Suas idéias são muito complexas e enfatizam a necessidade
de explicar qualquer comportamento, por mais simples que pareça, como resultado
da combinação de muitas causas. Os métodos da Análise do Comportamento foram
propostos por Skinner para destrinçar estas múltiplas causas e mostrar como elas se
combinam para determinar a conduta. Skinner escreveu um livro, “Sobre o Behaviorismo”,
procurando mostrar que são falsas as afirmações mais difundidas a respeito do seu
pensamento, como por exemplo as seguintes: 1) ele ignora a consciência e os estados
mentais; 2) formula o comportamento simplesmente como um conjunto de respostas a
estímulos, representando assim a pessoa como um autômato, robô, boneco ou máquina;
3) não dá lugar para intenção ou propósito. (Rose, 1990, p. 6)
Exposição correta
de aspectos
conceituais
dois analistas do comportamento, é possível salientar
a importância da divulgação feita pelos especialistas
no assunto, afinal, sem esses textos haveria apenas
um trecho divulgando os conceitos da área correta-
mente. Parece importante que os próprios analistas
do comportamento se encarreguem de comunicar o
que a análise do comportamento tem a oferecer.
Dos trechos da categoria problematização sobre
a análise do comportamento e o behaviorismo radi-
cal, dezoito deles continham problematizações sobre
a questão da liberdade e do controle do comporta-
mento, enquanto dezoito apresentavam o confronta-
mento entre as propostas analítico-comportamentais
e de outras abordagens, especialmente a psicanálise
(N=10) e outras correntes filosóficas ou psicológicas
(N=8). De forma geral, como é possível verificar nos
exemplos do Quadro4, eram apresentadas posições
divergentes e anunciadamente polêmicas, mas não
eram apresentadas informações adicionais que auxi-
liassem os leitores a assumirem uma posição emba-
sada, a fim de resolver as questões problematizadas.
...continuação
Em duas ocasiões, a Folha deu voz a analistas do
comportamento, que puderam divulgar corretamente
os conhecimentos da área. Maria Amélia Matos e Julio
de Rose, dois reconhecidos analistas do comporta-
mento brasileiros, escreveram 22 trechos no jornal,
sendo todos conceitual e historicamente corretos.
Mais notadamente, dezoito dos dezenove trechos
categorizados como contendo descrição correta de
aspectos conceituais foram escritos por esses autores.
O trecho restante foi resultado de uma breve entre-
vista a Garry Martin, reconhecido analista do compor-
tamento estrangeiro, realizada em 1978.
A categoria exposição correta de aspectos concei-
tuais pode ser entendida como aquela que agrupou
os trechos em que informações mais consistentes e
importantes foram divulgadas, visto que explicita-
ram corretamente aos leitores aspectos conceituais
da análise do comportamento, tantas vezes apresen-
tados de forma equivocada (Azoubel & Abbud, 2017;
Gioia, 2001). Dado que a maioria (94,7%) das ocor-
rências dessa categoria se deu em trechos escritos por
10
Psicologia: Ciência e Profissão 2020 v. 40, e189472, 1-17.
Quadro 4
Apresentação de trechos que exemplificam as subcategorias de problematizações.
Trecho que exemplifica a subcategoria Subcategoria
Skinner já havia ido mais longe em “Walden 2”, romance de 1948. O livro descreve uma
sociedade imaginária funcionando segundo os postulados behavioristas. Nela, não há
classes sociais, propriedade privada, violência ou privilégios. Este mundo, Skinner o
imaginava como resultante de condicionamentos complementares. Numa passagem,
o autor descreve uma cena em que cabras pastam no jardim de uma casa e tira disso
a seguinte conclusão: as cabras ficam alimentadas ao mesmo tempo em que fazem a
manutenção do jardim. “Walden” seria um país onde tudo funcionasse dessa forma. Os
críticos do “paraíso terrestre” proposto por Skinner diziam que seu preço era a redução dos
indivíduos a simples peças de uma “engenharia social” (expressão do próprio Skinner).
(Silva, 1990, p. E-7)
Problematização sobre
liberdade e controle
Trabalhando na Califórnia desde 1962, Rogers atuou no Centro para Estudos da Pessoa,
em La Jolla, onde também morava. Sobre as teorias de B. F. Skinner – conhecidas como
comportamentalismo –, Rogers disse que “são excelentes para o conhecimento de
ratos e de macacos, mas não de pessoas”. Skinner, por sua vez, dizia que Rogers e sua
psicologia humanista eram um “brilhante equívoco. Suas polêmicas sobre psicologia
educacional influenciaram muitas instituições de ensino. (Folha de S.Paulo, 1987, p. 14).
Problematização sobre
as diferenças entre o
behaviorismo radical
e outras correntes de
pensamento
superficialidade e um trecho colocou o behaviorismo
radical como algo inferior às demais correntes psi-
cológicas, vinte trechos colocaram Skinner e/ou o
behaviorismo radical como sendo controverso ou até
mesmo repudiado, 24 trechos colocaram Skinner e/ou
o behaviorismo radical como influente.
A categoria de críticas foi subdividida em sete
subcategorias, exemplificadas no Quadro 5. Foram
contabilizados dez trechos que criticaram a noção
de controle e a falta de liberdade, oito trechos fize-
ram críticas positivas e dezessete trechos expuseram
metacríticas, quatro trechos fizeram críticas à suposta
Quadro 5
Apresentação de trechos que exemplificam as subcategorias de críticas.
Trecho que exemplifica a subcategoria Subcategoria
O sistema personalizado segundo o prof. Sodré está apoiado na psicologia da
aprendizagem proposta por Skinner, segundo a qual o aluno é tratado conforme
suas tendências e aptidões. Deixando de ser simplesmente um número a mais entre
outros, passando a ser tratado como indivíduo. (Folha de S.Paulo, 1973, p. 10).
Crítica positiva
O que tem mais irritado psicólogos sociais voltados para a dialética e que lêem
o antigo Skinner, é sua teimosia em ignorar a força do homem como agente da
história. Ele parece estar sempre se dirigindo a agências governamentais, para
fornecer-lhes as “dicas” necessárias para um “efetivo e funcional” controle sobre o
comportamento dos homens ou de grupos de homens. Todavia, isso é totalmente
contraditório, porque o ser humano, por ser o que é, consegue desenvolver sempre e
mais as técnicas de contracontrole, na busca pela liberdade. (Cardoso, 1979, p. 65)
Crítica sobre o controle
do comportamento
Há quem descarte a filosofia de Skinner como simplesmente tola. Ele é um grande
psicologista, um dos maiores do mundo, ninguém contesta, mas de filosofia política
não entende nada. Que fique com a “humanidade” de suas gaiolas, não com a
humanidade verdadeira, que se escreve com H maiúsculo! (Reis, 1971, p. 38).
Crítica à superficialidade
No Brasil de Skinner passamos a Rogers. Um pouco melhor. Com o “Tratamento
Clínico da Criança Problema, de Carl Rogers, temos, mais uma vez, um amplo
estudo sobre “o quanto é difícil tratar os problemas das crianças para os quais não há
uma receita. (Folha de S.Paulo, 1980, p. 45).
Atribuição de
valor inferior
continua...
11
Azoubel, M. S., & Saconatto, A. T. (2020). Behaviorismo Radical na Folha.
Trecho que exemplifica a subcategoria Subcategoria
Infelizmente, esse tributo acaba incorrendo no pecadilho daqueles que só conhecem
Skinner a partir da literatura secundária: caricaturar o behaviorismo radical como
uma psicologia sem psiquismo. Uma visão anedótica, que transpira um certo
humanismo de botequim ou uma certa etiqueta pseudo-intelectual que a ensina
a torcer o nariz para o behaviorismo e para o positivismo sem saber do que se está
falando. (Teixeira, 2005, p. 6).
Metacrítica
Conheça Skinner, o ‘pai do behaviorismo. A Folha publica hoje duas páginas dedicadas
ao pesquisador Burrhus Frederic Skinner, que morreu aos 86 anos sábado último.
Skinner era o maior nome da psicologia behaviorista e um dos mais controvertidos
pensadores deste século. Atacado pelos humanistas, foi acusado de ser um
“psicólogo de ratos” e de conceber uma sociedade totalitária. (Silva, 1990, p. E-7)
Controverso/ repudiado
Skinner conta hoje 67 anos e tem uma longa carreira de educador e pesquisador,
que começou em Minnesota, passou por Indiana e chegou afinal à Harvard, onde
desde 1948 leciona e pesquisa, havendo atingido o professorado pleno em 1958.
Durante essa carreira, iniciada em 1931, sua ocupação capital tem sido a psicologia
experimental. Celebrizaram-no as pesquisas sobre condicionamento operante ou
instrumental. (Reis, 1971, p. 37)
Influente
...continuação
continua...
Pode-se notar que o número de metacríticas e
de críticas positivas (N=25) foi superior ao número de
críticas a aspectos negativos (N=10), o que mostra pre-
ocupação dos autores em indicar que o behaviorismo
radical é costumeiramente alvo de críticas indevidas.
Ao analisar os trechos, pôde-se notar que as críticas
feitas geralmente não apresentavam argumentação
para sustentá-las.
Azoubel e Abbud (2017) haviam notado que na
revista Veja, mesmo quando os autores trataram do
behaviorismo radical, foi utilizado genericamente o
termo “behaviorismo, sem especificação do termo
“radical”, que caracteriza a proposta skinneriana.
Na Folha de S.Paulo, a proposta skinneriana foi
chamada de behaviorismo radical em apenas cinco
dos 228 trechos analisados. Em outros 26 trechos
não foi possível identificar qual behaviorismo fora
citado, em 25 situações o termo “behaviorismo
foi apresentado de forma genérica, mas era pos-
sível identificar se tratar do behaviorismo radical,
e em duas ocasiões o termo foi usado para abordar o
behaviorismo watsoniano (perspectiva que defende
que todos os comportamentos são observáveis ou,
ao menos, potencialmente observáveis). Podem ser
verificados, no Quadro6, exemplos para as subcate-
gorias apresentadas.
Quadro 6
Apresentação de trechos que exemplificam as subcategorias de utilização genérica do termo “behaviorismo.
Trecho que exemplifica a subcategoria Subcategoria
Skinner – psicólogo norte-americano que abriu novas áreas dentro do
BEHAVIORISMO, criando toda uma corrente cujo interesse essencial é o estudo
dos meios de controlar o comportamento, com base no conceito de reforço
(i.e., qualquer fato que aumenta a probabilidade de um comportamento
anterior). (Folha de S.Paulo, 1970, p. 2).
Identificável como tratando
do behaviorismo radical
“Behaviorismo, do inglês “behavior”, comportamento. Eis a chave para entrar
na mente, essa entidade fugidia que há séculos escapa da investigação filosófica.
Pelo menos era assim que pensavam os behavioristas do início deste século,
como John Watson (1878-1958), que cunhou o termo em 1913; para os animais,
não existe como perguntar “o que você está sentindo?”. O possível é apenas
estimulá-los e observar sua reação ao estímulo. Por que deveria ser diferente
com seres humanos? (Assis, 1990, p. E-6)
Identificável como tratando
de outro behaviorismo
12
Psicologia: Ciência e Profissão 2020 v. 40, e189472, 1-17.
Trecho que exemplifica a subcategoria Subcategoria
Drama de horror de ratos amestrados e cujo líder, Ben, tem grande amizade
com um garoto doentio. A polícia combate os roedores como pode, mas estes se
valem de sua agilidade para, ao mesmo tempo, fugir pelos esgotos e saquear os
armazéns das redondezas. Sequela de “Calafrio, filme sobre o mesmo assunto
que obteve sucesso quando do seu lançamento. Recomendado apenas para
adeptos do behaviorismo. (Folha de S.Paulo, 1983, p. 38)
Não identificável
encontrado um número significantemente maior de
apresentações de aspectos corretos do que o encon-
trado por Azoubel e Abbud (2017), com destaque para
os textos escritos por analistas do comportamento, algo
que também não foi encontrado na pesquisa anterior.
Para delimitar a existência de equívocos concei-
tuais e históricos foram utilizados majoritariamente
textos de Skinner (1950, 1953/1965, 1958, 1961/1955,
1973, 1974, 1981), que continham informações con-
trárias àquelas veiculadas nos trechos considera-
dos equivocados. É relevante destacar que a obra de
Skinner tem despertado ao longo dos anos interpre-
tações divergentes, de forma que podem caber inter-
pretações diferentes daquelas apresentadas aqui. Por
conseguinte, pode ser produtivo em futuras pesquisas
discutir os critérios e os argumentos apresentados
neste trabalho para definir as afirmações como cor-
retas ou incorretas. Além disso, em novos trabalhos,
para esclarecer tópicos polêmicos, pode ser impor-
tante apresentar citações diretas de Skinner.
Um caminho proveitoso para novas pesquisas
pode ser o de examinar como se dá o diálogo entre
analistas do comportamento e pessoas leigas em aná-
lise do comportamento, realizado em meios de comu-
nicação de massa ou em congressos de outras áreas.
Afinal, pode ser relevante analisar quais termos são
usados, como os conceitos básicos são abordados,
de que maneira são apresentados dados de estudos
científicos e, se possível, qual o impacto de suas colo-
cações no público. Os dados produzidos por estudos
desse tipo poderiam produzir uma reflexão sobre como
apresentar as propostas analítico-comportamentais de
maneira efetiva e coerente com seus princípios básicos.
Espera-se que a presente pesquisa auxilie os pro-
fissionais da área a identificar tópicos mal compre-
endidos, que necessitam especial atenção: a visão da
análise do comportamento como uma abordagem
defensora do controle, superada pelas teorias cogni-
tivistas, capaz de explicar apenas comportamentos
simples ou de animais não-humanos e interessada
...continuação
O uso genérico do termo “behaviorismo” não foi
considerado um equívoco, mas é importante destacar
que, devido à existência de diversas abordagens filosó-
ficas e psicológicas que se enquadram sob esse rótulo
geral (Zilio & Carrara, 2016, 2017; Smith, 1986), tal prá-
tica pode induzir o leitor ao erro ou à confusão sobre
o que estão tratando. Dois casos podem servir como
exemplos dos possíveis efeitos prejudiciais desta con-
fusão entre os diferentes behaviorismos: Guimarães
(2003) apontou que há críticas de que a proposta skin-
neriana rejeitaria qualquer tipo de introspecção e de
que se trataria de uma abordagem positivista base-
adas em incompreensões sobre as diferenças entre
behaviorismo radical e behaviorismo metodológico,
enquanto Strapasson e Carrara (2008) afirmaram que
o behaviorismo watsoniano tem sido erroneamente
rotulado como behaviorismo metodológico (aborda-
gem que se dedica exclusivamente ao estudo de even-
tos publicamente observáveis e exclui os comporta-
mentos não observáveis de suas análises).
Considerações finais
De forma geral, foram encontrados trechos, em
ordem decrescente de ocorrência das categorias, que
fizeram críticas ao behaviorismo radical, que expuse-
ram equívocos históricos e conceituais, que apresen-
taram algum aspecto correto sobre o behaviorismo
radical, que apresentaram o behaviorismo de forma
genérica e que problematizaram o behaviorismo
radical. A partir das análises foi possível notar que as
críticas, em geral, não foram acompanhadas de uma
adequada justificativa dos argumentos apresentados,
que os equívocos encontrados já foram apontados
anteriormente por outros analistas do comportamento
(e.g., Skinner, 1974); houve mesmo número de pro-
blematizações sobre a questão da liberdade e do con-
trole do comportamento e sobre o confrontamento
entre as propostas analítico-comportamentais e outras
abordagens, principalmente a psicanálise; e que foi
13
Azoubel, M. S., & Saconatto, A. T. (2020). Behaviorismo Radical na Folha.
apenas em comportamentos observáveis. O desafio,
então, deve ser comunicar corretamente as propostas
analítico-comportamentais, salientando seu caráter de
denúncia das relações de controle comportamental, de
forma a auxiliar os sujeitos a se tornarem controlado-
res dos seus próprios comportamentos, de uma ciên-
cia viva, em constante transformação e com tentativas
de superar suas falhas e lacunas, de uma abordagem
interessada em lidar com quaisquer comportamentos,
simples ou complexos, observáveis ou não, mas espe-
cialmente os comportamentos humanos.
Na literatura da área, fora sugerido que os con-
ceitos e tecnologias da análise do comportamento
sejam apresentados a seus possíveis beneficiários com
uma linguagem de fácil compreensão, adaptada aos
seus interesses, que seus resultados bem-sucedidos
sejam apresentados de forma clara e em comparação
com os resultados produzidos por outras abordagens
(Freedman, 2016), que os analistas do comportamento
apliquem seus conhecimentos para formação de comu-
nicadores por meio de cursos e palestras voltados a eles
(Morris, 1985), que os especialistas publiquem suas
contribuições em meios de comunicação não-acadê-
micos ou em periódicos de outras áreas (Friman, 2014;
Normand, 2014), que as associações entre esses pes-
quisadrores divulguem constantemente as possí-
veis contribuições analítico-comportamentais para a
sociedade e que desenvolvam e divulguem tecnologias
comportamentais capazes de solucionar problemas
socialmente relevantes sem aumentar consideravel-
mente os custos econômicos e de resposta (Smith, 2016).
Essas e outras estratégias devem ser amplamente dis-
cutidas, executadas e seus efeitos avaliados.
É importante destacar que Skinner, apesar de ter
tentado diversas vezes comunicar-se com a grande
mídia (Rutherford, 2004), atacou sistematicamente
valores importantes para a maioria da população
(e.g., sentimentos e livre-arbítrio) (Banaco, 1997;
Coleman, 1982; Smith & Woodward, 1996); evitou, em
determinados momentos, o diálogo aberto com outros
autores (Skinner, 1974) e promoveu suas ideias de
maneira de maneira aguerrida (Coleman, 1982), por
vezes atacando e ironizando ideias contrárias. Dessa
maneira, não parece adequada uma visão vitimista
sobre a percepção pública do behaviorismo radical.
Além disso, pode ter contribuído para a exis-
tência de incompreensões o fato de os analistas do
comportamento terem cunhado uma nova termino-
logia, delineado métodos experimentais específicos e
criado organizações e periódicos próprios, separados
de outros psicólogos e de outras disciplinas científicas
(Normand, 2014); o fato de esses especialistas possuí-
rem, em sua história, registros da utilização de estraté-
gias questionáveis por parte de profissionais analistas
do comportamento como o uso de punição pelas então
chamadas terapias aversivas e tentativas de alteração
da orientação sexual de homossexuais, especialmente
nas décadas de 1960 e 1970 (Kazdin, 1978). O exame
e as tentativas de mudança destas barreiras podem
ser executados em paralelo às análises críticas acerca
das compreensões sobre análise do comportamento e
behaviorismo radical, presentes entre os seus poten-
ciais beneficiários e veiculadas na mídia.
O número relativamente pequeno de trechos
permitiu que Azoubel e Abbud (2017) apresentassem
todos os trechos analisados e uma análise pormeno-
rizada dos equívocos presentes. Nesta pesquisa, foi
encontrado um número grande de trechos, de forma
que a análise não pôde ser realizada no mesmo grau
de detalhamento. Por outro lado, o grande número
de trechos analisados permitiu analisar quantitativa-
mente as publicações ao longo dos anos. É possível
que a comunidade dos analistas do comportamento
se beneficie de uma análise mais pormenorizada dos
trechos analisados aqui, de forma que recomendam-
-se extensões da presente pesquisa.
Recomenda-se que futuros estudos examinem o
que foi publicado sobre behaviorismo radical e análise
do comportamento em outros meios de comunica-
ção para ampliar o debate aqui proposto. Sugerem-se
análises de outros jornais e revistas de grande circula-
ção, de revistas dedicadas exclusivamente à divulga-
ção científica, de blogs e de páginas em redes sociais.
Em especial, as redes sociais têm exercido papel cada
vez mais importante na formação de opinião (Moraes
& Carneiro, 2018), de maneira que é importante esta-
belecer métodos adequados para o estudo das infor-
mações vinculadas nessas plataformas digitais.
O presente artigo abre possibilidades para diver-
sos estudos que comparem o que é apresentado na
mídia popular sobre behaviorismo radical e da aná-
lise do comportamento e o que é exposto sobre outras
escolas da Psicologia e outras disciplinas científicas.
Esses estudos poderiam ser relevantes para identificar
semelhanças e diferenças entre o que é veiculado sobre
as diferentes áreas, propiciando um debate sobre pos-
síveis estratégias comuns para divulgação das diferen-
tes teorias psicológicas e outras disciplinas científicas.
Para o delineamento de estratégias para divulga-
ção de conhecimentos analítico-comportamentais,
14
Psicologia: Ciência e Profissão 2020 v. 40, e189472, 1-17.
talvez seja importante que os analistas do compor-
tamento informem-se das discussões atuais sobre
divulgação científica (Vogt, Gomes & Muniz, 2018),
objetivando identificar possíveis contribuições pro-
cedentes de autores de outras áreas do conhecimento
e, se possível, realizar projetos de maneira integrada
com outros cientistas. Afinal, o “problema de comuni-
cação” não parece ser característica exclusiva da aná-
lise do comportamento.
Neste artigo, foi tomada a decisão metodológica
de categorizar os trechos encontrados por meio da
leitura conjunta, discussão e consenso entre os pes-
quisadores ao invés de categorizar uma mostra dos
trechos por um pesquisador independente e posterior
cálculo da concordância entre ambos os pesquisado-
res. Considerou-se que, desta forma, o procedimento
seria mais inclusivo, na medida em que os dois pesqui-
sadores trabalhariam de maneira semelhante durante
o processo, poderia produzir reavaliação constante
das categorias de análise e poderiam principalmente
ser levantadas, a partir do diálogo, diversas questões
sobre o problema de pesquisa investigado, enrique-
cendo os elementos para a discussão dos resultados.
O debate sobre qual método pode ser mais produtivo
(Laurenti, Lopes & Araujo, 2016) para analisar textos
e avaliar a fidedignidade destas análises é um tópico
que merece discussões metodológicas mais aprofun-
dadas em estudos futuros.
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Marcos Spector Azoubel
Doutor em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP), São Paulo – SP. Brasil
E-mail: mazoubel@gmail.com
Orcid ID: https://orcid.org/0000-0002-0785-9761
André Thiago Saconatto
Doutor em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP), São Paulo – SP. Brasil
E-mail: andre.saconatto@gmail.com
Orcid ID: https://orcid.org/0000-0002-4365-750X
Endereço para envio de correspondência:
Laboratório de Psicologia Experimental, PUC-SP, Rua Bartira, 387, Perdizes, São Paulo-SP. CEP: 05009-000.
Recebido 22/12/2017
Aceito 07/03/2019
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Azoubel, M. S., & Saconatto, A. T. (2020). Behaviorismo Radical na Folha.
Received 22/12/2017
Approved 07/03/2019
Recibido 22/12/2017
Aceptado 07/03/2019
Como citar: Azoubel, M. S., & Saconatto, A. T. (2020). Concepções sobre o Behaviorismo Radical nas Publicações
da Folha de S.Paulo. Psicologia: Ciência e Profissão, 40, 1-17. https://doi.org/10.1590/1982-3703003189472
How to cite: Azoubel, M. S., & Saconatto, A. T. (2020). Conceptions about Radical Behaviorism in Folha de S.Paulo’s
Publications. Psicologia: Ciência e Profissão, 40, 1-17. https://doi.org/10.1590/1982-3703003189472
Cómo citar: Azoubel, M. S., & Saconatto, A. T. (2020). Concepciones acerca del Conductismo Radical en las
Publicaciones de la Folha de S.Paulo. Psicologia: Ciência e Profissão, 40, 1-17.
https://doi.org/10.1590/1982-3703003189472
... O desconhecimento e/ou a falta de compreensão dos pressupostos da AC e do BR que são reproduzidos em livros didáticos (Gioia, 2001), em jornais de grande circulação (Azoubel & Abbud, 2017;Azoubel & Saconatto, 2020) e entre alunos e professores (Arntzen, Lokke & Eilertsen, 2010;DeBell & Harless, 1992;Lamal, 1995), também parecem contribuir para a manutenção de preconceitos em relação à proposta skinneriana e dificultar também a adoção da tecnologia comportamental para a solução de problemas. ...
... Foram selecionados 15 estudos publicados entre 1983 e 2020, dos quais quatro estrangeiros publicados em três diferentes periódicos: Teaching of Psychology (Debell & Harless, 1992;Lamal, 1995); The Psychological Record (Arntzen, Lokke, & Eilertsen, 2010) e The Behavior Analyst (Todd & Morris, 1983). Dos 11 estudos nacionais, apenas dois foram publicados em periódicos: Temas em Psicologia (Azoubel & Abbud, 2017) e Psicologia: Ciência e Profissão (Azoubel & Saconatto, 2020). Os demais (não publicados em periódicos) foram: uma tese de doutorado defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Gioia, 2001), seis estudos publicados na coleção Sobre Comportamento e Cognição (Cirino, Souza, Oliveira & Horta, 2005;Rodrigues, 1999;Fonseca, Hamasaki & Capelari, 2006;Hamasaki, Capelari, & Fonseca, 2007;Miura, 2008;Samelo & Guedes, 2007) e dois na coleção Comportamento em Foco (Cunha, Cunha, Borloti & Haydu, 2011;Oliveira & Cassas, 2020). ...
... A análise dos estudos revistos permitiu que os mesmos fossem classificados em três categorias: 1) estudos que comentaram os materiais que divulgam a AC (Azoubel & Abbud, 2017;Azoubel & Saconatto, 2020;Cirino et al., 2005;Gioia, 2001;Todd & Morris, 1983); 2) estudos que avaliaram o nível de conhecimento sobre a AC por diferentes públicos (Arntzen et al., 2010;Debell & Harles, 1992;Fonseca et al., 2006;Hamasaki et al., 2007;Lamal, 1995;Rodrigues, 1999;Samelo & Guedes, 2007); 3) estudos que descreveram o emprego de estratégias para corrigir as incompreensões a respeito da AC (2023) e/ou ensinar os conceitos da área (Cunha et al., 2011;Miura, 2008;Oliveira & Cassas, 2020). ...
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Trata-se de uma revisão de estudos a respeito das incompreensões da Análise do Comportamento e das estratégias adotadas para superá-las. Foram selecionados 15 estudos a partir das bases PsycInfo, PubMed e BVS, das coleções Sobre Comportamento e Cognição e Comportamento em Foco e adicionados dois estudos. Os estudos analisados mostraram a existência de conceitos imprecisos em materiais didáticos para formar psicólogos e pedagogos e na mídia popular nacional, o que impõe limites na divulgação da Análise do Comportamento. Foram também encontrados estudos que ensinaram de forma bem-sucedida os conceitos da Análise do Comportamento para pessoas de outras áreas que podem se beneficiar da tecnologia comportamental em sua prática profissional. Discute-se a necessidade de uma maior publicização de estratégias que têm se mostrado adequadas para uma compreensão apropriada dos pressupostos, princípios e conceitos da Análise do Comportamento.
... Preocupações similares levaram Skinner a escrever, há 50 anos atrás, um livro inteiro dedicado especialmente a desmistificar muitas críticas bastante comuns sobre o behaviorismo, ou sobre a ciência do comportamento, que ele acreditava estarem erradas (Skinner, 1974). Os equívocos, mal-entendidos, interpretações errôneas, e até mesmo deseducação na área do behaviorismo e da análise do comportamento, são regularmente apresentados em jornais (Azoubel & Saconatto, 2020), livros didáticos de psicologia (Todd & Morris, 1983), fóruns públicos (Morris, 1985), sites (Sheldon, 2002), bem como entre estudantes e professores (Arntzen et. Al., 2010). ...
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O conhecimento científico deve servir para melhorar a vida das pessoas e, portanto, deve estar disponível tanto para cientistas quanto para o público leigo. No entanto, o acesso fácil de informações científicas pelo público leigo também favorece o risco de equívocos, bem como ao subsequente uso indevido de procedimentos técnico-científicos. Este estudo de caso tem como objetivo avaliar, numa perspectiva analítico-comportamental, os procedimentos aplicados por um personagem de uma série televisiva que erroneamente tenta aplicar técnicas de condicionamento operante que ele mal compreendia. No terceiro episódio da terceira temporada de The Big Bang Theory, o protagonista Sheldon Cooper tenta modificar alguns comportamentos de sua vizinha Penny, baseando-se na sua interpretação deturpada dos trabalhos de BF Skinner. Ocorre que o procedimento aplicado por Sheldon de recompensar Penny com chocolates depois dela se comportar como que ele desejava, paradoxalmente promove o efeito comportamental justamente oposto ao que ele originalmente planejou. Ao desconsiderar a complexidade do comportamento humano e subestimar todo o arcabouço científico relacionado à Análise do Comportamento, ele inadvertidamente e ingenuamente acabou acidentalmente reforçando toda uma cadeia comportamental de respostas de Penny, ao invés de um único comportamento isoladamente. Consequentemente, a probabilidade de comportamentos "indesejáveis" de Penny ocorrerem no futuro é aumentada. Este relato de caso exemplifica como a implementação de procedimentos psicológicos científicos, na ausência de uma compreensão abrangente dos conceitos científicos subjacentes, pode levar a consequências desastrosas. Palavras-chave: análise de contingências do comportamento, condicionamento operante, modelagem, BF Skinner, The Big Bang Theory.
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O objetivo deste trabalho foi caracterizar as referências a Skinner em artigos brasileiros, baseados na Análise do Comportamento e publicados entre 1961 e 1998. As fontes de informação foram artigos originais, baseados na Análise do Comportamento, publicados em periódicos nacionais. Dentre os 302 artigos selecionados, o número total de referências encontradas foi 5789 e, destas, 351 eram referências a Skinner (6,1% do total). A maior parte dos artigos analisados não apresentou referências a Skinner e a maioria das obras de Skinner não foi citada durante o período. Pode-se afirmar que houve uma presença constante de Skinner na literatura da área, mas a sua presença se deu por meio de um acesso desigual à sua obra.
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'Behaviorism’ has frequently been object of critics. Even several facts are related to the origin of such critics, specialized literature consider them predominantly as results of mistakes. Our professional experiences also give us great amount of support to this founding of the existence of mistakes concerning this approach. Even the treatment of not well supported critics and mistakes should not be any priority; our compromise with the formation of teachers incites us to establish some comments about this topic. Our work also presents a brief literature revision concerning some works which handle with mistakes related to the approach, produced in a specific educational locus.s.
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The analysis of human behavior and its conceptual variant, radical behaviorism, have been suffering under the constant misunderstanding of its philosophy, preconceptions and unfounded criticism, therefore creating walls to its diffusion, either conceptual, philosophical or technological. Mass media has an important part on this erroneous view and its diffusion. Thus it is primordial to examine what is said about behaviorism, in order to create a plan with actions on how to better explain this analysis of the human behavior to non-behaviorists. In Brazil the popular magazine Veja stands on the spotlight of one of the most important mass media magazines. The aim of this study was to identify what was published in Veja magazine about radical behaviorism and behavior analysis and to critically evaluate its references. A search on the digital magazine collection met 67 occurrences of the terms "Skinner", "behavior analysis" and "behaviorism." There were 12 stretches selected for analysis. Of these, 11 were contained historical or conceptual misunderstandings in relation to the radical behaviorism and behavior analysis.
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The year 2004 marks the 100th anniversary of B. F. Skinner’s birth. At this historic juncture, it is useful to consider Skinner’s status, not only in psychology, but in society at large. One way Skinner became known outside academia was through his popular writing. In this paper, I examine Skinner’s experiences writing for the popular press and explore his role as a popularizer of his own work. Specifically, I present results from a survey of newspapers and popular magazines for material authored by Skinner from the 1930s to his death in 1990. I describe this material and discuss the aims and goals he had for his popular writing, as well as the problems he encountered in publishing in the popular press. I follow this descriptive account with a consideration of science popularization generally, to illuminate how this process may have affected Skinner in his development as a public intellectual.
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Este artigo comenta as propostas de atuação política do cientista do comportamento, contidas em artigos de B. F. Skinner, reunidos em Cumulative Record, e confrontadas com alguns artigos de J. G. Holland. Aponta-se a precariedade dessas propostas diante da incompatibilidade entre os pressupostos da ciência do comportamento e as condições que regem o exercício concreto do poder político instituído. Aponta-se a importância da divulgação ampla das técnicas de controle do comportamento, à margem das instituições de governo e das organizações partidárias de oposição política.
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En este trabajo se caracteriza el Análisis la Conducta (Análisis Experimental del Comportamiento y Análisis Aplicado del Comportamiento) tal como se han desarrollado en Latinoamérica en la segunda parte del Siglo XX y lo que ha transcurrido del Siglo XXI. En este contexto, se analizan algunos factores que pueden explicar el rechazo o el poco atractivo que el conductismo puede tener, a saber, la cultura mentalista, el aislamiento del Análisis Experimental del Comportamiento de la comunidad psicológica, la posible insuficiencia de los principios del condicionamiento para explicar la conducta humana, y las prácticas investigativas de los analistas del comportamiento. Se analizan igualmente las limitaciones del Análisis Aplicado del Comportamiento como una propuesta tecnológica para el manejo de muchos de los problemas humanos que son competencia de los psicólogos. Finalmente, se plantea la necesidad de seguir construyendo una ciencia naturalista del comportamiento que tenga respaldo empírico.
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Uma das peculiaridades da formação do psicólogo é a necessidade de lidar com a diversidade de teorias e sistemas em psicologia. Essa pluralidade lança o desafio de reconhecer a irredutibilidade das diferentes formas de compreensão dos fenômenos psicológicos, bem como de buscar clareza sobre o desenvolvimento histórico e os compromissos filosóficos que sustentam essa diversidade. Esse esclarecimento pode ser alcançado por meio da pesquisa teórica, entendida como uma das principais maneiras de produção de conhecimento em história e filosofia da psicologia. Contudo, a pesquisa teórica ainda é vista de forma reticente na psicologia. Um dos motivos dessa desconfiança é a falta de clareza acerca de sua própria definição, bem como de seus procedimentos metodológicos. Além disso, o ensino das habilidades básicas de pesquisa em psicologia geralmente toma como modelo a pesquisa empírica, tratando a pesquisa teórica como uma pseudopesquisa. Assim, o livro pretende trazer ao menos três contribuições para a área de psicologia: dar maior visibilidade às pesquisas teóricas, destacando suas potencialidades e especificidades metodológicas; fornecer material para o ensino de habilidades de pesquisa em psicologia, tanto em nível de graduação quanto de pós-graduação; e auxiliar no reconhecimento da pesquisa teórica como uma forma legítima de produção de conhecimento em psicologia.
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The potential impact of behavior analysis is limited by the public's dim awareness of the field. The mass media rarely cover behavior analysis, other than to echo inaccurate negative stereotypes about control and punishment. The media instead play up appealing but less-evidence-based approaches to problems, a key example being the touting of dubious diets over behavioral approaches to losing excess weight. These sorts of claims distort or skirt scientific evidence, undercutting the fidelity of behavior analysis to scientific rigor. Strategies for better connecting behavior analysis with the public might include reframing the field's techniques and principles in friendlier, more resonant form; pushing direct outcome comparisons between behavior analysis and its rivals in simple terms; and playing up the "warm and fuzzy" side of behavior analysis.
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The negative perception of behavior analysis by the public, and conveyed in mass media, is well-recognized by the professional community of behavior analysts. Several strategies for correcting this perception have been deployed in the field by organizational behavior management practitioners, in particular, with encouraging results. These strategies include (a) reframing behaviorism in a more resonant format, (b) pushing direct outcome comparisons between behavior analysis and its rivals, and (c) playing up the “warm and fuzzy” side of behavior analysis (see Freedman 2015, in this issue, for a thorough description of these strategies). This article outlines three additional strategies that the author believes will position behavior analysis as a “contemporary science of what works in behavior change.” These new strategies are (a) creating a cohesive, easily understandable framework; (b) personally communicating a more contemporary, sophisticated message; and (c) using technology to achieve scale.